Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma doença broncopulmonar que se caracteriza pela obstrução persistente das vias aéreas e diminuição dos débitos expiratórios, surgindo em doentes com bronquite crónica e enfisema.1,2 Na maioria das vezes a obstrução é progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anómala dos pulmões à inalação de partículas ou gases nocivos, sendo de salientar o fumo do tabaco.3,4 A bronquite crónica é diagnosticada pela clínica e define-se pela presença de tosse produtiva durante, pelo menos, três meses em dois anos consecutivos.1,3 O enfisema é diagnosticado pela anatomia patológica e define-se pelo alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais por destruição das suas paredes, não substituída por fibrose.1,3 A maioria dos doentes com DPOC apresenta simultaneamente, em proporções variáveis, bronquite crónica e enfisema, existindo, nos extremos, indivíduos com um franco predomínio de uma das patologias.1,3 durante três meses, em pelo menos dois anos consecutivos; 2) infecções respiratórias recorrentes; 3) dispneia.1,3 Igualmente importante para o diagnóstico é a existência de história de factores de risco, como hábito tabágico, exposições ocupacionais ou história familiar de deficiência de AAT e DPOC.1,3 No que respeita aos exames auxiliares de diagnóstico, são muito importantes a espirometria e, em casos seleccionados, o doseamento de AAT.1,3 A espirometria constitui o gold standard para o diagnóstico e monitorização da DPOC, permitindo avaliar a obstrução ao débito aéreo.1,3,7 Foram propostas diversas guidelines para a classificação da gravidade da DPOC em função dos resultados de “volume expiratório máximo no 1º segundo” (VEMS) e de “capacidade vital forçada” (CVF) obtidos neste teste.2,8,9 O doseamento de AAT está indicado na presença de enfisema de predomínio nos campos inferiores ou de bronquite crónica de início precoce, sobretudo em indivíduo não fumador com história familiar.1 Epidemiologia A DPOC constitui actualmente um grave problema de saúde pública, sendo uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo.5 É actualmente a quarta principal causa de morte nos EUA, estimando-se que será a terceira principal causa de morte por volta de 2020 devido a uma crescente prevalência dos hábitos tabágicos.4 Em Portugal, calcula-se que sofram de DPOC, entre os 35 e os 69 anos, 5,34% da população.5 Anualmente, morrem no nosso país cerca de 7,73 doentes com DPOC por 100.000 habitantes.5 Tratamento farmacológico A cessação do hábito tabágico é a única medida comprovadamente eficaz capaz de retardar a deterioração respiratória, inexorável nesta doença.1,3 Nenhum dos medicamentos utilizados na DPOC modifica o declínio progressivo da função pulmonar.1 O objectivo da terapêutica farmacológica consiste em prevenir e controlar os sintomas, reduzir a frequência e a severidade das exacerbações e melhorar o estado geral de saúde do doente e a sua tolerância ao exercício. Os broncodilatadores (agonistas adrenérgicos β-2, anticolinérgicos, metilxantinas) e os glucocorticóides constituem os principais medicamentos utilizados no tratamento da DPOC (Tabela I).3 Os broncodilatadores são fundamentais para o controlo da sintomatologia, sendo a via inalatória a via de administração preferida devido à menor incidência de efeitos secundários; são administrados em “SOS” ou em intervalos de tempo regulares para reduzir e/ou prevenir os sintomas.2 Para a selecção do broncodilatador ou da associação a utilizar é fundamental ter em consideração a resposta individual do doente em termos de alívio dos sintomas, efeitos secundários e compliance.2,3 Os broncodilatadores inalados de longa duração de acção (e.g. formoterol, salmeterol, brometo de tiotrópio) apresentam maior comodidade posológica, mas são também mais dispendiosos.2 As associações de broncodilatadores com diferentes mecanismos de acção conduzem, geralmente, a um aumento de eficácia e uma diminuição dos efeitos secundários, quando comparados com o aumento da dose de um único broncodilatador.3 A teofilina, a metilxantina mais utilizada, é eficaz na DPOC mas, devido à sua potencial toxicidade, está reservada para as formas mais severas da doença e, geralmente, em associação com os broncodilatadores inalados.2,7 Diversas guidelines sugerem a utilização de glucocorticóides inalados (a adicionar à terapêutica broncodilatadora) Factores de risco Entre os principais factores de risco para o desenvolvimento de DPOC está o tabagismo.1,3,6 Algumas exposições profissionais também podem originar DPOC: fumos químicos, poeiras orgânicas e inorgânicas.1,3 Também a poluição atmosférica pode contribuir para o desenvolvimento da doença.1,3 A deficiência de alfa-1-antitripsina (AAT) é a alteração genética melhor conhecida que condiciona o aparecimento de DPOC (contribui para <1% dos casos de DPOC).1,3,7 Apresentação clínica e diagnóstico A doença instala-se lenta e progressivamente. Por isso, muitas vezes, o doente só recorre ao médico numa fase avançada da doença. Inicialmente, o doente tem apenas uma tosse com expectoração, que não valoriza. Com a evolução da doença, as infecções respiratórias tornam-se mais frequentes e surge a dispneia; esta, no início, surge apenas associada a esforços intensos, mas, posteriormente, com a evolução da insuficiência respiratória, surge mesmo com pequenas tarefas, como a higiene diária e a fala. O diagnóstico da DPOC é feito com base nesta sintomatologia acabada de descrever: 1) tosse com expectoração, no mínimo Março/Abril 2006 Boletim do CIM Director: J. A. Aranda da Silva Boletim do CIM Março/Abril 2006 Tabela I - Principais medicamentos disponíveis em Portugal utilizados no tratamento da DPOC* Grupo farmacoterapêutico Princípio activo (Duração de acção, horas) Posologia habitual das formas para inalação Agonistas adrenérgicos β-2 de acção curta Salbutamol (4-6) 2 puffs Q4-6h PRN (100µg/puff) 2,5mg Q4-6h PRN (sol. nebul., frasco) Terbutalina (4-6) 1puff Q6h PRN (0,25-0,5mg/puff) Formoterol (12) 1 inalação Q12h (12µg/inalação) Salmeterol (12) 1 inalação Q12h (50µg/inalação) Anticolinérgicos de acção curta Brometo de ipratrópio (6-8) 2 puffs Q4-6h (20µg/puff) 500µg Q4-6h (sol. nebul., ampola) Anticolinérgicos de acção longa Brometo de tiotrópio (>24) 1 inalação Q24h (18µg/inalação) Associação agonista adrenérgico β-2/anticolinérgico de acção curta Fenoterol / Brometo de ipratrópio (6-8) 1-2 puffs Q8h (50µg+20µg /puff) Salbutamol / Brometo de ipratrópio (6-8) 2 puffs Q6h (120µg+20µg /puff) 3mg+520µg/2,5ml Q6h (sol. nebul., ampola) Metilxantinas Aminofilina (Variável, até 24 h) ——— Teofilina (Variável, até 24 h) ——— Beclometasona 100-500µg Q12h Budesonida 1-2 inalações Q12h (200µg/inalação) 250-500µg Q12h (sol. nebul., ampola) Agonistas adrenérgicos β-2 de acção longa Glucocorticóides inalados Fluticasona 100-250µg Q12h Associação agonista adrenérgico β-2 de acção longa/glucocorticóide inalado Formoterol / Budesonida 1 inalação Q12h (9µg+320µg/inalação) Salmeterol / Fluticasona 1 inalação Q12h (50µg+250µg/inalação) Glucocorticóides sistémicos Prednisona ——— Metilprednisolona ——— * O tratamento farmacológico das exacerbações da DPOC inclui a intensificação da terapêutica broncodilatadora com broncodilatadores de acção curta, a terapêutica de curta duração (≈10-14 dias) com glucocorticóides sistémicos (oral ou IV) e antibioterapia (caso o doente apresente, pelo menos, dois dos seguintes sintomas cardinais: aumento da dispneia, aumento do volume da expectoração e aumento da purulência da expectoração).2,3 em doentes sintomáticos nos estádios III ou IV da doença (VEMS<50%) e que apresentam exacerbações frequentes. Este tratamento revelou diminuir a frequência das exacerbações e, assim, melhorar o estado geral do doente. Os glucocorticóides sistémicos (oral ou IV) apresentam um ratio risco/ benefício mais desfavorável que os glucocorticóides inalados, estando reservados para o tratamento de curta duração das exacerbações da DPOC; nestas situações diminuem o tempo necessário à estabilização da função pulmonar e o risco de recidivas precoces.2 Nos doentes com enfisema associado a deficiência de AAT, o tratamento consiste na redução dos factores de risco (e.g. evicção tabágica), tratamento sintomático com broncodilatadores e terapêutica de substituição com AAT (administração semanal, por via intravenosa, de 60mg/kg de AAT).1,3 Outros tratamentos farmacológicos Outros medicamentos que têm sido recomendados na DPOC incluem: vacinas antigripais, que podem reduzir em cerca de 50% a morbilidade e a mortalidade nos doentes com DPOC;2,9 vacinas antipneumocócicas, embora o nível de evidência não seja tão elevado como o das anteriores;2 antibióticos, cuja utilização apenas se recomenda nas exacerbações da DPOC;2,3 mucolíticos/expectorantes, como o ambroxol, a carbocisteína e a acetilcisteína, têm sido utilizados devido à presença de hipersecreção brônquica de muco e à deficiente eliminação de secreções (uma hidratação adequada é também muito importante para a mobilização das secreções);1,2 medicamentos com acção sobre o aparelho cardiovascular, como os diuréticos, têm sido utilizados no tratamento do cor pulmonale (disfunção ventricular direita resultante da hipertensão pulmonar), que constitui uma complicação própria dos estádios avançados.1,3 Tratamento não farmacológico Incluem-se neste item a reabilitação respiratória (que deverá ser iniciada o mais precocemente possível, antes da progressão para estádios mais avançados da DPOC e tem como objectivo recuperar o doente para a máxima capacidade funcional pos- sível), a oxigenioterapia de longa duração (para doentes no estádio IV), a assistência ventilatória (e.g. para doentes no estádio IV com hipercapnia crónica) e a cirurgia (e.g. cirurgia de redução de volume no enfisema, transplante do pulmão).1,2 Conclusões A cessação do hábito tabágico constitui a única medida comprovadamente eficaz capaz de retardar a deterioração respiratória na DPOC. A terapêutica inalatória com broncodilatadores constitui a base do tratamento farmacológico, que tem como objectivo aliviar os sintomas, diminuir as exacerbações da doença e melhorar a qualidade de vida do doente. O farmacêutico deve contribuir para a educação do doente com DPOC informando-o do benefício resultante de parar de fumar, da importância da vacinação contra a gripe e de uma hidratação adequada e esclarecendo-o acerca da técnica correcta de manuseamento das preparações para inalação. Manuel Morgado Serv. Farm. Centro Hospitalar Cova da Beira, E.P.E. Bibliografia 1. Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Normas clínicas para intervenção na Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. 1997. Disponível em www.sppneumologia.pt (Consulta 07.02.06). 2. National Heart, Lung, and Blood Institute, World Health Organization. Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. April 1998 NHLBI/WHO Workshop (Updated 2005). Disponível em www.goldcopd.com (Consulta 07.02.06). 3. Bourdet S., Williams D. Chronic obstructive pulmonary disease. Em: Dipiro J. J. et al. Pharmacotherapy: A Pathophysiologic Approach. 6th ed. N. York, McGraw-Hill, 2005. 4. Ramsey S. D., Sullivan S. D. Am J Med Sci, 2004; 117(12A): 3 S-10 S. 5. Rodrigues F., Ferreira T. M. Postgrad Med (Ed. Port.) 2003; 20(4): 69-78. 6. Fishman A. P. Am J Respir Crit Care Med, 2005; 171(9): 941-8. 7. Roefaro J., Duryanani A. Formulary, 2004; 39: 542-55. 8. Campos M. A., Wanner A. Am J Med Sci, 2005; 329(4):181-9. 9. Sutherland E. R., Cherniack R. M. N Engl J Med, 2004; 350(26): 2689-97. A diabetes mellitus atinge actualmente proporções epidémicas, contribuindo de forma muito significativa para o aumento da morbilidade e mortalidade. Apesar de não existir cura, o controlo apertado da glicémia permite a redução das complicações microvasculares provocadas pela doença. As limitações nas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas da insulina humana recombinante renovaram o interesse na produção de novas formulações de insulina que permitam reproduzir de forma mais eficaz as componentes basal e pós-prandial da insulina endógena. Novos métodos de administração não injectáveis são uma outra vertente da investigação clínica neste âmbito, com o objectivo de reduzir o desconforto sentido pelos doentes, garantindo uma melhor adesão à terapêutica. ANÁLOGOS DA INSULINA HUMANA Acção Rápida Insulina Lispro (Humalog® 150UI/1,5mL, 300UI/3mL, 400UI/10mL e 1000UI/10mL) É obtida por tecnologia de ADN recombinante em Escherichia coli. Difere da insulina humana recombinante por troca de posição dos aminoácidos prolina (28B) e lisina (29B) na cadeia β. Esta inversão leva a uma alteração na conformação do Cterminal da mesma, da qual resulta uma absorção mais rápida por redução da formação de dímeros e hexâmeros.1-3 Farmacocinética e farmacodinâmica: A sua absorção e eliminação são independentes da função renal ou hepática. Tanto os doentes com diabetes mellitus tipo I como tipo II demonstram uma melhoria do controlo glicémico quando se utiliza a insulina lispro em detrimento da insulina humana.1,4 Posologia e modo de administração: A insulina lispro pode ser administrada pouco tempo antes ou imediatamente após as refeições. Pode ser administrada em bólus por injecção subcutânea ou através de bomba de perfusão contínua. Pode-se recorrer a combinações com insulinas de acção prolongada e com sulfonilureias.4 Reacções adversas: Hipoglicémia, reacções de sensibilização local e sistémica, lipodistrofia no local de injecção.4 Interacções medicamentosas: Medicamentos com actividade hiperglicemiante como os contraceptivos orais, corticosteróides, terapêutica de substituição hormonal da hormona da tiróide, danazol e os agonistas b-2 podem aumentar as necessidades em insulina. O álcool e fármacos com actividade hipoglicemiante podem reduzir as necessidades em insulina (antidiabéticos orais, salicilatos, sulfonamidas, IMAOs, IECAs, bloquedores b e o octreotido).4 Insulina Aspartato (NovoRapid® 300UI/3mL e 1000UI/ 10mL; NovoMix® 300UI/3mL) Obtida por tecnologia de ADN recombinante em Saccharomyces cerevisiae, difere da insulina humana recombinante na substituição da prolina da posição 28B por aspartato. Após injecção dissocia-se rapidamente em monómeros e dímeros.1,5,6 Farmacocinética e farmacodinâmica: Existem comercializadas formulações simples ou combinadas e que contêm uma associação de insulina aspartato solúvel, de início de acção rápido, e uma fase cristalina – protamina de insulina aspartato, com um perfil de actividade semelhante ao da insulina NPH. Neste caso a duração de acção pode aumentar até às 24 horas. A insuficiência renal ou hepática pode reduzir as necessidades em insulina.5,6 Posologia e modo de administração: O fármaco pode ser administrado imediatamente antes, ou pouco depois da refeição. É administrado por injecção subcutânea na parede abdominal, coxa, na região deltóide ou na região glútea. Pode também ser administrado usando sistemas de bomba para perfusão contínua, sendo que nesta situação não deve ser misturado com qualquer outra insulina.5,6 Reacções adversas: As mesmas da insulina lispro.5,6 Interacções medicamentosas: Semelhantes às descritas para a insulina lispro.5,6 Acção Lenta Insulina Glargina (Lantus® 500 UI/5 ml e 1000 UI/10 ml) É obtida por tecnologia de recombinação de ADN em Escherichia coli não patogénicas. Difere da insulina humana pela adição de duas moléculas de arginina na terminação C da cadeia b e pela substituição da asparagina por glicina na posição A21.1,7-11 Propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas: O fármaco é comercializado sob a forma de solução injectável com pH 4. Quando administrado por via subcutânea, dada a sua menor solubilidade em meio neutro, formam-se microprecipitados no tecido. A dissolução destes cristais resulta na libertação de dímeros ou monómeros de insulina para os tecidos e corrente sanguínea, de forma lenta e sem ocorrência de picos. A adição de zinco à formulação prolonga a sua duração de acção ao retardar a dissolução dos cristais formados durante a administração do fármaco.7,8 O fármaco não deve ser administrado por via endovenosa. Posologia e modo de administração: Deve ser administrado uma vez por dia a qualquer hora, mas à mesma hora todos os dias. Pode também ser administrado em combinação com medicamentos antidiabéticos orais.3 Não deve ser misturado com qualquer outra insulina nem deve ser diluído, sob pena de alterar a sua solubilidade e o seu perfil de acção.2,8 Reacções adversas: Idênticas às já descritas para a insulina lispro.12 Interacções medicamentosas: Fármacos que alteram o metabolismo da glicose, por modificação das necessidades em insulina.12 Insulina Detemir (Levemir® 300 UI/3 ml) O fármaco é produzido por tecnologia ADN recombinante em Saccharomyces cerevisiae. Estruturalmente, difere da insulina humana pela ausência do aminoácido treonina na posição 30B e por apresentar um ácido gordo (ácido mirístico) ligado à lisina na posição 29B.2 Propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas: Uma vez que tem uma maior solubilidade que a insulina glargina em meio neutro, mantém-se sob a forma líquida no tecido subcutâneo, condicionando uma menor variabilidade na sua absorção.2 O ácido mirístico presente na molécula confere elevada afinidade para a albumina sérica,1,2 pelo que 98% do fármaco circulante está ligado de forma reversível e apenas a fracção livre actua sobre os receptores da insulina. Este fenómeno ocorre no tecido subcutâneo, na circulação sanguínea e nos líquidos intersticiais.13-15 Posologia e modo de administração: Deve ser administrada uma ou duas vezes ao dia, de acordo com as necessidades do doente.1 Para os doentes que precisam de duas doses ao dia para optimizar o controlo da glicémia, a segunda dose pode ser administrada à noite ou ao deitar. O fármaco não deve ser administrado por via endovenosa ou ser misturado com outras preparações de insulina, dado o risco do perfil de acção de um ou ambos os componentes individuais sofrer uma alteração.13 Reacções adversas: Idênticas às descritas para a insulina glargina.13 Interacções medicamentosas: As mesmas da insulina glargina.13 Março/Abril 2006 Diabetes Mellitus – Novas alternativas terapêuticas Boletim do CIM Março/Abril 2006 Tempo de início e duração de acção dos análogos da insulina Análogo Início de acção Duração de acção Insulina Lispro 15 minutos 2-5 horas Insulina Aspartato 10-20 minutos 3-5 horas Insulina Glargina 90 minutos 24 horas Insulina Detemir 60 minutos 20 horas Vantagens e desvantagens dos análogos da insulina Análogos de acção rápida (comparação com a insulina humana recombinante) Vantagens: • Perfil de acção mais semelhante à insulina humana • Melhor controlo da glicémia no período pós-prandial • Maior redução nos valores de HbA1c • Menor ocorrência de hipoglicémias nocturnas Desvantagens: • Mais caros • Pode ser necessário o aumento de dose, bem como do número de administrações de insulina basal • Segurança a longo prazo ainda por estabelecer • Ausência de dados de administração em crianças com idade inferior a 2 anos • Administração em grávidas com dados limitados para a insulina aspartato trar uma dose cerca de nove vezes superior à dose da insulina subcutânea para obter o mesmo efeito hipoglicemiante.16 Reacções adversas: Idênticas às descritas para a insulina glargina.16 Interacções medicamentosas: Fármacos que alteram o metabolismo da glicose, por modificação das necessidades em insulina.16 NOVAS ABORDAGENS – PRAMLINTIDA A amilina é uma hormona que é segregada juntamente com a insulina pelas células β. Inibe a secreção do glucagom, atrasa o esvaziamento gástrico e aumenta a sensação de saciedade. A pramlintida é um péptido com propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas semelhantes às da amilina e com afinidade para os seus receptores. O fármaco está presentemente em fase de ensaios clínicos, mas os primeiros dados indicam reduções estatisticamente significativas nos valores da hemoglobina glicosilada, e no peso corporal.2,18 Posologia e modo de administração: A administração é feita por injecção subcutânea.2 Reacções adversas: Em conjunto com a insulina pode aumentar o risco de hipoglicémia.2,18 Análogos de acção lenta (comparação com a insulina NPH) Insulina Glargina Vantagens: • Administração uma única vez ao dia • Perfil farmacocinético mais estável • Menor ocorrência de hipoglicémias nocturnas Desvantagens: • Pode obrigar ao aumento da dose de insulina pré-prandial • Não pode ser misturada com outras insulinas • A injecção é mais dolorosa • Segurança a longo prazo ainda por estabelecer • Ausência de dados de administração em crianças com idade inferior a 6 anos e em grávidas. Insulina Detemir Vantagens: • Perfil farmacocinético mais estável • Menor acção mitogénica, por redução da afinidade para o receptor do IGF-1 • Menor risco de hipoglicémias • Menor aumento de peso Desvantagens: • Efeito hipoglicemiante mais reduzido • Segurança a longo prazo ainda por estabelecer • Ausência de dados de administração em crianças com idade inferior a 6 anos e em grávidas. NOVAS VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DA INSULINA HUMANA REGULAR As formas de administração de insulina humana não injectáveis têm sido um alvo preferencial de investigação desde sempre. Na sequência do insucesso na tentativa de desenvolver uma insulina oral, a pesquisa foi direccionada para o pulmão como ponto de entrada do fármaco, dado que este órgão é naturalmente permeável a determinadas proteínas. 16,17 A absorção do fármaco está condicionada por diversos factores. A deposição da insulina na região alveolar está directamente relacionada com factores como a técnica de inalação e as propriedades do aerossol, como o tamanho e porosidade da partícula. As formulações em estudo apresentam-se sob a forma de pó ou solução para nebulização. De todos os dispositivos de entrega do fármaco que se encontram em investigação – Exubera®, AERx iDMS®, ProMaxx®, AIR®, Aerodose®, Spiros® e Technosphere®, o primeiro é o único que já tem autorização de introdução no mercado atribuída pelas autoridades europeias e norte-americana.16 Propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas: O início de acção ocorre uma hora após a inalação do pó (Exubera®).16,17 A duração de acção é mais prolongada que a dos análogos de acção rápida e mais curta que a insulina humana regular. A perda significativa de fármaco no decurso da inalação implica que esta alternativa terapêutica tenha uma biodisponibilidade muito baixa (<20%) e que seja necessário adminis- CONCLUSÃO Os análogos da insulina, com perfis farmacodinâmicos e farmacocinéticos mais adequados, são fármacos actualmente disponíveis. Oferecem a capacidade de simular de forma aproximada os padrões de secreção da insulina endógena, melhorando o controlo glicémico com menos hipoglicémias e com um menor número de administrações. Os análogos de acção rápida melhoram o controlo pós-prandial e reduzem o risco de hipoglicémias. Por outro lado, os de acção lenta parecem melhorar a glicémia basal e reduzir as hipoglicémias nocturnas. São, no entanto, fármacos com um custo mais elevado. As novas vias de administração são também uma vertente em evolução na busca de uma maior eficácia na entrega do fármaco e de uma melhor adesão à terapêutica. Carla Ferrer Hugo Barbosa Serv. Farm. Hospital Reynaldo dos Santos Bibliografia 1. Gerich, John E. Am J Med, 2002; 113: 308-316. 2. Mouser, Jay F. Nutr Clin Prac, 2004; 19: 172-180. 3. Hirsch, Irl B. N Engl J Med, 2005, 352(2): 174-183. 4. Humalog®. Eli Lilly. Resumo das Características do Medicamento, Abril 2001. 5. NovoRapid®. Novo Nordisk. Resumo das Características do Medicamento, Setembro 2004. 6. Novomix®. Novo Nordisk. Resumo das Características do Medicamento, Agosto 2000. 7. Reinhart, L. Am J Health-Syst Pharm, 2002; 59: 643-649. 8. Levien, Terri L. Ann Pharmacother, 2002; 36: 1019-1027. 9. Anon. Rev Prescrire, 2005; 261: 325-332. 10. Anon. Drug Ther Perspect, 2002; 18(7): 7-9. 11. Anon. Med Lett Drugs Ther, 2001; 43: 65-66. 12. Lantus®. Sanofi-Aventis. Resumo das Características do Medicamento, Junho 2000. 13. Levemir®. Novo Nordisk. Resumo das Características do Medicamento, Junho 2004. 14. Goldman-Levine, J. D., Lee K. W. Ann Pharmacother, 2005; 39: 502-07. 15. Hordern S., Russel-Jones D. 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