ANÁLISE DE CONFIABILIDADE NA CRAVAÇÃO DE ESTACAS DE CONCRETO PRÉ-MOLDADO EDIO SOARES PEREIRA JUNIOR Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências de Engenharia no curso de Geotecnia. Orientador: Prof. Fernando Saboya Albuquerque Junior Campos dos Goytacazes Setembro de 2003 A Deus e a minha família. Meus agradecimentos, • Ao Prof. Fernando Saboya Albuquerque Júnior, orientador da dissertação, pelo apoio e a confiança depositada. • À FAPERJ, pelo apoio financeiro prestado. • Aos meus pais pelo incentivo e apoio à pesquisa realizada. • À Deus, por conceder saúde e força necessárias para o desenvolvimento deste trabalho. SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES...............................................................................................III LISTA DE TABELAS........................................................................................................V LISTA DE SÍMBOLOS....................................................................................................VI Capítulo 1. INTRODUÇÃO................................................................................................1 Capítulo2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................... ................................................3 2.1. Introdução .................................................................................................................3 2.2. Análises determinísticas........ ...................................................................................4 2.2.1. Descrição dos métodos determinísticos de capacidade de carga de fundações profundas..........................................................................................4 2.2.2. Métodos teóricos.....................................................................................................6 2.2.2.1. Resistência lateral (RL).........................................................................................7 2.2.2.2. Método em termos de tensões efetivas...............................................................8 2.2.2.3. Método em termos de tensões totais.................................................................11 2.2.2.4. Resistência de ponta (RP)..................................................................................15 2.2.3. Métodos semi-empíricos.......................................................................................17 2.2.4. Método de controle de capacidade de carga in situ..............................................22 2.3. Conceitos básicos de probabilidade, estatística e confiabilidade............................25 2.3.1. Análise probabilística............................................................................................25 2.3.1.1. Função de probabilidade....................................................................................26 2.3.1.2. Caracterização da densidade pelo método dos momentos.......................................................................................................................26 2.3.1.3. Densidade normal..............................................................................................27 2.3.2. Análise estatística.................................................................................................28 2.3.2.1. Análise gráfica da amostra.................................................................................29 2.3.2.2. Análise aritmética da amostra............................................................................30 2.3.3. Aspectos conceituais de análise de confiabilidade...............................................31 I 2.3.3.1. Aspectos conceituais da confiabilidade inerentes ao fator de segurança..........................................................................................................31 2.3.4. Método do Segundo Momento de Primeira Ordem..............................................35 2.3.5. Estimativa de Probabilidade de Fracasso.............................................................37 2.4. Risco admissível......................................................................................................39 2.5. Aplicações de estatística, probabilidade e confiabilidade em geotecnia.........................................................................................................................40 3. MONITORAÇÃO DAS ESTACAS E O ENSAIO SPT.................................................45 3.1. Introdução................................................................................................................45 3.2. Localização..............................................................................................................45 3.3. Sondagens executadas............................................................................................45 3.4. Determinação do repique elástico e nega................................................................54 4. ANÁLISE DE CONFIABILIDADE EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS...........................58 4.1. Introdução................................................................................................................58 4.2. Procedimentos da análise de confiabilidade............................................................55 4.2.1. Análise estatística dos parâmetros geotécnicos...................................................58 4.2.2. Análises determinísticas.......................................................................................64 4.2.3. Análises das variâncias dos fatores de segurança...............................................65 4.2.3.1. Estudo da aproximação por diferênças divididas...............................................65 4.2.4. Estimativa da confiabilidade associada à probabilidade de ruptura.....................67 4.3. Interpretação dos resultados....................................................................................76 4.4. Avaliação dos fatores de segurança referentes à confiabilidade admissivel........................................................................................................................78 5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES.......................................................................80 5.1. Conclusões..............................................................................................................80 5.2. Considerações.........................................................................................................81 5.3. Sugestões................................................................................................................81 Referências Bibliográficas...............................................................................................82 Anexo 1 – Valores da função distribuição acumulada normal........................................86 Anexo 2 – Tabelas referentes à simulação do parâmetro C3 e Nspt................................87 II LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 2.1 - Estaca carregada axialmente....................................................................6 Figura 2.2 – Estado de tensões do solo adjacente à estaca,(a) antes da instalação e (b) após a instalação...........................................................................8 Figura 2.3 – Fator de adesão α (Tomlinson, 1957)....................................................12 Figura 2.4 – Fator de Adesão α (Kulhawy e Phoon 1993).........................................14 Figura 2.5 – Superfícies de ruptura (vésic, 1967)......................................................16 Figura 2.6 – Fatores de capacidade de carga, Nq (Vésic, 1975)................................16 Figura 2.7 – Fator de correção de k para estacas metálicas tubulares cravadas em areia......................................................................................................................21 Figura 2.8 – Fator de correção de k para estacas quadradas de concreto cravadas em areia......................................................................................................22 Figura 2.9 - Repique elástico e Nega para um golpe.................................................24 Figura 2.10. Gráfico de uma distribuição normal........................................................28 Figura 2.11 - Exemplo de um histograma de uma variável aleatória.........................29 Figura 2.12. Relação β x FS em função do desvio padrão ( Dell’Avanzi, 1995)........35 Figura 2.13. Comparação entre duas situações com médias e distribuições de FS diferentes (Christian, 1992)..............................................................................38 Figura 2.14. Relação entre β e Pf para distribuição normal de FS (Christian, 1992).........................................................................................................39 Figura 2.15. Valores usuais de probabilidade e conseqüências de ruptura (Whitman, 1984).........................................................................................................40 Figura 2.16. Seção típica do talude ( Sandroni e Sayão, 1992).................................41 Figura 3.1 – Localização geográfica de Campos dos goytacazes.............................46 Figura 3.2 – Disposição das sondagens na área da obra..........................................47 Figura 3.3 – Perfil de sondagem................................................................................53 Figura 3.4 – Perfil composto da sondagem................................................................54 Figura 3.5 - Medição do repique elástico e nega.......................................................55 Figura 3.6 - Representação da medida do repique elástico e nega...........................56 Figura 3.7 - Repique elástico e nega obtidos em um golpe do martelo.....................56 Figura 4.1 – Aparelho medidor de repique.................................................................59 Figura 4.2 - Fator de segurança x Índice de confiabilidade........................................69 III Figura 4.3 - Fator de segurança x Índice de confiabilidade para intervalos de variação de C3.......................................................................................................74 Figura 4.4 - Fator de segurança x Índice de confiabilidade para Nspt em torno da região da obra.................................................................................77 Figura 4.5 - Porcentagem de influência de cada parâmetro na confiabilidade..........78 IV LISTA DE TABELAS Tabela2.1 – Valores típicos de coeficientes de variação em solos (Lee et al., 1983)..5 Tabela2.2- Valores para o fator β para estacas escavadas.......................................10 Tabela 2.3 – Valores para o fator β para estacas cravadas.......................................10 Tabela 2.4 – Relação entre os ângulos δ/φ’ (Potyondy, 1961)...................................11 Tabela 2.5 – Fator de adesão α.................................................................................13 Tabela 2.6 – Fator característico do do solo C (Decourt e Quaresma, 1978)............18 Tabela 2.7 – Coeficientes k e α (Aoki e Velloso, 1975).............................................20 Tabela 2.8 – Coeficientes de transformação F1 e F2 (Aoki e Velloso, 1975)..............20 Tabela 3.1 – Valores do repique elástico e nega obtidos na cravação......................57 Tabela 3.2 – Valor do Nspt médio por camada............................................................57 Tabela 4.1 - Valores sugeridos para C3.....................................................................59 Tabela 4.2 – Dados do repique elástico e nega da obra............................................60 Tabela 4.3 – Análise estatística dos parâmetros da obra..........................................61 Tabela 4.4 – Análise estatística das sondagens em torno da obra............................62 Tabela 4 5 – Intervalo de variação de C3 ..................................................................63 Tabela 4.6 – Análise estatística na variação do parâmetro C3...................................64 Tabelas 4.7 a 4.13 – Cálculo de β com parâmetros da obra......................................69 Tabela 4.14 – Fator de segurança e probabilidade de ruptura associada ao índice de confiabilidade.........................................................................................73 Tabela 4.15 – Fator de segurança x Índice de confiabilidade....................................74 Tabela 4.16 – Relação entre a variância e o índice de confiabilidade.......................76 V LISTA DE SIMBOLOS AL área do fuste da estaca........................................................................... 6 AP área da ponta da estaca....................................................……..…...........6 B largura ou diâmetro da seção transversal do fuste da estaca…………..15 C fator característico do solo........................................……………............18 c’ coesão efetiva do solo.......................................................……………......8 C1 constante empírica para determinação de α.....................…………........13 C2 Compressão elástica da estaca........................................………............20 C3 Compressão elástica do solo................................................................. 20 Cov (X) coeficiente de variação............................................................................34 CPT ensaio de penetração de cone (cone penetration test) eo Fator de correção................................................................................... 20 ef Fator de correção....................................................................................20 E Módulo de Yong da estaca......................................................................23 E[x] valor esperado.........................................................................................26 f(x) função densidade de probabilidade........................................................25 F(t) função de distribuição..............................................................................25 FS fator de segurança..................................................................................33 F1 coeficiente de transformação para a resistência de ponta da estaca......19 F2 coeficiente de transformação para a resistência lateral da estaca..........19 fs atrito lateral medido no cone....................................................................18 G(X) função de desempenho...........................................................................31 k fator de correlação entre o tipo de solo e qc ...........................................19 K Repique Elástico......................................................................................20 Ka coeficiente de empuxo ativo.......................................................................9 K0 coeficiente de empuxo no repouso.............................................................9 Kp coeficiente de empuxo passivo..................................................................9 L comprimento total da estaca....................................................................23 N Valor médio do SPT ao longo da estaca.................................................20 NSPT Nc, Nq, Ng pa índice de resistência a penetração fatores de capacidade de carga...................................................15 pressão atmosférica................................................................................14 VI Pf probabilidade de ruptura........................................................................32 qL resistência lateral unitária de uma estaca.................................................6 qP resistência de ponta unitária de uma estaca............................................6 R capacidade de resistência.......................................................................68 _ R capacidade de resistência média............................................................19 RL resistência lateral de uma estaca............................................................15 RP resistência de ponta de uma estaca........................................................15 Ru Resistência última da Estaca..................................................................22 S Nega........................................................................................................22 S demanda de solicitação..........................................................................68 SPT ensaio padronizado de penetração (standard penetration test) s desvio padrão da amostragem...............................................................30 S demanda de solicitação.........................................................................17 Su resistência ao cisalhamento não-drenada..............................................12 _ S demanda de solicitação média...............................................................19 t(x) função de freqüência..............................................................................28 T(x) função de freqüência acumulada...........................................................29 V[x] variância da distribuição.........................................................................26 V[fs] variância do fator de segurança.............................................................37 x variável aleatória....................................................................................25 x média da amostragem............................................................................29 Z variável aleatória padronizada...............................................................27 α fator de adesão lateral em termos de tensões totais.............................12 α (%) fator de correlação entre o tipo de solo e a resistência lateral...............19 β fator de capacidade de carga lateral em termos de tensões efetivas..... 9 β índice de confiabilidade..........................................................................18 δ ângulo de atrito entre o solo e a estaca....................................................8 φ (β) função densidade acumulada aferida em β...........................................37 φ’ ângulo de resistência ao cisalhamento efetivo do solo..........................11 γ peso específico aparente do solo...........................................................15 µ média da distribuição.............................................................................26 µG valor médio da função de desempenho.................................................31 VII σ’h tensão efetiva horizontal..........................................................................8 σ’v tensão efetiva vertical...............................................................................8 σ desvio padrão..........................................................................................26 σ[x] desvio padrão da distribuição..................................................................26 σG desvio padrão da função de desempenho..............................................31 σR desvio padrão da capacidade de resistência..........................................33 σS desvio padrão da demanda de solicitação..............................................33 σFS desvio padrão do coeficiente de segurança............................................34 τs tensão cisalhante.......................................................................................8 VIII RESUMO As obras geotécnicas no geral têm sido estudadas tradicionalmente de forma determinística. Contudo a engenharia geotécnica lida com uma gama de materiais com propriedades e parâmetros altamente variáveis e influenciados por diversos fatores. Visando quantificar a variabilidade inerente às previsões determinísticas, conceitos de probabilidade e estatística são utilizados como forma de racionalizar as incertezas ocasionadas. Neste âmbito, torna-se possível inferir sobre a confiabilidade dos resultados apresentados pelos procedimentos convencionais e estimar o risco de insucesso intrínseco ao projeto. Desta maneira, este trabalho propõe um estudo do controle de cravação de estacas via repique elástico, enfocando aspectos probabilísticos das variáveis envolvidas no cálculo da capacidade de carga de estacas pré-moldadas. Apresenta um resumo com os conceitos básicos de probabilidade e estatística necessários para a compreensão do assunto. Desenvolve-se o Método do Segundo Momento de Primeira Ordem para quantificação da confiabilidade inerente ao desempenho de fundações. Os cálculos são apresentados com base no controle de cravação de estacas de concreto pré-moldado, numa obra localizada na região central de Campos dos Goytacazes-RJ. IX ABSTRACT In general geotechnical analysis traditionally have been carried out in deterministic way. However geotechnical engineering deals with materials whose properties and parameters are strongly variables and influenced by several factors. Aiming to quantify the variability inherent to the deterministic approach, probability concepts are used as a tool to rationalize the associated uncertainties. In this way, it is possible to infer over reliability of results obtained by using conventional methods and estimate the intrinsic risk of failure. Thus, this work proposes a study regarding the control of pile driving by the elastic rebound method, focusing specifically probabilistic aspects of the variables involved in the bearing capacity prediction of driven piles. This work also presents a brief discussion regarding basic concepts of statistics and probability, which are considered important to the understanding of the subject. It is also shown the formulation of First Order Second Moment for the assessment of reliability of the deep foundation. Results are presented based on controlling of pre-cast pile driving in a building construction work in Campos dos Goytacazes, RJ, Brazil. X Capítulo 1 INTRODUÇÃO As obras geotécnicas no geral têm sido estudadas tradicionalmente de forma determinística. Contudo, através de estudos, constatou-se que a engenharia geotécnica lida com uma gama de materiais com propriedades e parâmetros altamente variáveis e influenciados por diversos fatores. Estas variações podem ser observadas através da grande dispersão nos resultados de ensaios ou pelas diferenças apresentadas entre o desempenho prático das obras com valores previstos por ensaios de laboratório e de campo. Visando quantificar a variabilidade inerente às previsões determinísticas, introduziram-se no meio geotécnico, conceitos de probabilidade e estatística. Neste âmbito, tornou-se possível inferir sobre a confiabilidade dos resultados apresentados pelos procedimentos convencionais e estimar o risco de insucesso intrínseco ao projeto. Como maneira de racionalizar as incertezas e deixar subjetividade pessoal em plano secundário, conceitos de probabilidade e estatística foram sendo introduzidos gradativamente no meio geotécnico a partir da década de 80. No entanto, as análises probabilísticas devem ser aplicadas em conjunto com as análises determinísticas, inferindo sobre a confiabilidade desta última, como forma de contribuição e não como forma de substituição. O estudo da confiabilidade fornece meios de se avaliarem os efeitos combinados das incertezas dos parâmetros envolvidos no cálculo, oferecendo um suplemento útil nas análises convencionais. O principal propósito deste presente estudo portanto, é fornecer um estudo do controle de cravação das estacas baseado no repique elástico, enfocando aspectos probabilísticos das variáveis envolvidas no cálculo da capacidade de carga de estacas pré-moldadas e uma avaliação da compatibilidade através do método FOSM. Capítulo 1 – Introdução 2 Desta maneira, visando uma compreensão mais simplificada, o trabalho se subdividiu da seguinte forma: • Capítulo 1 - Introdução • Capítulo 2 - Apresenta uma revisão bibliográfica dos métodos determinísticos usualmente utilizados na obtenção da capacidade de carga de estacas, e também do método de controle de capacidade de carga via repique elástico. E, por fim, faz uma descrição sucinta dos aspectos conceituais de probabilidade, estatística e confiabilidade e o desenvolvimento do método segundo momento de primeira ordem. • Capítulo 3 - Para aplicar os conceitos de confiabilidade e probabilidade em uma configuração bem documentada, são apresentados neste capítulo informações gerais sobre a campanha experimental realizada, em torno dos resultados do ensaio SPT, nega e repique elástico. • Capítulo 4 - Apresentam-se análises de confiabilidade associadas ao controle da capacidade de carga in situ das fundações pelo método baseado no repique elástico descrito no capítulo 2. Neste ensejo, são contemplados alguns fatores que influenciam a quantificação da confiabilidade e, finalmente, são feitas considerações sobre a adoção de fatores de segurança. • Capítulo 5 – Conclusões e considerações pertinentes ao trabalho. • Referências Bibliográficas. • Anexos Capítulo 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 - Introdução Este capítulo se subdividiu em quatro partes básicas. Na primeira, apresentase uma breve revisão sobre os procedimentos determinísticos usualmente utilizados na prática de fundações e, ainda, do controle de cravação via repique elástico necessários para a verificação dos critérios de capacidade de carga e pertinentes ao projeto geotécnico de fundações profundas. Na segunda parte, são demonstrados conceitos básicos de probabilidade e estatística fundamentais para compreensão das metodologias de análise de confiabilidade comumente utilizadas no meio geotécnico. Na seqüência apresentase os aspectos conceituais de confiabilidade e o método do Segundo Momento de Primeira Ordem, amplamente utilizado em análises probabilísticas. Na terceira parte, apresenta-se o complemento da análise de confiabilidade, que se constitui na estimativa da probabilidade de fracasso inerente ao projeto. Neste âmbito, são feitas algumas considerações sobre o risco admissível. Finalmente, na quarta parte, contemplam-se alguns trabalhos que utilizaram conceitos de estatística, probabilidade e confiabilidade que, adaptados, vieram constituir a metodologia adotada no presente trabalho. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 4 2.2 - Análises Determinísticas Na engenharia em geral, as análises determinísticas são realizadas considerando todos parâmetros e propriedades com valores fixos. Em geotecnia de fundações, as análises determinísticas procuram viabilizar, economicamente, a aplicação de cargas estruturais ao terreno, sem que ocorram deformações excessivas. No projeto, existem critérios que devem ser considerados e satisfeitos separadamente; um deles é à margem de segurança quanto à ruptura por perda de capacidade de suporte. Neste âmbito, apresentam-se alguns métodos determinísticos tradicionais, utilizados nas estimativas de capacidade de suporte de fundações profundas. 2.2.1 - Descrição dos métodos determinísticos de capacidade de carga de fundações profundas Apesar de muito difundido no meio geotécnico, o dimensionamento de fundações em estaca ainda preserva diversos princípios empíricos. Uma das grandes dificuldades na previsão do comportamento de estacas está relacionada com a avaliação dos parâmetros do solo que podem ser estimados em ensaios de laboratório ou de campo. Existem inúmeras correlações que procuram determinar de forma empírica os parâmetros geotécnicos a partir de ensaios de campo. Essas formulações não possuem nenhum fundamento teórico e são totalmente empíricas, mas são ferramentas de grande valor quando não há possibilidade de realizar-se ensaios de laboratório, o que é comum na prática de fundações em estacas. Portanto, com relação aos parâmetros geotécnicos, eles também apresentam erros e incertezas, necessitando também de um tratamento estatístico. Através de análises estatísticas realizadas por vários pesquisadores, em diferentes tipos de solos, Lee et al., (1983) reuniram valores típicos de coeficientes de variação de diversos parâmetros do solo, como mostrado na Tabela 2.1. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Parâmetro do Solo (x) 5 Faixa usual cov (x)% * Valor recomendado cov (x)% Peso Espe. Aparente γ 1 a 10 3 Teor de Umidade ω 6 a 63 15 Índice de Vazios e 13 a 42 25 Limite de Liquidez LL 2 a 48 10 Limite de Plasticidade LP 9 a 29 15 Coefi. de Compressibilidade Cc 18 a 73 30 Módulo de Yong E 2 a 42 30 Coefi. de permeabilidade K 200 a 300 300 Coeficiente de Adensamento Cv 25 a 100 50 Resistência não Drenada Su 20 a 50 30 Ângulo de Atrito φ (areias) 5 a 15 10 Ângulo de Atrito φ (argilas) 12 a 56 30 * Cov(x) = s/ x Tabela2.1 – Valores típicos de coeficientes de variação em solos (Lee et al., 1983) Na fundação por estacas, parte da carga é transmitida ao solo por meio do atrito da superfície do fuste e o terreno e, parte, pela reação de ponta, que é a resistência que o solo oferece à penetração dessa ponta em sua massa. Portanto, a metodologia convencional de análise da capacidade de suporte de fundações profundas consiste na soma de duas parcelas de resistência, a resistência de ponta (RP) e a resistência lateral (RL), como ilustrado na Figura 2.1. Pode ainda ocorrer, quando não há resistência de ponta, que toda a carga seja transmitida por atrito lateral ao solo, diz-se então que a fundação é por estacas flutuantes; em caso contrário, trata-se de uma fundação por estacas de reação de ponta. Essas duas parcelas não são completamente independentes. A interação entre elas depende de um grande número de fatores, como o estado de tensões atuantes, o tipo de solo e a forma da estaca. Porém, não se conhece uma análise que defina a extensão dessa interação satisfatoriamente. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 6 Q p P σ’h RL RL σ’h Rp Figura 2.1 - Estaca carregada axialmente A resistência lateral e de ponta de uma estaca são expressas como: RL = AL qL (2.1) RP = AP qP (2.2) onde; AL é a área lateral; qL é a resistência lateral por unidade de área; AP é a área da base; qP é a resistência de ponta por unidade de área. Para determinação da resistência unitária lateral e de ponta existem métodos teóricos e empíricos. Alguns desses métodos são apresentados superficialmente neste capítulo. 2.2.2 - Métodos teóricos A base dos métodos teóricos é considerar o problema como um caso de cisalhamento simples entre a estaca e o solo ao seu redor. Nesses métodos é preciso analisar os parâmetros de resistência ao cisalhamento dos materiais Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 7 envolvidos e o estado de tensões ao qual estão submetidos. Considerações a respeito do efeito de instalação da estaca são feitas, em geral, através de fatores de correção empíricos. Durante a instalação da estaca, o solo ao seu redor sofre uma considerável perturbação provocando deformações cisalhantes tanto na ponta da estaca quanto ao longo do seu fuste. Ocorre também uma compressão do solo abaixo da ponta da estaca e seu deslocamento para os lados. Esse processo ocasiona uma remoldagem do material em torno da estaca, levando a uma mudança no estado de tensões e dependendo do tipo de solo, pode haver geração de poro-pressão. No caso de materiais coesivos, no início do carregamento o solo ao redor da estaca encontra-se numa condição não-drenada devido a poro-pressão gerada pela instalação da estaca. Neste momento o problema é considerado de carregamento não-drenado. Com o passar do tempo ocorre a dissipação da poro-pressão. Neste momento o problema passa a ser considerado de carregamento drenado. Assim, torna-se possível analisar o problema em termos de tensões totais ou em termos de tensões efetivas. A escolha de qual será a análise usada dependerá principalmente do tipo de material envolvido no problema. Para problemas que envolvem materiais granulares é utilizada a análise em termos de tensões efetivas. No caso de materiais coesivos é possível a utilização dos dois tipos de análises. As vantagens e desvantagens de cada uma delas serão discutidas mais adiante. 2.2.2.1 Resistência lateral (RL) Os processos de instalação das estacas causam alteração no estado de tensões na região próxima à interface solo e estaca (FIGURA 2.2). A variação da tensão efetiva vertical é muito pequena, e por isso acaba sendo negligenciada. Porém a variação da tensão efetiva horizontal deve ser avaliada a partir de considerações a respeito do método de instalação da estaca. No caso de estacas escavadas, a perturbação é pequena em relação a estacas cravadas. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 8 Estaca σ’v σ’vo σ’ho Elemento de solo σ’ho Elemento de solo σ’h σ’vo τs (a) τs σ’h σ’v (b) Figura 2.2 – Estado de tensões do solo adjacente à estaca,(a) antes da instalação e (b) após a instalação. 2.2.2.2 - Método em termos de tensões efetivas Em geral, o método teórico em termos de tensões efetivas é utilizado para a avaliação do atrito lateral de estacas em materiais granulares. Mas, também é possível o uso dessa metodologia no caso de materiais coesivos. Porém, é complexa a determinação do estado de tensões efetivas para esses tipos de materiais. Numa condição drenada, considerando o critério de ruptura de MohrCoulomb, a resistência lateral unitária (qL) pode ser considerada como: qL = f (c’+ σ’h tanδ) (2.3) onde; c’ é a coesão efetiva; σ’h a tensão efetiva horizontal atuante no fuste; δ é o ângulo de atrito entre a estaca e o solo. A partir disso, algumas considerações devem ser feitas para o uso do método em termo de tensões efetivas, tais como: 1. O excesso de poro-pressão gerado durante a instalação é totalmente dissipado antes do carregamento da estaca; Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 9 2. O carregamento ocorre em condição drenada, uma vez que a zona que sofre maior distorção em torno do fuste é relativamente fina; 3. Devido ao amalgamento ocasionado pela instalação, costuma-se assumir que o solo passa a não possuir coesão efetiva. Assim sendo, o atrito lateral ao longo do fuste pode ser expresso como qL = f (σ’h tan δ) (2.4) 4. Assume-se que a tensão efetiva horizontal (σ’h) é proporcional à tensão efetiva vertical (σ’v), (sobrecarga das camadas sobrejacentes); Essa última consideração possivelmente é a mais questionável, mas serve como ponto de partida. Dessa maneira a Equação (2.4) torna-se; qL = K σ’v tan δ = β σ’v (2.5) onde; K é o coeficiente de empuxo lateral; β é o fator de capacidade de carga. Essa formulação também é conhecida como método β. Sendo que o fator β é adimensional e depende da avaliação do estado de tensões, da compressibilidade do solo, das dimensões da estaca e de sua forma. Tanto pode ser estimado teoricamente através dos princípios da mecânica dos solos como também pode ser determinado a partir de dados de provas de cargas. Para a determinação teórica assume-se que β é função do coeficiente de empuxo que representa o estado de tensões de campo. Partindo-se da idéia que antes da instalação da estaca existia uma condição geostática, pode-se dizer que a cravação de uma estaca levaria a uma condição intermediária entre a condição K0 e a condição de empuxo passivo (KP). Já a escavação de um fuste causa um alívio de tensões que pode levar ao estabelecimento de uma condição próxima à condição de empuxo ativo (Ka). Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 10 Várias propostas para o valor de β são encontradas na literatura, tanto para estacas escavadas quanto para cravadas em diversos materiais, como mostrado nas Tabelas (2.2) e (2.3). Poulos (1978) Fator β 0,15 a 0,35 (compressão) 0,10 a 0,24 (tração) 0,44 para φ’= 28º 0,75 para φ’= 35º 1,2 para φ’= 37º (K/K0) . k0 . tan (φ’.δ/φ) δ/φ depende dos materiais na interface (entre 0,5 a 1,0) k/k0 depende do método de instalação (entre 0,5 a 2,0) 0,05 a 0,10 Burland (1973) (1-senφ’).tanφ’.(OCR)0,5 Referência McClelland (1974) Meyerhof (1976) Stas e Kulhawy (1984) Flaate e Selnes (1977) Parry e Swain (1977) Material Areias com predominância de sílica Areias com predominância de sílica Areias com predominância de sílica Areias calcárias não cimentadas Argilas Argilas 0,4 OCR. ⋅ u L L + 215,2 onde uL = 2 L + 215,2 Argilas NA 1 − senφ ' ⋅' tan φ 1 + senφ Tabela 2.2- Valores para o fator β para estacas escavadas Referência Meyerhof (1976) Kraft e Lyons (1974) Poulos (1988) Fleming et al. (1985) Stas e Kulhawy (1984) Fator β 0,10 para φ’= 33º 0,20 para φ’= 35º 0,35 para φ’= 37º F.tan (φ’- 5º) Onde F = 0,7 (compressão) F = 0,5 (tração) 0,5 a 0,8 para qL = 60 a 100 Ka K.tanφ’ K é menor que K0 ou 0,5 (1+K0) (k/k0).K0.tan(φ’.δ/φ) δ/φ depende dos materiais na interface (entre 0,5 a 1,0) K/K0 depende do método de instalação (entre 2/3 a 1,0) Material Areias com predominância de sílica Areias com Predominância de sílica Tabela 2.3 – Valores para o fator β para estacas cravadas. Areias calcárias não cimentadas Argilas Argilas Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 11 Quanto ao ângulo de atrito entre o solo/estaca (δ), ele pode ser considerado como aproximadamente igual ao valor de φ’ (Tomlinson, 1957; Burland, 1973; entre outros). Ou ainda, pode-se assumir que δ é proporcional a φ’, como a proposição de Meyerhof (1959) expressa pela Equação (2.6). Potyondy (1961) realizou uma série de ensaios de cisalhamento direto com diversos materiais e solo (TABELA 2.4). δ =2/3 (φ’+ 5º) Material da estaca Aço Madeira Concreto (2.6) Acabamento da Superfície Lisa (polida) Áspera (oxidadas) Paralela ás fibras Normal às fibras Lisa (forma metálica) Áspera (forma de madeira) Rugosa (sem forma) Areia seca Areia saturada 0,54 0,76 0,76 0,88 0,76 0,88 0,98 0,64 0,80 0,85 0,89 0,80 0,88 0,90 Tabela 2.4 – Relação entre os ângulos δ/φ’ (Potyondy, 1961) Vesic (1977) apresentou uma aproximação diferente para δ considerando que o solo localizado na interface entre a massa de solo e a estaca estaria num estado de ruptura. Como conseqüência o ângulo de atrito entre a estaca e o solo, δ, seria independente das propriedades iniciais do solo e do material da estaca podendo ser considerado como igual ao ângulo de resistência ao cisalhamento efetivo residual (φ’res). Segundo Coyle e Castello (1981), a diferença entre as proposições de Potyondy e Vésic não aparenta ser significante. 2.2.2.3 - Método em termos de tensões totais A capacidade de carga da estaca deve ser estimada com base em tensões totais se for considerado que durante o carregamento existir geração de poropressão. Desta forma, a resistência lateral é considerada uma função da resistência ao cisalhamento não-drenado do (s) material (is) em torno da estaca representada pela equação; Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 12 qL = α Su (2.7) onde qL : resistência lateral média ao longo do fuste da estaca; α é o fator de adesão entre o solo e a estaca; Su é a resistência ao cisalhamento não-drenada dos solos. O fator de adesão é introduzido para a correção da influência dos fatores como a resistência ao cisalhamento da argila, o método de instalação da estaca, a tensão de sobreadensamento e o tipo de estaca. Os primeiros estudos de Skempton (1959) mostram que o fator de adesão α varia entre 0,3 e 0,6 para estacas instaladas na argila de Londres. Sua determinação é feita pela correlação entre provas de carga e dados de resistência não-drenada, determinada em laboratório ou ensaios de campo. Dependendo do solo e do tipo de estaca, o valor de α pode variar de 1 a pouco mais que 1 para argilas normalmente adensadas moles até cerca de 0,33 para argilas rijas a duras fortemente sobreadensadas. Com base em um grande número de ensaios, tem sido possível determinar faixas de valores de α para tipos particulares de estacas em diversas condições de carregamento. Tomlinson (1957) sugeriu algumas propostas de α, mostrada na Figura 2.3. Fator de Adesão α 1,25 curva média para estacas de concreto 1,00 0,75 0,50 Curva média para todas as estacas 0,25 0 25 50 75 100 125 150 Su (Kpa) Figura 2.3 – Fator de adesão α (Tomlinson, 1957) Para estacas cravadas em argila, McClelland (1974) apresentou uma coleção de vários gráficos de fator de adesão em função da resistência não drenada, obtida Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 13 por vários autores. Estas curvas mostram que o fator de adesão decresce com o aumento da resistência da argila, tanto para estacas escavadas como cravadas. Em todos os casos, há uma larga dispersão na variação observada do fator de adesão com a resistência não-drenada. Na Tabela 2.5 estão indicados valores de α encontrados por outros autores. Referência Peck (1958) Woodward & Boitano (1961) Kerisel (1961) Tomlinson (1970) Su = 50 (Kpa) 0,90 0,86 0,72 0,72 Su = 150 (kpa) 0,45 0,32 0,35 0,25 Tabela 2.5 – Fator de adesão α Randolph e Murphy (1985) estimaram valores de α a partir de provas de carga em estacas cravadas baseados na relação média de resistência in situ. Baseando-se numa análise de regressão linear desses dados foi estabelecido que α= 0,5 (Su / σ 'v )0,25 quando Su ≤1 σ 'v (2.8) quando Su >1 σ 'v (2.9) e α= 0,5 (Su / σ 'v )0,5 Estas observações parecem concordar bem com Sladen (1992) que sugere a seguinte relação para a avaliação de α: σ ' α = C1 v Su 0, 45 onde C1 é uma constante empírica, σ’v e Su são como previamente definido. (2.10) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 14 Para estacas escavadas, C1 situa-se em torno de 0,4 a 0,5. As informações tornam-se mais escassas para o valor de α para estacas escavadas em comparação a estacas cravadas. Kulhawy e Phoon (1993) propõem a seguinte correlação (Equação 2.11) para α baseada em 127 casos estudados de estacas escavadas com provas de carga levadas à ruptura em argila (FIGURA 2.4). P α = 0,5 a Su 0,5 (2.11) onde, Pa é a pressão atmosférica (aproximadamente 100 kPa para simplificação em lugar de 101,4 kPa) e Su é a resistência ao cisalhamento não-drenada, obtida através do ensaio triaxial consolidado hidrostaticamente não-drenado. Baseados nos dados das provas de carga, esta relação foi julgada como sendo próxima a outras relações para estacas cravadas. Figura 2.4 – Fator de Adesão α (Kulhawy e Phoon 1993) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 15 2.2.2.4 - Resistência de ponta (RP) A formulação mais geral para a determinação de resistência de ponta unitária (qP) é a expressão: qP = γBNγ + cNc + σ’vNq (2.12) onde qP resistência de ponta da estaca; B é a menor dimensão da estaca; σ’v é a tensão efetiva vertical (sobrecarga) na cota da ponta da estaca; c é a coesão do solo; γ é o peso específico aparente do solo; Nγ, Nc e Nq são os fatores de carga. Na maioria das teorias encontradas, os parâmetros básicos, além da geometria da estaca, é o φ’, o qual é usado para determinar o fator de capacidade de carga, Nq, e a tensão efetiva confinante do solo. Nenhuma teoria considera a resistência lateral do solo ao longo do fuste, ou uma possível interdependência entre a resistência lateral e de ponta. No caso de materiais granulares o primeiro e segundo termo da Equação (2.8) são negligenciados e a equação torna-se então qP = σ’v Nq (2.13) Vésic (1967) mostra uma série de proposições para o valor de Nq em função da superfície de ruptura (FIGURA 2.5) e do ângulo de atrito do material (FIGURA 2.6). Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Prandtl Ressner Caquot Buisman Terzaghi 16 Debeer Jáky Meyerhof Berezantsev and Yaroshenko Vésic Figura 2.5 – Superfícies de ruptura (Vésic, 1967) Figura 2.6 – Fatores de capacidade de carga, Nq (Vésic, 1967) Bishop, Hil and Mott Skempton Yassim Gibson Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 17 Como mostram as figuras (2.5) e (2.6), é evidente que existem grandes variações entre uma teoria e outra, o que leva à conclusão de que o mecanismo de ruptura ainda não é bem compreendido. Para solos coesivos a Equação 2.12 é reduzida para qP = Nc Su (2.14) O valor do fator Nc, em geral, é considerado 9,0 e Su é a resistência não drenada da argila abaixo da base da estaca. 2.2.3 - Métodos semi-empíricos Os métodos semi-empíricos estão baseados em relações diretas entre os resultados de ensaios de campo com as parcelas de resistência e dependem de ajustes com dados de provas de carga. Os métodos semi-empíricos brasileiros mais conhecidos certamente são os métodos apresentados por Aoki e Velloso (1975) e o de Décourt e Quaresma (1978, 1982). Métodos que relacionam diretamente o número de golpes do SPT com o atrito lateral são muito difundidos por sua simplicidade. Porém, o uso dessas metodologias deve ser realizado com cautela, uma vez que está baseada em experiências regionais. São apresentadas da forma qL = A + B . NSPT (2.15) onde A e B são constantes que dependem dos dados do solo e do tipo de estaca que deram origem à formulação. O método de Décourt e Quaresma foi desenvolvido com base na experiência dos autores e resultados de provas de carga. Essas provas de carga foram realizadas em estacas pré-moldadas de concreto, porém não foram levadas à ruptura e utilizou-se a carga de ruptura convencional correspondente a um recalque de 10% do diâmetro da estaca. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 18 A resistência lateral unitária é apresentada como uma função apenas do número de golpes do SPT médio ao longo do fuste (Equação 2.16). Não há nenhuma consideração a respeito do tipo solo ou do tipo de estaca. N2 + 1 3 qL = 10 (2.16) onde qL é expresso em kPa, N2 é o valor médio do N ao longo do fuste. Sendo que os valores N devem estar no intervalo 3 ≤ N ≤ 50, valores maiores que 50 devem ser igualados a 50 e valores menores que 3 devem ser igualados a 3. Para a resistência unitária de ponta já houve uma consideração do tipo de solo onde a estaca se apóia através do fator característico do solo C (TABELA 2.6). qP = C . N1 (kpa) (2.17) onde N1 é a média de 3 valores correspondentes ao N na ponta da estaca (Nn), imediatamente superior (Nn+1) e imediatamente inferior (Nn-1). N1 = N n + N n +1 + N n −1 3 Tipo de Solo Argilas Siltes Argilosos Siltes Arenosos Areias (2.18) C (Kpa) 120 200 250 400 Tabela 2.6 – Fator característico do do solo C (Decourt e Quaresma, 1978) Devido ao desenvolvimento contínuo da mecânica dos solos e engenharia de fundações, uma necessidade na melhoria da diversidade e qualidade de ensaios de campo para a caracterização do subsolo tornou-se imprescindível. Cientes dessa necessidade, os estudiosos concentraram-se no desenvolvimento de ensaios que Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 19 representassem de maneira mais coerente as características do substrato. Dentre os ensaios desenvolvidos, destaca-se o ensaio de penetração de cone (Dutch Sounding Test), idealizado na Holanda na década de 1930 por Barentsen e Boonstra (1936). O princípio do ensaio de cone consiste na cravação no terreno de uma ponteira cônica a uma velocidade constante. Apesar dos procedimentos de ensaio serem padronizados, há diferenças entre os equipamentos, que podem ser classificados em cone mecânico, cone elétrico e piezocone. Os principais atrativos do ensaio são o registro contínuo da resistência à penetração, fornecendo uma descrição detalhada da estratigrafia do subsolo, informação essencial à composição de custos de um projeto de fundações, e a eliminação de qualquer influência do operador nas medidas do ensaio, atrito lateral fs e resistência de ponta qc. Desde então, inúmeros métodos vem sendo desenvolvidos para a determinação do atrito lateral unitário (qL) e da resistência de ponta unitária (qP) a partir dos resultados de resistência de ponta (qc) e/ou do atrito lateral (fs). A maioria desses métodos procura determinar fatores redutores para a resistência de ponta (qc) e assim determinar as duas parcelas de resistência. Essa aplicação de fatores de redução deve-se a uma combinação de influências como o efeito de escala, o efeito da velocidade de carregamento, as diferenças nas técnicas de instalação, as variações no valor dos deslocamentos de solo, entre outras, Briaud (1988). São poucos os métodos que utilizam os valores de atrito lateral medidos no ensaio de cone (fs), como Nottingham (1975). A metodologia desenvolvida por Aoki e Velloso (1975) está baseada em resultados de ensaios de penetração de cone em diversos solos brasileiros. Os autores também sugerem a adaptação do método para o uso de valores de NSPT. As Equações 2.19 e 2.20 foram estabelecidas para as resistências unitária de ponta e lateral, respectivamente. Para considerar a influência do tipo de estaca os autores analisaram provas de carga em alguns tipos de estacas e estabeleceram os coeficientes de transformação F1 e F2 (TABELA 2.8). qp = qc K . N1 = F1 F1 (2.19) onde; N1 é o número de golpes na ponta da estaca; K é o fator de correlação entre o tipo de solo e qc (Tabela 2.7); F1 é o coeficiente de transformação para a resistência de ponta da estaca (tabela2.8) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 20 Para a resistência unitária lateral (qL), a correlação estabelecida a partir da resistência de ponta medida no cone é expressa por qL = α .K .N 2 (2.20) F2 onde N2 é o número de golpes médio ao longo do fuste da estaca; F2 é o coeficiente de transformação para a resistência lateral (Tabela 2.8); α (%) é o fator de correlação entre o tipo de solo e a resistência lateral (Tabela 2.7). Tipo de solo Areias Areia Siltosa Areia Silto argilosa Areia argilosa Areia argilo siltosa Silte Silte arenoso Silte arenoso argiloso Silte argiloso Silte argilo siltoso Argila Argila arenosa Argila areno siltosa Argila siltosa Argila silto arenosa K (Mpa) 1,00 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,55 0,45 0,23 0,25 0,20 0,35 0,30 0,22 0,33 α (%) 1,4 2,0 2,4 3,0 2,8 3,0 2,2 2,8 3,4 3,0 6,0 2,4 2,8 4,0 3,0 Tabela 2.7 – Coeficientes k e α (Aoki e Velloso, 1975) Tipo de estaca Franki Metálica Pré-moldada Escavada F1 2,50 1,75 1,75 3,50 F2 5,0 3,5 3,5 7,0 Tabela 2.8 – Coeficientes de transformação F1 e F2 (Aoki e Velloso, 1975) O método de Nottingham (1975), apresentado pela equação 2.21, é baseado em detalhados estudos de provas de carga instrumentadas. Utiliza um fator de correção K para consideração de diversos efeitos como a forma da seção transversal, relação D/B, o material da estaca e o tipo de cone utilizado no ensaio Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 21 experimental de campo. O método é ainda pouco difundido por utilizar a medida de atrito lateral no fuste do cone para determinação da resistência lateral da estaca. Fs = 8B L d Kf A + ∑ 8B S S ∑ Kf S AS d =0 d =8B (2.21) onde k é o fator de correção (figura 2.7 e 2.8); fs é o atrito lateral medido no cone; B é a dimensão da seção transversal da estaca; L é o comprimento da estaca; As é área lateral da estaca. K 0 1,0 2,0 5 10 estacas cravadas D/B 15 20 25 cone elétrico cone mecânico Os pontos que são mostrados são apenas para correlação com cone elétrico 30 Figura 2.7 - Fator de correção de k para estacas metálicas tubulares cravadas em areia. 3,0 Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 0 0 K 1,0 22 K 0 2,0 cone mecânico 10 3,0 cone elétrico D/B D/B cone elétrico 30 2,0 0 10 20 1,0 20 cone mecânico 30 (a) estaca com fuste liso. (b) estaca com fuste rugoso Figura 2.8 – Fator de correção de k para estacas quadradas de concreto cravadas em areia. 2.2 4 – Método de controle de capacidade de carga in situ Tradicionalmente o controle da capacidade de carga de estacas durante a cravação, é feito adotando-se o valor da nega (deslocamento permanente, que geralmente corresponde à média dos 10 últimos golpes do sistema de cravação), que é interpretada à luz das chamadas fórmulas dinâmicas de cravação. Várias críticas vêm sendo feitas à aplicação destas fórmulas, e dentre elas pode-se destacar a incompatibilidade da teoria do choque de Newton de dois corpos para simular o fenômeno de cravação das estacas e também no fato da variação da resistência do solo durante a cravação (cicatrização e relaxação). No início da década de 80, a técnica de monitoração da cravação de estacas começou a se expandir em termos de pesquisa, desenvolvimento de equipamentos e interpretação de dados de cravação pela teoria da equação da onda. Assim a observação sistemática dos resultados obtidos com a instrumentação da cravação aliada ao relato dos japoneses Yokoyama e Kusakabe (1985), vem demonstrando uma tendência de mudança na determinação da resistência última de uma estaca cravada de concreto. Portanto, uma substituição do controle de cravação in situ baseado na nega, pelo controle de cravação baseado no repique elástico. Da mesma forma que os métodos empíricos tradicionais de estimativa de capacidade de carga, os métodos de capacidade de carga in situ estão baseados em Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 23 relações direta com resultados de prova de carga e de ensaios de campo, como o ensaio de cone e o ensaio SPT. Portanto, o uso dessas metodologias deve ser realizado com cautela, uma vez que ainda estão baseadas em experiências ainda restritas. Uto et al., (1985), propuseram uma fórmula dinâmica de cálculo de capacidade de carga in situ para estacas cravadas, que é recomendada pela ‘‘Specification for Bridge Substurcture Design “(1980) representada pela Equação (2.22). Ru = A.E.(s + C3 + 2.C2 ) U .l.N + 2.e0 .L ef (2.22) onde; Ru = Resistência última da Estaca (tf) A = Área da secção transversal da estaca (m2) E = Módulo de Yong da estaca (tf/m2) l = Comprimento cravado da Estaca (m) U = Perímetro da Estaca L= Comprimento total da estaca(m) S= Nega para um golpe do pilão(m) N = Valor médio do SPT ao longo da estaca K = (C2+C3) = Repique Elástico (m) C2 = Compressão elástica (repique) da estaca (m) C3 = Compressão elástica (repique) do solo (m) O valor de K = C2 + C3 é determinado através de medidas do repique elástico durante a cravação da estaca, de acordo com a Figura (2.9) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 24 Figura 2.9 - Repique elástico e Nega para um golpe eo = 2 x 3 2 × WH , WH = Peso do martelo (tf) e WP = Peso da Estaca (tf) WP ef = eficiência do martelo (fator de correção) = 2,5 De acordo com Chellis (1951), a parcela C2 devido às deformações elásticas da estaca valeria: C2 = Ru × l × 0,7 A× E (2.23) C2 × A × E 0,7 × l (2.24) Portanto; Ru ≅ Desta maneira, a capacidade de carga última Ru é diretamente proporcional ao valor de C2, e C3 “quake” é dado em função do tipo de solo. Diante da experiência de controle em algumas centenas de estacas prémoldadas de concreto, concluiu-se que a fórmula de Chellis, em muitos casos, conduz a cargas mobilizadas superiores às reais para estacas com comprimentos cravados menores ou iguais a 20m, que vão diminuindo à medida que os comprimentos das estacas se aproximam da fronteira dos 20m; a partir de 20m há uma tendência de Chellis subestimar as cargas mobilizadas. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 25 Na aplicação de Uto observou-se o oposto: há uma tendência de Uto subestimar as cargas mobilizadas para estacas com comprimentos menores ou iguais a 20m e superestimar a partir deste valor. Assim, de acordo com Filho e Abreu (1989), visando obter um equilíbrio entre esses dois métodos a determinação da resistência última in situ de uma estaca cravada é tomada como a média aritmética das formulações feitas por Uto et al., e Chellis. 2.3 - Conceitos básicos de probabilidade, estatística e confiabilidade Apresentam-se a seguir, de forma sucinta, os conceitos básicos de probabilidade e estatística necessários para a compreensão dos aspectos conceituais de análise de confiabilidade. 2.3.1 - Análise probabilística A análise probabilística pode ser entendida como o estudo sobre a previsão comportamental de uma determinada experiência. A característica de interesse de uma experiência que assume valores diferentes e não previsíveis como resposta é denominada de variável aleatória. A variável aleatória pode ser considerada discreta, quando assume apenas certos valores específicos, ou contínua, quando pode assumir qualquer valor dentro de um intervalo. Em uma experiência, o conjunto de todas as respostas é denominado de espaço amostral. Em geral, o espaço amostral é dito discreto se possui um número contável de elementos. Se os elementos de um espaço amostral constituem um contínuo (por exemplo, todos os pontos de uma reta ou plano) o espaço amostral é dito contínuo. A caracterização de um espaço amostral em discreto ou contínuo é determinada através do tipo de variável aleatória em questão. Qualquer subconjunto de um espaço amostral é definido como evento, enquanto que o conjunto de todas as observações realizadas é denominado de população. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 26 2.3.1.1 - Função de probabilidade Sendo x uma variável aleatória contínua qualquer, o comportamento probabilístico do fenômeno aleatório pode ser descrito por uma função matemática conhecida por função densidade de probabilidade f(x). Objetivamente, a função densidade de probabilidade descreve a forma da curva de distribuição da probabilidade de ocorrência de cada valor da variável aleatória. Dentre as formas mais usuais, podem-se citar as distribuições normal ou gaussiana, lognormal, gama e beta, entre outras. Para a estimativa da probabilidade de ocorrência da variável aleatória (x) ser menor ou igual a um certo valor t, utiliza-se a função de distribuição F(t) definida por: t f ( x )dx −∞ P[ x ≤ t ] = F (t ) = ∫ (2.25) A estimativa da probabilidade de ocorrência da variável x em um certo intervalo [a, b], é dada por: b a P[a < x ≤ b] = F (b ) − F (a ) = ∫ f ( x )dx (2.26) 2.3.1.2. Caracterização da densidade pelo método dos momentos Para um estudo detalhado da densidade de probabilidade sem a necessidade de análise gráfica, utilizam-se medidas estatísticas que descrevem a locação e a dispersão da distribuição. A locação é dada pela média µ ou valor esperado E[x] da densidade de probabilidade da variável aleatória contínua x correspondente, definida por: µ = ∫− ∞ x ⋅ f ( x )dx ∞ (2.27) µ é definido como o primeiro momento de um sistema de massa f(x), disposto sobre uma linha reta e distante x da origem. Conclui-se portanto, que a Equação (2.27) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 27 determina o centro de gravidade da densidade de probabilidade. Para estimativa da variação da densidade de probabilidade, utiliza- se o segundo momento sobre a média, variância, definida por: ( x − µ )2 ⋅ f ( x )dx −∞ V [ x] = ∫ ∞ (2.28) Nota- se através da Equação (2.28) que a definição da variância de uma distribuição de probabilidade é análoga ao momento de inércia definido pela física. Uma medição mais concreta da variabilidade da densidade probabilística é dada pelo desvio padrão. O desvio padrão é definido como a raiz quadrada positiva da variância, sendo fisicamente análogo ao raio de giração. Matematicamente tem-se: σ [x ] = V [ x ] (2.29) O terceiro momento é usado para descrever a simetria ou assimetria da distribuição, enquanto o quarto momento descreve a curtose ou “falta de pico” da densidade de probabilidade. O conhecimento da forma exata da densidade de probabilidade só é possível através do conhecimento de todos os momentos probabilísticos. 2.3.1.3 Densidade normal Conhecida também por densidade gaussiana, possui por característica a simetria da distribuição, aproximando-se como uma seção em corte de um sino (FIGURA 2.10). A equação que descreve o comportamento da densidade normal é: ( ) f x, µ , σ 2 = 1 2π σ 1 x−µ 2 σ ⋅e para x variando entre -∞ e +∞ 2 (2.30) F(x) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 28 ^ µ x > Figura 2.10. Gráfico de uma distribuição normal Devido ao fato da Equação (2.30) não poder ser integrada de uma forma fechada entre um intervalo qualquer, as probabilidades relacionadas à distribuição normal são obtidas a partir de integração numérica, sendo os resultados dispostos em forma de tabelas especiais padronizadas para uma densidade normal com média µ = 0 e desvio padrão σ = 1 (ANEXO 1). Substituindo na Equação (2.30) os valores de µ e σ utilizados para padronização (Equações (2.27) e (2.29), respectivamente), a probabilidade de uma variável aleatória (x) ser menor ou igual a Z é dada por: 1 2 1 z − 2t F (Z ) = dt ∫ e 2π − ∞ (2.31) onde Z é uma variável aleatória padronizada definida por: Z= x−µ σ [x ] (2.32) 2.3.2. Análise estatística O tratamento estatístico está relacionado à análise de uma coleção de observações, denominada amostra ou conjunto amostral, que visa caracterizar um Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 29 fenômeno aleatório de interesse e não prever o comportamento do fenômeno em si (análise probabilística). O tratamento do conjunto amostral pode ser realizado a partir de análise gráfica ou aritmética. A análise gráfica da amostra compreende a classificação da variável aleatória segundo a sua freqüência de valores assumidos e a montagem de um gráfico freqüência x valor, denominado histograma (FIGURA 2.11). A análise aritmética da amostra é realizada através da determinação de parâmetros estatísticos que visam caracterizar a distribuição. 2.3.2.1. Análise gráfica da amostra Dado um histograma, o comportamento de uma variável aleatória x em uma amostra pode ser caracterizado pela sua função de freqüência t(x). A função de freqüência é entendida como a função matemática que descreve a freqüência de valores assumidos pela variável aleatória no âmbito amostral, ou seja, é a função que melhor caracteriza a forma do histograma da variável aleatória. A função de freqüência é análoga à função de densidade de probabilidade f(x) da população correspondente, embora estas funções sejam conceitualmente diferentes. A população da variável aleatória possui uma função densidade de probabilidade definida, mas caso sejam realizadas diversas amostragens desta mesma população, pode-se encontrar diversas funções de freqüência diferentes entre si. 3,5 Frequência 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Valor da Variável Aleatória Figura 2.11 - Exemplo de um histograma de uma variável aleatória 12 Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 30 Um complemento da análise gráfica é a definição da função de freqüência acumulada T(x), análoga à função de distribuição da população F(x). Em termos matemáticos, escreve-se: T (x ) = ∑t(y) (2.33) y≤x onde x e y são variáveis discretas. A função de freqüência acumulada pode ser interpretada como a soma das freqüências relativas de todos os valores menores ou iguais a x. 2.3.2.2. Análise aritmética da amostra Os parâmetros mais comumente utilizados são a média amostral (média aritmética) e a variância amostral. A média amostral de uma variável aleatória x é definida por: x = 1 n n ∑ xi (2.34) i =1 Deve-se atentar para a diferença entre a média amostral x e a média da distribuição de probabilidade (µ). Enquanto a primeira relaciona os valores de um determinado conjunto de observações, a segunda indica a média de toda a população do fenômeno aleatório. A variância amostral relaciona-se com os quadrados dos desvios da variável x em relação à média x , sendo definida por: 2 s = n ∑ t =1 ( xi − x )2 n −1 (2.35) O desvio padrão amostral é definido como a raiz quadrada da variância. Em termos matemáticos temos: Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica S= n ∑ t =1 (xi − x )2 n −1 31 (2.36) 2.3.3 Aspectos conceituais de análise de confiabilidade A quantificação da confiabilidade é obtida através da utilização de uma relação entre os estados que limitam o insucesso e o sucesso associados à previsão comportamental de uma determinada variável aleatória. Apresentam-se a seguir, os aspectos conceituais de confiabilidade, correspondente a variável aleatória fator de segurança. 2.3.3.1. Aspectos conceituais da confiabilidade inerente ao fator de segurança A relação entre os estados que limitam o sucesso e o insucesso é definida como a diferença entre as densidades de probabilidade da capacidade de resistência (R) e da demanda de solicitação (S). Matematicamente tem-se: G(X) = R – S (2.37) onde G(X) é uma função que descreve o desempenho da diferença R - S, e X é o vetor de parâmetros necessários para cálculo de G(X). A função de desempenho pode ser subdividida em uma região segura (G(X) > 0) e uma região instável (G(X) < 0). A interseção das duas regiões (G (X) = 0) delimita a superfície de estado limite para o sistema R – S. Devido à dificuldade de definição das distribuições da capacidade de resistência e da demanda de solicitação, desenvolveram-se formulações que utilizam um índice de confiabilidade, designado por β , no qual considera-se implicitamente o desempenho de G(X). Esta confiabilidade é classificada como relativa, cuja proposta baseia-se no fato de não ser necessário o conhecimento prévio do comportamento absoluto ou global da função de desempenho para estimativa da segurança. As primeiras medições de confiabilidade foram obtidas através de um índice definido por: Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica β= µG σG Em que 32 (2.38) µG e σG denotam o valor médio e o desvio padrão da função de desempenho. O uso da Equação [2.38] como quantificação da confiabilidade é baseado no seguinte desenvolvimento: Pf = P[G ( X ) ≤ 0] (2.39) G( X ) − µG − µG Pf = P ≤ σ σ G G (2.40) Pf = P[Z ≤ − β ] (2.41) Pf = −β ∫ f z (Z )dz (2.42) −∞ Pf = φ (− β ) (2.43) onde Pf é a probabilidade de ruptura, Z é uma variável padronizada, fz(Z) e φ (-β) as funções densidade de probabilidade e a área associada a z = -β. Neste formato, todas as variáveis aleatórias são transformadas para um espaço de parâmetros Z padronizados pelas médias de uma transformação ortogonal no qual: E [Z i ] = 0 V [Z i ] = 1 Hasofer e Lind (1974) definem o índice de confiabilidade β como sendo a distância mínima entre a origem e a superfície de estado limite que define a ruptura ou o insucesso do sistema no espaço transformado dos parâmetros Z. Partindo da Equação [2.38], o índice β é definido como a seguir: Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica _ 33 _ R− S β= σ [R − S ] _ (2.44) _ onde R e S denotam os valores médios das distribuições de capacidade de resistência e da demanda de solicitação. O desvio padrão σ [R − S ] é, matematicamente, igual a: σ [R − S ] = σ 2R + σ 2S (2.45) Rearranjando a Equação [2.44] para facilidade de compreensão, tem-se: R −1 S β= σ [R − S ] S β= R −1 S σ S β= (2.46) 2 R 2 + σ S (2.47) 2 S 2 R −1 S σ 2 ⋅ R2 R 2 2 S ⋅R + σ S 2 S 2 (2.48) Definindo- se fator de segurança central FS como sendo a razão entre as médias da capacidade resistiva e da capacidade solicitante ( FS = R / S ), o índice de confiabilidade definido pela Equação [2.48] pode ser escrito como: Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica β= 34 FS − 1 FS ⋅ Cov (R ) + Cov (S ) 2 2 2 (2.49) No qual Cov(R) e Cov(S) são os coeficientes de variação de R e S respectivamente. Morlá Catalán e Cornell (1976), admitindo distribuição gaussiana para FS, utilizam um índice de confiabilidade obtido a partir das seguintes considerações algébricas: β= β= β= R −S σR R S −1 σR /S FS − 1 σ FS (2.50) (2.51) (2.52) Observa-se que, nesta formulação, o desvio padrão do fator de segurança é igual à razão σR / S . Chowdhury (1984, 1985, 1994), Chowdhury et al.,(1997), Christian et al., (1992), Sandroni e Sayão (1992), Dell’Avanzi (1995), Castello (2000) utilizam, em suas análises, índices de confiabilidade com a mesma definição dada pela Equação (2.52). Um estudo paramétrico da Equação (2.52), mostra a possibilidade de existência de situações com valores iguais do índice de confiabilidade β e valores diferentes de fator de segurança FS (ou vice-versa). Isto está ilustrado na figura (2.12), que apresenta a relação entre β e FS, em função do desvio padrão do fator de segurança. De uma maneira geral, pode-se dizer que o índice β definido pela Equação (2.52) quantifica a segurança através do número de desvios padrão do fator de segurança, σFS, que separa a média do valor que define a ruptura (FS = 1). Conclui-se que uma vantagem clara da utilização da Equação (2.52), na avaliação da confiabilidade relativa, é a não necessidade do conhecimento da Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 35 função densidade de probabilidade da variável aleatória FS para a estimativa de β. Em contrapartida, faz-se necessário que a média e o desvio padrão utilizados descrevam de maneira adequada o comportamento do fator de segurança. Índice de Confiabilidade 10 8 6 Desvio Padrão=0,1 4 Desvio Padrão=0,15 Desvio Padrão=0,20 2 Desvio Padrão=0,30 0 1 1,5 2 2,5 3 Fator de Segurança Figura 2.12. Relação β x FS em função do desvio padrão ( Dell’Avanzi, 1995) Observa-se, ainda, que o valor de β, calculado por qualquer uma das formulações aqui apresentadas, é um valor relativo, correspondente somente às incertezas identificadas na análise. Este valor de β não é, portanto, um número absoluto uma vez que não representa diversas outras incertezas, excluídas da análise por simplificação dos cálculos ou por simples desconhecimento. Portanto, torna-se indispensável uma avaliação subjetiva do engenheiro geotécnico na definição final da qualidade da segurança da análise em si, ou seja, do valor mínimo admissível para o índice β. 2.3.4. Método do Segundo Momento de Primeira Ordem A observação das formulações do índice de confiabilidade demonstra a necessidade de obtenção do desvio padrão do fator de segurança. Este valor é obtido através de métodos probabilísticos. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 36 Em geral, os métodos probabilísticos utilizam técnicas para avaliação aproximada somente dos dois primeiros momentos. Os demais momentos, relativos a simetria e curtose da distribuição, são usualmente desprezados. Por este fato, essas metodologias são classificadas como “aproximadas pelo segundo momento”. Entre as técnicas de aproximação pelo segundo momento, destaca-se a de aproximação da função de desempenho por série de Taylor, designada de segundo momento de primeira ordem. Sendo x1, x2, ..., xn os parâmetros ou variáveis envolvidas no cálculo de um fator de segurança considerados independentes entre si, os valores médios do vetor X e da função de desempenho G( X ) são expressos por: X = ( x1 , x2 ,...xn ) (2.53) G ( X ) = G ( x2 , x2 ,...xn ) (2.54) onde o termo xi indica o valor médio de xi. Desenvolvendo a função de desempenho sob a forma da série de Taylor em torno do valor médio X , obtém-se: _ ⋅ _ ⋅⋅ _ _ G (X ) G (X ) 1 G( X ) = G( X ) + (X − X ) + ( X − X ) 2 +... 1! 2! ⋅ _ _ (2.55) ⋅⋅ _ onde G ( X ) e G ( X ) são 1a e 2a derivadas da função desempenho. Truncando a série na derivada de primeira ordem e manipulando algebricamente a equação [2.55], obtém-se: _ ⋅ _ _ G ( X ) − G ( X ) = G ( X )( X − X ) (2.56) Observa-se, na Equação (2.56), que o membro à esquerda da equação indica o desvio do valor da função de desempenho aferida em X e em relação ao valor médio. Elevando-se ambos os membros da Equação (2.56) ao quadrado, obtém- se Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 37 uma aproximação da variância da função de desempenho. Matematicamente temse: ( ) 2 V [G ( x )] = G& ( X ) ⋅V ( X ) (2.57) Na situação onde, a função de desempenho representa a função do fator de segurança FS, a variância da variável fator de segurança recai em um somatório do produto entre o quadrado das derivadas parciais da função FS em relação a cada parâmetro e suas respectivas variâncias, ou seja: n 2 ∂FS V [FS ] = ∑ .V [xt ] t =1 ∂xt (2.58) Portanto, o desvio padrão utilizado para estimar índices de confiabilidade, é definido através do cálculo da raiz quadrada da variância obtida da solução da Equação (2.58) para a variável aleatória FS. 2.3.5 - Estimativa de probabilidade de fracasso O conhecimento dos dois primeiros momentos probabilísticos da função de desempenho do fator de segurança não é suficiente para a definição da função densidade de probabilidade. É também necessário o conhecimento da forma da distribuição da função de desempenho. Na prática, é usual fazer a hipótese de distribuição normal ou lognormal. Considerando que as variáveis aleatórias envolvidas na determinação de FS possuem distribuição normal e que a função de desempenho é linear, a probabilidade de fracasso relaciona-se diretamente com o índice de confiabilidade através da expressão: Pf = 1 − φ (β ) onde φ(β) é a função densidade acumulada aferida em β. (2.59) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 38 A probabilidade de fracasso pode ser visualizada como a área sob a curva da distribuição de probabilidade de FS, delimitada para fatores de segurança correspondentes à ruptura (FS ≤ 1). A Figura 2.13 apresenta uma comparação entre as probabilidades de fracasso de duas situações contrastantes, onde a variável aleatória é o fator de segurança. A probabilidade de fracasso (ruptura) da situação “a” é menor que da situação “b”, apesar do fator de segurança médio da situação “b” ser superior ao da situação “a”. A relação entre a probabilidade de fracasso Pf e o índice de confiabilidade β é única. Pelo fato da função densidade acumulada de probabilidade ser uma função crescente, valores altos de β implicam em baixas probabilidades de ruptura (FIGURA 2.14). Distribuição de Probabilidade 5,0 4,0 3,0 A probabilidade de ruptura é equivalente à área com FS ≤ 1,0. situação "a" 2,0 situação "b" 1,0 0 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Fator de Segurança Figura 2.13. Comparação entre duas situações com médias e distribuições de FS diferentes (Christian, 1992) Pode-se observar na figura 2.14 que a situação de ruptura ( FS = 1,0 ou β = 0) corresponde a uma probabilidade de ruptura Pf = 0,5 ( ou 1: 2). Neste caso, a curva de distribuição de FS (FIGURA 2.13) estaria centrada no valor FS= 1,0 e, portanto a área sob a curva para FS ≤ 1,0 corresponderia à metade da área total. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 39 Probabilidade de ruptura ( Pf ) 1,00000 0,10000 0,01000 0,00100 0,00010 0,00001 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 índice de confiabilidade ( β ) 3,5 4 Figura 2.14. Relação entre β e Pf para distribuição normal de FS (Christian, 1992) 2.4.- Risco admissível Baseado nas considerações anteriormente apresentadas, conclui-se que a quantificação do risco através da confiabilidade relativa não deve ser entendida como um valor final em si. De uma forma geral, não existem regras na determinação do valor mínimo admissível para o índice de confiabilidade. Na realidade, o valor do índice de confiabilidade deve representar de forma direta as incertezas presentes nos dados de análise. Portanto, quanto maiores as incertezas presentes, maior deverá ser o valor mínimo recomendado para confiabilidade do projeto em questão. Além disto, o valor de β admissível deve também refletir a importância do projeto. Por exemplo, para um mesmo conjunto de dados, deve-se recomendar que o talude de jusante de uma barragem de terra, sob condições de fluxo permanente, apresente um índice β com valor superior ao recomendado para um talude de uma estrada de acesso ao canteiro de obras desta mesma barragem. Whitmann (1984), apresenta através da Figura 2.15, uma avaliação sobre o risco praticado em alguns projetos de engenharia civil. Os resultados da figura fornecem indicações sobre o risco usualmente aceito e, conseqüentemente, um limite superior do risco admissível para cada caso. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 40 Probabilidade Anual da Ruptura 100 1 "Marginalmente aceito" 10-1 -2 10 10 Taludes de minas 10-3 100 Plataformas Móveis fundações 1/Pf 1000 Plat. Fixas "Aceito" -4 10 10.000 Barragens 10-5 1.00.000 Barragens USA (estimado) 10-6 Perda de vidas custo em US$ 1 1x106 10 7 1x10 100 1x108 1000 1x109 1.000.000 10000 9 10x10 Consequências da Ruptura Figura 2.15. Valores usuais de probabilidade e conseqüências de ruptura (Whitman, 1984) 2.5 - Aplicações de estatística, probabilidade e confiabilidade em geotecnia Inicialmente, conceitos de estatística, probabilidade e confiabilidade foram gradativamente inseridos no meio geotécnico através de análises de confiabilidade de taludes, que posteriormente foram adaptadas e aplicadas em estimativas de confiabilidade de obras de fundações. Sandroni e Sayão (1992) apresentaram procedimentos simples para a avaliação estatística do fator de segurança de taludes. Estes procedimentos foram aplicados em um exemplo de talude de mineração a céu aberto com 200 m de altura e 34 graus de inclinação, cuja configuração está mostrada na Figura 2.16. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 41 80 ± 20m 200m 34º Solo saprolítico de quartzito ferrífero Superfície crítica E[FS] = 1,341 E[FS] = 0,161 β = 2,12 Pf ≅ 1:60 γnat = 28,3 ± 1,4 KN\m3 γsat = 29,0 ± 1,4 kN\m3 C = 25 ± 24 Kpa Tan φ = 0,781 ± 0,085 Figura 2.16. Seção típica do talude (Sandroni e Sayão, 1992) Os primeiros procedimentos foram: fixar os parâmetros geotécnicos médios, buscar a superfície crítica de ruptura e obter o fator de segurança médio. Até este ponto conduziu-se uma análise de estabilidade convencional (determinística). A partir da segunda etapa, os procedimentos visaram a avaliação estatística do fator de segurança. Neste âmbito, a variância de FS foi estimada através do método do Segundo Momento de Primeira Ordem, onde foram considerados como variáveis aleatórias os parâmetros efetivos de resistência, os pesos específicos acima e abaixo do nível d’água e a piezometria. Seqüencialmente, o índice de confiabilidade inerente ao fator de segurança foi estimado através da formulação proposta por Morlá Catalán e Cornell (1976). Finalmente, complementando a estimativa do índice de confiabilidade, foi obtida a correspondente probabilidade de ruptura. Tendo em vista o trabalho realizado, Sandroni e Sayão (1992) chegaram às seguintes conclusões principais: O índice de confiabilidade é uma função da variabilidade dos parâmetros geotécnicos, da geometria e das solicitações externas (cargas externas, vibrações e etc) consideradas em seu cálculo. Evidentemente, o valor de β obtido refere-se apenas aos parâmetros que foram considerados como variáveis. Por exemplo, podese considerar os parâmetros geotécnicos como variáveis e os demais elementos (piezometria, geometria, solicitações externas) como fixos. Assim sendo, o índice de confiabilidade refere-se apenas às incertezas quanto aos valores de γ, c’ e φ’. A Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 42 probabilidade de ruptura assim obtida é menor (e o valor de β é maior) do que a obtida caso todos os elementos fossem considerados como variáveis. A principal decisão de projeto, no contexto do procedimento exposto neste trabalho, é estabelecer o valor aceitável do índice de confiabilidade (ou da probabilidade de ruptura a ele associada). É preciso acumular experiência no uso do procedimento acima descrito. Seria interessante a reanálise de projetos existentes para se obter valor de β a eles associados. O acúmulo de experiência com base em análises de confiabilidade se revelará mais sólido do que com base apenas em valores de fatores de segurança. No caso do exemplo, que se restringe ao ambiente de uma mina de grande porte na qual muitos taludes foram executados e umas poucas rupturas foram observadas, pode-se estabelecer um critério específico. As retro-análises das rupturas indicam valores de β menores ou pouco maiores que 1,0 (probabilidade de ruptura na faixa de 1: 4 a 1: 20). Análises de diversos taludes estáveis produziram valores de β entre 1,8 e 3,0 (ou mais). Isto implica em probabilidades de ruptura entre 1: 30 e 1: 100 (ou menos). No caso decidiu-se criteriar um valor mínimo de β = 2,0 (probabilidade de ruptura menor que 1: 50). Com a mesma metodologia proposta por Sandroni e Sayão, Dell’Avanzi (1995) estudou o comportamento da confiabilidade em relação ao tipo de método de estabilidade utilizado. Como exemplo de aplicação, foi avaliada a confiabilidade do talude de jusante da barragem de Santa Branca, e desta forma, o resultado obtido foi comparado com o valor fornecido por outras metodologias. Castello (2000), estudou o comportamento de fundações superficiais, visando obter a confiabilidade e a probabilidade de ruptura. A partir de considerações a respeito de métodos estatísticos, determinou a média, variância e desvio padrão das variáveis consideradas aleatórias. Desenvolveu o método do segundo momento de primeira ordem para a quantificação do desempenho de fundações, propôs metodologias para racionalizar a adoção de fatores de segurança quanto à ruptura de fundações superficiais e quantificar o risco associado à probabilidade de recalque estimado ser superior ao recalque admissível. Guedes (1997), descreveu uma metodologia para a obtenção dos dados necessários à análise probabilística, incluindo a quantidade e a localização de amostras, o cálculo das médias e variâncias dos parâmetros do solo e a quantificação das incertezas relativas a estes valores. Apresentou procedimentos de Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 43 execução dos três métodos probabilísticos mais utilizados em geotecnia, ou seja, o Método do Segundo Momento de Primeira Ordem, o Método das Estimativas Pontuais e a Simulação de Monte Carlo. Foram executadas análises probabilísticas considerando, separadamente, variações de altura e inclinação de taludes de mineração sob condições drenadas. Avaliou- se também a aplicação da metodologia probabilística em situações não drenadas, através da análise da estabilidade de um quebra- mar sobre argila mole. Isenhower e Mosher (1996), utilizaram a análise de confiabilidade para avaliar a confiabilidade de estruturas marítimas suportadas por fundações em estacas em sua condição de reservatório cheio, e para estimar o tempo de vida útil restante, e também em fornecer um método consistente de recuperação, otimizando os gastos necessários. O índice de confiabilidade foi estimado, fornecendo uma medida relativa da confiabilidade de estrutura. O procedimento utilizado na análise de confiabilidade consistiu no desenvolvimento do método do segundo momento de primeira ordem, visando obter a variância do fator de segurança. Os parâmetros considerados aleatórios foram determinados observando o comportamento da interação solo/estrutura. Desta maneira, o comportamento não linear de tensão-deformação foi considerado juntamente com os parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito). A análise consistiu em determinar o coeficiente de segurança pelo método tradicional, considerando todos os parâmetros como determinísticos e, em seguida, em determinar o coeficiente de segurança em função da variabilidade existente nos parâmetros considerados aleatórios, fundamentando-se em princípios da estatística, onde a média, variância e o desvio padrão foram determinados para cada parâmetro. Em seguida o índice de confiabilidade foi estimado, fornecendo a probabilidade de ruptura relativa a um determinado coeficiente de segurança. Fontenelle e Vieira desenvolveram um estudo relacionado à análise de risco aplicada a estabilidade do talude de jusante da barragem de terra de Bengue no Ceará, para a condição de reservatório cheio. Desenvolveram o método de simulação de Monte Carlo considerando distribuições normais, triangulares e metodologia de Larson; método PEM (Point Estimate Method) e Teoria dos conjuntos difusos, considerando-se a aleatoriedade dos parâmetros de resistência, coesão e ângulo de atrito do solo compactado. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 44 As análises foram efetuadas com o programa de pesquisa automática de análise de estabilidade de taludes, de cunho determinístico, denominado XSTABL, com a utilização do método de Bishop Modificado. Inicialmente, foi calculado o fator de segurança pelo método tradicional, ou seja, considerando os parâmetros de cálculo como determinísticos. Em seguida, de posse do desvio padrão e variância dos parâmetros considerados aleatórios fez-se o cálculo do fator de segurança pelo método probabilístico. O estudo concluiu que em função da variabilidade encontrada para o fator de segurança a análise de risco é uma metodologia aconselhável e adequada. Concluiu também que para estudos mais aprofundados em análise de risco, é aconselhável aumentar a amostragem dos materiais empregados, com vistas a melhor captar sua variabilidade. Noiray e Ladd (1983) utilizaram o método probabilístico segundo momento de primeira ordem , para a análise de estabilidade da fundação de um estoque de cal. O resultado desta análise forneceu ainda a probabilidade de ruptura para uma ruptura generalizada envolvendo apenas erros sistemáticos, e para uma ruptura localizada envolvendo erros sistemáticos e erros de dispersão de dados. CAPÍTULO 3 MONITORAÇÃO DAS ESTACAS E O ENSAIO SPT 3.1 - Introdução Apresentam-se, neste capítulo, aspectos geotécnicos obtidos através do ensaio SPT e uma descrição sucinta da extração do parâmetro repique elástico, com seu respectivo valor obtido durante o final da cravação das estacas de concreto prémoldado no local da obra. 3.2 - Localização A obra analisada no presente estudo situa-se na região central de Campos dos Goytacazes-RJ (FIGURA 3.1). A investigação geotécnica para o reconhecimento das condições do subsolo foi realizada através do ensaio SPT. O programa de sondagens, executado no local da obra, constou de três furos, e a locação de tais furos em planta encontra-se na Figura 3.2. 3.3 - Sondagens executadas Através do estudo do boletim de sondagem foi verificada a presença de uma camada de argila siltosa aos 19 metros de profundidade, como pode ser verificado através das sondagens apresentadas na Figura 3.3 e no perfil composto na Figura 3.4. De posse do valor das solicitações que seriam impostas à fundação, realizou-se o cálculo da capacidade de carga última pelo método tradicional. Em princípio concluiu-se pelo assentamento das estacas na camada de argila siltosa a 19 metros de profundidade. Deve ser ressaltado, que a profundidade de assentamento das estacas a 19 metros foi estipulado para todas as estacas. Porém, devido a acidentes ocorridos durante a cravação como quebra da estaca, esmagamento da cabeça, ou o encontro no sub-solo de alguma barreira à cravação, Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 46 verificou-se durante a monitoração que algumas estacas não atingiram a cravação total pretendida, mas ficaram bem próximo do planejado, entre 18 e 19 metros. Figura 3.1 – Localização geográfica de Campos dos Goytacazes. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 47 21.40 6.00 SP03 45.80 11.00 SP02 42.35 37.00 25.00 SP01 7.00 18.50 14.00 2.60 Passeio RN 8.20 2.60 Passeio Figura 3.2 – Disposição das sondagens na área da obra. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 48 BOLETIM DE SONDAGEM 1[ ] 1,00 Nº de Golpes/15cm Amostrador Padrão - Diâmetro Interno 34,9mm - Diâmetro Externo 50,8mm Gráfico finais Penetração iniciais 30cm Profundidade do Nível D'água: 4,50 metros em 18/07/01 30cm Am os tra Cota: -0,26 Profu ndida de da cama 0[ ] sp01 0 10 20 30 Classificação do Material 40 50 0 Aterro: argila com areia fina, média e grossa, com pedregulhos, cor variegada. 7 8 14 15 22 1 Argila siltosa, com areia fina, média e grossa, cor amarela, dura. 5 7 8 12 15 2 1 1 2 2 3 3 5 6 7 11 13 4 5[ ] 3 3 5 6 8 5 6[ ] 5 4 4 9 8 6 7[ ] 5 6 8 11 14 7 Idem, rija. 5 7 9 12 16 8 Argila siltosa, com areia fina, média e grossa, cor variegada, rija. 4 5 7 9 12 9 2[ ] 3[ ] 4[ ] 2,90 3,85 Idem, rija. Argila siltosa, com areia fina, cor cinza e amarela, mole. Argila siltosa, com areia fina e média, com recifes, cor variegada, rija. Idem, média 7,50 8[ ] 9[ ] 10[ ] 9,30 10,40 Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor branca, medianamente compacta. 5 6 7 11 13 10 Argila siltosa, com areia fian, cor cinza clara. 10,75 4 5 5 9 10 11 3 4 5 7 9 12 13[ ] 6 6 7 12 13 13 14[ ] 4 4 4 8 8 14 15[ ] 4 4 4 8 8 15 4 6 6 10 12 16 11[ ] 12[ ] 11,90 15,70 16[ ] Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor amarela, com veios amarelos, medianamente compacta. Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor amarela, com veios cinza, medianamente compacta. Idem, pouco compacta. Areia fina, média e gorssa, argilo siltosa, cor cinza clara, com veios amarelos, medianamente compacta. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 49 BOLETIM DE SONDAGEM Amostrador Padrão - Diâmetro Interno 34,9mm - Diâmetro Externo 50,8mm 30cm finais Profund Penetração idade da camad Nº de Golpes/15cm a 30cm Profundidade do Nível D'água: 4,45 metros em 24/07/2001 iniciais Am os tra s Cota: -0,45 Gráfico 0 SP01CONT 10 20 30 Classificação do Material 40 50 3 5 5 9 7 17 Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor cinza clara, com veios amarelos, pouco 18[ ] 5 7 8 12 17 18 Argila siltosa, com areia fina, média e grossa, cor cinza, com veios amarelos, rija. 19[ ] 5 8 8 16 22 19 Idem, dura. 20[ ] 4 7 9 10 13 20 Idem, rija. 21[ ] 20,85 9 13 17 20 29 21 Argila siltosa, com areia fina, cor cinza, com veios amarelo, dura. 22[ ] 8 14 18 17 22 22 23[ ] 22,90 7 12 15 14 18 23 24[ ] 7 12 16 19 25 24 25 17[ ] 17,88 24,50 25[ ] 7 10 13 9 14 6 9 7 8 25,55 26[ ] 26,45 27[ ] 28[ ] 29[ ] 30[ ] 31[ ] 32[ ] 12 26 Argila siltosa, com areia fina, cor variegada, rija. Argila siltosa, com areia fina, média e grossa, cor cinza clara, rija. Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor cinza clara, com veios amarelos, pouco Sondagem paralisada à 26,45 metros Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 50 BOLETIM DE SONDAGEM 30cm 30cm finais Profundidade do Nível D'água: 4,45 m etros em 24/07/2001 Profund Penetração idade da camad Nº de G olpes/15cm a iniciais Am os tra s Cota: -0,45 Amostrador Padrão - Diâm etro Interno 34,9m m - Diâm etro Externo 50,8mm Gráfico 0 0 0[ ] 0,70 SP02 10 20 30 Classificação do M aterial 40 50 Aterro: argila siltosa, com areia fina, m édia e grossa, com pedregulhos, cor v ariegada. Argila siltosa, com areia fina e m édia, cor am arela, dura. 1[ ] 5 8 12 13 20 1 2[ ] 4 5 3 9 8 2 Idem , m édia. 1 2 2 3 4 3 Argila siltosa, com areia fina, cor v ariegada, m ole. 5 7 10 12 17 4 Argila siltosa, com areia fina e m édia, com recifes, cor v ariegada, rija. 5[ ] 7 10 10 17 20 5 Idem , dura. 6[ ] 5 7 8 12 15 6 Idem , rija. 7[ ] 7 8 11 15 19 7 8[ ] 6 8 10 14 18 8 5 6 7 11 13 9 4 5 5 9 10 10 Areia fina, m édia e grossa, argilo siltosa, cor cinza clara, com v eios am arelos, m edianam ente com pacta. 11[ ] 4 4 4 8 8 11 Idem , pouco com pacta. 12[ ] 4 3 5 7 8 12 13[ ] 3 3 4 6 7 13 14[ ] 4 5 7 9 12 14 15[ ] 4 4 5 8 9 15 16[ ] 6 6 5 12 11 16 2,75 3[ ] 4[ ] 3,90 8,80 9[ ] 10[ ] 9,85 Areia fina, m édia e gorssa, argilo siltosa, cor am arela e cinza, m eianam ente com pacta. Idem , m edianam ente com pacta. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 51 BOLETIM DE SONDAGEM Profundidade do Nível D'água: 4,45 metros em 24/07/2001 30cm iniciais Profun Penetração didade da camad Nº de Golpes/15cm a 17[ ] 8 Amostrador Padrão - Diâmetro Interno 34,9mm - Diâmetro Externo 50,8mm 30cm finais Am os t ra s Cota: -0,45 10 Gráfico 0 SP02CONT 10 20 30 Classificação do Material 40 50 17 Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor cinza clara, com veios amarelos, 18 Argila siltosa, com areia fina, média e grossa, cor cinza, com veios amarelos, rija. 3 5 5 18[ ] 5 7 8 12 15 19[ ] 5 8 8 13 16 20[ ] 4 7 9 11 16 21[ ] 9 13 17 22 30 21 22[ ] 22,00 8 14 18 22 32 22 23[ ] 7 12 15 19 27 23 24[ ] 7 12 16 19 28 24 25[ ] 7 10 13 17 23 25 26[ ] 6 9 12 15 21 17,75 19 20 20,70 Argila siltosa, com areia fina, cor cinza clara, dura. Argila siltosa, com areia fina, cor cinza clara, com veios amarelos, dura. 26 26,45 27[ ] Sondagem paralisada à 26,45 metros. 28[ ] 29[ ] 30[ ] 31[ ] 32[ ] Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 52 BOLETIM DE SONDAGEM 30cm Profun Penetração didade da camad Nº de Golpes/15cm a iniciais Profundidade do Nível D'água: 4,50 metros em 20/07/01 30cm finais Am os tra s Cota: -0,25 Amostrador Padrão - Diâmetro Interno 34,9mm - Diâmetro Externo 50,8mm Gráfico 0 0[ ] 0,90 SP03 10 20 30 Classificação do Material 40 50 0 Aterro: argiola com areia fina, média e grossa, com pedregulhos, cor variegada. 3 4 4 7 8 1 Argila siltosa, com areia fina e média, cor amarela, média. 2 2 3 4 5 2 Idem, mole. 3[ ] 1 1 2 2 3 3 Argila siltosA, com areia fina, cor amarela e vermelha, mole. 4[ ] 1 1 1 2 2 4 Idem, muito mole. 2 2 2 4 4 5 Argila siltosa, com areia fina e m'dia, com recifes, cor variegada, mole. 3 4 5 7 9 6 Idem, média. 4 5 7 9 12 7 Argila siltosa, com areia fina, média e grossa, cor variegada, rija. 5 7 9 12 16 8 Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor variegada, medianamente compacta. 6 7 9 13 16 9 6 7 8 13 15 10 1[ ] 2[ ] 2,70 5[ ] 4,85 6[ ] 7[ ] 8[ ] 6,90 8,85 9[ ] 10[ ] 10,50 11[ ] 5 5 6 10 11 11 12[ ] 4 5 5 9 10 12 13[ ] 3 4 5 7 9 13 14[ ] 4 5 5 9 10 14 15[ ] 3 4 4 7 8 15 16[ ] 4 4 4 8 8 16 Areia fina, média e gorssa, argilo siltosa, cor cinza e amarela, medianamente compacta. Idem, pouco compacta. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 53 BOLETIM DE SONDAGEM 17[ ] 30cm Penetração Profundi dade da camada Nº de Golpes/15cm 17,15 3 4 6 iniciais Profundidade do Nível D'água: 4,50 metros em 20/07/2001 7 Amostrador Padrão - Diâmetro Interno 34,9mm - Diâmetro Externo 50,8mm 30cm finais Am os tra s Cota: -0,25 10 Gráfico 0 SP03CONT 10 20 30 40 50 17 Classificação do Material Areia fina, média e grossa, argilo siltosa, cor cinza e amarela. Argila siltosa, com ariea fina, m;édia e gorssa, cor cinza com veios amarelos, média. Idem, rija. 18[ ] 5 7 8 12 15 19[ ] 5 6 7 11 13 20[ ] 3 4 5 7 9 20 Idem, média. 5 10 20 15 30 21 Argila siltosa, com aria fina, cor cinza clara, dura. 22[ ] 8 11 15 19 26 22 Argila siltosa, com areia fina, média e gorssa, cor cinza clara, dura. 23[ ] 8 16 21 24 37 23 24[ ] 8 12 17 20 29 24 25[ ] 8 12 15 20 27 25 5 9 12 14 21 18 19 20,75 21[ ] 21,80 25,55 26[ ] 26 26,45 27[ ] 28[ ] 29[ ] 30[ ] 31[ ] 32[ ] Figura 3.3 – Perfil de sondagem. Argila siltosa, cor areia fina, cor cinza clara, dura. Sondagem paralizada à 26,45 metros. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT Prof.(m) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 SP - 01 22 15 3 13 8 8 14 16 12 13 10 9 13 8 8 10 7 17 22 13 29 22 18 25 14 8 54 SP - 02 Aterro 20 SP - 03 8 média a 5 muito mole mole mole 4 3 17 2 rija e dura Rija e média mole 20 4 média 15 9 19 12 rija 18 16 13 16 10 15 Argila siltosa 8 11 8 10 Areia fina à grossa,argilo siltosa. 7 9 12 10 Medianamente compacta a pouco compacta 9 8 11 8 10 10 15 15 16 13 Argila siltosa com areia média 16 9 30 30 rija e dura rija e dura rija e 32 26 dura 27 37 dura e rija dura e média 8 Argila siltosa com areia 28 Areia argilo siltosa23 pouco compacta 21 29 27 21 Sondagem paralisada aos 26,45m de profundidade. Figura 3.4 – Perfil composto da sondagem 3.4 - Determinação do repique elástico e nega Durante o final do processo de cravação das estacas, foi medido o repique elástico e a nega, que em conjunto com índice de resistência à penetração Nspt obtido no ensaio SPT anteriormente explicitado, formaram o conjunto dos parâmetros não determinísticos. A medida da grandeza dos parâmetros foi realizada no final da cravação de cada estaca, e o total de estacas monitoradas no processo de extração dos parâmetros representou 15% do total cravado na obra. Não obstante, do total de estacas monitoradas, quinze estacas (15%), cinco medições foram desconsideradas devido a acidentes e erros grosseiros, como respingo Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 55 excessivo de óleo do sistema de cravação na folha de medição e outras influências de fatores externos. Portanto, do total de estacas monitoradas, e descartando-se as que continham erros, dez estacas, ou seja, (10%) forneceram os parâmetros utilizados nesta análise. As estacas cravadas eram do tipo quadrada, de medidas 29,5 x 29,5 cm de concreto pré-moldado, foram cravadas com um pilão de 2500 Kg e altura de queda de 60 cm. A medição do valor do repique elástico não traz nenhuma novidade em relação à tradicional nega. Além disso, é oportuno lembrar que ambos valores, nega e repique elástico, são medidos simultaneamente, ou seja, durante o final da cravação. A medição do repique elástico e nega pode ser resumidamente elucidado observando-se a Figura 3.5. Com muita simplicidade, toma-se um lápis, um papel fixado a estaca por meio de fita adesiva. Numa régua horizontal previamente fixada próxima à estaca, descanse o lápis movendo-o lenta e continuamente durante a aplicação dos golpes. Nota-se durante a medição, que um aumento da resistência do solo à penetração da estaca provoca uma redução da nega e um aumento do valor do repique elástico. Desta maneira pode-se constatar uma relação estreita entre estes dois valores, o que vem a confirmar a relevância do repique elástico na determinação da capacidade de carga in situ. Figura 3.5 - Medição do repique elástico e nega. Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 56 De onde se obterá, após 10 (dez) golpes do martelo no sistema de cravação, o sinal representativo dos dados, esquematicamente demonstrado abaixo. Nega total Figura 3.6 - Representação da medida do repique elástico e nega. E, o repique elástico e a nega para um golpe do martelo no sistema de cravação, podem ser representados pela figura 3.7. Repique Nega Figura 3.7 - Repique elástico e nega obtidos em um golpe do martelo. O valor do repique elástico e nega obtidos durante o processo de cravação de cada estaca eram anotados imediatamente após sua medição, para futuramente serem tratados e avaliados observando-se sua pertinência como dado representativo da cravação. Após uma análise do sinal obtido para cada estaca monitorada, os dados considerados satisfatórios foram dispostos numa planilha, a fim de facilitar seu tratamento. Não obstante, o valor médio do índice de resistência à penetração Nspt para cada camada de solo fornecida pela sondagem feita na obra, também foram dispostos numa planilha. É evidente que um tratamento estatístico deve primeiramente partir da premissa que uma análise bem sucedida necessita de uma organização dos dados, Capítulo – 3 Monitoração das estacas e o ensaio SPT 57 visando não só uma resposta condizente com os dados de entrada, mas também representativa destes. Portanto, seguindo estes princípios os dados de repique elástico e Nspt médio foram dispostos de acordo com as Tabelas 3.1 e 3.2, respectivamente. Estaca Monitorada Estaca 1 Estaca 2 Estaca 3 Estaca 4 Estaca 5 Estaca 6 Estaca 7 Estaca 8 Estaca 9 Estaca 10 Repique Elástico K (m) Nega S (m) 0,00590 0,00540 0,00610 0,00690 0,00620 0,00670 0,00680 0,00500 0,00780 0,00360 0,00790 0,00610 0,00810 0,00630 0,00840 0,00560 0,00910 0,00640 0,01030 0,00540 Tabela 3.1 – Valores do Repique Elástico e Nega obtidos na cravação. De maneira estratégica, o índice de resistência à penetração médio por metro de profundidade foi dividido em intervalos, sendo o valor médio do Nspt obtido através da média dos intervalos. Intervalos Nspt médio intervalo 1 8 Intervalo 2 5 Intervalo 3 13 intervalo 4 9 Intervalo 5 18 Tabela 3.2 – Valor do Nspt médio por intervalos. CAPITULO 4 ANÁLISE DE CONFIABILIDADE EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS 4.1 - Introdução Neste capítulo, apresentam-se procedimentos simples para quantificar a confiabilidade inerente à capacidade de carga in situ de fundações profundas através do método baseado no repique elástico. Com este propósito, foram analisadas as fundações monitoradas na obra descrita no capítulo 3. O principal objetivo destas análises foi apresentar uma forma racional de avaliar a influência das incertezas inerentes aos parâmetros sobre o cálculo da carga última, e neste âmbito, inferir sobre a utilização de fatores de segurança adequados à considerada confiabilidade admissível. 4.2 - Procedimentos da análise de confiabilidade 4.2.1 - Análise estatística dos parâmetros geotécnicos A análise estatística dos parâmetros considerados variáveis aleatórias foi implementada a partir dos resultados do ensaio de SPT, repique elástico e nega, todos coletados no local da obra por processos apresentados no capitulo 3. A análise estatística consistiu ainda, em variar o valor do índice de resistência à penetração Nspt obtido no ensaio SPT, tomando como base sondagens realizadas na vizinhança da obra, portanto no centro de Campos dos Goytacazes, com objetivo de avaliar a influência da variabilidade de cada uma destas sondagens na determinação da capacidade de carga, e conseqüentemente na determinação do fator de segurança mais adequado. E, por fim, fez-se uma última análise, através de uma variação de uma parcela do repique elástico, o deslocamento elástico ou quake do solo (C3), mostrando sua influência na determinação do índice de confiabilidade. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 59 O valor médio do parâmetro deslocamento elástico do solo C3 foi o sugerido pela equipe da empresa de engenharia Sonda Engenharia. Utilizando um aparelho para medir repique, Figura 4.1, a equipe realizou diversas medições do parâmetro, Filho e Abreu (1989). Assim dispuseram os valores encontrados numa tabela relacionando o tipo de solo com o respectivo deslocamento elástico encontrado, (TABELA 4.1). Figura 4.1 – Aparelho utilizado para medir repique Tipo de solo Areias C3 = Quake (mm) 0 - 2,5 Areias siltosas e Siltes Arenosos 2,5 - 5,0 Argilas Siltosas e siltes Argilosos 5,0 - 7,5 Argilas 7,5 - 10,0 Tabela 4.1 - Valores sugeridos para C3. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 60 O valor médio dos parâmetros deslocamento elástico do solo C3 e encurtamento elástico da estaca C2 foram determinados a partir do repique elástico K medido na obra, satisfazendo as seguintes equações: K = C3 + C2 (4.1) C2 = K – C3 (4.2) 0nde; K é o repique elástico medido na obra; C3 é o deslocamento elástico na ponta da estaca, de acordo com a tabela 4.1; C2 é o encurtamento elástico da estaca em função do C3; Para o estudo da confiabilidade da obra, foram considerados os valores do repique elástico K medido na obra, deslocamento elástico do solo C3 de acordo com o solo de apoio da estaca na obra (Argilas Siltosas, TABELA 4.1), encurtamento elástico da estaca C2 de acordo com a Equação 4.2, nega medida na obra e Nspt médio da sondagem realizada na obra. Assim, os valores utilizados nesta primeira análise estão resumidos nas Tabelas 3.2 e 4.2. É importante salientar que ao valor do deslocamento elástico do solo C3 foi dado um incremento subjetivo, porém o valor do parâmetro permaneceu dentro do intervalo de variação seguido. Este procedimento evidentemente fornece uma variância não real do parâmetro, comprometendo um pouco os resultados do estudo, mas serve como ponto de partida para a análise de confiabilidade. Estacas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Repique Elástico K (m) C3 (m) C2 (m) S (m) 0,00590 0,00610 0,00620 0,00680 0,00780 0,00790 0,00810 0,00840 0,00910 0,01030 0,00500 0,00527 0,00554 0,00581 0,00608 0,00635 0,00662 0,00689 0,00716 0,00750 0,00090 0,00083 0,00066 0,00099 0,00172 0,00155 0,00148 0,00151 0,00194 0,00280 0,00540 0,00690 0,00670 0,00500 0,00360 0,00610 0,00630 0,00560 0,00640 0,00540 Tabela 4.2 – Dados do repique elástico e nega da obra. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 61 Os procedimentos utilizados para a determinação dos valores médios, variâncias e desvios-padrão dos parâmetros deslocamento e encurtamento elástico, nega e Nspt, seguiram as metodologias tradicionais da estatística descritas no item 2.3.2.2 Estes valores estão compilados na Tabela 4.3. Parâmetro Valor Médio Variância Desvio Padrão 11 25,30 5,02 C3 (m) 6,2x10-3 7,0x10-7 8,3x10-4 C2 (m) 1,4x10-3 4,0x10-7 6,4x10-4 S (m) 5,7x10-3 9,0x10-7 9,7x10-4 Nspt Tabela 4.3 – Análise estatística dos parâmetros aleatórios da obra. No âmbito das análises estatísticas visando uma simulação de condições de projeto, foram tomadas sondagens em torno da região da obra, no centro de Campos dos Goytacazes. Nesta análise, o valor do Nspt foi determinado a partir de cada sondagem realizada em torno da obra, assim, foram tomadas dez sondagens nesta região, sendo N1 a sondagem nº 1, N2 a sondagem nº2,..., N10 a sondagem nº10. O valor do Nspt médio de cada intervalo estratégico para cada sondagem foi determinado, e de posse desses valores, seguindo os procedimentos tradicionais de estatística descritos no item 2.3.2.2, determinaram-se o valor médio, a variância e o desvio padrão para cada uma destas sondagens (TABELA 4.4). Os outros parâmetros de entrada no processo de análise foram os obtidos na obra, ou seja, manteve-se o deslocamento elástico do solo C3, o encurtamento elástico da estaca C2 em função do C3 e a nega S, embora se saiba que essas variáveis possuem valores próprios, relativos a cada ensaio SPT utilizado na análise de simulação. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas Parâmetro 62 Valor Médio Variância Desvio Padrão Nspt (1) 9 10,70 3,27 Nspt (2) 10 13,86 3,72 Nspt (3) 9 8,33 2,88 Nspt (4) 10 37,30 6,10 Nspt (5) 12 56,20 7,50 Nspt (6) 9 9,30 3,04 Nspt (7) 12 42,00 6,48 Nspt (8) 18 30,66 5,53 Nspt (9) 11 45,90 6,77 Nspt (10) 11 17,76 4,21 Tabela 4.4 – Análise estatística das sondagens em torno da obra. Observando a Tabela 4.4, percebe-se através da variância a variabilidade das camadas de solo existentes para cada ensaio SPT. Neste caso, o valor médio representa a magnitude do índice de resistência à penetração Nspt, e a variância reflete a diversificação das camadas do subsolo de cada sondagem. Portanto, sabendo que a média e a variância são parâmetros estatísticos independentes, uma determinada sondagem pode apresentar um valor médio expressivo e uma pequena variância, ou vice-versa, o que dependerá do tipo de solo. Ainda se tratando de simulação de condições de projeto, foi realizada uma última análise, desta vez mantendo a nega S, o repique elástico k e a sondagem realizada na obra e variando o valor do deslocamento elástico do solo C3, que por sua vez reflete numa variação do valor do encurtamento elástico da estaca C2, (Equação 4.2). A variação do C3 seguiu o intervalo de variação sugerido pela equipe da Sonda Engenharia, Tabela 4.1. Portanto designando C31 como o intervalo de variação de C3 para o caso de areias na ponta da estaca, C32 para o caso do solo de apoio na ponta da estaca ser areias siltosas e siltes arenosos, e C21 e C22 são os encurtamentos elásticos correspondentes respectivamente. A Tabela 4.5 resume os resultados. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 63 K (m) C31 (m) C32 (m) 0,00590 0,00000 0,00250 0,00610 0,00027 0,00277 0,00620 0,00054 0,00304 0,00680 0,00081 0,00331 0,00780 0,00108 0,00358 0,00790 0,00135 0,00385 0,00810 0,00162 0,00412 0,00840 0,00189 0,00439 0,00910 0,00216 0,00466 0,01030 0,00250 0,00493 Tabela 4.5 – Intervalo de variação de C3. E o tratamento dos dados, da mesma forma como no caso das sondagens em torno da obra, seguindo os procedimentos tradicionais de estatística descritos no item 2.3.2.2, determinaram-se o valor médio, a variância e o desvio padrão para cada um destes intervalos de variação de C3 e conseqüentemente para C2. (TABELA 4.6). Parâmetro (m) C31 C32 C21 C22 Valor Médio Variância Desvio Padrão 1,22E-03 6,88E-07 8,29E-04 1,22E-03 6,88E-07 8,29E-04 6,44E-03 4,08E-07 6,39E-04 6,44E-03 4,08E-07 6,39E-04 Tabela 4.6 – Análise estatística na variação do parâmetro C3. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 64 4.2.2 - Análises determinísticas A partir do método empírico sugerido pelas formulações de Uto e Chellis, para a determinação da resistência última in situ de uma estaca cravada, foi implementado o cálculo pelo método determinístico, cujos valores de entrada foram os valores médios dos parâmetros dispostos nas Tabelas 4.3, 4.4 e 4.6. Não obstante, foi realizado o cálculo deterministico pelo método já bastante consagrado e muito utilizado no meio geotécnico prático, o método empírico de Aoki e Velloso. Assim, uma comparação entre o fator de segurança correspondente a uma probabilidade ruptura, e o fator de segurança utilizado quando no cálculo da capacidade de carga pelo método Aoki e Velloso é feita, com o propósito de avaliar a pertinência do coeficiente de segurança escolhido para o projeto de fundações da obra. As demandas de solicitação (q), referentes aos fatores de segurança utilizados nas análises de confiabilidade, foram consideradas determinísticas e desta forma inseridas como constantes na composição das funções de desempenho dos fatores de segurança. 4.2.3 - Análise das variâncias dos fatores de segurança Dentre os métodos para a determinação da confiabilidade destaca-se a de aproximação da função de desempenho por série de Taylor, designada de segundo momento de primeira ordem, outras técnicas que também se destacam é a das estimativas pontuais, desenvolvidas por Rosenblueth (1975) e a técnica de simulação de Monte Carlo. As variâncias dos fatores de segurança foram estimadas através do Método do Segundo Momento de Primeira Ordem, como mostrado pela Equação (2.58). Examinando esta equação, verifica-se que a utilização do método requer o conhecimento das derivadas parciais da função de desempenho do fator de segurança. A utilização de uma função de desempenho explícita permite o cálculo das derivadas parciais do fator de segurança. Entretanto, devido à dificuldade na obtenção destas derivadas, utilizou-se à metodologia proposta por Christian et al., (1992) e Sandroni e Sayão (1992), designada por diferenças divididas (diferenças Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 65 ascendentes ou descendentes), como forma de aproximação matemática para o valor da derivada parcial da função. 4.2.3.1 - Estudo da aproximação por diferenças divididas A aproximação por diferenças divididas consiste em variar separadamente cada parâmetro, observando-se a variação correspondente do valor da função de desempenho do fator de segurança. A aproximação da derivada parcial de cada parâmetro é então obtida através da razão entre a variação observada do FS e a variação estipulada para cada parâmetro. Sendo δxi a variação fornecida a um determinado parâmetro xi, a aproximação da derivada parcial é expressa por: FS ( xi + δ .xi ) − FS ( xi ) ∂FS = ∂xi δ .xi (4.3) Para a execução do método das diferenças divididas, foram necessárias cinco análises, utilizando o método de Uto/Chellis para obter as capacidades de carga in situ. A primeira constituiu em uma análise determinística convencional e as demais foram executadas variando um parâmetro de cada vez. Deste modo, a análise pode ser representada primeiramente calculando-se a capacidade de carga pelo método tradicional, ou seja, considerando todos parâmetros como determinísticos, com o seu mais provável valor (valor médio). Em seguida, de posse do desvio padrão e variância de cada parâmetro considerado aleatório, fez-se o cálculo da capacidade de carga com cada parâmetro somado a uma variação de 10% do seu valor como sugerido por Sandroni e Sayão (1992), e os demais parâmetros com seu mais provável valor, o valor médio. Com objetivo de regionalizar o estudo da confiabilidade no projeto de fundações em estacas cravadas, foram realizadas também como forma de simulação cinco análises para dois intervalos de variação do valor do deslocamento elástico do solo C3, que se relaciona com o tipo de solo na ponta da estaca (TABELA 4.1). O valor médio, variância e desvio padrão se encontram na Tabela 4.6. Portanto, foram realizadas no total mais dez análises. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 66 E, analogamente à simulação feita com o valor de C3, fez-se cinco análises com o resultado de cada um dos dez ensaios SPT realizados em torno da região da obra, onde o valor médio, a variância e o desvio padrão são fornecidos pela Tabela 4.4. Neste caso, o solo de apoio da estaca, que implica no intervalo de variação de C3, foi o solo encontrado na própria obra, argila siltosa. Assim, foram realizadas no total, mais 50 análises. Resumidamente, pode-se concluir que as análises foram realizadas satisfazendo respectivamente as seguintes configurações: Análise 1 - Considerando todos os parâmetros medidos na obra. Análise 2 - Considerando os intervalos de variação do C3 dispostos na tabela 4.5, a nega e o ensaio SPT da obra. Análise 3 - Considerando o intervalo de variação do C3 e a nega S da obra, e os ensaios de SPT realizados na região em torno da obra. 4.2.4 - Estimativa da confiabilidade associada à probabilidade de ruptura A estimativa da confiabilidade associada ao cálculo determinístico do fator de segurança foi executada através da Equação (2.52). Examinando esta equação, observa-se que o cerne da análise de confiabilidade reside na verificação da influência dos valores de média e variância do fator de segurança sobre o índice de confiabilidade. Visando satisfazer estas influências, realizaram-se estudos concentrados no cálculo de índices de confiabilidade associados a fatores de segurança médios contidos no intervalo arbitrado entre FS=1 (ruptura) e FS=4. As variâncias destes fatores de segurança foram estimadas através do método do Segundo Momento de Primeira Ordem, baseado na solução empírica da fórmula de capacidade de carga in situ sugerida por Uto e Chellis, com suas derivadas parciais determinadas através da aproximação por diferenças divididas. Completando a composição destas variâncias, utilizaram-se inicialmente os valores das variâncias dos parâmetros de resistência a penetração, obtidos através da análise estatística dos resultados dos ensaios de Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 67 SPT, em seguida a variância do deslocamento elástico C3 e encurtamento elástico C2 e a variância da nega. Foram realizados três estudos, de acordo com as configurações das análises descritas no item 4.2.3.1. Os resultados do primeiro estudo, referente à análise um, visaram obter a probabilidade de ruptura associada à confiabilidade da obra. Os resultados apresentados neste primeiro estudo, demonstram a influência do fator de segurança na estimativa da probabilidade de ruptura. No presente estudo o fator de segurança crítico considerado foi FS = 1. Para este valor as cargas de solicitação igualam-se a capacidade de resistência, neste momento, nada se pode garantir , uma vez que a resistência máxima será totalmente solicitada pelas cargas atuantes. O principal objetivo na aplicação de um coeficiente de segurança, é fornecer a obra uma margem de segurança que reflita as incertezas inerentes dos parâmetros de cálculo e dos erros adversos ocorridos durante os cálculos. É evidente que, quanto maior o fator de segurança, maior será a garantia que, se alguma falha ocorrer, haverá uma folga na resistência capaz de suportar esta deficiência. Uma análise da Equação 4.4 ilustra o que foi dito. FS = R / S (4.4) onde; FS = Fator de segurança R = Resistência S = Solicitação Analisando as variáveis desta equação, percebe-se que para um coeficiente de segurança FS = 1, a carga de solicitação iguala-se a capacidade de resistência, portanto, neste ponto a probabilidade de ruptura é de 50%, ou seja, 1/2. Para valores de FS > 1, significa que a capacidade de resistência é maior que a solicitação, portanto a favor da segurança, deste modo a probabilidade de ruptura é menor que 50%. Desta maneira, para uma mesma distribuição, quanto maior o fator de segurança FS, maior será à margem de segurança, e maior o índice de confiabilidade da obra, conseqüentemente menor a probabilidade de ruptura da mesma. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 68 Neste sentido, o resultado deste primeiro estudo, referente à probabilidade de ruptura da obra, visou determinar, através das incertezas presentes nos parâmetros, valores do coeficiente de segurança FS representativo das variações presente nas análises. Observando a Figura 4.2 e a Tabela 4.14, no caso de um coeficiente de segurança crítico FS = 1, o estudo veio a confirmar a veracidade da Equação 4.2, fornecendo um índice de confiabilidade β = 0,00 e uma probabilidade de ruptura não aconselhável Pf (φ) = 1/2. Ainda na Figura 4.2, é fácil perceber que para um coeficiente de segurança FS = 2,5, existe um índice de confiabilidade β = 2,25 que implica, de acordo com a Tabela 4.16 numa probabilidade de ruptura Pf (φ) = 1/82. A probabilidade de ruptura associada ao índice de confiabilidade da obra, representou de maneira satisfatória as incertezas presentes no cálculo da capacidade de carga, portanto o coeficiente de segurança mais adequado para a margem de segurança desejada pôde ser escolhido com uma maior confiança. Os resultados deste primeiro estudo estão compilados nas Tabelas 4.7 a 4.14. e na Figura 4.2 (FS x β). Tabela 4.7 - Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e SPT da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 4,00 Parâmetro Xi N C3 C2 S E[Xi] Xi+δXi 10,6000 11,6600 0,0062 0,0068 0,0014 0,0016 0,0057 0,0063 2 FSi δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi) xV[Xi] % 4,2240 -0,2095 2,53E+01 1,11E+00 9,76E+01 4,0592 -92,1297 6,88E-07 5,84E-03 5,13E-01 4,0284 -184,2594 4,08E-07 1,38E-02 1,22E+00 4,0548 -92,1297 9,47E-07 8,04E-03 7,07E-01 1,137770 100,000 Variância V[FS] 1,066663 Desv. [FS] Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 69 Tabela 4.8 – Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e SPT da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 3,50 Parâmetro Xi E[Xi] Xi+δXi FSi N 10,6000 11,6600 3,6955 C3 δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi)2xV[Xi] % -0,1833 2,53E+01 8,50E-01 9,76E+01 0,0062 0,0068 3,5514 -80,6030 6,88E-07 4,47E-03 5,13E-01 C2 0,0014 0,0016 3,5244 -161,2060 4,08E-07 1,06E-02 1,22E+00 S 0,0057 0,0063 3,5475 -80,6030 9,47E-07 6,15E-03 7,07E-01 Variância V[FS] 0,870879 100,000 Desv. [FS] 0,933209 Tabela 4.9 – Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e SPT da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 3,00 Parâmetro Xi N C3 C2 S E[Xi] Xi+δXi 10,6000 11,6600 0,0062 0,0068 0,0014 0,0016 0,0057 0,0063 2 FSi δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi) xV[Xi] % 3,1667 -0,1570 2,53E+01 6,24E-01 9,76E+01 3,0432 -69,0703 6,88E-07 3,28E-03 5,13E-01 3,0201 -138,1407 4,08E-07 7,78E-03 1,22E+00 3,0399 -69,0703 9,47E-07 4,52E-03 7,07E-01 0,639497 100,000 Variância V[FS] 0,799686 Desv. [FS] Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 70 Tabela 4.10 – Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e SPT da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 2,50 E[Xi] Xi+δXi 10,6000 11,6600 0,0062 0,0068 0,0014 0,0016 0,0057 0,0063 Parâmetro Xi N C3 C2 S FSi 2,6389 2,5360 2,5168 2,5333 δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi)2xV[Xi] -0,1309 -57,5586 -115,1172 -57,5586 2,53E+01 6,88E-07 4,08E-07 9,47E-07 Variância V[FS] Desv. [FS] 4,33E-01 2,28E-03 5,41E-03 3,14E-03 0,444095 0,666405 % 9,76E+01 5,13E-01 1,22E+00 7,07E-01 100,000 Tabela 4.11 – Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e nega da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 2,00 Parâmetro Xi E[Xi] Xi+δXi FSi δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi)2xV[Xi] % N 10,6000 11,6600 2,1114 -0,1047 2,53E+01 2,77E-01 9,76E+01 C3 0,0062 -46,0529 6,88E-07 1,46E-03 5,13E-01 0,0068 2,0291 C2 0,0014 0,0016 2,0137 -92,1058 4,08E-07 3,46E-03 1,22E+00 S 0,0057 0,0063 2,0269 -46,0529 9,47E-07 2,01E-03 7,07E-01 Variância V[FS] 0,284295 100,000 Desv. [FS] 0,533193 Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 71 Tabela 4.12 – Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e SPT da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 1,50 Parâmetro Xi N C3 C2 S E[Xi] Xi+δXi 10,6000 11,6600 0,0062 0,0068 0,0014 0,0016 0,0057 0,0063 2 FSi δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi) xV[Xi] % 1,5834 -0,0785 2,53E+01 1,56E-01 9,76E+01 1,5216 -34,5352 6,88E-07 8,20E-04 5,13E-01 1,5101 -69,0703 4,08E-07 1,95E-03 1,22E+00 1,5200 -34,5352 9,47E-07 1,13E-03 7,07E-01 0,159874 100,000 Variância V[FS] 0,399843 Desv. [FS] Tabela 4.13 – Cálculo de β para a seguinte configuração: • Repique elástico, nega e SPT da obra; • Teoria determinística: Uto/Chellis; • E [FS] = 1,00 Parâmetro Xi N C3 C2 S E[Xi] Xi+δXi 10,6000 11,6600 0,0062 0,0068 0,0014 0,0016 0,0057 0,0063 2 FSi δFS/δXi Variância V[Xi] (δFS/δXi) xV[Xi] % 1,0556 -0,0523 2,53E+01 6,93E-02 9,76E+01 1,0144 -23,0234 6,88E-07 3,65E-04 5,13E-01 1,0067 -46,0469 4,08E-07 8,65E-04 1,22E+00 1,0133 -23,0234 9,47E-07 5,02E-04 7,07E-01 0,071055 100,000 Variância V[FS] 0,266562 Desv. [FS] Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas β Pf (φ) 2,8143 1/409 2,6802 1/272 2,5013 1/162 2,2512 1/82 1,8763 1/33 1,2508 1/9 0,0000 1/2 FS 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 72 Tabela 4.14 – Fator de segurança e probabilidade de ruptura associada ao índice de confiabilidade. Índice de confiabilidade 3,000 2,000 1,000 0,000 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Fator de Segurança Figura 4.2: Fator de segurança x Índice de confiabilidade O segundo e terceiros estudos, referentes às análises dois e três do item 4.2.3.1 respectivamente, tiveram como objetivo verificar a influência relativa dos parâmetros na confiabilidade de uma obra a ser realizada na região central de Campos dos Goytacazes, com o propósito de regionalizar o estudo da análise de confiabilidade. Deve-se observar que o estudo tinha como premissa a existência de Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 73 uma camada de solo sob a ponta da estaca, dentro dos respectivos solos sugeridos na Tabela 4.1. No primeiro estudo, referente à simulação com o valor do deslocamento elástico do solo C3, foi mantido o parâmetro nega S, Nspt e repique K da obra, sendo a variação do C3 obedecendo ao intervalo de variação sugerido na Tabela 4.1. Feito os devidos cálculos de média, desvio padrão e variância dos parâmetros considerados aleatórios, iniciou-se a análise pela obtenção da capacidade de carga utilizando as formulações de Chellis e Uto, primeiramente pelo método determinístico considerando todos os parâmetros com seu valor médio e depois considerando uma variação de 10% do valor médio de cada parâmetro considerado aleatório. Para uma análise abrangente, a confiabilidade foi determinada, considerando fatores de segurança num intervalo arbitrado entre FS = 1 e FS = 4. O estudo demonstrou que o parâmetro deslocamento elástico do solo influencia na confiabiabilidade da obra, portanto na sua probabilidade de ruptura. Deste modo, ficou evidenciado que a quantificação correta deste parâmetro é fundamental para uma análise de confiabilidade bem sucedida. Neste escopo, numa situação de projeto de fundações dentro da região de contorno utilizada nesta análise, o engenheiro geotécnico poderá servir-se das previsões aqui expostas garantido uma maior solidez na determinação do coeficiente de segurança mais adequado, ou até mesmo em decidir pela execução de sondagens adicionais. E no caso do projeto de fundações em outras regiões e outras condições os resultados são importantes como experiência na avaliação prévia dos parâmetros de cálculo. Uma comparação entre o fator de segurança e o índice de confiabilidade para cada intervalo de variação de C3 é feita na Tabela 4.15. e na Figura 4.3. FS 4 3 2 1 C31 C32 β β 4,15 3,48 3,69 3,09 2,76 2,32 0,00 0,00 Tabela 4.15 – Fator de segurança x índice de confiabilidade Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 74 Índice de Confiabilidade 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 C31 1,5 C32 1,0 0,5 0,0 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 Fator de Segurança Figura 4.3 - Fator de segurança x Índice de confiabilidade para intervalos de variação de C3. Os resultados mostram ainda que, a determinação do coeficiente de segurança e conseqüentemente do índice de confiabilidade, é sensível a uma variação no valor do deslocamento elástico do solo. Analogamente ao estudo da confiabilidade baseado na variação do deslocamento elástico do solo, realizou-se a análise de confiabilidade baseada nos ensaios de SPT executados em torno da região da obra. Neste estudo referente à análise três descrita no item 4.2.3.1 foram mantidos a nega S, o deslocamento elástico do solo C3 e o encurtamento elástico da estaca C2 da obra. Para cada ensaio SPT executado, fez-se o estudo da confiabilidade, que se iniciou pelo cálculo do valor médio, variância e desvio padrão dos parâmetros considerados aleatórios, ainda aqui, nega, deslocamento e encurtamento elástico e Nspt. Depois foi determinada a capacidade de carga pelo método determinístico e pelo método probabilístico, observando-se coeficientes de segurança no intervalo entre FS = 1 e FS = 4. O estudo da confiabilidade é proposto com objetivo de elucidar as incertezas presentes nos parâmetros de cálculo, que ocasionalmente poderão refletir na probabilidade de ruptura da obra. Por uma análise das Equações 2.29 e 2.52, fica evidente a influência da variância na determinação do índice de confiabilidade β e Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 75 neste âmbito, este estudo procurou visar uma análise do comportamento do parâmetro Nspt, observando a sua influência na segurança da obra. O índice de confiabilidade obtido para cada ensaio SPT sugerido, demonstrou refletir de maneira coerente as incertezas presentes nos parâmetros de cálculo, e mais especificamente as do parâmetro Nspt. A porcentagem de influência do parâmetro Nspt na obtenção do índice de confiabilidade, em torno de 80 a 95% para o conjunto de ensaios SPT, justifica a importância de uma análise deste parâmetro para a obtenção de um coeficiente de segurança adequado. Neste ensejo, o estudo procurou visar uma avaliação do comportamento do índice de confiabilidade em relação à variância do parâmetro Nspt. Observando o resultado das análises, verificou-se que um aumento na variância do parâmetro Nspt, refletia num decréscimo do índice de confiabilidade β, o confirma a proposição da Equação 2.52. Uma ilustração de tal comportamento pode ser visualizada através da Tabela 4.16 e da Figura 4.4, onde existem dois ramos bem diferenciados. O intervalo entre os ramos, ilustra um aumento substancial da variância, provocando uma queda considerável no valor do índice de confiabilidade. Disto advém que a probabilidade de ruptura associada ao índice de confiabilidade será diferente para cada projeto, dependendo do ensaio SPT utilizado no cálculo da capacidade de carga. Portanto, é interessante para o projeto, que o engenheiro geotécnico faça uma avaliação da sondagem que fornecerá o heterogeneidade do substrato parâmetro de resistência Nspt, avaliando a que o compõe e, assim, servir-se das análises probabilísticas como complemento das análises determinísticas. É sabido que o projeto de fundações é baseado na interação solo e elemento estrutural. Logo, é relevante o estudo das incertezas contidas nos parâmentros representativos dos aspectos geotécnicos, aqui o parâmetro Nspt. Por isso, o estudo da influência deste parâmetro na confiabilidade pode ser entendido como um suporte na avaliação prévia dos aspectos geotécnicos pertinentes ao projeto. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas N1 VAR N2 10,70 13,90 FS 4 3 2 1 N3 8,33 N4 N5 37,30 56,22 N6 9,32 76 N7 N8 42,00 30,66 N9 N10 45,9 17,76 β β β β β β β β β β 4,14 3,98 4,79 2,40 2,22 4,55 2,54 3,80 2,38 3,63 3,68 3,54 4,26 2,13 1,98 4,04 2,26 3,38 2,11 3,23 2,76 2,65 3,20 1,60 1,48 3,03 1,69 2,53 1,59 2,42 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Índice de Confiabilidade Tabela 4.16 – Relação entre a variância e o índice de confiabilidade. 4,0 N1 3,5 N2 3,0 N3 2,5 N4 2,0 N5 N6 1,5 N7 1,0 N8 0,5 N9 0,0 N10 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Fator de Segurança Figura 4.4 - Fator de segurança x Índice de confiabilidade para Nspt em torno da região da obra As planilhas e tabelas de cálculo para as análises dois e três respectivamente estão apresentadas no anexo 2. 4.3 – Interpretação dos resultados No estudo da probabilidade de ruptura da obra, o índice de confiabilidade correspondente aos fatores de segurança médios, contidos no intervalo entre FS=1 e FS=4, foram fortemente influenciados principalmente pelo parâmetro de resistência Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 77 a penetração Nspt devido à sua grande variância. Observou-se também que o parâmetro deslocamento elástico do solo C3 forneceu pouca influência na confiabilidade, haja visto, que sua variância foi um pouco prejudicada pela subjetividade imposta no intervalo de variação. Já o parâmetro encurtamento elástico da estaca C2, forneceu maior influência na confiabilidade do que C3, pois apresentou uma variância mais considerável. O parâmetro nega S, forneceu uma influência intermediária, menor que C2 e maior que C3. A porcentagem de influência de cada um desses parâmetros está ilustrada na Figura 4.5. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Nspt C3 C2 S 1 % de Influência Figura 4.5 - Porcentagem de influência de cada parâmetro na confiabilidade. Tratando-se do segundo estudo, referente à análise dois, foi verificado que o índice deslocamento elástico do solo C3 influência de maneira considerável na determinação do índice de confiabilidade. Portanto seu valor deve ser estimado através de instrumentação das estacas, pois é a melhor maneira de se obter o valor deste índice. Na conclusão do estudo baseado nas configurações da análise três, foi verificado que o índice de resistência à penetração é o parâmetro aleatório que mais influencia na confiabilidade da obra. Portanto seu valor deve ser estimado observando-se o maior número possível de sondagens. Os resultados resumidos na Figura 4.4, demonstraram que o estudo forneceu dois conjuntos de índice de confiabilidade ilustrados por dois ramos bem diferenciados, isto se deve a um aumento substancial no valor da variância do parâmetro Nspt entre um ramo e outro. Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 78 De um modo geral os resultados dos estudos referente às análises dois e três foram eficazes na demonstração da importância da variância e do valor médio dos parâmetros C3 e Nspt na determinação do índice de confiabilidade, e portanto na probabilidade de ruptura. 4.4 - Avaliação dos fatores de segurança referentes à confiabilidade admissível O valor do índice de confiabilidade deve representar de forma direta as incertezas presentes nos dados de análise. Portanto, para um considerado β admissível, quanto maior a incerteza presente, maior deverá ser o fator de segurança recomendável para confiabilidade do projeto em questão. Whitman (1984) apresenta no item 2.4 através da Figura 2.15, uma avaliação sobre o risco adotado em alguns projetos de engenharia civil. De acordo com a ilustração, uma confiabilidade admissível mínima bastante razoável para um projeto de fundação bem elaborado, é β = 3,00 que corresponde a uma probabilidade de ruptura pf ≅ 1/770. Considerando que o fator de segurança e os parâmetros aleatórios são distribuídos normalmente e que as incertezas presentes nos parâmetros de cálculo influenciam de modo bastante significativo na confiabilidade da obra, os resultados do estudo forneceram uma base para escolha do coeficiente de segurança adequado. Apesar de ter-se feito monitoração em apenas 10% das estacas, e do deslocamento elástico ter sido baseado em estudos regionais e sua distribuição influenciada por conceitos subjetivos, a análise foi bem sucedida. Portanto, o fator de segurança médio recomendado para o caso da obra em estudo, deveria ser no mínimo FS = 3,00, o que forneceria um índice de confiabilidade β = 2,50 com uma probabilidade de ruptura associada Pf (φ) = 1/162. E preciso salientar que a escolha do fator de segurança adequado deve estar relacionada ao grau de segurança que se deseja, assim, para projetos geotécnicos deve-se fazer uma avaliação da importância do projeto a fim de determinar coeficientes de segurança satisfatórios do ponto de vista da economia e da segurança. Como ilustração do que foi dito, podemos considerar um projeto de fundações para execução de um depósito de materiais para a construção de uma barragem , e o projeto de fundações de uma barragem em si. É evidente que o coeficiente de segurança no projeto de fundação do depósito deve ser menor que o Capítulo 4 – Análise de confiabilidade em fundações profundas 79 coeficiente de segurança da barragem, haja vista, que o depósito é uma construção onde a probabilidade de ruptura é menor, pois é uma construção momentânea, e portanto, que envolve perdas materiais e humanas bem menores que um possível rompimento da barragem, onde as conseqüências da ruptura seriam muito mais graves sob o ponto de vista financeiro e mais ainda sob o ponto de vista das perdas humanas, logo, a quantificação equilibrada do fator de segurança adequado é essencial no projeto em que se esteja trabalhando. CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES 5.1 - Conclusões A partir das análises de confiabilidade e probabilidade implementadas no presente trabalho, apresentam-se as seguintes conclusões: A adoção de um fator de segurança quanto à capacidade de carga de fundações deve fundamentar-se na análise de confiabilidade, haja vista que esta contempla as incertezas que afetam o cálculo determinístico. Os índices de confiabilidade, relativos à capacidade de carga, foram fortemente influenciados pela variância obtida na análise estatística do parâmetro Nspt do ensaio SPT. Neste caso, este parâmetro é determinante na escolha de um fator de segurança adequado. A variância dos parâmetros deslocamento e encurtamento elástico, tiveram pouca influência na estimativa do índice de confiabilidade. Isto não implica que estes parâmetros devam ser desconsiderados na análise probabilística, pelo contrário. Devido à influência de fatores externos no momento da medição do repique elástico, como erros humanos, acuidade de leituras, e erros inerentes à variabilidade espacial do solo, é que se deve fazer uma maior quantidade possível de medições visando obter um conjunto de dados representativos da real dispersão do parâmetro. E por fim, deve ser considerado que tal influência ficou comprometida devido ao incremento subjetivo dado ao parâmetro aleatório C3, que por sua vez, refletiu no parâmetro C2. A variância da nega por sua vez, apesar de ter influenciado pouco na estimativa do índice de confiabilidade, deve ser considerada fundamental nas análises de confiabilidade, haja vista, que sua medição sofre das mesmas influências que o repique elástico. Capítulo 5 – Conclusões e Considerações 81 De um modo geral, ficou evidenciada a magnitude das incertezas e variabilidade do solo em geral, confirmando assim, uma necessidade de aprofundamento das técnicas e metodologias adotadas no meio geotécnico. 5.2 – Considerações A análise de confiabilidade do presente estudo visou obter um índice de confiabilidade relativo, pois é sabido que apenas alguns parâmetros foram considerados aleatórios. Portanto, a probabilidade de ruptura associada a este índice de confiabilidade também é uma probabilidade de ruptura relativa. Desta maneira, os resultados obtidos devem ser encarados como uma forma de avaliação ponderada do coeficiente de segurança. No presente trabalho, a análise estatística do parâmetro de resistência Nspt foi executada com base em ensaios SPT. Entretanto, a metodologia proposta é também aplicável na situação onde se dispõe de outros ensaios, como o CPT, onde se deverá utilizar coeficientes de correlações apropriados. 5.3 - Sugestões A seguir apresentam-se algumas sugestões para futuras pesquisas, a fim de dar prosseguimento ao tema abordado no presente trabalho: Aplicar nas configurações da fundação analisada no presente trabalho outros métodos probabilísticos (Método das Estimativas Pontuais e Simulação de Monte Carlo) e, desta forma, comparar os resultados obtidos com os apresentados através do método do Segundo Momento de Primeira Ordem. Execução de análises similares de casos documentados de sucessos e insucessos referentes ao desempenho de fundações, visando o acúmulo de experiência na determinação de índices de confiabilidade admissíveis, nos mesmos Capítulo 5 – Conclusões e Considerações 82 moldes apresentados por Sandroni e Sayão (1992), em torno do desempenho de taludes. Execução de análises similares utilizando outros métodos de cálculo de capacidade de carga, confrontando com os resultados obtidos por esta análise. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anjos, G. J. M. (1999). Aplicação de Técnicas Probabilísticas e estatísticas na Avaliação da Representabilidade de Ensaios In Situ. Tese (Mestrado em Geotecnia), Rio de Janeiro-RJ, Pontificia Universidade Católica-Rio, PUC, 160p. Aoki, N. (1986). Controle “in situ” da Capacidade de Carga de Estacas PréFabricadas Via Repique Elástico da Cravação.ABMS, ABEF, IESP. Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986) Referências Bibliográficas: NBR 6122. Rio de Janeiro. Borga P. C. (2001). Avaliação de Parâmetros Geotécnicos Para Projetos de Capacidade de Suporte de Estacas Através de Ensaios In Situ. Tese (Mestrado em Geotecnia), Rio de Janeiro-RJ, Pontifícia Universidade Católica-Rio, PUC, 100p. Briaud, J. L., Tucker, L. M., 1988. Measured and predicted axial response of 98 piles. 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0,9997 0,9998 0,9998 0,9999 0,9999 0,99995 0,999970 0,999980 0,999987 0,999992 0,999995 0,999997 0,9999980 0,9999988 0,9999992 0,9999995 0,9999997 0,02 0,5080 0,5478 0,5871 0,6255 0,6628 0,6985 0,7324 0,7642 0,7939 0,8212 0,8461 0,8686 0,8888 0,9066 0,9222 0,9357 0,9474 0,9573 0,9656 0,9726 0,9783 0,9830 0,9868 0,9898 0,9922 0,9941 0,9956 0,9967 0,9976 0,9982 0,9987 0,9991 0,9994 0,9995 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99996 0,999971 0,999981 0,999988 0,999992 0,999995 0,999997 0,9999981 0,9999988 0,9999993 0,9999996 0,9999997 0,03 0,5120 0,5517 0,5910 0,6293 0,6664 0,7019 0,7357 0,7673 0,7967 0,8238 0,8485 0,8708 0,8907 0,9082 0,9236 0,9370 0,9484 0,9582 0,9664 0,9732 0,9788 0,9834 0,9871 0,9901 0,9925 0,9943 0,9957 0,9968 0,9977 0,9983 0,9988 0,9991 0,9994 0,9996 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99996 0,999972 0,999982 0,999988 0,999993 0,999995 0,999997 0,9999982 0,9999989 0,9999993 0,9999996 0,9999998 1 2π 0,04 0,5160 0,5557 0,5948 0,6331 0,6700 0,7054 0,7389 0,7704 0,7995 0,8264 0,8508 0,8729 0,8925 0,9099 0,9251 0,9382 0,9495 0,9591 0,9671 0,9738 0,9793 0,9838 0,9875 0,9904 0,9927 0,9945 0,9959 0,9969 0,9977 0,9984 0,9988 0,9992 0,9994 0,9996 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99996 0,999973 0,999983 0,999989 0,999993 0,999995 0,999997 0,9999983 0,9999989 0,9999993 0,9999996 0,9999998 z ∫− ∞ 2 e − (1 / 2)t dt 0,05 0,5199 0,5596 0,5987 0,6368 0,6736 0,7088 0,7422 0,7734 0,8023 0,8289 0,8531 0,8749 0,8944 0,9115 0,9265 0,9394 0,9505 0,9599 0,9678 0,9744 0,9798 0,9842 0,9878 0,9906 0,9929 0,9946 0,9960 0,9970 0,9978 0,9984 0,9989 0,9992 0,9994 0,9996 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99996 0,999974 0,999983 0,999989 0,999993 0,999996 0,999997 0,9999983 0,9999990 0,9999994 0,9999996 0,9999998 0,06 0,5239 0,5636 0,6026 0,6406 0,6772 0,7123 0,7454 0,7764 0,8051 0,8315 0,8554 0,8770 0,8962 0,9131 0,9279 0,9406 0,9515 0,9608 0,9686 0,9750 0,9803 0,9846 0,9881 0,9909 0,9931 0,9948 0,9961 0,9971 0,9979 0,9985 0,9989 0,9992 0,9994 0,9996 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99996 0,999975 0,999984 0,999990 0,999993 0,999996 0,999997 0,9999984 0,9999990 0,9999994 0,9999996 0,9999998 0,07 0,5279 0,5675 0,6064 0,6443 0,6808 0,7157 0,7486 0,7794 0,8078 0,8340 0,8577 0,8790 0,8980 0,9147 0,9292 0,9418 0,9525 0,9616 0,9693 0,9756 0,9808 0,9850 0,9884 0,9911 0,9932 0,9949 0,9962 0,9972 0,9979 0,9985 0,9989 0,9992 0,9995 0,9996 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99996 0,999976 0,999985 0,999990 0,999994 0,999996 0,999998 0,9999985 0,9999991 0,9999994 0,9999997 0,9999998 0,08 0,5319 0,5714 0,6103 0,6480 0,6844 0,7190 0,7517 0,7823 0,8106 0,8365 0,8599 0,8810 0,8997 0,9162 0,9306 0,9429 0,9535 0,9625 0,9699 0,9761 0,9812 0,9854 0,9887 0,9913 0,9934 0,9951 0,9963 0,9973 0,9980 0,9986 0,9990 0,9993 0,9995 0,9996 0,9997 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99997 0,999977 0,999985 0,999991 0,999994 0,999996 0,999998 0,9999986 0,9999991 0,9999995 0,9999997 0,9999998 0,09 0,5359 0,5753 0,6141 0,6517 0,6879 0,7224 0,7549 0,7852 0,8133 0,8389 0,8621 0,8830 0,9015 0,9177 0,9319 0,9441 0,9545 0,9633 0,9706 0,9767 0,9817 0,9857 0,9890 0,9916 0,9936 0,9952 0,9964 0,9974 0,9981 0,9986 0,9990 0,9993 0,9995 0,9997 0,9998 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,99997 0,999978 0,999986 0,999991 0,999994 0,999996 0,999998 0,9999986 0,9999992 0,9999995 0,9999997 0,9999998 91 ANEXO 2 Tabela A2.1 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT da obra e C3 = 0 a 0,0025 m • Teoria determinística: Uto/Chellis δFS/δN -0,1419 -0,1242 -0,1064 -0,0887 -0,0857 -0,0822 -0,0806 -0,0710 -0,0671 -0,0620 -0,0575 -0,0532 -0,0503 -0,0474 -0,0448 -0,0424 -0,0403 -0,0384 -0,0355 δFS/δC3 -62,4176 -54,6155 -46,8132 -39,0110 -37,6948 -36,1562 -35,4331 -31,2088 -29,5276 -27,2562 -25,3093 -23,4066 -22,1457 -20,8430 -19,6850 -18,6490 -17,7165 -16,8729 -15,6044 δFS/δC2 δFS/δS -124,8352 -62,4176 -109,2309 -54,6155 -93,6264 -46,8132 -78,0220 -39,0110 -75,3895 -37,6948 -72,3124 -36,1562 -70,8662 -35,4331 -62,4176 -31,2088 -59,0551 -29,5276 -54,5124 -27,2562 -50,6187 -25,3093 -46,8132 -23,4066 -44,2914 -22,1457 -41,6860 -20,8430 -39,3701 -19,6850 -37,2980 -18,6490 -35,4331 -17,7165 -33,7458 -16,8729 -31,2088 -15,6044 V[FS] DES [FS] 0,5222 0,7227 0,3998 0,6323 0,2938 0,5420 0,2040 0,4517 0,1905 0,4364 0,1752 0,4186 0,1683 0,4102 0,1306 0,3613 0,1169 0,3419 0,0996 0,3156 0,0859 0,2930 0,0734 0,2710 0,0657 0,2564 0,0582 0,2413 0,0519 0,2279 0,0466 0,2159 0,0421 0,2051 0,0382 0,1954 0,0326 0,1807 E[FS] 4,00 3,50 3,00 2,50 2,42 2,32 2,27 2,00 1,89 1,75 1,62 1,50 1,42 1,34 1,26 1,20 1,14 1,08 1,00 β 4,151 3,954 3,690 3,321 3,244 3,146 3,097 2,768 2,610 2,366 2,122 1,845 1,635 1,391 1,147 0,904 0,660 0,416 0,000 92 Tabela A2.2 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT da obra e C3 = 0,0025 a 0,0050 m • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β δFS/δN δFS/δC3 -0,2014 -88,5827 -177,1654 -88,5827 1,0524 1,0259 4,76 3,670 -0,1691 -74,3633 -148,7267 -74,3633 0,7416 0,8612 4,00 3,484 -0,1479 -65,0678 -130,1357 -65,0678 0,5678 0,7535 3,50 3,318 -0,1268 -55,7724 -111,5448 -55,7724 0,4172 0,6459 3,00 3,097 -0,1057 -46,4769 -92,9539 -46,4769 0,2897 0,5382 2,50 2,787 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,2079 0,4559 2,12 2,451 -0,0845 -37,1816 -74,3632 -37,1816 0,1854 0,4306 2,00 2,322 -0,0724 -31,8260 -63,6520 -31,8260 0,1358 0,3686 1,71 1,932 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,1169 0,3420 1,59 1,720 -0,0634 -27,8862 -55,7724 -27,8862 0,1043 0,3229 1,50 1,548 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,0859 0,2931 1,36 1,233 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,0748 0,2736 1,27 0,989 -0,0504 -22,1457 -44,2914 -22,1457 0,0658 0,2565 1,19 0,746 -0,0474 -20,8430 -41,6860 -20,8430 0,0583 0,2414 1,12 0,502 -0,0448 -19,6850 -39,3701 -19,6850 0,0520 0,2280 1,06 0,258 -0,0424 -18,6490 -37,2980 -18,6490 0,0466 0,2160 1,00 0,015 -0,0423 -18,5908 -37,1815 -18,5908 0,0464 0,2153 1,00 0,000 δFS/δC2 δFS/δS 93 Tabela A2.3 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (1) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis DES [FS] E[FS] β -0,2098 -92,2737 -184,5473 -92,2737 0,5248 0,7244 4,00 4,14 -0,1836 -80,7500 -161,4999 -80,7500 0,4019 0,6339 3,50 3,95 -0,1573 -69,2052 -138,4105 -69,2052 0,2952 0,5433 3,00 3,68 -0,1311 -57,6710 -115,3421 -57,6710 0,2050 0,4528 2,50 3,31 -0,1049 -46,1368 -92,2737 -46,1368 0,1312 0,3622 2,00 2,76 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,0955 0,3091 1,71 2,29 -0,0787 -34,6026 -69,2052 -34,6026 0,0738 0,2717 1,50 1,84 -0,0732 -32,2119 -64,4238 -32,2119 0,0640 0,2529 1,40 1,57 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,0537 0,2318 1,28 1,21 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,0458 0,2140 1,18 0,85 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,0395 0,1987 1,10 0,49 -0,0524 -23,0654 -46,1308 -23,0654 0,0328 0,1811 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS V[FS] 94 Tabela A2.4 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (2) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis DES [FS] E[FS] β -0,1942 -85,4221 -170,8442 -85,4221 0,5692 0,7544 4,00 3,98 -0,1699 -74,7218 -149,4436 -74,7218 0,4355 0,6599 3,50 3,79 -0,1456 -64,0511 -128,1023 -64,0511 0,3200 0,5657 3,00 3,54 -0,1214 -53,3792 -106,7583 -53,3792 0,2223 0,4714 2,50 3,18 -0,0971 -42,7008 -85,4015 -42,7008 0,1422 0,3771 2,00 2,65 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,1209 0,3477 1,84 2,43 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,0979 0,3129 1,66 2,11 -0,0728 -32,0256 -64,0511 -32,0256 0,0800 0,2828 1,50 1,77 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,0680 0,2608 1,38 1,47 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,0579 0,2407 1,28 1,15 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,0500 0,2235 1,19 0,83 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,0435 0,2086 1,11 0,51 -0,0485 -21,3478 -42,6956 -21,3478 0,0355 0,1885 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS V[FS] 95 Tabela A2.5 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (3) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis DES [FS] E[FS] β -0,2024 -89,0279 -178,0557 -89,0279 0,3915 0,6257 4,00 4,80 -0,1771 -77,8749 -155,7498 -77,8749 0,2996 0,5473 3,50 4,57 -0,1518 -66,7541 -133,5082 -66,7541 0,2201 0,4692 3,00 4,26 -0,1265 -55,6249 -111,2499 -55,6249 0,1528 0,3910 2,50 3,84 -0,1012 -44,5027 -89,0055 -44,5027 0,0978 0,3128 2,00 3,20 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,0766 0,2767 1,77 2,78 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,0620 0,2490 1,59 2,38 -0,0759 -33,3771 -66,7541 -33,3771 0,0550 0,2346 1,50 2,13 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,0431 0,2075 1,33 1,58 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,0367 0,1916 1,23 1,18 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,0316 0,1779 1,14 0,77 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,0276 0,1660 1,06 0,37 -0,0506 -22,2466 -44,4932 -22,2466 0,0244 0,1564 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS V[FS] 96 Tabela A2.6 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (4) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,2014 -88,5827 -177,1654 -88,5827 1,5626 1,2500 4,00 2,40 -0,1762 -77,5002 -155,0004 -77,5002 1,1960 1,0936 3,50 2,29 -0,1510 -66,4287 -132,8575 -66,4287 0,8787 0,9374 3,00 2,13 -0,1258 -55,3469 -110,6938 -55,3469 0,6100 0,7810 2,50 1,92 -0,1007 -44,2803 -88,5606 -44,2803 0,3904 0,6249 2,00 1,60 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,3087 0,5556 1,78 1,40 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,2500 0,5000 1,60 1,20 -0,0755 -33,2081 -66,4163 -33,2081 0,2196 0,4686 1,50 1,07 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,1736 0,4167 1,33 0,80 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,1479 0,3846 1,23 0,60 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,1276 0,3572 1,14 0,40 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,1111 0,3333 1,07 0,20 -0,0503 -22,1374 -44,2748 -22,1374 0,0976 0,3124 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS 97 Tabela A2.7 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (5) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,2014 -88,5827 -177,1654 -88,5827 2,3292 1,5262 4,53 2,31 -0,1781 -78,3225 -156,6449 -78,3225 1,8209 1,3494 4,00 2,22 -0,1558 -68,5094 -137,0189 -68,5094 1,3932 1,1803 3,50 2,12 -0,1335 -58,7224 -117,4448 -58,7224 1,0236 1,0117 3,00 1,98 -0,1113 -48,9407 -97,8815 -48,9407 0,7110 0,8432 2,50 1,78 -0,0890 -39,1526 -78,3052 -39,1526 0,4550 0,6746 2,00 1,48 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,3727 0,6105 1,81 1,33 -0,0732 -32,2119 -64,4238 -32,2119 0,3080 0,5550 1,65 1,16 -0,0684 -30,0845 -60,1690 -30,0845 0,2687 0,5183 1,54 1,04 -0,0668 -29,3612 -58,7224 -29,3612 0,2559 0,5059 1,50 0,99 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,1901 0,4360 1,29 0,67 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,1656 0,4070 1,21 0,51 -0,0504 -22,1457 -44,2914 -22,1457 0,1456 0,3815 1,13 0,34 -0,0474 -20,8430 -41,6860 -20,8430 0,1290 0,3591 1,06 0,18 -0,0445 -19,5741 -39,1483 -19,5741 0,1137 0,3372 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS 98 Tabela A2.8 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (6) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,2034 -89,4775 -178,9550 -89,4775 0,4355 0,6599 4,00 4,55 -0,1780 -78,2879 -156,5757 -78,2879 0,3334 0,5774 3,50 4,33 -0,1525 -67,0827 -134,1654 -67,0827 0,2448 0,4948 3,00 4,04 -0,1271 -55,9058 -111,8116 -55,9058 0,1700 0,4123 2,50 3,64 -0,1017 -44,7274 -89,4549 -44,7274 0,1088 0,3299 2,00 3,03 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,0843 0,2904 1,76 2,62 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,0683 0,2613 1,58 2,24 -0,0763 -33,5414 -67,0827 -33,5414 0,0612 0,2474 1,50 2,02 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,0474 0,2178 1,32 1,47 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,0404 0,2010 1,22 1,09 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,0348 0,1867 1,13 0,71 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,0304 0,1742 1,06 0,32 -0,0508 -22,3609 -44,7218 -22,3609 0,0272 0,1649 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS 99 Tabela A2.9 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (7) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,1797 -79,0212 -158,0423 -79,0212 1,3952 1,1812 4,00 2,54 -0,1572 -69,1512 -138,3024 -69,1512 1,0684 1,0336 3,50 2,42 -0,1347 -59,2527 -118,5053 -59,2527 0,7844 0,8857 3,00 2,26 -0,1123 -49,3772 -98,7544 -49,3772 0,5447 0,7381 2,50 2,03 -0,1007 -44,2914 -88,5827 -44,2914 0,4383 0,6620 2,24 1,88 -0,0898 -39,5018 -79,0035 -39,5018 0,3486 0,5905 2,00 1,69 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,2805 0,5296 1,79 1,50 -0,0732 -32,2119 -64,4238 -32,2119 0,2318 0,4815 1,63 1,31 -0,0674 -29,6263 -59,2527 -29,6263 0,1961 0,4428 1,50 1,13 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,1660 0,4074 1,38 0,93 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,1431 0,3783 1,28 0,74 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,1247 0,3531 1,20 0,56 -0,0503 -22,1457 -44,2914 -22,1457 0,1096 0,3310 1,12 0,37 -0,0474 -20,8430 -41,6860 -20,8430 0,0971 0,3116 1,06 0,18 -0,0449 -19,7509 -39,5018 -19,7509 0,0872 0,2952 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS 100 Tabela A2.10 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (8) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,2014 -88,5827 -177,1654 -88,5827 1,2935 1,1373 5,76 4,19 -0,1611 -70,8662 -141,7323 -70,8662 0,8278 0,9099 4,61 3,97 -0,1399 -61,5158 -123,0315 -61,5158 0,6238 0,7898 4,00 3,80 -0,1224 -53,8333 -107,6666 -53,8333 0,4777 0,6912 3,50 3,62 -0,1049 -46,1368 -92,2737 -46,1368 0,3509 0,5924 3,00 3,38 -0,0874 -38,4474 -76,8947 -38,4474 0,2437 0,4936 2,50 3,04 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,2070 0,4549 2,30 2,87 -0,0699 -30,7579 -61,5158 -30,7579 0,1560 0,3949 2,00 2,53 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,1437 0,3791 1,92 2,43 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,1225 0,3499 1,77 2,21 -0,0565 -24,8682 -49,7364 -24,8682 0,1019 0,3193 1,62 1,93 -0,0524 -23,0684 -46,1368 -23,0684 0,0877 0,2962 1,50 1,69 -0,0503 -22,1457 -44,2914 -22,1457 0,0808 0,2843 1,44 1,55 -0,0474 -20,8430 -41,6860 -20,8430 0,0716 0,2676 1,36 1,33 -0,0448 -19,6850 -39,3701 -19,6850 0,0639 0,2527 1,28 1,11 -0,0424 -18,6490 -37,2980 -18,6490 0,0573 0,2394 1,21 0,89 -0,0403 -17,7165 -35,4331 -17,7165 0,0517 0,2275 1,15 0,67 -0,0384 -16,8729 -33,7458 -16,8729 0,0469 0,2166 1,10 0,45 -0,0366 -16,1059 -32,2119 -16,1059 0,0428 0,2068 1,05 0,23 -0,0350 -15,3776 -30,7552 -15,3776 0,0390 0,1974 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS 101 Tabela A2.11 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (9) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,2014 -88,5827 -177,1654 -88,5827 1,9114 1,3825 4,38 2,45 -0,1838 -80,8236 -161,6473 -80,8236 1,5912 1,2614 4,00 2,38 -0,1608 -70,7247 -141,4494 -70,7247 1,2184 1,1038 3,50 2,27 -0,1378 -60,6108 -121,2216 -60,6108 0,8949 0,9460 3,00 2,11 -0,1149 -50,5177 -101,0353 -50,5177 0,6216 0,7884 2,50 1,90 -0,0919 -40,4118 -80,8236 -40,4118 0,3978 0,6307 2,00 1,59 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,3058 0,5530 1,75 1,36 -0,0689 -30,3054 -60,6108 -30,3054 0,2237 0,4730 1,50 1,06 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,2124 0,4608 1,46 1,00 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,1810 0,4254 1,35 0,82 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,1560 0,3950 1,25 0,64 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,1359 0,3687 1,17 0,46 -0,0504 -22,1457 -44,2914 -22,1457 0,1195 0,3456 1,10 0,28 -0,0459 -20,2036 -40,4072 -20,2036 0,0994 0,3153 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS 102 Tabela A2.12 – Resumo do cálculo de β para a seguinte configuração: • SPT (10) e C3 da obra • Teoria determinística: Uto/Chellis V[FS] DES [FS] E[FS] β -0,1896 -83,3720 -166,7439 -83,3720 0,6823 0,8260 4,00 3,63 -0,1659 -72,9676 -145,9353 -72,9676 0,5226 0,7229 3,50 3,46 -0,1422 -62,5363 -125,0727 -62,5363 0,3839 0,6196 3,00 3,23 -0,1185 -52,1075 -104,2150 -52,1075 0,2665 0,5163 2,50 2,91 -0,0948 -41,6860 -83,3720 -41,6860 0,1706 0,4130 2,00 2,42 -0,0895 -39,3701 -78,7402 -39,3701 0,1522 0,3901 1,89 2,28 -0,0806 -35,4331 -70,8662 -35,4331 0,1232 0,3511 1,70 1,99 -0,0711 -31,2682 -62,5363 -31,2682 0,0960 0,3098 1,50 1,61 -0,0671 -29,5276 -59,0551 -29,5276 0,0856 0,2925 1,42 1,42 -0,0620 -27,2562 -54,5124 -27,2562 0,0729 0,2700 1,31 1,14 -0,0575 -25,3093 -50,6187 -25,3093 0,0629 0,2508 1,21 0,85 -0,0537 -23,6221 -47,2441 -23,6221 0,0548 0,2340 1,13 0,57 -0,0504 -22,1457 -44,2914 -22,1457 0,0481 0,2194 1,06 0,29 -0,0474 -20,8430 -41,6860 -20,8430 0,0426 0,2065 1,00 0,00 δFS/δN δFS/δC3 δFS/δC2 δFS/δS