ANÁLISE COMPARATIVA DA PRODUÇÃO DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS NOS MUNICÍPIOS DE GRAVATÁ E HOLAMBRA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Desenvolvimento Rural, Territorial e regional LEONARDO JOSÉ FERREIRA DE OLIVEIRA; OLGA MARIANA SALGADO SANTANA; LUIZ HONORATO DA SILVA JÚNIOR. UFPE, CARUARU - PE - BRASIL. Grupo de Pesquisa: Desenvolvimento Rural, Territorial e regional Análise Comparativa da Produção de Flores e Plantas Ornamentais nos Municípios de Gravatá e Holambra RESUMO Este trabalho tem por objetivo comparar a produção de flores e plantas ornamentais entre os municípios de Gravatá no estado de Pernambuco, e Holambra no estado de São Paulo. Busca identificar os principais fatores que assemelham e diferenciam a produção entre os dois municípios, bem como a capacidade de produção e importância que cada um dos municípios representa para a economia de sua região. Para isto, analisa as principais características deste mercado tanto em âmbito mundial quanto nacional, os dados que demonstram a importância econômica deste setor e o porquê do crescimento acelerado observado nos últimos anos. Revela a necessidade de políticas voltadas especialmente para o setor, os cuidados necessários para um setor que é caracterizado por seu perfil rural, além de tecnologias avançadas e especialização das áreas envolvidas na produção e comercialização de flores e plantas ornamentais, para que se possa aprimorar e dar continuidade ao desenvolvimento do setor. Palavras-chaves: Produção de Flores e Plantas Ornamentais, Perfil Rural. Comparative analysis of the Production of Flowers and Ornamental Plants in Gravatá and Holambra Cities ABSTRACT This paper has for objective to compare the production of flowers and ornamental plants between Gravatá city, in Pernambuco State and Holambra city, in São Paulo State. Try to identify the main factors that resemble and differentiate the production int the two cities, as well as the production capacity and importance that each one represents for the economy of 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural its region. For this it descriptive analyzes the main characteristics of this market in such a way in how much national world-wide scope, the data that in recent years demonstrate to the economic importance of this sector and the reason of the sped up growth observed. It discloses the necessity of politics directed especially toward the sector, the necessary cares for a sector that is characterized by its agricultural profile, beyond advanced technologies and specialization of the involved areas in the production and ornamental commercialization of flowers and plants, so that if it can improve and give continuity to the development of the sector. Keywords: production of flowers and ornamental plants, agricultural profile. 2 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1. Introdução A cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais apresenta um mercado que cresce a taxas que impressiona nos últimos anos. Com o aumento da renda nacional nos últimos anos, este tipo de produto vem tomando cada vez maior importância na cesta de consumo dos brasileiros. No Brasil, alguns municípios merecem destaque nesse crescimento e, dentre eles, estão Holambra no estado de São Paulo pela importância nacional deste mercado e Gravatá no estado de Pernambuco, pela importância regional. Estes dois pólos de produção de flores são caracterizados por diferentes culturas, localização regional e patamares de políticas públicas, mas mesmo assim, percebe-se algumas semelhanças e várias diferenças em relação aos dois municípios que os tornam competitivos, guardadas as enormes diferenças regionais, dentro do mercado de flores e plantas ornamentais. Buscando entender o motivo de dois pólos distantes fazerem parte do mesmo mercado, compara-se Holambra e Gravatá para identificar onde os dois municípios se assemelham e se diferenciam em termos de produção de flores e plantas. Recursos naturais, mercado, fatores de produção, são alguns dos pontos que se analisa tentando entender como se dá a produção deste setor e o que os tornam viáveis. Verifica-se a necessidade de adoção de políticas públicas, investimentos, e principalmente o uso de inovações tecnológicas para que o setor continue o crescimento verificado nos últimos anos, aumentando a competitividade com o mercado externo, além de que comparando os dois municípios, pode-se perceber o que Gravatá necessita aperfeiçoar na produção de flores em relação à Holambra. 2. O mercado de flores O mercado mundial de flores vem apresentando crescimento anual de aproximadamente 10% desde última década de noventa, tornando-se um dos segmentos econômicos de grande importância em todo o mundo. Em 2002 calculava-se que a área destinada ao cultivo de flores em todo o mundo seria de aproximadamente 190.000 hectares. As flores e plantas ornamentais, produtos ainda considerados como bens de luxo, movimentam mundialmente cerca de 49 bilhões de dólares, desde a fase de produção até a entrega final (SEBRAE, 2002). 3 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Com o advento da globalização e com a busca constante de se descobrir novos pólos de produção, visando principalmente baixar os custos de produção através do plantio em regiões que possuam condições climáticas mais adequadas e disponibilidade de mão de obra, surgiram em todo o mundo novas regiões de produção. A produção e comercialização de flores e plantas ornamentais no Brasil começaram em escala comercial na década de 50 com imigrantes portugueses. Na década de 60 entraram neste mercado os imigrantes japoneses e finalmente os imigrantes holandeses, que no início da década de 70 deram um impulso maior à comercialização, implantando um sistema de distribuição pelo país inteiro. Até 1988 o mercado teve um crescimento vegetativo e uma atuação comercial baseada em centros regionais de comercialização tais como os CEASAs e empresas de distribuição que atendiam a todo o país. A partir de 1989 surge o Veiling Holambra que representa uma transformação substancial no mercado e acaba influenciando o comportamento e as práticas do setor. Desde então o mercado interno apresentou taxas de crescimento de até 20% ao ano (Motos, 2009). A produção de flores, muitas vezes, é encarada como uma atividade de tecnologia de difícil acesso aos produtores, guardada como segredo por quem já está na atividade. A pouca literatura disponível no Brasil sobre o assunto parece reforçar este pensamento. O Estado de São Paulo tem a liderança em tecnologia, produção e lançamento de produtos. Aos poucos, porém, importantes núcleos vão se formando em todo o país, com objetivo de fornecimento do mercado regional e também para o mercado exportador (Gruszynski, 2002). O mercado brasileiro de flores e plantas ornamentais vem acompanhando a tendência mundial de expansão, justificada pelo fato de que com a diversidade de climas e solos, disponibilidade de água, de terras, de mão-de-obra, entre outros recursos, faz com que o Brasil apresente excelentes condições para se especializar e crescer neste mercado. No Brasil, a floricultura, cada vez mais, tem investido em tecnologia de produção em ambiente protegido, a fim de garantir maior qualidade na produção e atender a demanda no mercado, devido ao elevado nível de exigência do consumidor e ao alto valor econômico agregado aos produtos deste segmento, em relação aos demais produtos agrícolas. A floricultura brasileira contemporânea possui muitas semelhanças tecnológicas e comerciais com a olericultura, especialmente quanto à utilização do cultivo protegido, substratos e condicionalidades de solo, fertirrigação, entre outros aspectos. Costuma, inclusive, ser apontada como o segmento mais dinâmico da horticultura e, nesse sentido, indutora de mudanças, com reflexos importantes sobre o cultivo comercial de hortaliças (Junqueira, 2008). Mesmo em flores e plantas tipicamente de produção em larga escala, onde a margem de lucro por unidade é reduzida, muitos pequenos produtores agregam a melhor administração da mão-de-obra, a comercialização direta, o menor custo de transporte e o 4 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural atendimento personalizado ao varejista, tornando o cultivo rentável a baixa escala. Isto, porém, só é possível se a tecnologia de produção for adequada para a obtenção de um produto de alta qualidade (Gruszynski, 2002). Para entrar no mercado mundial de flores, o Brasil enfrenta produtores tradicionais e poderosos. O país que mais exporta flores é a Holanda, seguido pela Colômbia. Equador, Peru, Itália, Costa Rica, Chile, México, Dinamarca, Israel, Quênia, África do Sul e Austrália são os outros que se destacam. Em 2002 o Brasil movimentava neste mercado entre US$ 1,00 e US$ 1,20 bilhão, como resultado de um crescimento geométrico anual de 6,26% nos últimos anos (SEBRAE, 2002). Ao longo dos últimos anos a floricultura empresarial brasileira vem adquirindo notável desenvolvimento e se caracteriza já como um dos mais promissores segmentos da horticultura intensiva dos agronegócios nacionais. O Brasil caminha, decisivamente, para a implantação de um modelo de qualidade internacional de gestão e de governança de sua Cadeia Produtiva de Flores e Plantas Ornamentais. Nesse novo panorama estão sendo geradas inúmeras novas oportunidades de negócios e de inserção comercial competitiva, eficiente e sustentável para os pólos emergentes de produção distribuídos por todo o País (Junqueira, 2008). 5 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Inicialmente concentrada no Estado de São Paulo, a produção brasileira de flores e plantas ornamentais tem se expandido para todo o país, com cultivos nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará e o Norte do país. A tabela 1 apresenta a distribuição de produção de flores no Brasil, apresentando número de produtores, área cultivada e vendas por região e Estados em 1999 (apud Rebouças, 2009). A referida tabela revela a enorme diferença do Estado de São Paulo e relação as demais regiões do páis, no que tange a número de produtores, área cultivada e vendas. O referido estado atende a mais de 70% da área plantada e a produção no Brasil. A região Nordeste do país, onde Gravatá está situado, responde a menos de 2% da área plantada e da produção no país. Tais diferenças poderiam ser explicadas a partir de inúmeros olhares do problema, tal exercício será feito em seguida. 2.1 O perfil do setor rural É importante ressaltar que o mercado de flores tanto em âmbito mundial quanto em âmbito nacional e regional, caracteriza-se por estar incluído no perfil do setor rural, sendo assim torna-se vulnerável a todas as adversidades inerentes ao setor. Mesmo com o surgimento e utilização de novos recursos e avanços tecnológicos próprios dos setor, para melhorar e tornar contínua a produção agrícola, peculiaridades como relevo heterogêneo, condicionamento biológico e, principalmente, a dependência climática conferem características que distinguem o setor rural dos demais setores econômicos. Por estar tão intimamente ligado às plantas, o traço dominante do setor rural é sua profunda dependência das condições de clima, pois estas interferem diretamente no mecanismo da fotossíntese, através do qual os vegetais conseguem captar radiação solar e produzir seus próprios alimentos. Assim, ao contrário de outros setores cujos processos de produção podem ser iniciados, alterados e mesmo interrompidos a qualquer momento, a produção agrícola apenas ocorre em estações específicas do ano, subordinando-se aos ciclos climáticos e biológicos e sujeitando-se, como um jogo, ao ritmo protetor, quando não desconcertante, das forças da natureza (Accarini, 1987). Outra característica marcante do setor rural é a utilização do fator terra, até a década de 1970 a maior parte do crescimento agrícola no Brasil ocorreu na margem extensiva, isto é, mais terra foi usada para o cultivo. Pode-se dividir a área cultivada do Brasil em dois subsetores: moderno e tradicional, em que o primeiro foi beneficiado pela modernização agrícola e o segundo é formado por produtos não afetados pela modernização. No período de 1970-89 os aumentos de produção nos setores agrícolas 6 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural modernos foram muitas vezes maiores do que os aumentos de área, enquanto ocorria o oposto nos setores tradicionais. Percebe-se assim, a importância que deve ser destacada para a tecnologia utilizada no setor agrícola como um todo, e como o aumento de produção é influenciado pela utilização de tecnologias mais modernas (Werner Baer, 1996). No mercado de flores e plantas ornamentais não é diferente, esta produção exige, além do clima favorável, a utilização de alta tecnologia para que a produção seja de excelente qualidade, lembrando que o que atrai nas flores é principalmente a beleza. “A floricultura exige um cuidado especial, pois é extremamente necessário que as flores cheguem sempre belas ao consumidor final, como se tivessem sido colhidas naquela hora. Os principais cuidados dentro do segmento são a higiene, o bom equilíbrio nutricional das plantas, clima favorável, além da temperatura ideal, a umidade relativa, a luminosidade mais adequada e boa ventilação. Outro cuidado essencial é o manejo de pragas e doenças, principalmente o controle de ácaros rajados e tripés, no caso de insetos e o Botritys, no que se refere às doenças. O ideal é sempre trabalhar com índice zero de pragas e doenças” (Portal do Agronegócio, 2009). Tais peculiaridades condicionam as decisões e iniciativas tomadas pelo produtor desde o instante em que escolhe o local, o que, quanto e como produzir, até o momento em que decide como e quando comercializar sua produção. Além disso, desdobram-se em implicações econômicas sobre as atividades conduzidas pelo homem do campo, chegando a influenciar suas relações sociais, atitudes, expectativas, valores, motivações, incertezas e, enfim, seu perfil psicossocial que em muito difere do homem urbano (Accarini, 1987). Regionalizando a produção nacional de flores, comparamos a produção realizada em Pernambuco e em São Paulo, analisando em Pernambuco o município de Gravatá e em São Paulo o município de Holambra, vê-se a importância que estes municípios ocupam em seus respectivos estados e o destaque que a cidade de Holambra apresenta a nível nacional. 2.2 Holambra e Gravatá: origens Holambra conquistou o título de “Cidade das Flores” graças ao trabalho e persistência dos pioneiros holandeses que se instalaram na antiga Fazenda Ribeirão após o final da Segunda Grande Guerra. Na cidade, enquanto se adaptavam ao novo modo de vida, iniciaram o plantio de gladíolos, dando início ao cultivo e comercialização de flores e plantas, com base no sistema cooperativista. A partir da década de 1960, as flores e plantas surgiram como uma opção rentável para os imigrantes holandeses radicados na antiga Fazenda Ribeirão, passando a ocupar lugar de destaque entre os produtores que forneciam à Cooperativa Agropecuária Holambra (CAPH). 7 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A floricultura é uma das principais atividades de Gravatá. O município é uma dos principais produtores de flores temperadas do Nordeste. Sua crescente produção vem conquistando mercados cada vez mais distantes. A floricultura começou a desenvolver-se no município há 30 anos e a atividade tem passado entre gerações. O município, entretanto, enfrenta as dificuldades inerentes de uma região pobre, como é a região nordestina e gargalos na produção que deprimem a competitividade dos produtores desse município. 3. Semelhanças e disparidades entre os municípios Analisa-se aqui as principais semelhanças e disparidades entre alguns segmentos que fazem parte da produção de flores e plantas ornamentais nos municípios de Holambra e Gravatá, comparando-os para que se possa perceber como se comporta este mercado em duas regiões naturalmente distintas e de diferentes planejamentos políticos e econômicos. 3.1 Recursos naturais Vale ressaltar a importância que os recursos naturais representam para a produção de flores e plantas ornamentais, as condições de clima, solo, influenciam de maneira siginificativa, como em poucas outras atividades agrícolas, na qualidade e na produtividade, assim como, na perecibilidade dos produtos. 3.1.1 Clima No mercado de produção de flores e plantas ornamentais, no que se refere a Gravatá e Holambra, caracteriza-se pela produção de flores de clima temperado e isto se justifica pelas semelhanças entre suas localizações geográficas e clima. Gravatá está localizada na região Agreste do Estado de Pernambuco numa altitude de aproximadamente 540 metros acima do nível do mar, possuindo um clima de tipo temperado e espaço geográfico favorável, a temperatura apresenta uma variação entre 10ºC e 15ºC durante a noite. 8 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Holambra por sua vez está situada numa altitude de aproximadamente 600 metros em relação ao nível do mar com temperaturas que variam entre 5ºC e 35ºC, além de que seus produtores percebendo a vantagem de se produzir em climas mais frios, levam seus cultivos para as partes mais altas do município tornando propícia a produção de flores temperadas de melhor qualidade. 3.2. Mercado O mercado de flores de um modo geral vem apresentando um constante crescimento nos últimos anos, se caracterizando como um importante setor que vem ganhando destaque nacionalmente. No município de Gravatá o mercado é do tipo primário, pequenos produtores de flores que abastecem prioritariamente o mercado local. O município responde por cerca de 68% do número de produtores de todo o Estado, a persistência dos produtores e a convicção de que o associativismo é uma das alternativas para o crescimento do setor, levou à criação da Floragreste – Cooperativa de Flores do Estado de Pernambuco. Em Holambra, além de mais de 300 produtores, o município é responsável por aproximadamente 40% da comercialização nacional do setor, além disso, estão estabelecidos na região os maiores atacadistas e distribuidores de flores do país. Lá se encontram as principais empresas de mudas, bulbos e sementes. 3.2.1. Preço Gravatá segue uma tendência que vem ocorrendo no mercado de flores de Pernambuco. Apesar da experiência e de ser uma atividade profissional na região do Agreste, onde inúmeras famílias vivem exclusivamente disso, está em curso uma rápida transformação do perfil de produtos e produtores. A evolução das tecnologias de produção, o aparecimento de novas espécies com custo de produção maior, e a necessidade de um melhor preparo gerencial dos produtores, tem arrastado um grande número de floriculturas para uma zona marginal do mercado, onde as espécies cultivadas não têm muito valor comercial (SEBRAE, 2002). Diferentemente da produção industrial a oscilação do preço da produção de flores depende principalmente da estacionalidade da produção, clima, da tecnologia utilizada. Em 9 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Gravatá há grande variação principalmente por falta dos escassos recursos tecnológicos utilizados e o cultivo em campo aberto por parte dos pequenos produtores tornando o preço da produção totalmente vulnerável as incertezas sazonais produção. Há também mudança no preço quanto aos custos de instalação, mão-de-obra, fertilizantes, embalagens que variam de espécie para espécie. Com o aumento da produção de flores e plantas, a Cooperativa Agropecuária de Holambra instalou, em 1989, o Veiling Holambra, um sistema de leilão holandês que utiliza o pregão e em que a oferta e procura determinam a formação de preços. Assim, o comércio de flores e plantas acabou por ganhar autonomia em relação à Cooperativa e, em cinco anos se transformou no carro chefe da economia da cidade. Com isto, os produtores de Holambra podem vender ao mercado externo produtos variados, de excelente qualidade e com preços competitivos. 3.2.2. Remunerações A produção de flores e plantas ornamentais no município de Holambra é caracterizada pela utilização de tecnologias avançadas, infra-estrutura de qualidade e comercialização muito bem estruturada através, principalmente, do sistema de Veiling. Para que isto seja possível faz-se necessário o uso de mão-de-obra qualificada e especializada, diferenciando este setor de outros setores agrícolas, fazendo com que os salários adotados sejam também diferenciados e num patamar acima dos valores percebidos no setor rural como um todo. Apesar de ter importância significativa, a produção de Gravatá só se desenvolveu e se formalizou para alguns produtores, para outros a forma de organizar sua produção continuou a ser mantida em unidades familiares que vivem exclusivamente disso, onde não há diferenciação entre empregado e dono dos meios de capital. Além do fator desta produção ser sazonal, o que faz gerar um alto contingente de empregos temporários, dificultando a precisão do valor médio do salário pago por esta atividade, a estimativa é que a mão-de-obra formada tanto por homens quanto por mulheres recebam, ou por hora trabalhada ou salário mínimo. 3.3. Fatores de produção: terra e mão de obra Uma das principais características da produção de flores e plantas ornamentais é a de constituir-se em atividade típica de pequenos produtores. Embora seja difícil precisar os números que envolvem a produção de flores e plantas ornamentais no Brasil, em virtude da inconsistência das informações disponíveis, as estimativas são que a área envolvida nessa atividade, em 1999, era de aproximadamente 4.900 hectares, sendo que desse total, menos de 26% refere-se a cultivos em estufas, 3% cultivos em telas, sendo a maior parte da 10 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural produção, 71%, realizada a céu aberto. Mesmo constituído por pequenas propriedades, o setor gera para os produtores um faturamento estimado em 322,3 milhões de reais/ano, sendo que 74,5% correspondem à produção de São Paulo (Aprendendo a exportar, 2009). A produção de flores em Holambra se divide em pequenas áreas de cultivo, não se utiliza uma margem extensiva de terras, esta é uma característica do setor produtivo de flores e plantas ornamentais. O cultivo se desenvolveu principalmente nas propriedades de 10 a 50 hectares, caracterizando o aumento de produção por meio das inovações tecnológicas ao invés do uso de grandes extensões de terras. O município de Gravatá responde por cerca de 68% do número de produtores do Estado, possuindo área total de 653 ha sendo 108 ha de área cultivada, podendo ainda expandir sua produção. Isso representa 59% da área total utilizada para o cultivo de floricultura em Pernambuco, o que torna o município de maior área cultivada no Estado (SEBRAE, 2002). A atividade já mobiliza no país aproximadamente 4 mil produtores numa área de 5,5 mil hectares, gerando em torno de 120 mil empregos. Grande parte dessa produção é desenvolvida por pequenos produtores, atraídos pela expressiva rentabilidade e alta taxa de empregos gerados por unidade de área do setor. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estima que a atividade emprega entre 15 e 20 trabalhadores por hectare, gerando uma renda de R$ 50 mil a R$ 100 mil, enquanto a mesma área de fruticultura abre cinco postos de trabalho e um retorno de R$ 25 mil (EMBRAPA, 2009). Holambra se destaca por sua produção de alta qualidade e competitividade para que possa atuar no mercado externo, e o que torna isto possível é a utilização de mão-de-obra treinada e qualificada diferenciando este setor dos demais setores da agricultura, onde predomina mão-de-obra barata e desqualificada. Em Gravatá é escassa a oferta de mão-de-obra qualificada sendo formada por homens e mulheres, mas em sua maioria a condução da produção é responsabilidade do produtor. 3.4. Infra-estrutura O produtor ao longo do tempo se convenceu da necessidade da adoção de tecnologias mais adaptadas as condições dos solos e climas brasileiras e dentre as tecnologias empregadas a irrigação destaca-se como uma das mais importantes. É destacável que os produtores que passaram a utilizar irrigação em sua produção aumentam suas receitas, Holambra tem destaque com 623ha de área irrigada com uso de alta tecnologia como a irrigação por gotejamento que é totalmente controlada por um 11 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural computador, o que implica em economia para a empresa, devido ao uso racional de água e adubo. Enquanto que Gravatá fica entre a escala de 10 a 99ha de área irrigada sem muita tecnologia (SEBRAE, 1995-1996). Com relação ao uso de tratores e outras máquinas, este uso constitui uma inegável vantagem tecnológica, tanto por contribuir para o rendimento do trabalho, também por proporcionar aumento das áreas cultivadas e da produção em escala. No que diz respeito às flores, os caminhões refrigerados são muito importantes na distribuição do produto, devido a sua perecibilidade. Em Holambra as flores são colhidas pelos produtores, selecionadas e embaladas de acordo com especificações da cooperativa. Embaladas, as flores aguardam o transporte para a cooperativa nas câmaras frias que cada produtor mantém em seus sítios. O processo de embalagem tem que preservar e proteger os produtos de qualquer estrago e risco a que ficará exposto durante a estocagem, transporte e distribuição. É necessário manter sob controle a temperatura entre 0 e 15 graus centígrados, umidade, luz, volume de água, entre outros. No mesmo dia em que são colhidas e embaladas, as flores que terão como destino o mercado externo são recolhidas por um caminhão frigorífico, e transportados até a cooperativa. De acordo com dados do SEBRAE, 1995-1996, dos municípios brasileiros em que os estabelecimentos declaravam a posse de caminhão, em Holambra o uso é de 100 ou mais. Do caminhão, as flores vão direto para a câmara fria instalada na Cooperativa Veiling. A cooperativa exporta apenas as flores de corte, que são cortadas pela manhã, tratadas, embaladas e coletadas para a cooperativa no mesmo dia, sendo levadas para o aeroporto no dia seguinte pela manhã. Em Gravatá dentre os pequenos produtores, de um modo geral, são eles mesmos responsáveis pela colheita, realizando-a um dia antes da venda e armazenando-as sem nenhum cuidado especial. Depois, separam os maços em quantidades fora do padrão, embalando-os em papéis inadequados para vendas. Antes de condicioná-las para transporte, molham as flores como forma de rejuvenescê-las e em seus carros particulares ou coletivos as levam para CEASA/PE empilhadas de forma irregular e desorganizadas, embaixo de lonas que desidratam. Em Gravatá 48,3% dos produtores utilizam seus carros para levar sua produção, 41,4% fretam e 10,3% transportam coletivamente (Medeiros e Manoel, 2006). Porém em contrapartida os produtores com maior representatividade contabilizaram a posse de 1 a 4 caminhões nos estabelecimentos (SEBRAE, 1995-1996). 3.5. Produtividade Holambra cresce muito a cada ano, por todos os recursos que são utilizados em sua produção de flores faz o município vislumbrar sempre perspectivas positivas para o futuro. 12 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Sendo hoje o maior produtor de flores e plantas ornamentais do Brasil, a alta tecnologia implantada na produção, que inclui o uso de estufas climatizadas e câmaras frigoríficas, age diretamente no aumento da produtividade e da qualidade das flores aqui produzidas. Apesar de haver algumas ineficiências relevantes na produção de Gravatá, esse setor vem crescendo, tornando-se representativo não apenas na composição do PIB do município, mas tornando-se destaque na região de Pernambuco. Essa desenvoltura tem atraído mesmo que lentamente o interesse de pessoas dispostas a entrar no ramo. O município sofre ainda com os gargalos e a baixa eficiência produtiva. 3.6. Políticas públicas Para que se possa manter o desenvolvimento no setor e aumentar o crescimento do agronegócio de flores e plantas ornamentais, faz-se necessário a adoção de políticas públicas voltadas para o setor. Em Holambra são realizadas oficinas para capacitação dos produtores de flores da região, além de incentivo e promoção do turismo através de eventos que reúnem pessoas de todo o Brasil como, por exemplo, a EXPOFLORA. Segundo informações de próprios produtores locais de Gravatá a falta de incentivos públicos em todas as partes do processo produtivo, desde plantio até comercialização, tem dificultado a expansão da produção, pois além de não haver um apoio aos produtores já existentes dificulta a entrada de novos produtores no ramo. Além das altas cargas tributárias e o cumprimento de uma legislação rigorosa nos quesitos ambientais e de saúde, também elevam os custos finais. É importante observar o que vem ocorrendo no Rio Grande do Sul, onde uma parceria entre o SEBRAE/RS, a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), desenvolveu um programa onde produtores de flores de uma região realizam visitas técnicas a produtores de outra região com o objetivo de trocar experiências integrando a cadeia produtiva do setor e até mesmo criando oportunidades de novos negócios. Além de que o programa disponibiliza capacitações rurais que buscam promover o desenvolvimento, conhecimento, habilidades e valores empresariais daqueles que participam do projeto. Inciativas como estas podem ser importantes na consolidação de clusters e devem servir de exemplo para futuras parcerias na região de Gravatá 3.7. Investimentos 13 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Como em qualquer setor da economia, no mercado de produção de flores e plantas ornamentais faz-se necessário investimentos para que seja possível o aumento da produção, qualidade dos produtos ofertados e diversidade dos mesmos para abranger diferentes perfis de consumo. Em Holambra, o investimento em novas formas de comercialização como a implantação do Veiling, um sistema de comercialização através dos leilões, fez com que a produção aumentasse e se expandisse, inclusive para o mercado externo, tornando Holambra reconhecida nacionalmente como Cidade das Flores e tivesse seu nome incluso no mercado mundial de flores. Em Gravatá alguns dos principais problemas na produção de flores e mudas, sadias e isentas de pragas, é a falta de um programa de incentivo a produção e a falta de mão-deobra qualificada, que pudesse atender às demandas decorrentes de um cultivo que necessita de cuidados constantes, e especializada para produção de mudas. (Medeiros e Manoel, 2006). 3.7.1. Tecnologia Avanços tecnológicos têm sido os principais responsáveis pela diversificação e melhora na qualidade da produção de flores no Brasil. A partir da introdução de novas tecnologias e práticas de manejo, foi possível aumentar o número de espécies cultivadas e modificar as que já eram produzidas no país. A mudança no padrão tecnológico devido ao investimento em pesquisa, realizado principalmente pela EMBRAPA, tem contribuído significativamente para expansão da floricultura. Em Holambra, técnicas especiais de plantio e cultivo, como a produção em estufas climatizadas, trazidas diretamente da Holanda, foram determinantes para que a produção local de flores e plantas atingisse níveis de qualidade altíssimos, semelhantes ao europeu, e conquistasse definitivamente todo o mercado brasileiro. Surgiram também laboratórios para propagação “in vitro” das principais espécies cultivadas em Holambra e as principais empresas de material genético do mundo tem alguma parceria ou representação comercial na cidade. O crescimento da utilização de tecnologias em Gravatá apesar de lento vem melhorando, mas são vários os fatores que ainda retardam essa expansão, estes vão desde a falta de incentivo público ao desenvolvimento de pesquisas e a ausência de qualificação da mão-de-obra até a resistência à inovação por parte de alguns produtores. Para estes é 14 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural necessário a comprovação empírica da eficiência da tecnologia aplicada, gerando assim um atraso natural no desenvolvimento do setor. 4. Considerações finais Constatou-se que o mercado mundial de flores e plantas ornamentais vem realmente apresentando resultados significativos para a economia do setor agrícola. Observamos em âmbito nacional que o crescimento de tal mercado vem acompanhando as tendências de desenvolvimento da produção externa tentando expandir o mercado para novos pólos produtivos, visando à redução de custos e à utilização eficaz dos recursos disponíveis. Verifica-se a existência de condições extremamente favoráveis para a implementação do setor produtivo de flores e plantas no cenário nacional. Pode-se perceber que mesmo com as diferenças apontadas entre Holambra e Gravatá, os dois municípios são importantíssimos para as economias de suas regiões. As análises feitas mostraram ser semelhantes na produção, tornando possível comparar os dois pólos, enquanto que questões ligadas a tecnologia, políticas públicas, transporte e mão de obra demonstraram disparidades que fazem com que Holambra se destaque na produção. Além disso, a heterogeneidade, ou seja, existência de produtores com técnicas mais qualificadas em detrimento de produtores com técnicas mais rudimentares, verificada na produção em gravatá, dificulta a adesão de forma homogênea de técnicas mais especializadas que possibilite o avanço produtivo do setor. Alguns fatores fazem com que Holambra alcance um destaque nacional e mundial, enquanto que Gravatá por enquanto apresenta destaque em nível regional e vem conquistando de forma gradual o espaço no mercado nacional; o investimento realizado no setor, a organização do mercado em cooperativas e o sistema de Veiling, e principalmente a tecnologia aplicada qualifica o município de Holambra como o principal produtor de flores e plantas ornamentais do Brasil. Apesar das disparidades que apontamos e de apresentar uma pequena produção em relação à Holambra, Gravatá vem se destacando na produção nos últimos anos e está no caminho correto do desenvolvimento, aprimorando as técnicas produtivas e buscando ocupar um lugar de maior destaque no cenário nacional. Por fim, observa-se que as disparidades observadas entre esses dois municípios, inibem pensar em Gravatá como a Holambra do Nordeste. Tais desigualdades deveriam servir como combustível motivacional dos police makers no intuito de se aumentar os incentivos a uma busca de excelência para esta importante região pernambucana. 15 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural BIBLIOGRAFIA Accarini, J. Honório. Economia rural e desenvolvimento, 1987. Aprendendo a exportar, série. Disponível em: www.aprendendoaexportar.gov.br. Último acesso em 18/06/2009. Baer, Werner. A economia brasileira, 1996. Embrapa, 2009. Disponível em: www.emprapa.gov.br. Último acesso em 18/06/2009. Gruszynski, Cirilo. O negócio da floricultura, 2002. www.cultivodeflores.com.br. Último acesso em 18/06/2009. Disponível em: Junkeira, Antônio e Peetz Márcia. Mercado interno para os produtos da floricultura brasileira, 2008. Disponível em: www.hortica.com.br. Último acesso em 18/06/2009. Medeiros e Manoel, 2006. Estudo da cadeia produtiva de flores: município de Gravatá. 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