ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302 Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al. Avaliação do nível de estresse de doentes… ARTIGO ORIGINAL AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ESTRESSE DE DOENTES RENAIS CRÔNICOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO EVALUATION OF THE STRESS LEVEL OF CHRONIC KIDNEY DISEASE PATIENTS UNDERGOING HEMODIALYSIS TREATMENT EVALUACIÓN DEL NIVEL DE ESTRÉS DE ENFERMOS RENALES CRÓNICOS EN TRATAMIENTO HEMODIALÍTICO Eliane Santos Cavalcante1, Richardson Augusto Rosendo da Silva2, Ana Elza Oliveira de Mendonça3, Mayara Mirna do Nascimento Costa4, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda5 RESUMO Objetivo: avaliar os níveis de estresse em pacientes renais crônicos submetidos a tratamento hemodialítico. Método: estudo descritivo, exploratório, quantitativo, com amostra de 104 pacientes, atendidos no setor de hemodiálise de uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN/Brasil, de agosto a outubro de 2010. Foi aplicado o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (2000) e os dados foram analisados pela estatística descritiva, depois de o projeto de pesquisa ter sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob nº CAAE 0066.0.051.294-09. Resultados: 75% da amostra apresentaram estresse, 56,4% encontravam-se na fase de quase-exaustão, 20,5% com sintomas de exaustão, 14,1% na fase a de resistência e 9,0 % na fase de alerta. Conclusão: constatou-se por meio do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) que a maioria dos pacientes apresentou estresse e se encontravam na fase de quase-exaustão. Descritores: Unidades Hospitalares de Hemodiálise; Estresse Psicológico; Cuidados de Enfermagem; Qualidade da Assistência à Saúde. ABSTRACT Objective: to evaluate the stress levels in chronic kidney disease patients undergoing hemodialysis treatment. Method: this is a descriptive, exploratory and quantitative study, with a sample of 104 patients treated at the hemodialysis sector of a Hemodialysis Clinic in the city Natal/RN/Brazil, from August to October 2010. We have applied the Lipp’s Inventory of Stress Symptoms for the Adults (2000) and data were analyzed by means of descriptive statistics, after the research project has been approved by the Ethics Research Committee, under CAAE nº 0066.0.051.294-09. Results: 75% of the sample had stress, 56.4% were in the near-exhaustion phase, 20.5% with symptoms of exhaustion, 14.1% in the resistance phase and 9.0% in the warning phase. Conclusion: it was found by the Lipp’s Inventory of Stress Symptoms for the Adults (ISSL) that most patients had stress and were in the near-exhaustion phase. Descriptors: Hemodialysis Hospital Units; Psychological Stress; Nursing Care; Health Care Quality. RESUMEN Objetivo: evaluar los niveles de estrés en pacientes renales crónicos sometidos a tratamiento hemodialítico. Método: estudio descriptivo, exploratorio, cuantitativo, en universo de 104 pacientes, atendidos en el sector de hemodiálisis de una Clínica de Hemodiálisis en Natal (RN, Brasil) entre agosto y octubre de 2010. Se aplicó el Inventario de Síntomas de Estrés para Adultos de Lipp (2000). Los datos se analizaron mediante estadística descriptiva, tras aprobación del proyecto de investigación por el Comité de Ética en Investigación bajo protocolo CAAE 0066.0.051.294-09. Resultados: 75% de los sujetos analizados presentó estrés, 56,4% se encontraba en fase de casi agotamiento, 20,5% con síntomas de Agotamiento, 14.1% en la fase a de resistencia y 9,0% en la fase de alerta. Conclusión: se constató por medio del Inventario de Estrés para Adultos de Lipp (ISSL) que la mayoría de los pacientes presentó estrés y se encontraba en la fase de casi agotamiento. Descriptores: Unidades Hospitalarias de Hemodiálisis; Estrés Psicológico; Cuidados de Enfermería; Calidad de Asistencia a la Salud. 1 Enfermeira, Professora Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/PPGENF/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeiro, Professor Doutor, Graduação/Programa de PósGraduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/PPGENF/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 3Enfermeira, Professora Doutoranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Acadêmica, Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeiro, Professor Doutor, Graduação/Programa de PósGraduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/PPENF/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected] Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013 1264 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302 Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al. INTRODUÇÃO A doença renal crônica (DRC) constitui um importante problema de saúde pública no Brasil. Estudo demonstrou que a prevalência de pacientes mantidos em programas assistenciais destinados ao controle e tratamento de IRC praticamente dobrou nos últimos anos.1 Nesse sentido, entre 2000 e 2006, o crescimento do número de pacientes em diálise foi cerca de 9%, sendo o Sistema Único de Saúde (SUS) responsável por 89% do financiamento desse tratamento.2 Estima-se que cerca de dois milhões de brasileiros sofram de doenças renais sem ter conhecimento de sua condição, fato este atribuído, em parte, à evolução silenciosa e assintomática dessas enfermidades até que os rins percam aproximadamente 50% de sua capacidade funcional.2 Sabe-se que a depuração ou filtração do sangue no paciente renal pode ser obtida por meio das terapias renais substitutivas, como hemodiálise e diálise peritoneal ou por um transplante renal.3 Rotineiramente, os pacientes em tratamento hemodialítico permanecem em média 40 horas mensais na unidade de hemodiálise, os quais enfrentam inicialmente a difícil aceitação da doença, associados aos sentimentos de tristeza, raiva, agressividade e hostilidade e, posteriormente, desgaste físico e estresse emocional relacionados às limitações impostas pelas condições da cronicidade da doença e a dependência do tratamento doloroso de duração e consequências incertas.4 Assim, a condição crônica e o tratamento hemodialítico se constituem como fontes de estresse e apresentam consequências, tais como: isolamento social, perda da capacidade laboral, dependência da Previdência Social, impossibilidade parcial de locomoção e lazer, diminuição da atividade física, necessidade de adaptação, perda da autonomia, alterações da imagem corporal e, ainda, um sentimento ambíguo entre o medo de viver e morrer.5 Nesse sentido, o estresse emerge de forma processual em três etapas que se diferenciam pela sintomatologia. Na primeira, o organismo tem uma excitação de agressão ou de fuga ao estressor, que pode ser entendida como um comportamento de adaptação. Na segunda, entendida como a fase de alerta, o organismo altera seus parâmetros de normalidade e concentra a reação interna em um determinado órgão-alvo, desencadeando a Síndrome de Adaptação Local (SAL), com manifestação de sintomas da esfera Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013 Avaliação do nível de estresse de doentes… psicossocial, tais como: ansiedade, medo, isolamento social, oscilação do apetite e impotência sexual.6-7 Na terceira, o indivíduo encontra-se na fase de quase-exaustão, caracterizada por um enfraquecimento da pessoa, a qual não consegue adaptar-se ou resistir ao estressor.8 Por fim, ocorre a exaustão e o organismo encontra-se extenuado pelo excesso de atividades e pelo alto consumo de energia, ocorrendo a falência do órgão mobilizado na SAL, a qual se manifesta sob a forma de doenças orgânicas.6 Nesse contexto, a assistência de enfermagem no cuidado ao paciente em hemodiálise requer do profissional habilidades técnicas e o desenvolvimento de competências voltadas ao atendimento integral do usuário e família, bem como sua adaptação, atentando para as transformações exigidas pelo tratamento e condição crônica.9 Frente ao exposto e a vivência profissional dos autores nessa área, objetivou-se no presente estudo, avaliar os níveis de estresse apresentados por pacientes renais crônicos submetidos a tratamento hemodialítico em uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN. MÉTODO Estudo exploratório-descritivo, com abordagem quantitativa, realizado no Instituto do Rim em Natal/RN, que se trata de uma clínica destinada ao tratamento de Doenças Renais e conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Para a coleta dos dados, utilizou-se um roteiro de entrevista estruturado com questões para caracterização sociodemográfica e relacionadas ao tratamento hemodialítico. Além disso, aplicou-se o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (2000), composto por uma lista de sintomas físicos e psicológicos agrupados em três quadros, cada quadro correspondendo a uma das fases do Estresse. Esse inventário avalia a presença de stress, a fase do stress (alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão) e o tipo de sintoma mais frequente (físico ou 11 psicológico). Utilizou-se como critérios de inclusão: pacientes atendidos no setor de hemodiálise no período de agosto a outubro de 2010, de ambos os sexos, maiores de 18 anos de idade e que aceitaram participar da pesquisa como voluntários por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Da população de 109 usuários atendidos no setor de hemodiálise no período no período de 1265 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302 Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al. agosto a outubro de 2010, cinco se recusaram a participar do estudo, sendo a amostra composta por 104 pacientes. Analisaram-se os resultados por meio da estatística descritiva, sendo apresentados em tabelas com frequências e percentuais depois que o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (CEP-HUOL) sob CAAE nº 0066.0.051.294-09 e protocolo nº 322/2009, de acordo com as diretrizes da Resolução 196/96 e complementares do Conselho Nacional de Saúde.10 RESULTADOS A amostra foi composta por 104 pacientes em tratamento de hemodiálise, sendo 53,8% pertencente ao sexo masculino e 46,2% ao sexo feminino. A faixa etária variou de 21 à 62 anos. Em relação à escolaridade, cerca de 60% possuíam o Ensino Fundamental incompleto, 25% o Ensino Médio completo, 10% analfabetos e 5% com Ensino Superior Avaliação do nível de estresse de doentes… incompleto. O estado civil predominante desta população foi o dos casados (52,8%), seguidos por solteiros (27,2%) e separados (20%). Quanto à ocupação, 65% dos pacientes eram aposentados, 25% trabalhavam como autônomos e 10% nunca possuíram qualquer tipo de profissão. Em relação ao rendimento, a renda familiar correspondeu a um salário mínimo em 35% da amostra e em 65% correspondeu a uma faixa de 2 a 3 salários mínimos. No que diz respeito ao tempo de tratamento, 4% dos pacientes iniciaram a hemodiálise há menos de um ano, 6% de um a dois anos, 8% de três a quatro anos, 29% de cinco a seis anos e 53% há mais de sete anos. Na análise dos dados obtidos pelo Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), a maioria dos pacientes (75%) apresentaram estresse e 25% não indicaram sintomas estressantes significativos, conforme demonstra a tabela 1: Tabela 1. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de Hemodiálise, segundo a presença de estresse. Natal/RN, 2010. (n=104) Presença de Estresse Sim Não Total n 78 26 104 % 75,0 25,0 100,0 Fonte: Dados da pesquisa Dos 78 pacientes que apresentavam estresse, 9,0 % encontravam-se na primeira fase, ou seja, a fase de alerta; 14,1% na segunda fase, a de resistência; 56,4% na quase-exaustão e 20,5 % já com sintomas de exaustão, conforme apresenta a tabela 2. Tabela 2. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de Hemodiálise, segundo a fase de estresse. Natal/RN, 2010. (n=104) Fases do Estresse Alerta Resistência Quase-Exaustão Exaustão Total n 7 11 44 16 78 % 9,0 14,1 56,4 20,5 100,0 Fonte: Dados da pesquisa Em relação aos fatores que dificultam o tratamento de hemodiálise, identificou-se que 58% informaram ser à distância de suas residências para a clínica de hemodiálise, 32% referiram o fato de não ter entretenimento durante o período de hemodiálise e 10% afirmaram não poder conciliar a hemodiálise com o trabalho secular. No que se refere à causa do estresse durante o tratamento, 36% apontaram as quatro horas exigidas para o tratamento de hemodiálise, 24% referiram-se à punção mais de uma vez para a introdução do cateter, 28% querer ir embora e não poder e 12% por não identificarem melhora no quadro da doença Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013 após a seção de hemodiálise. Quanto aos sentimentos manifestados no transcurso da hemodiálise, 38% informaram a vontade de abandonar o tratamento, 37% sentiam-se tristes por estarem submissos a um tratamento contínuo, 13% tinham medo de morrer conectados à maquina e 12% sentiam alegria por estarem vivas. DISCUSSÃO A partir do momento que a pessoa se depara com a realidade da doença crônica, as atividades cotidianas são comprometidas e as debilidades físicas provocam mudanças significativas, levando a pessoa a tornar-se dependente do tratamento e desencadeando 1266 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302 Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al. Avaliação do nível de estresse de doentes… situações de estresse em seu cotidiano.12 em que a pessoa não mais consegue adaptarse ou resistir ao estressor, podendo começar o aparecimento de doenças devido ao enfraquecimento do organismo. Nesse sentido, o tratamento da doença renal crônica altera a rotina diária do enfermo, pois não se restringe apenas à hemodiálise, mas inclui uma série de cuidados na alimentação, restrição de ingestão hídrica, além das repercussões psicológicas pela realização periódica das sessões de hemodiálise.13 No que diz respeito a principal consequência advinda com o tratamento hemodialítico, a maioria da amostra estudada ressaltou o fato de estar impedida de trabalhar. As mudanças nos hábitos de vida e a necessidade de deixar de fazer o que proporciona prazer pela vida são ressaltadas pelos pacientes como dificuldades decorrentes da doença. Dentre as mudanças, destacam a impossibilidade de trabalhar como algo que intimida e marginaliza. Além da falta de realização pessoal, ocasionada pela privação do trabalho, as dificuldades financeiras decorrentes preocupam 12 sobremaneira essas pessoas. Em relação aos fatores que dificultam o tratamento de hemodiálise, identificou-se que a maioria relatou ser à distância de sua residência para a clínica de hemodiálise, isso é destacado na literatura como desencadeante de estresse, bem como é apresentado como um fator que apresenta ligação direta com a adesão ao tratamento hemodialítico e qualidade de vida do paciente.14 Os pacientes relataram dificuldades em relação à necessidade de se deslocarem para outra cidade para realizarem as sessões de hemodiálise. Se por um lado, a hemodiálise lhe permite uma ilusão de independência diante da doença durante o tempo entre uma sessão de diálise e outra, por outro lado, no momento em que o paciente está “ligado” à máquina, as limitações da doença e sua dependência do aparelho aparecem com toda a sua intensidade.12 O tratamento interfere nas atividades de vida diária (AVD), e isso muitas vezes é um grande causador de estress. Alguns apresentaram transtornos na AVD e outros no processo saúde/doença, sendo que de alguma forma todos os pacientes com IRC foram afetados na sua condição de vida durante o tratamento.14 A análise dos dados obtidos pelo Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) demonstrou que a maioria dos pacientes apresentou estresse, e desses, a maior parte estava na fase de quase-exaustão do estresse. A fase de quase-exaustão ocorre no momento Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013 É importante reconhecer que a saúde do indivíduo que convive com a DRCT não depende apenas do sucesso do tratamento hemodialítico, viabilizado pela máquina de hemodiálise, mas também das respostas que a rede de atenção em saúde pode dar ao conjunto dessas necessidades de saúde, originadas ou não na sua condição de doente renal.15 No presente estudo, a principal causa do estresse foi atribuída à longa duração da sessão de hemodiálise, cerca de quatro horas ligados a uma máquina; também foram citadas as repetidas punções, a não observância de melhora no quadro da doença e a vontade de abandonar o tratamento. Em outro estudo, evidenciou-se o medo da máquina, as frequentes solicitações para realizar procedimentos de rotina, os receios frente a possíveis efeitos colaterais do tratamento e as cobranças pela equipe de profissionais de saúde como causas de estresse. Destacando, também, algumas preocupações com relação à preservação do funcionamento das fístulas, controle hídrico, restrição alimentar; mudanças nas atividades rotineiras resultam em angústia, sofrimento, estresse, interferindo na relação cotidiana de vida.12 Devido ao tratamento para DRC, o paciente acaba tendo que sobreviver e se adaptar à sua nova condição física. Seu corpo passa a possuir cicatrizes geradas pelas fístulas, cateteres, exames e cirurgias, pele pálida e seca, manchas hemorrágicas e múltiplas.16 A mudança na imagem corporal é relatada como uma das dificuldades enfrentadas pela pessoa em tratamento de hemodiálise. A alteração da autoimagem, com a formação cirúrgica da fístula arteriovenosa ou com a inserção do cateter duplo lúmen, torna-se mais um fator a ser vivenciado, podendo ser um potencial causador de transtornos psicológicos, como o estresse.12 Muitas vezes, o excesso de medicamentos provoca alterações na vida sexual, porque o homem passa a ter dificuldades na ereção e a mulher no orgasmo. Seguir a termo a dieta oral prescrita para o paciente hemodialisado é um dos grandes desafios. A dieta especial pode necessitar de mudanças significativas nos hábitos alimentares e no padrão comportamental do paciente. Os pacientes com DRC têm suas atividades físicas diminuídas e aumentam suas necessidades de 1267 ISSN: 1981-8963 Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al. repouso, devido ao tratamento, e isso é visto como fonte de estresse.16 Estudo mostrou que as mulheres apresentaram maior número de estressores, apontando a interferência da doença no trabalho, o cansaço e o tratamento prolongado - todos estressores fisiológicos como os três mais frequentes. No grupo de homens, a limitação das atividades físicas, as mudanças na aparência física e a perda da função corporal/física foram os mais frequentes.13 Este estudo identificou repercussões do tratamento hemodialítico relacionadas ao apoio social e aos estressores vinculados à qualidade de vida do paciente renal crônico; os homens apresentam melhores índices de qualidade de vida do que as mulheres que, por sua vez, encontram-se mais estressadas. Portanto os homens têm melhores condições, uma vez que quanto maior o índice de qualidade de vida, melhores condições possui para enfrentar os estressores relacionados à doença.13 Um estudo destacou a presença da música durante a hemodiálise, e constatou-se que a terapia mostrou-se positiva quanto à alteração na percepção do tempo, favorecendo sensações de bem-estar, alegria, felicidade e relaxamento, além de representar entretenimento, mudança de rotina, ausência de sintomas, recordações positivas, companhia e redutor do estresse.17 Nota-se a importância e a mudança que a música realiza nesses pacientes, demonstrando a necessidade da implementação da terapia musical como uma estratégia no cuidado de enfermagem destinado aos pacientes em tratamento dialítico.17 O estudo está em conformidade com a literatura nacional, ao perceber-se o quanto o tempo de tratamento influencia no cotidiano dos pacientes renais crônicos, sendo gerador de estresse por acarretar grandes dificuldades para o desenvolvimento de atividades da vida diária, com reflexos em sua autoestima (o comprometimento do desenvolvimento das AVD faz com que se sintam inúteis) e prejuízo também em seu convívio social, tendo em vista que muitos necessitam se deslocar de cidades vizinhas para realizar o tratamento, passando, às vezes, o dia inteiro longe de seu lar e de seus familiares.17 Percebe-se a necessidade de a Enfermagem estar preparada para proporcionar conforto e apoio para esses pacientes, tendo em vista que o enfermeiro é o profissional que está diretamente ligado aos Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013 DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302 Avaliação do nível de estresse de doentes… cuidados a serem dispensados durante as sessões, o que o torna capaz de passar maior intimidade e confiança, se assim se dispuser.17-8 É importante destacar que os pacientes renais crônicos precisam de um atendimento humanizado e multidisciplinar, pois, a partir do momento que recebem o diagnóstico, passam a sofrer fortes tensões emocionais, sociais e físicas, geradoras de estresse.16 Investir na atenção ofertada a esses pacientes é investir na melhoria da sua qualidade de vida. O enfermeiro deve traçar metas e objetivos que possam contribuir para a diminuição de fatores estressores, como ofertar algum meio de distração durante a realização da hemodiálise, visto que foi uma dificuldade bastante citada pelos pacientes do estudo.19 CONCLUSÃO Constatou-se por meio do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) que 75% dos pacientes apresentaram estresse, sendo que 9,0 % encontravam-se na primeira fase, ou seja, a fase de alerta; 14,1% na segunda fase, a de resistência; 56,4% na quase-exaustão e 20,5 % já com sintomas de exaustão. No que se refere à causa do estresse durante o tratamento, 36% apontaram às quatro horas exigidas para o tratamento de hemodiálise, 24% a punção mais de uma vez para a introdução do cateter, 28% o desejo de querer ir embora e não poder e 12% por não identificarem melhora no quadro da doença após a seção de hemodiálise. Ressalta-se que os profissionais de enfermagem devem buscar compreender as modificações trazidas com a condição de cronicidade da doença na vida do paciente renal como intuito de promover estratégias técnicas, éticas e humanísticas capaz de minimizar os fatores relacionados ao desenvolvimento do estresse, tais como: uma escuta qualificada, acolhimento e humanização do ambiente de tratamento. Ademais, necessitam ainda oferecer aos indivíduos os esclarecimentos sobre sua enfermidade, orientações sobre prevenção de complicações, fortalecendo e favorecendo uma mudança de comportamento ajustada às limitações impostas pela doença, com vistas a uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS 1. Queiroz MVO, Dantas MCQ, Ramos IC, Jorge MSB. Tecnologia do cuidado ao paciente renal 1268 ISSN: 1981-8963 Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al. crônico: enfoque educativo-terapêutico a partir das necessidades dos sujeitos. 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