AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ESTRESSE DE DOENTES RENAIS

Propaganda
ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
Avaliação do nível de estresse de doentes…
ARTIGO ORIGINAL
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ESTRESSE DE DOENTES RENAIS CRÔNICOS EM
TRATAMENTO HEMODIALÍTICO
EVALUATION OF THE STRESS LEVEL OF CHRONIC KIDNEY DISEASE PATIENTS UNDERGOING
HEMODIALYSIS TREATMENT
EVALUACIÓN DEL NIVEL DE ESTRÉS DE ENFERMOS RENALES CRÓNICOS EN TRATAMIENTO
HEMODIALÍTICO
Eliane Santos Cavalcante1, Richardson Augusto Rosendo da Silva2, Ana Elza Oliveira de Mendonça3, Mayara
Mirna do Nascimento Costa4, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda5
RESUMO
Objetivo: avaliar os níveis de estresse em pacientes renais crônicos submetidos a tratamento hemodialítico.
Método: estudo descritivo, exploratório, quantitativo, com amostra de 104 pacientes, atendidos no setor de
hemodiálise de uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN/Brasil, de agosto a outubro de 2010. Foi aplicado o
Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (2000) e os dados foram analisados pela estatística
descritiva, depois de o projeto de pesquisa ter sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob nº CAAE
0066.0.051.294-09. Resultados: 75% da amostra apresentaram estresse, 56,4% encontravam-se na fase de
quase-exaustão, 20,5% com sintomas de exaustão, 14,1% na fase a de resistência e 9,0 % na fase de alerta.
Conclusão: constatou-se por meio do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) que a maioria dos
pacientes apresentou estresse e se encontravam na fase de quase-exaustão. Descritores: Unidades
Hospitalares de Hemodiálise; Estresse Psicológico; Cuidados de Enfermagem; Qualidade da Assistência à
Saúde.
ABSTRACT
Objective: to evaluate the stress levels in chronic kidney disease patients undergoing hemodialysis
treatment. Method: this is a descriptive, exploratory and quantitative study, with a sample of 104 patients
treated at the hemodialysis sector of a Hemodialysis Clinic in the city Natal/RN/Brazil, from August to
October 2010. We have applied the Lipp’s Inventory of Stress Symptoms for the Adults (2000) and data were
analyzed by means of descriptive statistics, after the research project has been approved by the Ethics
Research Committee, under CAAE nº 0066.0.051.294-09. Results: 75% of the sample had stress, 56.4% were in
the near-exhaustion phase, 20.5% with symptoms of exhaustion, 14.1% in the resistance phase and 9.0% in the
warning phase. Conclusion: it was found by the Lipp’s Inventory of Stress Symptoms for the Adults (ISSL) that
most patients had stress and were in the near-exhaustion phase. Descriptors: Hemodialysis Hospital Units;
Psychological Stress; Nursing Care; Health Care Quality.
RESUMEN
Objetivo: evaluar los niveles de estrés en pacientes renales crónicos sometidos a tratamiento hemodialítico.
Método: estudio descriptivo, exploratorio, cuantitativo, en universo de 104 pacientes, atendidos en el sector
de hemodiálisis de una Clínica de Hemodiálisis en Natal (RN, Brasil) entre agosto y octubre de 2010. Se aplicó
el Inventario de Síntomas de Estrés para Adultos de Lipp (2000). Los datos se analizaron mediante estadística
descriptiva, tras aprobación del proyecto de investigación por el Comité de Ética en Investigación bajo
protocolo CAAE 0066.0.051.294-09. Resultados: 75% de los sujetos analizados presentó estrés, 56,4% se
encontraba en fase de casi agotamiento, 20,5% con síntomas de Agotamiento, 14.1% en la fase a de
resistencia y 9,0% en la fase de alerta. Conclusión: se constató por medio del Inventario de Estrés para
Adultos de Lipp (ISSL) que la mayoría de los pacientes presentó estrés y se encontraba en la fase de casi
agotamiento. Descriptores: Unidades Hospitalarias de Hemodiálisis; Estrés Psicológico; Cuidados de
Enfermería; Calidad de Asistencia a la Salud.
1
Enfermeira, Professora Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte/PPGENF/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeiro, Professor Doutor, Graduação/Programa de PósGraduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/PPGENF/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail:
[email protected]; 3Enfermeira, Professora Doutoranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Acadêmica, Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Enfermeiro, Professor Doutor, Graduação/Programa de PósGraduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/PPENF/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: [email protected]
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
1264
ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
INTRODUÇÃO
A doença renal crônica (DRC) constitui um
importante problema de saúde pública no
Brasil. Estudo demonstrou que a prevalência
de pacientes mantidos em programas
assistenciais destinados ao controle e
tratamento de IRC praticamente dobrou nos
últimos anos.1 Nesse sentido, entre 2000 e
2006, o crescimento do número de pacientes
em diálise foi cerca de 9%, sendo o Sistema
Único de Saúde (SUS) responsável por 89% do
financiamento desse tratamento.2 Estima-se
que cerca de dois milhões de brasileiros
sofram de doenças renais sem ter
conhecimento de sua condição, fato este
atribuído, em parte, à evolução silenciosa e
assintomática dessas enfermidades até que os
rins percam aproximadamente 50% de sua
capacidade funcional.2
Sabe-se que a depuração ou filtração do
sangue no paciente renal pode ser obtida por
meio das terapias renais substitutivas, como
hemodiálise e diálise peritoneal ou por um
transplante
renal.3
Rotineiramente,
os
pacientes em tratamento hemodialítico
permanecem em média 40 horas mensais na
unidade de hemodiálise, os quais enfrentam
inicialmente a difícil aceitação da doença,
associados aos sentimentos de tristeza, raiva,
agressividade e hostilidade e, posteriormente,
desgaste físico e estresse emocional
relacionados às limitações impostas pelas
condições da cronicidade da doença e a
dependência do tratamento doloroso de
duração e consequências incertas.4
Assim, a condição crônica e o tratamento
hemodialítico se constituem como fontes de
estresse e apresentam consequências, tais
como:
isolamento
social,
perda
da
capacidade
laboral,
dependência
da
Previdência Social, impossibilidade parcial de
locomoção e lazer, diminuição da atividade
física, necessidade de adaptação, perda da
autonomia, alterações da imagem corporal e,
ainda, um sentimento ambíguo entre o medo
de viver e morrer.5
Nesse sentido, o estresse emerge de forma
processual em três etapas que se diferenciam
pela
sintomatologia.
Na primeira,
o
organismo tem uma excitação de agressão ou
de fuga ao estressor, que pode ser entendida
como um comportamento de adaptação. Na
segunda, entendida como a fase de alerta, o
organismo altera seus parâmetros de
normalidade e concentra a reação interna em
um determinado órgão-alvo, desencadeando a
Síndrome de Adaptação Local (SAL), com
manifestação de sintomas da esfera
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
Avaliação do nível de estresse de doentes…
psicossocial, tais como: ansiedade, medo,
isolamento social, oscilação do apetite e
impotência sexual.6-7 Na terceira, o indivíduo
encontra-se na fase de quase-exaustão,
caracterizada por um enfraquecimento da
pessoa, a qual não consegue adaptar-se ou
resistir ao estressor.8 Por fim, ocorre a
exaustão e o organismo encontra-se
extenuado pelo excesso de atividades e pelo
alto consumo de energia, ocorrendo a
falência do órgão mobilizado na SAL, a qual
se manifesta sob a forma de doenças
orgânicas.6
Nesse
contexto,
a
assistência
de
enfermagem no cuidado ao paciente em
hemodiálise
requer
do
profissional
habilidades técnicas e o desenvolvimento de
competências voltadas ao atendimento
integral do usuário e família, bem como sua
adaptação, atentando para as transformações
exigidas pelo tratamento e condição crônica.9
Frente ao exposto e a vivência profissional
dos autores nessa área, objetivou-se no
presente estudo, avaliar os níveis de estresse
apresentados por pacientes renais crônicos
submetidos a tratamento hemodialítico em
uma Clínica de Hemodiálise em Natal/RN.
MÉTODO
Estudo
exploratório-descritivo,
com
abordagem
quantitativa,
realizado
no
Instituto do Rim em Natal/RN, que se trata de
uma clínica destinada ao tratamento de
Doenças Renais e conveniada ao Sistema
Único de Saúde (SUS).
Para a coleta dos dados, utilizou-se um
roteiro de entrevista estruturado com
questões
para
caracterização
sociodemográfica
e
relacionadas
ao
tratamento hemodialítico. Além disso,
aplicou-se o Inventário de Sintomas de
Estresse para Adultos de Lipp (2000),
composto por uma lista de sintomas físicos e
psicológicos agrupados em três quadros, cada
quadro correspondendo a uma das fases do
Estresse. Esse inventário avalia a presença de
stress, a fase do stress (alerta, resistência,
quase-exaustão e exaustão) e o tipo de
sintoma
mais
frequente
(físico
ou
11
psicológico).
Utilizou-se como critérios de inclusão:
pacientes atendidos no setor de hemodiálise
no período de agosto a outubro de 2010, de
ambos os sexos, maiores de 18 anos de idade
e que aceitaram participar da pesquisa como
voluntários por meio da assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido. Da
população de 109 usuários atendidos no setor
de hemodiálise no período no período de
1265
ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
agosto a outubro de 2010, cinco se recusaram
a participar do estudo, sendo a amostra
composta por 104 pacientes.
Analisaram-se os resultados por meio da
estatística descritiva, sendo apresentados em
tabelas com frequências e percentuais depois
que o projeto foi submetido e aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Onofre Lopes (CEP-HUOL) sob
CAAE nº 0066.0.051.294-09 e protocolo nº
322/2009, de acordo com as diretrizes da
Resolução 196/96 e complementares do
Conselho Nacional de Saúde.10
RESULTADOS
A amostra foi composta por 104 pacientes
em tratamento de hemodiálise, sendo 53,8%
pertencente ao sexo masculino e 46,2% ao
sexo feminino. A faixa etária variou de 21 à
62 anos. Em relação à escolaridade, cerca de
60% possuíam o Ensino Fundamental
incompleto, 25% o Ensino Médio completo,
10% analfabetos e 5% com Ensino Superior
Avaliação do nível de estresse de doentes…
incompleto. O estado civil predominante
desta população foi o dos casados (52,8%),
seguidos por solteiros (27,2%) e separados
(20%). Quanto à ocupação, 65% dos pacientes
eram aposentados, 25% trabalhavam como
autônomos e 10% nunca possuíram qualquer
tipo de profissão. Em relação ao rendimento,
a renda familiar correspondeu a um salário
mínimo em 35% da amostra e em 65%
correspondeu a uma faixa de 2 a 3 salários
mínimos. No que diz respeito ao tempo de
tratamento, 4% dos pacientes iniciaram a
hemodiálise há menos de um ano, 6% de um a
dois anos, 8% de três a quatro anos, 29% de
cinco a seis anos e 53% há mais de sete anos.
Na análise dos dados obtidos pelo
Inventário de Stress para Adultos de Lipp
(ISSL), a maioria dos pacientes (75%)
apresentaram estresse e 25% não indicaram
sintomas estressantes significativos, conforme
demonstra a tabela 1:
Tabela 1. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de
Hemodiálise, segundo a presença de estresse. Natal/RN,
2010. (n=104)
Presença de Estresse
Sim
Não
Total
n
78
26
104
%
75,0
25,0
100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Dos 78 pacientes que apresentavam
estresse, 9,0 % encontravam-se na primeira
fase, ou seja, a fase de alerta; 14,1% na
segunda fase, a de resistência; 56,4% na
quase-exaustão e 20,5 % já com sintomas de
exaustão, conforme apresenta a tabela 2.
Tabela 2. Distribuição dos usuários atendidos na Clínica de
Hemodiálise, segundo a fase de estresse. Natal/RN, 2010.
(n=104)
Fases do Estresse
Alerta
Resistência
Quase-Exaustão
Exaustão
Total
n
7
11
44
16
78
%
9,0
14,1
56,4
20,5
100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação aos fatores que dificultam o
tratamento de hemodiálise, identificou-se
que 58% informaram ser à distância de suas
residências para a clínica de hemodiálise,
32% referiram
o
fato
de
não
ter
entretenimento durante o período de
hemodiálise e 10% afirmaram não poder
conciliar a hemodiálise com o trabalho
secular.
No que se refere à causa do estresse
durante o tratamento, 36% apontaram as
quatro horas exigidas para o tratamento de
hemodiálise, 24% referiram-se à punção mais
de uma vez para a introdução do cateter, 28%
querer ir embora e não poder e 12% por não
identificarem melhora no quadro da doença
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
após a seção de hemodiálise.
Quanto aos sentimentos manifestados no
transcurso da hemodiálise, 38% informaram a
vontade de abandonar o tratamento, 37%
sentiam-se tristes por estarem submissos a
um tratamento contínuo, 13% tinham medo
de morrer conectados à maquina e 12%
sentiam alegria por estarem vivas.
DISCUSSÃO
A partir do momento que a pessoa se
depara com a realidade da doença crônica, as
atividades cotidianas são comprometidas e as
debilidades físicas provocam mudanças
significativas, levando a pessoa a tornar-se
dependente do tratamento e desencadeando
1266
ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
Avaliação do nível de estresse de doentes…
situações de estresse em seu cotidiano.12
em que a pessoa não mais consegue adaptarse ou resistir ao estressor, podendo começar o
aparecimento de doenças devido ao
enfraquecimento do organismo.
Nesse sentido, o tratamento da doença
renal crônica altera a rotina diária do
enfermo, pois não se restringe apenas à
hemodiálise, mas inclui uma série de
cuidados na alimentação, restrição de
ingestão hídrica, além das repercussões
psicológicas pela realização periódica das
sessões de hemodiálise.13
No que diz respeito a principal
consequência advinda com o tratamento
hemodialítico, a maioria da amostra estudada
ressaltou o fato de estar impedida de
trabalhar. As mudanças nos hábitos de vida e
a necessidade de deixar de fazer o que
proporciona prazer pela vida são ressaltadas
pelos
pacientes
como
dificuldades
decorrentes da doença. Dentre as mudanças,
destacam a impossibilidade de trabalhar
como algo que intimida e marginaliza. Além
da falta de realização pessoal, ocasionada
pela privação do trabalho, as dificuldades
financeiras
decorrentes
preocupam
12
sobremaneira essas pessoas.
Em relação aos fatores que dificultam o
tratamento de hemodiálise, identificou-se
que a maioria relatou ser à distância de sua
residência para a clínica de hemodiálise, isso
é
destacado
na
literatura
como
desencadeante de estresse, bem como é
apresentado como um fator que apresenta
ligação direta com a adesão ao tratamento
hemodialítico e qualidade de vida do
paciente.14
Os pacientes relataram dificuldades em
relação à necessidade de se deslocarem para
outra cidade para realizarem as sessões de
hemodiálise. Se por um lado, a hemodiálise
lhe permite uma ilusão de independência
diante da doença durante o tempo entre uma
sessão de diálise e outra, por outro lado, no
momento em que o paciente está “ligado” à
máquina, as limitações da doença e sua
dependência do aparelho aparecem com toda
a sua intensidade.12
O tratamento interfere nas atividades de
vida diária (AVD), e isso muitas vezes é um
grande
causador
de
estress.
Alguns
apresentaram transtornos na AVD e outros no
processo saúde/doença, sendo que de alguma
forma todos os pacientes com IRC foram
afetados na sua condição de vida durante o
tratamento.14
A análise dos dados obtidos pelo Inventário
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)
demonstrou que a maioria dos pacientes
apresentou estresse, e desses, a maior parte
estava na fase de quase-exaustão do estresse.
A fase de quase-exaustão ocorre no momento
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
É importante reconhecer que a saúde do
indivíduo que convive com a DRCT não
depende apenas do sucesso do tratamento
hemodialítico, viabilizado pela máquina de
hemodiálise, mas também das respostas que a
rede de atenção em saúde pode dar ao
conjunto dessas necessidades de saúde,
originadas ou não na sua condição de doente
renal.15
No presente estudo, a principal causa do
estresse foi atribuída à longa duração da
sessão de hemodiálise, cerca de quatro horas
ligados a uma máquina; também foram
citadas as repetidas punções, a não
observância de melhora no quadro da doença
e a vontade de abandonar o tratamento.
Em outro estudo, evidenciou-se o medo da
máquina, as frequentes solicitações para
realizar procedimentos de rotina, os receios
frente a possíveis efeitos colaterais do
tratamento e as cobranças pela equipe de
profissionais de saúde como causas de
estresse. Destacando, também, algumas
preocupações com relação à preservação do
funcionamento das fístulas, controle hídrico,
restrição alimentar; mudanças nas atividades
rotineiras resultam em angústia, sofrimento,
estresse, interferindo na relação cotidiana de
vida.12
Devido ao tratamento para DRC, o
paciente acaba tendo que sobreviver e se
adaptar à sua nova condição física. Seu corpo
passa a possuir cicatrizes geradas pelas
fístulas, cateteres, exames e cirurgias, pele
pálida e seca, manchas hemorrágicas e
múltiplas.16 A mudança na imagem corporal é
relatada como uma das dificuldades
enfrentadas pela pessoa em tratamento de
hemodiálise. A alteração da autoimagem, com
a formação cirúrgica da fístula arteriovenosa
ou com a inserção do cateter duplo lúmen,
torna-se mais um fator a ser vivenciado,
podendo ser um potencial causador de
transtornos psicológicos, como o estresse.12
Muitas vezes, o excesso de medicamentos
provoca alterações na vida sexual, porque o
homem passa a ter dificuldades na ereção e a
mulher no orgasmo. Seguir a termo a dieta
oral prescrita para o paciente hemodialisado
é um dos grandes desafios. A dieta especial
pode necessitar de mudanças significativas
nos hábitos alimentares e no padrão
comportamental do paciente. Os pacientes
com DRC têm suas atividades físicas
diminuídas e aumentam suas necessidades de
1267
ISSN: 1981-8963
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
repouso, devido ao tratamento, e isso é visto
como fonte de estresse.16
Estudo
mostrou
que
as
mulheres
apresentaram maior número de estressores,
apontando a interferência da doença no
trabalho, o cansaço e o tratamento
prolongado - todos estressores fisiológicos como os três mais frequentes. No grupo de
homens, a limitação das atividades físicas, as
mudanças na aparência física e a perda da
função corporal/física foram os mais
frequentes.13
Este
estudo
identificou
repercussões do tratamento hemodialítico
relacionadas ao apoio social e aos estressores
vinculados à qualidade de vida do paciente
renal crônico; os homens apresentam
melhores índices de qualidade de vida do que
as mulheres que, por sua vez, encontram-se
mais estressadas. Portanto os homens têm
melhores condições, uma vez que quanto
maior o índice de qualidade de vida,
melhores condições possui para enfrentar os
estressores relacionados à doença.13
Um estudo destacou a presença da música
durante a hemodiálise, e constatou-se que a
terapia mostrou-se positiva quanto à
alteração
na
percepção
do
tempo,
favorecendo sensações de bem-estar, alegria,
felicidade
e
relaxamento,
além
de
representar entretenimento, mudança de
rotina, ausência de sintomas, recordações
positivas, companhia e redutor do estresse.17
Nota-se a importância e a mudança que a
música
realiza
nesses
pacientes,
demonstrando
a
necessidade
da
implementação da terapia musical como uma
estratégia no cuidado de enfermagem
destinado aos pacientes em tratamento
dialítico.17
O estudo está em conformidade com a
literatura nacional, ao perceber-se o quanto
o tempo de tratamento influencia no
cotidiano dos pacientes renais crônicos,
sendo gerador de estresse por acarretar
grandes dificuldades para o desenvolvimento
de atividades da vida diária, com reflexos em
sua autoestima (o comprometimento do
desenvolvimento das AVD faz com que se
sintam inúteis) e prejuízo também em seu
convívio social, tendo em vista que muitos
necessitam se deslocar de cidades vizinhas
para realizar o tratamento, passando, às
vezes, o dia inteiro longe de seu lar e de seus
familiares.17
Percebe-se
a
necessidade
de
a
Enfermagem
estar
preparada
para
proporcionar conforto e apoio para esses
pacientes, tendo em vista que o enfermeiro é
o profissional que está diretamente ligado aos
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Avaliação do nível de estresse de doentes…
cuidados a serem dispensados durante as
sessões, o que o torna capaz de passar maior
intimidade e confiança, se assim se
dispuser.17-8
É importante destacar que os pacientes
renais crônicos precisam de um atendimento
humanizado e multidisciplinar, pois, a partir
do momento que recebem o diagnóstico,
passam a sofrer fortes tensões emocionais,
sociais e físicas, geradoras de estresse.16
Investir na atenção ofertada a esses
pacientes é investir na melhoria da sua
qualidade de vida. O enfermeiro deve traçar
metas e objetivos que possam contribuir para
a diminuição de fatores estressores, como
ofertar algum meio de distração durante a
realização da hemodiálise, visto que foi uma
dificuldade bastante citada pelos pacientes
do estudo.19
CONCLUSÃO
Constatou-se por meio do Inventário de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL) que 75% dos
pacientes apresentaram estresse, sendo que
9,0 % encontravam-se na primeira fase, ou
seja, a fase de alerta; 14,1% na segunda fase,
a de resistência; 56,4% na quase-exaustão e
20,5 % já com sintomas de exaustão. No que
se refere à causa do estresse durante o
tratamento, 36% apontaram às quatro horas
exigidas para o tratamento de hemodiálise,
24% a punção mais de uma vez para a
introdução do cateter, 28% o desejo de querer
ir embora e não poder e 12% por não
identificarem melhora no quadro da doença
após a seção de hemodiálise.
Ressalta-se que os profissionais de
enfermagem devem buscar compreender as
modificações trazidas com a condição de
cronicidade da doença na vida do paciente
renal como intuito de promover estratégias
técnicas, éticas e humanísticas capaz de
minimizar os fatores relacionados ao
desenvolvimento do estresse, tais como: uma
escuta
qualificada,
acolhimento
e
humanização do ambiente de tratamento.
Ademais, necessitam ainda oferecer aos
indivíduos os esclarecimentos sobre sua
enfermidade, orientações sobre prevenção de
complicações, fortalecendo e favorecendo
uma mudança de comportamento ajustada às
limitações impostas pela doença, com vistas a
uma melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
1. Queiroz MVO, Dantas MCQ, Ramos IC, Jorge
MSB. Tecnologia do cuidado ao paciente renal
1268
ISSN: 1981-8963
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
crônico: enfoque educativo-terapêutico a
partir das necessidades dos sujeitos. Texto
Contexto Enferm [Internet]. 2008 Jan/Mar
[cited 2012 May 23];17(1):55-63. Available
from:
http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n1/06.
pdf
2. Bastos MG, Bregman R, kirsztajn GM.
Doença renal crônica: frequente e grave, mas
também prevenível e tratável. Rev Assoc Med
Bras [Internet]. 2010 [cited 2012 May
24];56(2):
248-53.
Available
from:
http://www.scielo.br/pdf/ramb/v56n2/a
28v56n2.pdf
3. Szuster DAC, Caiaffa WT, Andrade EIG,
Acurcio FA, Cherchiglia ML. Sobrevida de
pacientes em diálise no SUS no Brasil. Cad
saúde pública [Internet]. 2012 Mar [cited
2012 May 23]; 28(3):[about 10 p.]. Available
from:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v28n3/02.
pdf
4. Sesso R, Lopes AA, Thomé FS, Bevilacqua
JL, Romão JEJ, Lugon J. Resultados do censo
de diálise da SBN, 2007. J bras nefrol
[Internet]. 2007 Dec [cited 2012 May 23];
28(4):415-424.
Available
from:
http://www.jbn.org.br/audiencia_pdf.as
p?aid2=128&nomeArquivo=29-04-03.pdf
5. Farias GM, Mendonça AEO. Comparando a
qualidade de vida de pacientes em
hemodiálise e pós-transplante renal pelo
“whoqol-bref”. REME rev min enferm
[Internet]. 2009 Oct/Dec [cited 2012 May
23];13(4):[about 6 p.]. Available from:
http://www.enf.ufmg.br/site_novo/modu
les/mastop_publish/files/files_4c1220c4c
ae6d.pdf
6. Terra FS, Cabral RD, Costa AMDD, Costa
MD, Costa RD. Os sentimentos apresentados
pelos renais crônicos durante a permanência
na clínica de hemodiálise. Rev Enfermagem
atual [Internet] 2008 [cited 2012 May
23];46(3):15-8.
Available
from:
http://www.enf.ufmg.br/site_novo/modu
les/mastop_publish/files/files_4c1220c4c
ae6d.pdf
7. Machado LRC, Car MR. A dialética da vida
cotidiana de doentes com insuficiência renal
crônica: entre o inevitável e o casual. Rev Esc
Enferm USP (Online) [Internet]. 2003 [cited
2012 May 23]; 37(3): 27-35. Available from:
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v37n3/
04.pdf
8. Koepe GBO; Araújo STC. A percepção do
cliente em hemodiálise frente à fístula
artério venosa em seu corpo. Acta paul
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Avaliação do nível de estresse de doentes…
enferm [Internet]. 2008 [cited 2012 May 23];
21(nº
esp.):
147-51. Available from:
http://www.scielo.br/pdf/ape/v21nspe/a
02v21ns.pdf
9. Selye H. A Syndrome Produced by Diverse
Nocuous Agents. J Neuropsychiatry Clin
Neurosci [Internet]. 1998 [cited 2012 May
23];10(2):230-31.
Available
from:
http://neuro.psychiatryonline.org/data/J
ournals/NP/3855/230.pdf
10. Brasil. Ministério da Saúde. Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa [Internet].
Normas para pesquisa envolvendo seres
humanos (Resp. CNS 196/96 e outras); 2003
[cited 2012 May 23]. Available from:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco
es/normas_pesquisa_sereshumanos.pdf
11. Lipp MEN. Inventário de sintomas de
stress de Lipp (ISSL). São Paulo: Casa do
Psicólogo; 2000.
12. Oliveira SM, Ribeiro RCHM, Ribeiro DF,
Lima LCEQ, Pinto MH, Poletti NAA. Elaboração
de um instrumento da assistência de
enfermagem na unidade de hemodiálise. Acta
paul enferm [Internet]. 2008 [cited 2012 May
23];21(nº esp.):169-73. Available from:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01
03-21002008000500006&script=sci_arttext
13. Pereira LP, Guedes MVC. HEMODIÁLISE: a
percepção do portador renal crônico.
Cogitare Enferm [Internet]. 2009 [cited 2012
Sept
4];14(4):689-95.
Available
from:
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/co
gitare/article/view/16384/10864
14. Rudnicki T. Preditores de qualidade de
vida em pacientes renais crônicos Estudos de
Psicologia.
Estud.
psicol.
(Campinas) [Internet]. 2007 [cited 2012 set
4];
24(3):343-51.
Available
from:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s
ci_arttext&pid=S0103-166X2007000300006
15. Scatolin BE, Vechi AP, Ribeiro DF, Bertolin
DC, Canova JCM, Cesarino CB, Ribeiro RCHM.
Atividade de vida diária dos pacientes em
tratamento de diálise peritoneal intermitente
com cicladora. Arq Ciênc Saúde [Internet].
2010 [cited 2012 Sept 4];17(1):15-21.
Available
from:
http://www.cienciasdasaude.famerp.br/r
acs_ol/vol-17-1/IDL2_jan-mar_2010.pdf
16. Fujii CDC, Oliveira DLLC de. Fatores que
dificultam a integralidade no cuidado em
hemodiálise. Rev Latino-Am Enfermagem
[Internet]. 2011 July–Ago [cited 2012 Ago
14];19(4):[about 7 screens] Available from:
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19n4/pt
_14.pdf
1269
ISSN: 1981-8963
Cavalcante ES, Silva RAR da, Mendonça AEO et al.
DOI: 10.5205/reuol.3960-31424-1-SM.0705201302
Avaliação do nível de estresse de doentes…
17. Cuker GM, Fragnani ECSF. As dimensões
psicológicas da doença renal crônica. TCC
(graduação em psicologia). Universidade do
Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2010
[cited 2012 Sept 4]. Available from:
http://www.bib.unesc.net/biblioteca/su
mario/000044/0000440B.pdf
18. Horta ÂCC, Santos AVP dos, Santos LKX
dos, Barbosa IV. Produção científica de
enfermagem sobre hemodiálise. J Nurs UFPE
on line [Internet]. 2012 Mar [cited 2012
Aug];6(3):672-9.
Available
from:
http://www.ufpe.br/revistaenfermagem/
index.php/revista/article/view/1911/pdf
_1030.
19. Pacheco GS, Santos I, Bregman R. Cliente
com doença renal crônica: avaliação de
enfermagem sobre a competência para o
autocuidado. Esc Anna Nery Rev Enferm
[Internet]. 2007 Mar [cited 2012 May
23];11(1):44-51.
Available
from:
http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n1/v11
n1a06.pdf
Submissão: 02/11/2012
Aceito: 22/02/2013
Publicado: 01/05/2013
Correspondência
Richardson Augusto Rosendo da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte/Campus Central
Departamento de Enfermagem
Lagoa Nova, S/N
CEP: 59078-970  Natal (RN), Brasil
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(5):1264-70 maio., 2013
1270
Download