a música como instrumento para o desenvolvimento do lazer e

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A MÚSICA COMO INSTRUMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO LAZER E
COMO FORMA DE SUSTENTO PARA O SEGMENTO JUVENIL.
Larissa Rocha Coêlho (bolsista do PIBIC/UFPI), Lila Cristina Xavier Luz (Orientador, Depto
de Serviço Social – UFPI)
INTRODUÇÃO: O trabalho trata da pesquisa sobre bandas juvenis teresinenses e busca
conhecer os motivos que levaram à formação dessas bandas, e como elas são encaradas pelos
jovens, como forma de sustento ou como desenvolvimento do lazer. O estudo foi desenvolvido como
parte da pesquisa "Bandas Juvenis em Teresina", mas particularmente, como um subprojeto “A
música como instrumento para o desenvolvimento do lazer e como forma de sustento para o
segmento juvenil”. Referida pesquisa constitui-se uma das atividades do Núcleo de Pesquisas sobre
Crianças, Adolescentes e Jovens – NUPEC – UFPI. Essa pesquisa faz parte da proposição do
NUPEC de ampliar os estudos sobre juventude na cidade, tendo as experiências nas bandas como
elementos para reflexões que possibilitem conhecer as realidades juvenis. Assim, são objetivos do
subprojeto: analisar as bandas musicais como espaço de sociabilidade para os jovens; identificar os
motivos que levam à formação dessas bandas e a relação com a ausência de políticas de lazer para
segmentos juvenis na cidade, e classificar as bandas tendo como referência os motivos de sua
formação e como critério de lazer e/ou alternativa de trabalho.
METODOLOGIA: Para tanto, realizamos leituras sobre o tema com vistas a desenvolver
reflexões que permitissem um maior conhecimento sobre a juventude e sobre as bandas juvenis e
todas as questões que envolvem essa temática. Essas leituras contribuíram para a construção das
análises apresentadas no relatório final, do qual originou o presente resumo. Sendo assim, a
juventude foi apreendida como uma categoria importantíssima para o desenvolvimento da pesquisa,
sendo esta compreendida como um segmento biológico, social e cultural. Portanto, uma construção e
manifestam uma identidade distintiva, por meio da qual, os jovens definem sua posição no mundo e,
como também o modo de entendê-lo. Para compreender as diversidades existentes entre as
manifestações juvenis, por meio da música, focamos nas reflexões de Pais (1993), Mannheim (1982),
Bourdieu (1983), Margulis y Urresti (2000) e Araújo (2004). Assim, tendo-as como referências,
realizamos entrevistas com as bandas teresinenses, para ampliar o conhecimento nessa área, tendo
como referências as bandas juvenis locais. Na realização das entrevistas foram utilizados dois
roteiros, um coletivo, e um individual, o primeiro teve como objetivo analisar a historia da banda, a
formação, a escolha do nome, as dificuldades encontradas enquanto banda. O roteiro individual teve
como propósito conhecer sobre a subjetividade de cada integrante da banda, como começou o
contato com a música, suas influências, sentidos de sua participação na banda: lazer e/ou forma de
trabalho. Foram realizadas entrevistas com oito bandas, e os critérios de escolha dessas bandas foi
análise do estilo de música, tipo de músicas produzidas autorais, ser banda formada por jovem. Com
base nas reflexões dos autores e na realidade das bandas, selecionamos uma banda de cada estilo
musical, para que assim, conseguíssemos conhecer sobre cada estilo e cada tipo de banda. Feito
isto, as entrevistas foram realizadas, a maioria delas, nos locais de ensaio das bandas, pois
percebemos durante a pesquisa que seria inviável realizar entrevistas nos locais de apresentação
dessas bandas, em razão do barulho, da excitação produzida durante os shows, situação que poderia
interferir na condução e no áudio das entrevistas. As informações e impressões resultantes das
observações foram registradas em diário de campo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Frente à quantidade e diversidade de bandas existentes na
cidade, definimos por centrar nossas reflexões naquelas que trabalhassem com músicas autorais.
Com essa definição o propósito era compreender e conhecer mais sobre o trabalho criativo realizado
por jovens teresinenses. As reflexões teóricas desses autores e autoras permitiram-nos identificar
certa diversificação em relação à perspectiva de gênero, classe social a que os jovens pertencem,
contexto histórico e muitos outros fatores que influenciam para a conformação da complexidade
juvenil brasileira e teresinense. Em particular destacamos as reflexões de Pais (1993) sobre as
correntes de pensamento que fundamentam a definição da categoria juventude. Nas reflexões desse
encontramos elementos sobre compreender as juventudes do ponto de vista cultural, classista e
geracional. Sobre o tema bandas musicais, o trabalho de Abramo (1994), Cenas Juvenis, foi
importante para compreender a formação das bandas juvenis teresinenses, tendo como referência as
bandas punks. No trabalho de Abramo também encontramos informações sobre a formação de tribos
urbanas a partir da década de 1960, sobre as ideologias dessas tribos, sobre suas influências, a
definição de seus estilos musicais, forma de vestir, atitudes, ideias, etc.. A partir desse texto, ficou
explícita a importância que os contextos históricos exercem sobre essas tribos, porém evidenciando
que elas vão muito além do que uma simples representação juvenil, mas uma forma de as juventudes
expressarem seus sentimentos, pensamentos e posições acerca da sociedade. Também foi possível
compreender a influência que as relações sociais e a sociedade exercem para a formação dos
jovens. Aqui encontramos pontos que nortearam toda a pesquisa, tendo em vista nossos objetivos de
analisar as bandas musicais juvenis quanto a sua formação e sentidos para os jovens. Nesse sentido,
as informações nos permitiram identificar e compreender serem as bandas formadas pelo interesse e
gosto dos jovens pela música. Ainda nesse desejo de entender melhor o universo juvenil por meio
das bandas, recorremos ao texto de Araújo (2004), sobre mangueBit no Recife, que evidencia como o
movimento mangueBit ocorreu no Recife e a influencia que teve para os jovens. Para a autora, o
MangueBit vai além de uma simples manifestação musical, pois expressa por meio de suas canções,
a historia da cidade de Recife, tendo como referências pessoas pobres da região do mangue. O
movimento constitui-se em um estilo, além de musical, mas de linguagem, vestimenta e no modo de
vida de seus integrantes. Algumas bandas de Teresina também são marcadas por aparência,
conteúdo das letras das canções, e como expressam suas indignações em relação às suas
condições de vida e sobre a precariedade da cultura na cidade. A análise permite ainda entender que
a música é um instrumento de protesto e de comunicação dos jovens, pois por meio delas eles
buscam passar várias mensagens, evidenciando o que pensam e suas visões sobre a sociedade em
que estão inseridos, e também os desejos de mudanças desta mesma sociedade. Em relação aos
jovens participantes das mesmas, identificamos certa semelhança quanto ao modo de vestir,
relacionado com ao estilo musical da banda, sobretudo, quando essa tem como referência estilos
considerados irreverentes. Quanto à motivação e o sentido para permanência dos jovens nas bandas,
foi possível entender que mesmo que inicialmente as bandas são pensadas como uma dimensão de
lazer muito forte, contudo, logo que a “banda ganha a rua”, e em algum sentido, reconhecimento de
certo público, os jovens passam a encarar a banda sério.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os jovens trabalham muito para a banda “viva”, fato que nos faz
compreender que eles as levam muito a sério. Dedicam-se a criar músicas autorais, e buscam
sempre inovar para agradar cada vez mais o público e buscar satisfação pessoal. Isso também
significa mais encontros para ensaios e, portanto, para criar canções. Uma vez a banda formada,
identificamos nas historias dos jovens a existência de muitas dificuldades para manter a banda.
Muitos deles chegam a afirmar que viver de música em Teresina, é muito complicado. Em geral, a
falta de incentivo e de apoio ao trabalho dos músicos, gera desmotivação e dificulta a sobrevivência
da banda por um período superior a cinco anos. Nesse sentido, o trabalho criativo dos jovens e, por
conseguinte, suas bandas, não são valorizadas. Para os jovens entrevistados, essa desvalorização
se expressa na falta ou existência de poucos lugares para ensaios e apresentação das bandas.
Também foi destacado ser o gasto com a compra e reparo de instrumentos, bem como o pagamento
de lugares para ensaios, um investimento muito grande, levando as bandas a terem um custo
financeiro muito alto para ser mantida. Por fim, destacamos que esse estudo, com todos os limites a
ele inerentes, faz parte de um esforço de conhecer melhor as sociabilidades juvenis teresinenses.
Referências
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks, o espetáculo urbano. São Paulo: Scrita,
1994.
ARAÚJO, Lídice. Música, sociabilidades e identidades juvenis: o mangueBit no Recife. In Pais,
Machado e Blass, Leila (coord) Tribos Urbanas, Produção artísticas e Identidades. Lisboa:
imprensa de ciências sociais, p. 117-142. 2004.
BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia: A “juventude é apenas uma palavra. Rio de Janeiro.
Marco zero Ltda, 1983, p.112-121.
MANNHEIM, Karl. O problema sociológico das gerações. Editora Àtica. São Paulo, 1982.
MARGUILIS, Mario; URRESTI, Marcelo. La juventude es más que una palavra. In. Marguiles, Mario
(ed). Las juventude es más que una palavra. Buenos Aires: Editorial Biblos, 2000.p. 13-30.
PAIS, Jose Machado. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1993.
RAPOSO, Paulo. A construção Antropológica de um terreno: performances culturais, In: CARIA,
Telmo H. (org.), Experiência Etnográfica em Ciências Sociais, Porto Afrontamento, 2002.p. 41-60.
Palavras-chave: Juventude. Bandas. Música.
Apoio: PIBIC/UFPI
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