Lição 01: Língua hebraica Professor: João Marcos Brandet O

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Lição 01: Língua hebraica
Professor: João Marcos Brandet
O hebraico (‫עברית‬, ivrit/ibrit) é uma língua semítica pertencente à família
das línguas afro-asiáticas. A Bíblia original, a Torá, que os judeus ortodoxos
consideram ter sido escrita na época de Moisés, cerca de 3 300 anos atrás, foi
redigida no hebraico dito "clássico". Embora hoje em dia seja uma escrita
foneticamente impronunciável, devido à inexistência de vogais no alfabeto
hebraico clássico, os judeus têm-na sempre chamado de (‫)לשון הקודש‬, Lashon
ha'Kodesh ("A Língua Sagrada") já que muitos acreditam ter sido escolhida para
transmitir a mensagem de Deus à humanidade. Por volta da primeira destruição
de Jerusalém pelos babilônios em 586 a.C., o hebraico clássico foi substituído
no uso diário pelo aramaico, tornando-se primariamente uma língua franca
regional, tanto usada na liturgia, no estudo do Mishná (parte do Talmude) como
também no comércio.O hebraico renasceu como língua falada durante o final do
século XIX e começo do século XX como o hebraico moderno, adotando alguns
elementos dos idiomas árabe, ladino (língua dos Judeus sefarditas), iídiche
(língua dos Judeus oriundos da Europa), e outras línguas que acompanharam a
Diáspora Judaica como língua falada pela maioria dos habitantes do Estado de
Israel (Medinat Israel), do qual é a língua oficial primária (o árabe também tem
status de língua oficial).
Enquanto o termo "hebreu", refere-se a uma nacionalidade, ou seja
especificamente aos antigos israelitas, a língua hebraica clássica, uma das mais
antigas do mundo, pode ser considerada como abrangendo também os idiomas
falados por povos vizinhos, como os fenícios e os cananeus. De facto, o hebraico
e o moabita são considerados por muitos, dialetos da mesma língua.O hebraico
assemelha-se fortemente ao aramaico e, embora menos, ao árabe e seus
diversos dialetos, partilhando muitas características linguísticas com eles.O
hebraico também mudou. A diferença entre o hebraico de hoje e o de três mil
anos atrás é que o antigo era um abjad ou seja, não possuía vogais para formar
sílabas. As vogais (Nekodot) foram os sinais diacríticos inventados pelos rabinos
para facilitar na pronúncia de textos muito antigos e posteriormente desativados,
nos meios de comunicação atuais.
O hebraico é uma língua afro-asiática. Essa família linguística
provavelmente se originou no Nordeste da África, e começou a divergir nos
meados do oitavo milênio a.C.; de qualquer forma, existe grande debate em
relação à data. (A teoria é defendida pela maioria dos linguistas e arqueólogos
mas contraria a leitura tradicional da Torá). Os falantes do proto-afro-asiático
expandiram-se para norte e acabaram por chegar ao Médio Oriente.No fim do
terceiro milénio a.C. as línguas ancestrais como o aramaico, o ugarítico e várias
outras línguas cananitas eram faladas no Levante ao lado dos influentes dialetos
de Ebla e Acádia. À medida que os fundadores do hebraico migravam para o sul,
onde receberiam influências do levante, tal como outros povos que
empreenderam o mesmo caminho, como os filisteus, adoptaram os dialectos
cananeus. A primeira evidência escrita do hebraico, o calendário de Gezer, data
do século X a.C., os tempos dos reinados dos reis Davi e Salomão. Apresenta
uma lista das estações e de atividades agrícolas com elas relacionadas. O
calendário de Gezer (que recebeu o nome da cidade em cujas proximidades foi
encontrado) está escrito em um alfabeto semítico antigo, aparentado ao fenício,
o qual, passando pelos gregos e pelos etruscos, deu origem ao alfabeto latino
usado hoje em quase todas as línguas europeias. O calendário de Gezer é
escrito sem nenhuma vogal, e não usa consoantes substitutas de vogais mesmo
nos lugares onde uma soletração mais moderna o requer.
Numerosas tabuletas mais antigas foram encontradas na região com
alfabetos similares em outras línguas semíticas, por exemplo o proto-sinaítico.
Acredita-se que as formas originais das letras do alfabeto são mais antigas que
os hieróglifos da escrita egípcia, embora os valores fonéticos sejam sempre
inspirados em princípios acrofónicos. O antepassado comum do hebraico e do
fenício é chamado cananeu, e foi o primeiro a usar um alfabeto semítico distinto
do egípcio. Um dos documentos cananeus antigos é a famosa Pedra Moabita; a
inscrição de Siloam, encontrada próximo de Jerusalém, é um exemplo antigo do
hebraico. Outros escritos hebraicos menos antigos incluem o óstraca encontrado
perto de Laquis (Lachish) e que descreve os eventos que precedem a captura
final de Jerusalém por Nabucodonosor II e o cativeiro na Babilónia de 586 a.C..O
escrito mais famoso originalmente em hebraico é o Tanakh, base das Escrituras
Sagradas hebraicas, apesar de as datas em que teria sido escrito ainda sejam
disputadas. As cópias existentes mais antigas foram encontradas entre os
manuscritos do Mar Morto, escritos entre o século II a.C. e o século I d.C.A língua
formal do império babilónico era o aramaico (cujo nome deriva de Aram
Naharayim, "Mesopotâmia", ou de Aram, "terras altas" em cananeu e o antigo
nome da Síria). O Império Aquemênida, que conquistou o Império Neobabilónico
poucas décadas depois do início do exílio judeu, adoptou o aramaico como
língua oficial. O aramaico é também uma língua semítica norte-ocidental,
bastante semelhante ao hebraico. O aramaico emprestou muitas palavras e
expressões ao hebraico, principalmente devido a ser a língua utilizada no
Talmude e noutros escritos religiosos.Além de numerosas palavras e
expressões, o hebraico também recebeu do aramaico o seu alfabeto. Apesar de
as letras aramaicas originais terem origem no alfabeto fenício que era usado no
antigo Israel, divergiram significativamente, tanto às mãos dos judeus como dos
mesopotâmios, assumindo a forma que hoje nos é familiar cerca do século I a.C..
Escritos desse tempo (especialmente notáveis são os manuscritos do Mar Morto
encontrados em Qumran) foram redigidos com um alfabeto muito semelhante ao
"quadrático" ainda hoje usado.Os judeus que viviam mais ao norte ou no Império
Aquemênida aos pouco foram adotando o segmento aramaico, e o hebraico
rapidamente caiu em desuso. Contudo, como essa literatura é parte integrante
das escrituras, os caracteres ainda hoje permanecem preservados em outros
idiomas. Pelos seguintes 700 anos, o aramaico tornou-se a língua vernácula da
Judeia restaurada. Obras famosas escritas em aramaico incluem o Targum, o
Talmude e diversos livros de Flávio Josefo, embora muitos desses últimos não
foram preservados em sua forma original. No seguimento da destruição de
Jerusalém e do Segundo Templo, no ano 70 d.C., os judeus começaram
gradualmente a dispersar-se da Judeia para o resto do mundo conhecido à
época. Por muitos séculos o aramaico permaneceu como a língua falada pelos
judeus da Mesopotâmia, e o Lishana Deni , conhecido também como "judaicoaramaico", é um moderno descendente que ainda é falado por uns poucos
milhares de judeus (e muitos não-judeus) na região conhecida como Curdistão;
contudo, essa língua gradualmente cedeu lugar ao árabe, como deu lugar a
outros falares locais em países para os quais os judeus emigraram. O hebraico
não foi usado como uma língua falada por aproximadamente 2 300 anos, ou seja,
foi considerada uma língua morta, assim como o latim. Contudo, os judeus
sempre dedicaram muito esforço para manter altos níveis de alfabetização entre
eles, com o principal propósito de permitir a todo judeu consultar como se
estivesse manipulando os originais da Bíblia hebraica e as obras religiosas que
a acompanham. É interessante notar que as línguas que os judeus adotaram em
seus países de residência, nomeadamente o ladino e o iídiche não estavam
diretamente relacionadas com o hebraico (a primeira baseada no espanhol
peninsular com empréstimos árabes, e a última um antigo dialeto do alemão
medieval), contudo, ambas foram escritas da direita para a esquerda, utilizando
o alfabeto hebraico. O hebraico foi também usado como uma língua de
comunicação entre os judeus de diferentes países, particularmente com o
propósito de facilitar o comércio internacional.A mais importante contribuição
para a preservação da leitura (sem pronúncia) do hebraico tradicional nesse
período foi aquelas dos eruditos chamados massoretas (da palavra masoret, que
significa "folclore" ou "tradição"), ocorrida a cerca do século VII ao século X criou
algumas marcações suplementares para indicar a posição onde deveriam existir
vogais, assim como a acentuação tônica e os métodos de recitação. desse
modo, os textos originais hebraicos que usavam apenas as consoantes
passaram a contar com as vogais, entretanto, algumas consoantes foram usadas
para indicar vogais longas. Na época dos massoretas esse texto era considerado
muito sagrado para ser alterado, assim todas as marcações foram adicionadas
na forma de diacríticos (pontinhos e pequenos traços) dentro e ao redor das
letras.
O reviver do hebraico como língua mãe foi iniciado com os esforços de
Eliezer Ben-Yehuda. Anteriormente, um ardente revolucionário na rússia
czarista, Ben-Yehuda juntou-se ao Movimento Nacional Judaico e emigrou para
a Israel em 1881. Motivado pelos ideais que o circundavam de renovação e de
rejeição do estilo de vida dos judeus da diáspora, dedicou-se a desenvolver uma
nova língua que os judeus pudessem usar para a comunicação do dia-a-dia.
Apesar de a princípio o seu trabalho ter sido desprezado, a necessidade de uma
língua comum começou a ser entendida por muitos. Em breve seria constituído
o Comité da Língua Hebraica. Mais tarde tornar-se-ia a Academia da Língua
Hebraica, uma organização que existe actualmente. Os resultados do seu
trabalho e do do comité foram publicados num dicionário (O Dicionário Completo
de Hebraico Antigo e Moderno). O trabalho de Ben-Yehuda acabou por encontrar
solo fértil e no princípio do século XX, o hebraico estava a tornar-se a principal
língua das populações judias.
Ben-Yehuda baseou o hebraico moderno no hebraico bíblico. Quando o
comité decidia inventar uma nova palavra para um determinado conceito,
Yehuda procurava em índices de palavras bíblicas e dicionários estrangeiros,
particularmente de árabe. Enquanto que Yehuda preferia as raízes semíticas às
europeias, a abundância de falantes europeus de hebraico levou à introdução de
muitas palavras estrangeiras. Outras mudanças que tiveram lugar à medida que
o hebraico voltava à vida foram a sistematização da gramática, uma vez que a
sintaxe bíblica era por vezes limitada e ambígua; e a adopção da pontuação
ocidental.A influência do russo é particularmente evidente no hebraico. Por
exemplo, o sufixo russo -ácia é usado em nomes onde o português usa o sufixo
-ação. Isto aconteceu tanto em empréstimos directos do russo, como por
exemplo "industrializacia", industrialização, e em palavras que não existem em
russo. A influência do inglês é também muito forte, parcialmente devido à
administração britânica de Israel, que durou cerca de 30 anos, e devido a laços
fortes com os Estados Unidos. A influência do alemão integrada ao iídiche é bem
acentuada, nomeadamente nos diminutivos. Finalmente o árabe, sendo a língua
de numerosos judeus Mizraicos e Sefarditas imigrados ou com nacionalidade de
países árabes, assim como os árabes israelitas, teve uma influência importante
no hebraico, especialmente no calão.O hebraico moderno é escrito com um
alfabeto conhecido como " quadrático". É o mesmo alfabeto, em última análise
derivado do aramaico, que foi usado para copiar livros religiosos em hebraico
durante dois mil anos. Este alfabeto tem também uma versão cursiva, que é
usada para a escrita à mão. O hebraico moderno têm um jargão rico, que resulta
de uma florescente cultura de juventude. As duas características principais deste
jargão são os empréstimos do árabe (por exemplo, sababa, "excelente", ou
kussémek, expressão de forte insatisfação que é extremamente obscena tanto
em árabe como em hebraico).Devido ao tamanho relativamente reduzido do
vocabulário básico, numerosos empréstimos estrangeiros e a regras gramaticais
relativamente simples, o hebraico é uma língua simples de aprender. Os
israelitas toleram bastante os sotaques estrangeiros.O hebraico tem sido a
língua de numerosos poetas, os quais incluem Raquel, Bialik, Shaul
Tchernihovsky, Lea Goldberg, Avraham Shlonsky e Natan Alterman. O hebraico
é ainda a língua de numerosos autores, um dos quais é o escritor Shmuel Yosef
Agnon, laureado com o Prémio Nobel.
O hebraico é falado principalmente em Israel pelos seus cerca de 6
milhões de judeus tal como pelos dois milhões de árabes que lá vivem. No
entanto, fora de Israel, judeus sefarditas, principalmente em França (com mais
de meio milhão de judeus), e israelitas expatriados, principalmente nos Estados
Unidos (cerca de meio milhão de pessoas), usam-na domesticamente.
Normalmente, a maioria dos judeus asquenazes não nascidos em Israel (cerca
de 8 milhões) consideram difícil usar o hebraico coloquialmente. A minoria (no
máximo 20%) que frequenta escolas judaicas (yeshivas) normalmente tem uma
familiaridade maior com o hebraico e consegue ler e até escrever hebraico mas
só falam com fluência quando passam tempo suficiente em Israel e falam com
falantes nativos de hebraico.Muitos judeus europeus e americanos nunca
visitaram Israel e não conseguem dizer muito em hebraico. Desse modo, o
hebraico não é falado por eles nem entendido pela maioria dos judeus em muitas
áreas fora de Israel onde há uma grande população judia, nomeadamente na
Argentina, na Austrália, no Canadá, na França, no Brasil, na Alemanha, na
Rússia, na África do Sul, Ucrânia, no Reino Unido e nos Estados Unidos.Como
parte do judaísmo, o hebraico é usado em vários graus nos estudos religiosos e
orações. Normalmente são os judeus ortodoxos que frequentam escolas de
hebraico e escolas religiosas, enquanto que a maioria dos judeus tendem a ser
fluentes nas línguas dos países onde vivem e menos interessados em aprender
hebraico. Apesar disso, na América do Norte, iniciativas como o Programa de
Aproximação Judia Nacional e as sinagogas oferecem cursos intensivos de
hebraico a dezenas de milhares de judeus todos os anos para introduzir judeus
adultos à leitura de hebraico pela primeira vez.
De acordo com o Ethnologue, os dialectos do hebraico incluem o hebraico
padrão (israelita padrão, hebraico europeizado), hebraico oriental (hebraico
arabizado e hebraico iemenita).Na prática há também o hebraico asquenaze,
ainda usado de forma vasta nas cerimónias judaicas e nos estudos em Israel e
no estrangeiro. Foi influenciado pelo iídiche.O hebraico sefardita é a base do
hebraico padrão e não é muito diferente deste, mas tradicionalmente tem maior
variedade de pronúncias. Foi influenciado pelo ladino.O hebraico mizrahi
(oriental) é na realidade um grupo de dialectos falados liturgicamente por judeus
em várias partes do mundo árabe e islâmico. Foi influenciado pelo árabe.Quase
todos os emigrantes em Israel são encorajados a adoptar o hebraico moderno
como a sua língua diária. Como dialecto, o hebraico padrão foi inicialmente
baseado no hebraico sefardita, mas foi influenciado pela fonologia asquenaze
até formar um dialecto moderno único. Por exemplo, o som da consoante resh
no hebraico padrão atual se aproxima mais do som gutural que a letra "r" possui
no alemão, no iídiche e no francês, que do seu som no dialeto sefardita, ou de
seus equivalentes nas outras línguas semíticas. Assim como o som da letra "tz"
(tzadi) que no hebraico moderno possui o som duplo semelhante ao "z" do
alemão, e não a pronúncia sefardita e mizrahita que é semelhante ao "çad" do
árabe.
O iídiche, o ladino, o quaraim e o judeo-árabe foram todas muito
influenciadas pelo hebraico. Nenhuma é completamente derivada do hebraico,
mas todas estão cheios de empréstimos dele.
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