CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA ALÍCIA VALÉRIA DOS SANTOS ZARANZA DE CARVALHO VIRULÊNCIA E SUSCEPTIBILIDADE ANTIMICROBIANA DE AMOSTRAS DE Pseudomonas aeruginosa ISOLADAS EM HOSPITAIS DE SÃO LUÍS - MA São Luís 2011 ALÍCIA VALÉRIA DOS SANTOS ZARANZA DE CARVALHO VIRULÊNCIA E SUSCEPTIBILIDADE ANTIMICROBIANA DE AMOSTRAS DE Pseudomonas aeruginosa ISOLADAS EM HOSPITAIS DE SÃO LUÍS - MA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia Parasitária como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Biologia Parasitária. Orientador: Profa. Dra. Patrícia de Maria Silva Figueiredo Coorientador: Prof. Dr. Valério Monteiro Neto. São Luís 2011 Carvalho, Alícia Valéria dos Santos Zaranza de Virulência e susceptibilidade antimicrobiana de amostras de Pseudomonas aeruginosa isoladas em hospitais de São Luís - MA/Alícia Valéria dos Santos Zaranza de Carvalho – São Luís, 2011. 102 f. Orientador: Profa. Dra. Patrícia de Maria Silva Figueiredo Coorientador: Prof. Dr. Valério Monteiro Neto Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária) – Centro Universitário do Maranhão, UNICEUMA, Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária, 2011. 1. Pseudomonas aeruginosa 2. Fatores de virulência 3. Susceptibilidade antimicrobiana 4. Infecção Hospitalar. I. Título. CDU: 616.98:378.37(812.1) 1.1.1.1.1.1.1 CDU 616.24 – 002.5 ALÍCIA VALÉRIA DOS SANTOS ZARANZA DE CARVALHO VIRULÊNCIA E SUSCEPTIBILIDADE ANTIMICROBIANA DE AMOSTRAS DE Pseudomonas aeruginosa ISOLADAS EM HOSPITAIS DE SÃO LUÍS - MA A Comissão julgadora da Defesa do Trabalho Final de Mestrado em Biologia Parasitária, em sessão pública realizada no dia / / , considerou a candidata: ( ) APROVADO ( ) REPROVADO 1) Examinador _____________________________________ 2) Examinador ______________________________________ 3) Examinador ______________________________________ 4) Presidente (Orientador)_____________________________ Aos meus pais, Araildes e Antônio Ao meu marido, Cézar Zaranza À minha avó, Ozita (in memoriam) À minha irmã, Anneliza. AGRADECIMENTOS A Deus, minha força e meu refúgio. Aos meus pais, pelo amor e carinho. Ao meu marido, pela paciência e amor inabalável. À minha irmã e Igor, pelo companheirismo. À minha orientadora, Profa. Dra. Patrícia de Maria Silva Figueiredo, pela oportunidade e confiança. Ao prof. Dr. Valério Monteiro Neto, pela atenção cedida. À Profa. Dra. Cristina de Andrade Monteiro, por sua colaboração na biologia molecular. Ao Prof. Ms. Thiago Feitosa Ferro, pela presteza na análise estatística dos resultados. Ao Hospital Dutra, em especial aos colegas da Microbiologia; à Dra. Ana Luiza e todo o pessoal da direção do laboratório pelo grande apoio. A Coordenação e aos colegas do CTA-Lira pela compreensão nos momentos de ausência. Às minhas amigas do mestrado Roxana, Ione, Francyelle, Adriana e Márcia Boor, pela força nas horas difíceis e pela ajuda mútua. A Patrícia Valéria, por sua grande contribuição e dedicação na conclusão deste trabalho. A Rosália, pela ajuda no isolamento das amostras. A todos do Laboratório de Pesquisa do UNICEUMA, em especial, Monique, Jéssica e Diogo pela grande colaboração na realização dos testes. À Dra. Sirlei Garcia Marques, pelos conselhos e pela amizade. Ao Centro Universitário do Maranhão, em especial, ao Mestrado em Biologia Parasitária e à Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA. “A Felicidade mantêm você doce, dores mantêm você humano, quedas te mantêm humilde, provações te mantêm forte, mas somente Deus te mantêm prosseguindo.” Autor desconhecido LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Distribuição de 100 amostras clínicas de P. aeruginosa por sítio anatômico 40 Figura 2 - Setores hospitalares onde foram isoladas cepas de P. aeruginosa no 42 período de março a julho de 2010 Figura 3 - Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos das 100 cepas de P. aeruginosa isoladas de pacientes atendidos em hospitais de São Luís-MA (AMI=amicacina, AZT=aztreonam, CEP=cefepime, CAZ=ceftazidima, 43 GEN=gentamicina, IMP=imipenem, LEV=levofloxacinaa, MER= meropenem, PPZ=piperacilina/tazobactam, POLB=polimixina B) Figura 4 - Frequência de isolados de P. aeruginosa resistentes aos antimicrobianos (AMI=amicacina, AZT=aztreonam, CEP=cefepime, CAZ=ceftazidima, GEN=gentamicina, IMP=imipenem, LEV=levofloxacinaa, MER= meropenem, 44 PPZ=piperacilina/tazobactam, POLB=polimixina B) Figura 5 - Detecção dos genes blaCTX, blaTEM e blaSHV em cepas multirresistentes de P. aeruginosa por PCR multiplex. (Visualização em gel de agarose a 2,5 %: M=ladder de 50pb; 1= ATCC 35218; 2=Pa02; 3=Pa13; 4=Pa14; 5=Pa06; 6=Pa10; 46 7=Pa89; 8=Pa29; 9=Pa33; 10=Pa34; 11=Pa50; 12=Pa83; 13=Pa86; 14=Pa87; 15=Pa58) Figura 6 - Avaliação da hidrofobicidade de P. aeruginosa em concentrações 47 crescentes de sulfato de amônio Figura 7 – Frequência dos isolados clínicos de P. aeruginosa produtores e não 49 produtores de biofilme pelo método de Cristal Violeta por indução in vitro Figura 8 - Produção de cápsula em Ágar Vermelho Congo por cepas de P. aeruginosa. Colônias pretas indicam resultado positivo e colônias vermelhas 52 resultado negativo Figura 9 - Formação de biofilme por P. aeruginosa em placas de microtitulação de poliestireno pelo método do Cristal Violeta (leitura da absorbância em 52 espectrofotômetro) Figura 10 - Porcentagem das cepas de P. aeruginosa produtoras de exoenzimas 53 Figura 11 - Produção das exoenzimas por cepas de P. aeruginosa. A) halos de degradação da protease em ágar skim milk 2%; B) gelatinase positiva através da liquefação da solução de gelatina a 12%; C) halos de degradação da elastase em ágar 55 elastina a 1% Figura 12 - Atividade hemolítica de isolados de Pseudomonas aeruginosa por tipo de sangue (A) e em presença de quelantes e cloreto de cálcio (B). * Os isolados apresentaram menor atividade hemolítica no sangue de cavalo (p < 0,01, Fr = 58 17,700). #Os meios com os quelantes e Cloreto de Cálcio apresentaram inibição na sua atividade hemolítica (p> 0,05, Fr= 139,122) Figura 13 - Halos de β-hemólise produzidos por isolados clínicos de P. aeruginosa 59 em ágar sangue de carneiro a 5% Figura 14 - Produção de hemólise no sobrenadante de cultura de P. aeruginosa pelo 59 método da microplaca (ausência de botão: teste positivo) Figura 15 - Microscopia óptica da adesão em células HEp-2 de cepas de P. aeruginosa (1000X). A – Células HEp-2 sem adesão bacteriana (controle); B - Cepa Pa31 com adesão de padrão agregativo; C - Cepa Pa87 com adesão sem padrão 65 definido Figura 16 - Detecção dos genes aprA, algD, lasA, lasB, toxA, plcH e plcN por PCR multiplex. Visualização em gel de agarose a 2,5 %. Canaletas M = marcador de peso molecular (ladder de 100 pb); 1=cepa n˚ 11; 2=cepa n˚ 34; 3=cepa n˚ 39; 4=cepa n˚ 68 36; 5=cepa n˚ 45; 6=cepa n˚ 50; 7=cepa n˚ 106 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Fatores de virulência de P. aeruginosa e atividade biológica produzida no 20 hospedeiro Tabela 2 - Classificação das betalactamases segundo Ambler e Bush 27 Tabela 3 - Sequência de oligonucleotídeos usados na detecção dos genes de 35 virulência Tabela 4 - Primers usados na amplificação por PCR multiplex 36 Tabela 5 - Correlação entre produção de biofilme (microplaca) e hidrofobicidade 50 entre os isolados de Pseudomonas aeruginosa Tabela 6 - Correlação entre a presença de fímbrias e cápsula e produção de biofilme 51 por cepas de P. aeruginosa Tabela 7 - Correlação entre as exoenzimas produzidas por isolados clínicos de P. 54 aeruginosa e os Setores do Hospital, Sítios de Infecção e Instituição Hospitalar Tabela 8 - Fatores de virulência de isolados de Pseudomonas aeruginosa segundo o 61 sítio de infecção Tabela 9 - Propriedades de virulência de isolados de Pseudomonas aeruginosa 62 segundo a instituição hospitalar LISTA DE ABREVIATURAS ATCC - American Type Culture Collection ATV - Associação Tripsina-Versene AVC - Ágar Vermelho Congo BHI - Brain Heart Infusion CaCl2 - Cloreto de Cálcio CLSI - Clinical and Laboratory Standards Institute EDDA - Ácido hidroxifenil-acético EDTA - Ácido etilenodiaminotetracético ESBL - Betalactamases de Espectro Ampliado HEp-2 – Células de carcinoma epidermoide de laringe LPS - Lipopolissacarídeo MEM - Meio mínimo essencial MβLS - Metalo-β-lactamases PBS - Phosphate Buffered Saline PCR – Polimerase Chain Reaction (Reação em cadeia de polimerase) rpm – rotações por minuto SFB - Soro fetal bovino SENTRY - Antimicrobial Surveillance Program SPA - Serviço de Pronto Atendimento SST3 - Sistema de Secreção Tipo III UTI - Unidades de Tratamento Intensivo vol - volume RESUMO Pseudomonas aeruginosa é um bacilo Gram-negativo não fermentador e um agente oportunista frequentemente envolvido em infecções hospitalares e em situações de resistência a drogas. As habilidades de invasão, colonização e de destruição tecidual apresentadas por este patógeno devem-se aos seus múltiplos fatores de virulência. As infecções nosocomiais causadas por P. aeruginosa são de difícil tratamento devido a sua virulência e resistência a vários antimicrobianos. O objetivo deste trabalho foi detectar os possíveis fatores de virulência e analisar o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos de diversas amostras clínicas de P. aeruginosa, provenientes de hospitais de São Luís-MA. Foram estudados 100 isolados de P. aeruginosa obtidos de diferentes amostras clínicas hospitalares. Das 100 amostras examinadas, 52% apresentaram produção de cápsula em AVC, 86% produção de biofilme em diferentes níveis e apenas 19% das amostras produziram fímbria manosesensível. Não houve correlação entre as fímbrias estudadas e o grau de produção de biofilme (p=0,3). Em relação aos ensaios enzimáticos, 53%, 82%, 52%, 82% e 56% das amostras se mostraram positivas para lipase, protease, gelatinase, fosfolipase e elastase, respectivamente. Na detecção dos genes de virulência que codificam a produção das enzimas protease alcalina (aprA), elastase A (lasA), elastase B (lasB), fosfolipase C hemolítica (plcH), fosfolipase C não hemolítica (plcN), exotoxina A (toxA) e do gene algD pela técnica de PCR, verificamos que os isolados clínicos de P. aeruginosa expressaram em maior frequência os genes aprA (64%), lasA (51%), algD (39%) e plcH (21%). Em relação à atividade hemolítica, os isolados apresentaram menor atividade no sangue de cavalo; nos meios acrescidos de quelantes e íon cloreto de cálcio houve inibição de sua atividade hemolítica. Quando se comparou a hemólise em meio líquido e sólido, verificou-se que houve melhor atividade hemolítica em meio sólido (p<0,01, Z=7,01). Foram analisadas 34 amostras multirresistentes de P. aeruginosa para os testes de detecção dos genes de ESBL por PCR, onde 17 (50%) das amostras foram positivas para o gene blaTEM; e para os testes de adesão e citotoxicidade em células HEp-2, onde 9 (26,5%) amostras apresentaram adesão de padrão agregativo, 1 (2,9%) adesão de padrão localizado e 7 amostras (20,6%) adesão sem padrão definido; e, 18 amostras (52,9%) apresentaram efeitos citotóxicos. De acordo com os resultados, a expressão da maioria dos fatores de virulência foi observada em percentagens variadas em todas as cepas dos materiais clínicos analisados. Comparando os isolados entre os hospitais de origem não houve diferença entre eles quanto a expressão dos fatores de virulência (p>0,05). Quando se comparou as amostras multirresistentes com as sensíveis, observou-se que não há diferença quanto às propriedades de virulência. Portanto, de acordo com os resultados encontrados, foi constatado que a virulência dos isolados de P. aeruginosa independe da resistência apresentada aos antibióticos e que os fatores de virulência pesquisados são importantes em todos os materiais clínicos analisados sugerindo que a patogênese das infecções por P. aeruginosa é multifatorial. Palavras-chave: Pseudomonas aeruginosa; fatores multirresistência. de virulência; antimicrobianos; ABSTRACT Pseudomonas aeruginosa is a non-fermenting Gram-negative bacillus and a great opportunist frequently involved in nosocomial infections and in situations of drug resistance. The skill of invasion, colonization and tissue destruction that this pathogen shows are due to its multiple virulence factors. Nosocomial infections caused by P. aeruginosa are difficult to treat because of their virulence and resistance to several antimicrobials. The objective of this study was to detect possible virulence factors and analyze the profile of susceptibility to antimicrobials of several clinical samples of P. aeruginosa from hospitals in São Luís-MA. We have studied 100 isolates of P. aeruginosa from different hospital clinical samples. From the 100 examined samples, 52% showed capsule production in CRA, 86% biofilm production in different levels and only 19% of samples produced mannose-sensitive fimbriae. There was no correlation between the studied fimbriae and the biofilm production level (p=0,3). In the enzymatic assays, 53%, 82%, 52%, 82% and 56% of the samples were positive for lipase, protease, gelatinase, phospholipase and elastase, respectively. In detection of the virulence genes that encode production of the enzymes alkaline protease (aprA), elastase A (lasA), elastase B (lasB), hemolytic phospholipase C (plcH), non-hemolytic phospholipase C (plcN), exotoxin A (toxA) and the gene algD by PCR, we observed that the clinical isolates of P. aeruginosa expressed in a higher frequency the genes aprA (64%), lasA (51%), algD (39%) and plcH (21%). In relation to the hemolytic activity, the isolates showed lower activity in horse blood; in the media with chelate and calcium chloride ion there was inhibition in the hemolytic activity. Comparing hemolysis in liquid and solid media, we observed better hemolytic activity in solid medium (p<0.01, Z=7.01). We analyzed 34 multiresistant samples of P. aeruginosa in test to detect ESBL genes by PCR, where 17 (50%) samples were positive for gene blaTEM; and in tests of adhesion and cytotoxicity in HEp-2 cells, where 9 (26.5%) samples showed aggregative pattern adhesion, 1 (2.9%) local pattern adhesion and 7 samples (20.6%) adhesion without a well defined pattern; also 18 samples (52.9%) showed cytotoxic effects. According to the results, the expression of most virulence factors was observed in different percentages in all strains from the clinical material analyzed. Comparing the isolates among the hospitals of origin there was no difference among them related to the expression of virulence factors (p>0.05). Comparing multiresistant to sensitive samples, we observed that there is no difference related to the virulence properties. Therefore, according to the results found, it has been established that the virulence of P. aeruginosa isolates does not depend on the resistance to antibiotics and that the virulence factors studied are important in all clinical materials analyzed, suggesting the pathogenesis of infections caused by P. aeruginosa is multifactorial. Key words: Pseudomonas aeruginosa; virulence factors; antimicrobials; multiresistance. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 2.1 Bacilos Gram-negativos não fermentadores....................................................... 2.2 Caracterização de Pseudomonas aeruginosa...................................................... 2.3 Patogenia............................................................................................................. 2.4 Epidemiologia..................................................................................................... 2.5 Infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa............................................. 2.6 Resistência a antimicrobianos............................................................................. 3 OBJETIVOS.............................................................................................................. 3.1 Geral.................................................................................................................... 3.2 Específicos.......................................................................................................... 4 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................... 4.1 Isolados bacterianos............................................................................................ 4.2 Identificação das cepas de P. aeruginosa........................................................... 4.3 Susceptibilidade antimicrobiana......................................................................... 4.4 Detecção da atividade lipolítica.......................................................................... 4.5 Detecção da atividade hemolítica....................................................................... 4.5.1 Pesquisa de hemolisina em meio sólido...................................................... 4.5.2 Atividade hemolítica no sobrenadante de cultura (teste em microplaca)... 4.5.3 Influência da presença de íons e quelantes na atividade hemolítica........... 4.6 Detecção da atividade proteolítica...................................................................... 4.7 Detecção da produção fenotípica da fosfolipase................................................. 4.8 Detecção da produção de gelatinase................................................................... 4.9 Detecção da produção de elastase....................................................................... 4.10 Produção de biofilme....................................................................................... 4.10.1 Avaliação da produção de cápsula............................................................ 4.10.2 Indução de biofilme in vitro...................................................................... 4.11 Identificação de fímbrias manose-sensível...................................................... 4.12 Determinação da hidrofobicidade celular......................................................... 4.13 Detecção dos genes de virulência por PCR...................................................... 4.14 Detecção dos genes de Betalactamase por PCR............................................... 4.14.1 Extração do DNA bacteriano.................................................................... 4.14.2 Detecção de genes blaTEM, blaCTX-M e blaSHV por PCR multiplex........ 4.15 Detecção de citotoxina...................................................................................... 4.15.1 Preparo das culturas celulares................................................................... 4.15.2 Preparo das amostras bacterianas.............................................................. 4.15.3 Teste de Citotoxicidade............................................................................. 4.16 Pesquisa de Aderência Bacteriana em Células HEp-2...................................... 4.16.1 Cultivo e preparo das monocamadas celulares......................................... 4.16.2 Realização do teste de adesão................................................................... 4.17 Análise estatística.............................................................................................. 4.18 Aspectos Éticos da Pesquisa............................................................................. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................... 14 16 16 16 17 21 21 23 29 29 29 30 30 30 30 31 31 31 31 32 32 32 32 33 33 33 33 34 34 35 36 36 36 37 37 37 37 38 38 38 38 39 40 5.1 Análise epidemiológica...................................................................................... 5.2 Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos................................................... 5.3 Detecção genotípica da produção de ESBLs...................................................... 5.4 Avaliação da hidrofobicidade bacteriana............................................................ 5.5 Identificação dos isolados produtores de fímbrias.............................................. 5.6 Formação de biofilme por cepas de P. aeruginosa............................................ 5.7 Produção de exoenzimas por P. aeruginosa....................................................... 5.8 Detecção de hemolisina..................................................................................... 5.9 Propriedades de virulência quanto ao sítio de infecção e instituição hospitalar. 5.10 Citotoxicidade e adesão em células HEp-2..................................................... 5.11Perfil genotípico dos fatores de virulência em isolados clínicos de P. aeruginosa................................................................................................................. 6 CONCLUSÃO........................................................................................................... REFERÊNCIAS............................................................................................................ ANEXO A – LISTA DE MEIOS DE CULTURA E REAGENTES............................ ANEXO B – ACEITE DO COMITÊ DE ÉTICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO – UNICEUMA............................................................................... ANEXO C – APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO XXVIII CONGRESSO DA SOCIEDADE LATINOAMERICANA DE PATOLOGIA E CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA................................................................................. ANEXO D – APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO 26º CONGRESSO BRASILEIRO DE MICROBIOLOGIA....................................................................... ANEXO E – SUBMISSÃO DE TRABALHO PARA A REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL........................................................................................... ANEXO F – PROTOCOLO DE SUBMISSÃO DE ARTIGO À REVISTA ARCHIVES OF MICROBIOLOGY............................................................................ ANEXO G – ARTIGO SUBMETIDO CONFORME AS NORMAS DA REVISTA ARCHIVES OF MICROBIOLOGY.......................................................................... 40 42 45 47 48 48 53 56 60 63 66 69 71 81 85 87 88 89 90 91 14 1 INTRODUÇÃO Pseudomonas aeruginosa é o micro-organismo mais frequentemente envolvido em infecções hospitalares e pode ser considerado oportunista, uma vez que causa doença em indivíduos imunocomprometidos (MURRAY et al., 2000). Portadores assintomáticos, assim como, pacientes com comprometimento imunológico, acompanhado de procedimentos invasivos, queimaduras e feridas operatórias tornam-se porta de entrada para esta espécie (OLIVEIRA et al., 1998; FERNANDES, 2001). Este patógeno tem sido associado a uma ampla variedade de infecções como bacteremias, infecções do trato urinário e respiratório e infecções de ouvidos e oculares, resultando muitas vezes em septicemia fatal. As infecções do trato urinário estão relacionadas ao uso de cateteres contaminados tanto pela flora do paciente como por micro-organismos presentes nas mãos dos profissionais de saúde, entre outras fontes (SILVA, 1999; FOXMAN, 2002). P. aeruginosa produz uma série de fatores de virulência considerados como responsáveis pelo aumento da colonização e infecção dos tecidos do hospedeiro (KONEMAN et al., 2006). Entre os fatores de virulência caracterizados como adesinas, têm-se os flagelos, as fímbrias e o alginato; e entre os fatores que facilitam o rompimento da integridade epitelial e podem degradar ou inativar importantes componentes do sistema imune podem ser citadas as elastases, protease alcalina, fosfolipase C, entre outros (KIPNIS; SAWA; WIENERKRONISH, 2006). Os vários determinantes de virulência extracelular desta bactéria contribuem para a citotoxicidade, necrose, invasão e disseminação (LYCZAK; CANNON; PIER, 2000). A maioria das cepas também produz um ou mais pigmentos, sendo o mais comum a piocianina, que retarda o crescimento de outras bactérias, facilitando sua colonização (TORTORA; FUNKE; CASE, 2002). Normalmente, os carbapenêmicos são os antibióticos mais eficazes no tratamento de infecções ocasionadas por bactérias Gram-negativas. No entanto, geralmente são empregadas como drogas de reserva nas infecções por cepas resistentes a outros agentes beta-lactâmicos, por isso recomenda-se restringir o uso de carbapenêmicos (SANTOS-FILHO et al., 2002). Devidos às mutações e seleções naturais relacionadas ao uso excessivo de antibióticos, algumas cepas de P. aeruginosa tornaram-se capazes de produzir potentes betalactamases, 15 enzimas que destroem antibióticos, incluindo os carbapenêmicos. Logo, este micro-organismo apresenta resistência intrínseca a vários antibióticos, o que representa um grande risco para os pacientes hospitalizados e um grande desafio para a terapêutica (SANTOS-FILHO et al., 2002; ROSSI; ANDREAZZI, 2005). P. aeruginosa é um micro-organismo de grande potencial patogênico e ao longo dos anos vem se destacando entre os agentes infecciosos mais frequentemente isolados em ambientes hospitalares. Apesar de todos os avanços médicos dos últimos anos e da alta tecnologia no suporte de doentes críticos, as infecções nosocomiais por este patógeno continuam associadas a elevados índices de morbimortalidade. Portanto, faz-se necessário um estudo que vise pesquisar os possíveis fatores de virulência e analisar o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos de P. aeruginosa isoladas de amostras clínicas hospitalares, os quais possam ser importantes na elucidação de seu mecanismo de patogenicidade e na administração de uma terapia antimicrobiana apropriada buscando a redução no índice de mortalidade por este patógeno. 16 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Bacilos Gram-negativos não fermentadores Os bacilos Gram-negativos classificados como não fermentadores são microorganismos aeróbios, não esporulados, que se caracterizam pelo fato de serem incapazes de utilizar carboidratos como fonte de energia através da fermentação, degradando-os pela via oxidativa (MURRAY et al., 2003). Os principais gêneros de bacilos Gram-negativos não fermentadores foram classificados em cinco famílias: Pseudomonadaceae, Alcaligenaceae, Flavobacteriaceae, Methyloccaceae, Rhyzobiaceae. A família Pseudomonadaceae inclui o gênero Pseudomonas e outros gêneros estreitamente relacionados (KONEMAN et al., 2006). O gênero Pseudomonas, por sua vez, é constituído por dez espécies isoladas a partir de espécimes clínicos e do ambiente, sendo P. aeruginosa a espécie mais frequentemente isolada. Os membros deste gênero apresentam ampla distribuição ambiental que se deve ao fato desses micro-organismos possuírem pequena exigência nutricional e muitos fatores de virulência que os tornam mais resistentes às condições ambientais e, também, à ação dos antimicrobianos mais comumente utilizados (MURRAY et al., 2003; KONEMAN et al., 2006). 2.2 Caracterização de Pseudomonas aeruginosa P. aeruginosa é uma bactéria Gram-negativa aeróbica, não fermentadora, que se apresenta sob a forma de bacilos isolados ou aos pares, movidos por flagelos polares. Tem tamanho de 0,5 a 0,8 por 1,5 a 3,0 μm e é de natureza ubiquitária comumente habitando o solo, água, vegetais, animais e os mais variados ambientes hospitalares (TRABULSI; LINCOPAN, 2008). Apresenta necessidade nutricional mínima, tolera uma ampla variedade de temperaturas (4ºC a 42ºC), é oxidase positiva, cresce em uma grande variedade de meios de cultura produzindo colônias grandes e irregulares que são identificadas presuntivamente pela produção de pigmento azul-esverdeado hidrossolúvel, piocianina e pioverdina, e pelo odor característico de frutas. Baseado em algumas características bioquímicas, P. aeruginosa pode ser presuntivamente identificada por métodos manuais e automatizados (MURRAY et al., 2003; KONEMAM et al., 2006). 17 P. aeruginosa possui genoma com cerca de 6,3 milhões de pares de bases e uma grande proporção de genes regulatórios, os quais permitem a essa bactéria sobreviver em diversos ambientes, inclusive crescer em meio com mínimos nutrientes. Conferem ainda resistência intrínseca a drogas, por alterações de permeabilidade da membrana, efluxo ativo de antibióticos, secreção de proteínas com função de fator de virulência, como toxinas, lipases e proteases, sistemas quimiossensores e de quimiotaxia, e secreção de enzimas, como βlactamases (STOVER et al., 2000). 2.3 Patogenia P. aeruginosa é caracterizada como um agente oportunista. Sua patogênese está intimamente relacionada à condição do hospedeiro. Normalmente, alguma quebra de barreira cutâneo-mucosa, como presença de cateter, tubo endotraqueal, queimaduras ou diminuição da imunidade do hospedeiro, estão presentes nas infecções por este patógeno (ZAVASCKI, 2003). A patogênese do ponto de vista microbiológico está associada à capacidade invasiva e toxigênica dessa bactéria. Basicamente, o processo infeccioso da P. aeruginosa pode ser dividido em três fases: 1) adesão e colonização; 2) invasão local; e 3) disseminação e doença sistêmica. Nenhuma das fases se desenvolve sem que a anterior tenha ocorrido, embora o processo possa se limitar a qualquer uma delas e cada uma dessas etapas é mediada por determinantes de virulência bacterianos específicos (TODAR, 2004). No processo de adesão e colonização, as fímbrias ou pili que possuem moléculas ligantes (lectinas ligadoras de maltose e lectinas ligadoras de galactose) promovem a aderência do micro-organismo a receptores de glicosídeos GM-1 presentes na superfície das células do hospedeiro (principalmente células cutâneo-mucosas) (KIPNIS; SAWA; WIENERKRONISH, 2006). A fímbria tipo IV é composta por milhares de subunidades proteicas de 15kDa e é considerada a principal adesina de P. aeruginosa, responsável pela aderência inicial tanto em material abiótico como na superfície de células epiteliais. Essa aderência é mediada pela região C-terminal da subunidade estrutural da fímbria (GIRARDELLO, 2007). O alginato, um exopolissacarídeo mucoide produzido por algumas cepas de P. aeruginosa, também está relacionado à adesão dessas bactérias a membranas mucosas, sobretudo em pacientes com fibrose cística. Além de funcionar como uma adesina, o 18 exopolissacarídeo também protege essas cepas da atividade mucociliar, da fagocitase e da atividade do complemento, bem como diminui a ação dos antimicrobianos por dificultar sua penetração na bactéria e também apresenta um importante papel na formação da arquitetura de biofilmes por esta bactéria (ZAVASCKI, 2003; TODAR, 2004). Biofilme é uma comunidade de micro-organismos sésseis caracterizada por células que se aderem a um substrato biótico ou abiótico e uma às outras, embebidas em uma matriz ou polímero extracelular, e constitui um modo de proteção dos micro-organismos permitindo sua sobrevida em ambientes hostis. Além disso, está envolvido em diversos tipos de infecções crônicas (DONLAN; CESTERTON, 2002). Bactérias sésseis são fisiologicamente distintas das planctônicas da mesma espécie, tendo como característica marcante a capacidade de serem mais resistentes aos antibióticos, pois a maioria dos antimicrobianos não consegue penetrar na matriz extracelular do biofilme (HENTZER et al., 2001). O mecanismo responsável pela resistência do biofilme aos antimicrobianos ainda não está bem esclarecido. Entre as possíveis causas tem-se que dentro do biofilme pode haver: 1) limitação na difusão do antimicrobiano; 2) as bactérias que compõem o biofilme produzem enzimas que degradam as drogas; e 3) a justaposição das células no biofilme facilita a transferência de genes de resistência de uma bactéria para outra por meio de plasmídeos (GIRARDELLO, 2007). A formação de biofilme representa um grande problema para pacientes hospitalizados, pois, permite a colonização de cateteres e de outros dispositivos médicos e protege a bactéria da ação dos antibióticos e do sistema imunológico do hospedeiro, o que dificulta muito o tratamento de infecções (SOARES, 2005). A capacidade de P. aeruginosa invadir os tecidos depende da produção de enzimas extracelulares e toxinas. Dentre os fatores de virulência extracelulares que facilitam o rompimento da integridade epitelial e interferem com o sistema imunológico do hospedeiro, são citados como mais importantes as elastases, protease alcalina, fosfolipase C e hemolisinas (JAFFAR-BANDJEE et al., 1995). A elastase parece ser a principal enzima envolvida no processo patogênico, pois diminui a atividade mucociliar, provoca dano ao epitélio respiratório, hemorragia intra-alveolar, degradação da laminina e elastina dos pequenos vasos, quebra do colágeno e imunoglobulinas IgG, IgA e de fatores do complemento. A elastase combinada com outra enzima, a protease alcalina, possui ação proteolítica sobre o interferongama e o fator de necrose tumoral alfa (KIPNIS; SAWA; WIENER-KRONISH, 2006). 19 Além disso, P. aeruginosa produz citotoxinas capazes de ocasionar danos teciduais pulmonares, diminuição da atividade de polimorfonucleares e ativação de fatores inflamatórios. Duas hemolisinas, fosfolipase C (hemolisina termolábil) e ramnolipídeo (hemolisina termoestável) agem sinergicamente na degradação de lipídeos e lectina e esses fatores contribuem para a invasão tecidual por meio de efeitos citotóxicos. A fosfolipase C caracteriza-se por sua ação citotóxica direta, aumento da síntese de ácido aracdônico e sua capacidade de degradação da fosfatidilcolina, um componente do surfactante pulmonar, ocasionando microatelectasias nos alvéolos pulmonares. O ramnolipídeo diminui a atividade mucociliar do trato respiratório (ZAVASCKI, 2003; KIPNIS; SAWA; WIENER-KRONISH, 2006). A virulência desse micro-organismo envolve também inúmeros exoprodutos, entre os quais se destacam os pigmentos piocianina e pioverdina e a exotoxina A. A piocianina é um pigmento azul que possui atividade bactericida contra ampla variedade de outras bactérias, induz apoptose em neutrófilos, diminui a concentração de glutationa reduzida (poderoso antioxidante) e aumenta a expressão de IL-8 e da molécula de adesão intercelular (ICAM-1), apresentando toxicidade às células de mamíferos em concentrações micromolares (ALLEN et al., 2005). O ferro é um elemento essencial para a maioria das bactérias e para adquiri-lo do ambiente elas precisam de sideróforos, que são moléculas circulantes. A pioverdina é o principal sideróforo secretado por P. aeruginosa e regula a produção dos determinantes de virulência, exotoxina A, endoprotease e sua própria secreção, o que lhe confere um importante papel na patogênse bacteriana. Em hospedeiros humanos e animais, o pigmento fluorescente pioverdina compete pelo ferro ligados às proteínas transferrina e lactoferrina dos fluidos extracelulares e à ferritina e hemoglobina internalizadas em células (LAMONT et al., 2002). A exotoxina A é uma proteína termolábil que tem o mesmo mecanismo de ação da toxina da difteria, pois catalisa a ADP-ribosilação e inativação do fator de elongação 2 (EF-2) de células eucarióticas resultando na inibição da síntese de proteínas na célula afetada e levando à morte celular. É conhecida como o componente mais tóxico produzido por P. aeruginosa, sendo encontrada em aproximadamente 90% dos isolados clínicos (TODAR, 2004). 20 São conhecidas quatro toxinas secretadas por P. aeruginosa diretamente no citosol da célula hospedeira pelo Sistema de Secreção Tipo III (SST3): exotoxinas S, Y, T e U. A exotoxina S é a de maior importância na patogênese das infecções e sua função patogênica é atribuída principalmente à atividade da ADP-ribosiltransferase, que gera uma ruptura na organização normal do citoesqueleto celular (KIPNIS; SAWA; WIENER-KRONISH, 2006). A exotoxina S é comumente produzida por cepas de P. aeruginosa advindas de tecidos queimados e de bacteremias (TODAR, 2004). Para a disseminação sistêmica da doença, acredita-se que contribuam os mesmos fatores que determinam a invasividade da bactéria, além da camada lipopolissacarídea (LPS). O lipopolissacarídeo da parece celular bacteriana é responsável pelas propriedades endotóxicas do micro-organismo e a causa da síndrome séptica: febre, choque, oligúria, leucopenia ou leucocitose, coagulação intravascular disseminada e anomalias metabólicas (FERREIRA, 2005). Os fatores de virulência de P. aeruginosa e atividade biológica produzida no hospedeiro encontram-se resumidas na Tabela 1. Tabela 1 - Fatores de virulência de P. aeruginosa e atividade biológica produzida no hospedeiro. Fator de virulência Atividade Biológica Alginato Aderência à superfície epitelial pulmonar e formação de biofilmes. Fímbrias Aderência. Neuraminidase Facilita a aderência. LPS Síndrome séptica. Exotoxina A Destrói tecido, inibe síntese proteica, interrompe atividade celular e atividade dos macrófagos. Enterotoxina Produz diarreia. Exoenzima S Inibe a síntese proteica. Fosfolipase C Destrói a membrana citoplasmática. Destrói o surfactante pulmonar. Inativa opsoninas. Elastase Degrada imunoglobulinas e componentes do complemento. Leucocidina Inibe função dos neutrófilos e linfócitos. Piocianinas Impede crescimento de outras bactérias e elimina atividade ciliar respiratória. Fonte: Koneman et al., 2008. 21 2.4 Epidemiologia P. aeruginosa é uma bactéria cosmopolita em sua distribuição, isolada do solo, da água, de plantas, de animais e de humanos. A umidade é um fator crítico para a manutenção de reservatórios deste micro-organismo em ambiente hospitalar, sendo isolado de equipamentos respiratórios, soluções de limpeza, medicamentos, desinfetantes, sabões, pias e alimentos (TODAR, 2004). P. aeruginosa está algumas vezes presente como parte da microbiota normal de humanos. A prevalência de colonização em pessoas saudáveis é relativamente baixa. As taxas de colonização de sítios específicos são as seguintes: pele, 0 a 2%; mucosa nasal, 0 a 3,3%; orofaringe, 0 a 6,6%; e intestino, 2,6 a 24%. Pacientes hospitalizados têm maior taxa de colonização destes sítios, que aumenta com o tempo de permanência no hospital e com o uso de antimicrobianos. São mais propensos à colonização a pele de pacientes com queimaduras severas, o trato respiratório inferior de pacientes em ventilação mecânica, o trato gastrointestinal de pacientes em quimioterapia e qualquer sítio em pacientes tratados com antimicrobianos. Portanto, estima-se que mais de 50% dos pacientes hospitalizados podem estar colonizados por esse patógeno (ZAVASCKI, 2003). Pacientes internados, principalmente em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), são colonizados devido à frequente exposição a instrumentos e aparelhos auxiliares, mãos dos profissionais de saúde e uso de antimicrobianos de amplo espectro. Nas últimas quatro décadas, P. aeruginosa foi responsável por 10% de todos os casos de infecções nosocomiais relatados. Dados do programa SENTRY (Antimicrobial Surveillance Program) mostraram que no Brasil este foi o patógeno mais frequente em isolados de pneumonia hospitalar, o segundo em infecções do trato urinário e infecções de ferida cirúrgica e o sétimo patógeno mais frequente em infecções da corrente sanguínea nos hospitais avaliados pelo programa (PIRES, 2009). Em um estudo do programa MYSTIC (Meropenem Yearly Susceptibility Test Information Collection), onde foram investigadas infecções causadas por bactérias Gramnegativas em vinte hospitais brasileiros, concluiu-se que P. aeruginosa foi a espécie prevalente com 30,3%. 2.5 Infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa 22 As infecções hospitalares e comunitárias têm como agentes etiológicos vários microorganismos, sendo de grande relevância as causadas por bactérias. Algumas destas representam maior risco para o paciente devido ao perfil de sensibilidade reduzido aos antimicrobianos, como observados em bacilos Gram-negativos não fermentadores. Neste grupo, P. aeruginosa é a bactéria amplamente isolada nos hospitais em todo o mundo (MARRA et al., 2006). Geralmente o processo infeccioso se inicia após quebra de barreira anatômica, como utilização de procedimentos invasivos. P. aeruginosa tem recebido atenção pela frequência com que está relacionado a doenças em pacientes com comprometimento imunológico, acompanhado de procedimentos invasivos, queimaduras e feridas operatórias, que se tornam porta de entrada para esta espécie (MATA, 2007). De fato, esta espécie tem sido associada a uma ampla variedade de infecções como bacteremias, infecções do trato urinário, infecções tegumentares e ósseas, infecções respiratórias agudas em pacientes submetidos à ventilação mecânica, infecções respiratórias crônicas em pacientes com fibrose cística, infecções de ouvidos e oculares, resultando, muitas vezes em septicemia fatal (KIPNIS; SAWA; WIENER-KRONISH, 2006). As infecções no trato urinário estão relacionadas ao uso de cateteres, que são colonizados tanto pela flora do paciente como por micro-organismos presentes nas mãos dos indivíduos da equipe de saúde, entre outras fontes (FOXMAN, 2002). P. aeruginosa pode causar abscessos cerebrais e meningite, pois o micro-organismo invade o sistema nervoso central através de uma estrutura contígua, como o ouvido interno ou seios paranasais, ou é inoculado diretamente por meio de traumatismo craniano, cirurgias ou procedimentos invasivos de diagnóstico (TODAR, 2004). As infecções adquiridas na comunidade, como as foliculites, oftalmites e otites externas, tendem a ser localizadas e associadas ao contato com água contaminada (KISKA; GILLIAN, 2003). A importância clínica deste patógeno tem se elevado significativamente em razão da gravidade das infecções, das altas taxas de morbimortalidade em pacientes hospitalizados e de contínuos fracassos terapêuticos (TORRES et al., 2006), consequência direta da ampla expressão de fatores de virulência, assim como da resistência intrínseca e adquirida a diversos agentes antimicrobianos (TRABULSI; LINCOPAN, 2008). 23 P. aeruginosa tem se mantido inalterada na sua posição entre um dos principais patógenos causadores de infecção em UTI, onde é exercida uma grande pressão seletiva de agentes antimicrobianos promovendo o aparecimento de cepas resistentes e multirresistentes (TORRES et al., 2006). Infecções causadas por cepas multirresistentes são de difícil controle, ocasionando maior tempo de internação hospitalar e alto custo com exames e medicamentos (MARTINS, 2002). 2.6 Resistência a antimicrobianos A resistência bacteriana aos antimicrobianos pode ser resultado de mecanismos intrínsecos ou adquiridos. A resistência intrínseca é uma característica natural de determinados grupos de bactérias, sendo espécies ou gênero-específica. Provém de herança genética do micro-organismo, sendo transmitida verticalmente às células filhas. A resistência adquirida ocorre quando as bactérias naturalmente sensíveis tornam-se resistentes, devido à aquisição de genes de resistência decorrente da transferência de material genético ou de mutações em genes cromossomais (POLLOTO, 2010). Devido às mutações e seleções naturais relacionadas ao uso excessivo de antibióticos, nos últimos anos tem sido observado um importante aumento nas taxas de resistência aos antimicrobianos em isolados clínicos de P. aeruginosa (MATA; ABEGG, 2007; SLAMA, 2008). A baixa permeabilidade da membrana externa a determinadas drogas, a produção de betalactamases cromossômicas tipo AmpC e a presença constitutiva de bombas de efluxo são mecanismos intrínsecos de resistência responsáveis pela resistência natural desta espécie às penicilinas de espectro restrito, cefalosporinas de primeira e segunda geração, trimetoprim e sulfonamidas. As opções terapêuticas são as penicilinas ticarcilina e piperalicina, as cefalosporinas de amplo espectro (ceftazidima e cefepime), aztreonam, carbapenêmicos, aminoglicosídeos e fluoroquinolonas (SPIEGEL, 2005). Alguns dos mecanismos de resistência adquiridos são a produção de betalactamases de diferentes classes moleculares, produção de enzimas modificadoras de aminoglicosídeos, alteração do alvo das fluoroquinolonas, a perda de porinas devido à mutação e a hiperexpressão de bombas de efluxo (LIVERMORE, 2002). Cepas panresistentes combinam diversos destes mecanismos e são resistentes praticamente a todos os antimicrobianos 24 comercialmente disponíveis, exceto a colistina e a polimixina B, este último, um agente antimicrobiano altamente tóxico (ZAVASCKI et al., 2007). Juntamente com outros bacilos Gram-negativos, P. aeruginosa tem apresentado aumento no perfil de resistência às cefalosporinas de espectro ampliado de uso hospitalar, ocasionando uso de antimicrobianos beta-lactâmicos de maior potência, como os carbapenens. Os carbapenens, por possuírem amplo espectro de atividade e serem estáveis à maioria das betalactamases, são uma classe de uso reservado para tratar infecções severas causadas por micro-organismos conhecidamente resistentes às penicilinas e cefalosporinas de última geração e são uma importante opção terapêutica para as infecções graves causadas por cepas de P. aeruginosa multirresistentes. (PICOLI, 2008; KATTAN et al., 2008) São utilizados o imipenem e o meropenem, pois o ertapenem, apesar de seu amplo espectro de ação apresenta atividade limitada sobre este patógeno. Entretanto, cepas de P. aeruginosa resistentes aos carbapenêmicos têm sido isoladas frequentemente e esta resistência é causada pelos seguintes mecanismos: hiperexpressão de sistemas de efluxo, alteração da permeabilidade da membrana à droga, mediada pela perda ou diminuição da expressão de porinas, alteração das proteínas ligadoras de penicilinas e produção de enzimas inativadoras (LIVERMORE, 2001). A perda de uma porina específica, a OprD, devido a mutação no gene OprD, que condifica porinas com reduzida afinidade pelo imipenem é considerada uma importante causa de resistência de P. aeruginosa a esta droga e a resistência ao meropenem é relatada como consequência da hiperexpressão do sistema efluxo MexAB-OprM (RODRÍGUEZ-MARTÍNEZ; LAURENT; NORDMANN, 2009). A produção de carbapenemases, enzimas que inativam os carbapenêmicos, é um mecanismo de resistência emergente que vem sendo apontado como causa da redução da utilidade clínica do imipenem e meropenem no tratamento das infecções por P. aeruginosa (LIVERMORE, 2002). As betalactamases são enzimas capazes de hidrolisar os antibióticos beta-lactâmicos através da hidroxilação irreversível da ligação amida do anel beta-lactâmico, gerando compostos sem atividade antimicrobiana (BUSH, 2001). Em 1989 foi proposta uma classificação, por Bush, cujo agrupamento inclui enzimas betalactamases de todos os grupos bacterianos e que correlaciona substratos e propriedades de inibição, integrando características funcionais e moleculares. Devido ao aparecimento crescente de betalactamases e de sua diversidade, em 1995, o esquema de classificação 25 desenvolvido por Bush sofreu modificações propostas por Bush, Jacoby e Medeiros, a qual deu origem a subgrupos, por exemplo, os subgrupos com o prefixo 2b, 2be, 2f, etc., para melhor caracterizar as diferentes enzimas. Ambler propôs um outro tipo de classificação molecular, na qual a sequência genética define quatro classes designadas como A, B, C, e D. As enzimas da classe A, C e D são serinas betalactamases e atuam sobre o antibiótico rompendo o anel beta-lactâmico por um mecanismo de hidrólise com consequente inativação da droga; as enzimas da classe B utilizam íons zinco para romper o anel beta-lactâmico e inativar o antibiótico. Atualmente, utiliza-se a combinação das características estruturais e funcionais das betalactamases: a classificação molecular de Ambler e a classificação funcional de Bush-Jacoby-Medeiros (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). As metalo-β-lactamases (MβLS), classificadas no grupo 3 de Bush e B de Ambler, são enzimas que apresentam um largo espectro de atividade, são codificadas por genes plasmidiais e ocorrem em espécies particulares de bactérias (JACOBY; MUNHOZ-PRICE, 2005). Elas necessitam de cátions divalentes (Zn++) como co-fatores enzimáticos, ou seja, a droga interage com o íon zinco no sítio ativo da enzima, sendo inibidas pela ação de agente quelante e por componentes derivados de tióis, como o ácido tiolático ou ácido 2mercaptopropiônico (2-MPA) (HEMALATHA; UMA, VIJAYLAKSHMI, 2005; MENDES et al., 2006). As MβLS, como todas as betalactamases, podem ser divididas em enzimas cromossomo-mediadas e naquelas codificadas por genes transferíveis. Muitas dessas enzimas vêm sendo descobertas e elas parecem se espalhar rapidamente devido ao seu potencial de transferência inter e intra-espécies (JACOBY; MUNHOZ-PRICE, 2005). Essas enzimas constituem o grupo de carbapenemases de maior importância clínica por apresentarem atividade hidrolítica não somente sobre os carbapenêmicos, mas também sobre penicilinas, cefalosporinas, cefamicinas e oxacefamicinas e não serem inibidas pelo ácido clavulânico ou tazobactam (MENDES et al., 2006). Atualmente são conhecidas seis subclasses de MβLS adquiridas: imipenemase (IMP), descoberta no Japão; Verona imipenemase (VIM), descoberta na Itália em 1997, em uma amostra clínica de P. aeruginosa; São Paulo metalo-beta-lactamase (SPM-1), isolada em 1997 de amostra clínica de P. aeruginosa no Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo; German imipenemase (GIM-1), descoberta na Alemanha; Seoul imipenemase (SIM-1), detectada em sete amostras clínicas de A. baumannii provenientes da Coreia, entre 2003 e 2004; e, Australian imipenemase (AIM), descoberta em uma amostra de P. aeruginosa isolada 26 em 2007 na Austrália. No entanto, as variantes de metalo-enzimas dos tipos IMP, VIM, SPM1 e GIM-1 são as mais relevantes clinicamente (WALSH et al., 2005). Os tipos de MβLS detectados no Brasil são SPM, IMP e VIM (FIGUEIREDO et al., 2009). Nos testes de disco difusão, utilizados para avaliar a susceptibilidade aos antimicrobianos, geralmente as amostras produtoras de MβLS são resistentes à ceftazidima, enquanto a susceptibilidade aos carbapenêmicos pode ser variada (FIGUEIREDO et al., 2009). Considerando a capacidade das MβLS em degradar todas as classes de beta-lactâmicos e que está distante de se implantar uma terapêutica inibidora, a disseminação desta enzima poderá se converter em catástrofe clínica (JACOBY; MUNHOZ-PRICE, 2005). As Betalactamases de Espectro Ampliado (ESBL) são enzimas mediadas por genes plasmidiais, não induzíveis, capazes de hidrolisar a cadeia oximino-beta-lactâmica presente na estrutura química da droga. Isso faz com que seu espectro de ação se estenda aos betalactâmicos como, penicilinas, cefalosporinas de primeira, segunda, terceira e quarta gerações e monobactâmicos (aztreonam). Mas não conferem resistência às cefamicinas (cefoxitina e cefotetan) e carbapenêmicos (imipenem e meropenem), sendo inibidas pelos inibidores das betalactamases, como ácido clavulânico, sulbactam e tazobactam (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). Estas enzimas pertencem ao grupo 2be e 2d de Bush-Jacoby-Medeiros e ao grupo A de Ambler, com exceção das ESBL tipo OXA que pertencem a classe D de Ambler e ao grupo 2be e 2d de Bush-Jacoby-Medeiros (PATERSON; BONOMO, 2005). A existência de P. aeruginosa produtora de ESBL representa um grande desafio na prática clínica, pois os testes disponíveis para detectar a produção de ESBL no laboratório clínico não apresentam boa acurácia quando aplicados a este patógeno. Dessa forma, é provável que sua prevalência nos hospitais seja subestimada (PICÃO; GALES, 2007). Em 1993, PER-1 foi a primeira ESBL da classe A de Ambler a ser caracterizada em uma amostra de P. aeruginosa, proveniente da Turquia. As enzimas do tipo TEM e SHV são bastante comuns em enterobactérias e foram identificadas em isolados de P. aeruginosa entre 1996 e 2002 na França e na Tailândia. Em 1999, foi observado que 93% das amostras deste micro-organismo resistente à ceftazidima isoladas em um hospital Tailandês produziram uma nova ESBL denominada VEB-1. O primeiro relato de produção de ESBL por este patógeno no Brasil data de junho de 2002, onde a amostra clínica produtora de GES-1 foi isolada de 27 uma paciente submetida à histerectomia por uma neoplasia de endométrio e desenvolveu infecção do sítio cirúrgico, no Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo. Portanto, em P. aeruginosa já foram descritas as ESBL tipo SHV, TEM, PER, VEB, BEL, GES e CTX-M (PICÃO; GALES, 2005). As classificações das betalactamases encontram-se descritas na Tabela 2. Tabela 2 - Classificação das betalactamases segundo Ambler e Bush. Substrato Inibição por clavulanato Enzimas representantes C Cefalosporinas Não AmpC de GN, MIR 2ª A Penicilinas Sim Penicilinases de GP 2b A Penicilinas Sim TEM-1, TEM-2, SHV 2be A Sim TEM-3 a TEM-26, SHV-2a SHV-6, Grupo Classe 1 Cefalosporinas Penicilinas Penicilinas K. oxytoca K1 2br A Penicilinas Sim/Não TEM-30 a TEM-36, TRC-1 2c A Penicilinas Sim PSE-1, PSE-3, PSE-4 Sim/Não OXA-1, OXA-11, PSE-2 Sim Cefalosporinases induzíveis Carbernicilina 2d D Penicilinas Cloxacilina 2e A Cefalosporinas de P. vulgaris 2f A Penicilinas Sim Cefalosporinas NMC-A de Enterobacter cloacae, Sme-1 de Serratia marcescens Carbapenêmicos 3 4 B Maioria dos betalactâmicos, inclusive carbapenêmicos Indeterminada Penicilinas Não L1 de Stenotrophomonas maltophilla, CcrA de Bacteroides fragilis, MBL Não Penicilinases de B. cepacia GP: Gram-positivos; GN: Gram-negativos. Fonte: Rossi; Andreazzi, 2005. As principais drogas consideradas antipseudomonas são: penicilinas com inibidor de betalactamase (piperacilina combinado a tazobactam), cefalosporinas de terceira, quarta e quinta geração (ceftazidima, cefepime e ceftobiprole), carbapenêmicos (imipenem e meropenem), aztreonam, fluorquinolonas (ciprofloxacina e levofloxacina), aminoglicosídeos (gentamicina e amicacina) e peptídeos catiônicos como polimixina B e colistina. No entanto, a prevalência de isolados de P. aeruginosa resistentes a três ou mais destes antibióticos tem aumentado consideravelmente nos últimos anos (SILVA et al., 2010). 28 A ceftazidima, o imipenem e o meropenem são os antibióticos mais utilizados para o tratamento de infecções causadas por P. aeruginosa. Embora o imipenem seja um dos agentes antimicrobianos mais prescritos no tratamento dessas infecções, essa decisão tem sido cada vez mais complicada pela crescente resistência exibida, além do que não é rara a resistência conjunta aos demais antimicrobianos citados. Entretanto, a resistência deste patógeno ao imipenem tem sido frequentemente reportada na última década no mundo e no Brasil. Esta bactéria apresenta taxas de resistência aos carbapenêmicos bastante elevadas (ZAVASCKI, 2003; CACCI, 2007), nestas situações a polimixina B tem sido a única opção terapêutica, embora alguns estudos já tenham mostrado a existência de cepas de P. aeruginosa com sensibilidade reduzida a este agente (FALAGAS; KASIAKOU, 2005; LANDMAN et al., 2005). Atualmente, a atividade antimicrobiana da combinação de diferentes antibióticos é estudada in vitro e in vivo, com intuito de propiciar nova alternativa terapêutica para infecções causadas por micro-organismos multirresistentes (MITSUGUI et al., 2008). 29 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Detectar os possíveis fatores de virulência e analisar o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos de diversas amostras clínicas de Pseudomonas aeruginosa provenientes de hospitais de São Luís-MA, os quais possam ser importantes na elucidação do seu mecanismo de patogenicidade. 3.2 Específicos Identificar as unidades de internação e espécimes clínicos mais acometidos pelas amostras em estudo; Conhecer o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos; Detectar a presença das ESBL nas cepas multirresistentes por PCR; Detectar fenotipicamente a produção de lipase, protease, elastase, fosfolipase, gelatinase e hemolisina nas amostras de P. aeruginosa; Avaliar o tipo de fímbrias e a produção de biofilme; Verificar a atividade citotóxica e a capacidade de adesão das amostras multirresistentes de P. aeruginosa em células HEp-2; Detectar a presença de genes que codificam a produção das enzimas protease alcalina, elastase A, elastase B, fosfolipase C hemolítica, fosfolipase C não hemolítica, exotoxina A e a presença dos genes algD; Analisar a frequência de expressão dos diversos fatores de virulência pesquisados entre as cepas multirresistentes. 30 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Isolados bacterianos Foram isoladas 100 cepas de Pseudomonas aeruginosa obtidas de diferentes amostras clínicas no período de março a julho de 2010. Os isolados foram provenientes de cinco hospitais (4 públicos e 1 particular) de São Luís do Maranhão, denominados de HospA, HospB, HospD, HospE (hospitais públicos) e HospC (hospital particular). 4.2 Identificação das cepas de P. aeruginosa Todas as cepas foram identificadas pelo método automatizado Vitek 2 (bioMérieux)® em um laboratório de microbiologia local, e posteriormente estocadas em Ágar BHI acrescido de glicerol (20%) a -20ºC para conservação e manutenção da viabilidade das mesmas. No laboratório de Microbiologia do Centro Universitário do Maranhão (UniCEUMA) foi realizado o reisolamento das amostras em placas de Ágar MacConkey e Ágar Sangue de Carneiro (5%) pela técnica de semeadura em superfície para certificação da pureza das amostras e posterior utilização na realização dos testes (KONEMAN et al. 2001). Os meios de cultura e reagentes empregados na metodologia encontra-se no ANEXO A. 4.3 Susceptibilidade antimicrobiana Os testes de susceptibilidade aos antimicrobianos foram realizados conforme o método de disco-difusão em ágar Müeller-Hinton (Kirby-Bauer). Os resultados foram reportados como sensível, intermediário ou resistente conforme recomendações do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2010), responsável por estabelecer os critérios e padronização dos pontos de corte para os diferentes antibióticos. Foram testadas as seguintes drogas (OXOID): amicacina (30 μg), aztreonam (30 μg), cefepime (30 μg), ceftazidima (30 μg), ciprofloxacina (5 μg), gentamicina (10 μg), imipenem (10 μg), levofloxacina (5 μg), meropenem (10 μg), piperacilina/tazobactam (100 μg/10 μg) e polimixina B (300 U). Foram definidas como cepas multirresistentes aquelas que apresentaram resistência a três ou mais classes de antibióticos. Para o controle de qualidade empregou-se a cepa P. aeruginosa ATCC 27853 (Rockville, Md). 31 4.4 Detecção da atividade lipolítica Para a detecção da atividade lipolítica foi utilizado o método descrito por Edberg, Gallo e Kontnick (1996) modificado. As amostras de P. aeruginosa previamente cultivadas em ágar nutriente a 37oC por 24 horas, foram semeadas por picada em ágar BHI suplementado com 1% de tween-80. As culturas foram incubadas à temperatura ambiente e avaliadas diariamente por 3 dias. A presença de um halo ao redor do local da inoculação, após 2 a 3 dias, foi considerado como teste positivo. 4.5 Detecção da atividade hemolítica 4.5.1 Pesquisa de hemolisina em meio sólido Para a realização do ensaio de hemolisina utilizou-se ágar Müeller-Hinton contendo 5% de sangue desfibrinado de carneiro, cavalo e humano. Para a detecção da formação de halos de hemólise, as cepas de P. aeruginosa, previamente semeadas em BHI a 37oC por 24 horas, foram inoculadas em pontos equidistantes nas placas de Petri, e incubadas a 37oC por 24 horas (BEUTIN et al., 1988). A atividade hemolítica foi verificada pela formação de halos ao redor das colônias pela ação da enzima hemolítica. 4.5.2 Atividade hemolítica no sobrenadante de cultura (teste em microplaca) Para a realização desse teste foi utilizado o método descrito por Bhakdi e TranumJensen (1986), com algumas modificações. As amostras de P. aeruginosa foram semeadas em BHI e incubadas a 37oC por 18 horas em estufa bacteriológica. Após a incubação as amostras foram centrifugadas (3600 rpm/15min) para obtenção dos sobrenadantes. Alíquotas de 500 μL dos sobrenadantes foram diluídas na razão 2 com PBS (pH 7,2). Uma alíquota de 500 μL de suspensão a 1% de hemácia de carneiro, previamente lavada três vezes com PBS (pH 7,2), foi adicionada a cada tubo contendo os sobrenadantes e incubadas em banho maria a 37oC por 1 hora. Após esse tempo, uma alíquota de 200 μL foi retirada e adicionada a cada orifício da microplaca de 96 poços e a atividade hemolítica foi determinada visualmente após 60 minutos de incubação a 37oC. Foi utilizado como controle positivo de lise a suspensão de hemácias com água destilada e como controle negativo de lise a suspensão de hemácias com PBS. 32 4.5.3 Influência da presença de íons e quelantes na atividade hemolítica Este experimento foi realizado segundo a metodologia descrita por Beutin et al. (1988) com algumas modificações. A atividade da hemolisina foi testada em ágar Müeller-Hinton com 5% de sangue de carneiro, ao qual foi acrescentado separadamente os quelantes EDTA (10 mM) e EDDA (12,5 μg/mL) e o íon CaCl2 (10 mM). A atividade hemolítica foi verificada pela formação de halo ao redor das colônias, após semeadura por picada das amostras e incubação a 37oC por 24 horas. 4.6 Detecção da atividade proteolítica Para caracterizar fenotipicamente a produção da protease, empregou-se o método descrito por Jagger, Bahner e Warren (1983). Inicialmente as amostras de P. aeruginosa foram inoculadas em BHI e após incubação a 37oC por 24 horas, foram semeadas por picada nas placas de Petri contendo ágar Müeller-Hinton e skim Milk (2%). A observação de halos claros em torno dos pontos inoculados indica atividade proteolítica. 4.7 Detecção da produção fenotípica da fosfolipase A realização do teste seguiu as recomendações descritas por Hobermann e Hardat (1972), com algumas modificações. As cepas, inicialmente semeadas em BHI a 37oC durante 24 horas, foram inoculadas em placas com ágar Müeller-Hinton enriquecido com egg yolk 10% (vol/vol). O aparecimento de um precipitado branco ao redor ou abaixo do local do inóculo é indicativo de produção de fosfolipase. 4.8 Detecção da produção de gelatinase Inicialmente, as cepas foram inoculadas em BHI e após a incubação a 37oC durante 24 horas, o pré-inóculo foi inoculado em tubos (semeados em profundidade) contendo 5 mL de uma solução de gelatina a 12%, preparada em tampão fosfato pH 7,4. Após incubação a 37oC por 24 horas, a atividade proteolítica é observada quando ocorre liquefação da gelatina (WILSON, 1930). 33 4.9 Detecção da produção de elastase A produção da elastase foi realizada segundo o protocolo de Morihara (1964), com modificações. Inicialmente, as cepas de P. aeruginosa foram semeadas em BHI, incubadas a 37oC durante 24 horas e posteriormente foram inoculadas pontualmente em placas de Petri com o meio de cultura contendo 1% de elastina e 2% de ágar bacteriológico, diluídos em tampão Tris-HCl (hidroximetil) aminometano 0,03M pH 8,0 e incubadas por 48 horas a 37oC e por mais 5 dias em temperatura ambiente. A atividade de elastase foi determinada pela observação de zonas claras ao redor do local de inoculação, em decorrência da ação da enzima. 4. 10 Produção de biofilme 4.10.1 Avaliação da produção de cápsula A avaliação da capacidade de P. aeruginosa em produzir cápsula foi realizada pelo método de semeadura em Ágar Vermelho Congo, descrito por Freeman, Falkiner e Keane (1989), com pequenas modificações. O AVC foi preparado conforme ANEXO A. Colônias de P. aeruginosa obtidas pelo crescimento prévio overnight em BHI foram semeadas por esgotamento no meio AVC e incubadas a 37°C por 24 horas. Os resultados foram avaliados de acordo com a coloração apresentada pelas colônias. As amostras foram consideradas produtoras de cápsula quando apresentaram coloração preta e as não produtoras de cápsula quando apresentaram coloração vermelha. 4.10.2 Indução de biofilme in vitro A formação de biofilme por P. aeruginosa também foi avaliada em placas de microtitulação de poliestireno pelo método de Cristal Violeta descrito por Stepanovic et al. (2007), com algumas modificações. Primeiramente, as amostras foram inoculadas em caldo BHI e incubadas a 37°C por 24 horas. Em seguida, uma porção do caldo de cultivo foi diluída (1:40) em meio BHI estéril. Os poços das placas de microtitulação foram preenchidos sequencialmente com alíquotas de 200 μL de cada amostra em triplicata. No controle negativo, transferiram-se somente 200 μL de caldo BHI em triplicata. Após preenchidas, as placas foram incubadas a 37°C por 24 horas em estufa microbiológica. Posteriormente foram lavadas três vezes com PBS (pH 7,4) e deixadas secar à temperatura ambiente. Depois foi 34 adicionado o Cristal violeta (200 μL/cavidade) e as placas foram incubadas por 15 minutos à temperatura ambiente. Em seguida cada cavidade foi lavada com água destilada estéril por três vezes e deixadas secar a temperatura ambiente. A avaliação de formação de biofilme foi realizada através da leitura da absorbância de cada poço utilizando-se o espectrofotômetro (BIO-RAD Laboratories PR 2100), em comprimento de onda de 490 nm. Baseando-se nas densidades ópticas dos isolados (DOi) e tomando-se por base a densidade óptica do controle negativo (DOc), os isolados foram classificados nas seguintes categorias: - Não produtor: DOi < Doc - Produtor fraco: DOc < DOi (2x Doc) - Produtor moderado: (2x DOc) < DOi (4x DOc) - Produtor forte: (4x DOc < DOi) 4.11 Identificação de fímbrias manose-sensível As amostras foram previamente semeadas em BHI e incubadas a 37°C por 24 horas, para posteriormente serem centrifugadas três vezes (3600 rpm por 15 minutos) sempre descartando o sobrenadante e colocando PBS (pH 7,4). O sangue de carneiro foi lavado três vezes com PBS (pH 7,4), para o preparo de uma solução de hemácias a 1% em PBS com e sem a adição de manose (5,4g de manose/1000 mL). Cerca de 100 μL dos isolados foram misturados, em lâminas de vidro, com 100 μL da solução de hemácias com e sem manose. As amostras que produziram hemaglutinação somente na ausência de manose foram consideradas manose sensíveis (CLEGG; OLD, 1979). 4.12 Determinação da hidrofobicidade celular Após crescimento em ágar BHI por 18 horas a 37°C, as culturas foram suspensas com concentrações crescentes de sulfato de amônio de 0,5 M, 1,0 M, 1,5 M, 2,0 M, 2,5M e 3,0 M. A formação de grumos em até dois minutos após a suspensão indica resultado positivo (SCHMIDT et al., 1998). 35 4.13 Detecção dos genes de virulência por PCR A detecção dos genes de virulência que codificam protease alcalina (aprA), elastase A (lasA), elastase B (lasB), fosfolipase C hemolítica (plcH), fosfolipase C não hemolítica (plcN), exotoxina A (toxA) e alginato (algD) foi realizada por PCR multiplex, conforme descrito por Lanotte et al. (2004), com modificações. As sequências dos primers utilizados estão descritos na Tabela 3 e os primers foram adquiridos da Invitrogen (Carlsbad, CA). A extração de DNA total foi obtida pela fervura das células bacterianas por 8 minutos. As reações de amplificação foram realizadas em um volume final de 25 μL, contendo 2 μL da lise bacteriana, 2,5 nM de dNTP, 20 pmol de cada primer, 2 mM MgCl2 e 1,0 U de Taq DNA polymerase em tampão de reação 10x (Flexi Buffer). O DNA foi amplificado no termociclador Mycicler (BioRad) usando o seguinte protocolo: 94°C por 3 min, 30 ciclos a 94°C por 30s, 55°C por 1 min, 72°C por 1 min e 30s e 72°C por 5 min. Os produtos da PCR foram detectados após eletroforese em gel de agarose a 2,5% a 80 V por 55 min, sendo posteriormente corado com brometo de etídio na concentração de 20 μg/100 mL de água e visualizado em luz ultravioleta com auxílio do transluminador. Tabela 3 - Sequência de oligonucleotídeos usados na detecção dos genes de virulência. Genes Sequências de oligonucleotídeos (5'-3') aprA F GTCCTATACCGTCGACCAGGC Tamanho da amplificação (bp) Referência 928 (LOMHOLT et al., 2001) 514 (LOMHOLT et al., 2001) 300 (LANOTTE et al., 2004) 307 (LANOTTE et al., 2004) 466 (LANOTTE et al., 2004) 352 (LANOTTE et al., 2004) 1340 (LANOTTE et al., 2004) R GTCGCTACCCGAGCCGCCGAT lasA F CGCCATCCAACCTGATGCAAT R AGGCCGGGGTTGTACAACGGA lasB F GGAATGAACGAAGCGTTCTC R GGTCCAGTAGTAGCGGTTGG plcH F GAAGCCATGGGCTACTTCAA R AGAGTGACGAGGAGCGGTAG plcN F GTTATCGCAACCAGCCCTAC R AGGTCGAACACCTGGAACAC toxA F GGTAACCACGTCAGCCACAT R TGATGTCCAGGTCATGCTTC algD F ATGCGAATCAGCATCTTTGGT R CTACCAGCAGATGCCCTCGGC Legenda: F, forward; R, reverse (FONTE: PRADO, 2009) 36 4.14 Detecção dos genes de Betalactamase por PCR 4.14.1 Extração do DNA bacteriano Para a extração do DNA, foi suspensa uma colônia por isolados em 1 mL de água destilada estéril. Posteriormente, as cepas foram fervidas durante 8 minutos em banho-maria e, em seguida, o DNA dos isolados foi mantido à temperatura de -20°C (AGERSBORG; DAHL; MARTINEZ, 1997). 4.14.2 Detecção de genes blaTEM, blaCTX-M e blaSHV por PCR multiplex Os primers utilizados no estudo estão listadas na Tabela 4. Os primers foram adquiridos da Invitrogen (Carlsbad, CA) e todas as reações foram realizadas com 2,5 μL de DNA de cada micro-organismo, 0,8 μL de primers específicos (1 μM), 0,25 μL Taq DNA polimerase (5 u/μL), 5 μL do tampão Green Go Taq Flexi Buffer (5x), 2 μL MgCl2 (2mM), 0,25 μL dNTPs (20 mM) e 12,2 μL de água miliQ em um volume total de 25 μL. As condições para amplificação foram as seguintes: desnaturação inicial a 95°C por 15 minutos, 30 ciclos de desnaturação a 94°C por 30 segundos, anelamento a 60°C por 30 segundos, extensão a 72°C por 2 minutos, seguido de uma extensão final a 72°C por 10 minutos. As amplificações foram realizadas no termociclador Mycicler (BioRad) e o produto amplificado de cada reação foi separado em gel de agarose a 2,5% durante o período de 1 hora (60/80 volts), sendo posteriormente corado com brometo de etídio na concentração de 20 μg/100 mL de água e visualizado em luz ultravioleta com auxílio do transluminador (MONSTEIN et al., 2007). Tabela 4 - Primers usados na amplificação por PCR multiplex. Nome do primer Sequência (direção 5'- 3') Gene alvo Tamanho do fragmento (pb) TEM-164. SE TEM-165. AS TGCCCGCATACACTATTCTCAGAATGA bla TEM 445 CTX-M-U1 CTX-M-U2 ATGTGCAGYACCAGTAARGTKATGGC bla CTX-M 593 bla SHV ACGCTCACCGGCTCCAGATTTAT TGGGTRAARTARGTSACCAGAAYCAGCGG bla-SHV. SE ATGCGTTATATTCGCCTGTG bla-SHV. AS TGCTTTGTTATTCGGGCCAA Fonte: Monstein et al., 2007. 747 37 4.15 Detecção de citotoxina 4.15.1 Preparo das culturas celulares Foram utilizadas as células HEp-2 (carcinoma epidermoide de laringe) as quais foram descongeladas rapidamente em banho-maria a 37°C e transferidas para uma garrafa de cultura de células contendo meio MEM (meio mínimo essencial de Eagle modificado/ Cultilab), suplementando com 10% de soro fetal bovino (SFB/ Cultilab) e 1% de solução de antibióticos contendo penicilina (1000 U/mL; Sigma) e estreptomicina (250 μg/mL; Sigma). Os frascos de cultura foram incubados em atmosfera de 5% de CO2 a 37°C por 48 horas, até a formação do tapete celular. Depois o meio foi descartado, sendo adicionado à cultura celular uma solução de ATV (Associação Tripsina-Versene/Cultilab) para o deslocamento do tapete. As células foram ressuspendidas no meio MEM, acrescido de 10% de SFB e 1% de antibióticos, para um número estimado de 2,5 x células/mL. A suspensão de células será distribuída em microplacas de 96 cavidades (COSTAR), em um volume de 100 μL por cavidade. As placas foram incubadas a 37°C em atmosfera de 5% de CO2 por 24 horas. 4.15.2 Preparo das amostras bacterianas As amostras de P. aeruginosa foram cultivadas em 3 mL de BHI a 37°C por 18h com agitação a 150 rpm. Após esse período, as amostras de cada cultura foram centrifugadas (3600 rpm/10min) e seu sobrenadante coletado. O sobrenadante obtido foi centrifugado por mais três vezes e filtrado, para total retirada das bactérias e mantido a -20°C até o momento dos ensaios biológicos. 4.15.3 Teste de Citotoxicidade As placas de cultura de linhagem de célula HEp-2, preparadas como descrito no item 4.15.1, foram utilizadas para detecção de citotoxinas existentes nos sobrenadantes de cultura das amostras de Pseudomonas aeruginosa (item 4.15.2). Alíquotas de 100 μL dos sobrenadantes foram utilizadas em duplicata, em diluições seriadas na razão dois. As placas foram incubadas em estufa a 37°C em atmosfera de 5% de CO2 e a leitura dos resultados foi feita em 18h, 24h e 72h após incubação. Foi utilizado como controle positivo a solução de fenol a 2% com PBS (KONOWALCHUK; SPEIRS; STAVRIC, 1977). 38 4.16 Pesquisa de Aderência Bacteriana em Células HEp-2 4.16.1 Cultivo e preparo das monocamadas celulares As células HEp-2 foram descongelados em banho-maria a 37°C e transferidas para uma garrafa de cultura de células contendo meio MEM, suplementando com 10% de soro fetal bovino e 1% de solução de antibióticos contendo penicilina (1000 U/mL; Sigma) e estreptomicina (250 μL/ mL; Sigma). Os frascos de cultura foram incubados em atmosfera de 5% de CO2 a 37°C por 48 horas, até a formação do tapete celular. Após esse período, o meio foi descartado, sendo adicionado à cultura celular uma solução de ATV para o deslocamento do tapete. As células foram ressuspensas no meio MEM, acrescido de 10% de soro fetal bovino e 1% de antibióticos, para um número estimado de 2,5 x células/mL. A suspensão de células foi distribuída em microplacas de 24 cavidades, contendo lamínulas, em volumes de 1 mL por cavidade. As placas foram incubadas a 37°C em atmosfera de 5% de CO2 por 48h ou até que a monocamada atingisse a semi-confluência. 4.16.2 Realização do teste de adesão Um inóculo de 40 μL das amostras de Pseudomonas aeruginosa cultivadas em BHI por 18h a 37°C em agitação de 150 rpm foram adicionadas em placas de 24 orifícios, contendo monocamadas celulares semi-confluentes de células HEp-2 contidas em MEM acrescido de SFB a 2% na ausência ou presença de D-manose a 2%. Após 2h de incubação a 37°C em atmosfera de 5% de CO2 (período de infecção), as placas foram lavadas com PBS e adicionado ao meio 1 mL de MEM acrescido de SFB com e sem manose. Após 2h (período de multiplicação), cada uma das placas foi lavada com PBS e as células foram fixadas com metanol por um período mínimo de 10 minutos. As preparações foram coradas com MayGrunwald/Giemsa e analisadas quanto ao padrão de aderência em microscópio óptico NIKON (SCALETSKY; SILVA; TRABULSI, 1984). 4.17 Análise estatística Os procedimentos estatísticos compreenderam o emprego do coeficiente de contingência C, da regressão logística múltipla e dos testes de Friedman, Qui-quadrado e Kruskal-Wallis para a análise dos dados. Em todos os testes o nível de significância aplicado foi de 5%. No processamento eletrônico dos dados foi utilizado o Programa BioEstat 5.0. 39 4.18 Aspectos Éticos da Pesquisa Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do UNICEUMA, segundo emissão do parecer 303/2010 (ANEXO B), seguindo rigorosamente as normas da Resolução CNS 196/96. 40 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Análise epidemiológica As cepas de P. aeruginosa incluídas neste estudo foram isoladas de amostras clínicas obtidas de diferentes sítios anatômicos (Figura 1). Secreção traqueal foi a amostra clínica mais frequente, correspondendo a 25% do total. A urina correspondeu a 19% das amostras, seguida da ponta de cateter com 12%, secreções diversas com 11%, ferida com 8%, sangue com 7% e outros materiais clínicos (aspirado faríngeo, escara, escarro, lavado brônquico, líquido pleural, líquido ascítico, líquor, placa de cavidade oral e swab nasal) com 18% do total das amostras clínicas. 18% Secreção traqueal 25% Urina 7% Ponta de cateter 8% 19% 11% 12% Secreções diversas Ferida Sangue Outros Figura 1 - Distribuição de 100 amostras clínicas de P. aeruginosa por sítio anatômico. Estudos relatam que a alta frequência de isolamento de P. aeruginosa a partir de amostras do trato respiratório está associada à ventilação mecânica, geralmente causando pneumonias (MENEZES et al., 2004). Um trabalho realizado por Lucchetti et al. (2005), mostrou que esta bactéria foi o principal agente isolado de infecções do trato urinário e segundo dados epidemiológico, 35-45% de todas as infecções hospitalares adquiridas são urinárias, sendo que 80% estão relacionadas ao uso de cateter. Estudos realizados no Brasil e em outros países da América Latina mostram a alta frequência de isolamento desta bactéria a partir de amostras do trato respiratório e urina 41 (SANTOS-FILHO et al., 2002; PIRES et al., 2009; POLLOTO, 2010), corroborando com os resultados do nosso trabalho. P. aeruginosa foi relatada como causa mais frequente de pneumonias em pacientes hospitalizados e o terceiro patógeno mais isolado de infecções urinárias em estudos realizados no País. Foi realizado um estudo nos Estados Unidos, no período de 1986 a 2003, onde foram analisados isolados bacterianos adquiridos em UTI’s e verificou-se que P. aeruginosa foi o segundo patógeno mais isolado de pneumonias hospitalares, a terceira causa mais comum de infecções urinárias, o quarto patógeno mais comum em infecções de sítio cirúrgico e o sexto mais isolado da corrente sanguínea (GAYNES; EDWARDS, 2005; POLLOTO, 2010). Quanto à procedência das cepas de P. aeruginosa, observamos que a UTI foi o setor onde houve maior isolamento deste micro-organismo, correspondendo a 43%, seguido da clínica médica com 31% dos isolados (Figura 2). Resultados semelhantes foram encontrados por Menezes et al. (2004) ao estudarem o percentual de infecção e resistência de bacilos Gram-negativos não fermentadores em um Hospital do Ceará, onde o setor com maior índice de amostras positivas para P. aeruginosa foi a UTI. Pode-se dizer que, este elevado índice de isolamento desta bactéria em UTI deve-se ao fato de P. aeruginosa ser um patógeno oportunista causador de bacteremias em pacientes imunocomprometidos, vítimas de queimaduras, portadores de infecções urinárias associadas ao uso de cateteres e de pneumonias hospitalares associadas com a ventilação mecânica, especialmente em unidades de terapia intensiva (TORRES et al., 2006; MENEZES et al., 2007; FIGUEIREDO et al., 2009). 42 Figura 2 - Setores hospitalares onde foram isoladas cepas de P. aeruginosa no período de março a julho de 2010. 5.2 Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos P. aeruginosa apresenta resistência inata a várias classes de drogas, além de uma notável habilidade em adquirir resistência a quase todos os antimicrobianos de importância clínica, seja através de mutações ou pela aquisição de genes de outras espécies (LIVERMORE, 2002). O monitoramento da susceptibilidade aos antimicrobianos entre amostras hospitalares de P. aeruginosa é uma ferramenta de extrema importância, auxiliando na escolha de esquemas adequados para tratamento de infecções por esse agente (MARRA et al., 2006). Entre as amostras de P. aeruginosa analisadas neste estudo, as taxas de sensibilidade mais elevadas foram detectadas frente à amicacina (75%), piperacilina-tazobactam (69%), fluoroquinolonas (68%), gentamicina (64%) e meropenem (62%), o que os torna boas escolhas para o tratamento de infecções por este micro-organismo, nos hospitais avaliados (Figura 3). Figueiredo et al. (2009), em estudo realizado no Hospital Estadual Azevedo Lima de Niterói-RJ encontraram taxas de sensibilidade mais elevadas para amicacina (73,1%), piperacilina- tazobactam (72%), meropenem (72,3%) e imipenem (67,4%), já em estudo realizado nos Estados Unidos, as taxas de sensibilidade para esses antimicrobianos foram mais elevadas, variando de 80% a 90% (KARLOWSKY; DRAGHI; JONES, 2003). 43 Em concordância com os dados da literatura, a polimixina B foi o único antimicrobiano capaz de inibir o crescimento de todas as cepas estudadas, com uma taxa de sensibilidade de 100%, conforme Figura 3. (ZAVASCKI et al., 2007; FIGUEIREDO et al., 2009; POLLOTO, 2010). As cepas estudadas também apresentaram taxas de resistência elevadas em relação ao aztreonam (48%), ceftazidima (42%) e cefepime (41%), dados apresentados na Figura 4. Em trabalho realizado por Santos-Filho et al. (2002), gentamicina, cefpiroma e aztreonam foram os antimicrobianos para os quais as amostras bacterianas se mostraram mais resistentes, sendo sensíveis a colistina e ceftazidima. Já no trabalho realizado por Marques et al. (2007), em relação as cefalosporinas, ceftazidima e cefepime, a sensibilidade foi de 50,7% e 36%, respectivamente, mostrando um perfil de resistência diferente do observado no nosso trabalho. Perfil de Susceptibilidade ao Antimicrobianos 120 SENSÍVEL Percentual de Amostras 100 80 INTERMEDIÁRIO 75 68 58 60 57 62 57 48 43 42 41 40 69 68 64 40 33 32 100 RESISTENTE 32 38 31 24 20 12 1 1 1 CEP CAZ 3 0 AMI AZT CIP GEN IMP LEV MER PPZ POLB Antimicrobianos Figura 3 - Perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos das 100 cepas de P. aeruginosa isoladas de pacientes atendidos em hospitais de São Luís-MA (AMI=amicacina, AZT=aztreonam, CEP=cefepime, CAZ=ceftazidima, GEN=gentamicina, IMP=imipenem, LEV=levofloxacina, MER= meropenem, PPZ=piperacilina/tazobactam, POLB=polimixina B). Da mesma forma como foi observado em nossos resultados, Polloto (2010), no seu estudo, também encontrou taxas de resistência elevadas em relação à ceftazidima (78,3%) e cefepime (98,3%). O uso abusivo de cefalosporinas de terceira e quarta geração, especialmente ceftazidima, parece ser a principal causa desse mecanismo de resistência 44 (BLATT, 2000). Já a resistência ao aztreonam, que foi observada no nosso trabalho, pode ser atribuída a uma superexpressão do sistema efluxo MexA-MexB-OprM, que também contribui para a expulsão de cefalosporinas e inibidores de betalactamases (SOARES, 2005). Em relação aos carbapenêmicos, as amostras foram mais resistentes ao imipenem (43%) do que ao meropenem (38%) (Figura 4). Variações nas taxas de resistência entre esses antibióticos já foram descritas anteriormente. Rodríguez-Martínez, Laurent, Nordmann (2009) observaram maiores taxas de resistência ao imipenem quando comparadas ao meropenem, corroborando com nossos resultados. Já Silva e colaboradores (2007), em um estudo no Brasil, descreveram maior resistência ao meropenem. Esta diferença de susceptibilidade entre os carbapenêmicos explica-se pela ocorrência simultânea ou em diversas combinações de vários mecanismos de resistência como perda da proteína de membrana externa OprD, que causa resistência ao imipenem e não ao meropenem; superexpressão dos sistemas de efluxo; e, produção de carbapenemases (BONOMO; SZABO, 2006; RODRÍGUEZ-MARTÍNEZ; LAURENT; NORDMANN, 2009). Porcentagem de Resistência 60 48 50 Perfil de Resistência 41 43 42 38 40 32 30 33 32 31 24 20 10 0 0 AMI AZT CEP CAZ CIP GEN IMP Antimicrobianos LEV MER PPZ POLB Figura 4 - Frequência de isolados de P. aeruginosa resistentes aos antimicrobianos (AMI=amicacina, AZT=aztreonam, CEP=cefepime, CAZ=ceftazidima, GEN=gentamicina, IMP=imipenem, LEV=levofloxacinaa, MER= meropenem, PPZ=piperacilina/tazobactam, POLB=polimixina B). Nossos resultados mostraram que 34% (34/100) das cepas estudadas apresentaram um perfil de multirresistência. Destas, 50% (17/34) foram sensíveis somente à polimixina B. P. aeruginosa multirresistentes têm sido relatadas com grande frequência na Europa, América do 45 Norte e América Latina, sendo que cepas isoladas na América Latina, inclusive no Brasil, possuem as maiores taxas de resistência aos antimicrobianos, o que representa importante impacto tanto sobre a morbidade e mortalidade como nos custos de tratamento dos pacientes internos em ambiente hospitalar. É importante, portanto, que esses micro-organismos portadores de resistência sejam bem caracterizados e identificados para auxiliar os clínicos em suas opções terapêuticas (CACCI, 2007). Nestas situações, as polimixinas têm sido a única opção terapêutica em muitos casos de infecções hospitalares graves por este patógeno (MITSUGUI et al., 2008; POLLOTO, 2010). Uma característica marcante das infecções por P. aeruginosa adquiridas em UTI é a multirresistência. Neste trabalho, 53% (18/34) das cepas multirresistentes analisadas foram provenientes da UTI. Segundo Ferreira (2005), os percentuais de resistência são mais elevados nas amostras isoladas nestas Unidades de Tratamento refletindo maior intensidade de uso de antimicrobianos neste ambiente e, possivelmente, transmissão de cepas multirresistentes entre os pacientes. 5.3 Detecção genotípica da produção de ESBLs A dificuldade na detecção de ESBL é maior em cepas de P. aeruginosa, possivelmente devido à maior impermeabilidade da sua membrana externa quando comparado à família Enterobacteriaceae, assim como a resistência a antimicrobianos mediada por sistemas de efluxo e presença de betalactamases cromossomais do tipo AmpC que inativam as cefalosporinas de amplo espectro e não são inibidas pelos inibidores de betalactamase. As enzimas AmpC podem mascarar a presença de ESBL, logo, a detecção de ESBL em amostras de P. aeruginosa é um grande desafio para o laboratório clínico, pois o teste fenotípico utilizado para sua detecção não apresenta sensibilidade e especificidade satisfatória quando aplicado à P. aeruginosa. Dessa forma, é provável que sua prevalência nos hospitais seja subestimada (PICÃO; GALES, 2007; SILVA, 2009). Embora saibamos que é utópico por um fim à resistência bacteriana, seu controle entre as amostras hospitalares é indispensável à qualidade da assistência à saúde e o controle da resistência, depende diretamente da detecção de mecanismos de resistência, como a ESBL e do uso racional dos antimicrobianos (PICÃO; GALES, 2007). No presente estudo, propusemos empregar métodos moleculares para a detecção de ESBLs em amostras 46 multirresistentes de P. aeruginosa, tentando contornar a dificuldade da detecção fenotípica nos laboratórios clínicos. Neste estudo, do total de 34 isolados multirresistentes submetidos à técnica de PCR multiplex para a detecção de ESBL, 17 (50%) amostras foram positivas para o gene TEM (FIGURA 5). Não foi observada a expressão dos genes SHV e CTX-M. Nossos resultados corroboram com estudos realizados na França, onde quatro variantes do tipo TEM (TEM-4, TEM-21, TEM-24 e TEM-42) foram descritas em P. aeruginosa neste país (MUGNIER et al., 1996; MARCHANDIAN et al., 2000). Já no trabalho realizado por Silva (2009), onde ele pesquisou a prevalência de ESBL em isolados clínicos de P. aeruginosa multirresistentes em hospitais de São Paulo, entre os seis genes de ESBL pesquisados (blaCTX-M, blaOXA, blaTEM, bla SHV, bla GES e bla PER), foram identificados apenas dois genes em todas as amostras estudadas: os genes blaCTX-M e blaOXA, discordando, assim, dos nossos resultados. Desta forma, o conhecimento da ocorrência de ESBL entre amostras de P. aeruginosa é fundamental para que o clínico possa instituir a terapia antimicrobiana adequada, já que a utilização de cefalosporinas de amplo espectro e monobactans no tratamento das infecções causadas por amostras produtoras de ESBL pode resultar em falência terapêutica (BRADFORD, 2001). Figura 5 - Detecção dos genes blaCTX, blaTEM e blaSHV em cepas multirresistentes de P. aeruginosa por PCR multiplex. (Visualização em gel de agarose a 2,5 %: M=ladder de 50pb; 1= ATCC 35218; 2=Pa02; 3=Pa13; 4=Pa14; 5=Pa06; 6=Pa10; 7=Pa89; 8=Pa29; 9=Pa33; 10=Pa34; 11=Pa50; 12=Pa83; 13=Pa86; 14=Pa87; 15=Pa58). 47 5.4 Avaliação da hidrofobicidade bacteriana Para avaliação da hidrofobicidade bacteriana foi realizado o teste de agregação em concentrações crescentes de sulfato de amônio. Os resultados mostraram que P. aeruginosa formou grumos em concentração igual ou superior a 2,5M entre a maioria dos isolados analisados, sugerindo que estas cepas têm uma tendência hidrofóbica elevada (FIGURA 6). Hidrofobicidade 60 50 53 50 % 40 32 30 20 13 12 7 10 0 3M 2,5 M 2,0 M 1,5 M 1,0 M 0,5 M Concentrações de Sulfato de Amônio Figura 6 - Avaliação da hidrofobicidade de P. aeruginosa em concentrações crescentes de sulfato de amônio. Estudos têm demonstrado que a hidrofobicidade da superfície celular bacteriana é um dos fatores mais importantes que regem o mecanismo de adesão bacteriana a superfícies inanimadas e biológicas (CAPELLO; GUGLIELMINO, 2006). Portanto, quanto mais hidrofóbico for o micro-organismo, maior será sua capacidade em formar biofilmes, pois, as propriedades físico-químicas da superfície podem exercer uma forte influência sobre a adesão dos micro-organismos, os quais aderem mais facilmente às superfícies hidrofóbicas (plásticas) do que às hidrofílicas (vidro ou metais). Estudos mostram que a adesão microbiana se torna melhor com o aumento da hidrofobicidade, tanto da superfície celular como do substrato de adesão (RODRIGUES et al., 2009). De acordo com outro trabalho, na fase exponencial de crescimento, as bactérias tendem a se tornar mais hidrofóbicas e formar grumos, aderindo umas às outras ou a superfícies presentes no meio de cultura (LOCATELLI et al., 2004). 48 Os resultados achados no nosso trabalho são condizentes com a literatura ao corroborar a hipótese de que a hidrofobicidade celular é importante na adesão, ou seja, a adesão microbiana torna-se melhor com o aumento da hidrofobicidade. Portanto, P. aeruginosa por apresentar uma elevada hidrofobicidade, apresenta uma maior tendência para formar biofilme (FLACH; KARNOPP; CORÇÃO, 2005). 5.5 Identificação dos isolados produtores de fímbrias A interação física entre o patógeno e o hospedeiro é essencial para a patogênese de praticamente todas as doenças bacterianas. As fímbrias mediam a ligação entre o patógeno e a superfície das células do hospedeiro dando início à colonização e formação de um filme de microcolônias que sofrerão maturação, constituindo o biofilme (GIRARDELLO, 2007). No nosso trabalho buscamos identificar as fímbrias nos isolados de P. aeruginosa pela sua habilidade de aglutinar eritrócitos. Observamos que em 19% das cepas analisadas houve aglutinação na ausência de manose e essas fímbrias foram denominadas manose-sensível. Nas demais cepas as fímbrias foram consideradas manose-resistente, pois houve aglutinação dos eritrócitos mesmo na presença de manose. As fímbrias estão presentes na maioria das bactérias Gram-negativas permitindo a adesão às células e a outras superfícies. As infecções por P. aeruginosa envolvem diferentes órgãos e tecidos sendo a maioria das infecções invasivas e toxigênicas, compostas por três estágios distintos: adesão bacteriana e colonização, invasão local e doença sistêmica cada um mediado por determinantes de virulência bacterianos específicos (TODAR, 2004). A adesão às células do hospedeiro é crítica para o estabelecimento da infecção e pelo menos quatro componentes estruturais da superfície de P. aeruginosa facilitam a adesão, dentre eles as fímbrias (KIPNIS; SAWA; WIENER-KRONISH, 2006). 5.6 Formação de biofilme por cepas de P. aeruginosa Existem vários fatores relacionados à formação de biofilmes e os principais são: características físico-químicas do material sobre o qual estão aderidos e expressão de fatores de virulência pelos micro-organismos, como produção de cápsula exopolimérica e síntese de adesinas fimbriais e não fimbriais (FLACH; KARNOPP; CORÇÃO, 2005). 49 A formação de biofilme por P. aeruginosa é um fator de virulência de grande importância que necessita de diversos estudos para melhor entender seu funcionamento. A avaliação da capacidade de P. aeruginosa em produzir cápsula como teste presuntivo para a formação de biofilme foi testada neste trabalho pelo método do Ágar Vermelho Congo, através do qual foi observado que 52% das amostras analisadas foram produtoras de cápsula (Figura 8). Já a formação de biofilme por este micro-organismo foi avaliada em placas de microtitulação de poliestireno pelo método do Cristal Violeta, onde 14% dos isolados não foram produtores de biofilme; 26% apresentaram-se como produtores fracos; 41% como produtores moderados e 19% como produtores fortes, como se observa nas Figuras 7 e 9. Girardello (2007), ao estudar a formação de biofilme em microplacas de poliestireno por amostras de P. aeruginosa isoladas de pacientes com infecção urinária, obteve resultados semelhantes aos da nossa pesquisa: 9% foram não produtoras, 33% produtoras fracas, 28% produtoras moderadas e 30% fortes produtoras de biofilme. Figura 7 - Frequência dos isolados clínicos de P. aeruginosa produtores e não produtores de biofilme pelo método de Cristal Violeta por indução in vitro. Essa grande capacidade de P. aeruginosa em formar biofilme representa um grande problema para pacientes hospitalizados, pois permite a colonização de cateteres (vasculares, peritoneais, urinários), tubos nasogástricos, tubos endotraqueais, dispositivos ortopédicos, dentre outros, podendo desencadear infecções crônicas. Além disso, protege a bactéria do 50 sistema imune do hospedeiro e da ação dos antibióticos tornando-as, portanto, mais resistentes às drogas (SOARES, 2005). Na última década, os biofilmes microbianos foram intensamente estudados, uma vez que há um grande interesse científico do conhecimento de como as bactérias formam e vivem em comunidades multicelulares (DONLAN; CESTERTON, 2002). Muito ainda tem para se pesquisar sobre a formação e manutenção do biofilme, buscando encontrar maneiras de controlar sua formação ou mecanismos efetivos para sua remoção, evitando assim, a infecção crônica e bacteremias (GIRARDELLO, 2007). Nesta pesquisa verificamos que houve correlação entre hidrofobicidade e produção de biofilme por P. aeruginosa (p=0,02) conforme mostra tabela 5. Dados semelhantes foram observados no trabalho realizado por Rodrigues et al. (2009). Tabela 5 - Correlação entre produção de biofilme (microplaca) e hidrofobicidade entre os isolados de Pseudomonas aeruginosa. Biofilme N=100 (%) Não produtora Fraco Moderado Forte 0,35 Hidrofobicidade até 1,5M de Sulfato de Amônio acima de 1,5 de Sulfato de Amônio Coeficiente de Contingência C 7(7%) 2 (2%) 3 (3%) 6 (6%) 5 (5%) 15 (15%) 25 (25%) 9 (9%) Valor de p 0,02 Nossos resultados também mostraram a grande capacidade de P. aeruginosa na formação de biofilme e na produção de cápsula, e um dos fatores relativos ao microorganismo que pode influir na formação de biofilme é a presença de cápsula, como foi constatado recentemente por Jain e Agarwal (2009). Em um trabalho realizado no Rio Grande do Sul, também foi possível estabelecer relação entre a produção de cápsula e formação de biofilme (FREITAS et al., 2010). Já em nosso trabalho, foi possível observar que não houve associação entre presença de fímbrias e/ou cápsula com a produção ou grau de biofilme (Tabela 6), sugerindo que deve haver a presença de outros tipos de fímbrias ou adesinas não fimbriais, já que 63% dos isolados de P. aeruginosa que apresentaram biofilme forte e 46% dos moderados não apresentaram nenhuma das fímbrias pesquisadas (dados não demonstrados). Portanto, além da cápsula e das fímbrias manose-sensível e manose-resistente, outros componentes desta bactéria também podem facilitar a adesão e posterior formação de biofilme, como a fímbria tipo IV, flagelo, alginato e o LPS, que é outro fator de virulência desta bactéria responsável 51 pelo choque tóxico e que também pode agir como adesina não fimbrial (GIRARDELLO, 2007). Tabela 6 - Correlação entre a presença de fímbrias e cápsula e produção de biofilme por cepas de P. aeruginosa. Presença de Fímbrias e Cápsula NP (n=14) Fraco (n=26) Biofilme Moderado (n=41) Forte (n=19) Coeficiente de Contingência C X² Valor de p 0,32 12,5 0,4 FMR 4 11 17 6 FMS 1 3 5 1 Cápsula + FMR 7 8 16 12 Cápsula + FMS 2 4 2 0 NP: não produtor; FMR: fímbria manose-resistente; FMS: fímbria manose-sensível. 52 Figura 8 - Produção de cápsula em Ágar Vermelho Congo por cepas de P. aeruginosa. Colônias pretas indicam resultado positivo e colônias vermelhas resultado negativo. Figura 9 - Formação de biofilme por P. aeruginosa em placas de microtitulação de poliestireno pelo método do Cristal Violeta (leitura da absorbância em espectrofotômetro). 53 5.7 Produção de exoenzimas por P. aeruginosa A infecção por P. aeruginosa é um processo multifatorial que envolve fatores bacterianos e do hospedeiro. A interação entre esses fatores contribui para o largo espectro de doenças causadas por este micro-organismo, que é considerado a espécie mais virulenta dentre os bacilos Gram-negativos não fermentadores. Isso se deve à grande variedade de fatores de virulência celular e extracelular e entre os fatores extracelulares mais importantes estão as exoenzimas (HOLLANDA, 2001). P. aeruginosa elabora um grande número de exoenzimas as quais são determinantes nas infecções causadas por este micro-organismo. Em nossos estudos observa-se que dentre as 100 cepas analisadas, 53% foram positivas para a produção de lipase, 82% foram produtoras de protease e fosfolipase, 56% foram produtoras de elastase e 52% delas apresentaram a característica de liquefazer a gelatina, como pode ser observado nas Figuras 10 e 11. Portanto, esses isolados foram mais propensos a produzirem protease e fosfolipase do que as outras enzimas (p<0,01; Q=39,39). Esses resultados já eram esperados, já que a capacidade para degradar proteínas é fundamental na fase de colonização e adaptação do micro-organismo no hospedeiro. Porcentagem Ensaios Enzimáticos 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 82% 82% 53% Lipase 52% Protease Fosfolipase Gelatinase 56% Elastase EXOENZIMAS Figura 10 - Porcentagem das cepas de P. aeruginosa produtoras de exoenzimas. 54 Os resultados apresentados nesse trabalho se assemelham aos relatados por Prado (2009), onde a expressão dessas enzimas foi detectada em altas porcentagens, com exceção da elastase em que o percentual foi abaixo de 50%, já nos nossos estudos foi de 56%. Essas exoenzimas contribuem para a destruição tissular e disseminação de P. aeruginosa e também interfere com a resposta imune do hospedeiro sendo capazes de melhorar a virulência bacteriana envolvida na destruição de macromoléculas protetoras do hospedeiro, tais como muco, lipoproteínas de membrana e imunoglobulinas (EDBERG; GALLO; KONTNICK, 1996; KVITKO, 2010). Neste trabalho, não encontramos associação entre a produção de exoenzimas (lipase, protease, fosfolipase, gelatinase e elastase) e os setores hospitalares, sítios de infecção e os hospitais de onde foram provenientes as amostras de P. aeruginosa (Tabelas 7). Tabela 7 - Correlação entre as exoenzimas produzidas por isolados clínicos de P. aeruginosa e os Setores do Hospital, Sítios de Infecção e Instituição Hospitalar. Setores do Hospital n (%) Atividade Enzimática Outros (n=9) UTI (n=43) Pediatria (n=8) Clínica Cirúrgica (n=35) KruskalWallis Valor de p Lipase 7 (77,7%) 24 (55,8%) 3 (37,5%) 17 (48,5%) 2,39 0,66 Protease 5 (55,5%) 35 (81,3%) 6 (75%) 31 (88,5%) 1,54 0,81 Fosfolipase 7 (77,7%) 34 (79%) 7 (87,5%) 30 (85,7%) 1,43 0,83 Gelatinase 2 (22,2%) 23 (53,4%) 4 (50%) 21 (60%) 5,59 0,23 Elastase 5 (55,5%) 23 (53,4%) 4 (50%) 22 (62,8%) 0,75 0,94 Atividade Enzimática Outros (n=28) Sítios de Infecção n (%) Ponta de cateter Sangue Urina (12) (7) (19) Sistema respiratório (34) Kruskal- Valor Wallis de p Lipase 13 (46,4%) 5 (41,6%) 5 (71,4%) 10 (52,6%) 20 (58,8%) 2,19 0,7 Protease 24 (85,7%) 10 (83,3%) 6 (85,7%) 14 (73,6%) 27 (79,4%) 1,34 0,85 Fosfolipase 24 (85,7%) 10 (83,3%) 7 (100%) 17 (89,4%) 24 (70,5%) 5,47 0,24 Gelatinase 17 (60,7%) 7 (58,3%) 2 (28,5%) 10 (52,6%) 18 (52,9%) 2,07 0,72 Elastase 18 (64,2%) 7 (58,3%) 4 (57,1%) 12 (63,1%) 15 (44,1%) 2,89 0,58 Atividade Enzimática HospE (n=7) Instituição Hospitalar n (%) HospB HospA HospD (n=21) (n=47) (n=14) HospC (n=11) KruskalWallis Valor de p Lipase 3 (42,8%) 8 (38,0%) 25 (53,1%) 9 (64,2%) 8 (72,2%) 3,99 0,4 Protease 5 (71,4%) 16 (76,0%) 40 (85,1%) 12 (85,7%) 8 (72,2%) 1,89 0,75 Fosfolipase 6 (85,7%) 18 (85,7%) 38 (80,8%) 11 (78,5%) 9 (81,8%) 0,4 0,98 Gelatinase 6 (85,7%) 9 (42,8%) 23 (48,9%) 10 (71,4%) 5 (45,4%) 3,52 0,47 Elastase 5 (71,4%) 13 (61,9%) 27 (57,4%) 5 (35,7%) 5 (45,4%) 0,92 0,92 55 A B C Figura 11 - Produção das exoenzimas por cepas de P. aeruginosa. A) halos de degradação da protease em ágar skim milk 2%; B) gelatinase positiva através da liquefação da solução de gelatina a 12%; C) halos de degradação da elastase em ágar elastina a 1%.. 56 5.8 Detecção de hemolisina Hemolisinas produzidas por bactérias Gram-negativas e Gram-positivas representam um grupo de toxinas bacterianas que, diferentemente de muitas outras toxinas, não são internalizadas pelas células atuando como agentes ativos de membranas levando à lise e morte celular, além de sua característica principal de lisar eritrócitos (ROWE; WELK, 1994). Quanto à detecção da atividade hemolítica em meio sólido, nos resultados encontrados em nosso estudo (Figura 12A), podemos observar que houve hemólise em todos os tipos de sangue analisados. No entanto, os isolados de P. aeruginosa apresentaram menor atividade hemolítica no sangue de cavalo (p<0,01; Fr=17,700), sugerindo que as hemolisinas podem variar quanto a sua ação em diferentes eritrócitos. Quanto ao tipo de hemólise, a presença do halo começou a ser evidenciado após 24 horas de incubação. Observou-se que cerca de 80% das cepas analisadas nesse trabalho apresentaram halos de hemólise total em ágar sangue de carneiro (Figura 13) e nos demais tipos de sangue o halo de hemólise foi parcial, sugerindo a presença de diferentes receptores em diferentes eritrócitos. A síntese de hemolisinas pode ser dependente de uma série de fatores presentes no meio de cultura. Em presença de quelantes, a atividade hemolítica em algumas bactérias pode aumentar ou diminuir. O cálcio foi descrito como sendo essencial para ativação de αhemolisina, para sua estabilidade e para a ligação da toxina às membranas dos eritrócitos (BARATEIA et al., 2001). A Figura 12B mostra a influência de agentes quelantes e do cloreto de cálcio na expressão de hemolisinas e observamos que em presença do EDDA, EDTA e CaCl2 houve inibição da atividade hemolítica quando testada nas hemácias de carneiro (p>0,05; Fr=139,122). Para as outras hemácias este teste não foi realizado. Apenas 37% (37/100) das cepas de P. aeruginosa examinadas apresentaram resultado positivo para o teste de atividade hemolítica no sobrenadante (Figura 14). Quando se comparou a hemólise em meio sólido e em meio líquido, notou-se que os isolados de P. aeruginosa apresentaram melhor atividade hemolítica em meio sólido, ou seja, das 100 amostras analisadas, 61 apresentaram hemólise apenas no meio sólido e 37 no meio sólido e líquido, sugerindo que a hemolisina pode ser parte constituinte da célula bacteriana e precisa do contato com os eritrócitos para se expressar (p<0,001; Z=7,01). 57 Analisando as diferentes fontes de isolamento das amostras, não houve correlação quanto à origem dos isolados e a presença da atividade hemolítica. A hemolisina pode contribuir no processo da doença por ser citotóxica às células do tecido, afetando os mecanismos de defesa do hospedeiro, permitindo assim a sobrevivência do micro-organismo; e, pela lise do eritrócito, mecanismo através do qual o patógeno irá obter ferro para permanecer vivo e talvez continuar a síntese da hemolisina. A produção de hemolisina aparece como importante determinante de virulência entre as cepas de P. aeruginosa, nas quais propicia o aumento da capacidade para provocar lesão e colonização do tecido pulmonar (HOLLANDA, 2001). 58 Nº de isolados com atividade hemolítica A 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Tipo A Carneiro Cavalo* Tipo B Tipo O Humano Tipo sanguíneo Nº de isolados com atividade hemolítica B 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Carneiro# Carneiro+EDDA Carneiro+EDTA Carneiro+Cloreto de cálcio Figura 12 - Atividade hemolítica de isolados de Pseudomonas aeruginosa por tipo de sangue (A) e em presença de quelantes e cloreto de cálcio (B) * Os isolados apresentaram menor atividade hemolítica no sangue de cavalo (p<0,01, Fr=17,700). # Os meios com os quelantes e Cloreto de Cálcio apresentaram inibição na sua atividade hemolítica (p>0,05, Fr=139,122). 59 Figura 13 – Halos de hemólise total produzidos por isolados clínicos de P. aeruginosa em ágar sangue de carneiro a 5%. Figura 14 - Produção de hemólise no sobrenadante de culturas de P. aeruginosa pelo método da microplaca (ausência de botão: teste positivo). 60 5.9 Propriedades de virulência quanto ao sítio de infecção e instituição hospitalar Quando se comparou os isolados de P. aeruginosa quanto ao sítio de infecção e instituição hospitalar, verificou-se que não há diferença entre eles na atividade hemolítica, atividade enzimática, presença de fímbrias e produção de biofilme (p>0,05). As infecções no trato urinário por P. aeruginosa estão relacionadas ao uso de cateteres contaminados, que são colonizados tanto pela flora do paciente como pelas mãos contaminadas dos profissionais da saúde, entre outras fontes (FOXMAN, 2002). No nosso trabalho, em relação às cepas multirresistentes, foi observado que a maioria delas (11/34) foi proveniente de pacientes com infecção do trato urinário (p=0,003) (Tabela 8), sugerindo, portanto, que essa bactéria continua sendo uma importante causa de infecções urinárias hospitalares, principalmente em pacientes cateterizados e essa associação cateterbacteriúria está diretamente relacionada ao tempo de duração do uso do implante que não pode exceder trinta dias (MATA; ABEGG, 2007). Em estudo realizado por Santos-Filho et al. (2002), a maior parte dos isolados multirresistentes de P. aeruginosa também teve origem no trato urinário. Estudos mostram que em nosso país a incidência de infecções hospitalares é maior nos Hospitais de Ensino do que nos demais Hospitais da Comunidade. Internações hospitalares mais longas e interação mais efetiva dos pacientes com vários profissionais da área da saúde, além de estudantes e membros da equipe, contribuem para esse aumento (BOLICK et al., 2000). Em nossos resultados encontramos que 64% (7/11) das cepas multirresistentes isoladas do trato urinário foram provenientes do Hospital A, que se trata de um Hospital Público de Ensino (Tabela 9). Quando se comparou os hospitais A, B e C em relação às cepas multirresistentes (Tabela 9), verificou-se que há mais cepas multirresistentes nos hospitais C (p=0,005) e A (p=0,01) do que no hospital B, dados estes que podem ser explicados pelo fato de o hospital B ser um hospital infantil e maternidade, sugerindo que nos hospitais pediátricos deve haver um controle de infecção hospitalar rigoroso incluindo a racionalização na utilização de antimicrobianos e de procedimentos invasivos. Quando se comparou as cepas multirresistentes com os outros isolados, verificou-se que não há diferença entre esses dois grupos quanto às propriedades de virulência, nem quanto ao setor hospitalar (dados não demonstrados). 61 Tabela 8 - Fatores de virulência de isolados de Pseudomonas aeruginosa segundo o sítio de infecção. Propriedades de virulência Sítio de infecção Ponta de cateter N=12 (%) Sangue N=7 (%) Secreção Traqueal N =25 (%) Trato Urinário N = 19 (%) Ferida N=8 (%) Outros N = 29 (%) Biofilme (microplaca) Fraco 2 1 5 8 2 8 Moderado 8 3 8 9 2 10 Forte Biofilme (Vermelho Congo) 1 3 6 1 2 7 5 5 15 8 6 12 Fímbrias Fímbria manose-sensível 4 1 2 2 1 9 Atividade Hemolítica Carneiro 12 7 21 16 8 26 Cavalo 6 6 17 11 4 13 Sangue Humano Tipo A 8 5 21 16 5 25 Sangue Humano Tipo B 8 5 20 16 4 27 Sangue Humano Tipo O 8 6 21 15 4 27 Sobrenadante 7 2 7 5 3 13 Atividade Enzimática Lipase 6 5 14 9 3 15 Protease 10 6 19 14 6 26 Fosfolipase 10 7 19 16 8 24 Gelatinase 6 2 15 10 5 15 Elastase 7 4 15 12 3 10 1 1 7 11* 4 10 *Há mais cepas multirresistentes em pacientes com infecção do trato urinário do que pacientes com infecção por procedimento com ponta de cateter - X2=8,63, p= 0,003, OR 15,12, IC 1,61 a 142,16. Destas 11 cepas multirresistentes em infecção urinária 7 (64%) eram provenientes do Hosp A. Isolados Multirresistentes 62 Tabela 9 - Propriedades de virulência de isolados de Pseudomonas aeruginosa segundo a instituição hospitalar. Instituição Hospitalar Propriedades de virulência Biofilme (Microplaca) Fraco Moderado Forte Biofilme (Vermelho Congo) Fímbrias Fímbria manose-sensível Atividade Hemolítica Carneiro Cavalo Sangue Humano tipo A Sangue Humano Tipo B Sangue Humano Tipo O Sobrenadante Atividade enzimática Lipase Protease Fosfolipase Gelatinase Elastase Isolados Multirresistentes Hosp B N=21(%) Hosp E N=7(%) Hosp C N=11(%) Hosp A N=47(%) Hosp D N= 14(%) 3 11 6 14 2 5 0 2 2 4 0 4 15 16 12 24 4 5 1 8 4 2 2 8 3 18 15 17 18 18 8 7 4 6 6 5 3 10 6 4 7 9 5 42 25 39 37 37 17 13 5 11 12 12 4 8 16 18 9 13 2* 3 5 6 5 5 3 8 8 9 5 5 6 25 40 38 24 27 18 9 12 11 10 5 5 Hosp B X Hosp C - há mais cepas multirresistentes nos pacientes internado no Hospital C do que no Hospital B, p=0,005, OR 11,4, IC 1,74 a 74,6, X 7,62 Hosp B X Hosp A - há mais cepas multirresistentes no Hospital A do que no Hospital B, p=0,01, OR 5,89, IC 1,23 a 28,38 X 6,62 63 5.10 Citotoxicidade e adesão em células HEp-2 Uma série de componentes de superfície e extracelulares sintetizados por P. aeruginosa contribuem para sua virulência, mas a capacidade de aderir a superfícies inanimadas e biológicas é uma etapa importante na patogenia das infecções por este micro-organismo (CAPELLO; GUGLIELMINO, 2006). Para este teste foram analisadas as 34 cepas multirresistentes de P. aeruginosa isoladas de pacientes hospitalizados. No teste de citotoxicidade em células HEp-2, 18 amostras apresentaram efeito citotóxico e foram observadas alterações morfológicas como arredondamento das células, deslocamento do tapete celular e vacuolização das membranas celulares. Essa capacidade citotóxica é justificada pelo fato de P. aeruginosa produzir toxinas hemolíticas que agem ativamente sobre as membranas celulares, causando distúrbios na sua estrutura e função, manifestados sob a forma de lise e consequentemente morte celular (Di MARTINO, 2002). Esse fato foi confirmado nesse estudo, pois as 18 amostras que apresentaram efeito citotóxico também produziram hemolisina, o que é importante na patogênese desta bactéria. O primeiro passo para a colonização é a adesão aos tecidos do hospedeiro. No estudo da capacidade de aderência, os isolados de P. aeruginosa mostraram adesão às células HEp-2 e a lamínulas. Das amostras analisadas, 26,5% (9/34) apresentaram padrão de adesão agregativo, 2,9% (1/34) padrão localizado e 20,6% (7/34) adesão sem padrão definido (Figura 15). A adesão em células HEp-2 sugere que P. aeruginosa reconhece receptores nas células epiteliais e, portanto, pode aderir a outros tipos de células epiteliais, o que foi confirmado por Di Martino et al. (2002) ao demonstrar a adesão de P. aeruginosa no pneumócito (linhagem A549), onde se observou os padrões de adesão difuso, localizado e agregativo, sugerindo que a presença desta bactéria nas células do trato respiratório contribui na patogênese pulmonar deste micro-organismo, especialmente em pacientes com fibrose cística, nos quais causa uma infecção pulmonar crônica (Di MARTINO, 2002). Os isolados bacterianos avaliados quanto ao padrão de adesão, foram obtidos de infecções hospitalares, 32,3% de infecção urinária e 20,6% da secreção traqueal, e na maioria dos casos, os pacientes estavam em uso de dispositivos médicos, pois 53% deles se encontravam na UTI. Desses isolados, 41% (14/34) aderiram mais ao plástico (lamínulas) do que às células HEp-2, confirmando o que a literatura diz sobre a capacidade desta bactéria em aderir a superfícies inertes como cateteres, sondas, equipamentos respiratórios, implantes e 64 outros dispositivos médicos, o que representa um importante passo na colonização de pacientes imunocomprometidos ou em uso desses dispositivos (GARCIA et al., 2002). Rajan et al. (2000) demonstraram que apenas P. aeruginosa virulentas são capazes de expressar tanto adesinas como citotoxinas capazes de induzir apoptose em células epiteliais respiratórias. 65 A B C Figura 15 - Microscopia óptica da adesão em células HEp-2 de cepas de P. aeruginosa (1000X). A – Células HEp-2 não infectadas (controle); B - Cepa Pa31 com adesão de padrão agregativo; C - Cepa Pa87 com adesão sem padrão definido. 66 5.11 Perfil genotípico dos fatores de virulência em isolados clínicos de P. aeruginosa Ao analisarmos os fatores de virulência por PCR, verificamos que os isolados clínicos de P. aeruginosa apresentaram todos os genes pesquisados neste trabalho (Figura 16), sendo que, foi detectado em maior porcentagem os genes aprA (64%), lasA (51%), algD (39%) e plcH (21%). Esses resultados se assemelham aos encontrados por Lanotte et al. (2004) e Prado (2009), os quais em seus estudos também verificaram altas porcentagens desses genes de virulência. Em relação aos genes aprA e lasA, esses resultados já eram esperados uma vez que a grande maioria dos isolados clínicos e de ambientes de P. aeruginosa são proteolíticos e elastolíticos e essas duas enzimas contribuem para a destruição tissular e disseminação deste micro-organismo, além de interferir com a resposta imune do hospedeiro (TODAR, 2004). As infecções crônicas por Pseudomonas são caracterizadas pela formação de anticorpos para lasA e lasB, enzimas que degradam a elastina, com deposição de complexos imunes nos tecidos infectados (KVITKO, 2010). O cluster gênico algACD é responsável pela síntese do alginato, um dos componentes da superfície de P. aeruginosa que facilita a adesão. A expressão de algD, que codifica a enzima GDP manose-desidrogenase, é frequentemente utilizada como indicador da expressão dos demais genes responsáveis pela biossíntese do alginato, que é o composto primário da matriz de polímeros orgânicos, matriz essa que envolve o biofilme em P. aeruginosa e é considerada por alguns autores responsável pela resistência a antimicrobianos, observada em biofilme, promovendo assim a infecção crônica (TRAUTNER; DAUROICHE, 2004; CLUTTERBUCK et al., 2007). No nosso trabalho, em 39% dos isolados foi detectado o gene algD. Já em outro estudo, das 202 cepas analisadas, 91,1% apresentaram esse gene (MITOV; STRATEVA; MARKOVA, 2010). Apesar de o alginato ser um exopolissacarídeo mucoide que forma uma cápsula proeminente na superfície bacteriana favorecendo a adesão e posterior formação de biofilme, a análise estatística dos dados não mostrou correlação entre a formação de biofilme e a detecção do gene algD (p=0,13; 2 =2,19), sugerindo que outros genes que regulam a síntese do alginato (algC, algR, algP, algB, algU) possam estar presentes. P. aeruginosa secreta duas fosfolipases C, uma hemolítica e outra não hemolítica. Nossos resultados mostraram que 21% das amostras analisadas apresentaram o gene plcH (fosfolipase C hemolítica) e apenas 11% apresentaram o gene plcN (fosfolipase C não 67 hemolítica). Dos isolados clínicos que apresentaram o gene plcH, 38% (8/21) foram provenientes do trato respiratório de pacientes hospitalizados, sugerindo que a fosfolipase C hemolítica (hemolisina termo-lábil) atua como determinante de virulência na patogênese da infecção pulmonar inativando o surfactante pulmonar que pode ser responsável pelas atelectasias associadas às infecções pulmonares crônicas e agudas por P. aeruginosa (KIPNIS; SAWA; WIENER-KRONISH, 2006). A virulência deste micro-organismo envolve inúmeros exoprodutos, entre os quais se destaca a exotoxina A. No entanto, apenas 6% das cepas de P. aeruginosa analisadas na nossa pesquisa apresentaram o gene toxA. Destes isolados, 50% (3/6) foram provenientes do trato respiratório, 33,3% (2/6) do trato urinário e apenas 16,7% (1/6) do swab de secreção. Sharma et al. (2004) em seus estudos, sugeriram que a exotoxina A secretada por P. aeruginosa é um importante fator de virulência durante infecções pulmonares, septicemia e infecções de córnea e que a contribuição deste fator de virulência em infecções pulmonares agudas e crônicas tem sido bastante estudada. No entanto, não existe qualquer informação sobre a contribuição da exotoxina A em infecções do trato urinário causadas por este patógeno. Ao analisarmos estatisticamente a produção fenotípica de protease e a detecção do gene aprA (protease alcalina), observamos que não houve correlação, pois, das 82 amostras positivas no teste fenotípico, em 68% (56/82) não foi detectado esse gene (p=0,09; 2 =2,72), sugerindo que P. aeruginosa pode produzir também outras enzimas proteolíticas, tais como as proteases neutras, elastase e gelatinase. Nas amostras que apresentaram hemólise em meio líquido não foi detectado o gene plcH (p=0,008; 2 =20,69) que codifica a fosfolipase C hemolítica, sugerindo que esse micro- organismo produza outros tipos de hemolisinas. Segundo Delden e Iglewski (1998), fosfolipase C hemolítica e rhamnolipídeo são duas hemolisinas produzidas por P. aeruginosa que poderiam atuar de maneira sinérgica para degradar lipídeos e lecitinas, e ambos podem contribuir para a invasão dos tecidos devido os seus efeitos citotóxicos. Em relação à elastase, nossos resultados mostraram que das 56 amostras positivas para o teste fenotípico, 60,7% apresentaram o gene lasA e das 44 amostras de P. aeruginosa que foram negativas, em 61,4% não foi detectado o mesmo gene, dados estes que foram estatisticamente significantes (p=0,02; 2 =7,08). 68 Figura 16 - Detecção dos genes aprA, algD, lasA, lasB, toxA, plcH e plcN por PCR multiplex. Visualização em gel de agarose a 2,5 %. Canaletas M = marcador de peso molecular (ladder de 100 pb); 1=cepa n° 11; 2=cepa n˚ 34; 3=cepa n˚ 39; 4=cepa n˚ 36; 5=cepa n˚ 45; 6=cepa n˚ 50; 7=cepa n˚ 106. 69 6 CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos neste trabalho chegam-se as seguintes conclusões: A maioria das cepas de P. aeruginosa analisadas foi isolada da secreção traqueal (25%) e da urina (19%). Quanto a procedência, 43% dos isolados foram provenientes da UTI seguido da Clínica Médica com 31%; Quanto ao perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos as amostras foram mais sensíveis frente à amicacina, piperacilina-tazobactam, fluoroquinolonas, gentamicina e meropenem e altas taxas de resistência em relação aztreonam, ceftazidima e cefepima; Cerca de 34% (34/100) das amostras de P. aeruginosa examinadas foram multirresistentes e destas, 50% (17/34) foram consideradas panresistentes, pois só apresentaram sensibilidade à polimixina B; Nossos estudos mostraram que, das cepas multirresistentes submetidas à PCR para detecção de ESBL, 50% (17/34) foram positivas para o gene TEM; Quanto à formação de biofilme, 52% das amostras foram produtoras de cápsula (Vermelho Congo) e 14%, 26%, 41% e 19% das cepas foram não produtoras, produtoras fracas, moderadas e fortes, respectivamente, pelo método em microplaca; Quanto à avaliação da hidrofobicidade bacteriana, P. aeruginosa foi considerada com hidrofobicidade elevada e houve correlação entre hidrofobicidade e produção de biofilme; Na pesquisa de fímbrias, 19% das cepas apresentaram fímbria manose-sensível; Não houve associação entre presença de fímbrias e/ou cápsula com a produção ou grau de biofilme; Protease e fosfolipase, dentre as exoenzimas, foram aquelas que apresentaram uma maior frequência, representada por 82% de positividade contra os percentuais de 56%, 53% e 52% encontrados para elastase, lipase e gelatinase, respectivamente; Não houve correlação entre a produção das diferentes exoenzimas estudadas e os setores hospitalares, sítios de infecção e as instituições hospitalares; Na detecção de hemolisina em meio sólido, as amostras de P. aeruginosa apresentaram menor atividade hemolítica no sangue de cavalo e 80% das cepas 70 apresentaram hemólise total em sangue de carneiro. Na presença de EDDA, EDTA e CaCl2 houve uma inibição da expressão de hemolisina testada em hemácias de carneiro; Apenas 37% (37/100) dos isolados mostraram atividade hemolítica no sobrenadante, portanto, ao comparar hemólise em meio líquido e sólido, verificou-se que o micro-organismo apresentou melhor atividade hemolítica em meio sólido; Não houve correlação entre os vários fatores de virulência detectados neste estudo e o sítio de infecção e instituição hospitalar; Em relação às cepas multirresistentes, a maioria delas (11/34) foram provenientes de infecção do trato urinário devido o uso de cateter e 64% (7/11) destas cepas foram isoladas de pacientes internados no Hospital A, que se trata de um Hospital Público de ensino; O Hospital B, por se tratar de um hospital pediátrico, foi o que apresentou o menor número de cepas multirresistentes; Quando se comparou as cepas multirresistentes com os outros isolados, não foi observada diferença entre eles quanto aos fatores de virulência e o setor hospitalar; Das 34 cepas multirresistentes de P. aeruginosa submetidas ao teste de citotoxicidade e adesão em células HEp-2, 18 amostras apresentaram efeitos citotóxicos, 9 apresentaram padrão de adesão agregativo, 1 padrão localizado e 7 amostras apresentaram adesão sem padrão definido; Nos isolados clínicos de P. aeruginosa foi detectado em maior porcentagem os genes aprA (64%), lasA (51%), algD (39%) e plcH (21%); Não houve correlação entre a formação de biofilme e a detecção do gene algD; Houve correlação significativa entre a produção fenotípica de elastase e a detecção do gene lasA nas amostras analisadas; Torna-se cada vez mais relevante a busca por estratégias alternativas de tratamentos das infecções por P. aeruginosa, por isso o interesse crescente no estudo dos fatores de virulência buscando a elucidação dos mecanismos de adaptação e de patogenicidade deste micro-organismo, além da interpretação criteriosa do teste de susceptibilidade aos antimicrobianos, que é fundamental para auxiliar o clínico na indicação de um tratamento adequado e eficaz. 71 REFERÊNCIAS 1. 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O meio foi utilizado para o crescimento das amostras. Ágar BHI O meio foi preparado segundo as especificações do fabricante (Difco) e autoclavado a 121ºC por 15 minutos. O meio foi distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis e utilizado para o crescimento das amostras. Ágar sangue O meio Müeller-Hinton foi preparado segundo as especificações do fabricante (Difco) e autoclavado a 121ºC por 15 minutos, após seu resfriamento foi adicionado 5% de sangue desfibrinado e, em seguida, distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. Foram feitas placas de ágar com sangue de carneiro, cavalo e humano A, B e O para os testes de hemólise. Ágar Müeller-Hinton O meio foi preparado segundo as especificações do fabricante (Difco) e autoclavado a 121ºC por 15 minutos. O meio foi distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. Skim Milk (2%) O meio foi preparado segundo as especificações do fabricante (HIMEDIA) e autoclavado a 121ºC por 5 minutos. Posteriormente foi acrescentado ao Ágar Müeller-Hinton e distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. Egg Yolk (10%) O meio foi preparado segundo as especificações do fabricante (Laborclin). Posteriormente foi acrescentado ao Ágar Müeller-Hinton e distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. 82 Solução de Gelatina (12%) Foi preparada uma solução de gelatina (DIFCO) a 12% em PBS (pH 7,4), distribuído em tubos com volume de 2 mL cada e autoclavado a 121ºC por 15 minutos. Ágar bacteriológico O meio foi preparado segundo as especificações do fabricante (HIMEDIA) e autoclavado a 121ºC por 15 minutos. Posteriormente o meio foi distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis e utilizado para o crescimento das amostras. Ágar Elastina (1%) Foi preparada uma solução contento 1% de elastina (INLAB) e 2% de ágar bacteriológico (HIMEDIA) diluídas em tampão Tris-HCl (hidroximetil) aminometano 0,03M (pH8,0). Posteriormente foi autoclavado a 121ºC por 15 minutos e distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. Ágar Nutriente O meio foi preparado segundo as especificações do fabricante (HIMEDIA) e autoclavado a 121ºC por 15 minutos. O meio foi distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. Ágar MacConkey O meio foi preparado segundo as instruções do fabricante (HIMEDIA) e esterilizado em autoclave a 121ºC por 15 minutos e posteriormente distribuído assepticamente em placas de Petri estéreis. O meio foi utilizado para verificação da pureza das amostras de P. aeruginosa. 83 Vermelho Congo Caldo de BHI Sacarose Ágar base Vermelho Congo Completar o volume para 1000 mL Esterilizar por autoclavação por 121ºC por 15 minutos. 37 g 50 g 15 g 0,8 g Gel de Agarose 2,5% Agarose TBE 5x Água destilada 2,5 g 10 mL 90 mL PBS 10 X NaCl KCl Na2HPO4 KH2PO4 Água destilada Completar o volume para 1000 ml Estocar em geladeira. 80,0 g 2,0 g 14,4 g 2,4 g 800 mL PBS 1 X PBS 10x Água destilada Completar o volume para 1000 ml Ajustar o pH 7,4 Esterelizar por autoclavação por 121ºC por 15 minutos. 100 mL 800 mL TBE 10 X Tris base (Trizma) Ácido bórico EDTA Completar para 1000 ml de H2O milli-Q Filtrar em nitrocelulose 108 g 55 g 7,44 g TBE 0,5 X TBE 10x Completar o volume para 1000 ml. 25 mL 84 Cristal Violeta Solução A Cristal violeta (90-95% de pureza) Etanol 95% Filtrar em papel de filtro. 2g 20 mL Solução B Oxalato de amônio Água destilada 0,2 g 80 mL Misturar as soluções colocando-se a solução B sobre a A. Deixar em repouso por 24 horas, filtrando em seguida, Estocar em frasco âmbar. Solução Tris-HCl 1 M pH 8,0 Tris-base Água destilada (q.s.p) 121 g 1000 mL Solução Tris-HCl 0,03 M pH 8,0 Solução Tris-HCl 1 M Água destilada 15 mL 485 mL Corante Azul de Bromofenol Bromofenol Xilene cyanol Sacarose Água destilada (q.s.p) 0,25 g 0,25g 40 g 100 mL Brometo de Etídio Brometo de Etídio Água destilada 1g 100 mL Homogeneizar em agitador magnético até completa dissolução e transferir a solução para um frasco opaco e estocar em temperatura ambiente. 85 ANEXO B (frente) – ACEITE DO COMITÊ DE ÉTICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO - UNICEUMA 86 ANEXO B (verso) – ACEITE DO COMITÊ DE ÉTICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO - UNICEUMA 87 ANEXO C – APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO XXVIII CONGRESSO DA SOCIEDADE LATINOAMERICANA DE PATOLOGIA E CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA 88 ANEXO D – APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO 26º CONGRESSO BRASILEIRO DE MICROBIOLOGIA 89 ANEXO E – SUBMISSÃO DE TRABALHO PARA A REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL 90 ANEXO F – PROTOCOLO DE SUBMISSÃO DE ARTIGO À REVISTA ARCHIVES OF MICROBIOLOGY 91 ANEXO G – ARTIGO SUBMETIDO CONFORME AS NORMAS DA REVISTA ARCHIVES OF MICROBIOLOGY ANTIMICROBIAL SUSCEPTIBILITY, BIOFILM PRODUCTION AND ADHESION TO HEp-2 CELLS OF Pseudomonas aeruginosa STRAINS ISOLATED FROM CLINICAL SAMPLES Alicia Valéria Zaranza*; Francyelle Costa Morais; Monique Santos do Carmo; Adriana de Mendonça Marques; Cristina Andrade-Monteiro; Thiago Feitosa Ferro; Valério Monteiro-Neto; Patrícia de Maria Silva Figueiredo Núcleo de Pesquisa em Doenças Endêmicas e Parasitárias, Centro Universitário do Maranhão – UniCEUMA, Rua Josué Montello, n. 01, Renascença II, São Luís – Ma, Cep: 65075-120. * Corresponding author: e-mail: [email protected]; Fone: (98) 8122-8767; (98) 3226-2954. ABSTRACT A hundred Pseudomonas aeruginosa strains from several clinical specimens from five hospitals in São Luís-MA were evaluated for biofilm production, prevalence of the gene algD, adhesion to HEp-2 cells and antimicrobial susceptibility. The most affected clinical specimens and hospital sectors were also evaluated. Most isolates were obtained from the tracheal aspirate (21.0%) and the most affected hospital sector was the ICU (43.0%). The antibiotics with the highest sensitivity rate were amikacin, piperacillin/tazobactam, fluoroquinolones, gentamicin and meropenem and the ones with the highest resistance rate were aztreonam, ceftazidime and cefepime. All samples were sensitive to polymyxin B. In relation to the expression of the gene for ESBL, 50.0% (17/34) of the multiresistant strains showed the enzyme TEM. Most strains showed high hydrophobicity and 96% of the isolates produced biofilm on a polystyrene microplate, 52% were capsule producers, 19% showed mannosesensitive fimbriae and 39% expressed the gene algD. We observed adhesion to HEp-2 cells and to the coverslip. These factors may be reported in the pathogenesis of this bacterium, what represents a potential risk for colonization of medical devices which favor the establishment of chronic nosocomial infections. Keywords: Pseudomonas aeruginosa, antimicrobial, biofilm, adhesion. INTRODUCTION Pseudomonas aeruginosa is a glucose non-fermenting Gram-negative bacillus, which is widely distributed in nature and in hospital environment, since it has minimum nutritional necessities, being able to survive in several surfaces and in humid places. This bacterium rarely causes severe infections in healthy individuals, nevertheless, it represents a great threat for hospitalized patients (Karlowski et al. 2003). It is an opportunist bacterium, invasive and toxigenic that, over the last few years, has reached an important position among the nosocomial pathogens for causing pneumonia related to mechanical ventilation, bacteremia, endocarditis, meningitis, urinary infections associated to catheters and skin infections, especially in critical ICU patients and in those who are immunocompromised (Navon-Venezia et al. 2005). Nosocomial infections caused by P. aeruginosa are related to high morbimortality rates and among the risk factors for colonization or invasive infection by this pathogen, we can include the prolonged use of antimicrobials, previous hospitalization, severe base disease, operation and immunosuppression (Picoli, 2008). This bacterium shows instrinsec resistance to several antibiotics, combined with the ability of getting new resistance information during treatments, through mutations in porins (decrease in OprD), super expression of efflux pumps (MexAB-OprM) and/or production of hydrolytic enzymes that degrades antimicrobials, such as betalactamase and metallo-β-lactamases (Hemaltha et al. 2005; Zavascki et al. 2006). The carbapenems have been considered the drugs of choice in the treatment of severe nosocomial infections caused by Gram-negative bacteria. However, the isolation of bacteria is already common in Brazilian hospitals, especially P. aeruginosa, resistant to these antibiotics and in these cases polymyxin is the only therapeutic option (Mitsugui et al. 2008). 92 The pathogenesis of the infections caused by P. aeruginosa is multifactorial and involves several virulence factors (Sharma et al. 2004). Among the factors characterized as adhesins, there are flagella, fimbriae and alginate. The fimbriae or pili promote the adherence of the bacterium to receptors on the surface of the host cell, and the type IV fimbria, especially the adhesin of this bacterium, is responsible for the initial adhesion both in abiotic material and in the surface of epithelial cells, and the flagella, primarily responsible for the motility, may act also as adhesins to the epithelial cells (Kipnis et al. 2006). The alginate, a mucoid exopolysaccharide produced by some strains of P. aeruginosa, in addition to functioning as an adhesin, it also protects the strains from the mucociliary activity, phagocytosis, complement system activity, reduces the antimicrobial action, making its penetration in the bacterium difficult, and it is also associated to biofilm production (Zavascki 2003). Biofilm is a community of bacteria adhered to a biotic and/or abiotic surface, promoting survival advantages for micro-organisms, as resistance to antimicrobials, protection against antiseptics, disinfectants, bacteriophages, host’s immune system, among other (Klausen et al. 2006; Clutterbuck et al. 2007). The objectives of this study were: to identify the inpatient units and the clinical specimens most affected by P. aeruginosa; to analyze the profile of susceptibility to antimicrobials and the expression of extendedspectrum betalactamase in multiresistant strains by PCR; to evaluate the type of fimbriae, the hydrophobicity and the biofilm production; examine the prevalence of the gene encoding the alginate and check the adhesion capacity of the multiresistant samples in HEp-2 cells. MATERIAL AND METHOD Bacterial Strains We evaluated 100 strains of P. aeruginosa isolated from several clinical specimens of inpatients from one private and four public hospitals in São Luís–MA, from March to July, 2010. The distribution of samples per hospital was: HospA (47.0%), HospB (21.0%), HospC (11.0%), HospD (8.0%) e HospE (13.0%). All strains were identified through the automated method Vitek 2 (bioMérieux) in a local microbiology laboratory. In the tests, the strains P. aeruginosa ATCC 27853 and E. coli ATCC 25922 were used as positive and negative control, respectively. Antimicrobial susceptibility This test was conducted through the disk diffusion antibiotic sensitivity testing (Kirby and Bauer), with the following antimicrobials (OXOID): amikacin, gentamicin, cefepime, ceftazidime, ciprofloxacin, levofloxacin, aztreonam, imipenem, meropenem, piperacillin/tazobactam and polymyxin B. The reading of the zones of inhibition for each antibiotic followed the criteria established by the Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI 2010) and the results were reported as susceptible, intermediate or resistant. We considered as multiresistant those strains that showed resistance to three of more classes of antibacterials. Amplification of β-lactamase genes by PCR The detection of the genes blaTEM, blaCTX-M and blaSHV, which encodes the β-lactamase (ESBL) enzymes, was carried out by multiplex PCR, according to what is described by Monstein et al. (2007). The primers used are described in Table 1. The total DNA extraction was carried out by boiling the bacterial cells for 10 minutes. The amplification reactions were performed with 2.5µL of DNA from each strain, 0.8µL of specific primers (1µM), 0.25µL Taq DNA polymerase (5u/µL), 5µL of the buffer solution Green Go Taq Flexi Buffer (5x), 2µL MgCl2 (2mM), 0.25µL dNTPs (20mM) and 12.2µL of milli-Q water in a final volume of 25µL. DNA was amplified in the thermocycler Mycicler (BioRad), using the following protocol: 95°C for 15min., 30 cycles at 94°C for 30s., 60°C for 30s., 72°C for 2min and 72°C for 10 min. The PCR products were detected after electrophoresis in agarose gel 2.5% at 60/80v for 55min., then stained with ethidium bromide (20µg/100mL of water) and viewed under ultraviolet light with the aid of a transilluminator. Table 1 Primers used in amplification by multiplex PCR for ESBL detection. Evaluation of capsule production This test was performed by the method of inoculation in Congo Red Agar (CRA), described by Freeman et al. (1989), with minor modifications. The CRA was prepared from 37g.L-1 of BHI, 50g.L-1 saccharose (Difco), 15g.L-1 agar base (Difco) and 0.8g.L-1 Congo Red (Difco). After overnight growth, the strains were inoculated onto CRA and incubated at 37°C/24hours. The black bacterial colonies were considered as capsule producers and the red ones were non-producers. 93 Biofilm induction in vitro This test was performed in microtiter plates of polystyrene by the Crystal Violet method, described by Stepanovic et al. (2007). After inoculation in BHI and incubation at 37°C/24hours, the samples were diluted (1:40) in sterile BHI and then, 200µL of each sample in triplicate were added to the wells of the polystyrene plate, with only 200µL of BHI in triplicate as negative control and the plates were incubated at 37°C/24hours. They were subsequently washed (3x) with PBS (pH 7.4), left to dry at room temperature, added crystal violet (200µL/well) and incubated for 15 minutes at room temperature. Then, each well was washed with sterile distilled water (3x) and left to dry at room temperature. Biofilm formation was evaluated by the reading of the absorbance of each well using a spectrophotometer (BIO-RAD Laboratories PR 2100), at a wavelength of 490nm. Based on the optical density of the samples (ODi) and on the average of optical density of the negative control (ODc), the samples were classified as strong (4xODc < ODi), moderate (2xODc < ODi ≤ 4xODc), weak (ODc < ODi ≤ 2xODc) or non-producer of biofilm (ODi < ODc). Fimbriae identification The samples were inoculated in BHI, incubated at 37°C/24h and centrifuged three times (360rpm/15min.), highlighting the supernatant and adding PBS (pH 7.4). The sheep blood was washed three times with PBS (pH7.4) to prepare a solution of erythrocytes 1% in PBS with and without mannose addition (5.4g of mannose/1000mL). On glass slides, 100µL of the isolates were mixed with 100µL of the erythrocytes solution with and without mannose. The samples that suffered hemagglutination only in the absence of mannose were considered mannose-sensitive and the one that suffered hemagglutination in presence and absence of mannose, mannose-resistant (Clegg and Old 1979). Evaluation of bacterial hydrophobicity After growth in agar BHI for 18 hours at 37°C, the cultures were suspended in increasing concentrations of ammonium sulfate (0.5M, 1M, 1.5M, 2M, 2.5M and 3M). The formation of clumps within two minutes after suspension indicated positive result (Schmidt et al. 1998). Search for the gene algD by PCR The PCR technique was performed with the oligonucleotides (F-ATGCGA ATCAGCATCTTTGGT and R-CTACCAGCAGATGCCCTCGGC) specific for the gene algD, that encodes GDP mannose 6-dehydrogenase (alginate), amplifying a fragment of 1310 pairs of nitrogenous bases. The total DNA extraction was obtained by boiling the bacterial cells for 10 min. The amplification reactions were performed in a final volume of 25µL, containing 2µL of bacterial DNA, 2.5nM of dNTP, 20pmol of the primer, 2mM Mgcl 2 and 1.0U of Taq DNA polymerase in reaction buffer 1x (Flexi Buffer). DNA was amplified in the thermocycler Mycicler (BioRad) using the following protocol: 94°C for 3min., 30 cycles at 94°C for 30s.,55°C for 1min., 72°C for 1min. and 30s. and 72°C for 5 min. The PCR products were detected after electrophoresis in agarose gel 2.5% at 80v for 55min., then stained with ethidium bromide (20µg/100mL of water) and viewed under ultraviolet light with the aid of a transilluminator (Lanotte et al. 2004). Test of adhesion to HEp-2 cells Only multiresistant strains were tested. An inoculum with 40µL of each of these strains cultivated in BHI was added to plates of 24 wells, containing cellular half-confluent monolayer of HEp-2 cells in MEM medium with SFB 2% in absence or presence of D-mannose 2%. After 2h of incubation at 37°C in atmosphere of 5% of CO2 (period of infection), the plats were washed with PBS and we added to the medium 1mL of MEM plus SFB with and without mannose. After 2h (multiplication period), the plates were washed with PBS and the cells were fixed with methanol for at least 10 minutes. Afterwards, they were stained with May-Grunwald/Giemsa and analyzed according to the adherence pattern on the optical microscope NIKON (Scaletsky et al. 1984). Statistical analysis We used the Contingency Coefficient C and the Chi-squared distribution. Values of p<0.05 were considered significant. In data electronic processing, we used the program BioEstat 5.0. RESULTS The highest percentages of P. aeruginosa isolates were in the tracheal secretion, with 25 samples (25.0%) and in urine, with 19 (19.0%). The places with highest incidence of this bacterium were ICU, with 43 samples (43.0%), followed by the internal medicine ward, with 31 (31.0%) (Table 2). Table 2 Distribution of P. aeruginosa samples according to clinical specimens and hospital sectors 94 The strains showed most sensitivity to amikacin (75.0%), piperacillin/tazobactam (69.0%), fluoroquinolones (68.0%), gentamicin (64.0%) and meropenem (62.0%). The antibiotics with the highest resistance rates were aztreonam (48.0%), imipenem (43.0%), ceftazidime (42.0%), cefepime (41.0%) and meropenem (38.0%). All the isolates were susceptible to polymyxin B. From all the isolates, 34.0% (34/100) showed a multiresistance profile. From these, 50.0% (17/34) were sensitive only to polymyxin B. Our results also showed that 53.0% (18/34) of the multiresistant strains were from the ICU. These strains were also submitted to the multiplex PCR technique for detecting ESBL S, and 50.0% (17/34) of the samples expressed the gene TEM, there was no expression of the genes SHV and CTX-M. In the evaluation of bacterial hydrophobicity, 50.0-53.0% of the isolates had clumps formation in ammonium sulfate concentrations equal or above 2.5M. In the identification of the isolates which produced fimbriae, 19.0% were producers of fimbriae mannose-sensitive, and in the others, the fimbriae were considered mannose-resistant. The evaluation of the capability of P. aeruginosa in producing capsule as a presumptive test for biofilm production by the method CRA, showed that 52.0% of the analyzed samples were capsule producers. In relation to biofilm formation on polystyrene microplates, from the 86 (86.0%) strains that adhered to polystyrene, 19 (22.1%) were strongly adhered, 41 (47.7%) were moderate and 26 (30.2%) were weakly adhered. From the 100 strains of P. aeruginosa tested, 39% showed presence of the gene algD which participates in the synthesis of alginate, the main component of the matrix produced by bacteria associated to biofilm. It was possible to observe a fragment of approximately 1310pb by electrophoresis in agarose gel. About the capacity of adhesion of multiresistant strains to HEp-2 cells, 26.5% (9/34) showed an aggregative adhesion pattern, 2.9% (1/34) local pattern and 20.6% (7/34) adhesion without a well defined pattern (Fig. 1), and 41% (14/34) of the samples adhered more to plastic (coverslips) than to cells. Fig. 1 Optical microscopy of adhesion on HEp-2 cells of P. aeruginosa strains (1000X). A - HEp-2 cells alone; B - Strain Pa31 with aggregative adhesion pattern; C - Strain Pa87 without a well defined adhesion pattern DISCUSSION The infections caused by P. aeruginosa are associated to significant morbimortality rates, due to this pathogen capability of adapting to the environmental conditions, developing resistance to antibiotics and producing a variety of virulence factors (Mitov et al. 2010). In this study, most samples were isolated from tracheal secretion and urine of inpatients and the ICU was the hospital sector with the highest isolation of this bacterium. Studies report that the high frequency of isolation of this pathogen from respiratory tract samples is related to mechanical ventilation, usually causing pneumonia (Menezes et al. 2004). A study by Lucchetti et al. (2005) showed that P. aeruginosa was the main isolated agent causing infections in the urinary tract, and according to epidemiologic data, 35.0% to 45.0% of all acquired nosocomial infections are urinary and 80.0% are related to catheter use. Similar results were found by Torres et al. (2006), who found the highest percentual of Pseudomonas spp isolates in the tracheal tract, followed by urine, and the place with the highest incidence was the ICU. The high incidence of this bacterium in the ICU is probably due to the fact that P. aeruginosa is an opportunist pathogen that causes bacteremia in immunocompromised patients, burn victims, patients with urinary infections related to catheters use and nosocomial pneumonia, related to mechanical ventilation, especially in this unit (Menezes et al. 2006; Torres et al. 2006; Figueiredo et al. 2009) Monitoring the susceptibility of P. aeruginosa hospital samples to antimicrobials is a helpful tool for choosing the right scheme to treat infections caused by this agent (Marra et al. 2006). The analyzed strains showed high sensitivity rates to amikacin, piperacillin/tazobactam, fluoroquinolones, gentamicin and meropenem, what makes them good choices for treating infections by this pathogen. Figueiredo et al. (2009) found high sensitivity for amikacin, piperacillin/tazobactam, meropenem and imipenem. In agreement to literature data, all strains were susceptible to polymyxin B. Nevertheless, it is indicated for specific situations, due to its toxicity. There are reports about P. aeruginosa strains with reduced sensitivity to this drug (Figueiredo et al. 2009; Zavascki et al. 2007). The isolates showed high resistance to aztreonam, ceftazidime and cefepime, however, in the study by Santos-Filho et al. (2002), gentamicin, cefpirome and aztreonam were the most resistant. The abusive use of 3rd and 4th generation cephalosporins, especially ceftazidime (3rd generation), seems to be the main cause of this resistance. Resistance to aztreonam may be due to a superexpression of the MexA-MexB-OprM efflux pump, which also contributes to the expulsion of cephalosporin and betalactamase inhibitors (Blatt 2000). In relation to carbapenems, the samples were more resistant to imipenem than to meropenem. Variations in the resistance rates between these antibiotics have been previously described. Rodríguez-Martínez et al. (2009) observed higher resistance rates to imipenem when compared to meropenem, corroborating our results. Silva et al. (2007), in a study in Brazil, described higher resistance to meropenem. This susceptibility difference 95 among carbapenems is explained by several resistance mechanisms, such as loss of proteins of external membrane OprD, that causes resistance to imipenem and not to meropenem; superexpression of efflux systems; and carbapenemase production (Bonomo and Szabo 2006; Rodríguez-Martínez et al. 2009). Our results also showed that 34.0% of the strains had a multiresistance profile, where 50.0% were susceptible only to polymyxin B. The emergence of P. aeruginosa multiresistant to drugs has been reported as an increasing problem in hospitals worldwide (Galles et al. 2001; Bratu et al. 2005). A remarkable feature in infections by P. aeruginosa acquired in the ICU is multiresistance, what has been confirmed in this study, in which 53% of the multiresistant strains were from the ICU, suggesting that it might be indiscriminate use of antimicrobials in the treatment of nosocomial infections. Currently, the combination of different antibiotics is studied in vitro and in vivo, with the intention of providing new therapeutic alternatives for infections caused by multiresistant bacteria (Mitsugui et al. 2008). The difficulty in detecting ESBLs is higher in P. aeruginosa strains, possibly due to the higher impermeability of the external membrane when compared to the family Enterobacteriaceae and also to the presence of the enzymes AmpC that may disguise the presence of ESBLs. Therefore, detecting these enzymes in P. aeruginosa strains is a great challenge for the clinical laboratory, since the phenotypic test of disk approximation does not have satisfactory sensitivity and specificity when used for this pathogen. Thus, it is probable that its prevalence in hospitals is underestimated (Picão and Gales 2007). The dissemination of the genes for these enzymes may play an important role in antimicrobial resistance and the presence of P. aeruginosa producing ESBL can limit the antibiotics choice for treating severe infections by this pathogen. That is why it is important to use molecular methods to detect ESBLs in multiresistant samples of P. aeruginosa (Wedhagen et al. 2003). In this study, 50.0% (17/34) of the multiresistant strains have expressed the enzyme TEM, what corroborates studies performed in France, where four variants of TEM (TEM-4, TEM-21, TEM-24 and TEM-42) were described in P. aeruginosa (Wedhagen et al. 2003). Thus, knowing about the occurrence of ESBLs in P. aeruginosa samples is essential so that the internist can choose an appropriate antimicrobial therapy, since the use of broad-spectrum cephalosporin and monobactams in the treatment of infections caused by ESBL-producers may result in therapeutical failure (Bradford 2001). Bacterial adhesion may be divided into primary and secondary stages. The primary is reversible and determined by physico-chemical variables, as hydrophobic interactions, that determine adhesion between the two surfaces, the bacterial cell and the surface of interest. In secondary adhesion, a molecular mediation happens between specific adhesins and the surface and the micro-organism consolidates the adhesion through producing an exopolysaccharide complex and/or connecting specific receptors in the fimbriae to the material surface. In the end of this stage, adhesion is irreversible (Vesterlund et al. 2005; Rodrigues et al. 2009). Therefore, adhesion depends basically on factors that involve features from the micro-organism, the surface and environmental conditions. In our study, most strains of P. aeruginosa showed clumps formation in concentrations of 2.5M and 3M of ammonium sulfate, that is, our isolates had high hydrophobicity. Studies show that the higher the hydrophobicity, the better the microbial adhesion, both in cell surface and in adhesion substrate (Rodrigues et al. 2009). Thus, this data suggests that P. aeruginosa has a strong adhesion capacity and, consequently, a higher tendency to biofilm formation, since it has high hydrophobicity (p=0.02; C=0.35). Fimbriae are structural components of the surface of P. aeruginosa and also ease adhesion (Kipnis et al. 2006). These structures mediate the connection between the pathogen and the surfaces of the host’s cells, starting colonization and formation of a film of microcolonies which will mature, forming biofilm, critical for the infection establishment (Trautner and Darouiche 2004). In this study, we identified mannose-sensitive and mannose-resistant fimbriae. There are several factors related to biofilm formation, the main are: physico-chemical features of the material on which it is adhered and expression of virulence factors by the micro-organisms, as exopolymeric capsule production and fimbrial and non-fimbrial adhesins synthesis (Flach et al. 2005). One of the factors related to the micro-organism that may influence the biofilm formation is the presence of capsule, as recently found by Jain and Agarwal (2009) and corroborated by this study. Adhesion is the first step for biofilm formation. In this model, the assays performed with the crystal violet method provided information about the adhesion of the micro-organism tested to an abiotic surface, as P. aeruginosa produced biofilm on a microtiter polystyrene plate. Therefore, this strong capacity of adhering to non-biological material showed by P. aeruginosa isolates, represents a great problem in the treatment of patients that need a catheter or other medical device in which this micro-organism can produce biofilm, leading to chronic infections. In addition to his, biofilm protects the bacterium from the host’s immune system and antibiotics action, being more resistant to drugs because, according to Trautner and Dauroiche (2004), the juxtaposition of cells in the biofilm eases the transfer of resistance genes from one bacterium to another through plasmids. 96 In our study, there was no association between the presence of fimbriae and/or capsule with the production or degree of biofilm (p=0.4; 2=12.5), suggesting that other kinds of fimbriae or adhesins may be present, since 63% of P. aeruginosa isolates that were strong biofilm producers and 46% of the moderate producers did not show any of the studied fimbriae (non-demonstrated data). In addition, not all the isolates that were biofilm-producers produced capsule, suggesting that, besides the capsule and fimbriae investigated here, other components of this bacterium can also ease adhesion and biofilm formation with type IV fimbria, flagellum, alginate and LPS (Trautner and Darouiche 2004). The genetic cluster algACD is responsible for the synthesis of alginate, which is a component of the surface of P. aeruginosa that eases adhesion. The expression of algD, that encodes the enzyme GDP mannose dehydrogenase, is frequently used as an indicator of the expression of the other genes responsible for biosynthesis of alginate, which is a primary compound of the organic polymer matrix, that involves biofilm in P. aeruginosa and is considered by some authors as responsible for the antimicrobial resistance, observed in biofilm (Trautner and Darouiche 2004; Clutterbuck et al. 2007). In our study, 39.0% of the isolates expressed the gene algD. In another study, from 202 strains analyzed, 91.1% expressed this gene (Mitov et al 2010). Despite alginate is a mucoid exopolysaccharide that forms a prominent capsule in the bacterial surface, favoring adhesion and later biofilm formation, the statistical analysis of data did not show correlation between biofilm formation and the expression of gene algD (p=0,13; ²=2,19), suggesting that other genes governing alginate synthesis (algC, algR, algP, algB, algU) may be present. Studying the adherence capacity, 34 multiresistant strains of P. aeruginosa were analyzed and they showed adhesion to HEp-2 cells and glass slides. Three adhesion patterns were observed: aggregative, local and without a well defined pattern. Adhesion to HEp-2 cells suggests that P. aeruginosa recognizes receptors in epithelial cells and therefore can adhere to other epithelial cells, what has been confirmed by Di Martino et al. (2002) when demonstrating the adhesion of this bacterium to pneumocytes (lineage A549), where they observed diffuse, local and aggregative patterns, suggesting that the presence of this bacterium in the respiratory tract cells contributes for the pulmonary pathogenesis of this micro-organism, especially in patients carrying cystic fibrosis, in whom it causes a chronic pulmonary infection. The strains analyzed in the adhesion test were from nosocomial infections and in most cases, patients were using medical devices, once 53.0% of them were in the ICU. Adhesion to plastic (coverslips) of 41.0% (14/34) of the samples analyzed in this study confirms the literature about the capacity of this bacterium in adhering to inert surfaces as catheters, tubes, respiratory equipments, implants and other medical devices, what represents an important step in colonization of patients who are immunocompromised or using these devices [13]. Data found in this study suggest that antimicrobial susceptibility profiles should be monitored, supporting the therapeutics and avoiding treatment failures. They also indicate the great capacity of P. aeruginosa being hydrophobic and forming biofilm on abiotic surface, what may induce colonization of medical devices, with risk to the hospitalized patient. Besides, samples adhered to HEp-2 cells, and these characteristics confirm that P. aeruginosa is one of the most important nosocomial pathogens, therefore there is interest on elucidating the adaptation and pathogenicity mechanisms of this micro-organism. AKNOWLEDGMENTS We thank Centro Universitário do Maranhão (UNICEUMA), especially the Master Program on Parasite Biology and Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), for financial aid (ATB – 04138/10; Edital FAPEMA n° 026/2010 Bancada; APP – Universal-00442/11). 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AS TGCCCGCATACACTATTCTCAGAATGA bla TEM 445 CTX-M-U1 CTX-M-U2 ATGTGCAGYACCAGTAARGTKATGGC bla CTX-M 593 bla SHV ACGCTCACCGGCTCCAGATTTAT TGGGTRAARTARGTSACCAGAAYCAGCGG bla-SHV. SE ATGCGTTATATTCGCCTGTG bla-SHV. AS TGCTTTGTTATTCGGGCCAA Source: Monstein et al., 2007. 747 Table 2 – Distribution of P. aeruginosa samples according to clinical specimens and hospital sectors. Clinical Specimens n % Tracheal secretion Urine Catheter tip Diverse secretions Wound Blood Other* 25 19 12 11 8 7 18 25.0% 19.0% 12.0% 11.0% 8.0% 7.0% 18.0% Hospital Sector n % 43.0 % ICU 43 31.0 % Internal Medicine Ward 31 8.0 % Pediatric Ward 8 Orthopedic Ward 6 6.0% 4.0% Surgical Ward 4 8.0% Other** 8 Diverse secretions: purulent sec., ear sec., biliary sec., drain sec., oropharynx sec., tendon sec., abdominal sec and peritoneal sec. *Other: liquor, bronchial washing, pleural fluid, sputum, ascitic fluid, oral cavity plate, nasal swab, blood. **Other: kidney transplant, nephrology ward, orthopedic ward, urgency and oncology. n = number of isolates size 100 A B Figure 1 – Optical microscopy of adhesion on HEp-2 cells of P. aeruginosa strains (1000X). A - HEp-2 cells alone; B - Strain Pa31 with aggregative adhesion pattern; C - Strain Pa87 without a well defined adhesion pattern. C