D I S C I P L I N A
Introdução à Ciência Geográfica
A Geografia na Idade Média
Autores
Aldo Dantas
Tásia Hortêncio de Lima Medeiros
aula
04
Material APROVADO (conteúdo e imagens)
Data: ___/___/___ Nome:______________________
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Apresentação
N
a aula 1 (O saber geográfico), você observou a diferença existente entre o
conhecimento geral e o geográfico. Agora, você verá como esses conhecimentos
e, em particular, o geográfico, recrudescem no início da Idade Média. A partir desse
período, a influência do Cristianismo passa a ocorrer, também, no cerne do conhecimento e
as respostas para as indagações do homem passam a ser pautadas nos conhecimentos da
Bíblia e no desenvolvimento do conhecimento humano, como o incremento de tecnologias
que viabilizassem os empreendimentos da Igreja Católica – as cruzadas, por exemplo. Verá
ainda que a influência dos árabes é grande nesse período e que ela foi fundamental para o
desenvolvimento geográfico dessa época.
Objetivos
1
2
3
Compreender a evolução do pensamento geográfico na
Idade Média.
Entender que as mudanças ocorridas na sociedade
com a queda do Império Romano e ascensão Medieval
repercutem no desenvolvimento do conhecimento
geográfico.
Compreender a influência dos árabes no desenvolvimento da Geografia.
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1
Quadro geral do sistema feudal
A
obra de Ptolomeu, que vimos no final da aula 3 (A Geografia na Antiguidade),
encerra a primeira etapa da Geografia. A própria riqueza que essa obra produziu por
meio de uma ampla sistematização e o método de documentação que preconizou
mantiveram-se durante muitos séculos presentes no pensamento geográfico. Como
Aristóteles para a Filosofia, Ptolomeu será, até o Renascimento, a autoridade inconteste
em matéria do conhecimento da Terra e do sistema Mundo. E, desse modo, a Idade Média
é, para a Geografia, um período de estagnação e mesmo de retrocesso do conhecimento
produzido por essa ciência.
A queda do Império Romano e a difusão do Cristianismo dão início a esse novo
momento da história da humanidade, instalando um processo de fragmentação na produção
do conhecimento científico e geográfico. As causas para essa fragmentação podem ser
encontradas no contexto social, econômico e religioso daquela época.
As invasões bárbaras vão provocar uma situação de guerra generalizada em boa parte
do espaço europeu ocupado pelo Império Romano. Tal situação irá provocar na Europa
conseqüências importantes que levaram ao isolacionismo espacial das sociedades e à
instauração do sistema feudal, conforme você pode perceber na passagem a seguir.
O fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e a
configuração da Terra desapareceu. O Estoicismo deixou de apoiar-se na
hipótese geocêntrica e na imagem de um mundo harmonioso que daí emanava.
A deslocação progressiva da administração tornou inúteis os levantamentos de
informações tão procuradas na época de Augusto. As formas de construção
social que triunfaram na Idade Média assentam em relações pessoais: é através
de notáveis locais que o poder se exerce à distância; como tal, não é necessário
formalizar o saber geográfico nesta sociedade: o conhecimento das pessoas é
suficiente. (CLAVAL, 1996, p. 17-8).
A Europa que daí surge está dividida em uma série de pequenas áreas politicamente
diferenciadas, deixando de existir uma política uniforme sobre todo o território.
Veja que a desarticulação dos sistemas de comunicação ligada ao fato de a Europa
se encontrar relativamente despovoada dificultava o deslocamento de pessoas e a troca de
idéias e de bens entre suas diferentes áreas.
O sistema que se constitui é essencialmente isolacionista e tenta resolver seus
problemas a partir da auto-subsistência do próprio feudo, prejudicando a mobilidade de
pessoas, as trocas e a ampliação do horizonte geográfico que se verificou na Antigüidade.
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A influência da Igreja
N
esse período, a Igreja Católica representa o maior poder europeu associada às diversas
aristocracias, uma vez que se constitui na única instituição com influência sobre
todos os feudos. Dessa maneira, as respostas para as questões da vida cotidiana,
individual, social e políticas passaram a ser dadas a partir de interpretações bíblicas.
É claro que o homem continua se perguntando sobre as questões geográficas.
Entretanto, indagações sobre “como” e “onde” continuam a ser feitas, só que agora as
respostas são buscadas nas ordens religiosas e não nas cosmologias, como era mais
comum anteriormente. A Bíblia era um instrumento que continha referências cosmológicas
e geográficas, as quais davam respostas a tais perguntas. Veja que, no fundo, é a Igreja e não
a ciência que busca respostas para indagações da realidade sócio-espacial.
Vale destacar que nesse período ocorre certo imobilismo populacional e uma diminuição
dos eventos das viagens e, com isso, um maior desconhecimento do mundo real. Esses fatores
aliados ao poder da Igreja provocam a diminuição da busca de respostas nas ciências. “Era
natural que em um período de lutas constantes houvesse grande dificuldade de comunicação
e uma queda no ritmo do comércio e nas preocupações filosóficas e, consequentemente, um
retrocesso do conhecimento na Europa Ocidental”. (ANDRADE, 2006, p. 46).
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Atividade 1
Quanto ao desenvolvimento da Ciência e da religião, leia atentamente o texto a seguir
e depois responda às questões relacionadas com o texto e com as informações.
O desenvolvimento da ciência ou da religião depende do homem e do tipo
de respostas que ele procura. Assim, a ciência progride quando o homem se
preocupa com o mundo que o rodeia e ela pode responder de forma satisfatória
às perguntas formuladas sobre o mundo físico. Com a difusão do cristianismo
foram problemas de ordem religiosa, ou problemas que obtinham respostas na
religião, que passaram a interessar ao homem.
A adoção dos conhecimentos geográficos bíblicos tornou-se evidente na
cartografia. Utilizam-se mapas circulares romanos, nos quais introduziram
caracteres teológicos, e não geográficos. Assim, Jerusalém, a Cidade Santa,
ocupava o centro do mapa; o Paraíso, localizado a leste, ocupava a parte
superior do mapa; o Mediterrâneo tinha uma posição mediana (veja mapa). Foi
esquecido que a Terra era esférica e reapareceu o conceito de Terra plana: um
disco circundado de água. (FERREIRA; SIMÕES, 1990, p.45-46).
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a)
Que impactos ocorreram no conhecimento geográfico com o declínio do Império
Romano?
b)
De que maneira a influência da religião dá um outro direcionamento aos conhecimentos
geográficos?
c)
O que ocorre na Idade Média, como nas demais épocas, é a influência do mundo, da
maneira como se pensa em um determinado momento e o seu reflexo sobre a ciência.
Você consegue fazer um paralelo entre a influência da religião naquela época e a forma
como alguns de nós interpretamos o fenômeno do aquecimento global hoje?
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Nem tudo foi
sombra na Idade Média
S
e por um lado o conhecimento declinava no mundo ocidental “em outras áreas, porém,
a formação de Estados fortes e a intensificação das viagens e do comércio permitiram
que as tradições culturais gregas e latinas se integrassem com a de povos do Oriente
e houvesse maior difusão cultural” (ANDRADE, 2006, p.46). Aqui um fator merece destaque:
a expansão Árabe-Muçulmana.
A expansão Árabe-Muçulmana
A civilização Árabe-Muçulmana emerge depois da queda de Roma e se baseia na nova
e vigorosa religião do Islã. Surgida no século VII, seu fundador foi Maomé (570-632), um
próspero mercador da cidade de Meca.
Maomé acreditava ter visto o anjo Gabriel que lhe ordenou “recitar em nome do Senhor”.
Tomado por essa visão, Maomé se considera o escolhido e se transforma em profeta.
Nesse período, a maioria do povo árabe acreditava em deuses tribais, entretanto, nos
grandes centros, a maioria da população já havia tomado conhecimento do Judaísmo e do
Cristianismo, o que facilitou a aceitação de um Deus único anunciado por Maomé.
Os padrões islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida cotidiana são
fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam conter a palavra de Alá, revelada a
Maomé. Para eles, o Islã é o aperfeiçoamento do Judaísmo e do Cristianismo e reconhecem
Jesus como um grande profeta, mas não divino.
Maomé unifica as tribos árabes, envolvidas em constantes disputas, através da difusão
da fé islâmica.
Entre os séculos VIII e IX, a civilização muçulmana conhece o seu apogeu. Enquanto o
conhecimento estava em baixa na Europa ocidental, os muçulmanos desenvolviam grandes
conhecimentos embasados nas realizações dos gregos antigos através da tradução de obras
gregas para o árabe.
Com as suas conquistas, o império árabe estende-se desde a Espanha até a Índia e foi
unificado, principalmente, pela fé. Por volta do século XI, começam a perder seu domínio.
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Atividade 2
Leia atentamente o texto a seguir.
O Império Muçulmano dominava uma área muito vasta, desde o Afeganistão
até o Atlântico, com excepção da Itália, França, Turquia e Bálcãs. Devido a
problemas de ordem militar e administrativa (tal como nos Impérios Grego e
Romano), surgiu a necessidade de conhecer o mundo. Ao mesmo tempo surgia
também a necessidade religiosa de viajar, na medida em que todo mulçumano
tem de ir a Meca, pelo menos uma vez na vida. Assim, as viagens e o comércio
sofreram um novo impulso. A geografia verificou um novo avanço. Entre os
viajantes árabes destacam-se Al-Biruni, Al-Idrisi (1099-1164) e Ibn Battuta, que
escreveram extensos e valiosos relatos sobre as regiões por onde viajavam.
Idrisi, ao serviço do rei da Sicília, desenvolveu a escola de Palermo e pode
elaborar o mapa árabe mais completo que se conhece.
Por outro lado, os monarcas muçulmanos promoveram as ciências e as artes.
Foi traduzida para o árabe a obra de Ptolomeu e desenvolveu-se a geografia, a
astronomia, a astrologia, a matemática e a geometria.
Apesar disso, o conhecimento e as descrições geográficas produzidas são muito
imprecisas e as localizações pouco rigorosas. Os Árabes não se serviam da
latitude e da longitude para localizar os lugares à superfície da Terra e elaborar
mapas. A latitude e a longitude são utilizadas pelos astrônomos (considerados,
aliás, como os melhores do mundo) nas suas observações, mas quem faz os
mapas são os geógrafos, que não se servem dos dados astronômicos. Surge,
assim, no mundo árabe uma separação entre geógrafos e astrônomos que não
existia na Antigüidade (FERREIRA; SIMÕES, 1990, p. 48-49).
Após a leitura, releia a aula 1. Em seguida, relacione o contexto apresentado no texto
anterior com os elementos desta aula: aventura do homem na Terra e necessidades versus
geração de espacialidades.
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Leitura complementar
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária/
UFPE, 2006.
Recomendamos especialmente o capítulo 3, no qual o autor trata da Geografia no
período que estamos focalizando.
BRAGA, Marco; GUERRA, Andréia; REIS, José, C. Breve história da ciência moderna. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. v 1 – 2003; v 2 – 2004; v 3 - 2005.
Coleção prevista para cinco volumes, tendo sido publicados apenas três, trata do
conhecimento científico dos últimos tempos mostrando como este é parte da cultura
humana.
TARNAS, R. A epopéia do pensamento ocidental. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000.
Este livro traz uma visão geral do surgimento e evolução do pensamento humano,
desde os primeiros tempos até os dias atuais.
Resumo
Esta aula discute a influência das mudanças ocorridas na passagem
da Antiguidade para o medievo e suas repercussões no conhecimento
geográfico, assim como a influencia árabe no desenvolvimento da Geografia
desse período.
Auto-avaliação
Releia atentamente a aula e escreva um pequeno texto enfatizando a relação entre
o declínio do Império Romano implicando na consolidação do sistema medieval
e as conseqüências disso para o desenvolvimento da Geografia e de que maneira
a influência árabe significou uma quebra na lógica do pensamento medieval.
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Desafio
Assista aos filmes O Nome da Rosa, Marco Pólo e As montanhas da lua.
Faça, em seguida, um comentário geral confrontando os três filmes. Perceba
que o primeiro irá mostrar como a Igreja Católica se comportava frente ao
conhecimento e como este deveria, na concepção da Igreja, subordinar-se aos
seus interesses. No segundo, você verá que mesmo na Idade Média, com o
sistema feudal, e sob forte influência da Igreja Católica, o pensamento ocidental
sofrerá influência de árabes e de chineses. No terceiro, fica patente um outro
momento histórico, no qual a expansão colonial do Estado moderno é uma
realidade e a busca por novos territórios e mercados é o elemento dominante;
perceba também como o conhecimento geográfico é fundamental.
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora Universitária/
UFPE, 2006.
BAILLY, A.; FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie. Paris: Armand
Colin, 1997.
CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.
FERREIRA, Conceição Coelho; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução do pensamento
geográfico. Lisboa: Gradiva, 1990. (Panfletos Gradiva, 5).
MARCO Pólo. Direção de Giuliano Montaldo. São Paulo: Versátil, 1982.
AS MONTANHAS da lua. Direção de Bob Rafelson. [S. l.]: Tel Vídeo/20.20 Vision, 1990.
O NOME da rosa. Direção de Jean-Jacques Annaud. São Paulo: Warner Bros, 1986.
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Introdução à Ciência Geográfica – GEOGRAFIA
Ementa
A construção do conhecimento geográfico. A institucionalização da geografia como ciência. As escolas do
pensamento geográfico. A relação sociedade/natureza na ciência geográfica. O pensamento geográfico e seu
reflexo no ensino. A geografia brasileira. Atividades práticas voltadas para a aplicação no ensino.
Autores
n Aldo Dantas
n Tásia Hortêncio de Lima Medeiros
Aulas
01 O saber geográfico
02 A ação humana
03 A Geografia na Antiguidade
04 A Geografia na Idade Média
05 Os tempos modernos
06 Espaço e modernidade
07 A institucionalização da Geografia
09 A Geografia ratzeliana e seu contexto
10 A Geografia vidaliana e o seu contexto
11 A abordagem regional vidaliana
12 Os movimentos de renovação
Impresso por: Texform Gráfica
08 A Geografia de Humboldt e Ritter
14 O nascimento da Geografia científica no Brasil
15 Milton Santos: o filósofo da técnica
1º Semestre de 2008
13 A institucionalização da Geografia no Brasil