caso clínico Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Bone evaluation of lower incisors region using Cone-Beam computed tomography of a skeletal Class II patient treated with mandibular protraction appliance Rafael de Faria Bicalho* Jaime Sampaio Bicalho** Marcelo Marques Quaresma*** Weber Ursi**** Abstract Resumo O tratamento ortodôntico compensatório que utiliza mecânicas protratoras mandibulares tem se mostrado eficiente no tratamento de pacientes portadores de má oclusão de Classe II esquelética ao longo dos últimos 30 anos. Porém, apesar dos excelentes resultados apresentados, a proclinação dos incisivos inferiores, decorrente da perda de ancoragem dos dentes posteroinferiores, sempre foi uma grande preocupação dos ortodontistas que utilizam essa técnica. O objetivo desse trabalho foi analisar, por meio de tomografias Cone-Beam, as alterações que ocorreram na região vestibular dos incisivos inferiores de um paciente submetido ao tratamento de protração mandibular. this paper was to analyze, using Cone-Beam CT, the bone changes that occurred in the lower incisor region of a patient undergoing treatment with a mandibular protraction appliance. Palavras-chave: Tomografia computadorizada de feixe cônico. Movimentação dentária. Má oclusão de Angle Classe II. Aparelhos ortodônticos. Keywords: Tooth movement. Orthodontic appliances. Cone-Beam computed tomography. Malocclusion. Angle Class II. Como citar este artigo: Bicalho RF, Bicalho JS, Quaresma MM, Ursi W. Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular. Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94. » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. 84 Comprehensive orthodontic treatment by mandibular protraction mechanics has been effective in the treatment of patients with skeletal Class II malocclusion over the past 30 years. But despite the excellent results presented, the proclination of lower incisors, caused by anchorage loss of lower posterior teeth, has always been a major concern. The objective of Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 * Especialista em Ortodontia pela Associação Brasileira de Ensino em Odontologia - ABENO - SP. Coordenador do Curso de Fotografia Digital da ABO-DF. Professor do Curso de Ancoragem Esquelética da ABO-DF. ** Especialista em Ortodontia pela Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. Coordenador do Curso de Ancoragem Esquelética da ABO-DF. *** Graduado em Odontologia pela Universidade de Brasília. **** Mestre e Doutor em Ortodontia pela USP/Bauru. Livre Docente pela UNESP de São José dos Campos. 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 Bicalho RF, Bicalho JS, Quaresma MM, Ursi W 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 INTRODUÇÃO Desde a reintrodução do aparelho de Herbst por Hans Pancherz, em 197919, a mecânica de protração mandibular se tornou uma importante opção para correção da má oclusão de Classe II. A não necessidade de cooperação do paciente contribui sobremaneira para o sucesso do tratamento e torna o resultado mais previsível quando comparado ao tratamento com aparelhos ortopédicos funcionais. O aparelho de Herbst é um aparelho funcional fixo que promove alterações dentoalveolares e esqueléticas, tanto na maxila quanto na mandíbula, corrigindo, assim, a má oclusão de Classe II18. Os resultados obtidos e publicados com o uso do Aparelho de Herbst impressionaram sobremaneira a classe ortodôntica e inspiraram a criação de vários aparelhos dentofaciais/ortopédicos fixos. Em 1995, o professor Carlos Martins Coelho apresentou o Aparelho de Protração Mandibular7,8, ou simplesmente APM, um aparelho telescópico que poderia ser fixado aos fios retangulares e que dispensaria a colaboração do paciente. Apresentava as vantagens de poder ser fabricado pelo próprio clínico, não necessitar de peças importadas e ser de fácil instalação e manuseio. Em 1997, José Gabriel de Oliveira Fontão et al.9 apresentaram o FLF, uma nova proposta de aparelho de protração mandibular, inspirado no APM III, e que possuía basicamente duas diferenças: uma alça maxilar e uma trava molar mais resistente, além de ser de mesial para distal a direção da inserção da trava molar nos tubos das bandas dos molares superiores. Apesar dos excelentes resultados apresentados por esses aparelhos, a proclinação dos incisivos inferiores, como consequência da perda de ancoragem dos dentes posteroinferiores, sempre foi uma grande preocupação dos ortodontistas que utilizam essa técnica. Na tentativa de se diminuir o movimento mesial dos dentes inferiores e promover maiores resultados esqueléticos, Pancherz desenvolveu três tipos de sistemas de ancoragem para a arcada inferior: ancoragem somente em pré-molares inferiores, ancoragem em molares e pré-molares inferiores e ancoragem com armação de cromo-cobalto. Entretanto, Weschler e Pancherz26, em estudo com esses três desenhos de aparelho, concluíram que, ao final do tratamento, nenhum deles conseguia prevenir a inclinação dos incisivos inferiores e, contrariando as expectativas dos autores, a armação de cromo-cobalto não foi mais eficiente que os outros dois tipos de ancoragem inferior. Posteriormente, Pancherz et al.16 e Melsen13 realizaram pesquisas com o intuito de saber se a proclinação dos incisivos inferiores teria alguma influência no desenvolvimento de retrações gengivais, tanto em pacientes adolescentes quanto em pacientes adultos. Foram avaliadas variáveis ortodônticas 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 e periodontais, como sobressaliência e sobremordida pré-tratamento, grau de apinhamento, presença de rotação dentária, relação dos caninos, altura facial, posição do incisivo inferior em relação à linha A-Pogônio, existência de retração gengival prévia ao tratamento, espessura de gengiva queratinizada, biótipo gengival, presença de inflamação gengival e presença de placa visível. Esses estudos comprovaram que a vestibularização dos incisivos não promovia o aparecimento de novas retrações gengivais e nem o aumento daquelas que já existiam anteriormente ao tratamento, tanto em pacientes adolescentes como em 85% dos casos de pacientes adultos. Melsen13 afirma, ainda, que periodonto de proteção fino, placa visível e inflamação gengival prévia ao tratamento da região anteroinferior, e não a quantidade de inclinação vestibular dos dentes inferiores prévio ao tratamento, seriam os fatores clínicos de risco mais relacionados ao desenvolvimento ou agravamento de retrações gengivais. Quanto aos distúrbios da ATM, Pancherz et al.15 relataram que durante o uso do aparelho de Herbst 1) nenhum distúrbio muscular foi diagnosticado, 2) foi reduzida a prevalência de capsulite e mudanças degenerativas condilares, 3) não foi provocado deslocamento de disco em pacientes com o disco bem posicionado, 4) recapturou-se discos que estavam, previamente ao tratamento, com um quadro de deslocamento com redução e 5) não conseguiu-se recapturar discos que estavam, previamente ao tratamento, totalmente deslocados para anterior ou com deslocamento sem redução. Com o advento de exames mais sofisticados, como a tomografia computadorizada Cone-Beam, tornou-se possível obter a reprodução de uma secção do corpo humano em qualquer plano espacial. Para o escaneamento do crânio do paciente, uma fonte de raios X, que se encontra em uma extremidade do tomógrafo, gira ao redor da sua cabeça, que está posicionada no ponto de fulcro do movimento rotatório. Na outra extremidade do braço do tomógrafo, temos o detector de raios X, que interpreta continuamente as exposições radiográficas. Durante todo o processo de escaneamento, que leva em média 40 segundos, são geradas 309 imagens, que serão processadas para originar o volume tomográfico. Quando comparada às radiografias convencionais, a dose de radiação da TC de feixe cônico (Cone-Beam) apresenta-se similar à do exame periapical da boca toda11 ou equivale a aproximadamente 4 a 15 vezes a dose de uma radiografia panorâmica22. A tomografia computadorizada nos permite visualizar todas as estruturas em camadas, principalmente os tecidos mineralizados, com uma definição admirável e uma delimitação de irregularidades tridimensionais. Atualmente o exame tomográfico vem sendo aplicado em várias áreas da Odontologia, com ênfase nas áreas de Implantodontia1, Diagnóstico Bucal6, Cirurgia27 e Ortodontia5. Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 85 caso clínico 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular Na Ortodontia já existem vários artigos sobre o uso de tomografia computadorizada para o diagnóstico das articulações temporomandibulares12, avaliação de resultados esqueléticos obtidos com o uso de expansores palatinos23 e, principalmente, diagnóstico preciso de dentes impactados, com enfoque maior em caninos superiores retidos25. O objetivo desse trabalho foi avaliar, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, as modificações ósseas que ocorreram na região vestibular dos dentes anteroinferiores, a fim de se avaliar o custo biológico do tratamento ortodôntico/ortopédico ao qual o paciente foi submetido. Foram realizados cortes tomográficos transaxiais perpendiculares ao centro de cada um dos incisivos inferiores (Fig. 1) com o intuito de se medir e comparar a distância existente entre a junção amelocementária desses dentes e suas respectivas cristas ósseas alveolares vestibulares em três fases distintas: antes (T1), depois (T2) e 1 ano após (T3) a protração mandibular. Essas medidas foram tomadas por um único avaliador e cada uma dessas medições foi realizada três vezes. Os valores apresentados nesse trabalho são o resultado da média dessas três avaliações. O tomógrafo utilizado foi o i-CAT (Cone-Beam i-Cat Imaging Sciences International, Hatfield, EUA), com o seguinte protocolo de aquisição de imagens: voxel 0,20mm, tempo de exposição 40 segundos, FOV de 8cm, 3-8mAs e 120Kvp. Relato do Caso Figura 1 Cortes tomográficos transaxiais perpendiculares ao centro de cada um dos incisivos inferiores com o intuito de se medir e comparar a distância existente entre a junção amelocementária desses dentes e suas respectivas cristas ósseas alveolares vestibulares, antes (T1), depois (T2) e 1 ano após (T3) a protração mandibular. A B Paciente do sexo masculino, 15 anos de idade, que procurou tratamento para corrigir a irregularidade do seu sorriso. No exame facial frontal inicial (Fig. 2), o paciente apresentava diminuição do terço inferior da face e sulco mentolabial profundo. Ao sorrir apresentava pouca exposição dos incisivos superiores e inferiores. Na análise do perfil, apresentava significante convexidade, ângulo nasolabial levemente aberto, lábio inferior projetado com pouca projeção de mento, linha queixo-pescoço curta e ângulo da linha queixo-pescoço aberto, com diminuição da AFAI, características condizentes com um Padrão II, deficiência mandibular grave3. C Figura 2 Diagnóstico baseado na análise facial: paciente Padrão II por deficiência mandibular, braquifacial, simétrico, apresentando diminuição do terço inferior da face, linha queixo-pescoço curta e ângulo da linha queixo-pescoço aberto, com ângulo nasolabial levemente aberto. 86 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 Bicalho RF, Bicalho JS, Quaresma MM, Ursi W 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 No exame intrabucal inicial observou-se uma relação dentária de ¾ de Classe II, 1ª Divisão bilateral, incisivos superiores lingualizados e incisivos inferiores levemente vestibularizados, sobremordida aumentada, desvio de linha média superior para a esquerda de 2mm, overjet de 2mm e overbite de 2/3 do incisivo inferior (Fig. 3, 4). A avaliação da telerradiografia (Fig. 5A) confirma o padrão esquelético de Classe II. Ao início do tratamento, o paciente apresentava SNA de 87° e um SNB de 81° resultando em um ANB de 6°. O padrão de crescimento braquicefálico se confirma com SnGn de 66° e o SnGoMe de 30°. Pela análise de McNamara, comprovamos a deficiência mandibular por um CoA de 107mm e um CoGn de 129mm (média 139mm – 142mm) e a diminuição da AFAI por Ena–Me de 71mm (média 76mm – 80mm). Nas informações dentárias observamos a inclinação lingual dos incisivos superiores (1.NA 12°) e inclinação vestibular dos incisivos inferiores (IMPA 99°). A radiografia carpal revelou que o paciente encontrava-se no final da curva do pico de crescimento. A B 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 Plano de Tratamento Planejou-se um tratamento ortodôntico descompensatório para futuro avanço mandibular com o aparelho FLF. Essa terapêutica foi escolhida porque o agente etiológico primário da má oclusão de Classe II desse paciente é a deficiência mandibular. Qualquer tratamento com AEB ou extração de pré-molares superiores teria influência na base esqueletal normal, de maneira equivocada, e o provável resultado da mecânica seria um Padrão II com birretrusão. Tratamento O caso foi tratado utilizando-se braquetes metálicos prescrição Capelloza, Classe II4, canaleta 0,022” x 0,030”. A preocupação inicial era a de descompensar os incisivos superiores, projetando-os vestibularmente, diminuir a sobremordida C Figura 3 Exame intrabucal: relação dentária de ¾ de Classe II, 1ª Divisão bilateral, sobremordida aumentada, desvio de linha média superior para a esquerda de 2mm, overjet de 2mm e overbite de 2/3 do incisivo inferior. A B D E C Figura 4 Modelos iniciais. Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 87 caso clínico 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular A B Figura 5 Telerradiografia Inicial: paciente Classe II esquelético por deficiência mandibular, braquifacial, apresentando os incisivos superiores lingualizados e os incisivos inferiores vestibularizados (A), panorâmica Inicial (B). A B C Figura 6 Alinhamento e nivelamento superior e inferior a fim de se descompensar as posições iniciais dos incisivos maxilares e mandibulares, com o objetivo de aumentar o overjet preexistente e, assim, favorecer o avanço mandibular. anterior e, assim, instalar o aparelho inferior (Fig. 6). Após o alinhamento e nivelamento das arcadas superior e inferior, chegando até os fios retangulares 0,019” x 0,025” coordenados, foram instaladas molas NiTi Morelli de 9mm de comprimento para fechamento dos diastemas superiores e elástico conjugado de 36 a 46 para fechamento dos diastemas inferiores. Ao finalizar essa fase, o paciente estava pronto para o avanço mandibular. Decidiu-se por realizar o exame tomográfico inicial nesse momento, para excluir a variável que o efeito do alinhamento e nivelamento teria sobre a região óssea vestibular dos incisivos inferiores. Dessa forma, toda modificação que ocorresse na região seria inteiramente consequência da mecânica de protração mandibular. O aparelho escolhido para tal, dentre os muitos existentes na literatura, foi o FLF. No corte tomográfico transaxial do exame inicial dos incisivos inferiores (Fig. 7), podemos observar que a distância existente entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar vestibular dos dentes 32 e 31 são semelhantes, em torno de 0,98mm, enquanto que a distância existente para os 88 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 dentes 41 e 42 é ligeiramente maior que a dos seus homólogos, compreendendo 1,12mm e 1,11mm, respectivamente. Percebe-se também que, em espessura, não se visualiza uma quantidade expressiva de osso por vestibular, observando-se apenas uma camada papirácea que recobre a superfície vestibular dos referidos dentes. A ativação do aparelho FLF, assim como o aparelho de Herbst, consiste em levar os incisivos inferiores a uma mordida de topo a topo com o incisivos superiores, tomando o cuidado de se manter alinhadas as linhas médias dentárias (Fig. 8). Para essa ativação, os arcos retangulares superior e inferior se encontravam travados na distal dos segundos molares, no intuito de potencializar a movimentação em massa dos dentes maxilares e mandibulares. Durante o fechamento da mordida aberta posterior notou-se que a cúspide do dente 13 estava em contato com o loop do arco inferior. Por essa razão, um novo arco inferior foi confeccionado, com o loop para baixo. Além disso, foi realizada uma nova ativação, agora unilateral, com o intuito de distalizar 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 476 477 478 479 480 481 482 483 484 485 Bicalho RF, Bicalho JS, Quaresma MM, Ursi W 486 487 488 489 490 491 492 493 494 495 496 497 498 499 500 501 502 503 504 505 506 507 508 509 510 511 512 513 514 515 516 517 518 519 520 521 522 523 524 525 526 527 528 529 530 531 532 533 534 A B C 535 536 537 538 539 540 541 542 543 544 545 546 547 548 549 550 551 552 553 554 555 556 557 558 559 560 561 562 563 564 565 566 567 568 569 570 571 572 573 574 575 576 577 578 579 580 581 582 583 D Figura 7 Exame tomográfico inicial: a distância existente entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar vestibular do dente 32 é de 0,98mm, 0,98mm para o dente 31, 1,12mm para o dente 41 e 1,11mm para o dente 42. A B C Figura 8 Ativação do aparelho FLF: deve-se avançar os incisivos inferiores a uma mordida de topo a topo com o incisivos superiores, mantendo alinhadas as linhas médias dentárias. É importante ressaltar que, quando se deseja o máximo de resposta ortopédica mandibular, os arcos retangulares superior e inferior devem estar travados na distal dos segundos molares. A B C Figura 9 Durante o fechamento da mordida aberta posterior, percebeu-se que a cúspide do dente 13 estava em contato com o loop do arco retangular inferior. Por essa razão, foi confeccionado um novo arco inferior e uma nova ativação, agora unilateral direita, foi feita para se corrigir as linhas médias dentárias. o dente 16 e, assim, corrigir as linhas médias dentárias (Fig. 9). O tempo total de utilização do aparelho FLF foi de 8 meses. Após a remoção dos tubos telescópicos, o paciente foi instruído a utilizar elásticos de Classe II 3/16” pesado por 3 meses para dormir a fim de se estabilizar os resultados alcançados. Todo o tratamento foi realizado em 24 meses. Resultados Ao avaliar as fotografias extrabucais finais do paciente (Fig. 12) e de um ano pós-tratamento (Fig. 14), observa-se que há uma melhora da definição da linha queixo-pescoço e uma maior harmonia da face do paciente em relação ao início do Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 89 caso clínico 584 585 586 587 588 589 590 591 592 593 594 595 596 597 598 599 600 601 602 603 604 605 606 607 608 609 610 611 612 613 614 615 616 617 618 619 620 621 622 623 624 625 626 627 628 629 630 631 632 Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular A B C Figura 10 Fotografias intrabucais finais: observa-se uma relação de Classe I bilateral com linhas médias dentárias coincidentes e overjet e overbite adequados. A B C D E Figura 11 Modelos finais. A B C Figura 12 Fotografias extrabucais finais: nota-se uma melhora no perfil do paciente e percebe-se que a mecânica teve pouca influência no ângulo nasolabial. 90 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 633 634 635 636 637 638 639 640 641 642 643 644 645 646 647 648 649 650 651 652 653 654 655 656 657 658 659 660 661 662 663 664 665 666 667 668 669 670 671 672 673 674 675 676 677 678 679 680 681 Bicalho RF, Bicalho JS, Quaresma MM, Ursi W 682 683 684 685 686 687 688 689 690 691 692 693 694 695 696 697 698 699 700 701 702 703 704 705 706 707 708 709 710 711 712 713 714 715 716 717 718 719 720 721 722 723 724 725 726 727 728 729 730 A B Figura 13 A) Telerradiografia final: as bases ósseas aproximam-se de uma relação de Classe I esquelética, nota-se um aumento da altura facial anteroinferior, os incisivos superiores encontram-se bem posicionados e os incisivos inferiores tornaram-se mais vestibularizados, resultado, esse, esperado quando se utiliza de mecânicas de protração mandibular. B) Panorâmica final: nota-se um arredondamento apical mais pronunciado nos incisivos superiores, mas, ainda assim, dentro de padrões aceitáveis. A B C Figura 14 Fotografias extrabucais 1 ano pós-tratamento: percebe-se, principalmente pela de perfil, que a escolha de uma mecânica que pudesse tratar o fator etiológico primário da má oclusão deste paciente o favoreceu positivamente, haja visto que possibilitou a ele expressar todo o seu crescimento mandibular. tratamento, além da pouca influência da terapia no ângulo nasolabial. As Figuras 10 e 11 expõem a oclusão obtida ao final do tratamento, na qual foi alcançando um relacionamento de Classe I bilateral e um correto alinhamento das linhas medianas dentárias superiores e inferiores. As fotografias intrabucais de um ano pós tratamento (Fig. 15) demonstram que o resultado obtido permaneceu estável. A avaliação cefalométrica final (Fig. 13A) indicou que o tratamento influenciou positivamente a relação esquelética, demonstrada na redução do ANB de 6° para 4°, CoA alterando de 107mm para 105mm e CoGN de 129mm para 135mm, tendo um ganho de 6mm, além de um aumento de 4mm na altura facial inferior, de 71mm para 75mm. Nos valores dentários, o ângulo interincisivos variou de 133° para 122°, a angulação do incisivo superior variou de 12° para 20° e o IMPA variou de 99° para 106°, demonstrando que a correção da Classe II do paciente foi resultada de um crescimento mandibular aumentado e da compensação dentária vestibular inferior, com consequente mesialização dos dentes posteroinferiores. As radiografias panorâmicas (Fig. 5B e 13B) mostram uma remodelação apical localizada mais significativa nos incisivos superiores do que nos incisivos inferiores, ligeiramente maior do que o esperado para um tratamento ortodôntico convencional, mas ainda dentro de padrões aceitáveis. Por fim, observa-se nos cortes tomográficos transaxiais dos incisivos inferiores que a arquitetura óssea da região alveolar da sínfise mandibular, ao final do tratamento, manteve-se semelhante à do início da terapia (Fig. 16). Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 731 732 733 734 735 736 737 738 739 740 741 742 743 744 745 746 747 748 749 750 751 752 753 754 755 756 757 758 759 760 761 762 763 764 765 766 767 768 769 770 771 772 773 774 775 776 777 778 779 780 91 caso clínico 781 782 783 784 785 786 787 788 789 790 791 792 793 794 795 796 797 798 799 800 801 802 803 804 805 806 807 808 809 810 811 812 813 814 815 816 817 818 819 820 821 822 823 824 825 826 827 828 829 Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular A B C Figura 15 Fotografias intrabucais um ano pós tratamento: nota-se que a oclusão obtida pelo tratamento ortodôntico/ortopédico permaneceu estável. A B C D Figura 16 Exame tomográfico final: a distância existente entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar vestibular do dente 32 é de 1,53mm, 1,34mm para o dente 31, 2,00mm para o dente 41 e 1,53mm para o dente 42. A B C D Figura 17 Exame tomográfico um ano pós-tratamento: a distância existente entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar vestibular do dente 32 é de 1,30mm, 1,15mm para o dente 31, 1,29mm para o dente 41 e 1,33mm para o dente 42. Entretanto, a distância entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar vestibular aumentou, em média, 0,55mm. Ao final do tratamento, essa distância estava em 1,53mm para o dente 32, 1,34mm para o dente 31, 2,0mm para o dente 41 e 1,53 para o dente 42. Comparando-se com as medidas encontradas no primeiro exame, o dente 92 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 32 apresentou um reposicionamento ósseo vestibular apical de 0,55mm, o dente 31 de 0,36mm, o dente 41 de 0,88m e o dente 42 de 0,42mm Os exames realizados um ano após o término do tratamento, trouxeram resultados interessantes (Fig. 17). A distância entre a junção amelocementária e a crista óssea 830 831 832 833 834 835 836 837 838 839 840 841 842 843 844 845 846 847 848 849 850 851 852 853 854 855 856 857 858 859 860 861 862 863 864 865 866 867 868 869 870 871 872 873 874 875 876 877 878 Bicalho RF, Bicalho JS, Quaresma MM, Ursi W 879 880 881 882 883 884 885 886 887 888 889 890 891 892 893 894 895 896 897 898 899 900 901 902 903 904 905 906 907 908 909 910 911 912 913 914 915 916 917 918 919 920 921 922 923 924 925 926 927 alveolar vestibular diminuiu, em média, 0,33mm, comparada às medidas encontradas ao final do tratamento, ou seja, houve ganho de inserção médio de 0,33mm nesse período. Um ano após o término do tratamento, essa distância estava em 1,30mm para o dente 32, 1,15mm para o dente 31, 1,29mm para o dente 41 e 1,33mm para o dente 42. Ao comparar as medidas encontradas nos exames inicial e 1 ano pós-tratamento, a distância entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar vestibular aumentou, em média, 0,22mm, ou seja, houve um reposicionamento ósseo vestibular apical médio de 0,22mm nesse período. Do início ao fim do estudo, o dente 32 apresentou um reposicionamento ósseo vestibular apical de 0,32mm, o dente 31 de 0,17mm, o dente 41 de 0,17mm e o dente 42 de 0,22mm. Faz-se necessário relatar que, apesar de não ter sido alvo desse estudo, as corticais linguais dos dentes 31, 41 e 42 se tornaram mais delgadas quando comparados os exames tomográficos inicial, final e de um ano pós-tratamento. Entretanto, a avaliação da distância existente entre a junção amelocementária e a crista óssea alveolar lingual dos incisivos inferiores será objeto de estudo posterior. Discussão O avanço mandibular, como terapêutica escolhida para se tratar casos de Classe II esquelética, vem sendo utilizado por mais de 30 anos mas, mesmo assim, ainda encontra resistência por parte de alguns ortodontistas. Convencionalmente, quando os pacientes procuram tratamento para a Classe II esquelética por deficiência mandibular fora do período de crescimento, as possibilidades de tratamento ficam reduzidas a duas alternativas: 1) Ortodontia associada à Cirurgia Ortognática, ou 2) compensação dentária, muitas vezes limitada a duas extrações superiores com subsequente retração anterior, mecânica, essa, que tem influência negativa no ângulo nasolabial e no perfil do paciente. A mecânica de protração mandibular foi inserida como uma alternativa a essas duas formas de tratamento14, podendo ser utilizada em pacientes adolescentes antes, durante ou após o seu período de crescimento e até em adultos jovens20, apesar de se ter relatos de sucesso em pacientes acima dos 50 anos de idade2. Esse tipo de mecânica nos possibilita direcionar para o tratamento ortocirúrgico somente os casos nos quais a má oclusão seja muito severa ou naqueles em que o paciente deseje, ou necessite, uma grande alteração facial17. Os exames realizados pelos tomógrafos computadorizados ampliaram a nossa possibilidade de avaliarmos a morfologia do complexo maxilomandibular. O presente trabalho teve como objetivo utilizar essa tecnologia para examinar com maior precisão 928 929 930 931 932 933 934 935 936 937 938 939 940 941 942 943 944 945 946 947 948 949 950 951 952 953 954 955 956 957 958 959 960 961 962 963 964 965 966 967 968 969 970 971 972 973 974 975 976 os efeitos do tratamento protrator mandibular na arquitetura óssea vestibular dos incisivos inferiores. Recentemente, foi publicado um estudo24 que teve como objetivo investigar a precisão e a confiabilidade de medidas derivadas das imagens de tomografia computadorizada em relação à altura e espessura do osso alveolar. Doze cabeças de cadáveres (5 mulheres e 7 homens, com idade média de 77 anos) foram escaneados por um tomógrafo, modelo i-CAT (Imaging Sciences International, Hatfield, EUA), utilizando uma resolução de 0,3mm voxel. A altura óssea alveolar vestibular e medidas de espessura de 65 dentes foram feitas em cortes tomográficos padronizados e comparados com medidas diretas feitas por dissecção. De acordo com os autores, utilizando o protocolo descrito em seu trabalho, a tomografia computadorizada poderia ser usada para avaliar quantitativamente a altura e espessura óssea vestibular do osso bucal com alta precisão e exatidão. O protocolo de aquisição de imagens utilizado nesse artigo é de um voxel de 0.2mm, ou seja, uma resolução semelhante à utilizada pelos autores citados anteriormente. As dimensões dos tecidos periodontais foram medidas por Gargiulo et al.10 e definiram-se três unidades distintas: sulco gengival, com 0,69mm; epitélio juncional, com 0,97mm; e a inserção conjuntiva, com 1,07mm, sendo essa a que possui as medidas mais constantes, com menores variações. A inserção conjuntiva se adere ao cemento radicular existente entre a junção amelocentária e a crista óssea alveolar de cada elemento dentário, justamente a distância que foi medida nesse trabalho. Por essa razão, o valor de 1,07mm foi escolhido como o padrão de normalidade biológica. No caso apresentado, todas as medidas feitas antes do tratamento encontravam-se dentro desse limite biológico. Ao final do tratamento, nota-se um aumento médio de 0,55mm nessa distância, denotando que o periodonto de sustentação sofreu forte remodelação em resposta ao tratamento ortodôntico/ortopédico. Entretanto, 1 ano após a mecânica ortodôntica, percebeu-se uma nova acomodação do tecido ósseo, na qual houve um ganho de inserção da ordem de 0,33mm, em média. Isso quer dizer que, um ano pós-tratamento, as medidas se encontravam 0,22mm, em média, maiores do que ao início do tratamento, e 0,19mm, em média, maiores do que a distância considerada como padrão de normalidade biológica. Sarikaya et al.21 publicaram um estudo utilizando tomografias computadorizadas, no qual demonstraram que a mecânica de retração dos incisivos superiores e inferiores, ao tratar a biprotrusão dentária, também promovia alterações no osso alveolar dos incisivos maxilares e mandibulares. Na arcada inferior, o osso vestibular teve a sua espessura original mantida, exceto na região mais cervical, que mostrou uma diminuição significativa na espessura do Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 abr-maio;11(2):84-94 93 caso clínico 977 978 979 980 981 982 983 984 985 986 987 988 989 990 991 992 993 994 995 996 997 998 999 1000 1001 1002 1003 1004 1005 1006 1007 1008 1009 1010 1011 1012 1013 1014 1015 1016 1017 1018 1019 1020 1021 1022 1023 1024 1025 Avaliação óssea da região de incisivos inferiores, por meio de tomografia computadorizada de feixe cônico, em paciente Padrão II tratado com aparelho de protração mandibular osso. Na arcada superior, a espessura do osso vestibular permaneceu inalterada. Entretanto, houve uma diminuição estatisticamente significativa na espessura óssea lingual em ambas as arcadas após a retração dos incisivos, sendo que alguns dos pacientes demonstraram deiscência óssea não visível macroscópica ou cefalometricamente. Portanto, como esse foi um estudo piloto, outros trabalhos, com um maior número de pacientes e, também, com diferentes mecânicas, são necessários para saber se esse resultado representa o verdadeiro comportamento dos dentes submetidos à protrusão ou se o reposicionamento apical do osso alveolar vestibular dos incisivos inferiores configura-se como custo biológico da movimentação dentária, assim como o remodelamento dos ápices dentários. Conclusão No caso clínico apresentado, constatou-se que a proclinação dos incisivos inferiores, atestada por um aumento do IMPA da ordem de 7°, quando realizada com uma mecânica controlada e com controle de higiene, não modificou significativamente a arquitetura óssea da região alveolar da sínfise mandibular, mas teve como custo biológico um reposicionamento ósseo vestibular apical de 0,22mm, em média. Agradecimentos Agradecemos à Paulo Galvão Radiologia Oral, por todo o suporte fornecido para a realização desse trabalho. Referências 1. Almog DM, Benson BW, Wolfgang L, Frederiksen NL, Brooks SL.Computerized tomography-based imaging and surgical guidance in oral implantology.J Oral Implantol. 2006;32(1):14-8. 2. Bicalho JS,Bicalho RF. Utilização do APM no tratamento da má oclusão de Classe II, 2ª divisão, em paciente adulto. Revclinortodon Dental Press. 2007 FevMar;6(1):99-106. 3. Capelozza Filho L. Diagnóstico em Ortodontia.Maringá: Dental Press, 2004. 512 p. 4. 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Endereço para correspondência Rafael de Faria Bicalho SCN Quadra 02, Bloco D, Torre B, Sala 323 – Brasília/DF CEP: 70.710-500 – E-mail: [email protected] 1026 1027 1028 1029 1030 1031 1032 1033 1034 1035 1036 1037 1038 1039 1040 1041 1042 1043 1044 1045 1046 1047 1048 1049 1050 1051 1052 1053 1054 1055 1056 1057 1058 1059 1060 1061 1062 1063 1064 1065 1066 1067 1068 1069 1070 1071 1072 1073 1074