Semeadura em linhas cruzadas na cultura da soja: características da planta e produtividade de grãos Rafael Lima Silva1, Gisele Herbst Vazquez2, Allan Hisashi Nakao3 e Daniela Capelas Centeno4 1 Engenheiro Agrônomo, Universidade Camilo Castelo Branco, Fernandópolis, SP, Brasil 2Professora Doutora do Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Ilha Solteira, SP e do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade Camilo Castelo Branco, Fernandópolis, SP, Brasil ([email protected]) 3Pós-Graduando em Sistema de Produção, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Ilha Solteira, SP, Brasil ([email protected]) 4Graduanda, Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo, Jales, SP, Brasil ([email protected]). Resumo – O arranjo espacial definido como alterações na densidade de plantas na linha e no espaçamento entrelinhas de semeadura proporciona uma maior ou menor penetração da luz no dossel, aumentando a iluminação das folhas inferiores e a atividade fotossintética. O objetivo deste experimento foi avaliar as características agronômicas da planta e a produtividade de grãos de soja cultivada em semeadura em linhas cruzadas e paralelas nos espaçamentos de 0,4 e 0,5 m entrelinhas. O experimento foi desenvolvido em Fernandópolis-SP, em 2011/12, com o cultivar BRS Valiosa RR e com 400.000 plantas ha-1. O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 2, ou seja, semeadura em dois sentidos da linha (cruzado e paralelo) e em dois espaçamentos entrelinhas (0,4 e 0,5 m) com quatro repetições. No espaçamento 0,4 m com linhas paralelas foram obtidas as maiores alturas de plantas e no 0,5 m com linhas cruzadas o maior número de vagens e de grãos por planta, massa de 100 grãos e produtividade de grãos. Concluiu-se que o arranjo espacial interfere nas características agronômicas das plantas de soja e que a semeadura em linhas cruzadas no espaçamento de 0,5 m eleva a produtividade de grãos de soja. Palavras-chave: Glycine max, arranjo de plantas, distribuição espacial. Sowing in crossed lines in soybean: plant characteristics and grain yield Abstract - The spatial arrangement defined as changes in plant density line and the sowing row spacing provides a greater or lesser penetration of light into the canopy, increasing the illumination of the lower leaves and photosynthetic activity. The objective of this experiment was to evaluate the agronomic characteristics of the plant and the productivity of soybean grown in sowing in crossed and parallel lines in the gaps of 0.4 and 0.5 m between rows. The experiment was conducted in Fernandópolis, SP, Brazil, in 2011/12, with the BRS Valiosa RR and 400,000 plants ha-1. The experimental design was a randomized block factorial 2 x 2, in other words sowing in two directions of the line (crossed and parallel) and two row widths (0.4 and 0.5 m) with four replications. Spaced 0.4 m with parallel lines obtained the highest plant height and 0.5 m with crossed lines the highest number of pods and seeds per plant, weight of 100 grains and grain yield. It was concluded that the spatial arrangement interferes on agronomic characteristics of soybean plants and that sowing with crossed lines in the spacing of 0.5 m increases the productivity of soybean grains. Keywords: Glycine max, plant arrangement, spatial distribution. Introdução A soja (Glycine max L.) é uma cultura de destaque no cenário mundial de grãos. Diversos fatores fazem com que essa cultura alcance esse status, já que é a principal oleaginosa utilizada na fabricação de óleos comestíveis para a alimentação humana, além de o grão ser muito utilizado como fonte de proteína vegetal para a alimentação animal e, mais recentemente, na produção de biocombustíveis (Domingues, 2010). A soja representa uma boa opção para a agricultura brasileira. A elevada oscilação no valor de outros produtos agrícolas, como milho e algodão, tem contribuído para que muitos produtores adotem a soja como sua principal fonte de renda (Silva, 2003). Segundo Conab (2014), o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, com uma área cultivada na safra 2013/2014 de 30,17 milhões de hectares, sendo uma grande fonte de divisas para a nação. Todas as culturas têm um potencial máximo de produtividade. No entanto, o ambiente impõe uma série de limitações ao genótipo, e com isso, a produção, frequentemente é menor que o potencial (Weber, 1968). O desempenho das plantas em campo depende, em grande parte, da interceptação da radiação fotossinteticamente ativa, mesmo quando outros fatores ambientais são favoráveis. As plantas apresentam baixa eficiência de utilização da radiação solar, sendo que a produtividade de grãos das culturas depende d escolha adequada do arranjo de plantas, já que interfere na interceptação da radiação, na eficiência de seu uso, no índice de área foliar, no ângulo e na distribuição de folhas no dossel. O arranjo espacial de plantas pode ser manipulado por meio de alterações no espaçamento entrelinhas, densidade e distribuição de plantas na linha e uniformidade de emergência (Argenta et al., 2001). A maior ou menor penetração da luz no dossel está na dependência da densidade das plantas e do espaçamento entre elas. Um melhor arranjo de plantas proporciona às Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.1, p.33-38, mar. 2015 33 80 Chuva T Média Temperatura (°C) e UR(%) 70 Deste modo, o uso da semeadura em linhas cruzadas vem evoluindo principalmente no Estado do Mato Grosso, que é o maior produtor de soja no Brasil, porém são escassos os estudos técnicos que avaliam a nova tecnologia. Com base no exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar as características agronômicas da planta e a produtividade de grãos de soja cultivada no sistema de semeadura em linhas cruzadas e em linhas paralelas, nos espaçamentos de 0,4 e 0,5 m entrelinhas. Material e Métodos O experimento foi conduzido em área pertencente à Fazenda de Ensino e Pesquisa da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo), campus de FernandópolisSP, localizada entre as coordenadas 20º 16’ 50’’ de latitude sul e 50º 17’ 43’’ de longitude oeste e altitude de 520 m. O tipo climático local é o Aw, segundo a classificação de Köppen, caracterizado como tropical úmido com estação chuvosa no verão e seca no inverno. Na Figura 1 estão apresentados os dados de precipitação pluvial, temperatura média e umidade relativa média no período do experimento. UR Média 50 45 40 60 35 50 30 25 40 20 30 15 Precipitação (mm) folhas inferiores maior iluminação, fazendo com que estas contribuam de forma mais ativa no processo de fotossíntese (Rezende et al., 2004). Assim, um novo sistema de semeadura em linhas cruzadas surgiu no Brasil com o intuito de aumentar a densidade de plantas de soja nas lavouras sem concentrar um excesso de plantas na linha, onde ocorreria uma competição intraespecífica. Neste sistema o produtor realiza a semeadura com metade das sementes em linhas paralelas e de forma tradicional ao que normalmente é feito e, em seguida, realiza outra operação similar no sentido perpendicular à primeira, fazendo com que a emergência das plantas de soja ocorra em uma forma de “xadrez ou quadrada”. Este sistema de semeadura em linhas cruzadas mantém a população adequada de plantas na área, garante uma distribuição mais uniforme das plantas e proporciona uma melhor utilização dos recursos do ambiente, favorecendo uma rápida cobertura do solo e uma alta interceptação de radiação solar no início do ciclo, além de garantir um domínio da cultura sobre as plantas daninhas no processo de interferência (Bianchi et al., 2010). 10 20 10 5 0 Figura 1. Dados climáticos obtidos da estação meteorológica situada na Fazenda de Ensino e Pesquisa da Unicastelo, Fernandópolis - SP, 2011/2012. O solo da área foi classificado como ARGISSOLO Vermelho-Amarelo eutrófico abrúptico A moderado, textura arenosa a média relevo suave ondulado e ondulado (Oliveira et al., 1999). Antes da instalação do experimento foi realizada a caracterização química do solo na camada de 0,0 - 0,20 m e os valores foram os seguintes: pH (CaCl2) = 5,3; MO = 15 g dm-3; H+Al = 19 mmolc dm-3; P (resina) = 11 mg dm-3; K, Ca e Mg = 1,6; 18 e 7 mmolc dm-3, respectivamente, e V = 58%. 34 Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.1, p. 33-38, mar. 2015 O solo foi preparado de forma convencional, com uma aração e duas gradagens niveladoras. Não foi realizada a calagem e a adubação química básica nos sulcos de semeadura foi calculada de acordo com as características químicas do solo e as recomendações de Mascarenhas & Tanaka (1997) para uma produtividade esperada de 2,5 a 2,9 t ha-1 utilizando-se 60 kg ha-1 de P2O5 na forma de superfosfato simples e 50 kg ha-1 de K2O na forma de cloreto de potássio. As sementes, antes da semeadura, foram tratadas com o inseticida imidacloprido + tiodicarbe (0,5 L 100 kg-1 de semente) e fungicida carbendazim + thiram (150 mL 100 kg-1 de semente) e inoculadas com inoculante líquido a base de Bradyrhizobium na dose de 150 mL 50 kg-1 de semente. Após os tratamentos e antes da inoculação, foi aplicado nas sementes molibdênio e cobalto, na dose de 100 mL 100 kg-1 de semente. O cultivar utilizado foi a BRS Valiosa RR, com hábito de crescimento determinado, grupo de maturação 8.1 e resistente ao acamamento e ao herbicida glifosato, sendo semeado, manualmente no dia 25/11/2011 com uma densidade de sementes elevada visando o posterior desbaste de plantas e a obtenção de uma mesma população em todas as parcelas. Após a semeadura, a área foi irrigada durante todo o período do experimento de acordo com a necessidade da cultura e a ocorrência de precipitações de forma a repor a evapotranspiração. O sistema utilizado foi aspersão convencional e o tempo de irrigação de 2,5 horas. O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 2 e com quatro repetições, ou seja, a combinação de dois espaçamentos entrelinhas (0,4 e 0,5 m) e em dois sistemas de semeadura (com linhas paralelas e cruzadas). As parcelas com as linhas paralelas com espaçamento de 0,4 m foram compostas de 5 linhas de 4 metros de comprimento e as com espaçamento de 0,5 m, por 4 linhas de 4 metros. A área útil das parcelas com espaçamento de 0,4 m foi de 3,6 m2 e as de 0,5 m, de 3 m2 centrais. As parcelas com as linhas cruzadas e espaçamento de 0,4 m foram compostas de cinco linhas paralelas de 4 metros de comprimento e 10 linhas transversais com 2 m e as com espaçamento de 0,5 m, por 4 linhas paralelas de 4 m e 8 linhas transversais com 2 m. Da mesma forma que nas parcelas com linhas paralelas, a área útil das parcelas com linhas cruzadas e espaçamento de 0,4 m foi de 3,6 m2 e as cruzadas com entrelinhas de 0,5 m, de 3 m2 centrais. As parcelas foram desbastadas no dia 16/12/2011 (21 dias após a semeadura) de forma a atingir 400.000 plantas ha-1. Durante o ciclo vegetativo das plantas, a área foi pulverizada com os herbicidas glifosato (2,5 L ha-1) e clorimurom-etílico (60 g ha-1) para o controle de plantas daninhas; duas vezes com o fungicida protioconazol + trifloxistrobina (0,3 L ha-1) para controle de doenças e quatro vezes com inseticidas metomil (0,8 L ha-1), flubendiamida (50 mL ha-1), triflumurom (40 mL ha-1) e metamidofós (500 mL ha-1) para o controle de pragas. A colheita foi realizada manualmente aos 148 dias após a semeadura, no dia 21/04/2012 no estádio R8, estando as sementes com 13 a 14% de umidade. Nas parcelas com linhas paralelas e espaçamento entrelinhas de 0,4 m foram descartadas a duas linhas laterais e 0,5 m de cada extremidade, colhendo-se as três linhas centrais. Nas parcelas com linhas paralelas e espaçamento de 0,5 m foram descartadas as linhas de bordadura e 0,5 m de cada lado colhendo-se as duas centrais. Nas parcelas com linhas cruzadas e espaçamentos entrelinhas de 0,4 m e 0,5 m foram descartadas as bordaduras e 0,5 m de cada lado, colhendo-se todas as plantas centrais das parcelas. As seguintes avaliações foram realizadas: grau de acamamento (classificando em notas: 1- todas as plantas eretas; 2- algumas plantas inclinadas ou ligeiramente acamadas; 3- todas as plantas moderadamente inclinadas ou 25 a 50% acamadas; 4- todas as plantas severamente inclinadas ou 50 a 80% acamadas e 5- todas as plantas acamadas); população de plantas por hectare (contagem direta de plantas na área útil das parcelas próximo a colheita e posterior transformação dos dados para hectare); altura da planta e de inserção da primeira vagem (média de 10 plantas seguidas por parcela); número de vagens por planta, número de vagens chochas por planta, número de grãos por planta e número de grãos por vagem (médias de 10 plantas seguidas por parcela); massa de 100 grãos (contagem de três repetições de 100 sementes por parcela e posterior pesagem, sendo o resultado corrigido para um teor de água de 13% b.u.), produtividade de grãos (colheita e trilhagem de todas as plantas da área útil sendo o resultado expresso em kg ha-1 e corrigido para um teor de água de 13% b.u.). A análise estatística foi efetuada por meio da análise de variância e as médias, quando significativas, foram comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% e 10% de probabilidade, utilizando o programa estatístico SISVAR. Resultados e Discussão Na Tabela 1 estão apresentadas as médias da população de plantas por hectare no momento da colheita e das características agronômicas: grau de acamamento (GA), altura de plantas (AP) e altura de inserção da primeira vagem (AIPV). A população média das plantas na área foi de 400.625 plantas por hectare, não havendo diferenças significativas entre os diversos tratamentos avaliados. Segundo a Embrapa (2011) a recomendação ideal para a população final de plantas do cultivar BRS Valiosa RR nos estados de GO, MT e RO é de 280 a 340 mil plantas por hectare. Para a variável AP, o espaçamento entrelinhas de 0,4 m em linhas cruzadas elevou significativamente (P = 0,047) o tamanho das plantas, não havendo diferenças entre os demais tratamentos. De acordo com Procópio et al. (2012) e Balbinot Júnior et al. (2012) a combinação de dois espaçamentos entre fileiras (0,4 e 0,6 m), duas densidades de semeadura (375.000 e 562.500 sementes ha-1) e dois sistemas de semeadura (em linhas cruzadas e não cruzadas) não afeta o crescimento (altura de planta) de soja. O mesmo foi relatado por Chaves (2012) avaliando a altura de planta após a semeadura em linhas paralelas e cruzadas. Já segundo Marchiori (1998), citado por Rezende et al. (2004), a redução do espaçamento entrelinhas, aumento da densidade nas linhas e, principalmente, aumento da competição intraespecífica, tem sido considerados os responsáveis pelo aumento da Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.1, p.33-38, mar. 2015 35 altura das plantas. Para Heiffig (2002), a utilização de espaçamentos menores entrelinhas e populações maiores de plantas resultam em estratégia de manejo para aumentar a altura da planta e a altura da inserção das primeiras vagens, facilitando com isto a colheita e reduzindo as perdas. Por sua vez, o grau de acamamento (GA) e a altura de inserção da primeira vagem (AIPV) não apresentaram diferenças significativas. Da mesma forma Balbinot Júnior et al. (2012) e Chaves (2012) não obtiveram diferenças no GA e na AIPV, respectivamente, avaliando a semeadura de soja em linhas paralelas e cruzadas. De acordo com Balbinot Júnior (2011), o adensamento de plantas ocasiona alto crescimento, tornando as plantas estioladas e propensas ao acamamento. Nesse contexto, para a cultivar BRS Valiosa RR, nas condições de Fernandópolis/SP, verificou-se que mesmo com uma alta população de plantas não ocorreu o acamamento, havendo porém, diferenças na altura das plantas, com os maiores valores no espaçamento de 0,4 m em linhas paralelas. Tabela 1. Valores de coeficiente de variação (CV) e médias de população de plantas por hectare (Pop), grau de acamamento (GA), altura da planta (AP) e altura da inserção da primeira vagem (AIPV). Espaçamentos (m) 0,4 paralela 0,4 cruzada 0,5 paralela 0,5 cruzada Média Pr > Fc CV (%) Pop (pl/ha) 404.167 400.000 394.167 404.167 400.625 0,977 9,20 GA (1-5) 2,50 1,50 2,50 2,50 2,25 0,351 40,57 AP* (cm) 121,0 a 112,0 b 111,7 b 109,7 b 113,6 0,047 4,68 AIPV (cm) 21,52 21,20 19,22 22,07 21,00 0,607 14,84 *Médias seguidas da mesma letra minúscula, não diferem entre si pelo teste Scott Knott, a 5% de probabilidade. Na Tabela 2, estão apresentadas as médias de número de vagens por planta (NVP), número de vagens chochas por planta (NVCP), número de grãos por planta (NGP), massa de 100 grãos (M100) e produtividade de grãos (Prod). Quanto ao NVP, o espaçamento de 0,5 m em linhas cruzadas superou os demais (P = 0,075), que não apresentaram diferenças estatísticas entre si. O espaçamento de 0,5 m em linhas cruzadas elevou em 43% o número de vagens em relação ao espaçamento 0,4 m em linhas paralelas, que produziu o menor número de vagens. A redução de espaçamento entrelinhas também incrementa a interceptação da radiação, o índice de área foliar e o rendimento de grãos, sendo o maior número de legumes por m2 o parâmetro que melhor explica o incremento no rendimento de grãos (Parcianello et al., 2004). Já o NVCP não mostrou interferência significativa pelo uso dos espaçamentos 0,4 e 0,5 m, tanto em linhas cruzadas quanto paralelas. 36 Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.1, p. 33-38, mar. 2015 Tabela 2. Valores de coeficiente de variação (CV) e médias de número de vagens por planta (NVP), número de vagens chochas por planta (NVCP), número de grãos por planta (NGP), massa de 100 grãos (M100) e produtividade de grãos (Prod). Espaçamento NVP** (m) 0,4 paralela 239,75b 0,4 cruzada 263,50b 0,5 paralela 283,50b 0,5 cruzada 342,75a Média 282,37 Pr>Fc 0,075 CV(%) 18,11 * e **Médias seguidas da entre si pelo teste Scott respectivamente. M100* PROD* (g) (kg ha-1) 215,75 479,50b 14,06b 1349c 200,00 527,00b 16,40a 2484b 182,75 567,00b 13,79b 1922c 219,50 685,50a 15,99a 3198a 204,50 564,75 15,06 2238,57 0,941 0,075 0,009 0,001 45,66 18,11 7,13 22,08 mesma letra, em cada coluna, não diferem Knott, a 5% e 7,5% de probabilidade, NVCP NGP** O número de grãos por planta (NGP) também apresentou valores significativamente superiores aos demais com o uso do espaçamento 0,5 m em linhas cruzadas (P = 0,075), superando em 43% o número de grãos em relação ao espaçamento 0,4 m em linhas paralelas. A maximização do potencial de produção da cultura começa no estabelecimento da mesma, portanto, o estabelecimento da população e o espaçamento adequado de plantas são fundamentais para um adequado desenvolvimento vegetativo, possibilitando a produção de maior número de estruturas reprodutivas (Pires et al., 2000). A massa de 100 grãos apresentou resultados superiores nos espaçamentos 0,5 m e 0,4 m em linhas cruzadas (P = 0,009). Alguns trabalhos mostram que o peso do grão é alterado pelo arranjo de plantas. Moore (1991) observou que o peso e o tamanho dos grãos aumentaram quando o espaçamento entre plantas era equidistante, e que esse aumento ocorreu também com a diminuição da população. Entretanto, no presente estudo não foram detectadas diferenças significativas no número de grãos por vagem (dados não apresentados), que não variaram entre os diversos tratamentos estudados, sendo 2 o valor médio obtido. Sabe-se que o número de grãos por vagem é fortemente influenciado pelo fato de que a maioria das cultivares modernas é selecionada para formar dois ou três óvulos por vagem (Mcblain & Hume, 1981 citados por Navarro & Costa, 2002). A variável produtividade de grãos apresentou diferença significativa com o uso de espaçamento 0,5 m em linhas cruzadas, superando os demais (P = 0,001), sendo que este espaçamento produziu 1849 kg a mais do que o espaçamento de 0,4 m em linhas paralelas. De maneira geral, pode-se notar uma maior produtividade de grãos de soja com o uso de linhas cruzadas e no espaçamento de 0,5 m (Figura 2). Provavelmente isto pode ser atribuído ao melhor arranjo espacial das plantas e a menor invasão de plantas daninhas na área. Porém, estes dados diferem dos obtidos por Balbinot Júnior et al. (2012) que não mostraram interferência na produtividade de grãos do cultivar BRS 294 RR pelo uso de semeadura em linhas cruzadas, sendo, porém, o espaçamento de 0,6 m entre fileiras mais produtivo que o 0,4 m. Da mesma forma Procópio et al. (2012) e Chaves (2012) concluíram que a semeadura em linhas cruzadas não afeta a produtividade de grãos de soja. Produtividade (kg/ha) 3.500 3.000 2.500 2.000 BALBINOT JÚNIOR, A.A. Acamamento de plantas na cultura da soja. Agropecuária Catarinense, v.25, n.1, p.40-43, 2011. BALBINOT JÚNIOR, A.A.; PROCÓPIO, S.O.; FRANCHINI, J.C.; DEBIASI, H.; NEUMAIER, N.; PANISON, F. 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Entretanto, vários trabalhos tem demonstrado a possibilidade de se aumentar a produtividade de grãos com a redução do espaçamento. Segundo Wells (1991), plantas nas fases iniciais tem grande aproveitamento de luz, refletindo-se em maior produção de fitomassa, maior índice de área foliar (Cox & Chemey, 2011), aumento do número de flores por área (Ventimiglia et al., 1999) e maior produtividade de grãos (Rambo et al., 2003). Contudo, verifica-se que a resposta ao espaçamento entre as fileiras, pode estar na escolha do cultivar e do ambiente de cultivo. Conclusão Através dos dados obtidos é possível concluir que o arranjo espacial interfere nas características agronômicas das plantas de soja e que a semeadura em linhas cruzadas no espaçamento de 0,5 m eleva a produtividade de grãos de soja. Referências ARGENTA, G.; SILVA, P.R.F.; SANGOI, L. Arranjo de plantas em milho: análise do estado-da-arte. Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.6, p.1075-1084, 2001. CHAVES, D.P. 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