A ECONOMIA BRASILEIRA E O COMÉRCIO

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A ECONOMIA BRASILEIRA E O COMÉRCIO VAREJISTA
Análise, Desempenho e Projeções
2008 – 2009
1. ECONOMIA BRASILEIRA: BALANÇO E PERSPECTIVAS 1.1 ASPECTOS
MACROECONÔMICOS – 2008
1.1.1 Fatores positivos – 2008
1.1.2 Fatores negativos - 2008
2. ESTIMATIVAS 2009 - PRINCIPAIS INDICADORES
2.1 HIPÓTESES ECONÔMICAS.
2.1.1 Projeções baseadas na hipótese provável
1. ECONOMIA BRASILEIRA: BALANÇO E PERSPECTIVAS
1.1 Aspectos macroeconômicos - 2008
O Brasil atravessou um período de prosperidade sem precedentes na história recente
do país entre o final de 2004 e o ano de 2008.
Crescimento sólido, recuperação das contas externas, geração de reservas
internacionais superiores a US$ 200 bilhões, aumento de renda e empregos durante
esses quase 5 anos.
O final de 2008, infelizmente, parece marcar o fim desse momento próspero.
Resta saber se o próximo ciclo econômico mundial, mais complicado sem dúvida, terá
uma duração muito prolongada e qual a profundidade das mudanças que estão por
ocorrer no ambiente de negócios, propensão a investir e a consumir, aqui e no resto
do mundo.
O bom desempenho de 2008 não chega a ser apagado pela crise internacional que
chegou de forma mais incisiva a partir do final de setembro início de outubro.
O ano deve terminar com uma taxa de desemprego baixa para os padrões brasileiros,
reservas internacionais ainda bastante elevadas, saldos comerciais substanciais (e
recordes de exportação), além de ter sido o segundo ano de forte acréscimo no
consumo das famílias, principalmente no tocante a automóveis e imóveis.
Crédito e renda real em crescimento foram os responsáveis por esse desempenho
bastante positivo, se o olhar for sobre o resultado agregado final de 2008.
O problema está em fazer a análise marginal, quando se observa que a tendência é
desse desempenho murchar em 2009, fazendo com que o Brasil volte a se incomodar
com taxas de desemprego mais elevadas e um padrão de consumo mais modesto no
ano que vem.
O país se mostrou preparado para crescer mais de 5%, apesar das dúvidas quanto à
pressão inflacionária.
Houve momentos no ano em que, por conta da elevação dos preços de commodities, a
inflação obrigou o BC a elevar juros.
Todavia a pressão de preços pouco teve a ver com gargalos produtivos ou excesso de
demanda não contemplada pela oferta.
Foi uma inflação importada e por muitos momentos a Fecomercio se pronunciou
contrária à elevação de juros sob o argumento de controle de inflação, dado que esta
estava fora do alcance do BC brasileiro.
Ironicamente a crise que se abate sobre o mundo reduz os preços de commodities,
como, por exemplo, aço, café e petróleo.
Essa não é uma boa notícia, nem mesmo para a inflação, já que concomitante a isso o
câmbio passou a se desvalorizar após setembro.
A mudança de cenários internacionais é também uma variável extremamente
importante para que se possam traçar perspectivas sobre a economia em 2009.
Com a tendência de forte desaceleração nas maiores economias do mundo (EUA,
Europa e Japão), dificilmente o Brasil escapará de ter que fazer ajustes bastante
severos na sua política econômica.
O mais provável é que a equipe econômica esteja atenta a cada onda de alteração que
surja exogenamente e prepare medidas pontuais que possam reduzir os efeitos de
contágio, atenuando os piores.
Adiante alguns comentários sobre os principais campos de análise macroeconômica,
divididos por seu desempenho.
Fatores positivos – 2008
Comércio Internacional: Mesmo com todos os problemas externos do final do ano e com
a valorização cambial ocorrida desde o final de 2005 até setembro desse ano, a
Balança Comercial continuou superavitária, sendo que as exportações atingem em
2008 US$ 200 bilhões, um recorde histórico.
Evidentemente tal desempenho se deveu aos preços elevados de commodities e do
aquecimento econômico percebido até o mês de setembro, quando rompe a crise
internacional de forma mais aguda.
Todavia o resultado alcançado até aquele momento foi suficiente para garantir um
bom desempenho anual, que, infelizmente, não deve se repetir em 2009.
O Brasil, em 2008, voltou a aumentar sua pauta de exportações e seu leque de
clientes, o que garante ao país uma exposição menor ao risco.
Equilíbrio Fiscal: O governo conseguiu em 2008, manter o superávit rimário em
patamares elevados.
Evidentemente o fez de forma enviesada, com aumento da arrecadação e não com
ajustes de eficiência e cortes de gastos.
Com o consumo crescendo a taxas de 10% e com o aquecimento da produção, a
arrecadação atingiu patamares recordes nesse ano.
De qualquer maneira a obtenção de um superávit primário superior aos 4,25%
estimados no início do ano é uma boa notícia, que, agregada à redução de juros
médios permitiu – principalmente até a primeira metade do ano – reduzir a relação
dívida/PIB.
Dificilmente esse resultado se repetirá em 2009, tanto por conta do ambiente
econômico adverso quanto por conta da armadilha preparada pelo governo que
continuou a contratar aumento de gastos futuros.
Controle Inflacionário: no início do ano ocorreram pressões inflacionárias por causa do
aumento dos preços de commodities internacionais.
O Banco Central reagiu interrompendo a trajetória de queda dos juros e passou a atuar
com apertos monetários.
A Fecomercio se pronunciou, na ocasião, contrária a essa estratégia, apontando que os
apertos monetários do Brasil não seriam eficientes para conter os preços
internacionais.
Todavia o Banco Central optou por um excessivo conservadorismo naquele momento.
A partir do final de agosto início de setembro, os preços de commodities passaram a
cair rapidamente, mas, por outro lado, e exatamente por esse motivo, o real começou
uma trajetória de desvalorização desconhecida do país desde 2005.
Esses efeitos opostos fazem com que parte dos choques externos sejam amortizados
por conta da flutuação cambial.
De qualquer forma, o IPCA deve terminar 2008 ao redor de 6,3% (próximo ao teto da
meta de inflação) e estima-se que em 2009 o BC mantenha os preços bastante
comportados, ainda que esteja diante de uma crise internacional bastante severa.
Fatores negativos – 2008
Falta de reformas: Na ausência de uma política de reformas de base nos âmbitos
fiscal, previdenciário e burocrático, o Brasil ainda não se firmou como candidato
efetivo do bloco dos países desenvolvidos.
No aspecto microeconômico são necessárias reformas que revolucionem o ambiente
de negócios, reduzam a burocracia e elevem fortemente o grau de segurança jurídica.
Do lado macroeconômico, as reformas devem garantir a sustentabilidade das políticas
fiscal e monetária no longo prazo.
Aumento dos gastos do governo: Outro aspecto negativo bastante evidente em 2008
foi a continuidade do aumento de gastos do governo.
O governo apenas manteve levado superávit primário por conta do consumo e da
atividade econômica aquecida.
Mesmo assim os resultados dessa verdadeira armadilha tendem a se mostrar
desastrosos no futuro próximo.
Em um ambiente de desaquecimento econômico, como provavelmente o país vai
passar em 2009, o governo não terá graus de liberdade para efetuar cortes de gastos
por conta das contratações extemporâneas que vem fazendo há pelo menos dois anos.
Esse continua a ser outro ponto crítico da economia nacional, uma vez que o controle
da dívida pública e seu equilíbrio de longo prazo se tornam comprometidos de partida.
Valorização cambial exagerada: Com a entrada forte de reservas internacionais pelo
menos até meados de 2008, o país experimentou a taxa de câmbio mais valorizada da
história recente, em relação a todas as moedas fortes do mundo.
A queda do Risco Brasil, o excedente de liquidez internacional e a elevada taxa de juros
interna fizeram com que os capitais fluíssem para o país permitindo essa forte
valorização do Real.
Como efeito colateral dessa valorização do Real, houve um estímulo desproporcional à
importação (que cresceu 45% neste ano) e causou sérios problemas para a indústria
nacional.
Aparentemente, o Banco Central não interpretou todos os sinais como um indicativo
claro de que a taxa de juros básica do país estava desalinhada com o cenário
internacional.
Ao final do ano houve uma reversão do quadro, mas também iniciado o agravamento
da crise internacional que contaminou os humores dos agentes no Brasil,
principalmente no setor financeiro.
O risco é que esse quadro seja exatamente o inverso em 2009, com forte volatilidade
da moeda, tendendo à desvalorização.
PAC: Em 2007 o anúncio do PAC teve impactos positivos, pois atestava a preocupação
do setor público com aspectos críticos para o desenvolvimento nacional.
A ausência de sua execução ao longo de 2007 e 2008 mostrou que o PAC de fato era
apenas uma peça de propaganda, sem efeitos práticos.
Vale ressaltar que nesse momento em especial seria muito importante para o país que
o governo conseguisse mostrar capacidade de orquestrar com eficiência gastos
públicos no sentido dos investimentos.
Mas essa não parece ser a aposta da maioria dos analistas para 2009.
VARIÁVEL
2008
OTIMISTA
4,00%
IPCA (% - estimativa)
6,50%
Meta Taxa Selic (final de pe13,75%
11,00%
ríodo)
Taxa de Câmbio (final do peR$2,30
R$ 1,90
ríodo)
Balança Comercial
25
20
Conta Corrente
-30
-25
Produção Industrial (% cres6,00%
5,00%
cimento)
PIB (% crescimento)
5,20%
4,00%
Varejo SP
6,00%
2,00%
Varejo Brasil (IBGE)
10,00%
6,00%
Fonte; Fecomercio, IBGE, Banco Central do Brasil
Elaboração: Fecomercio.
2009
PROVÁVEL
5,50%
PESSIMISTA
7,00%
13,00%
18,00%
R$ 2,40
R$ 3,00
15
-30
cinco
-40
3,00%
0,00%
3,00%
0,00%
4,00%
1,00%
-4,00%
2,00%
Hipóteses econômicas
Hipótese otimista: (Probabilidade de 10% de ocorrência)
A crise com epicentro no setor financeiro americano e europeu é rapidamente
equacionada.
Os pacotes de ajuda do Tesouro americano serão suficientes para reequilibrar
balanços do setor financeiro e também para garantir a calma e tranqüilidade de
consumidores, credores e bancos.
Os agentes econômicos recuperam rapidamente sua confiança e a economia volta a
ter relações comerciais normais.
A ocorrência deste cenário faria com que os efeitos da crise ficassem restritas ao final
de 2008 e apenas ao primeiro semestre de 2009, e com magnitude moderada e
controlada.
Hipótese pessimista: (Probabilidade de 10% de ocorrência)
O pacote de auxílio americano seria absolutamente irrelevante, o mercado financeiro
entra em pânico e as perdas no momento inicial geram ciclos de saques e vendas de
ativos, culminando com novas perdas.
O Tesouro e o Federal Reserve, juntamente com outros bancos centrais, não seriam
capazes de reverter a percepção dos mercados acerca de uma crise de proporções
parecidas com 1929.
A duração do período de crise é mais longa, ultrapassando a barreira de 2009 e a
magnitude intensa, sem momentos de alívio.
O processo se assemelha a uma depressão econômica com a inevitável quebra de
grandes empresas ícones da economia mundial.
Hipótese Provável: (Probabilidade de 80% de ocorrência)
A crise perdura ao longo de 2009, porém com claros indícios de que os mercados
caminham para o equilíbrio e para a normalidade.
A intensidade da crise seria elevada, porém com momentos de alívio.
Além disso, os ajustes feitos seriam severos, mas insuficientes para gerar uma quebra
generalizada do setor bancário europeu e americano.
Certamente ocorrerão novas aquisições e fusões, porém o setor financeiro consegue
se sanear com base em pacotes pontuais de auxílio e com a constituição de fundos de
crédito hoje de pouca liquidez.
Empresas de grande porte serão auxiliadas por governos ao redor do mundo, e isso
reduzirá a perda de empregos e de confiança dos consumidores, restringindo os
efeitos a um quadro sério, porém não trágico em 2009.
Projeções baseadas na hipótese provável
Juro e Déficit Público – Já a partir do primeiro semestre de 2008 o governo reverteu a
trajetória de queda da Selic e passou a operar elevações de juros por conta de
pressões de preços.
Essa reversão de comportamento fez com que as projeções de queda dos custos da
dívida pública se invertessem, causando certo desconforto em muitos analistas, que
não viam necessidade de aperto monetário.
Não obstante, o governo ainda conseguiu reduzir durante 2008 a dívida pública em
relação ao PIB principalmente por conta da arrecadação recorde e do crescimento do
PIB.
Seria importante, todavia, que o governo tivesse aproveitado o bom momento para
gerar reservas estratégicas elevando o superávit primário para a casa dos 6% e
reduzindo as taxas de juros a patamares mais condizentes com a situação do Brasil.
Foi feito o contrário: elevou-se o gasto público e a taxa de juros, comprometendo a
queda da dívida e o equilíbrio de longo prazo.
O que garantiu a manutenção do bom desempenho foram os ventos favoráveis que
sopravam, mas que deveriam ter sido entendidos como uma oportunidade para elevar
a musculatura das contas públicas, mal comparando, como aproveitar o tempo das
vacas gordas para armazenar reservas para os dias de vacas magras.
Essa ausência de visão e de empenho nos melhores momentos é que tem sido a pior
inimiga do crescimento sustentável e de longo prazo no país, que continua a depender
de fatores exógenos e fortuitos.
Talvez já em 2009 o país perceba que seria muito bom ter uma relação de dívida/PIB
menor, um colchão de reservas públicas maiores e um equilíbrio fiscal de longo prazo e
que fosse significativamente robusto para atravessar momentos de perda de
arrecadação se eventual necessidade de pacotes de gastos do governo.
Inflação - A trajetória da inflação medida pelo IPCA em 2008 está praticamente prédeterminada devendo ficar próxima de 6,5% no teto do intervalo da meta
préestabelecida.
A reversão do cenário cambial nos últimos meses comprometeu principalmente o
comportamento dos preços livres, que registraram variação muito superior aos
administrados (6,3% contra 2,9% no acumulado do ano).
Dentro dos itens livres, os serviços acumularam variação de 5,5% em 2008,
correspondendo à elevação da renda e do emprego, que ocasionaram aquecimento da
demanda doméstica nos últimos dois anos.
Os bens duráveis, que vinham registrando deflações nos anos anteriores devido à
apreciação do Real, reverteram a trajetória de queda, apresentando alta de 1,1% nos
últimos dez meses.
No entanto, o grupo ainda permanece com o melhor comportamento entre os demais
bens devido aos seus principais itens - veículos e eletroeletrônicos – que variaram 0,7%
e -7,4% no ano, respectivamente.
Os bens semiduráveis obtiveram aceleração, passando de 2,5% nos primeiros dez
meses de 2007 para 5,2% no mesmo período de 2008.
Dentre o grupo, destaque para roupa feminina e calçados, que apresentaram variações
7,9% e 5,5%, respectivamente.
Já os bens não-duráveis continuaram a apresentar aceleração significativa em 2008,
obtendo alta de 9,3% no acumulado de janeiro a outubro.
A expressiva queda das cotações das commodities no segundo semestre devido ao
agravamento da crise financeira internacional não impediu que o grupo apresentasse a
maior variação na composição dos índices de preços, com destaque para alimentos
que acumulam alta de 10% no ano.
No entanto, nos últimos três meses já se verificou uma reversão da aceleração de nãoduráveis, com melhores resultados mensais do grupo, reflexo principalmente das
quedas acentuadas dos preços agrícolas.
Índice de preços ao consumidor amplo (IPCA)
JAN - OUT
2007 2008
IPCA
Livres
Administrados
Duráveis
Não-Duráveis
Semi-Duráveis
Serviços
3,30 5,23
4,26 6,28
1,20 2,88
-0,05 1,09
6,50 9,25
2,49 5,18
4,28 5,45
Fonte: IBGE
Para 2009, a variável chave para o cenário inflacionário é a evolução da taxa de
câmbio.
O ponto a ser destacado é o risco inflacionário que a taxa de câmbio impõe em
momentos de falta de liquidez e aversão a risco.
O impacto positivo queda na cotação das commodities internacionais sobre a inflação
foi reduzida pelo impacto negativo que impõe a desvalorização do câmbio.
Espera-se uma maior aceleração dos preços administrados no próximo ano devido à
inércia que o índice sofre.
Logo a evolução dos preços livres altamente dependentes da demanda determinarão o
desdobramento do processo inflacionário em 2009.
Hoje, as expectativas são do que o BC tentará atingir a meta central de 4,5%.
Entretanto, a desvalorização realizada impõe uma dificuldade maior à convergência da
inflação para a meta em 2009, objetivo que não será possível em 2008.
Contudo, há muitas incertezas em relação ao desaquecimento da atividade econômica
que poderá atenuar as pressões inflacionárias ao longo do ano e impor novas
Condições com os quais o Banco Central terá que lidar, fazendo escolhas muito mais
complexas do que nos últimos três anos.
Crédito - Em 2008, a relação entre o crédito concedido pelo sistema financeiro
nacional e o Produto Interno Bruto superou os 40%. Parcialmente esse resultado não
decorreu de novos empréstimos, mas sim de trocas havidas entre as linhas de
financiamento disponibilizadas como, por exemplo, deixou de lado o crédito pessoal
em favor do crédito consignado.
Quanto à situação em 2009, os efeitos da crise financeira global captados no Brasil, e
mais significativos a partir do último trimestre de 2008, continuarão a se refletir.
Isto acontecerá de forma mais intensa nos primeiros meses do próximo ano,
acarretando desaceleração no ritmo de concessões de crédito, tanto para os
consumidores quanto para as empresas.
Para as pessoas físicas, os financiamentos bancários prosseguirão restritivos.
Os emprestadores levarão em conta o grau de endividamento das mesmas e o
comportamento da renda em função do menor crescimento da massa salarial.
Esta estará influenciada pela menor demanda por trabalho qualificado e pela
possibilidade latente do final do ciclo da queda de desemprego.
Neste quadro, estarão pesando, Igualmente, as perdas nos ganhos desses
consumidores nas aplicações no mercado de capitais e em fundos de investimento.
Na área empresarial, a obtenção de crédito junto ao sistema financeiro será mais
onerosa e também rigorosa explicada pela queda na taxa de investimentos.
Relativamente ao parcelamento nas vendas, os produtos de maior valor agregado
serão os mais afetados.
Seja como for, as intervenções governamentais por meio da redução dos patamares
dos depósitos compulsórios certamente adicionarão liquidez ao mercado
Interbancário.
Entretanto, os efeitos sobre as concessões de crédito não serão Automáticos.
As expectativas contemplam expansão dos financiamentos para as pessoas físicas e
para as pessoas jurídicas em níveis inferiores aos que aconteceram neste ano de 2008.
Da mesma forma, certamente as autoridades econômico-financeiras iniciarão um
processo de flexibilização da política monetária centrado na redução da Selic, mas cujo
efeito sobre as taxas de juros a serem praticadas, ao contrário do que se desejaria, não
será muito significativo com a permanência delas em níveis inadequados ao processo
de recuperação da economia nacional.
Os prazos dos financiamentos continuarão se retraindo.
Dentro deste contexto, válido particularmente para o primeiro semestre de 2009,
ocorrerá aumento da taxa de inadimplência, fator que as empresas e o sistema
financeiro estarão certamente levando em conta nos negócios a serem praticados.
Setor Externo – Em 2008, apesar da apreciação cambial do início do ano e da queda
dos preços das commodities da segunda metade do ano, o Brasil vai apresentar
exportações recordes, que são responsáveis pela manutenção do saldo comercial
superavitário.
As exportações devem fechar 2009 ao redor de US$ 200 bilhões crescimento de 25%
em relação a 2007. Enquanto isso, as importações subiram 45%, atingindo US$ 175
bilhões, o que totaliza um saldo esperado de US$ 25 bilhões.
Outra boa notícia do setor externo também provém da balança comercial: além do
saldo positivo mesmo em momentos um pouco mais complicados, a pauta de
exportações continuou a evoluir e o leque de clientes do Brasil também se elevou.
Isso reduz sobremaneira o risco de concentração, como ocorre com a economia
mexicana, por exemplo, que depende totalmente do desempenho da economia
americana.
Hoje o Brasil é um país multilateral de fato no comércio internacional.
No tocante às outras contas, o Brasil conseguiu acumular reservas que ainda chegarão
ao final de 2008 no patamar próximo a US$ 200 bilhões, apesar da necessidade de
venda de dólares a partir de outubro para fazer frente aos exageros do mercado
Financeiro em dias de crise aguda.
Mas em termos de transações correntes e outras contas o ano não foi tão positivo. As
contas correntes devem fechar 2008 no vermelho, com déficit de US$ 25 bilhões e
podem atingir déficit superior a US$ 35 bilhões em 2009.
Os investimentos diretos mostraram queda na margem no final do ano e as
perspectivas de curto prazo não são animadoras dada a crise de liquidez internacional.
É exatamente por conta dessa saída de dólares e de outras moedas que o Real passou
de super valorizado para um período de ajustes de desvalorização.
Em 2009, o quadro não parece muito positivo, pois a contaminação da crise se dará
principalmente sob o balanço de pagamentos.
A balança comercial poderá apresentar superávit muito menor e o déficit nas
transações correntes, por outro lado, aumentará.
É exatamente esse tipo de visão que faz com que os agentes se antecipem e
provoquem corridas para adquirir dólares, pressionando a cotação.
A restrição de liquidez e o encolhimento do comércio internacional e dos preços de
commodities devem pressionar de forma bastante negativa a economia brasileira,
sendo o principal canal de contágio da nossa economia.
PESQUISA CONJUNTURAL DO COMÉRCIO VAREJISTA - PCCV
Desempenho em 2008 e perspectivas
O ano de 2008 começou sob a ameaça e apreensão quanto a magnitude da crise
imobiliária americana e, para o varejo, com a indefinição sobre uma questão central:
se a crise traria ou não reflexos sobre a economia brasileira e, especificamente, sobre
o nível do consumo interno.
Com os primeiros resultados das vendas apurados, o comércio iniciou o ano com vigor
além das expectativas, registrando índices expressivos e consecutivos de aumento de
vendas, encerrando o primeiro semestre com uma taxa média mensal de crescimento
ao redor de 6,5%.
Essas taxas foram consideradas ainda mais impressionantes considerando que foram
obtidas sobre uma base já aquecida de vendas, que foi o primeiro semestre de 2007.
Graças a continuidade desses bons números do varejo, havia quem considerasse que a
crise passaria pelo Brasil sem gerar grandes mudanças sobre esse cenário positivo, e as
vendas até o final do terceiro trimestre ainda exibiam números de expansão
surpreendentes - o varejo até setembro 2008 mostrou um padrão bastante vigoroso,
estimuladas pela oferta de crédito e pela recuperação na renda e no emprego contrastando com os indicadores preocupantes do quadro internacional.
Essa crise internacional ganhava contornos cada vez mais graves, com quebras e
falências de grandes instituições financeiras, anúncios de prejuízos de importantes
empresas, demissões e redução drástica da liquidez internacional.
As ações emergenciais dos bancos centrais dos países industrializados davam a noção
da proporção da crise e da apreensão mundial.
Os dados de vendas do varejo de outubro, no entanto, mudaram repentinamente esse
panorama e podem ser indício de uma reversão de ciclo: o faturamento real caiu 6,8%
ante o mesmo mês de 2007, reduzindo o crescimento acumulado no de 5,4% até
Setembro para 4% nesses 10 meses de 2008.
Esse resultado negativo interrompeu uma série de 30 meses de índice de crescimento
sucessivos.
Na base dessa retração encontra-se a queda aguda no segmento das Concessionárias
de Veículos em outubro, quando registrou um movimento 17,9% menor do que no
mesmo período do ano passado.
Pela característica do setor, a causa provável de tal retração foi a repentina
interrupção do crédito para veículos, principalmente usados de baixo valor, o que não
permite extrapolar tal fenômeno como tendência geral para as demais áreas do varejo,
pelo menos para o curto prazo.
O mais provável é que, nos próximos meses, tenhamos a continuidade de quedas em
segmentos isolados, principalmente nas Concessionárias, que tendem, pelo seu peso
relativo no total do comércio a impactar negativamente o resultado geral, mas ao lado
da continuidade do bom desempenho de outros setores, como o de vestuário
Mesmo porque, ao contrário do ano passado, onde o crédito foi o protagonista do
crescimento das vendas, neste ano a recuperação na renda tem sido a causa primária
para o ciclo positivo do consumo, muito embora o crédito para PF ainda tenha crescido
de forma significativa, pelo menos até outubro.
No entanto, na RMSP, até outubro, a massa de rendimento real foi 7% maior do que
no mesmo período do ano passado. Em termos de volume financeiro, trata-se de um
fator expressivo de sustentação ao consumo das famílias.
PESQUISA CONJUNTURAL DO COMÉRCIO VAREJISTA NA RMSP
FATURAMENTO REAL (*)
GRUPO/ATIVIDADE
Supermercados
COMÉRCIO EM GERAL
Fonte: FECOMERCIO
outubro de 2008
Out/2008
Set/2008
4,8%
-5,8%
Out/2008
Out/2007
-10,3%
-6,8%
Acumulado
no ano
-3,4%
4,0%
Tendência - Natal 2008
A tendência para este final de ano é que o crédito fique menos acessível, mais caro e
com prazos menores, mas será compensado por esse aumento da massa de salários.
Um aspecto deve compensar o outro - basta considerar que, com aumento de 7% no
volume de rendimentos, o 13º salário tende a crescer em proporção muito próxima a
isso, comparativamente ao ano passado.
A restrição ao crédito, certamente em menor volume e mais seletivo, deverá afetar
com maior ênfase o consumidor de baixa renda, devendo permanecer menos restrito
para o segmento de bens duráveis de alto valor unitário (eletroeletrônicos e
eletrodomésticos).
Mesmo que ocorra uma pequena redução nos prazos e elevação moderada nos preços
desses produtos, em função do câmbio, esse setor ainda assim tende a registrar
crescimento em dezembro.
A oferta de importados deve ser menor neste final de ano, em especial de produtos
ligados ao Natal (frutas seca, bacalhau, etc.), mas seu consumo tende a ser substituído
por artigos nacionais, ou seja, sem maiores efeitos sobre o volume global de vendas.
Considerando tais aspectos, a tendência é que as vendas reais em dezembro deste ano
fiquem muito próximo daquele registrado em 2007, talvez com uma pequena queda
ante o Natal do ano passado, e tendendo a registrar índices bastante distintos entre as
atividades que compõem o varejo.
PREVISÃO DEZEMBRO 2008 – FATURAMENTO REAL
GRUPO/ATIVIDADE
Supermercados
COMÉRCIO EM GERAL
Dez/2008
Nov/2008
34%
34%
Dez/2008
Dez/2007
-3%
-1,0%
ANO DE
2008
-4%
3,0%
Tendências – Comércio 2009
(Utilizando-se as premissas das hipóteses descritas anteriormente)
Hipótese otimista: (Probabilidade de 10% de ocorrência)
Na hipótese otimista, a crise com epicentro no setor financeiro americano e europeu é
rapidamente equacionada.
Os pacotes de ajuda do Tesouro americano serão suficientes para reequilibrar
balanços do setor financeiro e também para garantir a calma e tranqüilidade de
consumidores, credores e bancos.
Os agentes econômicos recuperam rapidamente sua confiança e a economia volta a
ter relações comerciais normais.
A ocorrência deste cenário faria com que os efeitos da crise ficassem restritas ao final
de 2008 e apenas ao primeiro semestre de 2009, e com magnitude moderada e
controlada.
Hipótese pessimista: (Probabilidade de 10% de ocorrência)
Nesta hipótese, o pacote de auxílio americano seria absolutamente irrelevante, o
mercado financeiro entra em pânico e as perdas no momento inicial geram ciclos de
saques e vendas de ativos, culminando com novas perdas.
O Tesouro e o Federal Reserve, juntamente com outros bancos centrais, não seriam
capazes de reverter a percepção dos mercados acerca de uma crise de proporções
parecidas com 1929.
A duração do período de crise é mais longa, ultrapassando a barreira de 2009 e a
magnitude intensa, sem momentos de alívio.
O processo se assemelha a uma depressão econômica com a inevitável quebra de
grandes empresas ícones da economia mundial.
Hipótese provável: (Probabilidade de 80% de ocorrência)
Aqui, a crise perdura ao longo de 2009, porém com claros indícios de que os mercados
caminham para o equilíbrio e para a normalidade.
A intensidade da crise seria elevada, porém com momentos de alívio.
Além disso, os ajustes feitos seriam severos, mas insuficientes para gerar uma quebra
generalizada do setor bancário europeu e americano.
Certamente ocorrerão novas aquisições e fusões, porém o setor financeiro consegue
se sanear com base em pacotes pontuais de auxílio e com a constituição de fundos de
crédito hoje de pouca liquidez.
Empresas de grande porte serão auxiliadas por governos ao redor do mundo, e isso
reduzirá a perda de empregos e de confiança dos consumidores, restringindo os
efeitos a um quadro sério, porém não trágico em 2009.
Desempenho setorial do varejo – 2008
Supermercados
O setor de Supermercados na Região Metropolitana de São Paulo, setor que
tradicionalmente apresenta melhor desempenho de vendas no segundo semestre do
ano, apresentou ao longo de 2008 dois momentos distintos em comparação ao mesmo
período de 2007.
No primeiro trimestre o desempenho foi positivo, registrando crescimento de vendas
de 8,3%, em relação ao mesmo período de 2007.
O pico de vendas ocorreu em março, com crescimento de 14,1% em relação a março
do ano anterior, resultado explicado pela Páscoa, data responsável pelo segundo
melhor movimento do setor supermercadista.
Entretanto, a partir de abril, inclusive, o setor passou a colher resultados desfavoráveis
em relação aos registrados nos respectivos meses de 2007.
No acumulado do primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de
2007, apesar da queda de 9,1% registrada em junho, o faturamento real marcou
aumento de 1,2%.
No segundo semestre, contudo, apesar da redução da taxa de desemprego, que
atingiu o menor índice do ano (7,7%) na RMSP e da melhora da renda do trabalhador,
as vendas do setor supermercadista foram negativas, em relação ao mesmo período
do ano passado.
As vendas acumuladas, até outubro, apresentaram queda de 3,4%.
O arrefecimento do setor supermercadista, a partir de abril, pode ser atribuído a
alguns fatores: ao aumento de preços, principalmente sobre os produtos alimentícios;
ao efeito substituição - o consumidor optando por produtos de preços mais baixos em
detrimento daqueles de maior valor e incompatíveis com o seu orçamento; e, ainda, à
perda do poder de compra, decorrência, sobretudo do comprometimento da renda
líquida, pelo crediário.
Além disso, analisando-se a série histórica do setor, observa-se que a base de
comparação do segundo semestre de 2007 é bastante elevada, principalmente para os
meses do último quadrimestre do ano, que contribuíram para o resultado negativo de
2008.
Num cenário otimista, o setor deverá fechar o ano com queda de 4% no faturamento
real ante o resultado apurado em 2007.
PESQUISA DE ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO
CONSUMIDOR - PEIC
Em 2008, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da
Fecomercio sinalizou um quadro ainda favorável do nível de endividamento das
famílias paulistanas, ainda mais quando se leva em conta os níveis recordes alcançados
pelo indicador.
Em novembro de 2006, por exemplo, cerca de 70% das famílias possuíam algum tipo
de dívida.
Assim, o nível de endividamento dos consumidores encerra o ano praticamente
estável em relação ao mês anterior, passando de 49% em novembro para 50% em
dezembro.
Comparativamente ao mesmo mês do ano passado, quando 48% dos consumidores
informaram possuir algum tipo de dívida, observa-se uma alta de dois pontos
percentuais.
Em dezembro, do total de consumidores endividados, cerca de 30% possuem contas
em atraso, queda de 7 pontos percentuais em relação ao mês anterior e de 6 pontos
percentuais no comparativo interanual.
Com a proximidade das festividades de final de ano, os consumidores procuram
realizar o pagamento de dívidas em atraso, principalmente com o recebimento do 13º
salário, evitando, assim, possíveis problemas de restrição de crédito para a realização
de novas compras.
A pesquisa ainda aponta que quanto menor a renda, maior é o nível de endividamento
dos consumidores.
Vale salientar que a expansão da oferta de crédito verificada nos últimos anos
proporcionou a entrada das pessoas de baixa renda no mercado consumidor.
Assim, o consumo de baixa renda apresentou aumento de R$ 118 bilhões de reais
entre 2002 e 2006. Somente em 2006 movimentou mais de R$ 550 bilhões.
Por faixa de renda, observa-se que entre os consumidores com rendimento até 3
salários mínimos, 53% possuem algum tipo de dívida.
Na faixa de 4 a 10 salários mínimos 53% estão endividados, enquanto que entre as
famílias que ganham mais de 10 salários mínimos, o percentual de endividamento
alcança 38%.
A PEIC mostra que 41% dos endividados com renda até 3 salários mínimos estão com
contas em atraso, contra 24% dos que ganham entre 4 e 10 salários mínimos, e 21%
entre os que possuem renda acima de 10 salários mínimos.
Na análise segmentada por sexo nota-se que entre as mulheres, cerca de 49%
possuem algum tipo de dívida contra 50% no grupo dos homens.
Por outro lado, na divisão por faixa etária, observa-se que entre os consumidores com
idade entre 18 e 34 anos, 52% estão endividados, enquanto que os acima de 35 anos,
o percentual de endividados situa-se em 51%.
No que diz respeito a intenção do pagamento de contas em atraso, observa-se que
houve uma melhora nas expectativas, fato esse decorrente do recebimento do 13º
salário.
Assim, entre os consumidores endividados com contas em atraso em dezembro, 28%
acreditam não ter condições de pagar total ou parcialmente as suas dívidas,
registrando uma queda de 4 pontos percentuais em relação ao mês anterior.
Em contraparte, dentre os consumidores que informaram a intenção de pagar total ou
parcialmente as suas dívidas, passou de 66% para 70%.
Com relação ao prazo médio de comprometimento da renda dos consumidores com
dívidas, a maior incidência é verificada no período de por mais de 1 ano (30%).
O restante divide-se entre os seguintes períodos: de 3 meses a 6 meses (24%), de 6
meses a 1 ano (22%), e até 3 meses (23%).
Quando analisado o tempo de atraso de dívidas, constatou-se que para 38% o prazo é
acima de 90 dias, enquanto que para 27% o período é de até 30 dias.
Já para 22% o atraso é de 30 a 60 dias e para outros 14%, o tempo de atraso das
dívidas é de 60 a 90 dias.
O cartão de crédito continua sendo o grande vilão dos paulistanos, e assim foi ao longo
de 2008.
Cerca de 46% dos consumidores possuem dívidas nesta modalidade.
Em seguida estão os carnês (29%).
Vale salientar que o cartão de crédito está no ranking das modalidades de pagamento
que possuem as maiores taxa de juros do mercado, alcançando mais de 229% a.a.
Quando os consumidores são indagados sobre as principais despesas que mais
afetaram as dívidas atuais, 33% apontaram os gastos com alimentação.
Dentre outros principais gastos estão: eletrodomésticos e eletroeletrônicos (22%),
vestuário (23%), móveis (17%), veículos (13%), remédios (7%) e financiamento
imobiliário (3%).
Mais pessoas tentaram renegociar suas dívidas neste mês.
Enquanto em novembro 43% dos entrevistados informaram que tentaram renegociar
as dívidas com 28 credores, neste mês o percentual atinge 48%.
A taxa de juro elevada foi a principal dificuldade encontrada por 56% dos
consumidores, seguida da falta de recursos financeiros (31%), prazo de pagamento
curtos (2%) e credor não admite renegociação (8%).
Em resumo, pode-se concluir que a expansão da massa real de rendimentos e a oferta
de crédito tem impedido que o aumento do endividamento das famílias paulistanas se
traduzisse em elevados níveis de inadimplência ao longo deste ano.
Adicionalmente, no final do ano, tem-se a entrada de recursos do 13º salário,
contribuindo para a redução do nível de consumidores endividados com contas em
atraso.
Para o próximo ano, os níveis de endividamento e inadimplência dos consumidores,
dependerão, basicamente, da intensidade dos reflexos das variáveis macroeconômicas
na economia brasileira.
Mas como a expectativa é de desaceleração do ritmo de crescimento da economia e
como isso trás como conseqüência uma redução dos níveis de emprego, renda e oferta
de crédito, a tendência é de que a inadimplência seja maior no próximo ano.
ÍNDICE DE CONFIANÇA DO CONSUMIDOR – ICC
O ano de 2008 iniciou gerando um ambiente de grandes incertezas para economia
internacional e quanto aos seus reflexos para economia brasileira.
Mesmo assim, de janeiro a abril o índice de confiança do consumidor obteve três altas
consecutivas, começando o ano no patamar de 142,8 e atinge em abril os 149 pontos,
o maior nível da série histórica.
Essa melhora na confiança do consumidor foi pela conjuntura econômica positiva
naquele momento, a consistente expansão da massa real de rendimentos
principalmente da renda real combinada com a maior eficiência das ferramentas de
concessão e de gestão de carteiras de crédito.
Uma mudança nos preços relativos a partir de abril decorrente de um forte aumento
no preço das commodities afetou a confiança do consumidor e a partir deste mês
alterou a trajetória que estava positiva e foi acompanhado por três quedas
consecutivas, tendo como a principal de junho para julho com queda 8%, e em julho
chegou ao patamar de 131,5 pontos.
Esses resultados mostraram a dimensão negativa que a alta dos preços observadas
naquele período teve na percepção dos consumidores.
Ao final do primeiro semestre, a partir da melhora das expectativas o consumidor
voltou a melhorar seu humor.
Um grau de previsibilidade maior da economia e evidências de um arrefecimento
inflacionário fizeram com que esse indicador apresentasse melhora.
Em setembro, o Índice de Confiança do Consumidor alcançou 140 pontos.
Podendo assim dizer que nesse mês o índice veio a atingir o seu ponto de inflexão,
fruto de uma percepção mais atenta com relação às possíveis trajetórias dos
indicadores econômicos frente às incertezas do cenário externo, sobretudo em
questões relacionadas á juros, câmbio e inflação.
O índice encerrou 2008 com mais uma queda chegando aos 127 pontos, 4,2% em
relação a novembro e 9,4% em relação a dezembro do ano passado.
Esta foi a terceira queda consecutiva do índice, registrando o menor nível de confiança
do ano e o menor nível para os meses de dezembro desde 2003.
Para o próximo ano, a trajetória do ICC dependerá primordialmente dos reflexos da
crise internacional na vida dos consumidores, basicamente da intensidade dos reflexos
que variáveis macroeconômicas venham a atingir o consumidor.
O primeiro ponto está relacionado ao impacto que o curso dos juros e do câmbio
venha a ter sobre o estado geral das expectativas, mais especificamente do acesso ao
crédito – como também o comportamento da inflação.
ÍNDICE DE PREÇOS NO VAREJO – IPV
O Índice de Preços no Varejo (IPV) deve fechar o ano de 2008 levemente pressionado
quando comparado ao ano anterior.
O índice geral elevou-se em 4,22% em 2007 e no período compreendido entre janeiro
a novembro deste ano já acumula alta de 4,79%.
Seguindo o mesmo comportamento do ano passado, os meses de maio (1,46%) e
junho (1,25%) foram os de maior impacto no bolso do consumidor, mas o período de
altas nos preços do varejo paulistano iniciou em abril e foi retomado de maneira
menos significativa em setembro.
No primeiro semestre do ano as pressões foram influenciadas pelas elevações em
Materiais de Construção, Supermercados, Padarias e Açougues.
Nos primeiros 6 meses do ano estes segmentos mostraram crescimento acumulado de
10,42%, 5,87%, 9,98%, 9,08%, respectivamente.
Por outro lado, os setores de Eletroeletrônicos, CDs, combustíveis e Lubrificantes e
Eletrodomésticos ajudaram a manter as pressões inflacionárias em patamares menos
preocupantes.
A partir de julho outros grupos compostos por produtos alimentícios também
mostraram sinais de arrefecimento, fazendo com que a oscilação do indicador geral se
desse de forma mais suave.
O indicador passou de uma alta de 0,45% em julho para uma queda de 0,07% em
agosto.
Nos meses de setembro (0,19%) e outubro (0,39%) o indicador acelerou novamente
em virtude dos preços de Materiais de Construção e sinalizou discreto arrefecimento
com o fechamento do mês de novembro (0,31%).
O maior vilão do bolso dos consumidores foi o segmento de Supermercados.
Este foi pressionado em virtude da elevação do preço das commodities e da questão
da suspensão da exportação do trigo Argentino para o mercado nacional.
Houve também influência das instabilidades climáticas, que prejudicou o desempenho
de algumas safras, fazendo com que os preços fossem ainda mais pressionados.
Na segunda metade do ano os alimentos continuaram exercendo pressão altista no
índice geral, por conta das proteínas animais e ao crescente volume exportado destes
bens.
Nos onze meses do ano o grupo atinge alta de 7,06% e em virtude da sua elevada
participação no índice geral, cerca de 32%, o grupo é responsável pela maior
contribuição no resultado final verificado até novembro.
Já a atividade de Materiais de Construção, com demanda aquecida ao longo de todo o
ano graça ao bom desempenho do segmento de construção, acumula nestes primeiros
11 meses do ano alta de 20,45%. Verificou-se, em novembro, aumento de 0,71% nos
preços deste setor.
Em algumas regiões do país houve escassez de cimento em virtude da elevada
demanda. Os reajustes no preço do minério de ferro também favoreceram a alta dos
preços uma vez que este insumo é de extrema importância para a indústria da
construção.
O grupo Padarias foi outro que descreveu trajetória relevante, acumulando no período
de janeiro a novembro alta de 11,50% com somente uma variação negativa, ou
estabilidade (-0,01%), ao longo de todo o período.
A maior variação foi verificada em maio quando o IPV da atividade elevou-se em
3,89%. Este comportamento se deu devido a problemas de safra de trigo ocorridos na
Argentina e à suspensão da exportação deste produto, que foi paulatinamente
retomada em meados de abril.
Para suprir sua demanda interna o Brasil passou a comprar trigo de outros países e até
o final do ano as alíquotas de impostos que incidem neste produto estão zeradas,
entretanto, esta medida não conseguiu frear o impacto da suspensão das exportações.
Os preços do grupo de Vestuário, Tecidos e Calçados descreveram comportamento
sazonal específicos do setor: nos meses de abril, maio e junho, normalmente da
entrada da coleção de outono inverno, os preços subiram 0,66%, 1,53% e 0,69%,
respectivamente.
No início do segundo semestre os preços recuaram por conta das liquidações de
queima de estoque, acusando queda de 0,25% em julho e 0,36% em agosto.
Nos meses subseqüentes, notou-se uma pressão nos preços destes bens por conta da
instabilidade cambial iniciada em meados de setembro.
Como parte das mercadorias do setor é composta por produtos importados, os preços
acompanham a valorização da moeda norte-americana.
Em novembro o segmento registrou alta de 0,29%, acumulando em 11 meses alta de
2,91%.
A atividade de Açougues finalizou o primeiro trimestre do ano com variações negativas
em resposta ao embargo à carne brasileira que gerou um excedente no mercado
interno.
Com a liberação da carne brasileira no mercado internacional os preços do setor
mostraram uma inversão de tendência, fazendo o grupo acumular 9,08% no primeiro
semestre.
Além disso, as elevadas cotações dos grãos, utilizados como ração animal, trouxeram
efeitos altistas nos preços das carnes. Em novembro a atividade mostrou alta de
0,58%.
A demanda externa por proteínas de origem animal encontra-se elevada e isso
pressiona os preços no mercado interno já que se reduz oferta internamente.
Drogarias e Perfumarias registraram apenas duas quedas ao longo dos primeiros onze
meses do ano: -0,08% em janeiro e -0,09% em julho.
No primeiro semestre do ano os reajustes dos medicamentos ocorridos em março
foram responsáveis pela alta verificada no grupo, que atingiu no período de janeiro a
junho alta de 4,96%.
No segundo semestre o subgrupo de Perfumarias influenciou a alta verificada no
segmento graças ao mix de produtos importados, dotado de preços maiores e que
também foram pressionados pela valorização do dólar. Até novembro a atividade
acumula alta de 6,28%.
O setor de Veículos registrou variações moderadas ao longo do ano, alternando preços
levemente pressionados por conta do aquecimento da demanda no 1º semestre.
Neste período o grupo acumulou alta de 1,20%.
No início do segundo semestre o segmento manteve a trajetória de altas modestas,
havendo uma ligeira inversão de tendência com as quedas verificadas em outubro (0,10%) e novembro (-0,53%).
As vendas da atividade foram arrefecidas em virtude do período de incerteza na
economia mundial e isso acabou surtindo efeito, também, nos preços destes bens. Em
onze meses acumulado a atividade acumula 1,16% de alta.
Outros grupos que descreveram comportamento semelhante no acumulado entre
janeiro a novembro de 2008 foram: Feiras (5,08%), Relojoarias (9,33%), Combustíveis e
Lubrificantes (0,77%), Autopeças e Acessórios (4,39%), Óticas (4,27%) e Materiais de
Escritório (3,22%).
Ao longo destes onze meses de 2008 somente 2 grupos acumulam queda:
Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos.
Eletroeletrônicos mostraram quedas sucessivas e elevadas ao longo do todo o primeiro
semestre de 2008, acumulando queda de 7,17%, a maior dentre todos os grupos
pesquisados pelo IPV no período.
Os preços destes bens respondem diretamente às oscilações da taxa cambial em
virtude da participação dos importados neste segmento e o cenário do primeiro
semestre favorecia justamente a queda nos preços.
Já no período subseqüente os preços do segmento continuaram a registrar variações
negativas, mas a trajetória de queda foi interrompida em outubro quando o indicador
do segmento acusou 0,03%, seguido da alta de 0,58% verificada em outubro.
O grupo ainda acumula no período de janeiro a novembro queda de 9,63%, mantendose como a maior queda dentre todos os pesquisados.
Já os Eletrodomésticos mostraram queda em seus preços entre março e junho,
acumulando queda de 0,43% no primeiro semestre do ano.
Muitos insumos utilizados na cadeia produtiva destes bens são cotados em dólar e a
desvalorização do dólar neste período exerceu papel importante na manutenção dos
preços em patamares reduzidos.
Entre julho a outubro os preços alternaram a tendência com altas modestas,
finalizando novembro com mais uma queda, provavelmente em virtude de um
arrefecimento no ritmo de vendas.
No período de janeiro a novembro o segmento acumula queda de 0,08%.
Mantendo a mesma tendência de 2007, no primeiro semestre deste ano a
desvalorização do dólar frente ao real manteve os preços do varejo em patamares
comedidos.
Os alimentos sofreram pressões por conta de problemas de safra (internamente e de
alguns parceiros comerciais, que é o caso específico do trigo).
No segundo semestre, quando a crise internacional começou a dar sinais de que
impacto de alguma forma a economia brasileira, os preços passaram a responder à
valorização do dólar - e essa variável assumirá papel extremamente relevante para os
preços no próximo ano.
Até mesmo o arrefecimento do preço das commodities foi amenizado por conta desta
valorização cambial, não causando efeitos imediatos nos preços dos alimentos.
Há expectativas, também, de que o preço da gasolina seja reduzido em virtude da
defasagem entre o preço no mercado interno e externo.
Como as perdas do período anterior, da valorização do petróleo, ainda não foram
recuperadas, isso deve levar algum tempo a se concretizar.
Alguns produtos alimentícios podem sofrer impactos em virtude das instabilidades
climáticas e é importante ressaltar que são justamente os produtos que mais pesam
no bolso dos consumidores.
PESQUISA DO CONJUNTURAL DO PEQUENO VAREJO – PCPV
Desempenho em 2008 e perspectivas
Os resultados até o mês de outubro não apontaram nenhum efeito da crise econômica
global sobre o desempenho de vendas das pequenas empresas do varejo.
Essa tendência era esperada dado que o nível de emprego e renda atingiu seu recorde
histórico –segundo IBGE – e o pequeno varejo reage mais intensamente a essas
variáveis.
Os setores que devem ser afetados primeiro por conta dos efeitos da crise são
os
imediatamente dependentes de crédito e da confiança do consumidor, representados
pelos setores de vendas de automóveis e imóveis, segmentos não presentes nas
amostras das pequenas empresas.
As pequenas empresas não estão imunes à crise, mas provavelmente o resultado será
percebido após um efeito em cascata que começa no segmento automotivo e
imobiliário, se o país não conseguir amortecer esses efeitos antes deles se permearem
em toda cadeia produtiva.
Foram essas empresas, voltadas ao setor automobilístico e imobiliário, que mais
alavancaram suas vendas através dos financiamentos super facilitados.
São essas as mesmas que sofrem imediatamente com os períodos de dúvidas do
consumidor e turbulências internacionais como o atual.
A expectativa é de que, de fato, ao longo dos próximos meses o varejo
independentemente do porte - acabe sentindo os reflexos de uma crise internacional
que se agrava e mostra-se muito mais incisiva do que os analistas anteviam.
Todavia é possível que os efeitos sejam amortecidos por conta da boa situação
financeira média das empresas brasileiras e pela pouca exposição ao risco de crédito
dos bancos no país.
Outro fator que pode pesar positivamente é a percepção de que o governo poderá
atuar pontualmente, de forma a reduzir o efeito no foco da crise por enquanto:
montadoras e mercado imobiliário.
Mesmo assim os efeitos não devem ser desprezíveis e dependem também da
confiança que os agentes demonstrarem em relação à capacidade do governo em lidar
com os problemas.
Até o momento as ações de política econômica no Brasil foram razoáveis, podendo ser
refinadas.
Desempenho setorial do pequeno varejo - 2008
Alimentos e Bebidas
O segmento de Alimentos e Bebidas ainda apresenta um quadro crítico, apesar da
recuperação dos últimos meses.
Em outubro as pequenas empresas desse setor cresceram 3,6% em termos reais em
relação a 2007 e no ano o resultado acumulado é de pífio 1,1%, ou seja, praticamente
a estabilidade.
A tendência de melhorar não deverá ser suficiente para que o segmento apresente
resultados exuberantes ainda em 2008 ao fechar do exercício.
Teoricamente o setor tende a ter bom desempenho em 2009, por conta da base não
tão forte de comparação que deixará para trás em 2008 e ainda pelo acréscimo de
massa de rendimentos que deve perdurar pelo menos no início do próximo ano.
Além disso, se o consumidor optar pelo conservadorismo durante o ano que vem
tendo em vista o receio dos efeitos da crise existe forte possibilidade disso favorecer
os pequenos empreendimentos de venda de bebidas e alimentos pela folga
orçamentária pelo não comprometimento deste com dívidas parceladas de longo
prazo.
ÍNDICE DE SENTIMENTO DOS ESPECIALISTAS EM ECONOMIA ISE
Em dezembro, o Índice de Sentimento dos Especialistas em Economia (ISE) alcançou
71,1 pontos. O resultado apresentou queda de 9,5% em relação ao mês anterior,
quando o indicador marcou 78,6 pontos.
Essa é a quinta queda consecutiva na pesquisa. Desde setembro, quando os efeitos da
crise começaram a ganhar força, foi notável a queda da confiança por parte dos
especialistas.
Nesse período a queda do índice foi de 28%, sendo que há um pessimismo maior em
relação ao momento atual, com moderada elevação em relação ao momento futuro.
Isto aponta para uma clara preocupação dos economistas em relação ao cenário
econômico atual.
O resultado deste mês continua a refletir a piora do otimismo dos economistas em
relação às incertezas sobre os reais impactos da crise econômica internacional e os
seus possíveis efeitos sobre a economia brasileira, principalmente no que se refere à
percepção presente que registrou neste mês uma queda de 15%, passando de 60,4
pontos em novembro para 51,3 pontos em dezembro.
Contudo destaca-se que a redução foi menor do que a observada em novembro,
quando o índice havia caído 26,5%.
A perspectiva futura, por sua vez, inverteu a tendência de novembro, quando o índice
havia apresentado melhora de 6,7%.
Em dezembro houve nova queda de 5,9%, passando de 96,8% para 90,9%,
demonstrando sinais de cautela na percepção dos economistas sobre as variáveis
econômicas futuras.
Tais oscilações podem ser explicadas, em parte, pela divulgação de conseqüências que
começam a alterar os planos de investimento e contratação nas empresas, indicando
que a crise possa ter proporções maiores, bem como pela dimensão dos
desdobramentos no cenário externo e seus possíveis impactos sobre o nível de
atividade econômica mundial, dando sinais de que podemos assistir a um alongamento
desse momento econômico crítico.
Dentre os itens pesquisados, identificou-se que maior otimismo em relação ao futuro
das variáveis relacionadas a câmbio e juros, identificando expectativa de melhora.
Menores expectativas puderam ser sentidas em relação ao cenário internacional, aos
gastos públicos e aos salários reais.
O otimismo para os próximos meses dependerá da intensidade dos reflexos das
variáveis macroeconômicas sobre a economia brasileira.
Em síntese, a trajetória do ISE para os próximos meses dependerá primordialmente
dos reflexos da crise internacional na vida dos consumidores e no lado real da
economia.
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