Setenta anos da Segunda Guerra Mundial

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Correio Braziliense/DF, 30 de agosto de 2009
Colunas e editoriais
Setenta anos da Segunda Guerra Mundial
OPINIÃO
Maurício Corrêa
Advogado
A invasão da Polônia pelas tropas nazistas em 1º de
setembro de 1939 teve feição no mínimo prosaica. O
pretexto para a agressão foi o simulacro de um ataque
de poloneses a uma rádio alemã situada na fronteira
dos dois países. Consumada a ocupação, o país já se
achava, poucos dias depois, integralmente dominado
pela máquina de guerra alemã. Com base em cláusulas do Pacto Germano-Soviético, mais conhecido
como Pacto Molotov-Ribbentrop, que versava inclusive sobre a partilha do país, à União Soviética deveria caber o leste polonês. A previsão veio
posteriormente a se efetivar. Os soviéticos ficaram
com a porção estipulada no tratado.
Em 3 de setembro do mesmo ano, a França e a Inglaterra, ato contínuo, declararam guerra à Alemanha. A data registra o início da Segunda Guerra
Mundial, a mais terrível das tragédias da humanidade. É esse cruel acontecimento que o planeta,
na próxima semana, consternadamente comemora.
De sua eclosão até hoje se passaram 70 anos, período
que, malgrado longo, o mundo jamais pôde esquecer.
O saldo legado deixou enorme passivo a ser administrado. Paradoxalmente, não se pode negar que,
do embate, advieram novos horizontes para o mundo.
O ajuste celebrado entre os dois países URSS e Alemanha teve duração efêmera. Embora ambos os líderes envolvidos Stalin e Hitler aparentemente se
odiassem, há bibliografia dando conta de que se admiravam. Houve mais apreço de Stalin ao fürher do
que deste a ele. Prova mais evidente da constatação é
que, invadido o território soviético pelos alemães em
22 de junho 1941, Stalin teimou em não acreditar no
fato. Custou a entender que as incursões nazistas ao
território da URSS não eram atos acidentais, inSTF.empauta.com
voluntários, mas ocupação intencionalmente belicosa. Hitler deu à invasão o nome de Operação
Barbarossa, em homenagem a Frederico Barbarossa,
um dos líderes da Terceira Cruzada, perpetrada no final do século 12. Dias após a consumação do ataque,
e da teimosia stalinista com seus generais, com muitos dos quais se indispôs, convencera-se afinal de que
o pacto com a Alemanha não existia mais.
A Segunda Guerra Mundial que, do lado aliado, contava apenas com a França, Inglaterra e países da Comunidade Britânica de Nações ( Commonwealth) ,
passou a contar também com a URSS. Com parque
industrial incapaz de suportar a refrega, a Inglaterra e
os EUA tiveram de supri-la não só de material bélico,
mas também de alimentos, botas, agasalhos e diversos outros itens. Stalin cobrava com insistência
que os EUA e Inglaterra abrissem uma segunda frente de batalha contra a França ocupada, possivelmente
partindo de Dover em direção à Calais. Os EUA, com
o bombardeio de Pear Harbor, já haviam ingressado
definitivamente na guerra. A Inglaterra e os EUA
preferiram antes, entretanto, combater os alemães incursionados na África do Norte. Grandes contingentes de soldados, aviões e navios foram para lá
deslocados. Só mais tarde, em 6 de junho de 1944 o
Dia D , é que houve a travessia, não mais via Calais,
mas, sim, surpreendendo os alemães, pela Baía do
Sena, na costa da Normandia.
Não sendo neste espaço possível a descrição dos principais eventos da Segunda Guerra Mundial, é bom
deixar expresso que dois fatos definitivamente se responsabilizaram pelo desfecho do confronto. O primeiro deles foi a retomada da França iniciada em
seguida ao Dia D; o segundo, foi a derrota da Wehrmacht pelos soviéticos na Batalha de Stalingrado.
Os sucessivos êxitos obtidos pelos aliados tanto do
lado ocidental quanto do leste acabaram pondo fim à
maior guerra vivida pela humanidade.
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Correio Braziliense/DF, 30 de agosto de 2009
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Continuação: Setenta anos da Segunda Guerra Mundial
Três líderes mundiais estiveram no comando da guerra: Roosevelt, Stalin e Churchill. Cada um possuía
suas malícias e truques. Todos eram idiossincráticos.
Stalin, ao contrário do que se supõe, era homem de
leitura e espirituoso. Fala-se que, na Conferência de
Yalta, Churchill desejava conversar a sós com Stalin,
livre da presença de Roosevelt. Sentaram-se num sofá para um café. Sobre o desenvolvimento da guerra,
confiante, Churchill teria dito a Stalin: Deus está do
nosso lado. Pelo menos fiz todo o possível para tê-lo a
nosso lado. Ao que Stalin respondeu: E o diabo está a
meu lado porque, obviamente, como todo o mundo
sabe, o diabo é comunista, e Deus, sem dúvida, é um
legítimo conservador.
Churchill protestou contra a decisão de Eisenhower,
comandante dos aliados, e confirmada por Roosevelt, de que Berlin tinha que ser reservada para ocupação do Exército Vermelho, como foi. Mantinha
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severas divergências com Stalin. Sabia onde pretendia chegar. Não foi sem razão que, no discurso de
Fulton, no Mississipi, nos EUA, ao lado de Truman,
confirmou o que antes já dissera: De Stettin no Báltico a Trieste no Adriático, uma cortina de ferro baixou através do Continente. Deu no que deu.
Roosevelt, o idealista da Organização das Nações
Unidas ( ONU) , não pôde assistir ao término da guerra. Doente, faleceu antes. O Japão viveu a experiência atômica. Milhares de pessoas morreram
em Hiroshima e Nagasaki. É dor de que a humanidade jamais se desfez. O 3 de setembro de 1939
deve servir de alerta a todos. A fim de que o mal não
prevaleça contra os que ainda acham que a guerra é a
melhor solução.
Opinião / 29
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