Um novo olhar ao paciente em sofrimento psíquico

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III SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP
CAMPUS GUARUJÁ
Um novo olhar ao paciente em sofrimento psíquico: a
enfermagem renovando conceitos
Beatriz Pamplona Bustamante
Enfermeira graduada no Curso de Enfermagem
Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guaruja
Email [email protected]
Carmencita Ignatti
Professora do Curso de EnfermagemUnaerp –
Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guaruja
e-mail [email protected]
Resumo
Trata-se de um estudo com o objetivo de sensibilizar o leitor e
alertar o profissional enfermeiro quanto à dificuldade relacionada à
reinserção de pacientes em sofrimento psíquico na sua família e
comunidade, bem como a sua relevância no tratamento e recuperação.
Elucidar quanto a importância de estar livre de preconceitos no que se
refere à doença mental e transmitir estes conhecimentos, incluindo os
profissionais de saúde, no convívio com o paciente. A questão de prestar
uma assistência humanizada pretendendo melhorar a qualidade de vida
e diminuir o sofrimento de todos os envolvidos.
Palavras - chave:. Sofrimento psíquico, Reinserção, Assistência
humanizada
Seção 1 – Curso de Enfermagem/Pedagogia/Jornalismo e Comunicação
Social – Meio Ambiente
Apresentação – oral
1- Introdução
A curiosidade por compreender pessoas doentes mentais surgiu
na infância, com interesse pelas doenças psiquiátricas, pelo
comportamento das pessoas, como familiares convivem com isso, como
a sociedade interpreta essas pessoas e principalmente, como a mente
domina o corpo humano.
Em 1996, exatamente aquilo que despertava a curiosidade foi
vivenciado. Um tio avô, pai de cinco filhos, advogado muito bem
sucedido, foi internado em um hospital psiquiátrico. Agrediu a família
verbal e fisicamente, falava coisas desconexas, entrou em um quadro
depressivo e suicidou-se no próprio hospital.
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Durante a vida acadêmica, atuando como discente do curso de
Enfermagem desde 1998, foi possível a aproximação destes pacientes e
assim, aprofundarmos mais a questão.
Durante os estágios de Saúde Mental e Psiquiatria surgiu a primeira
oportunidade contato com pacientes internados em hospitais
psiquiátricos e pacientes em tratamento em hospital-dia. Conversando
com muitos doentes e familiares, nos deparamos com as mais diversas
doenças, pessoas de diferentes classes sócio- econômicas e culturais e
comecei a notar que a grande maioria dos doentes mentais não
demonstrava nenhuma perspectiva de vida e seus familiares
participavam muito pouco do tratamento de seus parentes. Foi possível
perceber que os familiares se envergonhavam de sua situação,
consideravam aquilo como um castigo, um peso que deveriam carregar,
não sabendo como agir diante da doença, possuindo poucas
informações com relação à terapêutica medicamentosa e sem esperança
quanto à reabilitação.
Segundo Colvero (2002), os familiares que possuem entre seus
membros uma pessoa em sofrimento psíquico, apresentam no
cotidiano, muita dificuldade para agirem frente aos sintomas
característicos dos transtornos mentais, principalmente diante de
delírios, alucinações, momentos de agressividade e embotamento
afetivo. Com isso, percebemos que os familiares tendem a se distanciar,
até como uma atitude defensiva, isolando ainda mais o doente.
Koga (2002) salienta que a Reforma Psiquiátrica contribuiu para
reinserir o paciente ao convívio familiar, favorecendo a discussão sobre
rejeição e as dificuldades que surgem neste contexto.
Em nível pessoal tivemos uma educação direcionada para a
família e sempre tive durante a minha vida muita proximidade com
pais, avós, tios, irmãos e primos, os quais tiveram muita influência na
minha formação, nas minhas atitudes. A participação e a opinião de
familiares sempre teve muita relevância. Com base nos valores
familiares adquiridos, é questionável como seria a vida sem a
participação da família, e como uma pessoa em sofrimento psíquico é
capaz de viver sem o apoio, a compreensão e a força do grupo familiar.
Stanhope , citando Duvall e Miller (1999) identifica como funções
da família:
geradora de afeto entre os membros da família;
proporcionadora de segurança e aceitação pessoal, promovendo
um desenvolvimento pessoal
proporcionadora de satisfação e sentimento de utilidade, através
das atividades que satisfazem os membros da família;
seguradora da continuidade das relações, proporcionando
relações duradouras entre os familiares;
proporcionadora de estabilidade e socialização, assegurando a
continuidade da cultura da sociedade correspondente;
impositora da autoridade e do sentimento do que é correto,
relacionado com a aprendizagem das regras e normas, direitos e
obrigações características das sociedades humanas.
Stanhope (1999) também citando Serra, informa que a família tem
como função primordial a de proteção, tendo, sobretudo,
potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de
problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra
agressões externas.
Fallon (2000) reforça ainda que a família ajuda a manter a saúde
física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso natural para
lidar com situações potenciadoras de stress associadas à vida na
comunidade.
E a sociedade? Despertamos então a curiosidade de saber a
opinião de pessoas que não têm contato direto com indivíduos em
sofrimento psíquico, que não possuem familiares nesta situação, mas
que de alguma forma e por algum motivo desenvolveram uma visão
sobre o tema. Perguntamos, por exemplo, o que fariam se tivessem um
familiar doente, como se comportariam se encontrassem um doente nas
ruas, em seu ciclo de amizades ou até em seu local de trabalho.
Notamos que as
respostas foram diferentes, demonstraram
curiosidade, medo, desprezo e piedade, porém, a maioria das pessoas
demonstrou uma atitude de aversão às situações colocadas.
Infelizmente o doente mental é visto como uma pessoa sem
utilidade, culpado por seu comportamento e por suas ações e por
conseqüência, excluído de sua comunidade.
Atualmente existe uma preocupação em assistir ao indivíduo não
somente como integrante de uma família, mas também da comunidade,
porém, o julgamento e a exclusão do indivíduo atrapalham o tratamento
e dificultam ou até impedem a sua reabilitação.
Tais considerações nos levaram a desenvolver este estudo com a
proposta de atentar o leitor quanto à realidade de pessoas em
sofrimento psiquiátrico, procurando reinserí-las em sua família e
comunidade, através da informação e conscientização das pessoas com
quem convivem e para que assim, se possa compreender que trata-se de
portadores de uma doença e que portanto, necessitam de tratamento
adequado, humanizado, incluindo a participação da família e da
comunidade.
2 - Objetivo:
O presente trabalho tem como objetivo sensibilizar o leitor e
alertar o profissional enfermeiro quanto ao conceito que as pessoas
tendem a desenvolver acerca de uma pessoa em sofrimento psíquico,
considerando os fatos do cotidiano, a importância da família e da
comunidade, o conhecimento e a conscientização, que acabam por
influenciar a realidade do tratamento, reabilitação e a reinserção no
convívio social.
3 - Metodologia:
A metodologia adotada na formulação do presente trabalho foi a
pesquisa bibliográfica, com o intuito de contextualizar o leitor acerca do
tema e subsidiar as discussões e conclusões, buscando na literatura
alguns autores que considerados importantes e que contribuíram para
o embasamento e desenvolvimento deste trabalho, realizado no período
de fevereiro a junho de 2006.
4 – Desenvolvendo Um Novo Olhar
A disciplina de enfermagem psiquiátrica/saúde mental trouxe a
possibilidade de conhecer a história do cuidado psiquiátrico, os
conceitos de saúde e doença mental, o papel da família, comunidade, da
enfermagem e principalmente sua relevância no processo de tratamento
do doente mental.
Com isso, foi possível encontrar em diversas literaturas relatos
sobre os primeiros conceitos de doença mental que se baseavam em
superstição e idéias relacionadas ao sobrenatural. O cuidado
psiquiátrico era freqüentemente fundamentado em métodos de tortura e
condições desumanas.
Com o passar dos anos e os estudos sobre as doenças em geral
cada vez mais específicos e técnicos, as definições de outrora, dadas
como verdadeiras, foram substituídas por uma visão baseada em
experiências e conceitos aplicados na medicina atual.
Towsend (2002) define a doença mental como “respostas
desajustadas a fatores de estresse do ambiente interno ou externo,
evidenciadas por pensamentos, sentimentos ou comportamentos não
congruentes com as normas locais e culturais e interferindo no
funcionamento social, ocupacional e/ou físico do indivíduo”.
É importante ressaltar que o Enfermeiro, como agente cuidador
responsável pelos cuidados e melhoria da integridade física e mental do
paciente diagnosticado como doente mental, esteja livre de crenças,
valores e pré-conceitos ultrapassados. Como foi definido, o paciente
necessita de cuidados e tratamento de um profissional da saúde que
enxergue sua enfermidade com experiência e conhecimento científico a
fim de oferecer um tratamento humano e de respeito no caminho da
reabilitação.
Afirma também que mostrar respeito é acreditar na dignidade e
valor de um indivíduo, independentemente de seu comportamento
inaceitável.
A mesma autora afirma que “muitos clientes psiquiátricos tem
muito pouco respeito próprio, devido ao fato de terem sido rejeitados
por outros no passado devido a seu comportamento. O reconhecimento
de que estão sendo aceitos e respeitados com indivíduos singulares
numa base incondicional pode servir para evocar sentimentos de valor
pessoal e respeito por si próprio.”
O que a autora aponta que respeito próprio está diretamente
ligado ao que se pensa de si mesmo, ou seja, respeitar-se é valorizar a si
mesmo e a falta de respeito é não enxergar suas próprias qualidades e
não perceber seus próprios valores.
Cabe aqui uma reflexão sobre conceito próprio e auto estima em
que Sullivan (1963) diz que o que uma pessoa crê acerca de si mesma é
uma função de sua interpretação de como é que os outros a vêem. Seu
conceito de si mesma, portanto, está em parte no que ela acha que os
outros pensam a seu respeito. Chamou esse fenômeno de “aprender
sobre si mesmo a partir do espelho de outras pessoas”.
Percebemos portanto a importância de quem convive e
principalmente o profissional de saúde na interpretação de uma pessoa
em sofrimento psíquico.
Discriminar, julgar, atribuir valores, criar pré-conceitos é não
enxergar uma pessoa com sentimentos e dúvidas, como um ser
humano, e consequentemente, fazer com que o mesmo não se veja.
Baseando-se na definição citada, conclui-se que a família é
fundamental na manutenção do doente fora da instituição psiquiátrica,
reforçando a idéia da necessidade dela ser preparada e apoiada pelos
profissionais de saúde da área de Saúde Mental com vistas ao seu
convívio com o portador de transtorno mental.
Tais considerações embutem a visualização de um modelo
assistencial com diversas modalidades de atendimento, mais voltadas à
comunidade e às necessidades do cidadão portador de um sofrimento
psíquico, num tratamento mais humanizado, mais socializante, mais
solidário e mais eficaz.
É evidente que o processo requer discussões no contexto do qual
o indivíduo faz parte, visando suas relações familiares, de trabalho e
também assistenciais, de forma a melhor inseri-lo em seu meio, dandolhe a assistência devida, oportunizando mais espaços de socialização,
de recuperação de suas potencialidades, muitas vezes desprezadas,
reabrindo sua comunicação na família e no seu ambiente social,
trazendo a ele
possivelmente um sentido mais significativo de
existência.
A teoria de Maslow (2000) é conhecida como uma das mais
importantes teorias de motivação. Para ele, as necessidades dos seres
humanos obedecem a uma hierarquia, ou seja, uma escala de valores a
serem transpostos. Desenvolveu uma pirâmide motivacional onde
afirma que um indivíduo vive em contínua busca da realização pessoal e
coloca as necessidades sociais no centro, em terceiro lugar dentre as
necessidades humanas.
Uma representação da Hierarquia de Necessidades está
representada na figura abaixo:
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Para o autor, são necessidades sociais presentes em todo ser
humano: “... a pessoa passa a sentir, mais intensamente do que nunca,
a falta de amigos, de um namorado, de um cônjuge ou de filhos (...) seu
desejo de atingir tal situação será mais forte do que qualquer coisa no
mundo”. Para ele a frustração dessas necessidades leva à falta de
adaptação e a psicopatologias graves.
São inúmeros os estudos que relatam a dificuldade que pacientes
psiquiátricos têm em se relacionar não apenas no âmbito familiar mas
também no convívio social. Como conseqüência da discriminação e do
estigma, tem-se o isolamento social.
Para Ribas (1998), é preciso perceber que a busca de um outro
mundo, a busca de reconhecimento e identidade, está muito ligada a
um processo social contraditório. As tensões familiares, profissionais,
sociais, podem levar um indivíduo a apresentar “comportamentos
desviantes”, estando ele à procura de um mundo cujos valores lhe
sejam identificados.
Ainda referindo-se ao isolamento Foucault (1975) cita: “De fato,
quando o homem permanece estranho ao que se passa na sua
linguagem, quando as determinações econômicas e sociais o reprimem,
sem que possa encontrar sua pátria nesse mundo, então ele vive numa
cultura que torna possível uma forma patológica como a esquizofrenia;
estranho num mundo real, é enviado a um ‘mundo privado’, que
objetividade nenhuma pode mais garantir; submetido entretanto, ao
constrangimento desse mundo real, ele experimenta esse universo para
o qual foge, como um destino”.
Warren (1993) desenvolveu os seguintes critérios para o isolamento
social:
Ambiente estigmatizado - indivíduo é rotulado como diferente,
tem consciência disso e hesita, reluta ou não sabe como participar das
interações sociais.
Indiferença da sociedade - o indivíduo sente solidão ou não
possui relacionamentos íntimos
Desconexão pessoal-social - a sociedade reage ao indivíduo
discriminando, negando o acesso a relacionamentos íntimos.
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Impotência pessoal rejeição da sociedade faz com que o
indivíduo acredite que não tem o poder de controlar a sua vida.
Portanto, a relevância da educação do paciente, da família e da
comunidade deve ser considerada como uma necessidade, porque após
a redução dos sintomas pelo tratamento, a pessoa em recuperação deve
reintegrar-se aos papéis sociais apropriados. O envolvimento da família
é essencial, porque as famílias são a base de lançamento natural para o
ingresso ou reingresso à comunidade. Além disso, a abordagem da
família em uma perspectiva preventiva da doença mental é válida para
que a família perceba-se inserida no processo de socialização do
paciente, uma vez que seja abordada em conjunto e indagada por suas
atitudes. A partir do momento em que o sistema familiar assume
responsabilidade e o compromisso em participar ativamente de um
tratamento, estará dando um primeiro passo para a desmistificação do
estereótipo de doente mental ostentado pela sociedade, daí a
importância do trabalho para a mesma.
Stuart (2002), ainda percebe a importância de envolver a
comunidade e os familiares de pacientes com doenças mentais no
tratamento e cuidado, não apenas porque beneficia o paciente, mas
também porque permite ao enfermeiro identificar e atender às
necessidades clínicas e não-clínicas dos membros da família que, em
virtude da hereditariedade e do ambiente, estão em risco de desenvolver
doença mental e outros transtornos relacionados ao estresse.
Enfim, compreender a realidade do paciente e da família é uma
das formas que favorecem o bem estar de seus membros e a saúde
emocional de todos. Todas as atitudes que contribuem para relações
mais harmoniosas, que resultam em maior tolerância e compreensão na
tentativa de inserção ou reinserção na família e sociedade, parecem
contribuir para a sensação de bem-estar de todos os membros.
Além disso, a comunidade influencia imensamente a reabilitação
de seus membros com doenças mentais. Os profissionais de saúde têm
um papel único na comunidade, porque devem ser defensores de
pessoas com doenças mentais e suas famílias ao mesmo tempo. Os
profissionais da saúde, incluindo os enfermeiros, devem assumir um
papel de liderança preconizando sempre mudanças no sentido da
humanização e da reintegração social.
Tais colocações foram definidas pela North American Nursing
Diagnosis Association (NANDA, 2002) como diagnósticos de
enfermagem, dignos de um plano de cuidados e imprescindíveis para a
o tratamento e a recuperação dos pacientes. devendo ser notificados à
toda equipe multiprofissinal. Entre outros, podemos citar:
Interação social prejudicada;
Isolamento social;
Risco para solidão;
Risco para vínculo pais/filhos prejudicado;
Processos familiares interrompidos;
Baixa auto-estima crônica;
Desesperança;
Tristeza crônica.
Atentando a esta colocação, o profissional enfermeiro poderá
realizar algumas ações juntamente com a sua equipe, no sentido de
evitar ou reduzir os riscos de evolução dos diagnósticos citados. São
exemplos:
 Incentivar o convívio com a comunidade, promovendo ações
que
impliquem
em
relacionar-se
com
pessoas
desconhecidas e de seu convívio.
 Mostrar ao paciente que possui qualidades perceptíveis e
ensiná-lo a perceber-se de maneira positiva.
 Promover atividades relacionadas às habilidades do
paciente.
 Atentar à família, como ela percebe o doente e sua
importância para ele.
 Mostrar a importância dos processos familiares e incentivar
ações corriqueiras, do dia-a-dia, como por exemplo, fazer
refeições juntos.
Peplau (1998) diz, quase que utopicamente: “É provável que o
processo de enfermagem seja educativo e terapêutico quando a
enfermeira e o paciente puderem vir a conhecer e respeitar um ao
outro”.
5 - Considerações Finais:
O Enfermeiro é, na grande maioria dos casos, a porta de
comunicação entre o paciente doente mental e o mundo externo, sejam
familiares, amigos ou a própria comunidade. Também deve
desempenhar a mesma função perante a equipe profissional dedicada
ao seu restabelecimento.
Reinserir o indivíduo ao convívio da sociedade é uma atividade
que requer do profissional de enfermagem além do conhecimento
técnico/teórico de sua profissão, uma visão humana da condição de
seus pacientes. Talvez sua função vá mais longe, informar e participar à
família do processo de recuperação bem como fazê-los enxergar o
transtorno psíquico como uma doença pode ter maior relevância para o
bem estar do paciente.
Reduzir o sofrimento, melhorar o tratamento e reabilitar pacientes
em convívio com a família e comunidade é prestar uma assistência
humanizada.
Atualmente, a humanização e o investimento no bem-estar do
paciente vêm sendo objetos de intenso debate nacional e internacional,
inclusive, a humanização dos serviços de saúde é um dos programas
prioritários do Ministério da Saúde.
Em um artigo, Ballone (2005) cita que o Ministério da Saúde,
sensibilizado pelo número significativo de queixas dos usuários
referentes aos maus tratos nos hospitais, tomou a iniciativa no ano
2000, de convidar profissionais da área de saúde mental para elaborar
uma proposta de trabalho voltada à humanização dos serviços
hospitalares e de saúde. Estes profissionais constituíram um Comitê
Técnico que elaborou um Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar, com o objetivo de promover uma mudança de
cultura no atendimento de saúde no Brasil.
Mas afinal, o que é ser um profissional humanizado?
Ballone diz que em razão do desenvolvimento tecnológico na
medicina, em particular, alguns aspectos mais sublimes do paciente,
tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo
ou terceiro planos. Apenas sua doença, objeto do saber cientificamente
reconhecido, passou a monopolizar a atenção do ato médico, portanto,
com esse enfoque eminentemente técnico a medicina se desumanizou.
“Humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo
nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente, mas, além disso,
compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e
atenção permanentes. Humanizar também é, além do atendimento
fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos
continuamente, é valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos
os elementos implicados no evento assistencial. Na realidade, a
Humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o
respeito afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação
entre pessoas em geral.”
Fazendo uma reflexão ao título, nota-se que a “enfermagem
renovando conceitos” é não apenas no sentido de incentivar “um novo
olhar”, mas principalmente e antes de mais nada, renovar seus próprios
conceitos, aprendendo a olhar, perceber, sentir e cuidar do paciente em
sofrimento psíquico, prestando uma assistência humanizada.
6 - Referências Bibliográficas:
1 Ballone GJ - Humanização do Atendimento em Saúde - in.
PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2005.
2 Colvero LM. Desafios da família na convivência com o doente
mental: cotidiano conturbado.(tese). São Paulo: Escola de
Enfermagem da USP; 2002.
3 Fallon A. Comparative treatment of eating disorders. London: Free
Association Books; 2000.
4 Foucault M. Doença Mental e Psicologia, Biblioteca Tempo
Universitário. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro; 1975.
5 Koga M, Furegato ARF. Convivência com a pessoa esquizofrênica:
sobrecarga familiar. Ciência, Cuidado e Saúde/UEM; 2002.
6 Maslow AH. Maslow
Qualitymark; 2000
no
Gerenciamento.
Rio
de
Janeiro:
7 Nanda. Diagnósticos de enfermagem: definições e classificações.
2001-2002. Porto Alegre: Artmed; 2002.
8 Peplau HE. Interpersonal relations in Nursing: a conceptual frame
of references for psychodynamics nursing. Kingdon: Mac Millan;
1988.
9 Ribas JBC. O que são pessoas deficientes. São Paulo: Brasiliense;
1998.
10 Stanhope, M. Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de
Grupos, Famílias e Indivíduos. Lisboa : Lusociência; 1999 p. 492 e
503.
11 Sullivan HS. The interpersonal theory of psychiatry. New York:
WW Norton; 1963.
12 Stuart GW. Laraia MT. Enfermagem Psiquiátrica. 4. Ed. Rio de
Janeiro: Reichman e Affonso; 2002.
13 Towsend MC. Enfermagem psiquiátrica: conceitos de cuidados.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
14 Warren BJ. Explaining social isolation through concept analysis.
Ohio: Arch Psychiatr Nurs; 1993.
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