UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A importância da primeira infância na visão da
Neurociência Pedagógica.
Por: Patrícia Antunes da Mata
Orientador:
Prof.ª Marta Relvas
Rio de Janeiro
2010
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A importância da primeira infância na visão da
Neurociência Pedagógica.
Apresentação
Candido
de
Mendes
monografia
como
à
requisito
Universidade
parcial
para
obtenção do grau de especialista em Neurociência
Pedagógica.
Por: Patrícia Antunes da Mata
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por tudo, à minha família,
em especial ao meu marido e minha filha
Milena, pela compreensão nos dias que
fiquei ausente, pelo incentivo e por
existirem em minha vida. Não esquecendo
as amigas que emprestaram livros e que
muito contribuíram para o trabalho.
3
DEDICATÓRIA
Dedico a Deus e aos meus amores:
Antônio e Milena.
4
RESUMO
O trabalho foi dividido em cinco capítulos para o entendimento do
processo do desenvolvimento cerebral da criança. Inicia retratando a gênese
do SNC, fazendo uma cronologia da formação das estruturas do SNC e seu
amadurecimento. Aborda como as experiências vivenciadas na primeira
infância influenciam a circuitaria das redes neuronais deste cérebro em
crescimento, no qual quanto mais estímulos o cérebro receber nos primeiros
anos de vida mais sinapses formará. Quanto mais sinapses, mais neurônios
ativados e consequentemente mais aprendizagem. Retrata a interface que
existe nas dimensões biológicas, sociais e afetivas na formação do indivíduo,
pontuando com os conceitos de grandes teóricos da educação: Piaget, Wallon
e Vigotsky. Finaliza com atividades de estimulação precoce que podem ser
usadas tanto no ambiente familiar quanto no ambiente escolar, que favorecem
o desenvolvimento global da criança.
5
METODOLOGIA
Este trabalho utilizou como procedimento metodológico uma abordagem
teórica, seguindo uma linha de pesquisa baseada nas aulas do curso de pósgraduação em Neurociência Pedagógica, em livros, revistas, artigos, contendo
informações científicas de estudiosos sobre o desenvolvimento cerebral na
primeira infância consolidando a importância de investir nesta faixa etária para
o processo de aprendizagem.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................8
CAPÍTULO I ASPECTOS ESTRUTURAIS DO NEURODESENVOLVIMENTO ................9
CAPÍTULO II –
A PLASTICIDADE DO CÉREBRO EM DESENVOLVIMENTO ..................19
CAPÍTULO III –
A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL PARA O
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL .............................................................22
CAPÍTULO IVESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO SEGUNDO OS TEÓRICOS DA
EDUCAÇÃO: PIAGET, WALLON E VYGOTSKY .......................................25
CAPÍTULO V –
MANEIRAS DE ESTIMULAR O CÉREBRO EM DESENVOLVIMENTO ..33
CONCLUSÃO ...............................................................................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................37
7
INTRODUÇÃO
Pesquisas revelam que durante os três primeiros anos de vida se
formam mais de 90% das conexões cerebrais, portanto um período
determinante para: funções mentais; emocionais; cognitivas; motoras e sociais
do indivíduo em que poderá transformá-las em capacidade, competências e
habilidades. Devido à condição neural favorável e por ter um cérebro mais
plástico do que o cérebro adulto, a primeira infância é considerada a base para
a
aprendizagem.
As
experiências
vivenciadas
por
este
cérebro
em
desenvolvimento contribuem para uma aprendizagem determinante em seu
processo de construção pessoal sob uma ótica biopsicossocial. Diante dessas
comprovações,esta obra tem como objetivo fazer uma reflexão com bases
científicas do quanto é importante na Educação infantil que se elabore um
currículo visando à formação íntegra do ser humano, suas necessidades
fisiológicas, emocionais, cognitivas, competências e habilidades. Construindo
assim o alicerce que sustentará toda a estrutura do processo de aprendizagem
e essa estruturação tem início quando a criança entra em contato com o
mundo.
8
CAPÍTULO I
ASPECTOS ESTRUTURAIS DO
NEURODESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento do ser humano inclui o crescimento biológico, a
organização de neurônios dentro do cérebro, a crescente complexidade da
representação mental, o surgimento de novos comportamentos a partir de
experiências sociais e culturais. Esse processo é caracterizado por alterações
na fisiologia e no comportamento do organismo desde a concepção até a
morte. Influências genéticas e ambientais atuam sobre as células nervosas
estimulando seu crescimento. Alguns desses processos são finalizados intra
útero, outros continuam após o nascimento. O desenvolvimento compreende
três estágios: préembrionário, embrionário e fetal. (Ribeiro e Gonçalves, 2010)
1.1- Desenvolvimento cerebral do estágio pré-embrionário
ao fetal
Estágio pré-embrionário
A fase pré-embrionária, também chamada de fase do ovo, abrange as
três primeiras semanas após a fecundação.
Segundo Moore (1988) o desenvolvimento começa a partir da
fertilização quando um espermatozóide funde-se com um ovócito para formar
um zigoto. O zigoto adquire sua plena carga genética e inicia as
transformações, é a primeira célula de um novo ser humano em formação, ele
começa a se dividir á medida que caminha ao longo da tuba uterina, chegando
ao útero na forma de esfera (mórula). Logo em seguida, forma-se uma
cavidade na mórula, transformando-a num blastocisto que consiste em uma
massa celular interna e em uma cavidade blastocística , cuja parte externa,
inserida na parte uterina, contribuirá para a formação da placenta, e a parte
9
interna formará o disco embrionário,constituindo o início da terceira semana do
desenvolvimento.
Quando a linha primitiva origina o mesoderma intraembrionário, o disco
bilaminar embrionário é convertido em três camadas germinativas primárias
(ectoderma, mesoderma e endoderma). Essas camadas germinativas dão
origem a todos os tecidos e órgãos do embrião. As células de cada camada
germinativa se dividem, migram se agregam e se diferenciam em tipos com
características determinadas, à medida que formam os vários sistemas de
órgãos.
Os principais derivados das três camadas germinativas são:
•
O Ectoderma dará origem à epiderme, ao sistema nervoso central
(cérebro e medula espinhal), ao sistema nervoso periférico, ao epitélio
sensorial do olho, à orelha, ao nariz, à epiderme e aos seus derivados
(cabelos e unhas), às glândulas mamárias, a adenohipófise (glândula
pituitária), às glândulas subcutâneas e ao esmalte do dente.
Células da crista neural, derivadas do ectoderma, dão origem a: células
dos gânglios espinhal, cranial e autônomo; células envoltórias do
sistema nervoso periférico; células pigmentares da derme; músculo,
tecido conjuntivo, e ossos originados dos arcos branquiais; à medula da
suprarrenal (adrenal) e a pia-aracnóide.
•
O Mesoderma dá origem à cartilagem, ossos, tecido conjuntivo,
músculos liso e estriado, coração, capilares e células sanguíneas e
linfáticas,
rins,
membranas
gônadas
serosas
de
(ovário
e
revestimento
testículos),
das
ductos
cavidades
genitais,
do
corpo
(pericárdica pleural e peritoneal), ao baço e ao córtex da glândula suprarenal (adrenal).
•
O Endoderma origina o revestimento epitelial dos tratos gastrintestinal
e respiratório, ao parênquima das amígdalas, à glândula tireóide, à
paratireóide, ao timo, fígado e pâncreas, ao revestimento epitelial da
bexiga urinária e uretra, ao revestimento epitelial da cavidade do
tímpano, ao antro do tímpano e ao tubo auditivo.
10
Estágio embrionário
Começa
na
quarta
semana
de
desenvolvimento
e
continua
aproximadamente até a oitava semana.
O
período
embrionário
é
um
período
muito
importante
do
desenvolvimento humano porque os esboços de todas as principais estruturas
externas e internas se desenvolvem durante essas cinco semanas. Pelo final
do período embrionário, todos os principais sistemas orgânicos já começaram a
se desenvolver, mas a função da maioria dos órgãos é mínima. Assim que os
órgãos se desenvolvem, o formato do embrião gradualmente se transforma.
Devido ao fato de todas as principais estruturas externas e internas se
desenvolverem durante o período embrionário, a exposição de um embrião a
certos agentes (drogas, vírus etc.) durante este período crítico de
desenvolvimento pode acarretar importantes malformações congênitas.
Durante há quarta semana, o embrião cresce rapidamente (triplicando
seu tamanho), e seu formato muda significativamente como resultado do
dobramento. O estabelecimento gradual da forma do corpo resulta do
dobramento do disco embrionário tridérmico achatado em um embrião mais ou
menos cilíndrico e do desenvolvimento dos órgãos. Este dobramento, tanto no
plano longitudinal quanto no transversal, é causado principalmente pelo rápido
crescimento do tubo neural (subdividida em neurulações primária e secundária)
e parte do prosencéfalo.
A neurulação primária tem seu pico de manifestação entre a 3ª e 4ª
semanas de gestação. Inclui a formação da notocórda, da placa neural, do tubo
neural e células de crista neural.
A extremidade craniana do tubo neural forma o encéfalo, que consiste
no cérebro anterior, cérebro médio e cérebro posterior. O cérebro anterior dá
origem aos hemisférios cerebrais e ao diencéfalo; o cérebro médio torna-se o
cérebro médio do adulto; e o cérebro posterior origina a ponte, cerebelo e
medula (oblonga). A crista neural dá origem aos gânglios das raízes espinais
dorsais, aos gânglios sensoriais dos nervos cranianos e aos gânglios
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autonômicos. As células de Schwann, que formam a bainha de mielina dos
axônios, também se originam da crista neural.
A neurulação secundária tem seu pico entre a 4ª e 7ª semana de
gestação com a formação caudal do tubo neural ou medula espinal. O lúmen
do tubo neural dá origem aos ventrículos encefálicos e ao canal central da
medula espinhal. As paredes do tubo neural espessam-se pela proliferação das
células neuroepiteliais que originam todos os nervos e células macróglia no
sistema nervoso central com os vasos sanguíneos.
Uma vez configurado o tubo neural, inicia-se o processo de
segmentação ou clivagem do sistema nervoso central. Três vesículas são
formadas: prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. O prosencéfalo dará
origem ao diencéfalo (tálamo, hipotálamo e globo pálido) e telencéfalo
(hemisférios cerebrais, putame e núcleo caudado e globo pálido); o
mesencéfalo
mantém-se
como
mesencéfalo
propriamente
dito;
e
o
rombencéfalo dará origem ao mielencéfalo (bulbo) e metencéfalo (vermis,
hemisférios cerebelares e ponte) .
Estágio Fetal
Com nove semanas, o embrião humano é chamado de feto, significando
que já se transformou em um ser humano reconhecível. O desenvolvimento
durante o período fetal é primeiramente relacionado ao crescimento e
diferenciação dos tecidos e órgãos que surgiram durante o período
embrionário. Muito poucas estruturas novas surgem durante o período fetal.
Nesse período, ocorre parte da formação do prosencéfalo, a
proliferação, a migração, a organização neural e a mielinização.
O desenvolvimento do sistema nervoso central, sob o aspecto
histológico, inclui três estágios: citogênese, histogênese e organogênese. Na
citogênese, desenvolve-se a parte molecular intracelular; na histogênese,
desenvolvem-se as células dentro dos tecidos, começando nas primeiras duas
semanas de gestação; na organogênese ocorre a formação do tubo neural.
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Segue-se a proliferação celular, na qual o epitélio pseudoestratificado,
constituído por células primitivas, dará origem aos neurônios e células da glia;
na sequência, será observado o período da migração das células da matriz
germinativa (região periventricular) para a superfície do cérebro, originando,
dessa maneira, o manto cortical.
1.2- Desenvolvimento cortical
A partir da segmentação do tubo neural, o processo de desenvolvimento
cortical é a próxima etapa na formação do SNC. O córtex cerebral humano é
um tecido fino (como uma membrana) que tem espessura entre 1 e 4 mm e
uma estrutura laminar formada por seis camadas (néocortex) distintas de
diferentes tipos de corpos celulares de neurônios.É a porção mais superficial
dos hemisférios cerebrais, é dividido em quatro lobos: frontal, temporal, parietal
e occipital.(Machado,1998).
As circunvoluções cerebrais representam uma adaptação evolutiva que
permite alojar uma grande área cortical dentro da cavidade craniana; apenas
1/4 a 1/3 do córtex cerebral está exposto na superfície. A fissura interhemisférica é a primeira a se formar progride caudalmente, separando os
hemisférios. As outras fissuras cerebrais formam-se segundo o padrão
seqüencial e uniforme. A maioria dos giros cerebrais forma-se entre a 26ª e 28ª
semana de gestação, após outros poucos giros são formados entre a 40ª e 44ª
semana de gestação. O recém nascido a termo apresenta praticamente todos
os sulcos e giros observados no indivíduo adulto.(Moore,1988)
Para Ribeiro e Gonçalves (2010), o desenvolvimento do córtex humano
pode ser dividido em três estágios:
1. Proliferação das células precursoras e sua diferenciação, formando
neuroblastos ou células de glia.
2. Migração neuronal a partir da matriz germinativa, localizada na região
periventricular, em direção ao córtex em desenvolvimento.
3. Organização cortical em seis camadas.
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O processo de formação cortical é dinâmico, e, apesar de haver os
períodos determinados em que cada etapa predomina, mais de uma fase
pode coexistir simultaneamente. O período de proliferação ocorre da 5ª a 6ª
até a 16ª a 20ª semana de gestação; a migração, a partir da 6ª a 7ª até a
20ª a 24ª semana; e a organização, da 16ª até aproximadamente a 24ª
semana gestacional.
Todos os neurônios e células da glia derivam da matriz germinativa.
Inicialmente, as células percussoras dividem-se de forma simétrica,
formando duas células idênticas. Em seguida, estas células passam a sofrer
mitoses assimétricas, ou seja, cada divisão resulta em dois tipos diferentes
de célula; uma idêntica à célula precursora e uma célula neuronal pós
mitótica, que será um neuroblasto ou célula da glia.
Como os neurônios corticais não são formados no córtex, após os
processos de proliferação e diferenciação, as células neuronais pósmitóticas têm que migrar uma distância equivalente a 1.000 vezes o
tamanho de seu corpo celular, até chegarem ao seu destino final no córtex
cerebral. Os neuroblastos ligam-se às fibras radiais gliais, seu destino final
no córtex cerebral, quase estendem através de todo o hemisfério e servem
de guia ás células nervosas até o córtex. A posição final dos neurônios no
córtex cerebral correlaciona-se ao período em que cada célula se originou.
Os neurônios destinados às camadas mais profundas são gerados
precocemente,
e
os
situados
mais
superficialmente
são
gerados
proporcionalmente mais tarde. Isso confere o padrão de laminação cortical
de dentro para fora, ou seja, perpendicular ás fibras radiais gliais. As únicas
células granulares do giro do hipocampo e as células estreladas do córtex
cerebelar, são formadas próximas do seu destino final.
O processo de migração e organização cortical depende de vários
fatores. Assim, os aspectos genéticos determinam a distribuição dos
neuroblastos em camadas e regiões específicas. Alguns genes regulam os
vários estágios de formação do SNC, participando, por exemplo da
segmentação do cérebro em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo, e
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seus constituintes.Outros regulam a síntese de proteínas de adesão que
regulam o contato dos neuroblastos entre si e com as fibras radiais gliais ao
longo do processo de migração e formação das sinapses.
A formação de sinapse depende de vários fatores, entre eles
marcadores químicos. Os axônios em desenvolvimento podem ser atraídos
por fatores químicos liberados pelas células alvo; fatores extrínsecos
também podem interferir no desenvolvimento cortical. Estruturas corticais e
suas funções podem ser alteradas pela modificação da origem ou padrão
de sua aferência talamocortical. Uma área sensorial pode ser substituída
por outra mudança no tipo de aferência durante o desenvolvimento. Apesar
da intensa formação de conexões neuronais, algumas sinapses podem ser
eliminadas durante o desenvolvimento cortical. Atualmente sabe-se que o
cérebro é plástico e pode estabelecer novas sinapses mesmo no indivíduo
adulto.
Apesar de distintas áreas do córtex apresentarem citoarquitetura
diferente, a maioria do córtex humano contém seis camadas (neocórtex). As
camadas do neocórtex são: molecular, granular externa, piramidal externa,
granular interna, piramidal interna (ou ganglionar) e fusiforme. Cada região
cerebral onde existe neocórtex apresenta citoarquitetura específica, ou seja,
apesar de todo o neocórtex apresentar seis camadas, a espessura de cada
camada e a densidade neuronal variam de acordo com a função de cada
região cerebral.
1.3- Movimentação do sistema nervoso embrionário
De acordo com o desenvolvimento das diferentes partes do cérebro,
podemos esquematizar alguns períodos de evolução sendo o 1° período no
feto, até o 2° mês de gestação, permanecendo numa quase imobilidade. Num
2° período, da 5° a 8° semana de gestação, aparecem movimentos
espontâneos.
Do 2° até o 4° mês de vida intrauterina aparecem os primeiros
movimentos neurais, ou seja, aqueles comandados pelo sistema nervoso que
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são mais ativos, rápidos, coordenados e amplos. Desencadeiam-se por
excitações diversas, podendo ser considerados ainda reflexos. Aparecem no
dorso e nas mucosas, entre eles o oral e o anal, sendo o reflexo oral, resposta
de fechamento da boca ou movimento de sucção e deglutição, um dos mais
precoces e constantes. Observam-se também movimentos curtos das
extremidades, são o reflexo de flexão, de extensão, de preensão da mão e o
reflexo plantar. Esboçam-se também reflexos tônico-cervicais desencadeados
por modificações da posição da cabeça em relação ao corpo e reflexos
posturais desencadeados por mudanças de posição do corpo no espaço.
Esses reflexos são consequências da diferenciação do neurônio motor
periférico da placa matriz dos receptores periféricos e das células sensoriais.
Há uma conexão entre os neurônios sensitivos externos e os motores, além de
sensibilidade proprioceptiva em desenvolvimento.
Os receptores do sistema vestibular do feto são excitados pelos
movimentos do líquido amniótico, ocasionando assim, uma diferenciação das
células da via vestibular. Esses movimentos estimulam também a diferenciação
das células da raiz ventral da medula e as da raiz dorsal. Podemos dizer
também que as raízes motoras estão mielinizadas antes das sensitivas. A
estimulação vestibular provoca também contrações do músculo do pescoço,
tronco, membros e globo ocular, que estimulam os receptores dos músculos,
articulações e tendões.
Do 4° ao 6° mês de vida intrauterina a diferenciação e delimitação das
reações
motoras
e
o
aparecimento
das
vias
respiratórias
são
os
acontecimentos mais importantes. Os movimentos são mais rápidos e os
reflexos transformam-se em cruzados. O reflexo plantar pode tornar-se
maduro, os cervicais e posturais são mais constantes e precisos; aparecem os
reflexos ósteo-tendinosos, e o de preensão é mais evidente. Anatomicamente
há uma maior maturação da parte alta do tronco encefálico e da formação
reticular. O final da vida intrauterina, do 6° ao 9° mês, caracteriza-se pela
observação de reflexos e movimentos espontâneos. O reflexo patelar, o aquileu
e outros são mais evidentes; o reflexo cutâneo-abdominal consolida-se e
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aparece, no 7° mês, o reflexo pupilar. Também o tônus muscular se apresenta
consolidado.
No nascimento o córtex é muito pouco desenvolvido e sua aparência
não sugere que muitas funções corticais, ou mesmo algumas, sejam possíveis.
Dois importantes fatores do desenvolvimento ocorrem durante os
primeiros dois anos. O primeiro se refere á ordem em que as áreas funcionais
gerais do cérebro se desenvolvem, o segundo á ordem em que as estruturas
se desenvolvem dentro das primitivas áreas correspondentes. A parte mais
adiantada do córtex é a área motora primária, em seguida vem à área
somatossensitiva primária, depois a área visual primária e então a área auditiva
primária. Todas as áreas de associação desenvolvem-se depois das áreas
primárias correspondentes. Por volta do fim do 1° mês, a aparência da área
motora primária do tronco e dos membros superiores sugere que ela talvez
esteja funcionando. Aos três meses aproximadamente todas as áreas primárias
estão relativamente maduras, sugerindo que a visão e a audição simples são
funcionais ao nível das áreas primitivas corticais, mas não ao nível que envolva
qualquer função interpretativa dependente da área de associação. Nesta idade,
a área motora constitui claramente a parte mais desenvolvida do córtex, e
dentro destas as áreas mais desenvolvidas são: mão, braço e parte superior do
tronco. Por volta dos seis meses, parte destas áreas progrediu mais no seu
desenvolvimento, e muitas das fibras exógenas que chegam ao córtex já estão
completamente desenvolvidas, no córtex que controla os movimentos oculares.
Entre seis e 15 meses a taxa de desenvolvimento é acelerada no lobo
temporal, no cíngulo e na insula, vindo em seguida o occipital, e por último os
lobos parietal e frontal, que já passaram pela maior parte do seu
desenvolvimento. A área motora primária ainda está ligeiramente adiantada em
relação a todas as outras, mas dentro dela a área da perna ainda continua
atrasada. A área de associação visual já amadureceu um pouco e está mais
adiantada que a auditiva. Por volta dos dois anos, as áreas primárias sensitivas
alcançam o desenvolvimento da área motora e as áreas de associação
progrediram um pouco mais. Mas alguns núcleos internos, principalmente o
17
hipocampo, relacionado ás emoções e á memória, ainda são claramente
imaturas.
O cérebro continua a se desenvolver, no nível macroscópico, na mesma
seqüência, pelo menos até a adolescência e talvez até a idade adulta. A
mielinização das fibras nervosas é somente um sinal de maturidade e as fibras
podem conduzir impulso antes da mielinização. Como regra geral, as fibras que
transmitem impulsos para áreas corticais específicas sofrem mielinização, ao
mesmo tempo das que transmitem impulsos destas áreas para a periferia;
assim a maturação ocorre em arcos reflexos ou unidades funcionais, em vez de
ocorrer em áreas localizadas. Vários tratos como, por exemplo, o auditivo e o
visual ainda não completaram sua mielinização, mesmo três ou quatro anos
depois do nascimento. As fibras que ligam o cerebelo ao córtex cerebral e que
são necessárias para o controle preciso dos movimentos voluntários, somente
começam a se mielinizar depois do nascimento e só completam a mielinização
aos quatro anos.
Os neurônios da formação reticular, envolvidos no processamento das
diversas nuancem da atenção e da consciência, continuam a mielinizar pelo
menos até a puberdade e talvez mesmo depois. A mielinização também é
prolongada em partes do encéfalo anterior perto da linha média. Sugere-se que
isto tem a ver com o desenvolvimento prolongado dos padrões de
comportamento relacionados com atividades metabólicas viscerais e hormonais
durante a vida reprodutora. Desde o nascimento a massa encefálica vai
acelerando seu nível metabólico e intensifica-se a atividade mental.
O processo de desenvolvimento cerebral normal depende de vários
fatores, é importante que as primeiras etapas do desenvolvimento embriológico
do SNC ocorram de forma adequada. O fechamento incompleto destas
estruturas resultará em malformações do tubo neural, ou seja, encefaloceles e
mielomenindoceles.
As
anormalidades
do
desenvolvimento
cortical
podem
ocorrer
em
conseqüência de fatores genéticos ou ambientais e são classificadas de acordo
com o estágio do desenvolvimento cortical comprometido: proliferação neural,
migração e organização.
18
CAPÍTULO II
PLASTICIDADE DO CÉREBRO EM DESENVOLVIMENTO
A fusão dos achados da Neurociência contemporânea com o estudo
desenvolvimento
biológico
humano
aumentou
substancialmente
nosso
entendimento de como são fundamentais os seis primeiros anos da vida da
criança, e particularmente o de zero a três anos, é o mais importante para a
formação de habilidades emocionais e cognitivas futuras. É neste período que
a criança aprende, com mais intensidade, a aprender, a fazer, a se relacionar e
a ser, e desenvolve importantes valores a partir de suas relações na família, na
escola e na comunidade.
Hoje, tem-se uma nova compreensão de como agem os estímulos sobre
as experiências vivenciadas pela criança antes dos três anos, de maneira como
influenciam a circuitaria das redes neuronais deste cérebro em crescimento. Há
uma intensa interação entre estimulação precoce, via órgãos dos sentidos e a
carga genética, o que produz um efeito decisivo na formação do indivíduo.
As vias neurais de aferência sensorial desempenham papel crucial no
desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida da criança, há um
período crítico bastante regular para ativação das vias neurais sensoriais, a fim
de estimular a formação de circuitos neurais nas partes específicas do córtex.
As células do sistema nervoso não são imutáveis, como se pensava há
algum tempo. Muito ao contrário, são dotadas de plasticidade. Isto significa que
os neurônios podem modificar, de modo permanente ou pelo menos
prolongado, a sua função e a sua forma, em resposta a ações do ambiente
externo. A plasticidade é maior durante o desenvolvimento, e declina
gradativamente, sem se extinguir, na vida adulta. (Lent,2010)
Essa capacidade do sistema nervoso humano de se organizar e
reorganizar estrutural e funcionalmente durante sua formação é alta durante o
desenvolvimento gestacional. Desde a formação da placa neural até a
19
organização das camadas corticais no cérebro, sucedem-se fenômenos
plásticos
relacionados
com
nascimento
e
morte
celular
programada,
diferenciação dos neurônios, crescimento dos axônios e formação de contatos
sinápticos. Tais fenômenos dependem principalmente de fatores intrínsecos,
dos circuitos neuronais fundamentais para o funcionamento harmônico, efetivo
e específico do sistema nervoso. O cérebro em desenvolvimento é mais
plástico, ou seja, capaz de reorganização de padrões e sistemas de conexões
sinápticas com vistas à readequação do crescimento do organismo às novas
capacidades intelectuais e comportamentais da criança. Essas conexões
sinápticas são responsáveis pelo amadurecimento definitivo de diversos
sistemas neurais motores, sensitivos, neurovegetativos e cognitivos. Para cada
um destes sistemas há um intervalo temporal após o nascimento em que os
fenômenos plásticos são mais facilmente induzidos, esse intervalo varia para
cada sistema neural e seu término é gradual, após o que a plasticidade tende a
se tornar limitada ou mesmo não induzível.
Alguns sistemas neurais considerados maduros podem continuar a
apresentar notável grau de plasticidade. Dentre estes estão incluídos aqueles
relacionados à memória e ao aprendizado.
Segundo Marta Relvas (2007) a Neuroplasticidade de desenvolvimento:
ocorre em vários estágios:
•
Neuroplasticidade como resposta á experiência: ocorre a partir de novas
experiências, desafios e aprendizagem.
•
Neuroplasticidade após lesão cerebral: autorreparação nos tecidos.
•
Neurogênese: dá-se a partir do nascimento de novos neurônios no
cérebro.
2.1- Relação entre Neuroplasticidade e Aprendizagem
A aprendizagem pode ser vista como um conjunto de comportamentos
que viabilizam os processos neurobiológicos e neuropsicológicos da memória
(Lent, 2010).
Existem dois tipos principais de aprendizagem:
20
•
Não associativa que pode ser por habituação (à medida que um
estímulo se repete a resposta a esse estímulo diminui) ou sensibilização
(a partir de um estímulo a pessoa coloca-se em estado de alerta para
qualquer eventualidade).
•
Associativa que pode ser por condicionamento clássico (uma forma de
aprendizagem associativa entre dois estímulos) ou condicionamento
operante (associação e uma determinada resposta comportamental, em
que uma determinada ação pode estar associada a uma experiência
positiva ou negativa).
Estimulação sensorial positiva, através de um ambiente afetivo fortalece
e
é
favorável
desenvolvimento
as
conexões
cognitivo
sinápticas.
acelerado,
Esta
emoções
condição,
equilibradas,
reflete
apego
no
e
capacidade de responder positivamente a novas experiências, além de
estimular e fortalecer conexões do Sistema Límbico.
Uma das coisas mais fascinantes para a criança é perceber que está
sempre aprendendo, a perceber que o cérebro recebe continuamente
informações, por meio dos órgãos sensoriais.
Concluí-se que para a criança aprender não basta só ter um cérebro
plástico com uma rede neural plena, é fundamental ter um ambiente
estimulador, pois são esses estímulos que ativam e alimentam esse processo,
transformando em informações que serão armazenadas. E a cada estímulo
novo, a cada repetição de um comportamento que queremos que sejam
aprendido, nova associações são feitas e vai se consolidando a memória do
indivíduo, que é a ferramenta principal para aprendizagem. Piaget considera
esse processo de equilibração e desiquilibração (conforme citado por Ries ,
2001), que são mecanismos autorreguladores que propiciam a integração
contínua do sujeito com o seu meio ambiente.Quando a criança entra em
contato com novas experiências esses dois mecanismos se alternam,gerando
então os processos de assimilação e acomodação, imprescindível à
aprendizagem.
21
CAPÍTULOIII
A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO
BIOPSICOSSOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO
A relação entre como o cérebro humano se desenvolve, os circuitos
neuronais e os mecanismos biológicos, o psiquismo determinando o querer e
as relações sociais, constituem a aprendizagem, o comportamento e a
formação do indivíduo durante sua existência.
A análise das interações entre fatores biológicos e psicológicos no
desenvolvimento e comportamento remete-nos a problemas que são
diretamente relacionados à própria conceituação do que é comportamento e de
forma implícita, às inter-relações entre os processos de aprendizagem e de
desenvolvimento. Toda referência a comportamento traz na sua essência a
consideração do organismo, do ser vivo que se comporta, seja uma célula ou
um ser tão complexo quanto o homem. A expressão do comportamento indica
a existência de vida, e, de modo inverso, a incapacidade de expressão de
reações a eventos ambientais pode ser indicativo de morte. (Ribeiro e
Gonçalves,2010)
Ribeiro e Gonçalves ainda acrescentam que ao nascer o organismo traz
consigo todo um repertório comportamental expresso por meio de ativação de
estruturas e sistemas fisiológicos que foram selecionados ao longo da evolução
de sua espécie. Até esse momento, o organismo representa o resultado de
uma história ou de um desenvolvimento que é essencialmente filogenético, no
qual prevalece a determinação genética do comportamento. A partir daí, o
indivíduo responderá e atuará no seu ambiente físico, social e cultural,
modificando-os e, consequentemente, sendo modificado por eles. Esses
processos comportamentais definem essencialmente o seu calendário
ontogenético. Assim, pode-se dizer que a interação entre fatores biológicos
22
(genéticos,bioquímicos e fisiológicos) e ambientais (meio ambiente físico, social
e cultural) é inerente à organização e a expressão do comportamento.O
processo de desenvolvimento comportamental de um indivíduo, ao longo de
sua vida pós-natal, caracteriza-se por mudanças das respostas a diferentes
estímulos ambientais , caracterizam o processo de aprendizagem. Na verdade
essa
integração
que
ocorre
entre
organismo-ambiente
garantem
o
desenvolvimento do indivíduo.
Toda manifestação de afetividade dos pais e a qualidade nas interações
com seus filhos nos primeiros anos de vida, determinam como ocorrerá o
desenvolvimento e aprendizagem da criança. Sendo assim, é importante que
garantam o desenvolvimento da individualidade, da competência na execução
de tarefas e expressões de movimentos, das capacidades de observação, do
reconhecimento e da discriminação das mais variadas modalidades sensoriais,
da capacidade de exploração e de resolução de problemas, de segurança e
conforto, da expressão de emoções e do contato social.(Ribeiro e Gonçalves,
2010).
A escola também é responsável pelo desenvolvimento biopsicossocial
da criança. Fazendo uma análise do papel da escola nesse processo Wallon
(conforme citado por Mahoney e Almeida, 2005) descreve três grandes
contribuições: primeiro, a escola representa a sociedade, e nela a criança se
insere em diversas atividades onde expressa como sujeito, dentro do
desenvolvimento biopsicossocial. No segundo, o professor media, orienta,
seleciona e faz intervenções, no tocante à aquisição do conhecimento, sua
elaboração e reconstrução. Terceiro, a coletividade que se instaura na sala de
aula, favorece significativamente os processos interacionais, ao mesmo tempo,
que resguarda a subjetividade, considerando a pessoa, a atividade, o contexto
e proposta pedagógica, se preocupando com a evolução do sujeito nos seus
aspectos de desenvolvimento: cognitivo, emocional, social, biológico, histórico
e cultural.
23
Representação da integração biopsicossocial do indivíduo. (Ribeiro e
Gonçalves,2010,p.47)
Concluí-se que quando falamos de desenvolvimento é importante a
compreensão dessa relação que existe entre os aspectos biológicos, sociais,
ressaltando os processos psicológicos e que estão envolvidos em uma
dinâmica constante motivacional e que são potencializados e expressos nos
espaços do ensinar e do aprender.
24
CAPÍTULO IV
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO SEGUNDO OS
TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO: PIAGET, WALLON E
VYGOTSKY
De acordo com os capítulos anteriores o processo de aprendizagem
ocorre através de uma rede de interações entre o biológico, cognitivo
emocional e social do indivíduo. Ao longo dessa construção estão presentes:
as experiências, os hábitos, as atitudes, os valores e a própria linguagem
daqueles que interagem com a criança, entre eles o seu grupo familiar, e outras
instituições próximas, como por exemplo, a escola.
A aprendizagem se inicia antes da criança entrar para escola; pois,
desde que nasce encontra-se em interação com diferentes sujeitos e situações,
o que vai lhe permitindo atribuir significados a diferentes ações, diálogos e
vivências. Neste capítulo serão abordados sob o ponto de vista de importantes
teóricos da educação os estágios de desenvolvimento da criança, e que se
tornaram referência quando falamos em aprendizagem, focalizando em uma
perspectiva psicogenética termo este empregado principalmente por Wallon
(1879- 1962), Piaget (1896- 1980) e Vygotsky (1896-1934) que enfatizou
explicitamente o estudo de aspectos filogenéticos e ontogenéticos de funções
como linguagem oral e escrita, memória e atenção e o próprio pensamento.
(Leite,2010,pág16).
4.1- Piaget
“A inteligência é uma adaptação. Para apreender as suas relações com a vida em geral
é necessário determinar quais as relações que existem entre organismo e o meio ambiente”.
(Jean Piaget,1986,p 17)
25
Um grande teórico, Jean Piaget, embora não tenha construído uma
teoria pedagógica propriamente dita, influenciou em muito a educação. Jean
Piaget nasceu na suíça em 1986 e faleceu em 1980 aos 83 anos. De formação
inicial em Biologia, teve preocupações eminentemente epistemológicas, tendose dedicado ao estudo de como o ser humano constrói conhecimento.
Procurando descobrir a gênese, a origem da história do comportamento
do ser humano, criou o que seria chamado de Psicologia Genética. Por ser
dedicar ao estudo do modo como o ser humano constrói conhecimentos em
interação com o meio social e natural, sua teoria é conhecida como
Epistemologia Genética. O ponto de partida de seus estudos foi encontrar
resposta para a seguinte pergunta: “Como se passa de um conhecimento
menos elaborado para um conhecimento mais elaborado?” Pesquisou e
elaborou uma teoria sobre os mecanismos cognitivos da espécie (sujeito
epistêmico) e dos indivíduos (sujeito psicológico).
Ao elaborar sua teoria procurou mostrar quais as mudanças qualitativas
por que passa a criança, desde o estágio inicial de uma inteligência prática
(período sensório-motor), até o pensamento formal, lógico- dedutivo, a partir da
adolescência.
Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo
predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do
simples registro de percepções e informações (empirismo). Resulta das ações
e interações do sujeito com o ambiente onde vive. Todo o conhecimento é uma
construção que vai sendo elaborado desde a infância, através de interações do
sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou
cultural. O conhecimento resulta de uma interrelação entre o sujeito que
conhece e o objeto a ser conhecido.
O sujeito é ativo e em todas as etapas de sua vida procura conhecer e
compreender o que se passa á sua volta. Mas não o faz de forma imediata,
pelo simples contato com os objetos. Suas possibilidades, a cada momento
decorrem do que Piaget denominou esquemas de assimilação, ou seja,
esquemas de ação (agitar, sugar, balançar) ou operações mentais (reunir,
separar, classificar, estabelecer relações), que não deixam de ser ações mas
26
se realizam no plano mental.Pode-se dizer de maneira ampla que, assimilação
é a ação do organismo sobre os objetos.E, quando ocorre a ampliação ou
modificação de um esquema de assimilação, Piaget chamou de acomodação, é
a ação do meio sobre o organismo.Estes esquemas se modificam como
resultado
do
processo
de
maturação
biológica,
experiências,
trocas
interpessoais e transmissões culturais.
O conteúdo das assimilações e acomodações variará ao longo do
processo de desenvolvimento cognitivo, mas a atividade inteligente é sempre
um processo ativo e organizado de assimilação do novo ao já construído, e de
acomodação do construído ao novo. O resultado de sucessivas assimilações e
acomodações completa o processo a que Piaget chamou de adaptação. E, a
cada adaptação realizada promove o que processo de equilibração, conceito
central na teoria construtivista.
Diante de um desafio, de um estímulo, de uma lacuna no conhecimento,
o sujeito se “desequilibra” intelectualmente, fica curioso, motivado e, através de
assimilações e acomodações, procura restabelecer o equilíbrio que é sempre
dinâmico, pois é alcançado por meio de ações físicas e/ou mentais. O
pensamento vai se tornando cada vez mais complexo e abrangente,
interagindo com objetos do conhecimento cada vez mais abstratos e
diferenciados.
Segundo Relvas, “Piaget quando fala sobre aprendizagem distingue no
processo
cognitivo
inteligente
em
dois
momentos:
aprendizagem
e
desenvolvimento. A aprendizagem estaria relacionada à aquisição de uma
resposta particular, aprendida em função da experiência, obtida de forma
sistemática ou não. O desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo
este responsável pela formação dos conhecimentos”. ( Relvas,2009, p 117)
Piaget determinou o desenvolvimento cognitivo do indivíduo por estágios
contínuos. Relvas acrescenta que cada estágio implica um nível de preparação
e de acabamento. Pode-se considerar a existência de quatro estágios:
27
1. Sensório-motor (0 a 2 anos)
Desenvolvimento inicial das coordenações e relações entre as
ações, início de diferenciação entre os objetos e entre o próprio corpo e
os objetos; aos 18 meses, mais ou menos, constituição da função
simbólica. No estágio sensório-motor o campo da inteligência aplica-se a
situações e ações concretas.
Para Piaget, a linguagem é uma construção da inteligência
sensório-motora, preparada passo a passo, até se concretizar no
período pré-operatório, mais ou menos aos dois anos de idade.
2. Estágio pré-operatório (2 a 6 anos)
Reprodução de imagens mentais, uso do pensamento intuitivo,
linguagem comunicativa e egocêntrica, atividade simbólica préconceitual, pensamento incapaz de descentralização.
A inteligência graças à função simbólica é capaz de abranger,
num todo elementos isolados, podendo também evocar o
passado, representar o presente e antecipar ações futuras.
3. Estágio operatório concreto (7 a 11 anos)
Capacidade
de
classificação,
agrupamento,
reversibilidade,
linguagem socializada; atividades realizadas concretamente sem
maior capacidade de abstração.
4. Estágio das operações formais (12 aos 16 anos)
Transição para o mundo adulto de pensar, capacidade de pensar
sobre hipóteses e idéias abstratas, linguagem como suporte do
pensamento conceitual.
28
4.2- Wallon
“As emoções são a exteriorização da afetividade. Nelas que assentam os exercícios
gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade.” (1995,p,143)
Henri Waloon nasceu em Paris, em 1879. Graduou-se em Medicina e
Psicologia. Fez também Filosofia. Exerceu a Medicina em diversos campos (
Psiquiatria , Neurologia). Preocupado com a área educativa em seu país
participou do movimento da Escola Nova e presidiu uma comissão que
elaborou a reforma do ensino denominada Langevin-Wallon, que nunca foi
implantada, falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual,
afetiva e social) é comum hoje em dia, mas no início do século passado essa
idéia foi uma verdadeira revolução no ensino.
Sua teoria diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do
que o simples cérebro, abalou as convicções do conhecimento. Wallon foi o
primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para
dentro da sala de aula. Baseou suas idéias em quatro elementos básicos que
se comunicam o tempo todo:
•
Afetividade - As emoções, para Wallon, têm papel importante no
desenvolvimento, é por meio delas que o aluno exterioriza seus
desejos e suas vontades. “A emoção é altamente orgânica, altera
a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular,
tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano
a se conhecer”, explica Heloísa Dantas, da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, estudiosa da obra de
Wallon há 20 anos. Segundo ela, a raiva, a alegria, o medo, a
tristeza e os sentimentos mais profundos relevantes na relação
da criança com o meio;
•
Motricidade
-
fundamentalmente
Para
da
Wallon
as
organização
emoções
dependem
dos espaços para
se
manifestarem. A motricidade tem caráter fundamental no
29
processo de aprendizagem, tanto pela qualidade do gesto e do
movimento quanto por sua representação;
•
Inteligência - O desenvolvimento da inteligência depende
essencialmente de como cada uma faz as diferenciações com a
realidade exterior. Primeiro porque, ao mesmo tempo, suas idéias
são lineares e se misturam e isso ocasiona um conflito
permanente entre dois mundos, o interior, povoado de sonhos e
fantasias, e o real, cheio de símbolos, códigos e valores sociais e
culturais. Na solução dos conflitos entre situações antagônicas
que a inteligência ocorre;
•
O eu e o outro - A construção do eu na teoria de Wallon depende
essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para ser
negado. Principalmente a partir do instante em que a criança
começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação
do outro funciona como uma espécie de instrumento de
descoberta de si própria.
Segundo Leite (2010, p19), a preocupação de Wallon com o estudo da
criança, decorrem implicações importantes na maneira de abordar a
psicogênese, entre as quais assinalam-se duas: a busca em estudar o
desenvolvimento como um todo integrado, que abarque diferentes campos
funcionais (motricidade, afetividade,inteligência) relativos às atividades infantis
e o abandono de uma posição adultocêntrica, que estuda a criança
comparando-a ao adulto, ou tendo este como referência, e por isso mesmo
caracterizando as condutas infantis em termos de insuficiências e falhas.
Wallon identificou estágios de desenvolvimento que ocorrem em uma
ordem necessária, não se dá de forma linear por surgimento de sistemas mais
complexos ou de novas competências, mas é marcado por crises e conflitos,
seja de ordem exógena, seja de natureza endógena, e que são propulsores do
desenvolvimento. Assim, o desenvolvimento indivíduo é visto como uma
construção progressiva em que sucedem fases com predominância afetiva e
cognitiva.
30
A psicogenética Walloniana propõe cinco estágios, descontínuos e
assistemáticos, para o desenvolvimento da criança:
•
Estágio impulsivo – Abrange o primeiro ano de vida. Consiste na
preparação das condições sensório-motoras (olhar, pegar,andar).
A emoção é peça fundamental nesta fase.
•
Estágio Sensório-motor e Projetivo – Vai até ao terceiro ano de
vida. Ao contrário do estágio anterior, neste predominam as
relações cognitivas com o meio (inteligência prática simbólica).
•
Estágio do Personalismo – Abrange a faixa dos três aos seis
anos.
A
tarefa
central
é
o
processo
de
formação
da
personalidade, definindo o retorno da predominância das relações
afetivas.
•
Estágio Categorial- Inicia-se aos seis anos e traz importantes
avanços no plano da inteligência, imprimindo às suas relações
com o meio, preponderância do aspecto cognitivo.
•
Adolescência – A crise pubertária rompe a tranqüilidade afetiva
que caracterizou o estágio categorial e impõe a necessidade de
uma nova definição dos contornos da personalidade. Este
processo traz à tona questões pessoais, morais e existenciais,
numa retomada da predominância da afetividade.
4.3- Vygotsky
“O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa.”
(Vygotsky)
Lev Semyonovitch Vygotsky nasceu na Bielo-Rússia em 1896. Graduouse em Direito e aprofundou sua investigação no campo da Psicologia,
enveredando também para o da educação de Deficientes. No período de 1925
a 1934, desenvolveu, com outros cientistas, estudos nas áreas de Psicologia e
anormalidades físicas e mentais. O contexto social vivido por Vygotsky e seus
31
colaboradores, especialmente Luria e Leontiev, influenciou decisivamente os
seus estudos. O foco de suas preocupações foi o desenvolvimento do indivíduo
e da espécie humana, como resultado de um processo sócio-histórico.
Para Vygotsky, as origens da vida consciente e do pensamento abstrato
deveriam ser procurados na interação do organismo com as condições de vida
social, e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana. Deste modo,
deve-se procurar analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos
indivíduos, a partir da interação destes sujeitos com a realidade. Significando
que o meio social é determinante do desenvolvimento humano e que isso
acontece fundamentalmente pela aprendizagem da linguagem, que ocorre pela
imitação.
Vygotsky, segundo Freitas (2000), se pergunta como os fatores sociais
podem modelar a mente e construir o psiquismo e a resposta que apresenta
nasce de um perspectiva semiológica, na qual o signo, como um produto
social, tem uma função geradora e organizadora dos processos psicológicos. O
autor considera que a consciência é engendrada no social, a partir das
relações que os homens estabelecem entre si, pela mediação da linguagem.
Os signos são os instrumentos que, agindo internamente no homem,
provocam-lhe transformações internas, que o fazem passar de ser biológico a
ser sócio-histórico.
Para Vygotsky, o homem é visto como alguém que transforma e é
transformado nas relações que acontecem em uma determinada cultura. O que
ocorre é uma interação dialética que se dá, desde o nascimento, entre o ser
humano e o meio social e cultural em que se insere. Assim, o desenvolvimento
humano é compreendido não como a decorrência de fatores isolados que
amadurecem, nem tampouco de fatores ambientais que agem sobre o
organismo controlando seu comportamento, mas sim como produto de trocas
recíprocas, que se estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio,
cada aspecto influindo sobre o outro.
Vygotsky afirma que, num primeiro momento, o conhecimento se
constrói de forma intersubjetiva (entre pessoas) e num segundo momento, de
forma intrasubjetiva (no interior do sujeito). A criança nasce e encontra um
32
mundo simbólico, onde significados vão sendo usados pelos indivíduos para
controlar seu ambiente e a si próprio, à medida que interage com outros
membros de sua cultura e com os meios de comunicação em geral a criança
vai construindo seu próprio meio de significados.Entretanto, ao mesmo tempo
em que depende de sua constituição orgânica, e das possibilidades de ação e
interação que lhe são oferecidas pelo ambiente, as crianças podem escolher
entre diferentes modos de comportamento, construindo novos modos de ação.
Para entender a relação entre desenvolvimento e aprendizagem na
abordagem Sociointeracionista de Vygotsky, é necessário conhecer o caminho
que é percorrido para que todo o processo se estabeleça. Esses níveis de
desenvolvimento que fazem com que a criança amadureça em relação às
funções mentais superiores são identificados como:
•
Nível de desenvolvimento Real – É a aprendizagem consolidada e que
já favorece uma ação mais independente do sujeito.
•
Nível de desenvolvimento potencial – Para que alcance o resultado final
que é aprendizagem o sujeito necessita da ajuda do outro que já
concretizou esse processo.
Toda distância percorrida entre o nível de desenvolvimento real e o
desenvolvimento potencial, Vygotsky chamou de Zona de desenvolvimento
proximal. Através de experiências compartilhadas, atua-se na zona de
desenvolvimento proximal, de modo que funções consolidadas venham
amadurecer.
CAPÍTULO V
MANEIRAS DE ESTIMULAR O CÉREBRO EM
DESENVOLVIMENTO
A estimulação precoce também chamada de aprendizagem oportuna
evoluiu através dos anos, juntamente com os avanços científicos da
33
Neurociência. Já foi abordado neste trabalho o quanto é favorável investir
através da estimulação no desenvolvimento global na primeira infância, pois
nos primeiros cinco anos de vida são formadas em torno de 90% das conexões
sinápticas, o que facilita a aquisição da aprendizagem a curto e longo prazo,
sendo claramente evidente seus benefícios durante a vida adulta do indivíduo.
Graças a estes e outros conhecimentos sobre o desenvolvimento
humano, ao avanço da tecnologia e às mudanças sociais e culturais é que o
paradigma da criança evoluiu aceleradamente nos últimos cem anos: de uma
concepção criança-adulta que reage diante de estímulos e cuja personalidade
e inteligência são construídas com base em experiências externas para uma
criança-criança que recebe os estímulos, interage e é capaz de modificar seu
ambiente e que é o centro de suas próprias experiências e da sua
aprendizagem.
Diante deste cenário a estimulação precoce constitui uma ferramenta
válida para favorecer nas crianças o desenvolvimento harmônico de suas
potencialidades, o descobrimento de si mesmos e o mundo que os rodeia,
assim como sua adaptação ao mundo dinâmico.
Quando falamos em estimulação, falamos em experiências significativas
nas quais intervêm os sentidos, a percepção e o prazer da exploração, o
descobrimento, o autocontrole, o jogo e a expressão artística. Sua finalidade é
desenvolver a inteligência, porém sem deixar de reconhecer a importância dos
vínculos afetivos sólidos e uma personalidade segura.
Mas como deve ser um ambiente estimulador? Ele deve ter pessoas que
podem ser consideradas facilitadores desse processo e estas devem ter o
compromisso em:
•
Favorecer o contato físico a afetivo adulto-criança;
•
Construir a inteligência em uma etapa neurobiológica chave, como são
os primeiros anos de vida;
•
Ser dinamizador da personalidade, onde a criança sentirá satisfação e
elevará
sua
auto-estima
ao
potencialidades;
34
descobrir
o
alcance
das
suas
•
Usar os recursos existentes de maneira a levar a criança a formular
perguntas, que são geradoras de atividades mentais;
•
Compreender os desejos e necessidades da criança, estar disposto a
brincar e descobrir o seu mundo;
•
Observar a criança e da forma como esta relaciona com seu meio e com
os objetos que encontra ao seu redor. Descobrindo as expressões,
gostos, preferências, aquisição de destrezas e habilidades;
•
Conhecer os princípios básicos do desenvolvimento evolutivo da
criança.
•
Estimulação centrada em atividades e experiências que estimulem a
criança nos aspectos lingüísticos, motor, cognitivo, afetivo e social;
•
Estimulação unissensorial e/ ou multissensorial – A estimulação
unissensorial procura gerar a experiência em um estímulo por vez. Ao
contrário, a estimulação multissensorial trabalhará vários estímulos por
vez;
•
Ênfase no descobrimento, na exploração, no jogo e na arte.
35
Conclusão
Foi possível verificar com a conclusão do trabalho que a visão tradicional
que se tinha do desenvolvimento biológico enfocado no crescimento da criança
e na estrutura e funcionalidade foi enriquecido com os estudos da
Neurociência. Determinou-se que nos primeiros anos de vida os estímulos
cognitivos e afetivos são chaves para a formação sinápticas e redes neurais; e
que os primeiros cinco anos de vida constituem uma etapa crítica com múltiplas
interconexões sinápticas, em que se estabelecem vias de transmissão de
informação entre várias áreas do cérebro e que possibilitam um fluxo de
comunicação rápido e que favorece a aquisição da aprendizagem. Os
estímulos favorecem a formação dessas interconexões sinápticas e estas, por
sua vez facilitam o processamento de mais informações do meio.
É importante que haja reconhecimento dos profissionais que atuam com
a Educação Infantil que esta etapa é importantíssima para o processo de
aprendizagem, e que não haja banalização e falta de compromisso, pois muitos
dos fracassos escolares estão diretamente ligados a falta de vivências em
áreas importantes nesta faixa etária e que são consideradas o alicerce para
aprendizagens futuras.
36
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