AL-BIRUNI E O CÁLCULO DA QIBLA Priscila Lúcia Tartare (PROIC-UNICENTRO) Karolina Barone Ribeiro da Silva (Orientadora), e-mail: [email protected] Palavras-chave: Geometria, História da Matemática, Trigonometria Resumo: Este trabalho traz um dos resultados de um projeto de iniciação científica que teve como objetivos específicos compor um perfil biográfico do importante matemático do Islã, al-Biruni, e estudar algumas de suas contribuições para a Geometria e Trigonometria. Para compor este trabalho foi escolhida uma contribuição de al-Biruni para a Trigonometria e Geometria, determinadas por meio de pesquisa bibliográfica. Neste ramo ele desenvolveu estudos envolvendo o cálculo da qibla. Introdução Um estudo histórico da Geometria e da Trigonometria inclui um olhar sobre matemáticos do mundo islâmico como Abul-Wefa, Nasir al-Din al Tusi e Abu l-Rayhan Muhammad ibn Ahmad al-Biruni. Segundo Katz (1998, p. 268), inicialmente muitos destes matemáticos se envolveram no estudo de problemas de Geometria prática e mais tarde em aspectos teóricos da Matemática, como o postulado das paralelas de Euclides e o princípio de exaustão para a determinação do volume de sólidos. Contudo, apesar da importância dos matemáticos do Islã, muitas vezes os livros de Geometria e Trigonometria restringem-se apenas a mencionar contribuições de nomes não pertencentes ao mundo islâmico, como, por exemplo, Euclides de Alexandria, Tales de Mileto e Pitágoras de Samos. Diante do exposto anteriormente, justifica-se o interesse em realizar um estudo referente aos matemáticos do Islã, dando destaque a al-Biruni. Quanto ao interesse específico por al-Biruni, este se justifica principalmente pelo exposto por Lyons (2011, p. 115), que afirma ser al-Biruni o autor de um dos maiores tratados árabes de Geografia Matemática, A determinação das coordenadas de cidades (século XI). O foco do presente trabalho são as contribuições de al-Biruni para o cálculo da qibla, determinando cientificamente a maneira de uma pessoa se orientar para Meca, para onde devem voltar-se os muçulmanos a fim de fazer suas orações. Metodologia Anais da XVII Semana da Matemática 2 a 6 de setembro de 2013 - ISSN – 2177-658X Para determinar as contribuições de al-Biruni para o cálculo da qibla adotouse uma das modalidades de pesquisa mais comuns em história da matemática, a pesquisa bibliográfica. As fontes utilizadas foram Coutinho (2001), uma obra sobre geometrias não euclidianas e Katz (1998), um livro de história da matemática. Ainda foram consultadas obras específicas de Trigonometria e Geometria, contudo elas em nada contribuíram para os resultados a serem apresentados. Resultados e Discussão Meca e a atual Medina foram importantes centros urbanos da península arábica. Meca foi também um importante centro de peregrinações religiosas, onde por volta de 570 d.C. nasceu Maomé. Por motivos pessoais, Maomé se integrou às atividades comerciais da família, e na maior parte da sua vida foi condutor de caravanas, o que lhe permitiu entrar em contato com outros povos, culturas e religiões. Quando tinha 40 anos, ele teve visões do que acreditava serem mensagens de Alá, enviadas por meio do anjo Gabriel. Estas mensagens foram registradas em um livro chamado Alcorão. Após as visões, Maomé começou a pregar em sua cidade natal. Mais tarde, hostilizado pelos outros habitantes que viam naquele discurso monoteísta uma ameaça aos lucros obtidos com as caravanas que paravam em Meca para reverenciar ídolos locais, Maomé acabou fugindo em 622 d.C. para Medina. Ele tinha grande esperança de que sua peregrinação seria bem recebida pelos judeus daquela cidade. Fez várias tentativas de conquistálos, e, em uma delas, logo após sua chegada à Medina, adotou a prática judaica de dizer as orações diárias numa direção específica, conhecida em árabe como qibla. Entre os muçulmanos, a direção exata da prece assumiu uma grande importância religiosa, cultural e política. Consequentemente, o Islã sempre fez grandes esforços para definir e determinar a qibla e honrar a geografia sagrada centrada na antiga Caaba. Além das devoções diárias, o conhecimento preciso da qibla é necessário para o sacrifício de animais para a, para o enterro dos mortos e para o chamado à oração. A localização de Meca também é essencial para a hajj, peregrinação obrigatória que todo muçulmano que esteja físico e financeiramente capaz, deve fazer pelo menos uma vez na vida. Al-Biruni mostrou como determinar o qibla utilizando o teorema dos senos, bem como o teorema das quatro quantidades, ambos para triângulos esféricos, respectivamente enunciados a seguir. Teorema dos senos: Em um triângulo esférico ABC, em que , e são lados e , e são ângulos desse triângulo. Anais da XVII Semana da Matemática 2 a 6 de setembro de 2013 - ISSN – 2177-658X Teorema das quatro quantidades: Se e são dois triângulos esféricos com ângulos retos em e , respectivamente, e um ângulo agudo em (FIG. 1), então , em que , , ,e são lados dos triângulos. Figura 1 – Triângulos esféricos ABC e ADE. Fonte: KATZ, 1998, p. 278. O processo utilizado por al-Biruni para o cálculo da qibla é descrito a seguir (KATZ, 1998). Figura 2 – Início do cálculo da qibla. Fonte: KATZ (1998, p. 279) Suponha que M é a posição de Meca sobre a superfície da Terra (FIG. 2) e que P é a localização atual de alguém. Seja AB o arco que representa a linha do Equador, T o polo norte, TV um arco contido no meridiano sobre o qual se localiza P e TW um arco contido no meridiano sobre o qual está M. A qibla é, então, sobre a esfera terrestre. Assumindo que as latitudes PV = , MW = e as longitudes , de P e M, respectivamente, são conhecidas, então os arcos TP = e TM = são conhecidos e também = . Para calcular a qibla al-Biruni usou, repetidamente em uma série de triângulos, o teorema dos senos. Para ilustrar o uso do teorema, vamos utilizar P como sendo Jerusalém (latitude 31º47’N e longitude 35º13’L). Além disso, serão utilizadas as coordenadas de Meca: latitude 21º25’ e longitude 39º49’L. Seja KSQN o círculo do horizonte do ponto P (ou seu zênite local) visto de cima e M o zênite de Meca (FIG. 3). Anais da XVII Semana da Matemática 2 a 6 de setembro de 2013 - ISSN – 2177-658X Figura 3 – Construções adicionais para o cálculo da qibla. Fonte: KATZ, 1998, p. 280. Sejam S e N, respectivamente, o sul e o norte do horizonte de P. Os arcos PMK e NPS ajudam a determinar o arco NK, que representa a qibla. Para calcular a qibla devem ser desenvolvidos vários cálculos que consistem, resumidamente, em aplicar o teorema dos senos aos triângulos MTH, TFL e CFN, além de utilizar o teorema das quatro quantidades em relação aos triângulos FPI e FHJ Após estes cálculos é possível obter arco NK = arco CK + arco CN = 90º + 67º14’ = 157º14’. Portanto a qibla é 157º14’. Conclusões Al-Biruni deixou muitas contribuições para a Matemática. No que diz respeito ao cálculo da qibla contribuiu não só em Trigonometria e Geometria, mas também para a Geografia e a religião local. Espera-se que este trabalho faça com que o nome deste grande matemático do mundo árabe passe a ser mais conhecido e valorizado. Referências COUTINHO. L. Convite às geometrias não – euclidianas. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. KATZ. V. J. A history of mathematics: an introduction. – Addison Weslev, 1998. LYONS. J. A casa da Sabedoria: como a valorização do conhecimento pelos árabes transformou a civilização ocidental. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2011. Anais da XVII Semana da Matemática 2 a 6 de setembro de 2013 - ISSN – 2177-658X