INTERAÇÃO ENTRE EMBRIÃO, ENDOSPERMA E PERISPERMA

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64º Congresso Nacional de Botânica
Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013
INTERAÇÃO ENTRE EMBRIÃO, ENDOSPERMA E PERISPERMA EM
Nymphaea caerulea (NYMPHAEACEAE)
Eduardo J. Pereira Junior
1
1,2*
, Nelson S. Bittencourt Júnior
2
2
Instituto de Biociências de Botucatu IBB/UNESP, Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas de São José do
Rio Preto – IBILCE/UNESP.*[email protected]
Introdução
A coocorrência de um perisperma que atua como tecido
de armazenagem e um endosperma diminuto com função
de transferência nutricional para o embrião pode ser a
condição plesiomórfica para as angiospermas [1,2]. A
análise do desenvolvimento da semente de N. caerulea
Savigny fornecerá subsídios para corroborar ou não tal
proposição, assim como dados da interação entre o
embrião, endosperma e perispema em Nymphaeaceae.
Metodologia
Sementes em diversos estádios de desenvolvimento
foram fixadas em solução de formaldeído e glutaraldeído
em tampão fosfato e infiltradas em historresina. As
secções foram submetidas a testes histoquímicos e à
coloração com azul-de-toluidina O, e foram examinadas
em microscopia fotônica de campo claro e de Normarski
(DIC).
Resultados e Discussão
O endosperma de N. caerulea produz um haustório
unicelular que ocupa o que antes era a metade calazal do
ginófito. A primeira divisão transversal do zigoto origina
uma célula basal e uma célula apical. Neste estádio, as
células do perisperma estão repletas de amiloplastos
compostos, como os descritos para Barclaya Longifolia e
Nuphar lutea [3,4]. A célula apical passa por quatro
mitoses formando um proembrião linear com seis células,
e o perisperma passa a apresentar células binucleadas.
Posicionando-se lateralmente ao suspensor ocorre uma
estrutura persistente, que pode ser resultante da
descarga do conteúdo do tubo polínico em uma das
sinérgides. Verificou-se a formação de paredes verticais
tanto na célula apical como na célula imediatamente
inferior, assim como relatado para N. ampla [5], embora
não simultaneamente. No estágio globular, o embrião
apresenta um suspensor curto com quatro células sendo
uma delas a hipófise. Em secção longitudinal da
semente,
o
endosperma
possui
formato
aproximadamente circular e já possui grânulos no estrato
externo, que se coram intensamente de roxo pelo azul de
toluidina O. O haustório endospérmico já foi obliterado a
este tempo. A seguir o embrião assume formato piriforme,
com a porção afilada voltada para a micrópila e, tal
configuração é resultado do início da formação dos
cotilédones. Num estádio seguinte, a partir do
desenvolvimento do meristema apical caulinar, os
cotilédones
passam
a
apresentar
configuração
hemisférica, envolvendo o epicótilo. Dois primórdios
foliares originam-se em arranjo decussado em relação
aos cotilédones, o primeiro desses primórdios tem um
desenvolvimento acelerado em relação ao segundo, o
que dá a impressão de que este último consiste em um
apêndice lateral. O mesmo padrão foi descrito em B.
longifolia [3]. Na semente madura, os cotilédones, os
primórdios foliares e o meristema apical caulinar são
supridos por ramificações de um cordão procambial,
adversamente ao descrito para B. longifolia [3]. Na
maturidade da semente, o endosperma apresenta apenas
uma camada celular e está repleto de amplos grânulos
que se coram intensamente de roxo pelo azul de
toluidina. Tais inclusões citoplasmáticas ficam evidentes
com DIC, possuem natureza cristalina e não são positivos
para nenhum dos testes histoquímicos empregados. Tais
estruturas também são abundantes nos cotilédones e
podem tratar-se de grânulos de aleurona, tal como citado
para Trithuria submersa [1]. O endosperma e o embrião
também possuem amiloplastos, embora estes sejam
simples, estejam presentes em menor número e com
dimensões menores em relação aos encontrados no
perisperma. Um endosperma típico, ainda considerado
plesiomórfico para as angiospermas, que armazena e
transfere nutrientes para o embrião é relatado para
Trimeniaceae [2]. Em Hydatellaceae ocorre um
perisperma que funciona basicamente como tecido de
reserva e um diminuto endosperma que atua na
transferência de nutrientes para o embrião [1]. Uma
condição funcional intermediária foi observada em N.
caerulea, pois nesta o perisperma é o principal tecido de
reserva, mas não o único, uma vez que o endosperma e
embrião armazenam amido, e ambos também atuam na
transferência de nutrientes, visto que contêm grânulos de
aleurona. Tais resultados são condizentes com o
posicionamento filogenético de Nymphaeaceae em
relação às famílias citadas [6].
Conclusões
Os resultados confirmam a condição de perisperma como
principal tecido de reserva associado a um endosperma
reduzido, especializado na transferência de nutrientes,
como plesiomórfica para as angiospermas.
Agradecimentos
À CAPES pela bolsa de doutorado concedida ao primeiro
autor.
Referências Bibliográficas
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relationships between embryo, endosperm, and perisperm in
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2007. Hydatellaceae identified as a new branch near the base of
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