UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO TACIANA AMARAL MONTEIRO DE CARVALHO E SILVA CONTROLE DA DOR PERI-OPERATÓRIA Revisão de literatura CURITIBA - PR 2011 2 TACIANA AMARAL MONTEIRO DE CARVALHO E SILVA CONTROLE DA DOR PERI-OPERATÓRIA Revisão de literatura Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientador: Dr. Alexandre Schmaedecke CURITIBA Fevereiro/2011 3 TACIANA AMARAL MONTEIRO DE CARVALHO E SILVA CONTROLE DA DOR PERI-OPERATÓRIA Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais. COMISSÃO EXAMINADORA __________________________________________________ Alexandre Schamaedecke Orientador __________________________________________________ Prof. MSc. ou Dr. XXXXXXX Membro da Comissão __________________________________________________ Prof. MSc. ou Dr. XXXXXXX Membro da Comissão Curitiba, 14 de Fevereiro de 2011. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço, antes de tudo, aos meus pais, por me proporcionarem mais essa oportunidade, independente de qualquer coisa. Agradeço ao meu orientador, Alexandre Schmaedecke, pela paciência em me guiar em mais essa empreitada. Agradeço as minhas sócias que, em meio a tantos afazeres, me apoiaram e muitas vezes me cobriram no trabalho para que eu pudesse concluir esse projeto. 5 “Talvez, nunca paramos para pensar que um animal possa nos mostrar o segredo da boa vida: nunca se deter, nunca olhar para trás, viver cada dia com impulso, vivacidade, curiosidade e disposição adolescente. Eles nos ensinam a viver cada dia com alegria e exuberância desenfreadas, aproveitar cada momento e seguir o que diz o coração. E enquanto envelhecem e adoecem nos ensinam a manter o otimismo diante da adversidade. Principalmente, nos ensinam sobre a amizade e o altruísmo e, acima de tudo sobre a lealdade incondicional.” (John Grogan) 6 RESUMO A dor é um mecanismo de defesa, que quando não tratada pode desencadear hiperalgesia e sofrimento permanente. Portanto, faz-se necessário o reconhecimento e tratamento adequado da mesma como parte da cura de quadros mórbidos desenvolvidos em animais. O avanço da ciência do bemestar animal aguçou o senso crítico da necessidade de prevenção e tratamento da dor em animais. Para a analgesia ser eficiente é preciso ter um conhecimento básico sobre dor, como saber identificá-la, e classificá-la quanto à região de origem, curso e desenvolvimento. Esta classificação interfere diretamente no tratamento, e por isso seu conhecimento é fundamental para saber tratá-la. Essa monografia teve como objetivo fazer uma revisão sobre analgesia peri-operatória, abrangendo os fármacos utilizados, e fazendo uma pequena revisão sobre os mecanismos fisiológicos da dor. Por fim, existem vários protocolos de tratamento, cabendo ao médico veterinário utilizá-los da melhor forma possível, possibilitando o controle da dor e melhores condições de recuperação ao animal. Palavras-chave: dor, animais, analgesia. 7 ABSTRACT Pain is a mechanism of defense and it can unleash hyperalgesia and permanent suffering. Therefore it is necessary the acknowledgment and do the appropriate treatment as part of the cure in morbid picture developed in animals. The science progress of the animal welfare has sharpened the necessity of prevention and treatment of the pain in animals. To the efficiency of the analgesi it is necessery to heve a basic knowledge about pain, know how to identify it, and classificate as the origin, course and development. This classification interferes directly with the treatment, and therefore the knowledge is fundamental to know to treat it. This classification interfere directly on the treatment, therefore it is fundamental the knowledge to treat it. This study has as objective rewrite about the perioperative analgesi, including the drugs, and make a small revision about the physiologic mechanism of the pain. To conclude, there is many treatment protocols, the veterinarian knows the best way to use it, making possible to control the pain and a best recovery condition to the animal. Key- words: pain, animals, analgesi. 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................9 2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................................10 2.1 FISIOPATOLOGIA E CONCEITO DA DOR...................................................................10 2.2 MEDICAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA..................................................................................12 2.2.1 Agonistas de receptores α-2.............................................................................................12 2.2.2 Opioides............................................................................................................................14 2.2.3 Antagonistas dos receptores.............................................................................................17 2.2.4 Anestesia Preemptiva.......................................................................................................18 2.2.5 Antiinflamatório não esteroidal .......................................................................................19 2.2.6 Anestésicos Locais ..........................................................................................................21 2.3 MEDICAÇÃO TRANSOPERATÓRIA.............................................................................23 2.4. MEDICAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA.................................................................................24 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................26 REFERÊNCIAS........................................................................................................................27 9 1. INTRODUÇÃO A dor faz parte do cotidiano de qualquer ser vivo e é condição fundamental para sobrevivência. É uma qualidade sensorial de alerta para que os indivíduos percebam a ocorrência de dano tecidual e que estabeleçam mecanismos de defesa ou de fuga (TEIXEIRA, 1995). Esta é a dor é conhecida como fisiológica e tem função protetora (WOOLF; CHONG, 1993; GOZZANI, 1997). Por outro lado, quando a dor fisiológica não é tratada adequadamente após o dano tecidual, pode ocorrer a persistência do fenômeno, ativação de vias não envolvidas na mediação da dor em condições normais e que passam a contribuir para a nocicepção, fenômeno conhecido como alodinia, adicionado da redução do limiar de sensibilidade dos nociceceptores, fenômeno conhecido como hiperalgesia. Nestas situações a dor passa de sintoma de uma possível lesão tecidual à própria doença. Está bem documentado que a melhor forma de controlar a dor é prevení-la, para evitar a sensibilização periférica e central do sistema nervoso, esta última muitas vezes é irreversível, dada à dificuldade de tratamento (LUNA 2006). O tratamento e a prevenção da dor na medicina veterinária é uma prática que vem crescendo e se popularizando, com o objetivo de proporcionar maior conforto e bem-estar aos animais (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A evidência de que os animais sentem dor se confirma pelo fato que estes evitam ou tentar escapar de um estímulo doloroso e quando apresentam limitação de capacidade física pela presença de dor, está é eliminada ou melhorada com o uso de analgésicos. (LUNA, 2006). Além da consideração ética da supressão da dor, são comprovados os benefícios do uso dos analgésicos reduzindo o estresse emocional, não liberando substâncias deletérias para o organismo e facilitando a recuperação do paciente, reduzindo a mortalidade e a morbidade (ANDRADE, 2002). Esse estudo tem como objetivo fazer uma revisão sobre analgesia peri-operatória, abrangendo os fármacos utilizados, e fazendo uma pequena revisão sobre os mecanismos fisiológicos da dor. 10 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 FISIOPATOLOGIA E CONCEITO DA DOR Nas sociedades antigas, a dor sem outra causa aparente, como traumatismo, era atribuída à invasão do corpo por maus espíritos e como punição dos deuses, no entanto hoje sabe-se que a dor é originada da transformação dos estímulos ambientais em potencial de ação que, das fibras nervosas periféricas, são transferidos para o SNC. Os receptores nociceptivos são representados por terminações nervosas livres presentes em fibras mielínicas A- delta e a mielínicas-C, presentes na pele, vísceras, vasos sanguíneos e fibras do músculo esquelético. A atividade desses receptores é modulada por várias substâncias químicas denominadas algogêicas, liberadas em decorrência de processos inflamatórios, traumáticos e/ou isquêmicos. Tais substâncias são originadas de células lesadas, leucócitos, mastócitos, plaquetas e de moléculas livres nos vasos saguíneos. Entre as subtâncias algogênicas podem-se citar acetilcolina, prostaglandinas, histamina, serotonina, bradicinina, leucotrieno, substância P, tromboxana, fator de ativação plaquetária e íons potássio. O impulso nociceptivo gerado por esses receptores é, então, processado em várias lâminas da medula espeinhal, sendo os aspectos físicos da dor atribuídos a vias aferentes do tálamo que chegam ao córtex cerebral e as vias aferentes ao sistema límbico relacionadas aos componentes emocionais da dor. (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002) A IASP-International Association for the Study of Pain (Associação Internacional para o Estudo da Dor) conceitua a dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada com lesão tecidual real ou potencial. (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A dor pode ser classificada como aguda ou crônica. (NATALINI, 2007). A dor aguda é resultado de evento traumático, cirúrgico, ou infeccioso, de duração relativamente curta, mas que se não for tratada de modo adequado pode progredir para dor crônica (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). Segundo Fantoni e Mastrocinque (2002), a dor aguda tem caráter fisiológico, função de defesa e geralmente responde a medicação analgésica. Enquanto a dor aguda é o sintoma de alguma doença, a dor crônica é uma doença propriamente dita. Persiste após a lesão, e após 11 longos períodos (3 a 6 meses de dor contínua) parece tornar-se independente do estímulo que a gerou. Esse tipo de dor responde melhor a tranqüilizantes e psicotrópicos que é os analgésicos. (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002) Ao entender aos mecanismos fisiológicos da dor, pode-se compreender como os analgésico podem atuar: inibindo os impulsos aferentes no cérebro ou medula espinhal (como os opióides); interrompendo diretamente a condição do impulso (anestésico locais); ou previnindo a sensibilização do nociceptor que acompanha o processo inflamatório (intiinflamatório não esteroidais). (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002) Os processos dolorosos acarretam uma série de alterações fisiológicas que podem ser gravemente deletérias. A dor causa várias interferências nos eixos neuroendócrinos com aumento nos níveis de aldosterona (causando retenção de sódio e desbalanço hidroelétrolítico), cortisol (levando a hiperglicemia) e catecolaminas (responsáveis por alterações cardíacas como arritmias e aumento no consumo de oxigênio pelo miocárdio). Entre as alterações respiratórias, em animais com dor, podem-se citar variações no tônus muscular pulmonar, aumento nas concentrações de dióxido de carbono no ar expirado, atelectasias e, por conseqüência, hipoventilação, hipóxia (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002), pneumonia e até mesm distúrbio de coagulação, causando o aparecimento de tromboembolismo. Ainda dentro desde contexto, o efetivo controle da dor é associado com a redução da morbimortalidade pós-operatória e a alta hospitalar precoce. (SAKATA, 2001). Os processos da dor resultam em uma série de alterações fisiológicas como diminuição da ingestão de água e alimento, levando a perda de peso, catabolismo protéico e até desidratação. (ETTINGER; FELDMAN, 2004). 12 2.2 MEDICAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA O termo analgesia preventiva se refere à aplicação de técnicas analgésicas antes de o paciente ficar exposto a estímulos nocivos como, por exemplo, a invasão cirúrgica. (GREENE, 2004) Segundo Cortopassi e Fantoni (2002) os agentes empregados na medicação pré-anestésica (MPA) são úteis para preparar o paciente para a anestesia, promovendo sedação, analgesia, menor incidência de efeitos adversos, tornando o ato anestésico o mais agradável possível para o animal e também assegurando condições mais favoráveis para o trabalho de anestesia. A escolha do agente empregado dependerá de fatores como tipo de procedimento, presença de dor préoperatória, espécie animal, temperamento, doenças intercorrentes, estado do paciente e grau de sedação requerido. (FRAGATA; IMAGAWA, 2008) Os objetivos gerais da MPA são: promover sedação, analgesia e relaxamento muscular;diminuir as secreções das vias aéreas; diminuir a salivação; diminuir reflexos autonômicos, seja de origem simpática ou parassimpática; potencializar a ação dos anestésicos; coibir o 2º estágio da anestesia; suprimir ou prevenir o vômito e a regurgitação; diminuir a secreção e a acidez gástrica; promover indução e recuperação suaves de anestesia; reduzir o estresse; minimizar efeitos potencialmente tóxicos e adversos de drogas administradas conjuntamente e drogas utilizadas para produzir anestesia geral. (CORTOPASSI; FANTONI, 2002) De acordo com Tranquilli et al (2005) essa analgesia não consegue eliminar a dor pós-operatória, mas pode ajudar a evitar sensibilização dos sistemas nervos periféricos e centrais durante o procedimento cirúrgico. 2.2.1 Agonistas de receptores α-2 São chamados dessa forma, pois se ligam a agonistas dos receptores a-2 adrenérgicos no sistema nervoso central e periférico (WELSH, 2003). Os alfa-2agonistas produzem sedação, relaxamento muscular e analgesia (MUIR, 2007). São agentes sedativos clássicos, pois promovem sedação dosedependente. Esse efeito depressor promove a diminuição da liberação de norepinefrina central e perifericamente. Verifica-se, como conseqüência dessa 13 ação, diminuição da atividade simpática do sistema nervoso central, bem como redução da concentração de catecolaminas circulante e outros hormônios de estresse. Os efeitos de sua ação no sistema nervoso central incluem sedação, hipnose, relaxamento muscular, ataxia e analgesia. A analgesia é principalmente visceral. Esses agentes produzem sedação e relaxamento muscular bem tranqüilizantes mais pronunciados utilizados na que medicação outros agentes préanestésica sedativos ou (CORTOPASSI; FANTONI, 2002). Os fármacos pertencentes ao grupo dos agentes alfa-2-agonistas compreendem: xilazina, romifidina, medetomidina, clonidina e dexmedetomidina (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A xilazina é extremamente eficiente enquanto sedativa nos bovinos. Já em eqüinos, o efeito é imprevisível, podendo haver animais que não apresentam sedação adequada após a administração de doses usuais. A detomidina já promove excelente grau de sedação nos eqüinos, sendo amplamente utilizada nessa espécie. Infelizmente não é mais comercializada no país. A romifidina promove sedação menos intensa que a detomidina, mas é mais eficaz que a xilazina nessa espécie, podendo ser recomendada nas intervenções cirúrgicas na posição quadrupedal. A duração da sedação tem sido considerável uma das grandes vantagens quanto à utilização da romifidina. Já em cães, a xilazina é largamente empregada em associação a quetamina, para a realização de procedimentos cirúrgicos de pequeno porte. No entanto, nas associações convencionais normalmente se empregam doses elevadas de xilazina, cujos efeitos adversos cardiovasculares nem sempre são contrabalançados pela ação simpatomimética da quetamina. Uma forma de se evitar depressão respiratória, hipotensão e bradicardia promovidas pela xilazina, consiste em diminuir sua dose e associar fármaco opióide como butorfanol, morfina ou meperidina (CORTOPASSI; FANTONI, 2002), pois como Welsh, (2003), afirma, tanto a xilazina como a medetomidina são sinérgicas com opóides, portanto, doses menores de a-2-agonista podem ser usadas para sedação quando usadas em conjunto (WELSH, 2003). 14 2.2.2 Opioides Analgésicos opióides (analgésicos narcóticos) produzem seus efeitos farmacológicos pelas ligações específicas de receptores de opóides, localizadas primeiramente no sistema nervoso central (SNC). Apesar de inúmeras estruturas de receptores terem sido identificadas, as mais importantes parecem ser os receptores µ(mi), d(delta) e k(kappa), mais recentemente renomeados de receptores OP3, OP1 e OP2 respectivamente. Os opióides podem se ligar com um, dois ou todos os receptores, no entanto na prática o analgésico opióide mais comumente usado, são aqueles que mostram seletividade para os receptores µ (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007). Os opióides são clasificados de acordo com a magnitude dos efeitos que produzem. Eles podem ser agonistas puro, e.x. morfina, petidina, fentanil, metadona – drogas que podem produzir máximo efeito se administradas em doses amplas o suficiente. Eles podem ser agonistas parciais – drogas incapáveis de induzir a máxima resposta, independente da dose administrada, por exemplo buprenorfina. Eles podem ser mistos agonistas-antagonistas, indicando que eles podem ter atividade agonista com um tipo de receptor opióide e atividade antagonista com um receptor diferente (por exemplo nalbufina, antagonista µ e parcial agonista). O opióide antagonista, como a naloxona, não produz efeito quando aplicada sozinha, mas são capazes de antagonizar (FLAHERTY; (reverter) os efeitos MACGILLIVRAY, de drogas 2007). O com atividade significado agonista clínico dessa classificação é que opióides agonistas puros exibem uma curva quase linear de dose-resposta (por exemplo a dose pode ser aumentada para alcançar o grau de analgesia desejada), no entanto o agonista parcial e o agonista-antagonista alcança um grau de analgesia, o qual se aumentar a dose não consegue alcançar o efeito de analgesia (por exemplo há um limite de analgesia que pode ser alcançado), portanto, essas drogas são limitadas a casos de média a moderada dor. Para complementar, agonistas parciais e agonistas-antagonistas tem a habilidade de antagonizar os efeitos de agonistas puros. Finalizando, se um paciente recebeu um opióide agonista parcial ou um agonista-antagonista mas o alívio da dor é inadequado, simplismente aumentar a dose do agente original não conseguirá aumentar o grau de analgesia para um nível efetivo (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007). 15 A escolha do gente opióide para determinado momento da analgesia depende de fatores como período de latência, duração de ação e potência do fármaco (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A Morfina é o analgésico de escolha para a maioria dos processos álgicos em cães e gatos (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). Pertence a classificação dos opióides puros (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007), considerado um analgésico potente e bom sedativo, embora possa causar náusea e êmese após o uso pré-operatório. Pode causar liberação de histamina e hipotensão, o que se minimiza pela aplicação SC ou IM, ou ainda de forma lenta e diluída pela via IV. Pode também ser utilizada por aplicação epidural associada ou não com um anestésico local, produzindo analgesia de até 24h de duração (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A meperidina é um composto sintético com aproximadamente um décimo da potência gastrintestinais. analgésica Considerado um da morfina, excelente sem sedativo efeitos com adversos propriedades espasmolíticas, é indicado portanto, para dores viscerais, como por exemplo, as decorrentes de obstrução uretrais ou biliares. Do mesmo modo que a morfina, induz a liberação de histaminas quando administrada por via IV, evoluindo com hipotensão, sendo a via de administração de escolha a IM (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). O tramadol é um análogo sintético da codeína, considerado um opióide atípico por possuir duplo mecanismo de ação, bloqueando impulsos da medula espinhal por meio de ligação a receptores opiáceos e de ação monoaminérgicas, inibindo a recaptação de norepinefrina e promovendo liberação de serotoninas. A analgesia é semelhante a da morfina, com menor incidência de efeitos colaterais como êmese e depressão respiratória (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). Fentanil é um opióide agonista puro, com aproximadamente 100 vezes mais potência que a morfina (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007). No entanto é um analgésico de curta duração e curto período de latência, o que proporciona boa utilização no período transoperatório, em infusão contínua ou em repetidas doses em bolus. Esse agente não provoca liberação de histamina, nem hipotensão, mas pode porduzir apnéia e bradicardia, caso administrado de forma rápida pela via IV (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). seja 16 O butorfanol é um agente opióide de ação mista, agonistaantagonista, que pode antagonizar os efeitos de agonistas como morfina e meperidina, produzindo menor depressão respiratória. Proporciona melhor analgesia visceral que somática, e grande efeito sedativo em cães e gatos e possui efeito acima do qual soma-se apenas efeitos colaterais, sem maior produção de analgesia (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A nalbufina é um opióide agonista-antagonista, de potência semelhante à da morfina, e seus efeitos agonistas são revertidos em naloxona. Produz sedação em cerca de um terço dos pacientes tratados, podendo ser utilizada para a sedação e analgesia em pacientes com cardiopatias por não provocar aumento de pressão arterial ou da freqüência cardíaca (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A buprenorfina é um opióide agonista-antagonista de grande potência analgésica. Seu início de ação é observado após 30 min de aplicação IM e a duração é de aproximadamente 8h em seres humanos. É indicada para dor moderada a grave, no período pós-operatório, ou para dores decorrentes de câncer ou cólica renal. Apresenta eventos adversos como náusea, vômito e depressão respiratória (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). Naloxone é um opióide antagonista puro, o qual é usado para reverter os efeito tanto de agonistas completos como os parciais (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007). Fragata e Imagawa (2008), afirmam que esse opióide é de escolha para tratar efeitos depressores respiratórios dos demais opióides no período pós-operatório. Possui curta duração de ação, de 30 a 45 min, o que tornam necessárias doses adicionais de noloxone para manter o antagonismo aos agonistas opióides. É importante salientar que juntamente ao antagonismo à depressão respiratória, ocorre reversão da analgesia promovida pelo opióide. Alfentanila é um opióide agonista completo (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007), de menor potência que a fentanila e com menor duração de ação. Possui rápido início de ação e a vantagem de sua utilização é que em infusão contínua ou em repetidas doses não resulta em efeito cumulativo, como IMAGAWA, 2008). ocorre na administração da fentanila (FRAGATA; 17 A sufentanila é um análogo da fentanila muito potente. Possui maior duração de ação, com menor depressão respiratória quando comparada à fentanila. Possibilita indução mais rápida da anestesia, recuperação também mais rápida e menor tempo de extubação. Seu efeito adverso mais comum é a bradicardia (FRAGATA; IMAGAWA, 2008). A remifentanila é um opióide agonista completo, recentemente desenvolvido. É um agente extremamente curto com potência similar do fentanil, administrado por via intravenosa em infusão contínua durante a cirurgia. A maior vantagem do remifentanila sobre o fentanil e alfentanila é que é sintetizada pelo plasma não específico, e não é metabolizado e excretado nem pelo fígado ou pelo rim. Portanto não deverá haver acúmulo em pacientes com doenças hepáticas ou renais. O metabolismo da remifentanila é tão rápido que, mesmo após infusões prolongadas, a concentração plasmática cai para níveis subterapeuticos em minutos (FLAHERTY; MACGILLIVRAY, 2007). 2.2.3 Antagonistas dos receptores O N-metil D-aspartato (NMDA) é um aminoácido excitatório agonista do neurotransmissor, também aminoácido, glutamato. Os aminoácidos exitatórios (AEE) são neurotransmissores excitatórios primários do SNC que se ligam aos receptores, causando abertura dos canais respectivos, resultando em potencial pós-sináptico excitatório da célula (EPSPs), despolarizando a membrana neuronal, mediada pela entrada de cálcio (VALADÃO, 2002). O aumento da concentração do cálcio intracelular ativa proteases como a calpaína e a caspase, que destroem o citoesqueleto e o DNA cromossomal, iniciando a necrose (calpaína) e a apoptose (calpaína e caspase). Isto ativa também a fosfolipase A2 produzindo assim eicosanóides, iniciando a resposta inflamatória (BARTHOLDI; SCHWAB, 1997). A ativação da fosfolipase A2 desencadeia a produção de leucotrienos, tromboxanos, histamina e prostaglandinas. O aumento dos níveis de prostaglandinas causa o aumento da permeabilidade vascular e vasoconstricção ou vasodilatação. Ocorre também alteração da função plaquetária, que pode causar obstrução de vasos sangüíneos e liberação de serotonina (5HT – 5 hidroxitriptamina), a qual 18 também ativa a permeabilidade vascular, favorecendo a formação de edema (JANSSENS, 1991). A indução da sensibilização central requer um breve, porém intenso período de estimulação do nociceptor, como uma incisão cirúrgica, estímulos intensos provenientes de um nociceptor periférico após trauma tecidual, ou estímulo oriundo de neurônios sensoriais danificados após injúria nervosa. Quando os antagonistas NMDA são empregados preemptivamente, ou seja, antes que ocorra injúria tecidual, inibem a sensibilização periférica e o wind up na medula espinhal. O fenômeno de wind up mediado pelos receptores NMDA é a base para o interesse crescente em analgesia preemptiva, reduzindo a resposta inicial à dor aguda, prevenindo ou limitando tais alterações centrais (KLAUMANN, 2010). Cetamina e tiletamina são as fenciclidinas mais amplamente utilizadas em medicina veterinária e apresentam atividade antagonista não competitiva sobre o receptor NMDA. As doses de cetamina necessária para bloquear os receptores do tipo NMDA são consideravelmente menores que aquelas necessárias para induzir anestesia cirúrgica, o que explica por quê esse anestésico conserva propriedades analgésicas mesmo em doses subanestésicas (KLAUMANN, 2010). 2.2.4 Anestesia Preemptiva A analgesia preemptiva é uma das estratégias analgésicas utilizadas para o controle da dor pós-operatória, evitando a instalação da ensibilização e consequentemente dor crônica. A analgesia preemptiva é conceituada, atualmente como o tratamento antinociceptivo que revine o estabelecimento do processamento central alterado de impulsos aferentes de injúrias, estabelecendo um nível efetivo de analgesia, promovendo a inibição dos mediadores inflamatórios e bloqueio dos impulsos nociceptivos (CAMARGO, 2008). O uso da analgesia preemptiva tem como objetivo prevenir a hiperexcitabilidade reflexa neuronal que ocorre na medula espinhal em resposta aos estímulos oriundos nos nociceptores periféricos. A sensibilização 19 central quando estabelecida, é difícil de ser suprimida, prejudicando o controle da dor. A analgesia preemptiva é, portanto, uma das estratégias para controlar eficientemente a dor no período pós-operatório (CONCEIÇÃO, 1997). Existem muitas evidências que os analgésicos são mais eficientes quando administrados antes da cirurgia. A analgesia preemptiva reduz a sensibilização espinhal decorrente de um estímulo doloroso promovendo eficácia maior. Baixas doses de analgésicos podem ser administradas anteriormente a um estímulo doloroso, para que possam ser reduzidas as doses dos agentes anestésicos e consequentemente reduzidos seus efeitos depressores cardiorespiratórios. A combinação de técnicas analgésicas e anestésicos de maneira balanceada é capaz de melhorar a analgesia reduzindo efeitos colaterais que poderiam resultar do uso de agentes únicos isolados (MILLIS et al., 2006). Várias modalidades de analgesia preemptiva têm sido utilizadas sozinhas ou em associação. Analgesia regional e a analgesia por opióides têm sido estudadas extensivamente e comparadas com a analgesia induzida por agentes AINEs e antagonistas dos receptores NMDA. Enquanto grande quantidade de estudos experimentais sugerem que a analgesia preemptiva possui importante papel na redução da dor pós-operatória, estudos clínicos foram menos conclusivos (KISSIN, 2000). 2.2.5 Antiinflamatório não esteroidal O grupo dos AINEs está composto por fármacos com estruturas químicas diversas. Entretanto, é possível dividi-los em dois grandes subgrupos, os derivados carboxílicos, este se divide em: salicilatos (aspirina, ácido salicílico), os derivados antranílicos (flunixin meglumine, ácido tolfenâmico e ácido meclofenâmico), os profenos (carprofenos, cetoprofeno, naproxeno) e as indolinas (indometacina) o outro subgrupo é composto pelos enólicos que se encontram: oxicans (meloxicam, piroxicam, tenoxicam) e as pirazolanas (fenilbultazona, oxifenbutazona e ramifenazona) (OTERO, 2005). O principal mecanismo de ação dos AINEs ocorre através da inibição da enzima ciclooxigenase (cox), responsável pela conversão do ácido aracdônico 20 à prostaglandina e esta estimula os nociceptores no foco primário da lesão tecidual. Efetivos no controle da dor inflamatória e crônica, os AINEs podem promover efeitos colaterais como: úlceras estomacais, intestinais, distúrbios da coagulação, hepatoxicidade e nefrotoxicidade e o uso em conjunto com corticosteróides administração pode destes agravar fármacos, esses efeitos, somente deve sendo ser contra-indicado. feita nos A pacientes normovolêmicos para não induzir a nefrotoxidade (MATHEUS, 2005). Os AINEs tradicionalmente são usados no tratamento da dor aguda, tanto de origem traumática como cirúrgica. Sua capacidade para reduzir a concentração tecidual de autacóides contribui para evitar, tanto a sensibilização dos receptores periféricos, como a hipersensiblização central ao diminuir a ativação antidrômica das fibras nervosas e conseqüente liberação de substâncias algésicas no corno dorsal da medula espinhal. A administração desses fármacos reduz a intensidade da dor e a dose dos opióides, porém raramente promove analgesia completa e satisfatória após intervenções cirúrgicas, a menos que se trate de procedimentos menores (OTERO, 2005). A principal desvantagem de acrescentar esses compostos ao protocolo anestésico durante a pré-medicação é expor o rim a um dano potencial, caso ocorra uma hipotensão intra-operatória. Os AINEs diminuem a síntese de prostaglandina, as quais desempenham um papel preponderante na autoregulação do fluxo renal. Diante da diminuição desses prostanóides, a capacidade renal para evitar a hipoperfusão e a conseqüente hipóxia é menor. Os transtornos gastrointestinais (gastrite, úlcera e sangramento) são pouco freqüentes em tratamentos de curta duração. Os AINEs mais utilizados no tratamento da dor aguda são: cetoprofeno, meloxicam, etodolaco e carprofeno (OTERO, 2005). Os AINEs têm sido a base do tratamento farmacológico nos casos de dor crônica, especialmente a osteoartrose. O grande universo de compostos que forma este grupo torna difícil a escolha. Os resultados das observações permitem concluir que todos os AINEs apresentam eficácia semelhante no alívio da dor provocada pela osteoartrose, porém para um paciente em particular uma substância pode ser mais efetiva do que a outra. É provável que isto seja uma verdade ainda maior nas dores provocadas pelo câncer, em que os mecanismos de produção de dor podem ser muito diferentes de um paciente a outro (OTERO, 2005). 21 2.2.6 Anestésicos Locais A anestesia epidural é indicada para procedimentos cirúrgicos nos membros pélvicos, coxal, região anal, perineal e caudal (RAUSER et al, 2005; SKARDA, 1996), cirurgias retro umbilicais como, cesariana, ovariohisterectomia, redução de prolapsos, caudectomia, orquiectomia e osteossíntese em membros pélvicos (LUNA, 2005). Dentre as vantagens da associação de fármacos na anestesia epidural, destacam-se: redução do período de latência, potencialização dos efeitos anestésicos e analgésicos, redução dos efeitos colaterais decorrentes do uso isolado dessas drogas (CARVALHO; LUNA, 2007) redução de doses, e consequentemente, redução de toxicidade com a combinação de efeitos (CAVALCANTI et al, 2008). A associação de anestésico local e opióides é importantes, pois proporcionam analgesia potente e de longa duração (CAVALCANTI et al, 2008). A anestesia epidural, assim como outras anestesias regionais, tem sido erroneamente consideradas uma anestesia livre de efeitos deletérios e complicações, sendo, dessa forma, indicada para pacientes de risco. Entretando, seus efeitos cardiovasculares facilmente compensados em paciente hígido podem ser irreversíveis em paciente com alterções, sendo contraindicada nos casos de infecções no local da punção, hipovolemia, choque, distúrbios de coagulação, doenças degenerativas centrais ou periféricas e anormalidades que possam dificultar a técnica (MASSONE, 2002). Os fármacos epidurais de uso mais comum são a morfina, a bupivacaína, a lidocaína e a medetomidina (ETTINGER; FELDMAN, 2004). Os fármacos lipossolúveis, como os anestésicos locais e a medetomidina, exercem efeito predominantemente local e agem sobre a metade caudal do animal (ETTINGER; FELDMAN, 2004). Os opióides exercem efeito analgésico pela via epidural através de difusão nas meninges, ligando-se a receptores específicos no corno dorsal da medula espinhal (McMURPHY, 1993), produzindo analgesia sistêmica. A morfina, fármaco hidrossolúvel distribui-se por varias horas através de todo o canal espinhal. A duração da ação depende do fármaco, mas uma única injeção epidural de 50% de morfina com 50% de bupivacaína pode durar até 18 horas (ETTINGER; FELDMAN, 2004). 22 Injeções epidurais únicas são usadas principalmente para controlar a dor durante a cirurgia e no período pós-operatório imediato. A dor em animais com condições dolorosas progressivas como a pancreatite, traumatismo muscular, grandes ressecções tumorais em bloco costumam ser mais bem controlada com a infusão de fármacos nos segmentos espinhais que recebem os impulsos do local doloroso (ETTINGER; FELDMAN, 2004). 23 2.3 MEDICAÇÃO TRANSOPERATÓRIA A analgesia transoperatória tem como objetivo reduzir os estímulos dolorosos durante o ato cirúrgico e diminuir a dor pós-operatória, que produz efeitos sistêmicos indesejáveis e retarda a recuperação do paciente. O manejo da dor transcirúrgica inclui manobras anteriores e posteriores à incisão. As manobras pósincisionais incluem infusões contínuas de opióides, anestésicos locais e antagonistas NMDA (BASSO, et al, 2008). Estudo realizado por Trefiglio et al (2008), comparou o uso de fentanil por via epidural e sistêmica, onde concluiu que a via epidural de administração de fentanila é exeqüível, apresentando analgesia similar à via sistêmica, não influindo, no entanto, nos parâmetros fisiológicos, freqüência cardíaca e respiratória e pressão arterial média de forma tão significativa. O tempo de analgesia obtido pela via epidural de administração foi superior à via sistêmica, demonstrando a ação local deste opióide. Anestesia local já foi administrada para manejo da dor na medicina veterinária, no entanto, hoje em dia é a modalidade menos usada (EPSTEIN, 2010). Evidências estão apontando para os benefícios da lidocaína intravenosa em dores após cirurgias de tecidos moles em humanos e cães (GROUDINE et al, 1998; KOPPERT et al, 2004). A lidocaína intravenosa pode ser recomendada com segurança, e pode auxiliar na redução das doses dos opióides e outros analgésicos em cirurgias, traumas e pancreatites, na dose de 50 mcg/kg/min, em cães; essa infusão pode ser usada por 24-48 horas (GROUDINE et al, 1998; KOPPERT, 2004). Fórmulas com a combinação de morfina, lidocaína e cetamina em infusão contínua tem sido descrita em cães. Essa combinação é profundamente analgésica, sedativa, e é eficaz para a maioria dos pós-operatórios dolorosos (MUIR et al, 2003) 24 2.4. MEDICAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA A dor apresentada pelos animais em decorrência de procedimentos cirúrgicos é de natureza autolimitante, devendo ser tratada em média por 72h (FRAGATA; IMAGAW A, 2008), indivíduos que não recebem tratamento analgésico adequado após o ato cirúrgico, por exemplo, retardam sua recuperação de maneira significativa quando comparados com aqueles tratados. As feridas demoram mais para cicatrizar, o perfil imunológico encontra-se deprimido, predispondo o animal a sofrer complicações infecciosas, o sistema ventilatório promove uma troca gasosa inadequada, propiciando alterações na homeostasia corporal, o alto nível de catecolaminas que circulam nos indivíduos com dor é responsável por algumas das alterações hemodinâmicas que coexistem nestes pacientes assim como por desequilíbrio hormonais típicos, por exemplo a hiperglicemia. Os animais com dor demoram a alimentar-se corretamente e estão propensos à automutilação. Um controle inadequado da dor promoverá alterações no sistema de condução nervosa, ocasionando fenômenos de sensibilização que podem derivar em processos de dor crônica, rebeldes ao tratamento e com impacto negativo sobre o animal, atingindo dimensões às vezes superiores àqueles que originaram a decisão de uma intervenção cirúrgica. (OTERO, 2005). Portanto no pós-operatório, deve-se monitorar o paciente quanto ao comportamento normal (comer, beber, urinar e limpar-se), o que indica que o paciente não se encontra em dor intensa (CARROLL, 1996). A nomenclatura para a definição e a classificação da dor segue a determinação da International Asoociation for Studies of Pain (IASP).A dor pode ser classificada como aguda ou crônica (NATALINI, 2007). A dor aguda tipicamente surge do trauma de tecidos moles ou inflamação e está relacionada com um processo adaptativo biológico para facilitar o reparo tecidual e cicatricial. A hipersensibilidade na área da injúria (hiperalgesia primária), bem como nos tecidos adjacentes (hiperalgesia secundária) contribuem para que o processo cicatricial ocorra sem interferências (LAMONT; TRANQUILLI, 2000; MUIR III; GADAWSKI, 2002). Esse tipo é comum em animais limitando-se em 24 a 72 horas, é mais 25 fácil de se tratar e costuma ter boa resposta ao efeito analgésico. A dor aguda pode ser subdividida em somática e visceral (TEIXEIRA, 2005). A dor crônica persiste além do período esperado de uma doença ou injúria e tem sido arbitrariamente definida como aquela com duração maior que três meses. Pode manifestar-se espontaneamente ou ser provocada por vários estímulos externos (CARVALHO; LUNA, 2007). A resposta é tipicamente exagerada em duração, amplitude, ou ambas. A dor crônica além de simplesmente manifestar-se por um longo período de tempo, implica numa síndrome debilitante que possui um significante impacto sobre a qualidade de vida do paciente e caracteriza-se por uma resposta pobre às terapias analgésicas convencionais (LAMONT; TRANQUILLI, 2000). Conceitualmente a dor pode ser classificada de várias maneiras, em termos de curso, tipo de nociceptores envolvidos, resposta à terapia com fármacos analgésicos, dentre outras (LAMONT; TRANQUILLI, 2000). Os cães possuem diferentes comportamentos de acordo com a idade, o sexo e a raça, além da variabilidade individual, e por isso é difícil estabelecer uma definição aceitável para a dor; não somente para os animais como também para o homem. Conforme Wall (1994) e Matsuda et al, (1999), a dor no homem tem sido definida como uma interpretação subjetiva dos impulsos nervosos induzidos por estímulos periféricos aplicados no tecido. Os principais métodos de avaliação da dor envolvem o uso de escalas descritivas através de escores; a escala análoga visual é comumente usada na medicina humana já na medicina veterinária, para mensurar o grau de analgesia e sedação, escalas comportamentais podem ser adaptadas aos animais (HUSKISSON, 1974). Um exemplo de escala de dor é do autor Wall (1994), que observou reações como movimento, agitação, vocalização e postura. Além dessas reações, pode-se observar, ainda, a atitude do animal mediante a pressão adjacente à área de injúria cirúrgica concordando com Lascelles et al. (1994). Para diminuir a variabilidade entre os avaliadores, a avaliação deve ser feita por mais de uma pessoa (LASCELLES et al., 1994; NOLAN; REID, 1993). 26 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A administração de medicação analgésica no período pré, trans e pós operatório, de acordo com os estudos, é de fundamental importância para boa recuperação do animal após o ato cirúrgico, não importando a gravidade da intervenção, principalmente para a prevenção da sensibilização periférica central. É necessário que se estabeleçam protocolos de analgesia de acordo com as características de cada serviço, onde a resposta à terapia analgésica seja regularmente avaliada e documentada já que as condições dos pacientes são dinâmicas e a necessidade de analgésicos pode variar frequentemente. Para isso o conhecimento da anatomia, fisiologia e vias envolvidas no processo da dor otimiza o tratamento, uma vez que conhecendo as vias envolvidas pode-se atuar exatamente no local onde ela ocorre ou reflete. Por fim, existem vários protocolos de tratamento, cabendo ao médico veterinário utilizá-los da melhor forma possível, possibilitando o controle da dor e melhores condições de recuperação ao animal. 27 REFERÊNCIAS ANDRADE, S. F. Analgésicos. In:. Manual de terapêutica veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca, 2002. p. 77-86. BARTHOLDI, D.; SCHWAB, M. E. Expression of proinflammatory cytokine and chemokine mRNA upon experimental spinal cord injury in mouse: An in situ hybridization study. European Journal of Neuroscience,Oxford, v.9, p.1422-1438, 1997. BASSO, P. C., et al, Analgesia transoperatória em cães e gatos. Clínica Veterinária, n. 77, p. 62-68, 2008. CALVANTI, R. L.; CROSIGNANI, N.; NATALINI, C.C et al. 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