Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências da Saúde Curso de Farmácia Disciplina de Fitoquímica III – MB045 Estágio em Docência I - Mestranda: Mariáh BRANDALISE BARIL – Orientadora: Profª Drª Tomoe NAKASHIMA BIOSSÍNTESE DE METABÓLITOS VEGETAIS ORIGEM A biossíntese dos metabólitos vegetais constitui-se de um extenso processo bioquímico que se inicia com a fotossíntese, onde são produzidos os compostos orgânicos (açúcares) necessários à manutenção da vida do vegetal. A partir destes é que se dará a produção dos demais constituintes. Neste contexto, é importante diferenciar, quanto ao metabolismo: Metabólitos primários: Compostos químicos essenciais à vida vegetal: carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos nucléicos. Metabólitos secundários: Compostos provenientes do metabolismo primário. Embora não sejam essenciais à vida vegetal podem propiciar vantagens à sua sobrevivência. Ex: um alcalóide venenoso ou um tanino adstringente que evitam que a planta seja ingerida por algum predador. Além disso, estes podem exercem efeitos fisiológicos no ser humano quando testados em testes biológicos, podendo, desta forma, serem denominados de metabólitos bioativos, por apresentarem uma atividade biológica (ex: atividade analgésica, antiinflamatória, antimicrobiana). Portanto, tratam-se de potenciais substâncias bioativas, o que justifica o interesse no estudo destas estruturas. Como cada vegetal (classe, família e espécie) possui um característico arsenal metabólico os metabólitos secundários não serão iguais em todos vegetais. Fotossíntese Síntese de compostos orgânicos (açúcares) a partir de compostos inorgânicos (CO2 e H2O), utilizando energia (luz). 1 Neste processo, o gás carbônico é fixado na forma de moléculas de alto conteúdo energético, os açúcares. Isto ocorre por meio da sua redução através de reações que consomem NADPH e ATP, que são inicialmente sintetizados nas membranas dos tilacóides na fase clara da fotossíntese. Fase luminosa: Absorção de luz Formação de ATP, NADPH e O2. Ocorre na membrana dos tilacóides, por meio da absorção da luz pelos pigmentos fotossintetizantes, como a clorofila. Clorofila: absorção de fótons de luz solar elétrons excitados (salto de elétrons de nível de maior energia para de menor energia transporte de elétrons (complexo clorofila-proteínas especializado) reduções/oxidações (formação de ATP e O2). Fase escura: Redução do CO2 Formação de Açúcares. O NADPH e o ATP formados durante as reações luminosas fornecem energia para a redução do carbono Fase também denominada de Ciclo de Calvin, em que o CO2 e água são combinados com a ribulose-1,5-bifosfato, por intermédio da enzima RUBISCO (ribulose-1,5-bifosfato carboxilase/oxigenasse) formando 2 moléculas de 3-fosfoglicerato, as quais são reduzidas e convertidas a um açúcar de 3 carbonos, o gliceraldeído 3 fosfato. Este pode ser convertido à diidroxicetona fosfato (ambos açúcares) dos quais vão derivar os demais açúcares (de 4, 5, 6 e 7 carbonos). 2 ROTA BIOSSINTÉTICA DOS METABÓLITOS BIOATIVOS A formação dos metabólitos secundários bioativos ocorre a partir do metabolismo da glicose através de dois intermediários principais: ácido chiquímico e acetil-CoA. Existem metabólitos que ainda podem ser formados a partir destes dois compostos, por um via mista. 3 PRINCIPAIS CLASSES DE METABÓLITOS BIOATIVOS Via do Ácido chiquímico O ácido chiquímico é formado pela condensação de dois metabólitos da glicose: o fosfoenolpiruvato (glicólise) e eritrose-4-fosfato (ciclo das pentoses). O vegetal utiliza esta via inicialmente para a síntese dos aminoácidos aromáticos (triptofano, fenilalanina e tirosina). A partir da perda do grupo amino da fenilalanina e da tirosina há a formação de um importante composto, o ácido cinâmico. Este ácido é o composto que leva a formação de uma série de metabólitos secundários denominados de fenilpropanóides. 4 Dentro da classe dos fenilpropanóides têm-se as ligninas, lignanas e cumarinas, além de alguns aldeídos e álcoois que podem fazer parte de óleos essenciais. Os taninos, especificamente os hidrolisáveis, são outro grupo de compostos formados nesta via. São oriundos de um produto do ácido chiquímico, o ácido gálico, que unindo-se a unidades de açúcares leva a formação destes taninos. Ainda, a partir dos aminoácidos aromáticos pode-se obter os respectivos alcaloides, peptídeos, proteínas, entre outros. FENILALANINA TIROSINA ÁCIDO CINÂMICO Derivados do ácido chiquímico - Alcalóides Derivados do triptofano: alcalóides indólicos e quinólicos Ácido chiquímico corismato antranilato TRIPTOFANO Derivados da fenilalanina e tirosina: Protoalcalóides, alcalóides isoquinolínicos, alcalóides benzilisoquinolínicos FENILALANINA Ácido chiquímico 5 corismato Prefenato PROTOALCALÓIDE ISOQUINOLINA BENZILISOQUINOLINA Efedrina - Fenilpropanóides, Cumarinas, Lignanas e Ligninas - Taninos Hidrolisáveis Formados pela união de 2 moléculas de ácido gálico e/ou seus derivados com uma molécula de açúcar. 6 Via do Acetil-CoA Esta via é subdividida em 3 vias: Via do mevalonato Também denominada de via do isopreno. Nesta via ocorre a união de 3 moléculas de acetilCoA, com perda de um CO2, formando uma estrutura com 5 carbonos denominada de isopreno. Esta estrutura pode unir-se com outra molécula de isopreno, levando ao aumento da cadeia em números múltiplos de cinco. A partir destes compostos derivados do isopreno podem ser formados diversos metabólitos secundários como os componentes mono e sesquiterpenos de óleos essenciais, carotenoides, triterpenos, esteróides, componentes da borracha, entre outros. 2X AcetilCoA AcetoacetilCoA Ácido Mevalônico ISOPRENO ATIVO MONOTERPENOS SESQUITERPENOS DITERPENOS (10 C) (15 C) (20 C) - Óleos essenciais ou voláteis: monoterpenos e sesquiterpenos 7 - Saponinas: Saponinas Triterpênicas Saponinas Esteroidais - Heterosídeos cardiotônicos: núcleo originado do colesterol, pela ciclização do esqualeno. 8 Via do ciclo de Krebs Leva à formação de diversos aminoácidos não aromáticos e seus respectivos alcalóides. - Alcalóides Derivados da ornitina: pirrolidínicos, tropânicos e pirrolizidínicos Derivados da lisina: piridínicos, piperidínicos, quinolizidínicos Via dos policetídeos Provêm da condensação de moléculas de acetil-CoA. Esta pode ocorrer de maneiras distintas: condensação direta (sem redução) e ciclização, originando estruturas aromáticas, como por exemplo as antraquinonas. Ou então redução com desidratação levando à formação dos ácidos graxos. 9 Via Mista Esta via resulta de uma mistura de componentes da via do ácido chiquímico com componentes da via do acetil-CoA. Advêm desta via os flavonóides, que para serem sintetizados requerem um precursor da via do ácido chiquímico (4-cumaril-CoA), com um precursor da via do acetil-CoA (malonil-CoA), formando uma chalcona que é a unidade inicial, formadora dos demais tipos de flavonoides. Por esta via também se dá a síntese dos taninos condensados, por ligações de unidades de flavonoides, e também alguns tipos de antraquinonas. - Antraquinonas 10 - Flavonóides Unidade fenilpropanóide - Taninos condensados: formados pela condensação de unidades de flavonóides 11 Importância dos Metabólitos Bioativos Importância comercial Indústria farmacêutica: antiinflamatórios, analgésicos, antimicrobianos, antioxidantes Indústria de alimentos e cosméticos: conservantes, antioxidantes Importância para o vegetal Defesa contra herbívoros e micro-organismos patogênicos Proteção contra raios UV Suporte estrutural: lignina Pigmentos: antocianidinas Atração de polinizadores Fatores que influenciam a formação dos metabólitos secundários: Genético: diferenças na composição e/ou teor de metabólitos secundários em função da hereditariedade (Ex: composição do óleo essencial de espécies de Eucalyptus) Ontogênico: variação em função do estágio de desenvolvimento Ex: teor de morfina na Papoula - Pico de duas a três semanas após a floração - Se colhida antes apresenta outros alcalóides (tebaína e codeína) - Se colhida depois apresenta decomposição da morfina Ambiental: em função de condições climáticas, de nutrientes, entre outros. - Ex: Plantas produtoras de alcalóides apresentam concentrações mais altas desses compostos em regiões com solo rico em nitrogênio 12