QFL 2129 – Química Inorgânica Ana Maria da Costa Ferreira Aula 11 – Reatividade de Compostos de Coordenação Teorias de Ligação Compostos organometálicos Catálise 2014 Visible Light-Driven H2 Production by Hydrogenases Attached to DyeSensitized TiO2 Nanoparticles Erwin Reisner, Daniel J. Powell, Christine Cavazza, Juan C. Fontecilla-Camps, and Fraser A. Armstrong*, Inorganic Chemistry Laboratory, University of Oxford, South Parks Road, Oxford, OX1 3QR, United Kingdom, and Laboratoire de Crystallographie et Crystallogènese des Protéines, Institut de Biologie Structurale, J.P. Ebel, CEA, CNRS, Université Joseph Fourier, 41, rue J. Horrowitz, 38027 Grenoble Cedex 1, France J. AM. CHEM. SOC. 2009, 131, 18457–18466 Uso de complexo de rutênio como sensitizador para absorção de luz solar, tendo como consequência transferência de elétrons e produção de hidrogênio a hybrid (enzyme-TiO2) nanoparticle system for efficient and practical H2 production from sunlight. Hydrogenase enzyme and a synthetic ruthenium photosensitizer, co-attached to colloidal TiO2 nanoparticles 20μL of 1 μM [NiFeSe]-H [NiFeSe]-hydrogenase from Desulfomicrobium baculatum (Db [NiFeSe]-H) is identified as a particularly proficient catalyst 0.5 μmol 0.1 0.02 RuP controle [NiFeSe]-hydrogenase attached to Ru dye-sensitized TiO2, with triethanolamine as a sacrificial electron donor, produces H2 at a turnover frequency of approximately 50 mol H2 / s (mol total hydrogenase) at pH 7 and 25°C H2 production rate of 3.56 μmol / h 2 H+(aq) + 2 e- → H2(g) Visible light-driven H2 production with varying amounts of RuP (A) and Db [NiFeSe]-H (B) coattached to TiO2 (5 mg) upon visible light irradiation in TEA buffer (25 mM, 4.5 mL) at pH 7 and 25 °C. pH-dependent photocatalytic H2 evolution activity [NiFeSe]-H 100 μmol 5 μmol 1 μmol 0.2 μmol Ru(II) é oxidado a Ru(III) O complexo de rutênio(II) atua como um agente foto-sensitizador adequado (a suitable photosensitizer) , ligado ao TiO2 e atendendo a vários requisitos: (i) uma banda de absorção na região do espectro visível, (ii) Ligação estável ao TiO2 sob as condições experimentais usadas, (iii) Separação de cargas eficiente e (iv) Estabilidade com o tempo, frente a irradiação (long-term stability upon irradiation). Conteúdo 1. Teorias da ligação M-L: campo cristalino e campo ligante 2. EECL. Série espectroquímica. 3. Propriedades espectroscópicas e magnéticas 4. Reatividade de compostos de coordenação: estabilidade termodinâmica, compostos lábeis e inertes. 5. Reações de substituição de ligantes 6. Reações de transferência eletrônica Como se pode explicar as ligações em compostos deste tipo? Estruturas com esta apresentam diversos tipos de ligação/interação química: ligações covalentes, coordenativas, iônicas. Apresentam canais, espaços entre lamelas, que podem alojar outras moléculas, constituindo uma estrutura supramolecular, com propriedades interessantes do ponto de vista: catalítico, magnético, óptico, etc.. A partir delas, materiais funcionais têm sido obtidos. Estrutura eletrônica Dois modelos têm sido usados para entender a estrutura eletrônica dos complexos ou compostos de coordenação dos metais do bloco d. Teoria do Campo Cristalino (baseado na análise dos espectros de metais d no estado sólido) Teoria do Campo Ligante (aplicação da teoria de OM = orbitais moleculares) Teoria do Campo Cristalino O par isolado de elétrons do ligante é considerado um ponto de carga negativa que repele os elétrons dos orbitais d do íon metálico central. Observa-se um desdobramento dos orbitais d em grupos com energias diferentes. Através deste desdobramento pode-se justificar e correlacionar o espectro eletrônico, a estabilidade termodinâmica e as propriedades magnéticas dos complexos. Para explicar a ligação nestes compostos de coordenação, há várias teorias: a chamada teoria do campo cristalino, baseada em análises dos espectros de metais de transição no estado sólido, e a teoria do campo ligante, que surgiu da aplicação da teoria de orbitais moleculares. Cada uma delas visa compreender as características de estrutura e reatividades destes compostos. Considerando a forma e distribuição espacial dos 5 orbitais d do metal e sua inserção num campo octaédrico dos ligantes, percebe-se que três deles são mais estabilizados (têm energia menor, dxy dxz dyz ) que os outros dois (dx2-y2 dz2), direcionados exatamente para a ligação com os ligantes. Assim, há um desdobramento dos orbitais d, gerando orbitais da molécula, eg e t2g Como explicar a ligação formada entre o Ligante e o Metal ? Tem-se no íon metálico orbitais vazios e no ligante orbitais ocupados, com energia e geometria apropriadas para a interação ocorrer: Ligação Metal - Ligantes o Orbitais parcialmente ocupados no metal Orbitais ocupados dos ligantes Orbitais moleculares Considerando uma estrutura octaédrica, os ligantes se aproximam do íon central ao longo dos três eixos (X, Y, Z). Os orbitais d do metal, dz2 e dx2 – y2 sofrem maior repulsão eletrônica com relação aos ligantes que os orbitais dxy, dxz e dyz porque estão diretamente localizados no eixo da ligação. eg Tem-se um ganho em estabilidade dos orbitais t2g em relação aos orbitais eg. Este ganho é a chamada energia de estabilização do campo ligante (EECL) o t2g A diferença de energia entre os dois níveis é denominada energia de desdobramento do campo ligante (o) Ao contrário, numa estrutura tetraédrica, os orbitais d do metal, dxy, dxz e dyz é que vão sofrer maior repulsão eletrônica em relação aos ligantes que os orbitais dz2 e dx2 – 2 y t2 t e Em geral, o > t, isto é, a energia de desdobramento dos níveis num campo octaédrico é maior que num campo tetraédrico Energia de Estabilização do Campo Ligante (EECL) o Esta energia depende da estrutura geométrica do complexo Para estruturas diferentes podem existir mais de dois níveis de energia desdobrados t Tabela de energias (ou parâmetros) de desdobramento do campo ligante, o, para complexos octaédricos, ML6. Valores em cm-1 Íons Ligantes Cl- H2O NH3 en CN- 21500 21900 26600 10100 30000 d3 Cr3+ 13700 17400 d5 Mn2+ 7500 8500 Fe3+ 11000 14300 d6 d8 Fe2+ Co3+ (35000) 10400 (20700) (22900) (32800) (23200) (34800) (34600) (45500) Rh3+ (20400) (27000) (34000) Ni2+ 7500 8500 10800 (valores para compostos de baixo spin). 11500 ou parâmetro do desdobramento do campo ligante (o ou t) varia sistematicamente de acordo com a identidade do ligante. Para uma série de compostos [CoX(NH3)5]n+ , por exemplo, com X = CO32-, I-, Br-, Cl-, H2O e NH3 as cores variam de púrpura intenso até amarelo, indicando energia da transição eletrônica (igual a ) em ordem crescente ao longo da série de ligantes. Foi verificado que essa mesma ordem é seguida independentemente da identidade do íon metálico. É a chamada série espectroquímica: I- < Br- < S2- < SCN- < Cl- < NO2- < F- < OH- < C2O42- < H2O < NCS- < CH3CN < py < NH3 < en < bipy < phen < NO2- < PPh3 < CN- < CO Nesta série espectroquímica, um ligante que dá origem a uma transição de alta energia, como o CO, é chamado de ligante de campo forte, enquanto um ligante que origina uma transição de menor energia, como o Br-, é denominado ligante de campo fraco. A força do campo ligante também depende da identidade do íon metálico central, sendo a ordem crescente: Mn2+ < Ni2+ < Co2+ < Fe2+ < V2+ < Fe3+ < Co3+ < Mo3+ < Rh3+ < Ru3+ < Pd4+ < Ir3+ < Pt4+ Em geral o valor de aumenta com o estado de oxidação do metal: Co2+ < Co3+ e Fe2+ < Fe3+ Também se observa um aumento em quando se passa da 1ª. para a 2ª. ou 3ª. série de transição. Fe3+ < Ru3+ Propriedades Magnéticas São influenciadas pelos parâmetros de desdobramento do campo ligante ou pela EECL = energia de estabilização do campo ligante Fe3+ Fe 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d6 4s2 Íon d5 Complexos de alto spin (campo fraco) Todos os orbitais primeiro recebem um elétron cada um e só depois começa a haver emparelhamento de elétrons Complexos de baixo spin (campo forte) Os orbitais mais estabilizados recebem primeiro os pares de elétrons antes de serem preenchidos os orbitais de energia mais alta Ordem de preenchimento dos orbitais A escolha do ligante permite modular as propriedades do íon metálico Co 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d7 4s2 Co3+ Íon d6 paramagnético diamagnético Essa ordem de preenchimento dos orbitais, permitindo a classificação dos complexos em compostos de campo forte (spin baixo) ou compostos de campo fraco (spin alto) explica suas propriedades magnéticas. No exemplo acima, tem-se dois complexos de cobalto(III), [CoF6]3- paramagnético (com 4 elétrons desemparelhados) e [Co(NH3)6]3+ diamagnético (com nenhum elétron desemparelhado). Como se determina a EECL ? EECL = energia de estabilização do campo ligante Estrutura octaédrica Configuração eletrônica: EECL = (0,4 x – 0,6 y) o t2gx egy EECL = (no. elétrons nos orbitais mais estabilizados, x 0,4) - (no. elétrons nos orbitais menos estabilizados, y 0,6) spin baixo, EECL = (0,4 x 6 – 0,6 x 0) o = 2,4 o spin alto, EECL = (0,4 x 4 – 0,6 x 2) o = 0,4 o Para um complexo de estrutura tetraédrica, inverte-se: Estrutura tetraédrica Configuração eletrônica: EECL = (0,6 x – 0,4 y) t ex t2y EECL = (no. elétrons nos orbitais mais estabilizados, x 0,6) - (no. elétrons nos orbitais menos estabilizados, y 0,4) spin baixo, EECL = (0,6 x 4 – 0,4 x 2) t = 1,6 t spin alto, EECL = (0,6 x 3 – 0,4 x 3) t = 0,6 t Espectros de compostos de coordenação Em geral apresentam três tipos de bandas de absorção, atribuídas a: 1.Transições internas dos ligantes, com ∈ da ordem de 103 /104 M-1 cm-1 2.Transições de transferência de carga, com ∈ da ordem de 103 M-1 cm-1 3.Transições d-d, com ∈ da ordem de 10 a 100 M-1 cm-1 Caminho óptico Abs = ∈ b c ZnL + Cu2+→ CuL + Zn2+ 2.5 t=0 after 15 min 40 min 80 min 230 min 250 min 300 min 300 nm 2.0 Absorbance Absortividade molar Concentração da espécies absorvente 370 nm 1.5 1.0 0.5 0.0 379 nm isosbestic point at 328 nm isosbestic point at 409 nm -0.5 300 350 400 Wavelength, nm 450 500 As bandas de transferência de carga (TCML ou TCLM) originam-se de transições eletrônicas de elétrons em diferentes orbitais, sendo que um tem caráter predominantemente do ligante e o outro tem caráter predominantemente do metal. Este tipo de transição é identificada pela sua alta intensidade e pela sensibilidade de suas energias à polaridade do solvente. Exemplos: complexo max, nm , 103 M-1cm-1 Atribuição [Cu(isaepy)2](ClO4)2 242 247 260 300 (sh) 370 (sh) 15.9 15.2 8.3 4.8 2.8 TL TL TL TCLM TCLM [Zn(isaepy)Cl2] 206 242 248 300 379 410 21.0 28.0 25.0 7.0 1.0 4.7 TL TL TL TL TL TL Cores dos complexos Energia cor Td K[MnO4] permanganato Mn [Ar] 3d5 4 s2 Mn7+ [Ar] 3d0 4 s0 K2[CrO4] Cr [Ar] 3d5 4 s1 cromato Cr6+ [Ar] 3d0 4 s0 K[ClO4] Cl [Ne] 3s2 3 p5 perclorato Cl- [Ne] 3s2 3 p6 t2 e Mn7+ e Cr6+ - Há orbitais d disponíveis para serem preenchidos por e- dos ligantes Enquanto os ânions permanganato e cromato são intensamente coloridos, O ânion perclorato é branco. Mn e Cr apresentam bandas de TCLM. No Cl não existem orbitais d de valência (camada mais externa) e assim o perclorato não apresenta cor. Reações de compostos de coordenação A principal reação que pode ocorrer em uma espécie complexa é a substituição do ligante, que corresponde ao deslocamento de uma base de Lewis por outra base de Lewis. Y + ML MY + L onde L é o grupo de saída e Y é o grupo de entrada A substituição de mais de um ligante ocorre em etapas: [Fe(H2O)6]3+(aq) + SCN-(aq) [Fe(SCN)(H2O)5]2+(aq) + H2O(l) sendo K a constante de estabilidade ou de formação da nova espécie K = [Fe(SCN)2+(aq)]/ [Fe3+(aq)] [SCN-(aq)] Constantes de estabilidade ML M(aq) + L(aq) ML2 ML + L ML2 + L ML3 MLn + L ML(n+1) M + nL K = [ML]/[M] [L] [CoCl4]2- [Al(OH)4]COMPLEXO = [ML]/[M] MLn [L]n Essa constante de formação é uma medida da estabilidade termodinâmica da espécie complexa considerada. Espécies muito estável COR n ]+ incolor 1,6 x 107 [Ag(S2O3)2]3- incolor 2,0 x 1013 [Al(OH)4]- incolor 7,7 x 1033 [Cu(NH3)4]2+ azul escuro 1,2 x 1012 [CuCl4]2- Verde 2 x 104 [Fe(SCN)(H2O)5]2+ vermelho 1 x 102 [Fe(SCN)2(H2O)4]+ vermelho 1 x 103 [FeF(H2O)5]2+ incolor 2 x 105 [FeF2(H2O)4]+ incolor 6 x 109 [FeF3(H2O)3] incolor 1 x 1012 [Ni(NH3)6]2+ azul violáceo 5,6 x 108 [CoCl(H2O)5]+ Rosa 0,17 [CoCl2(H2O)2] Azul 1,7 x 10-3 [CoCl3(H2O)]- Azul 3,1 x 10-3 [CoCl4]2- Azul 8,8 x 10-3 [Co(SCN)4]2- Azul 1,8 x 102 [Ag(NH3)2 ⇄ Espécies pouco estável Série de Irving-Williams Esta série apresenta as estabilidades relativas dos complexos formados com íons divalentes, M(II), e reflete uma combinação dos efeitos eletrostáticos e de EECL. É relativamente insensível à escolha dos ligantes. Ba(II) < Sr(II) < Ca(II)< Mg(II) < Mn(II) < Fe(II) < Co(II) < Ni(II) < Cu(II) > Zn(II) V(II)< Cr(II) > Mn(II) < Fe(II) < Co(II) < Ni(II) < Cu(II) > Zn(II) Exemplo: log K1 para M + en ⇌ [M(en)] en = NH2CH2CH2NH2 Espécies Complexas Lábeis e Inertes HenryTaube 1915 – 2005 Prêmio Nobel de Química em 1983 A estabilidade termodinâmica é avaliada pela constante de estabilidade. Quanto maior Kf mais estável será a espécie formada. Já a estabilidade cinética pode ser avaliada pela chamada labilidade ou inércia. Este conceito está relacionado à velocidade de troca do solvente (H2O) na esfera de coordenação do metal central. H. Taube notabilizou-se por seus estudos sobre processos de substituição e de transferência de elétrons em compostos de coordenação. Para preparar novos complexos são usados complexos precursores lábeis, que rapidamente têm seus ligantes substituídos. Co(II) – íon lábil Co(III) – íon inerte Complexos que estabelecem rapidamente o equilíbrio de troca, são denominados lábeis. Os não-lábeis são chamados também de inertes. K+ +Na Rb+ Cs+ +Li Exemplos: Complexos lábeis, [Ni(H2O)6]2+ [Cu(H2O)4]2+ 2+ Be 2+ Ni 2+ Mg2+ Fe2+ Zn Cd2+ Hg2+ Complexos inertes, [Cr(H2O)6]3+ [Co(H2O)6]3+ 2+ 2+ Mn2+ Ca Cu Cr3+ 104 Al3+ 102 1 Co2+ In3+ 10-2 10-4 10-6 La3+ 10-8 10-10 Tempo de vida /s Tempos de Vida característicos para a troca de moléculas de água nos respectivos aqua-complexos. Reações de transferência de elétrons Reações de óxido-redução ou redox envolvem mudanças no estado de oxidação do íon central. Em geral essas reações são de cinética de segunda ordem: primeira ordem no agente oxidante e primeira ordem no redutor Velocidade de reação = v = k [oxidante] [redutor] Há dois tipos de mecanismos para essa transferência de elétrons: a) mec. de esfera externa b) mec. de esfera interna Pode-se imaginar que a transferência de elétrons se dê em 4 etapas: A + B ⇄ [A,B] pré-associação (difusão) (1) [A,B] ⇄ [A,B]# precursor ativado (2) [A,B]# ⇄ [A- , B+] separação de cargas (3) [A- , B+] ⇄ A- + B+ transferência do e- (4) Usualmente os precursores ou intermediários não são isolados, nem detectados. [CoIII(NH5)(H2O)]3+ + [FeII(CN)6]4- → [CoII(NH5)(H2O)]2+ + [FeIII(CN)6]3ket = 0,19 s-1 [CoIII(NH5)Cl]2+ + [FeII(CN)6]4- → [CoII(NH5)Cl]+ + [FeIII(CN)6]3ket = 0,027 s-1 Ao ocorrer a redução (ou a oxidação) há rearranjos na esfera de coordenação de cada íon metálico Muitas vezes, em reações de íons metálicos é importante também conhecer o mecanismo pelo qual a transferência de elétrons ocorre. Dependendo do mecanismo, tem-se uma equação cinética. A lei cinética da reação pode indicar o seu mecanismo. Por exemplo, num mecanismo de esfera interna, a etapa mais lenta (determinante da velocidade do processo) corresponde à formação do intermediário: [CoCl(NH3)5]2+ + [Cr(H2O)6]2+ + 5 H2O + 5 H+ ⇄ Co(H2O)6]2+ + [CrCl(H2O)5]2+ + 5 NH4+ V = k [CoL5(Cl)CrL5] = k1 Mecanismos Em solução, transferências de elétrons usualmente ocorrem por um mecanismo de esfera externa, onde uma mudança mínima na esfera de coordenação do íon metálico é observada. Apenas variações muito pequenas na distância M-L são perceptíveis. Essa transferência de elétrons pode ser rápida e a velocidade é proporcional à diferença nos potenciaispadrão dos dois pares de reagentes. Ex.: FeIIL6 / FeIIIL6 e IrIVL6 / IrIIIL6 FeIIL6 + IrIVL6 ⇄ FeIIIL6 + IrIIIL6 K = k1/k-1 Genericamente: Ox1 + Red2 ⇄ Ox2 + Red1 Transferência de elétrons por esfera externa Quanto mais favorável for o equilíbrio (> K), mais rápida será a reação. A transferência também pode ocorrer por um mecanismo de esfera interna. Neste caso a reação envolve uma mudança na composição da esfera de coordenação dos íons metálicos. Um exemplo clássico: [CoCl(NH3)5]2+ + [Cr(H2O)6]2+ + 5 H2O + 5 H+ ⇄ Co(H2O)6]2+ + [CrCl(H2O)5]2+ + 5 NH4+ O ligante cloreto (Cl) é transferido da esfera de coordenação do cobalto(III) para a esfera do crômio(III). O mecanismo envolve uma espécie intermediária, com o ligante formando ponte entre o cobalto e o crômio. A formação de uma espécie intermediária comprova o mecanismo de esfera interna. Transferência de elétrons por esfera interna Dependendo do ligante coordenado ao íon metálico, o potencial padrão de redução de um par M(n+1) / Mn+ pode ser bastante modificado. Exemplo: Fe3+/Fe2+ Eo = +0,77 V [Fe(phen)3]3+ + e- ⇄ [Fe(phen)3]2+ Eo = +1,15 V [Fe(bpy)3]3+ + e- ⇄ [Fe(bpy)3]2+ Eo = +0,78 V [Fe(CN)6]3- + e- ⇄ [Fe(CN)3]4- Eo = +0,358 V V3+/V2+ Eo = -0,255 V [V(phen)3]3+ + e- ⇄ [V(phen)3]2+ Eo = +0,14 V Obs.: Variações no potencial de redução podem ser importantes para a separação de metais por métodos eletrolíticos. Por que o ligante modifica o potencial de redução dos íons metálicos? Devido à diferente estabilização do íon metálico pelo ligante, dependendo do seu estado de oxidação. Potenciais Redox M.N. Hughes, The Inorganic Chemistry of Biological Processes, J. Wiley, 1972, p.144 Reação Eo,V Reação Eo,V [Cu(H2O)4]2+ + e- → [Cu(H2O)4]+ +0,150 [Fe(H2O)6]3+ + e- → [Fe(H2O)6]2+ +0,77 [Cu(im)2]2+/+ +0,345 [Fe(phen)3]3+/2+ +1,15 [Cu(NH3)2]2+/+ +0,340 [Fe(oxalato)3]3-/4- +0,02 [Cu(py)2]2+/+ +0,270 [Fe(oxima)3]3+/2+ -0,251 [Cu(phen)2]2+/+ +0,174 [Cu(2,9-dimetil-phen)2]2+/+ +0,594 [Cu(en)2]2+/+ -0,38 [Cu(gly)2]2+/+ -0,160 [Fe(cyt c)]3+/2+ +0,22 [Cu(ala)2]2+/+ -0,130 [Fe(Hb)]3+/2+ +0,17 [Cu(plastocianina)] 2+/+ +0,370 [Fe(Mb)]3+/2+ +0,046 [Cu(lacase)] 2+/+ +0,415 [Fe(HRP)]3+/2+ -0,170 [Cu(ceruloplasmina)] 2+/+ +0,390 [Fe(ferredoxina)]3+/2+ -0,42 Equação de Nerst: E = Eo - (RT / nF) ln K ∆Go = - n F Eo Ciclo termodinâmico Kred Mred(H2O)n + ∆Go = -nF nL ⇄ Eo MredLn + nH2O ELo Eo Mox(H2O)n + ∆GLo = -nF ELo nL ⇄ MoxLn + nH2O Kox ∆G1o + ∆G2o = ∆G3o + ∆G4o - nF Eo + (-RT/nF) ln Kox = (-RT/nF) ln Kred - nF ELo Portanto: ELo = Eo - (RT / nF) ln [Kred]/[Kox] ELo = Eo + (RT / nF) ln [Kred]/ [Kox] Se o ligante L estabilizar melhor a forma reduzida, a razão [Kred]/ [Kox ] aumenta, ln K aumenta e então o potencial ELo aumenta (fica mais positivo ou menos negativo que Eo) Se, ao contrário, o ligante L estabilizar melhor a forma oxidada, a razão [Kred]/ [Kox ] diminui, ln K diminui e então o potencial ELo diminui (fica menos positivo ou mais negativo que Eo) [Fe(H2O)6]3+ + e- → [Fe(H2O)6]2+ +0,77 V [Cu(H2O)4]2+ + e- → [Cu(H2O)4]+ +0,150 V [Fe(phen)3]3+/2+ +1,15 V [Cu(im)2]2+/+ +0,345 V [Fe(oxalato)3]3-/4- +0,02 V [Cu(gly)2]2+/+ -0,160 V Catálise Processo em que uma reação é acelerada pela presença de um catalisador, que favorece a ocorrência da reação promovendo maior contato entre os reagentes, em etapas energeticamente mais favoráveis. Catalisador acelera a reação, através de etapas alternativas, favorecendo a interação entre os reagentes. Diminui a energia de ativação do processo. Catalisador de vanádio na fabricação de ácido sulfúrico A etapa lenta (etapa determinante da velocidade de reação) é a conversão do SO2 em SO3. Efeito da presença de catalisador O catalisador promove etapas diferentes da reação, envolvendo menor energia de ativação. Com isto, a velocidade de conversão dos reagentes nos produtos aumenta. O catalisador não modifica os produtos da reação, mas providencia etapas com energias de ativação menores, mais acessíveis. Efeito do Catalisador Figura 1. Decomposição do H2O2 (a) na presença, (b) e na presença de catalisador. MnO2 H2O2 → H2O + ½ O2 Catálise por complexos metálicos Processo Monsanto Ciclo catalítico de carbonilação do metanol Muitos processos catalíticos utilizam complexos ou compostos de coordenação como catalisadores. Em muitos casos são usados comp. organometálicos: que apresentam ligação metalcarbono Tem-se um centro metálico com propriedades eletrônicas adequadas para promover transferências de elétrons (reações redox) e assim acelerar a obtenção de produtos desejáveis em condições mais brandas. Mecanismo proposto De maneira mais esquemática: Também pode ser usado catalisador de irídio (Ir), em vez do de ródio (Rh). Obtenção de ácido acético a partir de metanol CH3OH + CO CH3COOH Catalisador de cobalto para hidroformilação de um alceno Produto com 5 C Substrato com 4 C O ataque do CO ao substrato coordenado é facilitado RCH=CH2 + CO + H2 → RCH2CH2-CH=O Catalisador de titânio para polimerização do etileno polietileno etileno São exemplos para promover a formação de ligação C-C. Processo Wacker Reação global – obtenção de acetaldeído a partir de etileno Catalisador – PdCl2 Reação realizada em meio ácido (HCl), com coordenação do reagente etileno ao centro de Pd (composto organometálico) 2 CH2=CH2 + O2 → 2 CH3CHO Mecanismo de reação Pd metálico que deve ser re-oxidado (recuperado) Etapas de regeneração do catalisador Reações de óxido-redução Etapa (lenta) determinante da velocidade de reação Planejamento computacional de catalisadores sólidos Os catalisadores mais modernos são planejados Atualmente, procura-se planejar catalisadores com características previamente especificadas. A partir de uma determinada estrutura pode-se prever as propriedades eletrônicas, espectrais, magnéticas, que vão determinar a funcionalidade (atividade catalítica) do catalisador. As exigências para os processos químicos são cada vez maiores: • condições mais brandas, • menos produtos secundários, • uso de catalisadores ou processos “verdes”, • etc. Nature Chemistry 1, 37 - 46 (2009) Complexos com estruturas e propriedades (eletrônicas, espectroscópicas, magnéticas, etc.) peculiares tornam-se interessantes, para catalisar transferências eletrônicas. Transferências eletrônicas dependem do estado de spin do centro metálico. [(phen)2 FeII(CN)2 FeII(bpqa)2](PF4)4 H2O(CH3OH)2 O composto acima apresenta um estado de spin misto, com dois centros de alto (HS) e dois centros metálicos de baixo spin (LS) alternadamente, num cluster tetranuclear. Rod-shaped [Mn6] complexes as single-molecule magnets [Mn6(O2CCH3)6(EdeaH)2(tmp)2] (1) [Mn6(O2CCH3)6(mdeaH)2(tmp)2] (2) Reagentes: Mn(II) acetate N-ethyl diethanolamine (edeaH2), N-methyl diethanolamine (mdeaH2), Triethanolamine (teaH3) tris-hydroxymethyl propane (tmpH3) Intermolecular interactions in the crystal Reação em diclorometano (CH2Cl2) Há interação magnética entre os centros de Mn, com 4 deles no estado de oxidação (2+) e os outros 2 no estado (3+) Inorg. Chim. Acta 364 (2010) 46–54 Aplicações de compostos de coordenação em Catálise Catálise homogênea Na catálise homogênea todos os reagentes estão numa única fase. A interação entre os reagentes é favorecida, mas é mais difícil separar os produtos formados. Também fica mais difícil dirigir a reação, de modo a obter-se apenas os produtos desejados. Por exemplo, um determinado isômero. A reação é em geral não-específica. Na catálise heterogênea, ao contrário, há pelo menos duas fases presentes. O substrato pode estar na fase líquida ou gasosa e o catalisador na fase sólida. Assim, tanto o reagente (oxidante ou redutor, em se tratando de reação redox) co mo o substrato devem entrar em contato com a espécie cataliticamente ativa, para que a reação seja acelerada. Catálise heterogênea Catalisadores heterogêneos de uso prático são materiais com grande área superficial, que podem conter várias fases diferentes. Catalisadores de hidrogenação – facilitam a quebra da ligação H-H. O metal constitui um centro que interage com o substrato (substância que vai sofrer a reação) e o reagente, promovendo sua: • decomposição, • hidrogenação, • oxidação, etc.. Catalisadores automotivos O conversor catalítico de automóveis oxida CO e os hidrocarbonetos, e reduz os óxidos de nitrogênio e de enxofre: 2CO + O2 → 2CO2 2C2H6 + 7O2 → 4CO2 + 6H2O 2NO2 + 4CO → N2 + 4CO2 Catalisadores de redução: metais como paládio (Pd) e ródio (Rh), também em quantidades bem pequenas, convertem o óxido de nitrogênio em nitrogênio e oxigênio. Catalisadores de oxidação: metais como paládio (Pd) e platina (Pt) em quantidades bem pequenas (para manter o catalisador com preço baixo) convertem os hidrocarbonetos da gasolina não queimada e o monóxido de carbono em dióxido de carbono e água. Catalisadores que promovem a formação de ligações C-C Synthesis of carbon nanotube supported Pd catalysts and evaluation of their catalytic properties for C-C bond forming reactions Atualmente, um dos mais importantes desafios na síntese orgânica é o desenvolvimento de novos e eficientes catalisadores para a formação de ligações carbono-carbono e carbono-heteroátomo (N, O, P, etc.). Foi desenvolvido um catalisador de paládio, suportado em nanotubos de carbono. Estes nanocompósitos CNT-Pd promovem efetivamente a formação de ligações C-C com baixos teores de Pd (∼2.0%) Pd(dba)2 Pd Pd Journal of Molecular Catalysis A: Chemical 2010, 323, 28–32 Os CNT se apresentam como alternativa interessante para catálise e eletrocatálise, por apresentarem boa condutividade elétrica, alta resistência mecânica e durabilidade em condições adversas de uso. Além disso, apresentam altas áreas superficiais que facilitam a dispersão dos sítios catalíticos (Pd). Já foram descritos na literatura catalisadores CNT-metal suportado (ex., Pt, Pd, Au, Ru e Pt-Ru) com bom desempenho catalítico em diversas reações químicas: eletro-oxidação do metanol, hidrogenação seletiva, acoplamento Suzuki, oxidação de CO e hidro-desalogenação. O C Bis(dibenzilidenoacetona)paládio(0) Pd(dba)2 Pd C O dba = C6H5-CH=CH-C(=O)-CH=CH-C6H5 As nanopartículas, com tamanho de 3 a 10 nm, foram caracterizadas por TEM (microscopia de transmissão eletrônica, XPS (X-ray photoelectron spectroscopy) e espectroscopia Raman. Acoplamento de Stille em dioxano, substratos: 4-Iodotolueno C6H5SnBu3 Rendimento: 60% após 40h Em ambas as reações, o rendimento é bem maior usando como catalisador CNT-Pd Acoplamento de Hiyama em p-xileno substratos: 4-Iodotolueno C6H5Si(OMe)3 Rendimento: ~100% após 15h Richard F. Heck, Ei-ichi Negishi and Akira Suzuki on being awarded the 2010 Nobel Prize in Chemistry "for palladium-catalyzed cross couplings in organic synthesis". The Heck coupling is the palladium catalysed carbon-carbon coupling between halides and activated alkenes in the presence of a base. Richard F. Heck, Professor at the University of Delaware, The Negishi coupling is the palladium cross coupling reaction which uses an organozinc compound, and an organic halide to produce a new carbon-carbon covalent bond. Ei-ichi Negishi, Professor at Purdue University The Suzuki coupling is the palladium-catalysed cross coupling between organoboronic acids and halides. Akira Suzuki, Professor at Hokkaido University Referências: 1. J.C. Kotz e P. Treichel Jr. - Chemistry and Chemical Reactivity, Saunders College Publ., Fort Woeth, 1999, 4a. ed., cap. 23 – The transition elements. 2. Shriver & Atkins – Química Inorgânica, Bookman, 2008, 4a. Ed. (Tradução da 4a. ed. - Oxford Univ. Press, 2006 - D.F. Shriver, P.W. Atkins , T.L. Overton, J.P. Rourke, M.T. Weller e F.A. Armstrong), cap. 19 – Complexos dos metais do bloco d; cap. 20 – Química de coordenação: reações dos complexos 3. J.R. Gispert, Coordination Chemistry, Wiley-VCH, Weinheim, 2008, cap. 12 – Redox mechanisms, p. 377-402