Documento 766

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FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA
DISCIPLINA – OS-005 CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE
Professor Responsável: Prof. Fábio Luiz Mialhe
RESENHA 1
Oliveira, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. Cap. 1. A sociedade humana(pg 7 a 14). São
Paulo: Ática, 2010.
Este capítulo trata da sociedade humana e a convivência do ser humano em grupo. O
autor mostra que desde as suas origens, há cerca de 190 mil anos, o homo sapiens, só se
estabeleceu por meio do grupo. Ao longo do tempo, os seres humanos foram desenvolvendo
as características que diferem de outros seres vivos, como a capacidade de se comunicar com
seus semelhantes transmitindo sentimentos, idéias, interesses, emoções. A linguagem, forma
de comunicação criada pelos nossos ancestrais mais remotos, continua em vigor.
Exemplifica a necessidade da convivência em grupo para o desenvolvimento do ser
humano trazendo experiências de crianças abandonadas, isoladas totalmente do convívio
social. Cita a história de um garoto de aproximadamente 12 anos, encontrado na floresta de
Laucane, em 1797.
Cita o caso de Vitor de Aveyron, de aproximadamente 12 anos, encontrado na floresta
de Lacaune em 1797 e de Kamala e Amala, descobertas em 1921, que viviam entre viviam
entre lobos numa caverna na Índia. As duas experiências mostram que o ser humano só
adquire suas características pela convivência com outros seres humanos, por meio das
relações sociais sem as quais não existiria a humanidade.
Vitor de Aveyron foi educado pelo psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard que registrou
sua experiência no livro “A educação de um homem selvagem”, publicado em 1801.
Formulou a hipótese de que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata e
tem sua origem na falta de socialização do indivíduo e na ausência de comunicação,
principalmente a verbal, concluindo que o isolamento social prejudica a sociabilidade do
indivíduo.
A sociedade como objeto de estudo
Os seres humanos e suas relações sociais são objeto de estudo das ciências sociais.
Abrange diversas áreas de conhecimento, não havendo uma rígida divisão entre elas, porém
cada uma delas está voltada para um aspecto da realidade social e atuam juntas para explicar a
complexidade da vida em sociedade. Didaticamente, as disciplinas dividem-se em:
Sociologia, Economia, Antropologia, Ciência Política, Ciências do Comportamento etc.
O Método em Sociologia
Diversas categorias de análise são utilizadas como método científico, como as de
grupo social, classe, estratificação social, instituição, etc, além dos instrumentos de análise
como estudo de caso, análise comparativa, análise quantitativa e qualitativa.
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A sociedade como problema
Segundo o sociólogo Carlos B. Martins, a Sociologia pode ser compreendida como
uma “manifestação do pensamento moderno”. Assim, ela nasceu tardiamente e as reflexões
sistematizadas da sociedade surgiu com a Revolução Industrial, na Inglaterra, por volta de
1750. Surgiram os novos grupos sociais – a burguesia e o proletariado – e um novo tipo de
estrutura social: a sociedade capitalista.
A Revolução Francesa (1789) monstra os conflitos sociais e a divisão da sociedade em
grupos sociais antagônicos – a nobreza, a burguesia e os camponeses.A sociedade mudou
radicalmente por conta das relações conflituosas e tensas desses grupos.
A Revolução Industrial, com a criação da nova classe trabalhadora, o operariado,
provocou mudanças importantes como o crescimento das cidades, concentração de
trabalhadores em bairros e a degradação das condições de vida. Não havia saneamento básico,
as habitações eram insalubres, bem descrito por Carlos Martins, que observa as
consequências da industrialização e urbanização, aumento da prostituição, do suicídio, do
alcoolismo, infanticídio, criminalidade, surtos de epidemias etc. A inexistência de regras para
disciplinar o trabalho operário resultou em jornadas de quatorze a dezesseis horas, sem
descanso, férias remuneradas ou aposentadorias, trabalho infantil, péssimas condições de
trabalho.
Este ambiente propiciou a formação dos primeiros sindicatos na Inglaterra e em outros
países europeus, assim como surgiram pensadores para analisar os novos fenômenos sociais.
Somente no século XIX a investigação desses fenômenos sociais foi caracterizada
cientificamente, destacando Émile Durkeim, Max Weber e Karl Marx.
REFLEXÃO
O texto conduz para o entendimento acerca do ser social, mostrando que é impossível
tornarmos humanos sem a convivência em grupo, “sem o denso tecido das relações sociais”,
segundo o autor. Assim, é impossível entender o processo saúde-doença apenas pelo
conhecimento biológico. Devemos inserir
a dimensão social, cultural, psicológica,
econômicas, ambientais, políticas, podendo identificar uma interrelação quando se trata de
saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades.
A Reforma Sanitária pode ser vista como um movimento social da maior relevância e
que provocou mudanças profundas no sistema de saúde brasileiro, consagrado pela
Constituição de 1988, que criou o Sistema Único de Saúde.
A própria Lei Orgânica de Saúde n.8080/90 explicita os fatores determinantes e
condicionantes do processo saúde-doença, complementada pela Lei n.8142/90, que trata do
controle social, isto é da participação da comunidade.
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Como trabalhadora da saúde e gestora, este texto me conduziu à necessidade de
aprofundar o conhecimento sobre a influência das ciências sociais no cotidiano do trabalho.
Entender a complexidade das relações sociais, que “não são fixas nem imutáveis” e que essa
dinâmica transforma a sociedade, estimulando e interferindo nelas, me leva à reflexão do
modo como operamos a saúde no município de Ourinhos. Em que pese as dificuldades
diárias, este conhecimento certamente irá auxiliar a condução deste fazer.
Diariamente deparo com situações que remetem às formas de interação, sejam de
competição entre os profissionais de saúde, de poder na interação profissional-usuário, de
poder entre gestores. A relação profissional-usuário merece cuidado e necessita maior
reflexão e estudos. A equipe que desconhece as singularidades do sofrer de cada um, mesmo
em situações comuns a vários usuários, não deve reconhecer as Ciências Sociais como parte
integrante e indissociável do fazer em saúde.
Uma outra situação comumente vivida nas relações de interação, é a do poder político,
que na maioria das vezes é conflituosa. Um exemplo é a destinação de recursos financeiros
para a construção de unidade de saúde. Para implantarmos uma Unidade da Estratégia Saúde
da Família, é tão importante analisarmos o perfil epidemiológico, como também as condições
sociais , culturais, ambientais, etc o que torna o planejamento mais efetivo e eficiente. E
quando o financiamento da construção está determinado por uma emenda
parlamentar(socializado em seu reduto), não atendendo aos princípios estudados?
Esses e outros conflitos vividos diariamente me faz recordar parte de um texto lido há
alguns anos, de Eugênio Vilaça Mendes, quando descreve o “SUS como um processo social
em construção, e como tal de longa duração... há de se analisar o SUS com maior
objetividade, entendendo-o como processo em construção permanente que visa, a médio e
longo prazos a uma mudança do paradigma de atenção à saúde e a uma busca de um sistema
de saúde eficaz, eficiente, de qualidade e eqüitativo.”
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