ARTIGO A INFLUÊNCIA DO USO DO DILATADOR NASAL NA CAPTAÇÃO MAXIMA DE OXIGENIO Rodrigo Fialho ~ 0 1 , : Ronaldo Sergio Giannichi - RESUMO Com o crescente avanço da tecnologia e da cientificidade, diversos são os novos produtos que estão sendo incorporados ao meio da prática desportiva. Ultimamente, um destes recursos ergogênicos mais utilizados tem sido o dilatador nasal. Este estudo teve como objetivo analisar o parâmetro Captação Máxima de Oxigênio em 21 indivíduos submetidos ao teste máximo de esforço em esteira rolante durante duas situações: com dilatador x sem dilatador. No momento sem dilatador, foi utilizado um placebo para tentar evitar a queda de rendimento devido às influências psicológicas que poderiam vir a afetar a performance no teste. Utilizando-se posteriormente o tratamento estatístico Teste "t" de Student, foi possível inferir que não houve diferença significativa (P< 0,05) no parâmetro fisiológico Captação Máxima de Oxigênio em decorrência da utilização ou não de dilatador nasal. Palavras-chave: dilatador nasal, captação máxima de oxigênio. Fazendo uma breve retomada no tempo, podemos perceber o quanto nos afastamos do "ideal olímpico" preconizado pelo barão Pierre de Coubertin desde o renascimento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna em 1896 na cidade de Atenas, Grécia, até os dias de hoje. Antigamente, os Jogos Olímpicos simbolizavam a união, a confraternização dos povos. Era um acontecimento festivo, em que o sentimento predominante era o de participação. Com o passar dos anos, vem ocorrendo um sério estreitamento nas relações existentes entre o competir e o vencer. Nos dias de hoje, acima de participar, o que se deseja é conseguir alcançar o lugar mais alto do pódio. Atualmente, os Jogos Olímpicos tomaram-se uma grande vitrine para milhões de espectadores em todo o mundo. A cada quatro anos, atletas, empresas e países têm a chance de demonstrar para o mundo o seu trabalho, seus novos produtos, suas escolas de treinamento. Em busca de melhores resultados, o homem percebeu a importância da incorporação da cientificidade e da tecnologia aos seus métodos de treinamento. A cada momento são desenvolvidos novos recursos ergogênicos, com o intuito de incrementar a performance. .. * Licenciado e Bacharel em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa. Professor do Curso de Educacão Física da Universidade Federal de Vicosa. 46 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 Alguns destes recursos podem ser classificados como ilícitos, como a dopagem química por substáncias estimulantes, a dopagem sanguínea utilizando o próprio sangue do atleta e muitas outras formas obscuras de burlar as regras. Por outro lado, muitos são os produtos desenvolvidos com o objetivo de auxiliar o atleta a aumentar seu desempenho de forma legítima, sem infringir as regras da competição. Podem estar na trama de novos polímeros utilizados para fabricar tecidos que facilitem a dissipação do calor, em novos materiais que tornam os implementos mais leves e resistentes, ou, ainda, na fabricação de novos compostos aplicados aos calçados desportivos. Nos Jogos Olímpicos de Atlanta, Estados Unidos, em 1996, um desses artefatos despertou a atenção de muitas pessoas que acompanhavam a competição. Esse produto, o dilatador nasal, uma espécie de adesivo para ser fixado sobre as narinas, foi mostrado como uma forma de gerar incrementos de performance, principalmente nas modalidades de caráter predominantemente aeróbico. Portanto, este estudo teve como objetivo verificar o efeito do uso do dilatador nasal sobre a Captação Máxima de Oxigênio durante exercício máximo, realizado em esteira rolante. REMSÃO DE LITERATURA : I I Para melhor compreensão do referido estudo, resolveu-se dividir a revisão de literatura em dois niomentos distintos, correlacionados com o tema em questão, sendo o primeiro momento relacionado ao dilatador nasal e o segundo relativo a aspectos elucidativos da ventilação, permuta gasosa e transporte de gases. 1 O Dilatador Nasal 1.1 Origem Em 1995, o então piloto de Fórmula Indy, Jacques Villeneuve, chamou a atenção ao competir naquela temporada com um estranho e desconhecido adesivo fixado sobre as narinas. Passadas poucas etapas do campeonato, a curiosidade e o interesse dos jornalistas e adversários pelo pequeno dispositivo aumentavam. No ano seguinte, como pôde ser visto na Eurocopa, realizada na Inglaterra, e nos Jogos Olímpicos de Atlanta, Estados Unidos, o dilatador nasal tomou-se uma verdadeira "vedete" entre os competidores. No Brasil, sua introdução, em larga escala, pôde ser observada no Campeonato Paulista de Futebol, versão 1997, em que apenas três das equipes que participaram da competição não possuíam em seu elenco atletas que valiam-se deste recurso, sendo elas a Sociedade Esportiva Palmeiras, a Associação Esportiva Portuguesa de Desportos e o Santos Futebol Clube (KIMURA, 1997). R.min. Educ. Fls., Viçosa, 6(2):46-58, 1998 47 1.2 Composição e Aplicação O dilatador nasal é composto por duas finas tiras plásticas deformáveis envolvidas por uma espécie de adesivo acrílico. Ao ser pressionado sobre as narinas, as tiras plásticas moldam-se ao seu contorno, fixando-se assim sobre a superfície do epitélio. Ao retirar a pressão aplicada ao dilatador, ele tende a voltar a sua forma natural, e, como está aderido a pele, ao tentar retornar a posição original traz consigo a superfície das narinas, aumentando assim o diâmetro das cavidades nasais. Vale ressaltar que o dilatador nasal não apresenta nenhuma espécie de medicamento ou substância capaz de provocar a vasodilatação em sua composição (3M CORPORATION; 3M DO BRASIL - bula do fabricante). 1.3 Indicação do Fabricante O dilatador nasal é um produto importado, disponível em nosso país por intermédio de uma subsidiária do fabricante. Em sua bula de distribuição ele é indicado para os seguintes casos: I) aliviar os sintomas da congestão nasal; 2) facilitar a respiração provocada por entupimento nasal em decorrência de gripes, resfriados ou alergias; 3) facilitar a respiração provocada por problemas de desvio de septo nasal; 4) auxiliar a respiração noturna, dificultada em mulheres grávidas; e 5) auxiliar no tratamento dos distúrbios provocados pelo ronco durante o sono. O uso desse acessório pode incrementar em até 6% o fluxo de ar respirado por uma pessoa saudável (3M CORPORATION). 1.4 O "Marketing" do Dilatador Nasal Logo após seu aparecimento, começaram a surgir associações do uso de dilatador nasal para gerar incrementos de desempenho, principalmente nas provas de modalidades vistas como predominantemente aeróbicas, ou seja, onde há necessidade de grande aporte de oxigênio para produção de energia. Nestas condições, foram notórios os aumentos na utilização deste dispositivo por atletas e pessoas comuns com o hábito da prática de atividades físicas. De acordo com o fabricante, as pessoas que se utilizam do dilatador nasal em uma prática esportiva terão como benefício o aumento do fluxo aéreo captado pelas narinas durante o exercício (3M CORPORATION). 2 Ventilação, Permuta Gasosa e Transporte de Gases 2.1 Anatomia respiratória De acordo com DALLALANA et al. (1985), o sistema respiratório pode ser subdividido em duas partes: a) porção de condução, representada pelas vias aéreas e b) porção de respiração, representada pelos pulmões e alvéolos pulmonares. Este item visa descrever basicamente a anatomia do 48 R. min. Educ. Fis., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 aparelho respiratório. 2.2 Vias aéreas Além da condução do ar absorvido na atmosfera, as vias aéreas têm também, por função, promover uma espécie de condicionamento do ar à medida que este adentra o corpo, ou seja, ajustá-lo à temperatura corporal, filtrá-lo e processar sua devida umidificação (McARDLE et al., 1992; ASTRAND e RODAHL, 1980). 2.3 Pulmões Os pulmões são órgãos pares e de forma aproximadamente cônicas, localizados no interior da cavidade torácica. Em seu interior, existe intensa rede de ramificações constituídas pelos bronquíolos, estruturas que são continuações do brônquio principal. 2.4 Alvéolos Os alvéolos pulmonares são minúsculos sacos aéreos de paredes extremamente fínas que proporcionam a superfície vital de contato para as trocas gasosas entre os pulmões e o sangue (McARDLE et al., 1992). Estas trocas ocorrem através do processo de difusão (McARDLE et al., 1992; FQX et al., 1991; ASTRAND e RODAHL, 1980; GUYTON, 1977). - 2.5 Troca gasosa difusão Para manter o constante equilíbrio, o organismo realiza ininterruptamente o processo de permuta gasosa. Dessa maneira, o sistema circulatório fornece oxigênio para as diversas partes do corpo e traz consigo o gás carbônico proveniente do metabolismo celular, que deve ser eliminado. Este trabalho de troca gasosa somente é passível de realização em nível das membranas alveolocapilar e tecidual-capilar (McARDLE et al., 1992; FOX et al., 1991; ASTRAND e RODAHL, 1980; GUYTON, 1977) e é denominado difusão. Segundo FOX et al. (1 991), a difusão é um processo passivo em que ocorre movimento aleatório das moléculas - neste caso, de moléculas gasosas de uma área onde este gás possui maior concentração para outra de menor concentração. 2.6 Pressão parcial dos gases O ar que inspiramos é composto basicamente dos seguintes elementos: oxigênio (02), dióxido de carbono (C02) e nitrogênio (N2). Para efeito de estudo a respeito da troca gasosa, somente terão efeitos os gases oxigênio e dióxido de carbono. Apesar de existir em maior quantidade no ar atmosférico, o nitrogênio, sob condições normais de Ii R rnin.Edue. Fís., Vigora, 6(2): 46-58, 1998 49 pressão, é inócuo para o organismo, não influenciando o processo de troca gasosa. As moléculas de 0 2 e C 0 2 encontram-se separadas, dispersas no ar. Embora essa distância seja relativamente grande, o movimento aleatório destas partículas faz com que ocorram inevitáveis choques entre estas. A medida que aumenta o número de colisões entre as moléculas de um gás, sua pressão também aumenta em equivalente proporção. O termo pressão parcial significa a pressão exercida por cada gás que compõe uma mistura gasosa. "A pressão total da mistura representa a soma das pressões parciais de cada gás" (McARDLE et a]., 1992). Quanto maior for a coiicentração de determinado gás em um local ou mistura, maior a probabilidade de ocorrerem colisões entre as moléculas, elevando assim a pressão total ou a pressão parcial do gás. Para FOX et a]. (1991), "a pressão parcial de um gás numa mistura gasosa depende, pois, (1) da pressão total e (2) da concentração percentual desse gás; o mais importante fator que determina a permuta gasosa é representado pelos gradientes de pressão parcial dos gases implicados". 2.7 Troca gasosa nos pulmões O ar que adentra os pulmões proveniente da respiração apresenta em sua composição elevado teor de oxigênio (GUYTON, 1977). Ao chegar aos alvéolos pulmonares, esta elevada concentração de 0 2 favorece um aumento da pressão parcial de oxigênio (P02). Por outro lado, o sangue que retoma aos pulmões acaba de drenar os tecidos do corpo, de onde recolheu grande quantidade de dióxido de carbono. Esta maior concentração de C02 ocasiona aumento na pressão parcial de dióxido de carbono (PC02). Este aumento na P 0 2 em nível alveolocapilar faz com que o oxigênio seja difundido dos alvéolos para o sangue que irriga este tecido; em contrapartida, o sangue de retorno, que circula pelos capilares, apresenta elevada PC02,, ocasionando a passagem deste gás para os alvéolos, onde será eliminado para o meio externo (McARDLE et al., 1992; FOX et a]., I 991 ; ASTRAND e RODAHL, 1980; GUYTON, 1977). De acordo com WEINECK (1991), "para a troca de gases entre os alvéolos e sangue é decisivo a pressão parcial do oxigênio e gás carbônico, ao longo do qual o oxigênio é difundido para o sangue e o gás carbônico, do sangue, no ar alveolar". 2.8 Troca gasosa nos tecidos Bombeado pelo músculo cardíaco, o sangue arterial dirige-se aos tecidos do corpo (DALLALANA et a]., 1985). Ao penetrar pelos capilares que circundam as células do organismo, ocorre a passagem do gás oxigênio para as células, devido a alta taxa de P 0 2 no sangue e ao pequeno nível de P 0 2 nos tecidos. O oxigênio é utilizado pelas células na produção de energia (FOX et al., 1991). Nesse processo de oxidação celular ocorre a formação de resíduos metabólicos, no caso, o dióxido de carbono. Dessa maneira, a PC02 torna-se 50 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 alta nos tecidos e baixa no sangue arterial. As moleculas de C 0 2 serão difundidas então para o sangue, a fim de serem transportadas para os pulmões, onde terá início um novo ciclo. Para McARDLE et al. (1992), "são as diferenças de pressão entre os gases no plasma e nos tecidos que estabelecem os gradientes para a difusão". 2.9 Capacidade difusora e exercício C r I 1 i Ik Capacidade difusora pode ser definida como o volume de gás que se difunde através da membrana a cada minuto, para uma diferença de pressão de 1mmHg (FOX et a]., 1991; GUYTON, 1977). Quanto mais eficientemente se processar esta difusão, maior a quantidade de oxigênio disponível para os tecidos, como também torna-se mais eficaz a eliminação de resíduos provenientes da oxidação do 0 2 . MOREIRA (1996) relata que os maiores índices de difusão podem ser obtidos por meio de: a) aumento do débito pulmonar; b) aumento no número de capilares funcionais; e c) aumento do volume sanguíneo. Esses fatores listados anteriormente estão iiotadamente presentes em indivíduos possuidores de hábitos frequentes quanto à realização de atividades físicas regulares, sobretudo aquelas que englobam predominantemente a resistência (endurance). A idade e o gênero são outros fatores que intervêm na capacidade difusora, tornando-a menor com o avançar dos anos, seiido mais baixa em indivíduos do gênero feminino. Em condições de repouso, o sangue permanece nos capilares pulmonares e teciduais por cerca de 0,75 segundo (McARDLE et al., 1992; FOX et al., 1991). Durante um exercício máximo, o tempo de permanência nestes capilares é reduzido para cerca de 0,40 segundo (McARDLE et al., 1992). Porém, em ambas as situações o tempo máximo necessário para que ocorra completamente a permuta gasosa entre o oxigênio e o dióxido de carbono não ultrapassa a marca de 0,35 segundo (McARDLE et a]., 1992; FOX et al., 1991 ; GUY TON, 1977). Diante da realização de trabalhos musculares, a P 0 2 é reduzida consideravelmente nos músculos ativos, enquanto ocorre incremento na PCO2, em virtude do maior metabolismo nestas condições. A capacidade difusora aumenta em razão da intensidade do exercício, até ser atingido um limite máximo, em que novas progressões de esforço não acarretam variação na difusâo gasosa (FOX et al., 1991). 2.10 Transporte de oxigênio pelo sangue Após efetuada a permuta gasosa, o oxigênio é carreado pelo sangue de duas maneiras: a) em solução física, dissolvido na parte líquida (plasma) do sangue; e b) em combinação química (McARDLE et al., 1992; GUYTON, 1977). R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 51 Oxigênio dissolvido O gás oxigênio apresenta capacidade muito baixa de solubilidade (dissolução) em meios líquidos. Dessa forma, a quantidade de 0 2 transportada pelo plasma sanguíneo é bastante limitada. Em repouso, apenas 3% do volume total de oxigênio transportado é carreado desta forma. Em esforços máximos, esta quantidade, já bastante restrita, diminui ainda mais, alcançando valores entre 1,5 e 2% do total (McARDLE et al., 1992; FOX et al., 1991; GUYTON, 1977). Apesar de a quantidade assim transportada ser praticamente negligenciável para efeitos de troca gasosa, seu papel fisiológico é fundamental, pois cabe ao 0 2 dissolvido no plasma a função de manter os níveis necessários de pressão parcial de oxigênio no sangue arterial e venoso, fator essencial no controle dos mecanismos de regulação cardiorrespiratórios. Oxigênio em combinação química Além da parte líquida do sangue (plasma), encontram-se também em sua composição alguns elementos sólidos. Entre estes existem células denominadas hemácias, que têm inestimável importância para o transporte de oxigênio (JACOB et al., 1980). As hemácias são responsáveis pelo transporte de 97% do total de 0 2 carreado pelo sangue. Estas células possuem em seu interior moléculas complexas chamadas hemoglobina. Tais moléculas são constituídas por um pigmento protéico, a globina, e quatro grupos que contêm o elemento ferro, denominados grupo heme. Ao passar pelo processo de difusão, as moléculas de oxigênio combinam-se, em uma reação reversível, com as moléculas do grupo heme da hemoglobina. Cada molécula de hemoglobina é capaz de transportar quatro moléculas de 0 2 ao mesmo tempo. Ao chegarem aos tecidos carentes de oxigênio, esta ligação é quebrada e o 0 2 toma-se prontamente disponível para a troca gasosa tecidual-capilar. 2.11 Transporte de dióxido de carbono pelo sangue Efetivada a respiração celular, o dióxido de carbono deve ser eliminado para o meio externo. Seu transporte através do sangue também e executado em solução física (dissolvido no plasma) e em combinação química. C02 Dissolvido Da mesma forma que o oxigênio, o gás dióxido de carbono também é transportado em quantidades bastante restritas pelo plasma sanguíneo. Apenas cerca de 5% do total produzido é carreado em solução física. Novamente, apesar de ser pequena a quantidade assim carreada, é o C02, dissolvido no plasma, o responsável pela manutenção de níveis ideais R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2):46-58, 1998 32 de pressão parcial de dióxido de carbono para efetivação das trocas gasosas. (FOX et al., 1991). C02 em combinação química É em combinação química com o sangue que cerca de 95% do C02 produzido é encaminhado em direção aos pulmões, para serem exalados. Esse transporte pode ocorrer na forma de íons bicarbonato ou compostos carbamino (McARDLE et al., 1992). Ao ser difundido para o sangue, o C02 entra em contato com a água presente no plasma e no interior das hemácias. Essa associação gera uma reação química, formando um ácido fraco, denominado ácido carbônico (FOX et a]., 1991). De outra forma, quando o C02 difundido para o sangue entra em contato com a proteína existente nas hemácias, a globina, ocorre a formação de compostos carbamino (GUYTON, 1977). Tanto os íons bicarbonato como os compostos carbarnino são mantidos por ligações fracas e reversíveis. Ao chegarem aos alvéolos pulmonares, estas ligações são desfeitas e o dióxido de carbono pode então ser eliminado pelo organismo (McARDLE et al., 1992; FOX et al., 1991; GWTON, 1977). METODOLOGIA Este tópico visa a descrição dos procedimentos aplicados a este trabalho, com o propósito de atingir o objetivo proposto por este estudo. Modelo de estudo O presente estudo foi elaborado segundo modelo feito com grupo Único pré-teste, do tipo transversal (CAMPBELL e STANLEY, 1979). Seleção da amostra Os sujeitos envolvidos neste estudo foram indivíduos praticantes de atividades físicas aeróbicas de forma regular e que se dispuseram a participar do estudo. Estes apresentaram uma faixa etária compreendida entre 19 e 30 anos, totalizando 21 indivíduos (18 do sexo masculino e 3 do sexo feminino). Procedimentos metodológicos A estratégia de testagem consistiu em subdividir aleatoriamente a amostra total de 2 1 elementos em dois grupos (10 e 1 1 indivíduos). Cada grupo foi submetido a duas situações diferenciadas. O primeiro foi submetido ao teste Sem dilatador e depois Com o dilatador nasal. No R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 53 segundo grupo o trabalho foi inverso, ou seja, Com dilatador e depois Sem dilatador nasal. Independentemente do grupo, os sujeitos realizaram o exercício em uma esteira rolante a uma intensidade máxima. O período de duração do esforço poderia se prolongar por no máximo 24 minutos, podendo ser interrompido por solicitação do avaliado ou por serem atingidos os limites de segurança fisiológicos (MARINS e GIANNICHI, 1996; MASTROCOLLA, 1993; COLEGIO AMERICANO DE MEDICINA DESPORTIVA, 1987; MATSUDO, 1983). O intervalo entre as duas situações de testagem correspondeu a um período de 72 horas. Durante a aplicação dos procedimentos de testagem, foram monitorizadas e acompanhadas as seguintes variáveis: 1) freqüência cardíaca; 2) pressão arterial sistólica e diastólica; e 3) índice de percepção do esforço. Todas as variáveis fisiológicas foram monitoradas a cada três minutos de intervalo. Com o aumento progressivo na intensidade do exercício, também foram avaliadas a condição orgânica geral e a capacidade coordenativa do avaliado, através da observação do sujeito na sua interação com o ergômetro, no desenvolvimento do teste. Para a devida caracterização dos sujeitos da amostra, foi efetuado um levantamento antropométrico dos indivíduos antes da realização do primeiro trabalho (independentemente do grupo). Ao realizarem a testagem sem o dilatador, os sujeitos recebiam um adesivo tipo BAND-AID@moldado nas formas e dimensões de um dilatador nasal verdadeiro. A eles foi relatado que este 'dilatador' continha uma substância vasodilatadora que atuaria no seio nasal, promovendo maior oxigenação, fato este falso e inócuo, com finalidade apenas de evitar ou amenizar a pré-disposição psicológica de submeter-se ao exercício com um artefato tido como eficaz para aprimorar a performance. Os avaliados foram orientados em relação ao comportamento de prática de atividade física, repouso e alimentação antes da testagem. Esse procedimento foi necessário, para se evitar uma situação em que o sujeito se apresentasse nos dias do experimento em condições inadequadas, o que poderia vir a prejudicar o estudo. Instrumentação Durante a aplicação do tratamento experimental, foram utilizados.os seguintes instrumentos ou materiais: a) balança Filizola, para mensuração do peso corporal e da estatura; b) compasso de dobras cutâneas tipo HAPENDEN, para análise da composição corporal; c) cronômetro digital Cosmos, para monitorar o tempo de realização do esforço; d) dois cardiotacômetros da marca Polar, para monitorar a freqüência cardíaca; e) esfigmomanômetro e estetoscópio da marca Tycos, para mensuração da pressão arterial sistólica e diastólica; f) escala de Borg (O a 10), para mensvvfação do índice de percepção do esforço; Q dilatador nasal Breathe Right da marca 3M; h) curativo BAND-AID da marca Jolinson & 54 R. min.Educ. Fís., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 Johnson; e i) esteira rolante computadorizada da marca Ecafix modelo EG 700X, para realização do teste de esforço. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Para a análise dos dados foi utilizado o teste "tu de Student, a fim de se verificar a existência de diferença significativa com relação ao uso de dilatador nasal e à captação máxiina de oxigênio. A título de caracterização da amostra, foi realizado um levantamento antropométrico dos sujeitos (Tabela 1). Legenda: P - peso corporal, em kg. EST - estatura, em cm. TR -dobra cutânea triciptal, em mm. SE - dobra cutânea subescapular, em mm. SI - dobra cutânea supra-ilíaca, em mm. AB - dobra cutânea abdominal, em mm. %G - percentual de gordura corporal, expresso em %. GT gordura corporal total, expressa em kg. LBM - massa muscular magra, expressa em kg. DP - Desvio-Padráo. - R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2): 46-58, 1998 55 Com o objetivo de verificar a eficiência da utilização do dilatador nasal, foi realizado teste em esteira rolante, para mensuração da captação máxima de oxigênio, obtendo-se os resultados descritos na Tabela 2. Tabela 2 - Resultado geral do teste "t" de Student, aplicado na comparação das médias obtidas pelos sujeitos Com e Sem a utilização de dilatador nasal Sujeitos MBdia V02ml (kg. min) Desvio-padrão Teste "t" SEM dilatador 50,28 7,34 COM dilatador 50,96 7,23 - 0,30 P < 0,05. De acordo com a análise dos dados, através do teste "t" de Student, pode-se inferir que não existe diferença significativa, em nível de P < 0,05, na captação máxima de oxigênio quando da utilização de dilatador nasal pelos sujeitos. Apesar do uso de placebo, a fim de se evitar influência psicológica, que poderia interferir na performance durante o teste em esteira, a amostra foi dividida em dois grupos, em que o grupo 1 realizou o teste primeiramente Sem o dilatador nasal e, posteriormente, Com o dilatador nasal e o grupo 2 sofreu processo inverso, ou seja, realizou primeiramente o teste Com dilatador nasal e, depois, Sem dilatador nasal. Os resultados pertinentes aos dois grupos estão descritos nas Tabelas 3 e 4. Tabela 3 - Resultados do teste "t" de Student do grupo 1 (Sem o dilatador e, posteriormente, Com o dilatador nasal) Grupo 1 SEM dilatador Mtdia V 0 2 ml (kg. min) 49,08 Desvio-padráo 9,30 50,O 1 939 Teste "t" -0,22 COM dilatador P < 0.05. Tabela 4 - Resultados do teste '"t" de Student do grupo 2 (Com o dilatador e, posteriormente, Sem o dilatador nasal) Grupo 2 Média V02 ml (kg.min) Desvio-padrão Teste "t" COM dilatador 5 1,82 4,50 SEM dilatador 51,37 5,21 0,2 1 P < 0,05. Nota-se que não houve diferença significativa entre os resultados, independentemente da ordem de realização dos testes, Com dilatador / Sem dilatador x Sem dilatador / Com dilatador, em nível de P < 0,05. 56 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 6(2):46-58, 1998 Após a realização dos dois momentos de testagem, e de acordo com os dados obtidos, pôde-se inferir que não existe diferença significativa (P< 0,05) no parâmetro Captação Máxima de Oxigênio, utilizando-se ou não o implemento denominado dilatador nasal. Apesar de 17 sujeitos (80,96%), do total de 21 elementos da amostra, relatarem ao final dos testes que a facilidade em captar o ar era maior com o uso de dilatador nasal, essa maior disponibilidade de oxigênio não demonstrou maiores índices de performance. Provavelmente, essa percepção em relação a maior captação de ar se deve ao aumento no diâmetro das fossas nasais pelo uso de dilatador nasal, proporcionando assim maior fluxo de ar para o interior do organismo, como relatado pelo fabricante. Mesmo esse aporte extra de oxigênio foi insuficiente para promover melhora significativa na performance, pois, apesar de uma quantidade maior de ar disponível, pôde-se perceber que esta parcela a mais não conseguiu ser absorvida pelo organismo. ABSTRACT With the ahrance of the technology and scienke, severa1 producb are incorporated in the field of physical education. Recently, one these products is the Nasal Strip. The purpose of this study was to verljj the influency of this product in the V02,, in 21 subjects, submited to the test of VQ2,, in treadmill in two situations: with the nasal trip and without the nasal trip. In this last case aplacebo was used to eliminate the injluency of the psycologic factors. It was used a test "t " of Student to analyse the data. This stua'y found that there is no diference between the two moments of tests. Key Words: nasal trip, maximum oxigen uptake. ASTRAND, P. e RODAHL, K. Tratado de fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. CAMPBELL, D., STANLEY, J. C. Delineamentos experimentais e quase experimentais de pesquisa. São Paulo: EPU, 1979. COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA DESPORTIVA. Guia para teste de esforço e prescrição de exercício. Rio de Janeiro: Medsi, 1987. DALLALANA, E. M., FERREIRA, M. I., FRUTUOSO, R. A. M. et al. Anatomia para a Educação Física. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1985. R. min. Educ. 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