LACERDA, Antonio Corrêa de. Avanços e contradições da

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LACERDA, Antonio Corrêa de. Avanços e contradições da economia. O Estado de São
Paulo. São Paulo, 21 Março 2007. Acesso em: 21 mar 2007. Disponível em:
http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/21/eco-1.93.4.20070321.5.1.xml. JEL: E52,
E62, E23.
O atual momento da economia brasileira é contraditório. Ao mesmo tempo que fica patente
o fortalecimento da sua blindagem relativamente às turbulências internacionais, com a
melhora dos fundamentos macroeconômicos, a falta de aprimoramento nas políticas fiscal,
monetária e cambial rouba parcela expressiva do crescimento potencial da economia
brasileira.
A frouxidão do (des)controle dos gastos correntes e o excessivo conservadorismo na
política monetária, especialmente quanto à trajetória da queda dos juros, aliados à excessiva
valorização cambial, provocam estragos na geração de valor agregado local, em última
instância no Produto Interno Bruto (PIB), especialmente na indústria de transformação.
Há progressos importantes em curso. Os benefícios somente não se traduzem num
crescimento mais robusto e sustentável por causa dos fatores adversos das políticas
macroeconômicas. A redução da vulnerabilidade externa da economia brasileira, dada pelo
superávit consistente das contas correntes do balanço de pagamentos e o volume recorde de
reservas cambiais, permitiu a redução expressiva da percepção de risco externo. Há uma
evidente incongruência entre o cenário descrito e a relutância do Banco Central em manter
uma taxa de juros reais ainda cerca de quatro vezes a média dos países em
desenvolvimento.
As recentes turbulências internacionais a partir da crise nas Bolsas de Xangai têm gerado
maior instabilidade, que afeta o desempenho do mercado de capitais. No entanto, vale
destacar que nos últimos quatro anos a valorização das ações havia acumulado um
crescimento de 265%. Também favorecido pela liquidez mundial, o valor de mercado das
empresas de capital aberto no Brasil atingiu o nível recorde de R$ 1,5 trilhão, o equivalente
a 74% do PIB. Essa participação se restringia a apenas 38% no ano 2000.
A valorização dos mercados também viabilizou a formação de “bolhas”, cuja correção vem
provocando volatilidade. Mas as perspectivas continuam favoráveis. As captações no
mercado brasileiro, por conta principalmente das emissões de ações e debêntures, atingiram
R$ 109 bilhões em 2006 e deverão crescer mais 30% este ano. O ingresso de investimentos
estrangeiros e a pressão do mercado por mais transparência e regras de governança das
empresas também apontam para esse sentido.
A esse movimento se juntam os financiamentos realizados pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que, em 2006, atingiram R$ 52,3 bilhões,
representando um crescimento de 11,3% em relação ao ano anterior. As aprovações de
pedidos de financiamento chegaram a R$ 74,3 bilhões, 36,3% superiores ao ano anterior,
denotando um crescimento ainda maior dos financiamentos em 2007.
Outro fenômeno positivo observado é a expansão das emissões de empresas brasileiras na
Bolsa de Valores de Nova York (as ADR’s - American Depositary Receipts), que, em
2006, atingiram US$ 221 bilhões, praticamente o dobro do volume do ano anterior.
Todos esses fatores devem contribuir para uma ampliação significativa dos investimentos
nos próximos anos, eliminando gargalos da infra-estrutura e aumentando a capacidade
produtiva da economia. São alternativas de financiamento para viabilizar os projetos de
expansão das empresas, tanto no mercado doméstico quanto estratégias de
internacionalização.
Nesse sentido, as perspectivas futuras são bastante promissoras. A queda da taxa de juros
doméstica vai fomentar a migração das aplicações em renda fixa, melhorando o “apetite
para o risco”, assim como viabilizar a diminuição da relação dívida pública/PIB. Se o
cenário internacional continuar favorável, o que é provável, o Brasil obterá o “grau em
investimento” das agências de classificação de risco em alguns poucos anos.
Mas tudo isso não deve servir de estímulo ao imobilismo ou ao excessivo conservadorismo
nas políticas macroeconômicas. A Nação tem pressa. Apesar desses dados satisfatórios, há
uma cada vez mais visível deterioração social no País, em grande parte decorrente do baixo
crescimento econômico e da inação do Estado brasileiro.
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