1 PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO SERVIÇO DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA (SAE) DO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS ACERCA DE ADESÃO AO TRATAMENTO HIV/AIDS Linda Maira dos Santos Nunes1 RESUMO Este artigo surgiu do interesse em conhecer a percepção do profissional que trabalha com as pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA) acerca do que é a adesão o que leva uma pessoa que convive com HIV/AIDS abandonar o tratamento, uma vez que a sobrevida para as pessoa que fazem o uso correto dos retrovirais com o controle dos exames e consultas com os especialistas tem aumentado consideravelmente. Acreditase que este assunto perpassa pela questão da adesão que permeia a complexidade e subjetividade pertinente a problemática. Não pretendo esgotar e nem muito menos encontrar respostas a percepção acerca da adesão ao tratamento, mas de possibilitar a abertura de discussões inerentes a questão , que na maioria das vezes está relacionada a história do HIV/AIDS , ás condições culturais, as representações sociais que se formou e até mesmo na aceitação ou não do diagnóstico das pessoas que vivem com HIV/AIDS. Pensar na percepção do profissional acerca da adesão é fundamental, pois são eles os executores das políticas de saúde, que atuam diretamente com os usuários dos serviços, que chegam com toda a bagagem que carregam dentro de si. Entendem que adesão não se limita ao uso correto e adequado dos medicamentos antirretrovirais,, mas que acima de tudo é acolher, cuidar, ter uma escuta ativa e apreender a singularidade do ser que chega ao serviço com seus aspectos emocionais, sociais, culturais, econômicos e religiosos. Palavras-chave: Percepção; Adesão ao tratamento HIV/AIDS. Pessoa vivendo com HIV/AIDS (PVHA) 1 Assistente Social da Prefeitura Municipal de Itaúna (Serviço Municipal de DST/HIV/AIDS) Coordenadora e professora do curso de Serviço Social da Faculdade de Divinópolis (FADIV): Professora do Colégio Técnico CECON; Pós graduada em Saúde pública pela Universidade do Estado de Minas Gerais-Fundação Educacional de Divinópolis; Mestre em Educação, Cultura e Organizações sociais – linha de pesquisa: Saúde pública pela Universidade do Estado de Minas Gerais-Fundação Educacional de Divinópolis 2 INTRODUÇÃO Os estudos atuais acerca da realidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS tem apresentado mudanças consideráveis, acredita-se que ás mesmas tem a ver com os avanços do surgimento da terapia dos retrovirais, que trouxe consequências no aumento da sobrevida, do número de internações por causa das doenças oportunista e das taxas de mortalidades. A partir da Constituição de 1988, que estabelece que a saúde é direito de todos e dever do Estado, foi fundamentada nesse contexto em 1996 a lei nº 9.313/962 (BRASIL,1996), garantindo a distribuição gratuita dos medicamentos anti retrovirais do SUS. Desde então tem sido ampliado o acesso gratuito do diagnóstico do HIV e, consequentemente, ao tratamento da AIDS. Estima-se que existam no Brasil 630 mil portadores do HIV. Até dezembro/2009, 195.000 delas estavam em uso dos antirretrovirais (ARV). Anualmente, são aproximadamente 33.000 novos casos diagnosticados e notificados por ano. A infecção pelo HIV tem sido considerada de caráter crônico evolutivo e controlável, desde o surgimento da terapia antirretroviral (TARV) e da disponibilização de exames como CD4 e carga viral, para o monitoramento tanto do sistema de defesas, como da carga viral presente no sangue do paciente.. Tais avanços tecnológicos contribuíram de forma bastante positiva para a vida das pessoas que vivem com o HIV. O sucesso na luta contra a epidemia da AIDS no Brasil, traduzida pela queda do índice de mortalidade e morbidade a partir de 1996 é sustentado pela organização da rede de serviços, pela disponibilização de medicamentos antirretrovirais e pelas ações 2 Lei nº9.313/96- È de responsabilidade do governo a disponibilização do tratamento mais adequado aos pacientes infectados pelo HIV dentro de parâmetros técnicos e científicos definidos pelo Ministério da Saúde por intermédio do Programa Nacional de DST/AIDS. 3 de prevenção desenvolvidas, foi uma conquista do governo, da sociedade civil organizada e dos profissionais de saúde envolvidos com o enfrentamento da epidemia. A adesão ao tratamento se destaca entre os maiores desafios da atenção ás pessoas PVHA, uma vez que demandam de seus usuários mudanças comportamentais, o uso de medicamento por toda a vida, além da necessidade, por parte dos serviços de novos arranjos e oferta de atividades específicas de adesão. Nesse contexto, o trabalho dos profissionais de saúde se torna fundamental, onde a percepção que os mesmo tem de adesão se torna o chute inicial do desafio, sabe-se da importância de se trabalhar com acolhimento, criando vínculos e uma co-responsabilização, incluindo a rede familiar, que direta ou indiretamente contribuirá para o sucesso ou falha no tratamento. Diante da complexidade de assistência ás PVHA, que está intimamente relacionadas com as questões de cidadania e justiça , torna-se imprescindível a atuação do profissional de Serviço Social, juntamente com a equipe multiprofissional, que possa dar respostas ás múltiplas e complexas respostas ás necessidades biopsicossocial das pessoas com HIV/AIDS, buscando parcerias fora da esfera pública e de formação de redes de apoio. (NUNES, 2009:146) Os profissionais de saúde, por sua vez podem se valer da compreensão dos fatores que dificultam e facilitam a adesão, mediante a descrição por parte do próprio paciente de suas experiências, atitudes e crenças sobre a enfermidade e o tratamento, para ajuda-lo a compreender a importância da (TARV) e melhorar o comportamento de adesão (BRASIL,2010) Segundo Cheever, 1999, a relação estabelecida entre os profissionais de saúde envolvidos na assistência e as PVHA é de suma importância para o processo de adesão. A escuta ativa é um fator importante para a adesão e pode ser definida como uma relação com o usuário na qual o profissional “estimula” e acolhe o discurso do paciente, sem colocar juízos de valor (BRASIL,1997). Ouvir e valorizar o relato do usuário, fazer perguntas que estimule a expressão de seus conhecimentos, crenças e sentimentos, caracterizam o processo de escuta ativa. Ela representa o pilar para deflagrar o processo de adesão ao tratamento e exige uma construção permanente. 4 É importante consolidar uma parceria entre o profissional e o paciente para juntos criarem soluções para melhoria da adesão e a superação das barreiras. Ditar normas e condutas “receitas de bolo”ou aplicar pacotes prontos não tem se mostrado eficazes na prática. E importante que saibamos como cada profissional percebe a realidade em sua volta, em relação ao HIV/AIDS, e como lida com seus conceitos(significados) de sexualidade, AIDS, e como isto interfere nos preconceitos e estereótipos enraizados e até que ponto isto interfere na relação que se estabelece entre profissional e paciente. Fala-se muito em percepção, mas o que vem a ser este termo? Percepção Entender o que vem a ser percepção neste estudo é de suma importância, por se tratar de questões de caráter complexo e subjetivo. A maneira como o profissional compreende a subjetividade do sujeito, dentro do que significa a doença para ele, bem como o ambiente no qual está inserido, para que assim possa identificar suas necessidades e incentivá-lo a aderir o tratamento Para isso deve-se privar de pressupostos ou preconceitos, “não admitindo como válido nenhum juízo, se não for baseados na evidência, ou seja, nas experiências em que as próprias coisas e os estado das coisas se apresentam por si próprios” (PAVÃO, 1988:30). Para Ponty,1994:.14 “buscar a essência da percepção é declarar que a percepção é não presumida verdadeira, mas definida por nós como acesso a verdade”. Conforme Marilena Chauí (2000:153-154) “a percepção é uma conduta vital, uma comunicação, uma interpretação e uma valorização do mundo, a partir da estrutura de relações entre nosso corpo e o mundo”. Finalizando o conceito de percepção, o autor Merleau-Ponty em sua obra “Conversas” ainda destaca: O mundo da percepção, isto é, o mundo que nos é revelado para nossos sentidos e pela experiência de vida, parece-nos a primeira vista o que 5 melhor conhecemos, já que não são necessários instrumentos nem cálculos para ter acesso a ele e, aparentemente, basta-nos abrir os olhos e nos deixarmos viver para nele penetrar, Contudo, isso não passa de uma falsa aparência. (PONTY, 1994:1-2) Adesão ao tratamento HIV/AIDS Um vasto conceito de adesão pode ser identificado. Singularmente, adesão pode ser definida como “o comportamento de uma pessoa – tomar remédio, seguir uma dieta ou fazer mudanças no estilo de vida – que corresponde ás recomendações da equipe de saúde” (HAYNES, 1991). Essa definição parte de uma compreensão limitada, pois equivale á noção de obediência, ao ato de conformar-se ou acatar. Sugere que o esquema terapêutico prescrito não foi fruto de uma decisão compartilhada entre a pessoa e o profissional de saúde. Uma definição mais ampla e abrangente assinala que adesão; É um processo dinâmico e multifatorial que inclui aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais e comportamentais, que requer decisões compartilhadas e co-responsabilizadas entre a pessoa que vive com HIV, a equipe e a rede social .Deve ser entendida como um processo de negociação entre o usuário e os profissionais de saúde, no qual são reconhecidas as responsabilidades específicas de cada um, que visa a fortalecer a autonomia para o autocuidado. Transcende á simples ingestão de medicamentos, incluindo o fortalecimento da pessoa vivendo com HIV/AIDS, o estabelecimento de vínculo com a equipe de saúde, o acesso á informação, o acompanhamento clínico-laboratorial, a adequação aos hábitos e necessidades individuais e o compartilhamento das decisões relacionadas á própria saúde, inclusive para pessoas que não fazem uso de TARV. (BRASIL, 2010) A conduta de adesão pode ser considerada similar á aquisição de um hábito, informações são apreendidas e habilidades são adquiridas para incorporar o tratamento á rotina diária (TULDRA, WU, 2002). Os profissionais e equipe de saúde, por sua vez, podem se valer da compreensão dos fatores que dificultam e que facilitam a adesão, mediante a descrição por parte do próprio paciente de suas experiências, atitudes e crenças sobre a enfermidade e o tratamento, para ajuda-lo a compreender a importância do TARV e melhorar o comportamento de adesão. (RUSSEL. et. al., 2003) 6 O tratamento da Aids inicia-se antes mesmo do desenvolvimento da síndrome. A terapia anti-retroviral (TARV) é administrada ainda no período de infecção do HIV, na intenção de controlar a replicação do vírus. Embora a terapêutica antiretroviral esteja em constante evolução, a adesão ao tratamento tem sido um problema recorrente. O comportamento relacionado ao tratamento anti-retroviral é sustentado por conceitos, conhecimentos e explicações originados na vida cotidiana das pessoas que vivem com HIV. Esses conhecimentos, denominados representações sociais, são compartilhados, oferecendo ao indivíduo a possibilidade de dar sentido ao seu comportamento. As dificuldades de adesão em HIV/AIDS decorrem, em parte, da complexidade da TARV, na medida em que alguns medicamentos precisam ser ingeridos com alimentos, outros em jejum, ou em seqüências temporais combinadas com outros medicamentos, o que exige organização e compromisso do paciente em relação ao seu tratamento. Outra barreira importante refere-se à presença de efeitos colaterais. Nestes casos, tomar a medicação pode representar uma situação aversiva por causa da ocorrência de consequências adversas e desconfortáveis. A ocorrência de lipodistrofia3, por exemplo, constitui-se em grande desafio, tanto para as pessoas HIV+ quanto para as equipes de saúde. Ao lado dos fatores de natureza biomédica que influenciam os níveis de adesão e os resultados da TARV, aspectos psicossociais suscitam o interesse de pesquisadores e profissionais de saúde. Duas variáveis investigadas têm sido o suporte social e o enfrentamento (coping). Singet et al. observaram que a satisfação com o suporte social e a utilização de estratégias de enfrentamento comportamentais ativas estiveram associadas à adesão em amostra de pacientes HIV+. Os pesquisadores verificaram ainda que a não adesão esteve relacionada a sentimentos de desesperança e a estratégias de enfrentamento de esquiva. 3 Lipodistrofia . Alteração nas gorduras corporais, especialmente. em pacientes soropositivos, caracterizada por concentração de gordura em certas partes (rosto, abdome, nuca) e escassez em outras (pernas, braços, nádegas). : http://aulete.uol.com.br/lipodistrofia#ixzz2NBTMxbc9 acessado em 10/03/2013 7 Pesquisas mostram que mesmo falhas ocasionais na adesão à TARV podem limitar os benefícios do tratamento. Paterson et al. reportaram que 81% dos pacientes com 95% ou mais de adesão obtiveram níveis de carga viral abaixo de 400 cópias/ml, em uso de esquemas que incluíam inibidores de protease. Entre os pacientes com 80% a 90% de adesão, apenas a metade obteve redução satisfatória da carga viral. Estudos reforçam esses achados ao concluir que os efeitos máximos desejados do tratamento anti-retroviral são obtidos quando se alcança, no mínimo, 95% de adesão às doses prescritas A qualidade da interação profissional de saúde-usuário pode ser definida como a capacidade de se criar uma relação de cooperação entre ambos. Programas que favorecem o estabelecimento da vinculação entre profissionais de saúde e usuários dos serviços têm melhores níveis de adesão ao tratamento, segundo estudos com outras clientelas . Paiva et al. destacaram que a complexidade da adesão aos ARV decorre das modificações na vida cotidiana pelo uso diário dos medicamentos. Os autores apontaram que os efeitos colaterais (náuseas, enjôos, mal-estar), bem como as dificuldades de comunicação entre pacientes e profissionais de saúde são de grande relevância na adesão. Em HIV/AIDS, a relação com o usuário deve caracterizar-se por uma postura de acolhimento, para o atendimento de demandas específicas e sua participação no planejamento e decisão acerca do seu próprio tratamento. Metodologias de análise Este estudo teve como cenário a Policlínica Municipal de Divinópolis4, onde funciona dois órgãos responsáveis pelo atendimento de usuários portadores do Vírus HIV/AIDS: SAE (Serviço de Atendimento Especializado) e o CTA (Centro de testagem e Aconselhamento). 4 A cidade de Divinópolis está localizada na região Centro Oeste mineiro a cerca de 110 Km da capital do Estado, Belo Horizonte. Possui aproximadamente 220.000 habitantes; a sua economia gira em torno da indústria confeccionista e guzeira. 8 Os atores foram os profissionais que trabalham no SAE. .Este serviço funciona desde Agosto de 1996, sob a responsabilidade da equipe interdisciplinar, formada por 03 infecctologista, 01 enfermeira, 01 assistente Social, 01 psicológo, 01 farmacêutica, 01 enfermeira, 02 auxiliares de enfermagem. O SAE de Divinópolis atende atualmente 56 municípios da região. Com um nº aproximado de 1000 usuários. Foi utilizado como instrumento de coleta de dado um questionário semi estruturado. (Vide apêndice nº01). Responderam o mesmo 07 profissionais, veja no quadro abaixo a discriminação dos investigados bem como o tempo que trabalham no SAE e se já participaram de alguma capacitação para atender os usuários do serviço. Tabela nº 01 Dados do profissional Discriminação profissão Tempo trabalho SAE Se teve capacitação Psicóloga 04 anos Não Auxiliar Enfermagem 03 anos Não Farmacêutica 08 anos Sim Auxiliar de enfermagem 03 anos Não Assistente Social 03 anos Não 08 meses Não 17 anos Sim Infecctologista Psicólogo Dados da pesquisa/2013 Conforme tabela acima, apenas um profissional tem menos de um ano que trabalha no serviço e a maioria não tiveram capacitação para desenvolverem seus trabalhos junto ás PVHA. Quanto à percepção de adesão ao tratamento das PVHA 9 Para efeito didático de apresentação dos dados e respeito ético, optamos quanto a identificação do profissional em numera-los: profissional nº 01, 02, 03...)Ás respostas semelhantes não foram colocadas “ Entendo por adesão, quando de fato o paciente adere ao tratamento, ou seja, toma os medicamentos nos horários certos, quantidade indicada, realiza os exames solicitados e comparece ás consultas com periodicidade necessária ao tratamento”.( Profissional nº 01) “ A descoberta da doença deixa o indivíduo revoltado, receioso, infeliz, apreensivo, duvidoso e até alguns perdem a fé em Deus. Depois do susto vem a certeza de que é irreversível então a solução é aceitar e tratar, alguns ficam tempo demais no período das incertezas...” (Profissional nº02) “ ...importa em mudança de comportamento, adesão deve extrapolar a compreensão focada apenas nos medicamentos e sim numa rede de assistência especializada para dar suporte ás dificuldades que aparecem” (Profissional nº05) “Adesão é um construto multidimensional, complexo, dinâmico e multifatorial, que envolve não somente aspectos do paciente, mas do profissional, do serviço, da família e da sociedade.”(Profissional nº06) De acordo com as respostas dos sujeitos da pesquisa, apenas um percebe a adesão de forma limitada, conforme Haynes,1991 conceitua, os demais percebem a complexidade da adesão ao tratamento,destacando a dinamicidade do processo em construção tanto do profissional, como do usuário do serviço e dos múltiplos fatores interligados no mesmo. Acreditam na adesão que não está focada apenas no uso correto dos medicamentos, mas que começa na aceitação do diagnóstico, que implica em mudança de comportamento em relação a doença, a si próprio, a família e a sociedade em geral. .E a partir do que percebem a adesão, reflete nos fatores que tanto podem facilitar como podem dificultar a adesão ao tratamento, pelas PVHA. Quanto aos fatores que dificultam a adesão ao tratamento pelas PVHA Encontramos vários fatores que dificultam a adesão ao tratamento, pata facilitar a compreensão das respostas, enquadramos ás mesmas em 03 pontos de vistas; do paciente do serviço, da família/social, ás quais vão ao encontro do que Singt et al observaram quanto aos aspectos psicossociais da não adesão 10 No que se refere ao ponto de vista do paciente, falta aceitação do diagnóstico, informação, baixa escolaridade, uso de álcool e drogas e existência de doenças psiquiátricas. Do ponto de vista do profissional: relação médico-paciente ruim, tempo de consulta pequeno Do ponto de vista do serviço: número baixo de profissionais equipe mal preparada, baixo incentivo financeiro, condições ruins de trabalho. Do ponto de vista familiar/social: falta de apoio na família, estigma e preconceito ;e quanto ao tratamento: reações adversas, número elevado de comprimidos, dificuldade de adaptação à vida diária. Confira abaixo o que foi colocado pelos profissionais: “ Basicamente seria a “aceitação do diagnóstico por parte do paciente. Uma vez que o paciente aceita o diagnóstico, normalmente, aceita consequentemente o tratamento, a adesão transcorre com maior facilidade e as respostas ao tratamento são quase imediatas. “Outro fator que dificulta a adesão ao tratamento são os casos de pacientes que apresentam dependência química (álcool e outras drogas) que normalmente interrompem o tratamento com frequência.” (Profissional nº01) “...falta de suporte familiar e falta de habilidades cognitivas para lidar com as dificuldades e as exigências do tratamento”(Profissional nº 05) “...sigilo total, esconde o diagnóstico de todos;...ás vezes coloca o trabalho prioritário á doença”(Profissional nº 03) ,... quando ocorrem falhas no acolhimento, podem ocorrer lacunas que dificultarão a Adesão ao Tratamento. Imperativo que este atendimento seja realizada por equipe preparada, e não desmembrada onde cada profissional realiza o seu trabalho sem vinculação com outros profissionais...(Profissional nº07) Quanto a taxa de incidência de abandono Os participantes deste estudo colocaram de um modo geral 10% de taxa de incidência de abandono, o que aproximou bem da taxa real no serviço, pois segundo a farmacêutica responsável pela dispensação dos medicamentos no SAE de Divinópolis, chega a 7%.(em levantamento recente, consta 71 pessoas em situação de abandono de tratamento) e cerca de 930 em uso de anti-retrovirais (vide anexo nº01). Afirmou ainda, que considera 120 dias o prazo para o usuário buscar o medicamento, caso o usuário não busque o mesmo, é considerado abandono de tratamento, e o profissional de Serviço Social é acionado a fazer busca ativa que consiste numa abordagem 11 consentida, que é o contato que se faz com o usuário do serviço mediante sua autorização prévia, por meio da assinatura do termo Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Instrução Normativa nº 1626, de 10 de Julho de 2007. A abordagem consentida coloca-se como uma estratégia de intervenção, que deve ser discutida e organizada com a participação de todos os membros da equipe de saúde, observando os princípios éticos e legais da ação. A abordagem consentida é uma ação que visa ao restabelecimento e o fortalecimento do vínculo com o serviço de saúde e não objetiva apenas trazer o usuário de volta ao serviço, mas conhecer sua situação atual e trabalhar com ele os fatores que estão determinando a não adesão. (BRASIL, 2008) Sugestão dos profissionais para trabalhos que possam ser desenvolvidos para que a adesão ao tratamento possa atingir o patamar ideal Acolhimento, informação, troca de experiência entre iguais, busca ativa (controle dos faltosos); participação efetiva dos municípios referenciados, criar ambiente de confiança e sigilo; orientação quanto ao uso dos ARV; observância de interações medicamentosa. (Profissional nº03) Considero de suma importância o trabalho com familiares, questões sociais do paciente, como trabalho, estudo, suas relações conjugais etc (Profissional nº01) Seria importante dar ênfase ao ACOLHIMENTO, que via de regra não se resume em receber a PVHA, com estes olhos, só na primeira consulta, mas durante todo o processo de seu tratamento, que seja pelo médico, psicólogo, assistente social, enfermeira, farmacêutico e outros profissionais do serviço. (Profissional n07) As sugestões dos profissionais de saúde da Policlínica, quanto ao trabalho que deve ser desenvolvido com as PVHA de certa forma já acontecem na prática no serviços, percebe-se a necessidade de intensificar ás ações voltadas tanto ao 12 acolhimento durante todo o processo do tratamento, bem como um trabalho mais efetivo com os familiares. Considerações finais A complexidade e a variedade dos problemas suscitados pela AIDS exigem respostas por parte dos serviços de saúde que considerem não somente os aspectos clínicos mas também os impactos sociais, psicológicos e econômicos associados aos estigmas e preconceitos que ainda permeiam a AIDS. Percebe por este estudo que os profissionais da Policlínica de Divinópolis tem consciência desta realidade e que a adesão ao tratamento tem representado um desafio para a assistência ás PVHA. Entendem que adesão não se limita ao uso correto e adequado dos medicamentos antirretrovirais, mas que acima de tudo é acolher, cuidar, ter uma escuta ativa e apreender a singularidade do ser com seus aspectos emocionais, sociais, culturais, econômicos e religiosos. 13 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.Adesão ao tratamento antirretroviral no Brasil : coletânea de estudos do Projeto Atar : Projeto Atar / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010.408 p. : il. – (Série B. Textos B疽icos de Saúde) ________Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e AIDS. Manual de adesão ao tratamento para pessoas vivendo com HIV/AIDS. Brasília, 130 p. 2008. MELCHIOR; NEMES et al; Desafios da adesão ao tratamento de pessoas vivendo com HIV/AIDS no Brasil. Caderno de saúde pública, vol.41. supp2 São Paulo. Dez.2007 MERLEAU-PONTY. Conversas. 1948. São Paulo: Martins Fontes. 2004. _______Fenomenologia da Percepção, tradução de Reginaldo Di Piero Gallimard, 1994. NUNES, Linda Maira dos Santos. O Serviço Social na equipe multiprofissional: assistência ao portador do vírus HIV/AIDS com mais de 50 anos de idade,2ºSimpósio Mineiro de Assistentes Sociais. Nas trilhas dos direitos humanos para combater as desigualdades. CRESS-6ªRegião. Belo Horizonte/MG. 2009 SEIDl; MELCHÍADES et al; Pessoas vivendo com HIV/AIDS: variáveis associadas á adesão ao tratamento anti-retroviral. Caderno de Saúde pública, vol 23. Nº10 Rio de Janeiro Out. 2007. TEIXEIRA; Michele Gomes SILVA, Gislene Alves; A representação do portador do vírus da imunodeficiência humana sobre o tratamento com os anti-retrovirais; Revista da Escola de Enfermagem da USP. Vol.42 nº 4.São Paulo. Dez.2008. PAIVA,V.et al. Lidando com a adesão: a experiência de profissionais e ativistas na cidade de São Paulo. In: TEIXEIRA, P.R.et al. Tá difícil de engolir? Experiências de adesão ao tratamento anti-retroviral em São Paulo: Nepaids,2000,p.28-5. PAVÃO, Ana Maria Braz. O principio da autodeterminação no Serviço Social: Visão fenomenológica. 4.edição.São Paulo. Ed. Cortez; 1988. 14 Anexos nº01 Pacientes em uso de retrovirais Apêndice º 01 Roteiro do questionário 1- Qual é sua profissão? 2- Tempo que você trabalha no SAE/Divinópolis? 3- Já participou de alguma capacitação para atender os pacientes do SAE? 4- Qual sua percepção de Adesão ao tratamento do HIV/AIDS? 15 5- Quais os fatores que dificultam a adesão ao tratamento pelas pessoas que vivem com HIV/AIDS? 6- Você tem noção da taxa de incidência/ de abandono de tratamento das PVHA/ 7- Em sua opinião, o que pode ser desenvolvido para que a adesão ao tratamento pelas pessoas vivendo com HIV possa atingir o patamar ideal?