percepção dos profissionais do serviço de atenção - cress-mg

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PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO SERVIÇO DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA (SAE) DO
MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS ACERCA DE ADESÃO AO TRATAMENTO HIV/AIDS
Linda Maira dos Santos Nunes1
RESUMO
Este artigo surgiu do interesse em conhecer a percepção do profissional que trabalha
com as pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA) acerca do que é a adesão o que leva
uma pessoa que convive com HIV/AIDS abandonar o tratamento, uma vez que a
sobrevida para as pessoa que fazem o uso correto dos retrovirais com o controle dos
exames e consultas com os especialistas tem aumentado consideravelmente. Acreditase que este assunto perpassa pela questão da adesão que permeia a complexidade e
subjetividade pertinente a problemática. Não pretendo esgotar e nem muito menos
encontrar respostas a percepção acerca da adesão ao tratamento, mas de possibilitar a
abertura de discussões inerentes a questão , que na maioria das vezes está relacionada
a história do HIV/AIDS , ás condições culturais, as representações sociais que se
formou e até mesmo na aceitação ou não do diagnóstico das pessoas que vivem com
HIV/AIDS. Pensar na percepção do profissional acerca da adesão é fundamental, pois
são eles os executores das políticas de saúde, que atuam diretamente com os usuários
dos serviços, que chegam com toda a bagagem que carregam dentro de si. Entendem
que adesão não se limita ao uso correto e adequado dos medicamentos
antirretrovirais,, mas que acima de tudo é acolher, cuidar, ter uma escuta ativa e
apreender a singularidade do ser que chega ao serviço com seus aspectos emocionais,
sociais, culturais, econômicos e religiosos.
Palavras-chave: Percepção; Adesão ao tratamento HIV/AIDS. Pessoa vivendo com
HIV/AIDS (PVHA)
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Assistente Social da Prefeitura Municipal de Itaúna (Serviço Municipal de DST/HIV/AIDS)
Coordenadora e professora do curso de Serviço Social da Faculdade de Divinópolis (FADIV): Professora
do Colégio Técnico CECON; Pós graduada em Saúde pública pela Universidade do Estado de Minas
Gerais-Fundação Educacional de Divinópolis; Mestre em Educação, Cultura e Organizações sociais –
linha de pesquisa: Saúde pública pela Universidade do Estado de Minas Gerais-Fundação Educacional de
Divinópolis
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INTRODUÇÃO
Os estudos atuais acerca da realidade de vida das pessoas que vivem com
HIV/AIDS tem apresentado mudanças consideráveis, acredita-se que ás mesmas tem a
ver com os avanços do surgimento da terapia dos
retrovirais, que trouxe
consequências no aumento da sobrevida, do número de internações por causa das
doenças oportunista e das taxas de mortalidades.
A partir da Constituição de 1988, que estabelece que a saúde é direito de todos
e dever do Estado, foi fundamentada nesse contexto em 1996 a lei nº 9.313/962
(BRASIL,1996), garantindo a distribuição gratuita dos medicamentos anti retrovirais do
SUS. Desde então tem sido ampliado o acesso gratuito do diagnóstico do HIV e,
consequentemente, ao tratamento da AIDS.
Estima-se que existam no Brasil 630
mil portadores do HIV. Até dezembro/2009, 195.000 delas estavam em uso dos
antirretrovirais (ARV). Anualmente, são aproximadamente 33.000 novos casos
diagnosticados e notificados por ano.
A infecção pelo HIV tem sido considerada de caráter crônico evolutivo e
controlável, desde o surgimento da terapia antirretroviral (TARV) e da disponibilização
de exames como CD4 e carga viral, para o monitoramento tanto do sistema de
defesas, como da carga viral presente no sangue do paciente.. Tais avanços
tecnológicos contribuíram de forma bastante positiva para a vida das pessoas que
vivem com o HIV.
O sucesso na luta contra a epidemia da AIDS no Brasil, traduzida pela queda do
índice de mortalidade e morbidade a partir de 1996 é sustentado pela organização da
rede de serviços, pela disponibilização de medicamentos antirretrovirais e pelas ações
2
Lei nº9.313/96- È de responsabilidade do governo a disponibilização do tratamento mais adequado aos
pacientes infectados pelo HIV dentro de parâmetros técnicos e científicos definidos pelo Ministério da
Saúde por intermédio do Programa Nacional de DST/AIDS.
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de prevenção desenvolvidas, foi uma conquista do governo, da sociedade civil
organizada e dos profissionais de saúde envolvidos com o enfrentamento da epidemia.
A adesão ao tratamento se destaca entre os maiores desafios da atenção ás
pessoas PVHA, uma vez que demandam de seus usuários mudanças comportamentais,
o uso de medicamento por toda a vida, além da necessidade, por parte dos serviços de
novos arranjos e oferta de atividades específicas de adesão. Nesse contexto, o
trabalho dos profissionais de saúde se torna fundamental, onde a percepção que os
mesmo tem de adesão se torna o chute inicial do desafio, sabe-se da importância de se
trabalhar com acolhimento, criando vínculos e uma co-responsabilização, incluindo a
rede familiar, que direta ou indiretamente contribuirá para o sucesso ou falha no
tratamento.
Diante da complexidade de assistência ás PVHA, que está intimamente
relacionadas com as questões de cidadania e justiça , torna-se imprescindível a
atuação do profissional de Serviço Social, juntamente com a equipe multiprofissional,
que possa dar respostas ás múltiplas e complexas respostas ás necessidades biopsicossocial das pessoas com HIV/AIDS, buscando parcerias fora da esfera pública e de
formação de redes de apoio. (NUNES, 2009:146)
Os profissionais de saúde, por sua vez podem se valer da compreensão dos
fatores que dificultam e facilitam a adesão, mediante a descrição por parte do próprio
paciente de suas experiências, atitudes e crenças sobre a enfermidade e o tratamento,
para ajuda-lo a compreender a importância da (TARV) e melhorar o comportamento
de adesão (BRASIL,2010)
Segundo Cheever, 1999, a relação estabelecida entre os profissionais de saúde
envolvidos na assistência e as PVHA é de suma importância para o processo de adesão.
A escuta ativa é um fator importante para a adesão e pode ser definida como uma
relação com o usuário na qual o profissional “estimula” e acolhe o discurso do
paciente, sem colocar juízos de valor (BRASIL,1997). Ouvir e valorizar o relato do
usuário, fazer perguntas que estimule a expressão de seus conhecimentos, crenças e
sentimentos, caracterizam o processo de escuta ativa. Ela representa o pilar para
deflagrar o processo de adesão ao tratamento e exige uma construção permanente.
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É importante consolidar uma parceria entre o profissional e o paciente para
juntos criarem soluções para melhoria da adesão e a superação das barreiras. Ditar
normas e condutas “receitas de bolo”ou aplicar pacotes prontos não tem se mostrado
eficazes na prática. E importante que saibamos como cada profissional percebe a
realidade em sua volta, em relação ao HIV/AIDS, e como lida com seus
conceitos(significados) de sexualidade, AIDS, e como isto interfere nos preconceitos e
estereótipos enraizados e até que ponto isto interfere na relação que se estabelece
entre profissional e paciente. Fala-se muito em percepção, mas o que vem a ser este
termo?
Percepção
Entender o que vem a ser percepção neste estudo é de suma importância, por
se tratar de questões de caráter complexo e subjetivo. A maneira como o profissional
compreende a subjetividade do sujeito, dentro do que significa a doença para ele, bem
como o ambiente no qual está inserido, para que assim possa identificar suas
necessidades e incentivá-lo a aderir o tratamento Para isso deve-se privar de
pressupostos ou preconceitos, “não admitindo como válido nenhum juízo, se não for
baseados na evidência, ou seja, nas experiências em que as próprias coisas e os estado
das coisas se apresentam por si próprios” (PAVÃO, 1988:30).
Para Ponty,1994:.14 “buscar a essência da percepção é declarar que a
percepção é não presumida verdadeira, mas definida por nós como acesso a verdade”.
Conforme Marilena Chauí (2000:153-154) “a percepção é uma conduta vital,
uma comunicação, uma interpretação e uma valorização do mundo, a partir da
estrutura de relações entre nosso corpo e o mundo”.
Finalizando o conceito de percepção, o autor Merleau-Ponty em sua obra
“Conversas” ainda destaca:
O mundo da percepção, isto é, o mundo que nos é revelado para nossos
sentidos e pela experiência de vida, parece-nos a primeira vista o que
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melhor conhecemos, já que não são necessários instrumentos nem cálculos
para ter acesso a ele e, aparentemente, basta-nos abrir os olhos e nos
deixarmos viver para nele penetrar, Contudo, isso não passa de uma falsa
aparência. (PONTY, 1994:1-2)
Adesão ao tratamento HIV/AIDS
Um vasto conceito de adesão pode ser identificado. Singularmente, adesão
pode ser definida como “o comportamento de uma pessoa – tomar remédio, seguir
uma dieta ou fazer mudanças no estilo de vida – que corresponde ás recomendações
da equipe de saúde” (HAYNES, 1991).
Essa definição parte de uma compreensão limitada, pois equivale á noção de
obediência, ao ato de conformar-se ou acatar. Sugere que o esquema terapêutico
prescrito não foi fruto de uma decisão compartilhada entre a pessoa e o profissional
de saúde.
Uma definição mais ampla e abrangente assinala que adesão;
É um processo dinâmico e multifatorial que inclui aspectos físicos,
psicológicos, sociais, culturais e comportamentais, que requer decisões
compartilhadas e co-responsabilizadas entre a pessoa que vive com HIV, a
equipe e a rede social .Deve ser entendida como um processo de negociação
entre o usuário e os profissionais de saúde, no qual são reconhecidas as
responsabilidades específicas de cada um, que visa a fortalecer a autonomia
para o autocuidado. Transcende á simples ingestão de medicamentos,
incluindo o fortalecimento da pessoa vivendo com HIV/AIDS, o
estabelecimento de vínculo com a equipe de saúde, o acesso á informação,
o acompanhamento clínico-laboratorial, a adequação aos hábitos e
necessidades individuais e o compartilhamento das decisões relacionadas á
própria saúde, inclusive para pessoas que não fazem uso de TARV. (BRASIL,
2010)
A conduta de adesão pode ser considerada similar á aquisição de um hábito,
informações são apreendidas e habilidades são adquiridas para incorporar o
tratamento á rotina diária (TULDRA, WU, 2002). Os profissionais e equipe de saúde,
por sua vez, podem se valer da compreensão dos fatores que dificultam e que facilitam
a adesão, mediante a descrição por parte do próprio paciente de suas experiências,
atitudes e crenças sobre a enfermidade e o tratamento, para ajuda-lo a compreender a
importância do TARV e melhorar o comportamento de adesão. (RUSSEL. et. al., 2003)
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O tratamento da Aids inicia-se antes mesmo do desenvolvimento da
síndrome. A terapia anti-retroviral (TARV) é administrada ainda no período de infecção
do HIV, na intenção de controlar a replicação do vírus. Embora a terapêutica antiretroviral esteja em constante evolução, a adesão ao tratamento tem sido um
problema recorrente. O comportamento relacionado ao tratamento anti-retroviral é
sustentado por conceitos, conhecimentos e explicações originados na vida cotidiana
das pessoas que vivem com HIV. Esses conhecimentos, denominados representações
sociais, são compartilhados, oferecendo ao indivíduo a possibilidade de dar sentido ao
seu comportamento.
As dificuldades de adesão em HIV/AIDS decorrem, em parte, da complexidade
da TARV, na medida em que alguns medicamentos precisam ser ingeridos com
alimentos, outros em jejum, ou em seqüências temporais combinadas com outros
medicamentos, o que exige organização e compromisso do paciente em relação ao seu
tratamento. Outra barreira importante refere-se à presença de efeitos colaterais.
Nestes casos, tomar a medicação pode representar uma situação aversiva por causa da
ocorrência de consequências adversas e desconfortáveis. A ocorrência de
lipodistrofia3, por exemplo, constitui-se em grande desafio, tanto para as pessoas HIV+
quanto para as equipes de saúde.
Ao lado dos fatores de natureza biomédica que influenciam os níveis de adesão
e os resultados da TARV, aspectos psicossociais suscitam o interesse de pesquisadores
e profissionais de saúde. Duas variáveis investigadas têm sido o suporte social e o
enfrentamento (coping). Singet et al. observaram que a satisfação com o suporte
social e a utilização de estratégias de enfrentamento comportamentais ativas
estiveram associadas à adesão em amostra de pacientes HIV+. Os pesquisadores
verificaram ainda que a não adesão esteve relacionada a sentimentos de desesperança
e a estratégias de enfrentamento de esquiva.
3
Lipodistrofia . Alteração nas gorduras corporais, especialmente. em pacientes soropositivos,
caracterizada por concentração de gordura em certas partes (rosto, abdome, nuca) e escassez em outras
(pernas, braços, nádegas).
: http://aulete.uol.com.br/lipodistrofia#ixzz2NBTMxbc9 acessado em 10/03/2013
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Pesquisas mostram que mesmo falhas ocasionais na adesão à TARV podem
limitar os benefícios do tratamento. Paterson et al. reportaram que 81% dos pacientes
com 95% ou mais de adesão obtiveram níveis de carga viral abaixo de 400 cópias/ml,
em uso de esquemas que incluíam inibidores de protease. Entre os pacientes com 80%
a 90% de adesão, apenas a metade obteve redução satisfatória da carga viral. Estudos
reforçam esses achados ao concluir que os efeitos máximos desejados do tratamento
anti-retroviral são obtidos quando se alcança, no mínimo, 95% de adesão às doses
prescritas
A qualidade da interação profissional de saúde-usuário pode ser definida
como a capacidade de se criar uma relação de cooperação entre ambos. Programas
que favorecem o estabelecimento da vinculação entre profissionais de saúde e
usuários dos serviços têm melhores níveis de adesão ao tratamento, segundo estudos
com outras clientelas . Paiva et al. destacaram que a complexidade da adesão aos ARV
decorre das modificações na vida cotidiana pelo uso diário dos medicamentos. Os
autores apontaram que os efeitos colaterais (náuseas, enjôos, mal-estar), bem como
as dificuldades de comunicação entre pacientes e profissionais de saúde são de grande
relevância na adesão. Em HIV/AIDS, a relação com o usuário deve caracterizar-se por
uma postura de acolhimento, para o atendimento de demandas específicas e sua
participação no planejamento e decisão acerca do seu próprio tratamento.
Metodologias de análise
Este estudo teve como cenário a Policlínica Municipal de Divinópolis4, onde
funciona dois órgãos responsáveis pelo atendimento de usuários portadores do Vírus
HIV/AIDS: SAE (Serviço de Atendimento Especializado) e o CTA (Centro de testagem e
Aconselhamento).
4
A cidade de Divinópolis está localizada na região Centro Oeste mineiro a cerca de 110 Km da capital do
Estado, Belo Horizonte. Possui aproximadamente 220.000 habitantes; a sua economia gira em torno da
indústria confeccionista e guzeira.
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Os atores foram os profissionais que trabalham no SAE. .Este serviço funciona
desde Agosto de 1996, sob a responsabilidade da equipe interdisciplinar, formada por
03 infecctologista, 01 enfermeira, 01 assistente Social, 01 psicológo, 01 farmacêutica,
01 enfermeira, 02 auxiliares de enfermagem. O SAE de Divinópolis atende atualmente
56 municípios da região. Com um nº aproximado de 1000 usuários.
Foi utilizado como instrumento de coleta de dado um questionário semi
estruturado. (Vide apêndice nº01). Responderam o mesmo 07 profissionais, veja no
quadro abaixo a discriminação dos investigados bem como o tempo que trabalham no
SAE e se já participaram de alguma capacitação para atender os usuários do serviço.
Tabela nº 01 Dados do profissional
Discriminação profissão
Tempo trabalho SAE
Se teve capacitação
Psicóloga
04 anos
Não
Auxiliar Enfermagem
03 anos
Não
Farmacêutica
08 anos
Sim
Auxiliar de enfermagem
03 anos
Não
Assistente Social
03 anos
Não
08 meses
Não
17 anos
Sim
Infecctologista
Psicólogo
Dados da pesquisa/2013
Conforme tabela acima, apenas um profissional tem menos de um ano que trabalha no
serviço e a maioria não tiveram capacitação para desenvolverem seus trabalhos junto
ás PVHA.
Quanto à percepção de adesão ao tratamento das PVHA
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Para efeito didático de apresentação dos dados e respeito ético, optamos
quanto a identificação do profissional em numera-los: profissional nº 01, 02, 03...)Ás
respostas semelhantes não foram colocadas
“ Entendo por adesão, quando de fato o paciente adere ao tratamento, ou
seja, toma os medicamentos nos horários certos, quantidade indicada,
realiza os exames solicitados e comparece ás consultas com periodicidade
necessária ao tratamento”.( Profissional nº 01)
“ A descoberta da doença deixa o indivíduo revoltado, receioso, infeliz,
apreensivo, duvidoso e até alguns perdem a fé em Deus. Depois do susto
vem a certeza de que é irreversível então a solução é aceitar e tratar, alguns
ficam tempo demais no período das incertezas...” (Profissional nº02)
“ ...importa em mudança de comportamento, adesão deve extrapolar a
compreensão focada apenas nos medicamentos e sim numa rede de
assistência especializada para dar suporte ás dificuldades que aparecem”
(Profissional nº05)
“Adesão é um construto multidimensional, complexo, dinâmico e
multifatorial, que envolve não somente aspectos do paciente, mas do
profissional, do serviço, da família e da sociedade.”(Profissional nº06)
De acordo com as respostas dos sujeitos da pesquisa, apenas um percebe a
adesão de forma limitada, conforme Haynes,1991 conceitua, os demais percebem a
complexidade da adesão ao tratamento,destacando a dinamicidade do processo em
construção tanto do profissional, como do usuário do serviço e dos múltiplos fatores
interligados no mesmo. Acreditam na adesão que não está focada apenas no uso
correto dos medicamentos, mas que começa na aceitação do diagnóstico, que implica
em mudança de comportamento em relação a doença, a si próprio, a família e a
sociedade em geral. .E a partir do que percebem a adesão, reflete nos fatores que
tanto podem facilitar como podem dificultar a adesão ao tratamento, pelas PVHA.
Quanto aos fatores que dificultam a adesão ao tratamento pelas PVHA
Encontramos vários fatores que dificultam a adesão ao tratamento, pata facilitar
a compreensão das respostas, enquadramos ás mesmas em 03 pontos de vistas; do
paciente do serviço, da família/social, ás quais vão ao encontro do que Singt et al
observaram quanto aos aspectos psicossociais da não adesão
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No que se refere ao ponto de vista do paciente, falta aceitação do diagnóstico,
informação, baixa escolaridade, uso de álcool e drogas e existência de doenças
psiquiátricas. Do ponto de vista do profissional: relação médico-paciente ruim, tempo
de consulta pequeno Do ponto de vista do serviço: número baixo de profissionais
equipe mal preparada, baixo incentivo financeiro, condições ruins de trabalho.
Do ponto de vista familiar/social: falta de apoio na família, estigma e preconceito
;e quanto
ao tratamento: reações adversas, número elevado de comprimidos,
dificuldade de adaptação à vida diária. Confira abaixo o que foi colocado pelos
profissionais:
“ Basicamente seria a “aceitação do diagnóstico por parte do paciente. Uma
vez que o paciente aceita o diagnóstico, normalmente, aceita
consequentemente o tratamento, a adesão transcorre com maior facilidade e
as respostas ao tratamento são quase imediatas. “Outro fator que dificulta a
adesão ao tratamento são os casos de pacientes que apresentam
dependência química (álcool e outras drogas) que normalmente interrompem
o tratamento com frequência.” (Profissional nº01)
“...falta de suporte familiar e falta de habilidades cognitivas para lidar com as
dificuldades e as exigências do tratamento”(Profissional nº 05)
“...sigilo total, esconde o diagnóstico de todos;...ás vezes coloca o trabalho
prioritário á doença”(Profissional nº 03)
,... quando ocorrem falhas no acolhimento, podem ocorrer lacunas que
dificultarão a Adesão ao Tratamento. Imperativo que este atendimento seja
realizada por equipe preparada, e não desmembrada onde cada profissional
realiza o seu trabalho sem vinculação com outros profissionais...(Profissional
nº07)
Quanto a taxa de incidência de abandono
Os participantes deste estudo colocaram de um modo geral 10% de taxa de
incidência de abandono, o que aproximou bem da taxa real no serviço, pois segundo a
farmacêutica responsável pela dispensação dos medicamentos no SAE de Divinópolis,
chega a 7%.(em levantamento recente, consta 71 pessoas em situação de abandono
de tratamento) e cerca de 930 em uso de anti-retrovirais (vide anexo nº01). Afirmou
ainda, que considera 120 dias o prazo para o usuário buscar o medicamento, caso o
usuário não busque o mesmo, é considerado abandono de tratamento, e o profissional
de Serviço Social é acionado a fazer busca ativa que consiste numa abordagem
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consentida, que é o contato que se faz com o usuário do serviço mediante sua
autorização prévia, por meio da assinatura do termo Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), de acordo com a Instrução Normativa nº 1626, de 10 de Julho de
2007. A abordagem consentida coloca-se como uma estratégia de intervenção, que
deve ser discutida e organizada com a participação de todos os membros da equipe de
saúde, observando os princípios éticos e legais da ação. A abordagem consentida é
uma ação que visa ao restabelecimento e o fortalecimento do vínculo com o serviço de
saúde e não objetiva apenas trazer o usuário de volta ao serviço, mas conhecer sua
situação atual e trabalhar com ele os fatores que estão determinando a não adesão.
(BRASIL, 2008)
Sugestão dos profissionais para trabalhos que possam ser desenvolvidos para que a
adesão ao tratamento possa atingir o patamar ideal
Acolhimento, informação, troca de experiência entre iguais, busca ativa
(controle dos faltosos); participação efetiva dos municípios referenciados, criar
ambiente de confiança e sigilo; orientação quanto ao uso dos ARV; observância
de interações medicamentosa. (Profissional nº03)
Considero de suma importância o trabalho com familiares, questões sociais do
paciente, como trabalho, estudo, suas relações conjugais etc (Profissional
nº01)
Seria importante dar ênfase ao ACOLHIMENTO, que via de regra não se resume
em receber a PVHA, com estes olhos, só na primeira consulta, mas durante
todo o processo de seu tratamento, que seja pelo médico, psicólogo,
assistente social, enfermeira, farmacêutico e outros profissionais do serviço.
(Profissional n07)
As sugestões dos profissionais de saúde da Policlínica, quanto ao trabalho que
deve ser desenvolvido com as PVHA de certa forma já acontecem na prática no
serviços, percebe-se a necessidade de intensificar ás ações voltadas tanto ao
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acolhimento durante todo o processo do tratamento, bem como um trabalho mais
efetivo com os familiares.
Considerações finais
A complexidade e a variedade dos problemas suscitados pela AIDS exigem
respostas por parte dos serviços de saúde que considerem não somente os aspectos
clínicos mas também os impactos sociais, psicológicos e econômicos associados aos
estigmas e preconceitos que ainda permeiam a AIDS. Percebe por este estudo que os
profissionais da Policlínica de Divinópolis tem consciência desta realidade e que a
adesão ao tratamento tem representado um desafio para a assistência ás PVHA.
Entendem que adesão não se limita ao uso correto e adequado dos medicamentos
antirretrovirais, mas que acima de tudo é acolher, cuidar, ter uma escuta ativa e
apreender a singularidade do ser com seus aspectos emocionais, sociais, culturais,
econômicos e religiosos.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST,
Aids e Hepatites Virais.Adesão ao tratamento antirretroviral no Brasil : coletânea de
estudos do Projeto Atar : Projeto Atar / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância
em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. – Brasília : Ministério da
Saúde, 2010.408 p. : il. – (Série B. Textos B疽icos de Saúde)
________Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional
de DST e AIDS. Manual de adesão ao tratamento para pessoas vivendo com
HIV/AIDS. Brasília, 130 p. 2008.
MELCHIOR; NEMES et al; Desafios da adesão ao tratamento de pessoas vivendo com
HIV/AIDS no Brasil. Caderno de saúde pública, vol.41. supp2 São Paulo. Dez.2007
MERLEAU-PONTY. Conversas. 1948. São Paulo: Martins Fontes. 2004.
_______Fenomenologia da Percepção, tradução de Reginaldo Di Piero Gallimard,
1994.
NUNES, Linda Maira dos Santos. O Serviço Social na equipe multiprofissional:
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Mineiro de Assistentes Sociais. Nas trilhas dos direitos humanos para combater as
desigualdades. CRESS-6ªRegião. Belo Horizonte/MG. 2009
SEIDl; MELCHÍADES et al; Pessoas vivendo com HIV/AIDS: variáveis associadas á
adesão ao tratamento anti-retroviral. Caderno de Saúde pública, vol 23. Nº10 Rio de
Janeiro Out. 2007.
TEIXEIRA; Michele Gomes SILVA, Gislene Alves; A representação do portador do vírus
da imunodeficiência humana sobre o tratamento com os anti-retrovirais; Revista da
Escola de Enfermagem da USP. Vol.42 nº 4.São Paulo. Dez.2008.
PAIVA,V.et al. Lidando com a adesão: a experiência de profissionais e ativistas na
cidade de São Paulo. In: TEIXEIRA, P.R.et al. Tá difícil de engolir? Experiências de
adesão ao tratamento anti-retroviral em São Paulo: Nepaids,2000,p.28-5.
PAVÃO, Ana Maria Braz. O principio da autodeterminação no Serviço Social: Visão
fenomenológica. 4.edição.São Paulo. Ed. Cortez; 1988.
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Anexos nº01 Pacientes em uso de retrovirais
Apêndice º 01 Roteiro do questionário
1- Qual é sua profissão?
2- Tempo que você trabalha no SAE/Divinópolis?
3- Já participou de alguma capacitação para atender os pacientes do SAE?
4- Qual sua percepção de Adesão ao tratamento do HIV/AIDS?
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5- Quais os fatores que dificultam a adesão ao tratamento pelas pessoas que vivem
com HIV/AIDS?
6- Você tem noção da taxa de incidência/ de abandono de tratamento das PVHA/
7- Em sua opinião, o que pode ser desenvolvido para que a adesão ao tratamento
pelas pessoas vivendo com HIV possa atingir o patamar ideal?
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