Influência do fenômeno El Niño na bacia hidrográfica do

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq
Centro Universitário Ritter dos Reis
Influência do fenômeno El Niño na bacia hidrográfica do Rio Paraná
Cláudio Renato dos Santos Lizardo
Graduando em Engenharia Civil
Centro Universitário Uniritter
[email protected]
Orlando Cremonti Filho
Graduando em Engenharia Civil
Centro Universitário Uniritter
[email protected]
Orientador: Prof. José Antônio Colvara de Oliveira
Resumo: O presente Artigo é parte de uma tarefa apresentada na disciplina de Hidrologia, do
Curso de Engenharia Civil, do Centro Universitário Ritter dos Reis e apresenta o estudo histórico,
que compreende os anos que vão desde 1951 à 1998, da influência do fenômeno “El Niño” na
incidência de chuva na bacia hidrográfica do Rio Paraná. O estudo consiste na verificação do
aumento da precipitação que abastece o lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu, comparando os
anos regulares com período em que ocorre o fenômeno do “El Niño”. Este fenômeno natural
consiste na alteração da pressão do ar na costa do pacifico próximo à linha do equador. Essa
alteração de pressão causa o enfraquecimento dos ventos e a mudança de direção, trazendo
assim a água mais quente junto ao continente americano, elevando a evaporação das águas do
oceano Pacífico. Isto, por sua vez, causa chuvas torrenciais. Estas chuvas aumentam o volume
de precipitação sobre a região da bacia hidrográfica do Rio Paraná, e consequentemente um
acréscimo da área de abrangência do lago Itaipu. Para realizarmos este estudo valemo-nos dos
dados captados por três estações pluviométricas instaladas na região.
1 Introdução
O fenômeno “El Niño” é uma anomalia da temperatura do oceano Pacífico que ocorre
junto a linha do Equador entre as Latitudes 5°N e 5°S, causado pelo aquecimento irregular
das águas do oceano na costa do continente americano, aumentando a evaporação e
consequentemente a formação de nuvens. Essas nuvens deslocam-se em direção ao centro
do continente, mais precisamente para a metade sul, provocando um acréscimo
considerável nos parâmetros IDF (intensidade, duração e frequência) das chuvas nessa
região.
Neste trabalho foram obtidos os dados de três pluviômetros, instalados no município
de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná. As estações onde foram coletados os dados da
altura de precipitação e apresentado o resumo anual são: Foz do Iguaçu – cod.02554000
(Itaipu), Parque Nacional do Iguaçu – cod.02554001 (Itaipu), Salto Cataratas –
cod.02554002 (Aguasparaná). Os valores dos mesmos estão registrados na Tabela 1.
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2 A Influência do fenômeno El Niño
Em anos normais onde não existe a atuação do fenômeno El Niño (Figura 1), os
ventos Alísios atuam soprando do Equador para sudoeste (hemisfério sul) sobre o Oceano
Pacífico, empurrando a água da superfície do mar aquecida na região equatoriana e a
represando junto a costa do sudeste asiático e Austrália. Esse represamento causado pelos
Alísios aumenta o nível do Oceano Pacífico na costa asiática em alguns centímetros acima
do que ocorre na cota da superfície do mar na costa da América equatorial, que como
consequência recebe águas profundas mais frias.
Figura 1 - Representação esquemática do fenômeno El Niño e La Niña.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.
Nos anos de influência do El Niño (Figura 1) acontece o enfraquecimento dos ventos
no centro do Oceano Pacífico, resultando numa redução do aparecimento de águas
profundas e frias e o aumento de água mais quente que o normal na costa oeste da
América do Sul.
O El Niño altera o clima em todo o Pacífico Equatorial: as massas de ar quentes e
úmidas acompanham a água mais quente (Figura 2), alterando o ciclo de chuvas com o
acréscimo de volume pluviométrico na costa oeste da América do Sul e secas no sudeste
asiático e Austrália. Essa alteração do clima não é apenas pontual, mas com alterações
climáticas globais na América do Norte, Europa e África.
Figura 2 – Área delimitada do aquecimento das águas do Pacífico.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.
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Os dados dos pluviômetros analisados são fornecidos pelo Instituto das Águas do
Paraná e foram coletados em três estação pluviométricas próximas a Usina Hidrelétrica de
Itaipu. Esses dados são apresentados na Tabela 1 e referem-se às estações:
i.
ii.
iii.
SALTO CATARATAS, instalada em 01/08/1946, bacia Iguaçu e sub-bacia 9,
altura de 152 metros e mantida pela entidade Aguasparaná;
FOZ DO IGUAÇU, instalada em 21/08/1940, na bacia Paraná 3 e sub-bacia 2,
altura de 100 metros do nível do mar e mantida pela entidade Itaipu;
PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU, instalada em 01/07/1941, bacia Iguaçu e
sub-bacia 9, também a uma altura de 100 metros e mantida por Itaipu.
Tabela 1 – Alturas de precipitação - Resumo Anual (mm).
Ano
Parque
Salto
Foz do
Nacional
Cataratas Iguaçu
Iguaçu
Ano
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
2261,2
1539,0
1303,5
1157,7
1305,5
2313,2
1364,0
1200,9
510,9
445,0
269,0
566,8
1402,3
2031,0
1737,6
2186,3
1951,9
1422,5
1332,5
875,7
1272,6
681,0
1832,7
1802,6
1576,6
1495,3
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
382,8
1786,4
1361,5
520,0
540,0
1933,4
1722,0
1997,1
1779,7
1655,3
1819,6
1575,0
1661,5
1691,8
1824,6
1695,8
1615,5
964,0
1506,2
1354,0
915,5
1382,4
2190,9
1556,2
1263,4
1219,9
1630,4
1416,4
1527,9
1477,0
2138,4
1702,6
2229,4
1619,4
1426,9
1633,2
1804,2
1163,1
1267,7
1752,1
1587,8
2622,0
1331,8
Parque
Salto
Foz do
Nacional
Cataratas Iguaçu
Iguaçu
1381,9
1802,5
1663,0
2703,9
2205,6
2170,0
1931,3
1503,7
1185,4
1918,9
1499,6
1237,9
1703,8
2609,8
1404,8
1146,3
1911,7
1834,6
1116,3
1702,7
2521,6
1463,3
1977,5
1876,6
1951,8
1249,7
502,0
1504,2
1902,1
1749,4
907,9
1480,3
1365,0
1555,9
1184,5
2276,0
1309,7
1321,8
1467,2
2417,7
1417,9
955,4
1909,9
1482,9
1095,4
1878,0
2074,4
1563,5
518,5
1552,7
1970,6
1292,1
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1344,0
1856,0
2152,7
1956,9
1652,7
1334,0
1410,6
975,3
970,5
1599,3
1481,0
1612,2
1599,3
2622,3
1455,0
1121,9
1524,4
1640,8
1187,7
1757,9
2390,0
1563,5
1803,5
1662,3
1669,4
1376,8
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1967
1168,1
1996
882,3
805,3
2388,7
2033,6 2105,4
1968
870,0
1997
1442,1
1238,3
2195,9
1765,6 1982,3
1969
1998
1945,1
1441,5 1750,9
2147,1
2237,2 2289,0
Fonte: AGUASPARANÁ - Instituto das Águas do Paraná, Sistema de Informações Hidrológicas.
Para análise deste trabalho foram considerados e apresentados apenas os valores
referentes aos anos compreendidos entre 1941 e 1988, para manter a relação entre aos
períodos coletados nos pluviômetros e os períodos de atuação do El Niño (Tabela 2).
Tabela 2 – Períodos de incidência do fenômeno El Niño e La Niña.
Período
Período
Intensidade
Intensidade
El Niño
La Niña
1941
Forte
1949-1951
Forte
1946-1947 Moderado
1954-1956
Forte
1951
Leve
1964-1965 Moderado
1953
Leve
1970-1971 Moderado
1957-1959
Forte
1973-1976
Forte
1963
Leve
1983-1984
Leve
1965-1966 Moderado
1984-1985
Leve
1968-1970 Moderado
1988-1989
Forte
1972-1973
Forte
1995-1996
Leve
1976-1978
Leve
1998-1999
Forte
1979-1980
Leve
1982-1983
Forte
1986-1988 Moderado
1990-1993
Forte
1994-1995
Moderato
1997-1998
Forte
Fonte: El Niño 1997-1998: The Climate Event of the Century.
Os fenômenos climáticos nesses períodos já foram profundamente estudados em
todo o mundo, especialmente aos ligados aos fenômenos oceânicos.
Com os dados apresentados, realizaram-se a confecção de gráficos de barras das
estações pluviométricas onde o eixo das abcissas apresenta o período da medição (ano), e
no eixo das coordenadas a altura de precipitação anual (em milímetros). Nesses gráficos
também são ilustrados na cor amarela os anos de ocorrência do fenômeno El Niño (Figura
3, 4, e 5).
Nos gráficos pode-se verificar que em períodos intermediários do fenômeno El Niño
também existe anos onde há aumento na precipitação das chuvas, por exemplo, os anos de
1951, 1954, 1956, 1964, 1971, 1974-1975, 1984, 1989 e 1996. Essa constatação leva a
verificação do motivo desses valores elevados nos anos especificados, que aparentemente
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não deveriam ocorrer pela diluição dos efeitos causados por esse fenômeno que possui
duração de 15 a 18 meses, mas seguindo-se a um El Ninõ temos a permanência dos efeitos
por um período. Poderia se imaginar então que esse fenômeno natural não tem ligação com
a variação na IDF da região pesquisada?
A resposta está no fenômeno inverso que acontece nessa mesma região da linha do
Equador, no Oceano Pacífico, caracterizado por temperaturas anormais mais frias no fim do
ano (Tabela 2) e que recebeu o nome de La Ninã (“A Menina) ou El Viejo (“O Velho”),
ambas denominações são antíteses do “menino”. Esses tipos de fenômenos passaram a ser
pesquisados largamente para suas previsões antecipadas e receberam a expressão OSEN
(Oscilação Sul-El Niño) para descrever as anomalias climáticas ou de fluxos marinhos em
qualquer oceano. Grandes diferenças na pressão atmosférica, entre o sudeste asiático e o
oeste americano caracterizam uma oscilação climática e uma situação de desenvolvimento
de OSEN, ou seja, ventos mais fortes que a média entre os continentes e
consequentemente variação das temperaturas positivas ou negativas da água nas costas
continentais de ambos.
Os estudos desses fenômenos e anomalias OSEN são de grande importância para a
atividade econômica de muitos países, influenciando no regime de cheia dos rios, plantio na
agricultura, obtenção de boas pastagens na pecuária, fornecimento de água tratada e
geração de energia elétrica como a da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Figura 3 – Precipitação anual do pluviômetro da estação Salto Cataratas.
Período de atuação do El Niño
Período normal
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.
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Figura 4 – Precipitação anual do pluviômetro da estação Foz do Iguaçu.
Período de atuação do El Niño
Período normal
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.
Figura 5 – Precipitação anual do pluviômetro da estação Parque Nacional do Iguaçu.
Período de atuação do El Niño
Período normal
Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada.
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Na Figura 6 pode-se visualizar a oscilação da temperatura média no Oceano Pacífico ao
longo dos últimos sessenta e cinco anos, registrando no gráfico a variação positiva da
temperatura (em °C) como sendo ligada ao fenômeno El Niño e a negativa como a ligada ao
evento La Ninã. Variações de 0,5 a 1,0 °C são consideradas como evento de intensidade
leve, de 1,0 a 1,5°C como evento moderado, e finalmente, acima de 1,5°C como evento de
intensidade forte.
Figura 6 – Média anual da temperatura no Oceano Pacífico 1950-2015.
Fonte: Climate Prediction Center.
Os fenômenos climáticos interligados entre a atmosfera e os oceanos são base de
estudos ao redor do mundo, sendo mais conhecidos os ENOS, no Oceano Pacífico
Equatorial, oriundos de anomalias na Temperatura da Superfície do Mar (TSM).
Alguns pesquisadores têm dedicado seus trabalhos a pesquisa da influência da TSM
no Oceano Atlântico sobre o clima na América do Sul e particularmente as variações
anormais do clima no Brasil (CATALDI, 2010, p. 514).
Outras análises de resultados das anomalias de TSM do Atlântico Sul sobre as
regiões do continente sul americano confirmaram a influência da TSM e mostram que a
convecção sobre o continente está associada com a variabilidade da TSM (CHAVES, 2011).
Os eventos no Oceano Atlântico costumam acontecer de 6 à 15 meses após os
OSEN no Oceano Pacífico.
4 Conclusões
Com as informações disponíveis, foi possível uma análise primária sobre as
alterações climáticas causadas pelos eventos El Ninõ e La Ninã, no Oceano Pacífico
Equatorial, referidos como OSEN (Oscilação Sul-El Niño) e dos eventos da TSM
(Temperatura da Superfície do Mar) no Oceano Atlântico.
As anomalias OSEN tem grande influência no regime normal das chuvas na região
da bacia do Rio Paraná, com acréscimo substancial no volume das chuvas e aumento da
vazão dos rios da região. Este aumento se dá devido à composição geológica do terreno
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rochoso e a topografia das bacias hidrográficas da região, que respondem rapidamente à
ocorrência ou não de precipitação. Também as anomalias positivas da TSM provocam
intensa redução na precipitação na região Sul do Brasil, e como consequência forte
diminuição nas vazões naturais dos rios.
Novos estudos relacionados com o tema são necessários para compreensão total
dos efeitos desses eventos e suas consequências nocivas na economia, como hoje pode-se
verificar com a atuação do fenômeno El Niño na região sul do país e a sua desproporção no
volume de chuvas deste ano de 2015, onde o CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos e o INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais monitoram o
acréscimo da TSM no Oceano Pacífico Equatorial, com previsões dos modelos oceânicos
de uma intensidade ainda maior do fenômeno no último trimestre de 2015, podendo até
alcançar índices superiores aos alcançados nas últimas décadas de monitoramento desses
eventos.
Referências
CHANGON, Stanley A. El Niño 1997-1998: The Climate Event of the Century.
Nova York : Oxford University Press, 2000. pág 36.
Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Aguasparaná – Instituto de Águas
do Paraná – Disponível em :
http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=264
Acesso em 18.09.2015.
Climate Prediction Center – Disponível em:
http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ensoyears.sht
ml
Acesso em 18.09.2015.
CATALDI, Márcio e outros, Estudo da Influência das Anomalias da TSM do
Atlântico Sul Extratropical na região da Confluência Brasil Malvinas no Regime
Hidrometeorológico de Verão do Sul e Sudeste do Brasil
Revista Brasileira de Meteorologia, v.25, n.4, 513 - 524, 2010
CHAVES, Rosane Rodrigues. Conexões entre a TSM do Atlântico Sul e a
convecção de verão sobre a América do Sul - análise observacional
Revista Brasileira de Geofísica, vol.29 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2011
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CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos e o INPE - Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em http://enos.cptec.inpe.br/. Acessado
em 18.09.2015.
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