texto livre - Revista Café com Sociologia

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Revista Café com Sociologia
TEXTO LIVRE
Mulher, escrita e sociedade 1
Taysa Silva Santos2
Vivendo em uma sociedade fundamentada no patriarcado, as mulheres tornaram-se por
ser o Segundo Sexo3, sujeitas da insignificância social. A submissão do gênero “frágil” ainda é um
conflito latente, que se torna omisso através dos diversos meios de comunicações que aludem que
mulheres possuem igualdade de direitos em relação aos homens. Muitos dos direitos foram
conquistados, todavia, esse embate se firma a cada dia, sendo pauta primordial das manifestações
feministas - através da luta política –, a fim de, conquistar o espaço da mulher na sociedade.
A mulher deve ser a protagonista de sua história, cabe a ela requerer seu espaço na
sociedade desconstruindo a ideia que perpassa gerações de que o homem é o sujeito único da
história. Para tanto, deve se apossar da escrita a qual lhe foi negada durante séculos e reescrever
uma nova História. Uma história de mulheres, escrita por mulheres. Ou ao menos, que as
mulheres adentrem mais nesse espaço que é o da escrita, a fim de, recontar sua própria História.
Só assim ter-se-á a verdadeira libertação feminina – e também as mudanças em suas condições
materiais. Nesse escopo, os exemplos são diversos, dentre eles enfatiza-se os nomes de: Maria
Firmina dos Reis, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Raquel de Queirós, Cecília Meireles,
Adélia Prado, Lya Luft, Cora Coralina, Maria da Penha, entre outras, que excitaram/escreveram o
debate brasileiro acerca do protagonismo político feminino. Contudo, não podemos nos esquecer
das mulheres inseridas nas diversas realidades sociais e culturais, que são muitas vezes silenciadas
pela condição econômica, cultural e social, sendo categorizadas como “anônimas sociais”, mas
que também escrevem e transformam a história no silencio de suas “pequena-grandes” ações
cotidianas.
No entanto, há impasses no que se refere à tomada de poder da mulher enquanto
produtora do conhecimento, tendo em vista que as mulheres não possuem na maioria das vezes
condições materiais, que garantam sua subsistência, sendo esse fator condicionante para as
1
Este texto foi reformulado, no original se intitula Virginia Woolf e Bell Hooks: demarcadas pelo gênero, publicado
na Revista Partes, São Paulo, 2012.
Tais discussões é resultado da disciplina Antropologia, Gênero e Sexualidade, ministrada pela Prof. Suzana Maia, do
curso de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
2
Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Integrante do
Núcleo de Estudos e Pesquisas Gênero, Raça e Etnia da mesma universidade.
3
Esse termo faz referencia a célebre obra O Segundo Sexo de Simone Beauvoir que aborda questões acerca da
construção social dos papéis, sobretudo feminino. Nesse sentido, a autora problematiza a posição secundária da
mulher em relação ao homem, desconstruindo ideais deterministas que impõem a mulher numa posição de
subalternidade social. Beauvoir traz a luz uma nova concepção do ser mulher, em prospectiva original.
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decisões tomadas. Assim, a esfera das condições materiais está intrinsecamente ligada à esfera da
produção do conhecimento e da intelectualidade. Nesse direcionamento, Bourdieu (2002), no
livro A dominação masculina, argumenta que a relação de dominação do homem sobre a mulher é
legitimada e naturalizada socialmente, inscrevendo assim as representações e performances que são
incorporada no imaginário social e consentida pelos dominados. De acordo com Bourdieu, as
mulheres também colaboram para a reprodução dos estigmas a elas impostos. Desta forma,
compreende-se que a mulher não possui iguais condições em relação ao homem por causa da
distinção social que é realizada através do corpo.
Então fica posto, que para se produzir conhecimento é preciso condições necessárias;
condições essas que as mulheres não partilham das mesmas que os homens. A mulher, além de
não possuir condições materiais como, por exemplo, autonomia financeira necessária [já que é
igualmente subjugada no mercado de trabalho], também está condicionada aos papéis
determinados historicamente ao gênero feminino, o que as distancia de terem um espaço, um
tempo, “um momento todo seu”. Devemos questionar as hierarquias de poder, até por que o
saber se cria através do questionamento. A mulher tem que reconhecer sua subjugação;
incomodar-se com as condições de existência imposta. Só assim, se terá a construção de um
projeto de consciência coletiva que tornará a mulher uma protagonista frente ao seu tempo.
Referências
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. 2ª ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Tradução Maria Helena Kuhner. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
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