LEVANTAMENTO DAS ESPÉCIES DE LEGUMINOSAS ENCONTRADAS EM FRAGMENTOS DE CERRADO NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS-MS, BRASIL. Dourado, C. O.¹; Miyaji, A. M.¹*; Neto, M. J.² ¹ Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas-MS, Departamento de Ciências Naturais, [email protected] ² Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas-MS, Departamento de Enfermagem e Biotecnologia aplicada à Saúde. Introdução Parte da vegetação do Estado de Mato Grosso do Sul se caracteriza pelo domínio do Cerrado (Eiten, 1972), estando o município de Três Lagoas situado neste domínio. O Cerrado é um dos tipos de vegetação floristicamente mais diversos do mundo, com um número estimado de 10.000 espécies de plantas superiores, cerca de metade das quais são endêmicas e sofrem ameaças de extinção, sendo classificado como um dos hotspot da biodiversidade (Myers et al., 2000). A vegetação nativa do Cerrado tem sofrido enorme destruição ao longo dos últimos anos, principalmente devido à expansão da agricultura brasileira, da agropecuária e, mais recentemente, do crescimento industrial. Mesmo assim, pouca atenção tem sido dada à dramática situação deste bioma (Durigan et al., 2004). No Município de Três Lagoas são encontrados fragmentos de cerrado que resistiram à municipalização e a industrialização da região e a nesses fragmentos há o predomínio de espécies da Família das Leguminosas. As leguminosas são plantas cujo porte vai desde ervas anuais ou perenes, trepadeiras, arbustos, subarbustos a grandes árvores e geralmente, apresentam o fruto do tipo legume. Compreendem uma extensa família de plantas muito bem adaptadas em solos de baixa fertilidade, pobres em nitrogênio, isto porque são capazes de estabelecer uma simbiose muito proveitosa com bactérias conhecidas como rizóbios, as quais conseguem utilizar o nitrogênio do ar, ou seja, da atmosfera, produzindo compostos nitrogenados que são transferidos para a planta hospedeira (Neves et al., 2002). São conhecidas devido à sua grande distribuição e por viverem nos mais variados ambientes, em diferentes latitudes e altitudes, além da sua importância na alimentação, ornamentação, medicina, uso madeireiro, entre outras. Nesse sentido o trabalho teve como objetivo realizar um levantamento qualitativo das espécies encontradas em diferentes fragmentos de cerrado situados no Município de Três Lagoas estado do Mato Grosso do Sul, contribuindo para o conhecimento da biodiversidade do cerrado. Material e Métodos O trabalho foi realizado em diferentes fragmentos de cerrado localizados no município de Três Lagoas estado do Mato Grosso do Sul, no período de 2007 a 2009, o que possibilitou que as espécies fossem observadas em diferentes estações do ano e, conseqüentemente, em fases vegetativas e reprodutivas, essas últimas imprescindíveis para a identificação das espécies. Para o levantamento das espécies foi utilizado o método de caminhamento (Filgueiras et al., 1994), percorrendo toda a área poligonal. Algumas plantas foram identificadas in situ e as demais por comparação com literatura especializada (Durigan et al., 2004; Lorenzi, 1998, v.1 e v.2; Lorenzi, 2000; Pott e Pott, 1994 e Pott e Pott, 2006). O sistema de classificação utilizado foi o de Cronquist (1981). Resultados e Discussão Foram encontradas 94 espécies, cuja posição taxonômica está detalhada na Tabela 1. Tabela 1: Gêneros, suas famílias e o número de espécies identificadas/gênero. Gênero Família Abrus Acacia Acosmium Aeschynomene Alysicapus Anadenanthera Fabaceae Mimosaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Mimosaceae Andira Arachis Bauhinia Bowdichia Cajanus Calopogonium Camptosema Canavalia Centrosema Chamaecrista Copaifera Crotalaria Derris Desmodium Dimorphandra Dioclea Diptychandra Enterolobium Eriosema Erythrina Galactia Hymenaea Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Caesalpiniaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Mimosaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Indigofera Inga Fabaceae Mimosaceae Nº de espécies/gênero 1 1 1 3 1 1 3 2 2 1 1 1 1 1 3 6 2 7 1 5 1 1 1 1 1 1 1 2 3 1 Machaerium Macroptilium Melanoxylon Mimosa Peltogyne Plathymenia Platypodium Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Mimosaceae Caesalpiniaceae Mimosaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Caesalpiniaceae Mimosaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae 1 2 1 10 1 1 1 1 1 4 2 4 1 1 3 3 Rhynchosia Riedeliella Senna Stryphnodendron Stylosanthes Tephrosia Vatairea Vigna Zornia Fabaceae Das espécies encontradas 57 são Fabaceae, 20 Caesalpiniaceae e 17 Mimosaceae. Segundo a distribuição com relação aos gêneros a família mais numerosa foi a Fabaceae apresentando 30 gêneros (65%), seguida pela Caesalpiniaceae com nove gêneros (20%) e por fim as Mimosaceae com sete gêneros (15%). As Fabaceae apresentaram os seguintes gêneros: Abrus, Acosmium, Alysicapus, Bowdichia, Cajanus, Calopogonium, Camptosema, Canavalia, Derris, Dioclea, Eriosema, Erythrina, Galactia, Machaerium, Platypodium, Rhynchosia, Riedeliella, Tephrosia e Vatairea com uma espécie cada, Arachis e Macroptilium com duas espécies cada, Aeschynomene, Andira, Centrosema, Indigofera, Vigna e Zornia com três espécies cada, Stylosanthes com quatro espécies, Desmodium com cinco espécies e Crotalaria com sete espécies; as Caesalpiniaceae apresentaram os seguintes gêneros: Dimorphandra, Diptychandra, Melanoxylon e Peltogyne com uma espécie cada, Copaifera e Hymenaea com duas espécies, Senna com quatro espécies, Chamaecrista com seis espécies; as Mimosaceae apresentaram os seguintes gêneros: Acacia, Anadenanthera, Enterolobium, Inga e Plathymenia com uma espécie cada, Stryphnodendron com duas espécies e Mimosa com dez espécies. Se o sistema de classificação utilizado fosse o APG II, as espécies identificadas estariam dentro de uma única família: Fabaceae. Conclusões No fragmento estudado foram encontrados exemplares das três famílias, Fabaceae, Caesalpiniacae e Mimosaceae, distribuídos em 48 gêneros e 93 espécies. As Leguminosas encontradas são de grande relevância, pois apresentam potencial ornamental, medicinal, uso da madeira, alimento, entre outras. As áreas estudadas são fragmentos de cerrado que resistiram à municipalização e a industrialização da região e por isso merecem especial atenção, como adotar as áreas que são da prefeitura como unidade de conservação, ou utilizar os terrenos não-edificados como banco de sementes para que fossem utilizadas na produção de mudas e plantadas em áreas onde fosse viável o reflorestamento. Referências Bibliográficas 1. Cronquist, A. 1981. An Integrated System of Classification of Flowering Plants. New York: Columbia University Press. 1262 p. 2. Durigan, G; Baitelo, J. B.; Franco, G. A D. C.; Siqueira, M. F. 2004. Plantas do Cerrado Paulista - imagens de uma paisagem ameaçada. São Paulo: Páginas & Letras Editora e Gráfica. 275 p. 3. Eiten, G. 1972. The cerrado vegetation of Brazil. The Botanical Review. Bronx. v. 38, n. 2. p. 201-341. 4. Neves, M. C. P.; Silva, D. G. 2002. As Leguminosas, os rizóbios e a fertilidade dos solos. São Paulo: Embrapa Agrobiologia. 5. Filgueiras, T.S.; Brochdo, A.L.; Nogueira, P.E.; Guala Ii, G.L. 1994. Caminhamento - um método expedido para levantamentos florísticos qualitativos. Rio de Janeiro: Cad. Geoc. v.12, p.3943. 6. Lorenzi, H. 1998. Àrvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, v.1. 7. Lorenzi, H. 1998. Àrvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, v.2. 8. Lorenzi, H. 2000. Plantas daninhas do Brasil - terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 608 p. 9. Myers, N.; Mittermeir, R. A.; Mittermeir, C. G.; Fonseca, G. A. B. Da; Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, London, v. 403, p. 853-858. 10. Pott, A.; Pott, V. J. 1994. Plantas do Pantanal. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal. 320 p. 11. Pott, A.; Pott, V.J.; Souza, T, W. 2006. Plantas daninhas de pastagem na Região de Cerrados. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte. 336 p.