MEMORANDO SOBRE O VECTOR TRANSMISSOR DO

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Direcção-Geral da Saúde
MEMORANDO SOBRE O VECTOR TRANSMISSOR DO VÍRUS DO NILO
OCIDENTAL (VNO)
Mosquito da espécie Culex pipiens
Ministério da Saúde
Direcção-Geral da Saúde
Memorando sobre o vector transmissor do vírus do Nilo
Ocidental (VNO): mosquito da espécie Culex pipiens
Introdução
Os mosquitos do Gén. Culex spp. possuem cerca de 500 espécies descritas
que são na sua maioria espécies tropicais e sub-tropicais. Certas espécies
têm um papel importante como vectores da filariose de Bancroft e de
arboviroses (arbo=arthro) como a encefalite japonesa e do Vírus do Nilo
Ocidental.
Biologia do mosquito Culex spp.
Ciclo de desenvolvimento
Distinguem-se quatro estádios de desenvolvimento: o ovo, a larva, a ninfa
ou pupa e o adulto. Em geral, as fêmeas só se reproduzem uma vez mas
põem ovos periodicamente durante toda a sua existência. Para conseguir
isso, a maioria delas deve alimentar-se de sangue. Os machos não são
hematófagos, alimentam-se de sucos vegetais (fitófagos).
O tempo que decorre entre a refeição de sangue e o desenvolvimento
posterior dos ovos é em média cerca de 2 a 3 dias nos trópicos mas pode
levar mais tempo nas zonas temperadas.
As fêmeas procuram então locais favoráveis à postura, normalmente à
superfície de águas paradas. Uma vez depositados os ovos, voltam para se
alimentar novamente e repetir o ciclo. Os ovos podem sobreviver meses a
períodos de seca, só eclodindo após as primeiras chuvas e resultando, por
vezes, na produção de enormes quantidades de mosquitos num curto
espaço de tempo.
Após a eclosão, as larvas não se desenvolvem em contínuo, passam por
quatro fases diferentes (instares): no primeiro, a larva mede
aproximadamente 1,5mm de comprimento e no quarto, cerca de 8-10mm.
As larvas não possuem patas mas têm cabeça e um corpo bem
desenvolvidos revestidos de sedas. São capazes de nadar graças a
movimentos ondulatórios do seu corpo. Alimentam-se de leveduras,
bactérias e pequenos organismos aquáticos. Possuem um sifão respiratório
na extremidade do abdómen que lhes permite respirar quando se
aproximam da superfície. Mergulham por períodos curtos para escapar a
algum perigo ou procurar alimento.
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No final do seu desenvolvimento
como larva, transformam-se em
ninfa ou pupa, cuja forma se
assemelha a uma vírgula. As
ninfas não se alimentam e passam
a maior parte do tempo à
superfície da água. Mergulham
rapidamente para o fundo quando
são perturbadas. Quando a ninfa
atinge a maturidade, o seu
tegumento
fende-se
na
extremidade, dando passagem
para o exterior a um mosquito
adulto
completamente
desenvolvido.
Quando
as
condições
são
favoráveis,
a
passagem do ovo a adulto demora
7 a 13 dias.
Hábitos comportamentais
Os mosquitos do Gén. Culex efectuam as posturas em qualquer zona
húmida ou de água parada, preferencialmente fossas, esgotos, águas
estagnadas e poluídas. A maioria dos mosquitos adultos vivem no exterior.
Durante o dia estão inactivos em zonas resguardadas e sombrias; à noite,
as fêmeas, hematófagas, retomam a actividade para se alimentarem,
picando indiferenciadamente humanos e animais.
A maioria destes mosquitos não migram, permanecendo perto dos locais de
reprodução.
Características de transmissão do Vírus do Nilo Ocidental
O vírus do Nilo Ocidental (VNO) transmitido pelo mosquito Culex spp.
pertence à família dos Flaviviridae (género Flavivirus). Serologicamente é
um membro do complexo antigénico vírico da encefalite Japonesa, que
inclui também os vírus das encefalites St. Louis, Kunjin e Murray Valley.
O VNO foi isolado pela primeira vez em 1937, na província do Nilo
ocidental, Uganda.
Têm sido registados surtos epidémicos em humanos e equinos em regiões
da África, Sul da Europa, América do Norte e Ásia.
Pensa-se que a mortalidade em várias espécies de aves possa estar
associada à actividade do VNO. Os técnicos de saúde pública têm utilizado
esta informação, sobretudo no que se refere a espécies da família Corvidae,
para estudarem a distribuição geográfica do VNO.
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Estudos de campo realizados no início da estação (Primavera)
demonstraram que áreas com mortalidade de aves devido a infecção por
VNO vêm a sofrer subsequentemente transmissão enzoótica do vírus. No
entanto, a maioria das aves infectadas por VNO sobrevivem, tal como foi
revelado pela elevada seroprevalência em numerosas aves residentes em
zonas de transmissão vírica intensa.
O vírus do Nilo Ocidental tem sido transmitido principalmente através do
mosquito Culex spp. No entanto, o facto de ser detectado a presença do
vírus num mosquito não o torna necessariamente um vector competente.
O VNO é amplificado durante os períodos em que as fêmeas adultas,
necessitam de se alimentar de sangue para efectuar as suas posturas.
Desenvolve-se assim um ciclo de transmissão contínua do VNO entre
mosquitos vectores e aves hospedeiras que constituem reservatórios do
vírus. Os mosquitos infectados transportam o vírus nas glândulas salivares
e infectam as aves mais susceptíveis durante a refeição de sangue. As aves
reservatório competentes conservarão a virémia infecciosa
(vírus
circulando na corrente sanguínea) durante um período de 1-4 dias após a
exposição, após o qual estes hospedeiros desenvolverão imunidade de
longo prazo.
É necessário que um número suficiente de vectores se alimente num
hospedeiro infectado para assegurar que alguns sobrevivam até se
alimentarem novamente noutro hospedeiro reservatório susceptível.
Humanos, equinos, e a maioria dos outros mamíferos não desenvolvem a
virémia infecciosa com frequência e muito provavelmente são hospedeiros
finais ou acidentais.
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A doença não se transmite directamente de humano a humano, mas de
mosquito - ave - mosquito – humano.
Muitos factores ambientais podem afectar o ciclo de amplificação
viral, p. ex., as condições meteorológicas, tipo de hospedeiro, o seu
estado imunológico, os predadores de vectores, parasitas.
Medidas de controlo a ter em conta
Organismos-alvo: Larvas de mosquito
Actualmente, um dos principais métodos de luta em relação às populações
de mosquitos reside na eliminação dos locais de postura e criação de larvas
e/ou na utilização de larvicidas. As larvas de mosquito podem ser
controladas por via mecânica, biológica, ou química:
a) controlo mecânico – consiste na destruição dos locais favoráveis ao
desenvolvimentos dos estádios imaturos do mosquito.
Pode envolver várias medidas:
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Esvaziamento e remoção de contentores ocasionais, como pneus velhos
e latas;
As depressões no terreno devem ser reduzidas;
Ervas altas, que podem reter águas, devem ser cortadas regularmente;
Os aterros sanitários devem ter um declive final por forma a facilitar a
drenagem;
Remover as barreiras para que a água possa correr livremente;
Igualmente importante é a selagem de tanques ou fossas onde esgotos
possam ficar estagnados.
Pequenos charcos e lagos constituem locais preferenciais de criação de
larvas: as ervas circundantes devem ser retiradas e a água renovada;
Em campos irrigados, os problemas dos mosquitos podem ser
relevantes. Estes normalmente procuram a água armazenada, o sistema
de distribuição e de drenagem. Para controlar esta situação, é necessário
usar quantidades de água suficientes para a manter em movimento nos
sistemas e evitar a estagnação.
b) controlo biológico - a técnica biológica para eliminar as larvas pode
incluir o uso de toxinas do Bacillus thuringiensis, reguladores de
crescimento dos insectos (feromonas) e/ou luta biológica através do
povoamento dos lagos e outras áreas aquáticas com peixes predadores
de larvas de mosquitos, p. ex. do Gén. Gambusia.
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c) controlo químico - este tipo de controlo pode ser efectuado através de
destilados de petróleo, os quais são tóxicos para os ovos, larvas e
pupas. Os larvicidas à base de piretróides também têm sido usados
durante muito anos. Produtos à base de metoxicloro actuam de forma
sistémica, como veneno por contacto, penetrando a parede respiratória
das larvas.
Organismos-alvo: Mosquitos adultos
a) Protecção das habitações - à noite, os mosquitos são controlados
eficazmente através de redes com uma malha de 4,8Χ4,8 ou 4,2Χ4,2mm
que impedem a sua passagem.
b) Protecção humana - Actualmente, existem vários tipos de repelentes
químicos no mercado nacional (anexo I ou ver link). Incluem, entre
outros, o éster etílico ácido 3-(N-N-butil_N-acetil)aminopropiónico
(EBAAP) e o N-N dietiltoluamida (DEET). Estes, aplicados em superfícies
do corpo, podem prevenir as picadas de mosquito por períodos entre 212 h. Esta protecção depende da pessoa, da espécie de mosquito e da
abundância de mosquitos existente.
Outro modo de controlo dos mosquitos adultos com efeito directo no
Homem será a acção de pulverização no ambiente de insecticidas (anexo
II ou ver link) que pode ser desencadeada através do uso de aerossóis,
fumigação ou aplicação aérea, por meio de equipamento devidamente
calibrado, de modo a que as partículas emitidas tenham a dimensão
adequada. Se forem demasiado grandes, escorrem para o solo, se muito
pequenas são levadas pelo vento para longe da área alvo.
Técnica de Controlo Integrado de Pragas (GIP)
As autoridades internacionais que têm a seu cargo programas de vigilância
e controlo de doenças transmissíveis por vectores biológicos, como a EPA e
o CDC, recomendam vivamente o uso desta técnica, na medida em que se
trata de uma estratégia ecológica que assenta largamente nos factores de
mortalidade natural procurando utilizar tácticas compatíveis com os
mesmos ou que os perturbem minimamente. A GIP usa pesticidas mas só
se as actividades de monitorização de pragas indicarem essa necessidade.
Esta abordagem inclui todas as acções de controlo disponíveis e avalia a
interacção entre estas, como as práticas de cultivo, a meteorologia e a
estrutura do habitat.
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Conclusão
A ideia fundamental no controlo de populações de mosquitos baseia-se no
facto de que se consegue atingir um maior impacto se estas estiverem
concentradas, com pouca mobilidade e acessíveis, o que significa que se
terá de actuar sobretudo ao nível da gestão dos seus habitats e do controlo
dos estágios imaturos, tal como foi salientado anteriormente. A adopção
desta política terá como principal vantagem a redução da aplicação massiva
de pesticidas em áreas urbanas e semi-urbanas.
Se por um lado, é importante darmo-nos conta que é impossível eliminar
por completo os surtos de doença transmissíveis por vectores biológicos,
como é o caso dos mosquitos, por outro, é necessário desenvolver sistemas
de vigilância e controlo eficazes a fim de minimizar os factores de risco.
Referências bibliográficas:
1- CDC-Division of Vector-Borne Infectious Diseases – www.cdc.gov
2- EPA- U.S. Environmental Protection Agency – www.epa.gov
3- Petersen, L.R. e Martin, A. A. – West Nile Virus: A Primer for the Clinician,
Annals of Internal Medicine, vol. 137, nº3, Agosto 2002.
4- Handbook of Environmental Health and Safety – Principles and Practices, Vol. I,
Herman Koren and Michael Bisesi.
5- La lutte antivectorielle – MÉTHODES À USAGE INDIVIDUEL ET COMMUNITAIRE –
Sous la direction de J. A. Rozendaal, O.M.S., Genève, 1999.
6- Méthodes chimiques de lutte contre arthropodes
importants en santé publique, O.M.S., Genève, 1988.
vecteurs
et
nuisibles
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