III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001-004 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA: UMA CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO SEPULTURA, CAMPINAS DO SUL, RS. LETÍCIA CELISE BALLEJO DE OLIVEIRA FRANCIELE FRANCISCA MARMENTINI ROVANI ROBERTO CASSOL Universidade Federal de Santa Maria - UFSM Centro de Ciências Naturais e Exatas - CCNE Departamento de Geociências, Santa Maria, RS {leticelise; franciele.rovani }@yahoo.com.br [email protected] ABSTRACT - Spatial analysis allows you to view and understand changes in the geographic area that may be related to human activities or natural order and the Geographic Information Systems (GIS) are tools that assist in this process. This study aimed to characterize physical, integrating hydrography and relief Ceveiro Arroyo Sepultura / RS, with the help of the functions of the GIS SPRING 4.3. So, this could generate GIS maps Hypsometric, Clinográfico and Land Use Basin, which contributed to the characterization of the area, showing their physical and natural and human occupation. Thus, it was concluded that the Geographic Information Systems, as the SPRING 4.3, emerge as important tools for GIS, facilitating the analysis and design of geographic spaces. 1 INTRODUÇÃO Através da Ciência Geográfica é possível entender as formas de organização do espaço, bem como, a ação dos agentes físicos e sociais que nele atuam. Desse modo, a análise espacial permite visualizar e compreender transformações no espaço geográfico, que podem ser resultados das atividades humanas ou de ordem natural. Os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) são instrumentos que auxiliam nesse processo, pois são ferramentas de Geoprocessamento, que auxiliam a Geografia. Eles permitem a captura e o armazenamento de dados de ordem ambiental, social ou física, para uma posterior espacialização, contribuindo assim, para a análise geográfica e dando suporte à aplicação de um planejamento adequado para a área em questão. Desse modo, o presente trabalho tem por objetivo realizar uma caracterização da Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura, por meio da espacialização de alguns de seus elementos físicos, ambientais e de ocupação da terra. Para isso, utilizou-se o SIG SPRING 4.3 (Sistema de Processamento de Informação Georreferenciada), o qual se caracteriza por ser um Sistema de Informação Geográfica no estado-da-arte com funções de processamento de imagens, análise espacial, modelagem numérica de terreno e consulta a bancos de dados espaciais. Ele foi desenvolvido pela Divisão de Processamento de Imagens (DPI), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). L.C. B. Oliveira, F. F. M. Rovani, R. Cassol A Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura localiza-se no interior do município de Campinas do Sul, que pertence à porção norte do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 01) e engloba uma população de 5.745 habitantes em uma área de 261 km². O Arroio Sepultura é um dos rios que compõe a Bacia Hidrográfica do Rio Passo Fundo, a qual situa-se entre as coordenadas geográficas 27°04' a 28°19' de latitude Sul e 52°13' a 52°51' de longitude Oeste. A Bacia limita-se ao norte com o Rio Uruguai (Estado de Santa Catarina); ao sul com a bacia do Alto Jacuí; a leste com a bacia do ApuaéInhandaua; e a oeste com a bacia do rio da Várzea. Possui uma área de 4.802,87 Km², abrangendo 30 municípios, como Ametista do Sul, Carazinho, Erechim, Frederico Westphalen, Passo Fundo e Sarandi, totalizando uma população entre 160.077 habitantes. Os principais cursos de água são: o Arroio Timbó e o Rio Passo Fundo, o qual o Arroio Sepultura é um dos afluentes da margem esquerda. Os principais usos da água na Bacia se destinam a dessedentação animal, irrigação, uso industrial e abastecimento humano. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Figura 1 – Localização da área de estudo. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O material cartográfico utilizado na execução do trabalho relacionou-se à Carta Topográfica de Barão Hirsch, folha SG.22-Y-C-VI-4, escala 1:50000, elaborada pela Diretoria de Serviços Geográficos (DSG) de 1979 e a imagem de satélite Landsat 5 de 30 de março de 2007. Os dados e as informações que compuseram os mapas foram oriundos do software Spring 4.3. A partir da conversão da Carta Topográfica de Barão Hirsch do meio analógico para o digital, procedimento realizado a partir da partição desta carta em três partes no software Impima 4.3, utilizou-se o software Spring 4.3 para o georreferenciamento. Após essa etapa foram criados Planos de Informação referentes à delimitação da área da microbacia, obedecendo seus divisores de água até a desembocadura, às curvas de nível, drenagem, caminhos, às estradas, de acordo com a Carta. Com a base cartográfica passou-se a elaboração do mapa Hipsométrico, por meio do modelo de dados “Temático”, gerando a grade retangular. Em seguida, a partir da contagem das curvas de nível dividiu-se a área em 3 classes altimétricas variando em 30m e uma variando em 40m, atribuindo-se as cores, partindo-se de tonalidades mais claras para mais fortes, à medida que aumenta o valor das classes. Posteriormente, com as curvas de nível e pontos cotados da microbacia já digitalizados, por meio do modelo de dados MNT (Modelo Numérico do Terreno), gerou-se a grade triangular para assim, elaborar o mapa de declividades (Clinográfico). Desse modo, no fatiamento da imagem, atribui-se os valores das classes de declividade, de acordo com De Biasi (1970), de 0 – 5%, correspondente às áreas sem problemas de ocorrência de erosão e o limite máximo de industrialização; entre 5 – 12%, correspondendo ao limite para emprego de mecanização na agricultura e construção civil sem a necessidade de cortes ou aterros; as declividades entre 12 – 30% representam a maior inclinação do relevo, que dificultam as práticas agrícolas, sendo possível a prática de culturas permanentes (reflorestamento); entre 30 – 47%, as encostas de morro que constituem-se limite para L.C. B. Oliveira, F. F. M. Rovani, R. Cassol Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001-004 corte raso da vegetação e superior a 47% em que não é permitida a retirada da vegetação, exceto em regime de utilização racional, pois são áreas de preservação permanente, de acordo com a Legislação Ambiental. Elaborou-se o Mapa de Uso da Terra com o objetivo de reconhecer a utilização da terra na referida bacia. Para sua elaboração utilizou-se a imagem do Satélite Landsat 5 TM (bandas 3,4,5), referente ao dia 30 de março de 2007. Para a integração da imagem ao Mapa Base, ela foi georreferenciada. Em seguida, foram gerados Planos de Informações temáticos: florestas e matas ciliares, áreas cultivadas, solo exposto e corpos hídricos (cursos d’água e açudes), associados a cores diferentes na imagem, verde claro – culturas, verde escuro – floresta, cor escura (preta) – água e lilás – solo exposto. Para a classificação da imagem, através do método de pixel a pixel, aplicou-se o contraste e adquiriram-se amostras relacionadas a cada Plano de Informação. Finalmente, a edição final dos mapas foi realizada no software Scarta 4.3. 3 RESULTADOS A microbacia do Arroio Sepultura, localizada no interior do município de Campinas do Sul, RS, abrange uma área de cerca de 17km² e apresenta rios com uma hierarquia de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem, como pode ser evidenciar no mapa (Figura 02), sendo representados em cor e espessura crescentes, conforme aumenta a ordem. Os rios de primeira ordem apresentam uma extensão de 14,5 km, os de segunda 6,23 km, já os de terceira ordem 2 km e os de quarta apresentam 5 km de extensão e o açude 0, 014 km², totalizando assim uma extensão de 27,73 km do rio. Figura 2 – Mapa da Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura, Campinas do Sul, RS. Ao analisar o mapa Hipsométrico (Figura 03), que se caracteriza por representar a variação altimétrica do relevo em faixas horizontais de altitude, constata-se que a área localiza-se em uma altitude relativamente elevada (entre 600 e 730m), o que é comum levando em consideração a Província Geomorfológica (Planalto Meridional) do Estado, onde a microbacia está inserida. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Entretanto, ela não apresenta uma variação altimétrica considerável, pois, das nascentes a desembocadura no rio Passo Fundo, a amplitude do relevo varia em 130m a nível do mar. Assim, a montante da bacia, que compreende as nascentes do Arroio, está localizada entre as altitudes de 690 a 730 metros e sua jusante, nas áreas mais baixas, em torno de 600 a 630 metros de altitude. A área que abrange cada classe de faixa altimétrica pode ser visualizada na tabela 1. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001-004 entre 30 a 47% e maiores que 47% não apresentam uma significativa expressão, pois abrangem respectivamente 0,13 e 0,04 km². Portanto, apesar da área localizar-se em uma região de elevada altitude, ela não apresenta altos declives em suas vertentes. Figura 4 – Mapa Clinográfico da Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura, Campinas do Sul, RS. Figura 3 – Mapa da Hipsométrico da Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura, Campinas do Sul, RS. Tabela 1 – Área de abrangência das quatro classes altimétricas. Faixa altimétrica Área (km²) % 600-630 3,20 19,03 630-660 6,85 40,74 660-690 3,93 23,37 690-730 2,83 16,83 Assim de acordo com a tabela 1, pode-se observar que a maior parte da área da microbacia está inserida na faixa altimétrica entre 630 a 660 metros a nível do mar, que corresponde cerca de 41% do total da área. O mapa Clinográfico ou de Declividade, é uma forma de representar a morfologia do relevo no que concerne às inclinações das vertentes. Em uma bacia hidrográfica, ele possibilita indicar o correto uso da terra o que é fundamental para o planejamento de técnicas conservacionistas. Desse modo, no mapa Clinográfico da área de estudo (Figura 4) foram definidas cinco classes de declividade, de acordo com a proposta de Herz e Biasi (1989). Assim, observou-se que na montante da bacia encontram-se as declividades acima que 30% e na sua jusante, as declividades abaixo de 5%, sendo essas mais homogêneas e de maior expressão, ocupando as planícies aluvionais formadas ao longo do Arroio. Com o resultado das medições das áreas, verificou-se que as menores declividades representam 7,15 km² abrangendo maior parte da área, ou seja, 43%, seguida das declividades entre 5 a 12% que correspondem cerca de 5,6 km², 33% da área. As declividades entre 12 a 30% abrangem uma área de 3,8 km², que engloba cerca de 23%. E as declividades L.C. B. Oliveira, F. F. M. Rovani, R. Cassol Quanto ao Mapa de Uso da Terra (Figura 05) destacaram-se as florestas, as culturas, o solo exposto, incluindo as áreas de pousio, e os corpos hídricos, como elementos fundamentais para compreensão da dinâmica ocupacional (Tabela 2). Figura 5 – Mapa de Uso do Solo da Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura, Campinas do Sul, RS. Tabela 2 – Tipos de uso do solo e área correspondente. Tipo de uso do Área (km²) (%) solo Floresta/mata 7,0 41 ciliar Solo exposto 6,5 38 Áreas cultivadas 3,35 20 Corpos hídricos 0,04 0,23 As áreas em maior proporção compreendem as florestas, incluindo as matas ciliares, totalizando 7km² dos 17km² da microbacia. Encontram-se dispostas III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação principalmente nas áreas próximas ao leito dos rios e à montante da bacia. As áreas denominadas de solo exposto que incluem aquelas não cultivadas ou em pousio, também ocupam uma considerável porção da área, cerca de 38%. Localizam-se sobretudo a jusante da microbacia, ocupando as áreas destinadas para as matas ciliares. Com relação as lavouras de agricultura, denominadas de áreas cultivadas, elas ocupam uma área de 3,35 km², isto é 20% da microbacia. 4. CONSIDERAÇÕES Através dos Sistemas de Informação Geográfica é possível determinar as características espaciais e a evolução temporal dos fenômenos geográficos, bem como suas intrrelações. Desse modo, ele torna-se um importante instrumento para a Ciência Geográfica, pois auxilia a compreensão das dinâmicas sociais e naturais que atuam na paisagem, permitindo ao geógrafo realizar uma interpretação crítica da realidade espacial dos lugares. Portanto, a análise da Microbacia Hidrográfica do Arroio Sepultura, por meio de sua espacialização com o auxílio do software Spring 4.3, possibilitou a caracterização de seus aspectos ambientais, como relevo, hidrografia, bem como, a atuação antrópica, através do uso da terra. Com isso, pode-se analisar e correlacionar os diferentes agentes atuantes sobre a mesma. REFERÊNCIAS ASSAD, E. D.; SANO, E. E. Sistemas de Informações Geográficas. Aplicações na Agricultura. Brasília: Embrapa-SPI/Embrapa-CPAC, 1998. BIASI, M De. A Carta Clinográfica: os métodos de representação e sua confecção. Revista Departamento de Geografia. n. 6. São Paulo: USP, 1992, p. 45-60. MISSIO, E.; TONIAL, T. M.; ZANG, N.; HOLZSCHUH, M.L.; MARKOSKI, P. R.; RITTERBUCH, M. A. Caracterização da Hidrografia de Bacias da Região Norte do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em <http://www.uri.br/publicaonline/revistas/artigos/50.pdf>. Acesso: 24 de fevereiro de 2010. NETO, P. L. Sistemas de Informação Geográfica. 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