FGV - RJ / EPGE Mestrado em Finanças e Economia Empresarial Gerenciamento de Investimentos Professor: Marcos Antonio C. da Silveira Nota de Aula 1 Introdução: Alocação Estratégica de Portifólio Bibiografia: Capítulo 1, Campbell & Viceira 1 Motivação do Curso • Estudo da alocação estratégica de portifólio (carteira) num contexto mais próximo da realidade que o suposto na teoria básica de portifólio em Finanças — Extensão da teoria de alocação de portifólio para incorporar investidores sofisti- cados tomando suas decisões de investimento num ambiente econômico-financeiro complexo • Hipóteses por trás da teoria básica de decisão de portifólio: — horizonte de investimento de um período — ausência de renda do trabalho, ativos ilíquidos, imóveis — ausência de custos de transação e impostos • Alocação Estratégica X Escolha Completa de Portifólio: • Alocação Estratégica: — composição ótima do portifóio entre classes de diferentes ativos: ações, renda fixa, money market,... — suposição de diversificação a priori dentro de cada classe com base na teoria convencional — irrelevante para administração ativa de portifólio: "bater o benchmark" • Resultados úteis para decisões de alocação de riqueza entre fundos mútuos de inves- timento de classes diferentes 1 2 Teoria Básica de Finanças: Análise de Média-Variância • Modelo de Média-Variância de Markowitch para decisão de portifólio: — muito usado pelos participantes do mercado — modelo de escolha de portifólio (início da moderna teoria de Finanças) • Não discrimina entre investidores de curto e de longo prazo: horizonte de um período • Caso particular: três classes de ativos — ativos arriscados: fundo de ações, fundo de renda fixa (bônus) — ativo sem risco: money market (moeda) =⇒ ativo com retorno certo Rm Rp = ω a Ra + ω b Rb + ω m Rm 1 = ωa + ωb + ωm =⇒ Rpe = E [Rp ] = ωa E [Ra ] + ω b E [Rb ] + ωm Rm =⇒ σ 2p = V AR [Rp ] = ω2a V AR [Ra ] + ω2b V AR [Rb ] + 2ω a ω b COV [Ra , Rb ] q =⇒ σ p = DP [Rp ] = V AR [Rp ] • Fronteira eficiente: — "restrição orçamentária" do investidor — conjunto dos portifólios que oferecem o maior retorno esperado para algum nível de desvio-padrão σ̄p • Como construir a fronteira eficiente? Rpe z }| { max ωa E [Ra ] + ω b E [Rb ] + ωm E [Rm ] sujeito às restrições: ωa ,ω b ,ωm σ p = DP [Rp ] = σ̄ p 1 = ωa + ωb + ωm 2 • Caracterização da fronteira eficiente: — Portifólio tangente: portifólio composto apenas por ativos arriscados (ações e bônus) com o maior índice de Sharpe (razão entre o excesso de retorno esperado e o desvio padrão) — Portifólio tangente: melhor "mix" entre ativos arriscados — Fronteira eficiente: cada ponto da fronteira eficiente corresponde a uma alocação entre o portfólio tangente o ativo sem risco • Função objetivo dos investidores depende positivamente do retorno esperado da riqueza e negativamente de seu desvio padrão (risco): ¶ µ + − e u = u Rp , σ p (1) ∂u ∂u > 0; <0 e ∂Rp ∂σ p • Porque outros momentos não importariam? • Objetivo do investidor: ¶ encontrar o portfólio (ω a , ωb , ω m ) na fronteira eficiente que µ + − maximiza u = u Rpe , σp • Resultado fundamental: para toda função utilidade do tipo (1), solução ótima de portifólio encontra-se na fronteira eficiente 3 • Teorema dos Fundos Mútuos de Tobin (1958): — informação homogênea entre investidores acerca da distribuição do retorno dos ativos =⇒ — fronteira eficiente idêntica para todos os investidores =⇒ — todos os investidores alocam sua riqueza entre ativo sem risco e portifólio tan- gente — Conclusão 1: Portifólios de investidores com graus de aversão ao risco distin- tos diferem apenas na participação relativa entre ativo sem risco e portifólio tangente — Conclusão 2: Participação relativa dos ativos arriscados no portfólio tangente não depende do grau de aversão ao risco dos investidores • Proposição da separação das decisões de investimento: — fundos de investimento derivam o portifólio tangente a partir das estimativas dos retornos esperados e da matriz de variância-covariância dos ativos financeiros disponíveis — investidores decidem entre o ativo sem risco e o portifólio tangente com base em sua aversão ao risco 4 3 Consultoria para Planejamento Financeiro • Consultores financeiros: composição do portifólio de ativos arriscados para cada investidor deve ajustar-se a suas características pessoais específicas =⇒ violação da proposição da separação das decisões de investimento • Padrões observados de consultoria financeira: — investidores jovens, com um horizonte de investimento longo, devem assumir mais risco, redirecionando seus investimentos para ações — investidores mais conservadores devem manter maior proporção de sua riqueza em renda fixa do que em renda variável: "asset allocation puzzle" — investidores com rendimentos periódicos pouco voláteis (salários, aluguéis, con- tribuições,...) devem redirecionar sua riqueza financeira para ativos mais arriscados • Em suma, consultores sugerem um portifólio específico de ativos arriscados para cada investidor, ao invés de seguir a "regra simples do portifólio tangente" para todos os investidores, como prescrito pelo modelo convencional de média-variância • Com explicar a resistência dos consultores à teoria convencional? — interesse próprio: "interior decorator fallacy" (Peter Bernstein (1992), "Capital Ideas") — argumentos racionais com base nos objetivos dos investidores e no ambiente econômico-financeiro dentro do qual eles tomam suas decisões 5 4 Alocação Estratégica de Portifólio: Violação da Teoria Básica • Argumentos racionais comumente sugeridos p/violação da "regra do portifólio tan- gente" : — tratamento fiscal diferenciado — restrições para tomar emprestado (vender o ativo com risco) de forma a financiar uma posição de compra alavancada no portifólio tangente — crenças heterogêneas quanto a distribuição do retorno dos ativos financeiros • Estes argumentos explicam tudo? Não. Por que? — Diferentes recomendações para investidores com tratamento fiscal semelhante — Diferentes recomendações mesmo quando restrições para alavancagem não são atingidas — Diferentes recomendações para investidores com mesmo conjunto de informação • Argumentos racionais alternativos p/violação da "regra do portifólio tangente" (ob- jeto de estudo do curso): — percepção do risco embutido nos ativos difere entre investidores de curto e longo prazos — previsibilidade parcial do retorno do ativos — background risk ∗ presença de renda do trabalho e negócios privados ∗ presença de ativos ilíquidos (bens de consumo duráveis) e imóvel residêncial — mudanças ao longo do ciclo da vida: aposentadoria, poupança precaucionária e para educação — custos fixos de transação para entrada nos mercados financeiros: corretagem, educação financeira 6 4.1 Horizonte de Investimento: Mercado Monetário X Mercado de Capitais • Investidores de longo prazo: — investidores institucionais (horizonte de tempo infinito): fundos de pensão, fun- dações,.universidades,... — famílias (horizonte de tempo finito): ∗ objetivos de longo prazo: poupança para aposentadora, herança ∗ objetivos de médio prazo: compra de imóvel, pagamento da universidade dos filhos ∗ financiamento do fluxo de consumo ao longo da vida ∗ poupança precaucionária • Idéia central: percepção do risco embutido nos ativos difere entre investidores de curto e longo prazos • Aplicação no mercado monetário (fundo DI): — livre de risco no curto prazo — arriscada no longo prazo: reinvestimento a uma taxa futura desconhecida • Título de renda fixa de longo prazo indexado à inflação (ou título nominal num cenário de inflação reduzida): — livre de risco no longo prazo (mantido até o vencimento): oferece fluxo de caixa certo até seu vencimento — arriscado no curto prazo: preço (valor presente dos fluxos de caixa) varia inver- samente com a taxa de juros • Ações: menos arriscado no longo que no curto prazo • Investidor com objetivos de longo prazo (Ex.: jovens) mais propensos a investir no mercado de capitais (renda fixa e ações) que investidor com objetivos de curto prazo (Ex. velhos sem filhos) • Predominância de instrumentos do mercado de capitais na carteira dos investidores de longo prazo avessos ao risco 7 4.2 4.2.1 Background Risk: Renda Fixa X Renda Variável Renda do Trabalho, Outras Fontes de Renda • Investidores de longo prazo recebem renda periódica: — famílias: salários, ordenados, aluguéis,... — universidades: mensalidades, doações,... — fundos de pensão: contribuições • Capital humano = valor presente descontado da renda do trabalho • Riqueza total = riqueza financeira + capital humano • Investidores não valorizam riqueza por si mesma, mas pelo fluxo de consumo (bem- estar) por ela proporcionado ao longo de suas vidas • Imperfeição no mercado de capitais: assimetria de informação =⇒ problema de "perigo moral" =⇒ capital humano não é líquido (nontradable) • Investidores diferem quanto à volatilidade de curto prazo da renda do trabalho • Investidores com renda do trabalho pouco volátil: — Capital humano paga rendimento praticamente certo =⇒ ativo com pouco risco de curto prazo (dotação implícita do ativo sem risco) — Não liquidez + baixo risco =⇒ redirecionamento da riqueza financeira dos ativos líquidos menos arriscados (renda fixa) para ativos mais arriscados (renda variável) • Investidores com renda do trabalho muito volátil: — Capital humano é um "proxy" menos satisfatório para ativo sem risco — Quanto maior a volatilidade da renda do trabalho, menor a dotação implícita do ativo sem risco: renda do trabalho descontada a uma taxa (ajustada pelo risco) mais elevada — Mesmo assim, existência de renda do trabalho é melhor que "nada" — Menor redirecionamento da riqueza financeira para ativos financeiros mais ar- riscados 8 4.2.2 Previdência Pública • Investidores que fazem contribuição para previdência pública — regime de benefício definido =⇒ dotação implícita de ativo ilíquido que gera um fluxo de renda certo na aposentadoria — redirecionamento da poupança livre para aposentadoria (em regime de con- tribuição definida) para ativos mais arriscados 4.2.3 Ativos Ilíquidos, Imóveis • Bens de consumo duráveis, imóveis: ativos menos líquidos que oferecem retorno certo • Qual o retorno destes ativos: fluxo de serviços ao longo da vida útil • Como a presença destes ativos afeta a composição da carteira entre ativos mais e menos arriscados? 9 4.3 Ciclo da Vida • Objetivos e horizonte de investimento das famílias investidoras variam com a idade • Poupança com objetivos diferentes requerem composições de portifólio diferentes: — jovens poupam para precaução — adultos na idade média poupam para financiar aposentadoria e educação dos filhos — idosos não poupam, gastam suas aposentadorias • Volatilidade dos ativos depende do horizonte de investimento: — volatilidade das ações diminui com aumento do horizonte de investimento — horizonte de investimeto diminui com idade — investimento em ações diminui com idade 10 5 Objetivos do Curso • Desenvolvimento de um arcabouço teórico que permita uma análise rigorosa do problema de decisão de portifólio enfrentado por investidores sofisticados (objetivos complexos) operando em ambientes econômico-financeiros mais próximos da realidade — Extensão e modificação da teoria básica de decisão de portifólio — Compreensão do verdadeiro trade-off entre risco e retorno para investidores de longo prazo — "Antídoto" contra falácias: argumentos falsos, aparantemente providos de con- sistência lógica, que não se sustentam a uma análise rigorosa • Intuição para modelos quantitativos que produzam resultados práticos para a alo- cação estratégica de portifólio — Dificuldades na implementação prática de modelos mais complexos: ausência de fórmulas fechadas, modelos não lineares, estocacidade,... — Defasagem entre teoria e prática =⇒ avanços na teoria de portifólio pouco di- fundidos entre participantes do mercado — Desenvolvimentos recentes: ∗ métodos númericos, melhores computadores ∗ soluções analíticas aproximadas ∗ soluções fechadas para alguns casos 11