Tema 21_Idade Contemporânea_Era Napoleônica

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IDADE CONTEMPORÂNEA: ERA NAPOLEÔNICA
CONTEÚDOS

Consulado

Império

Congresso de Viena
AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS
Napoleão Bonaparte, foi um jovem militar que ganhou fama e prestígio
precocemente, ao liderar o exército francês nas guerras externas durante o período que
seu país passava por uma grande revolução que derrubou a monarquia. Suas vitórias
nesses combates, associadas a lealdade dos seus soldados fez dele o homem forte que
poderia sufocar as rebeliões internas, reunificar politicamente o país e consagrar os
interesses da burguesia.
Desse modo, por meio de um golpe de estado, conhecido como o 18 do Brumário,
Napoleão Bonaparte toma o poder na França, colocando fim à Revolução Francesa. Seu
governo estendeu-se de 1799 à 1815, e ficou conhecido como a Era Napoleônica. Esse
período teve dois momentos políticos distintos: o primeiro que manteve uma estrutura mais
democrática (Consulado) e o segundo no qual o poder esteve mais concentrado e houve
uma expansão militar territorial (Império).
Figura 1 – Napoleão Bonaparte nos Alpes
Fonte: Wikimedia Commons
Consulado
Foi uma forma de governo criada na França que centralizava o poder nas mãos do
Primeiro Cônsul (Napoleão Bonaparte), porém, mantinha uma estrutura democrática.
Assim, o poder executivo ficava a cargo de 3 Cônsules (sendo que o comando militar
caberia exclusivamente ao Primeiro Cônsul), o poder judiciário que ficava sob a
responsabilidade dos Tribunais Franceses e o poder legislativo, dividia-se entre o Senado,
o Corpo Legislativo e o Conselho de Estado.
No campo político, Napoleão Bonaparte buscou estabelecer tréguas e acordos de
paz com os países que vinham atacando as fronteiras da França. Internamente ele
censurou a imprensa de modo que só se publicassem notícias positivas e que apoiassem
o governo. Assim, ele também manteve um forte esquema de vigilância policial que
manteve os opositores do seu governo presos.
Para agradar a burguesia que o apoiava, em 1804, ele decretou o Código Civil
Napoleônico que reafirmava as ideias de liberdade, propriedade privada e igualdade
perante a lei, defendidas inicialmente pelos iluministas durante a Revolução Francesa.
Porém, esse mesmo código proibia que os trabalhadores organizassem greves.
Figura 2 - Napoleão Bonaparte
Fonte: Wikimedia Commons
Já para reorganizar a economia francesa, Napoleão Bonaparte, fundou em 1800, o
Banco da França que regulou a emissão de moeda para controlar a inflação. Nesse
contexto, o governo investiu no desenvolvimento industrial do país, incentivando o mercado
interno e criando medidas protecionistas, como por exemplo, altas taxas para a importação.
Ainda no campo econômico, observa-se que para levantar capitais para seu
governo, Napoleão Bonaparte decide vender o território da Louisiana, localizado na
América do Norte para os Estados Unidos, e confiscar as propriedades da Igreja Católica
na França. Para não se indispor com o papado, ele assina a Concordata de 1801,
comprometendo-se a amparar o clero católico em seu governo. A influência de Napoleão
Bonaparte nos assuntos religiosos da França passou a ser tão intensa que a nomeação
dos bispos ficou sob a sua responsabilidade.
No campo educacional, ele manteve a proposta de ensino básico gratuito e laico da
fase popular da Revolução Francesa, ampliando-o ao criar os Liceus de Artes e Ofícios que
formariam a mão de obra qualificada para diversos trabalhos. Napoleão Bonaparte, também
reorganizou o centro de Paris, com o objetivo de higienizar a cidade e embelezá-la. Uma
contribuição bastante significativa foi a construção de um grande Arco do Triunfo que
representaria as vitórias desse governante
Figura 3 - Arco do Triunfo em Paris
Fonte: Wikimedia Commons
Nos anos do consulado, Napoleão mostrou-se um governo eficiente, ao sanear as
contas públicas, controlar a inflação, pagar boa parte da dívida externa da França e
industrializar o país. Com isso, além do apoio da burguesia, ele passou a contar com o
apoio popular. Fortalecido, ele torna seu mandato vitalício e inicia uma campanha para
aumentar o seu poder.
Para atingir esse objetivo, Napoleão Bonaparte, alega que os descendentes da
família dos Bourbons pretendiam retomar o poder e restaurar o absolutismo na França.
Desse modo, ele alega que seria necessário um governo centralizado com amplos poderes
para reagir a esse ataque. Então, para dar um aspecto de decisão democrática, e não de
um golpe, ele convoca um plebiscito em 1804, que o fará imperador segundo a vontade
popular (com aproximadamente 60% dos votos).
Curiosidade: Após a vitória de Napoleão no plebiscito, como era de costume nas
cerimônias de coroação da época, o Papa Pio VII viaja até a França para empossar
simbolicamente o novo imperador. Porém, na Catedral de Notre-Dame, no momento da
solenidade, Napoleão toma a coroa das mãos do Papa e faz sua autocoroação. Desse
modo, ele deixa claro a todos os presentes que no seu governo a Igreja Católica terá um
papel secundário e que o Papa não realizará mais interferências na política francesa.
Figura 4 – Napoleão se auto coroando em Notre-Dame
Fonte: Morphart Creation/shutterstock.com
Império
No momento que Napoleão Bonaparte torna-se oficialmente o imperador da França,
ele enrijece o esquema de repressão policial e censura. Na mesma proporção ele fortalece
o exército francês e inicia uma política de expansão militar territorial. Vale destacar que um
dos objetivos dessa expansão era abrir o mercado consumidor dominado pelos ingleses
para o comércio dos produtos da indústria francesa.
Nesse contexto, sob a justificativa de livrar os países vizinhos dos abusos de um
governo monárquico, Napoleão Bonaparte, passa a invadir essas nações, derrubar seus
governos e criar repúblicas governadas por interventores franceses de sua confiança. As
áreas dominadas, passaram a ficar sobre o controle da França e o Código Civil Napoleônico
foi imposto como novo regimento político dessas nações. Foi o que ocorreu, por exemplo,
com a Espanha, que foi invadida pelas tropas francesas, teve seu monarca destronado e
passou a ser governada por José Bonaparte. Da mesma forma, ocorreu com a Holanda,
que teve o mesmo esse destino e passou a ser governada por Luís Bonaparte (ambos
irmãos de Napoleão).
Nesse contexto, o exército francês também desestruturou o antigo Império
Germânico, invadiu e dominou territórios da atual Itália, além de conquistar a Bélgica, a
Holanda, a Áustria e a Prússia, porém, não conseguiu vencer a Inglaterra. Apesar de
Napoleão Bonaparte ter um dos maiores e melhores exércitos terrestres, a marinha inglesa
era forte e conseguia, com isso, defender a ilha da Grã Bretanha dos ataques franceses.
Figura 5 - Expansão territorial da França durante o Império Napoleônico
Fonte: Fundação Bradesco
Na medida em que Napoleão Bonaparte não via perspectiva de derrotar
militarmente os ingleses, sua estratégia foi tentar enfraquecer a economia do inimigo.
Assim, ele decreta o Bloqueio Continental, com o objetivo de impedir com que os países
europeus e suas colônias, comercializassem com a Inglaterra. Napoleão Bonaparte,
esperava que os países da Europa, respeitassem esse decreto por receio de serem
invadidos por suas tropas, porém, Portugal (1808) e Rússia (1812) romperam relações com
a França e mantiveram o comércio com os ingleses, furando o bloqueio.
Saiba mais: No momento que Portugal decide furar o Bloqueio Continental e manter seu
comércio com os ingleses, o risco de uma invasão do país pelas tropas de Napoleão
Bonaparte, cresceu consideravelmente. Pensando nisso, o príncipe regente D. João VI,
decide transferir a sede do Império Português para a cidade do Rio de Janeiro no Brasil.
Figura 6 – O Brasil abriga a Família Real Portuguesa durante a Era Napoleônica
Fonte: Tomazino/shutterstock.com
Assim, toda a Família Real Portuguesa e a corte palaciana, é trazida para colônia que foi
elevada à condição de Reino Unido de Portugal e Algures.
Com o rei de Portugal fora da Europa, Napoleão Bonaparte decide organizar uma
grande expedição militar contra o Czar do Império Russo. Como estratégia de defesa, a
população russa fugia rumo ao interior do império, antes da chegada das tropas francesas.
Conforme abandonavam seus vilarejos eles levavam os animais que estavam confinados e
destruíam as casas e as plantações. Com isso, o exército napoleônico ao chegar nessas
áreas não encontravam alimentos e nem abrigos para se protegerem do rigoroso inverno
que é característico dessa região. Por isso, pode-se dizer que o inverno russo foi o grande
causador da derrota do exército francês que estava, dia a dia, perdendo seus homens que
morriam de fome e frio.
Figura 7 - Napoleão Bonaparte no inverno de Moscou na Rússia
Fonte: Wikimedia Commons
Napoleão Bonaparte decide recuar para Paris, ao perceber que seria impossível
conquistar o Império Russo naquelas condições. O fracasso dessa campanha, enfraqueceu
o exército que ficou bastante debilitado. Os soldados que não morreram no caminho
chegaram muito fracos e doentes, o que deixou as tropas francesas vulneráveis.
Aproveitando esse enfraquecimento, os ingleses e seus aliados, organizaram um
grande exército de coalisão, e atacaram a França, derrotando Napoleão Bonaparte na
Batalha das Nações em 1813. Desse modo, enfraquecido, ele foi levado a renunciar ao
comando da França em 1814, pelo Tratado de Fontainebleau.
Figura 8 - Napoleão Bonaparte abdicando do poder
Fonte: Wikimedia Commons
Exilado na ilha de Elba, no mediterrâneo, Napoleão Bonaparte, organiza um exército
de mais de mil soldados e no ano de 1815, toma o poder mais uma vez, onde permanece
comandando a França por mais de três meses (Governo dos 100 dias), quando é derrotado
definitivamente pelos ingleses na Batalha de Warteloo. A partir daí, ele é levado para a ilha
de Santa Helena, na costa africana onde permanece como prisioneiro até a sua morte em
1821.
Congresso de Viena
Para reorganizar a Europa, política e territorialmente após as guerras napoleônicas,
os principais países se reuniram em um grande congresso na Áustria em 1815. Guiados
pelos princípios de legitimidade, esse grupo extremamente tradicional e conservador decide
reestabelecer as fronteiras dos países da forma como elas se encontravam antes da
Revolução Francesa e devolver as coroas as antigas dinastias reais.
Com isso, a família real dos Bourbons, volta assumir o trono da França. A
restauração monárquica desse país foi muito mal recebida pela população que via no
monarca um símbolo do atraso e da perda das conquistas político-sociais. A monarquia
francesa será novamente derrubada em 1848, por uma revolução liberal liderada pelo
sobrinho de Napoleão Bonaparte.
No caso da região da Alemanha e da Itália, que ainda não existiam como países
unificados na época da Revolução Francesa, decidiu-se reorganizá-las em principados
autônomos (39 alemães, 7 italianos e 1 papal). Esses principados vão se unificar apenas
entre as décadas de 1860 e 1870, sob o comando de Bismark na Alemanha e Vitor Emanuel
na Itália.
Figura 9 - Congresso de Viena
Fonte: Flickr
Para evitar que novas guerras ocorressem, os líderes que participaram do
Congresso de Viena, decidiram criar um órgão internacional que fosse capaz de intervir
sempre que a paz estivesse ameaçada. Nasce, assim, a Santa Aliança, que vai existir até
seu fracasso durante a Primeira Guerra Mundial e sua substituição pela Liga das Nações,
em 1918.
ATIVIDADES
1.Cite três medidas tomadas, por Napoleão Bonaparte, ao assumir o governo da França
como Primeiro Cônsul.
2. Leia o texto:
Os soldados franceses que guerrearam da Andaluzia a Moscou, do Báltico à Síria (...)
estenderam a universalidade de sua revolução mais eficazmente do que qualquer outra
coisa. E as doutrinas e instituições que levaram consigo, mesmo sob o comando de
Napoleão, eram doutrinas universais, como os governos sabiam e como também os
próprios povos logo viriam a saber.
HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
Durante as guerras napoleônicas, os franceses invadiam e conquistavam países
monarquistas, destituindo o poder do rei e implantando uma república pautada nos
princípios iluministas presentes no Código Civil Napoleônico. Nesse contexto, explique
porque Napoleão Bonaparte não conseguiu vencer a Inglaterra nas batalhas navais.
3. (VUNESP-2011)
Artigo 5º - O comércio de mercadorias inglesas é proibido, e qualquer mercadoria
pertencente à Inglaterra, ou proveniente de suas fábricas e de suas colônias é declarada
boa presa.
(...)
Artigo 7º - Nenhuma embarcação vinda diretamente da Inglaterra ou das colônias
inglesas, ou lá tendo estado, desde a publicação do presente decreto, será recebida em
porto algum.
Artigo 8º - Qualquer embarcação que, por meio de uma declaração, transgredir a
disposição acima, será apresada e o navio e sua carga serão confiscados como se
fossem propriedade inglesa.
Excerto do Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte. Citado por: MATTOSO, Kátia M. de Queirós.
Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789-1963), 1977.
Esses artigos do Bloqueio Continental, decretado pelo Imperador da França em 1806,
permitem notar a disposição francesa de
a) estimular a autonomia das colônias inglesas na América, que passariam a depender mais
de seu comércio interno.
b) impedir a Inglaterra de negociar com a França uma nova legislação para o comércio na
Europa e nas áreas coloniais.
c) provocar a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, por meio da ocupação militar
da Península Ibérica.
d) ampliar a ação de corsários ingleses no norte do Oceano Atlântico e ampliar a hegemonia
francesa nos mares europeus.
e) debilitar economicamente a Inglaterra, então em processo de industrialização, limitando
seu comércio com o restante da Europa.
4. Leia as afirmações e assinale “V” para as verdadeiras e “F” para as falsas.
(__) Na cerimônia de coroação de Napoleão Bonaparte como Imperador da França, houve
uma quebra de protocolo, na medida que ele se recusa a ser empossado pelo Papa.
(__) Depois de decretar o Bloqueio Continental, apoiando-se em uma aliança com Portugal,
a França invade e conquista definitivamente a Inglaterra.
(__) Na campanha contra o Império Russo, as tropas lideradas por Napoleão Bonaparte
foram derrotadas pelo rigoroso inverno dessa região.
(__) Napoleão Bonaparte, destrói o reinado do seu meio irmão José Bonaparte, que era rei
da Espanha desde antes da Revolução Francesa iniciar.
(__) A Batalha de Waterloo, em 1815, representou a derrota definitiva de Napoleão
Bonaparte, que foi exilado para a ilha de Santa Helena.
(__) O Congresso de Viena, reorganizou as fronteiras dos países da Europa como era antes
da Revolução Francesa, e reconduziu os monarcas ao trono de seus países.
(__) A Santa Aliança, foi criada pelos líderes que participaram do Congresso de Viena, para
atuar como um órgão internacional que visava garantir a paz na Europa.
LEITURA COMPLEMENTAR
Invasão da Espanha pelos franceses influenciou independências na América Latina
"Intercâmbio intelectual entre a Europa e colônias latino-americanas era muito mais
intenso do que acreditamos", afirma Walther Bernecker. Para o professor, tal fluxo de ideias
teria influenciado as independências.
"Viva a França", ouvia-se nas ruas parisienses em 14 de julho de 1789, quando o
povo, com bandeiras tricolores em mãos, tomou a Bastilha, símbolo do antigo regime.
Menos de quatro anos depois, a cabeça de Luís XVI rolou na guilhotina. Não tardou muito
para que as consequências da Revolução Francesa chegassem ao outro lado do Atlântico.
"Sem as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, os processos de
independência latino-americanos não teriam sido o que foram", assegura o professor
alemão Walther Bernecker, da Universidad de Erlangen. "As independências teriam
acontecido de um jeito ou de outro, porque havia uma série de causas, mas elas teriam se
desenvolvido de outra maneira, ou bem parecido mais tarde", complementa.
No século 18, a Europa viveu um período de conflitos que teve início com o
Iluminismo e o Racionalismo inglês, que atraíam a atenção da sociedade para os assuntos
terrenos, o ser humano, a razão, a ciência e o progresso. Os monarcas que, como Luís XVI,
ocupavam tranquilamente seus tronos em nome de Deus, notaram os primeiros tremores
do terremoto que extinguiria, muitos anos mais tarde, a maioria das coroas. Os indícios
deste sismo também foram sentidos no Continente Americano.
"Viva la Pepa", gritavam os deputados das Cortes de Cádiz em dezembro de 1813,
comemorando a Constituição Espanhola de 1812. As tropas napoleônicas que ocupavam
a Espanha haviam sido derrotadas; José Bonaparte, o rei estrangeiro, foi obrigado a
renunciar ao cargo que lhe havia sido concedido pelo irmão. Os representantes da
Assembleia de Cádiz ainda não sabiam que sua Constituição, ratificada em 19 de março
de 1812, seria abolida por Fernando VII. Bourbon, restituído, contava com o apoio do
Congresso de Viena e dos espanhóis, os quais o apelidaram de “O Desejado”.
"Sem a invasão da Espanha pelos franceses, as independências latino-americanas
teriam se dado de forma diferente", afirma Stefan Rinke, da Universidade Livre de Berlim e
autor do livro Revoluções na América Latina, caminhos para a independência (1760 - 1830).
Peru, Chile e México
A independência da América Latina não teve uma única causa. Ideias,
circunstâncias e acontecimentos foram sendo somados ao longo de séculos. Com o passar
do tempo, cada estudioso passou a dar mais ou menos importância a determinados
assuntos ou acontecimentos.
"Há 50 ou 60 anos, a Revolução Francesa era considerada uma das razões das
independências. Hoje, a importância daquele episódio continua sendo reconhecida, mas
também se leva em conta que o terror desencadeado na França criou 'anticorpos' contra
esse tipo de fenômeno na América Latina", explica o historiador peruano José Agustín de
la Puente.
Ele reconhece a influência do que ficou conhecido como o "espírito crítico do século
18" nos processos de independência latino-americanos, mas explica porque esse não foi o
fator essencial: "A parte central do mosaico que conduz a esse movimento são as ideias do
Peru, do Chile e do México, ou seja, a certeza de que pertenciam a sociedades próprias.
Inclusive os homens que permaneceram fieis à Coroa se sentiam, antes de espanhóis,
nativos das terras em que haviam nascido".
Segundo o historiador, no início do século 19, a América Latina já estava bem
diferente de como os primeiros colonizadores espanhóis a haviam encontrado, mas ao
mesmo tempo havia tomado rumos diferentes dos da Espanha. Entretanto, Bernecker
acredita que o sentimento nacional da região também tenha sido influenciado pelas missões
científicas europeias: "Os estudiosos alemães, por exemplo – e Alexander von Humboldt
não foi o único –, ajudaram os crioulos a perceber a enorme riqueza do seu continente,
fortalecendo, assim, o orgulho latino-americano".
Stefan Rinke reconhece a relevância dessa mudança de consciência dos povos
latino-americanos, mas defende que as independências devem ser entendidas segundo
seu contexto. "E o contexto não é local, mas transatlântico", especifica. Para o professor da
Universidade de Berlim, a desintegração da monarquia espanhola é outro fator que deve
ser considerado.
O terreno na América Latina já estava fértil para os processos de independência há
muito tempo. Com as revoluções estadunidense e francesa, o momento era propício para
que as colônias espanholas também se rebelassem. Vale questionar, portanto, por que isso
aconteceu apenas décadas mais tarde, reflete Rinke.
 Sem o rei, o poder retorna ao povo
Em 1808, Napoleão assumiu o trono espanhol e o passou ao irmão José Bonaparte.
Rinke resume: "Até aquele momento, a monarquia havia sido um elemento aglutinador.
Mesmo quando os crioulos criticavam a Coroa, não atacavam o rei, mas seus assessores.
A partir do momento em que o monarca desapareceu, a possibilidade de desligar-se
completamente da Espanha ganhou cada vez mais terreno".
José Bonaparte, também chamado de "Pepe Botella" (Zé Garrafa), nunca foi
reconhecido como rei pelo povo espanhol, o qual resistiu ao "intruso francês" com armas
em uma guerra na qual teve apoio do outro lado do oceano.
"Isso ilustra como a América Latina cultivou o que chamamos de 'fidelismo', ou seja,
a fidelidade à Coroa", explica o historiador José Agustín de la Puente. "Contudo, sem a
figura do monarca como dono do poder, este voltou ao povo. E as juntas populares que
surgiram para organizar a administração enquanto o rei [supostamente sequestrado pelos
franceses] estivesse ausente, acabaram se convertendo em independentistas."
Ana Carolina Ibarra, do Instituto de Pesquisas Históricas do México, acredita que o
vácuo na monarquia deu lugar ao secessionismo e aos ideais iluministas, republicanos,
liberais, racionalistas e nacionalistas acumulados durante anos de contato com o Velho
Continente. Essas ideias propagavam "que a revolução era legítima e que era justo rebelarse contra um governo mau, tirano ou déspota".
 Confiança ameaçada para sempre
Enquanto Fernando VII se encontrava "exilado" em um castelo gaulês que Napoleão
lhe havia presenteado em troca do trono espanhol, a "pátria mãe" travava uma batalha
militar e outra política. Em Cádiz, prontos para fugir em caso de guerra, membros da corte
se reuniam para formar uma monarquia constitucional que pudesse entrar em vigor com a
volta do rei. Em 1812, eles sancionaram a Constituição de Cádiz, que ficou conhecida como
"La Pepa", por ter sido assinada no dia de São José.
"A Constituição de Cádiz era excepcional para a época, não apenas pelo seu caráter
liberal, mas também por ser a primeira a equiparar, seja política como socialmente, o país
colonizador e suas colônias", comenta Manuel Chust Calero, professor de História da
Universidade Jaime de Castellón, na cidade de Valência. Em seu primeiro artigo, o
documento estabelecia que "a nação espanhola é a união de todos os espanhóis de ambos
os hemisférios". O segundo artigo complementava: "A nação espanhola é livre e
independente e não é nem pode vir a ser patrimônio de nenhuma família ou pessoa".
Contudo, esse princípio de igualdade não foi seguido na prática. Segundo
Bernecker, "considerando a densidade da população, os latino-americanos teriam direito à
maioria dos deputados na Corte". Puente explica: "O que as elites espanholas praticaram
em Cádiz era uma contradição. Ao mesmo tempo em que pretendiam romper com o antigo
regime, queriam conservar a obediência ao Império. Mas este era fruto do antigo regime".
Por um lado, os movimentos de independência e a estruturação dos Estados que
surgiram a partir deles foram bastante influenciados pelo que aconteceu em Cádiz. Por
outro, a revolução liberal também contribuiu para o crescente descontentamento nas
colônias, sobretudo porque a decepção foi enorme, como explica Rinke: "Os espanhóis não
só puseram em marcha esse processo constitucional, como também fizeram muita
propaganda dele. Quando as expectativas foram frustradas, a confiança foi minada de tal
forma que não pôde ser restabelecida".
A Constituição de Cádiz teve vida curta: acabou em 1814, quando Fernando VII
voltou da França. Assim que o antigo regime tentou recuperar posições na América Latina,
a independência não pôde mais ser contida.
MANAULT, Luna Bolívar. Invasão da Espanha pelos franceses influenciou independências na
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Acesso em: 17 mai. 2016. 15h.
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FLICKR. Congresso de Viena. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/tula_
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HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
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<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Napoleons_retreat_from_moscow.jpg>. Acesso
em: 17 mai. 2016. 9h.
GABARITO
1. Comentário: As principais medidas tomadas por Napoleão Bonaparte, durante o
Consulado foram:
 Censura à imprensa que publicava apenas notícias positivas de apoio ao governo.
 Forte esquema de vigilância policial que manteve os opositores do seu governo presos.
 Código Civil Napoleônico (liberdade, propriedade privada e igualdade perante a lei).
 Banco da França que passou a regular a emissão de moeda para controlar a inflação.
 Venda da Louisiana, localizada na América do Norte para os Estados Unidos.
 Liceus de Artes e Ofícios que formaria a mão de obra qualificada para diversos trabalhos.
 Investimento na industrialização francesa por meio de incentivos e leis protecionistas.
2. Comentário: Apesar de Napoleão Bonaparte ter um dos maiores e melhores exércitos
terrestres, a marinha inglesa era bastante forte e conseguia, com isso, defender a ilha da
Grã Bretanha dos ataques franceses. Assim, na medida em que Napoleão Bonaparte não
via perspectiva de derrotar militarmente os ingleses, sua estratégia foi tentar enfraquecer a
economia do inimigo. Para tanto, ele decreta o Bloqueio Continental, com o objetivo de
impedir com que os países europeus e suas colônias, comercializassem com a Inglaterra.
3. Alternativa E.
Comentário: A Inglaterra é um país localizado em uma ilha e, nessa época, tinha a mais
forte marinha da Europa. Por isso, as tropas napoleônicas não conseguiam vencê-los
militarmente em batalhas navais, assim, a saída encontrada por Napoleão foi tentar
prejudicá-los pela via econômica. O seu objetivo era destruir a principal fonte de renda
inglesa, ao ponto de enfraquecer a coroa britânica e a sua marinha, Napoleão Bonaparte
decreta o Bloqueio Continental. Com essa manobra, ele proibia os países do continente
europeu e suas respectivas colônias, de comercializar com a Inglaterra. Napoleão
Bonaparte, esperava que os países da Europa, respeitassem esse decreto por receio de
serem invadidos por suas tropas, porém, Portugal (1808) e Rússia (1812) romperam
relações com a França e mantiveram o comércio com os ingleses, furando o embargo.
4.
V
F - A França nunca conseguiu vencer definitivamente a Inglaterra, devido a esse país estar
localizado em uma ilha e contar com a maior e mais forte marinha da Europa nessa época.
Outro ponto relevante é que Portugal não se aliou a França contra a Inglaterra, muito pelo
contrário, para furar o Bloqueio Continental imposto por Napoleão Bonaparte, a sede do
Império Português foi transferida para o Brasil.
V
V
F - Quando Napoleão Bonaparte invade e conquista a Espanha ele retira do trono o rei
Fernando VII da dinastia dos Bourbons. Para ocupar o seu lugar, ele nomeia seu irmão
legítimo José Bonaparte que assume o governo desse país apenas durante o apogeu da
Era Napoleônica.
V
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