Assistência de enfermagem a uma gestante HIV soropositiva

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_______________________________Ciências da Saúde
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UMA
GESTANTE HIV SOROPOSITIVA: CUIDADOS
PARA OS RISCOS E COMPLICAÇÕES DURANTE
O PERÍODO PERINATAL
Maria Adelane Monteiro da Silva1
Alexandro do Vale Silva2
Wyarlenn Divino Machado3
RESUMO - A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é uma pandemia
tratada como um dos principais problemas de saúde pública, devido ao grau
de morbimortalidade causada por ela. O estudo busca descrever a assistência
de enfermagem à gestante portadora do vírus da Imunodeficiência Humana
Adquirida – HIV durante o trabalho de parto, parto e pós-parto na perspectiva profilática da transmissão vertical do vírus e aplicação da Sistematização
da Assistência de Enfermagem – SAE. Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva do tipo estudo de caso. A coleta de dados se deu na maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Sobral – SCMS, no período de 22 a 25
de março de 2011. Foram realizadas observações, leitura e análise do cartão
pré-natal, prontuário e aplicação de questionário semiestruturado da SAE no
puerpério. O estudo buscou respeitar os princípios bioéticos preconizados
pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Há 4 anos, RMF,
portadora do vírus HIV, deu entrada na SCMS com 30 semanas de gestação
e queixando-se de dor no baixo ventre. A equipe de enfermagem prestou a
1
2
3
PhD em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Docente do
curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Membro
do Laboratório de Pesquisa Social, Educação Transformadora e Saúde Coletiva
(LABSUS). E-mail: [email protected].
Acadêmico do curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú –
UVA. Bolsista de Iniciação Científica – FUNCAP/BPI – UVA. Membro do Laboratório de Pesquisa Social, Educação Transformadora e Saúde Coletiva (LABSUS).
E-mail: [email protected].
Acadêmico do curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú –
UVA. Bolsista do Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde – PET/ Saúde.
E-mail: [email protected]
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assistência especial à gestante durante todo o período de internação. A aplicação da SAE possibilitou o levantamento dos diagnósticos e prescrições de
enfermagem para o esclarecimento da situação de saúde da gestante. É indispensável que o profissional de saúde esteja habilitado de forma adequada
para agir profissionalmente na assistência a uma gestante. Acreditamos que a
educação em saúde seja uma ferramenta importante ao enfermeiro para a
prevenção da disseminação do vírus na perspectiva intrafamiliar e extrafamiliar.
Palavras-chave: Sistematização da Assistência de Enfermagem. Gestante.
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
1 INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios enfrentados atualmente pela humanidade se refere à luta travada contra a disseminação dos casos de
AIDS no mundo inteiro. Esforços estão sendo empenhados pela comunidade científica em muitos países, no sentido de encontrar meios,
técnicas e procedimentos que eliminem, ou pelo menos diminuam as
consequências dos efeitos avassaladores promovidos pelo vírus causador da AIDS no organismo humano.
Abbas et al. (2008) corroboram que a AIDS caracteriza-se por
promover uma imunossupressão profunda no organismo, favorecendo
o aparecimento de infecções oportunistas e tumores malignos, bem
como perda de peso e degeneração do sistema nervoso central.
A AIDS é uma pandemia tratada atualmente como um dos
principais problemas de saúde pública global, devido ao grau de morbimortalidade causada por ela, assim como o impacto da epidemia da
doença nos recursos do sistema de saúde e na economia geral, através
dos esforços econômicos empreitados no planejamento, execução e
avaliação das políticas públicas relacionadas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, atualmente
o planeta abriga mais de 37 milhões de portadores de HIV; entretanto,
não existem estudos mais precisos destes dados estatísticos devido ao
fato de que a cada dia são notificados inúmeros casos desta doença em
todo o mundo. Na realidade brasileira, estudos realizados pelo Minis64
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tério da Saúde registraram a notificação de mais de 350.000 casos de
AIDS no país no ano de 2006 (BRASILEIRO FILHO, 2006).
Rezende (2005) relata que dados estatísticos mundiais referentes à população feminina indicam uma estimativa de que 2,4 milhões
de mulheres infectadas engravidem por ano, e que diariamente 1.600
crianças já nasçam infectadas, sendo que no Brasil esse número corresponde a 13.000 mulheres infectadas ao ano.
A situação em que o feto adquire o HIV a partir do organismo
materno, envolvendo uma das etapas gestacionais, é chamada de
Transmissão Vertical – TV. Essa infecção viral pode ocorrer em vários
momentos, tais como na gestação propriamente dita, durante o trabalho de parto, no parto ou na amamentação. Entretanto, de acordo
com afirmações de Rocha et al. (2006), a transmissão intrauterina é
menos frequente durante os três primeiros meses de gestação. Esta
informação é corroborada por outro estudo, segundo o qual a implantação do tratamento profilático nas mulheres é obtida através do uso
de antirretrovirais – ARV a partir da 14ª semana de gestação (BARROS, 2009).
Aproximadamente 65% das infecções verticais do HIV ocorrem durante a fase de trabalho de parto, 35% no período intraútero,
com mais incidência nas últimas semanas e no aleitamento materno. A
probabilidade de a criança nascer infectada pelo HIV sem qualquer
intervenção de saúde durante a gestação ronda entre 20 e 30%; entretanto, com o uso do tratamento preventivo da transmissão vertical,
esse índice cai para menos de 1%. No Brasil, há um grande número de
casos de gestantes que não são submetidas à prevenção da transmissão
vertical. A principal causa desta situação está ligada à dificuldade de
diagnóstico laboratorial da infecção pelo vírus e a cobertura insuficiente de mulheres que realizam o teste no pré-natal (ALVES FILHO;
TRINDADE, 2005).
O diagnóstico é obtido a partir da detecção de anticorpos antiHIV no sangue materno. Esta identificação é realizada a partir de imunoensaios, sendo que o principal método utilizado é o ELISA.
Quando um resultado é dado como negativo, este exame deve ser
repetido no início do terceiro trimestre. Porém, a partir do momento
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em que uma amostra de sangue é diagnosticada como positiva para os
anticorpos anti-HIV, deve ser feito um teste confirmatório utilizandose os métodos Western Blot (immunoblot) ou o teste de imunofluorescência indireta (IFI).
Em situações em que a gestante não tenha realizado o prénatal, ou o tenha feito de maneira irregular, testes rápidos anti-HIV
devem ser utilizados no momento do parto, para que medidas de profilaxia medicamentosas sejam adotadas no sentido de se evitar a
transmissão vertical e resguardar a integridade física dos profissionais
de saúde envolvidos no processo de assistência ao parto. Além disso, o
Ministério da Saúde utiliza um sistema de vigilância que preconiza a
notificação compulsória dos casos de AIDS através do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação – SINAN.
Mesmo com os avanços e disponibilidade atual dos recursos
científicos empregados em prol da eliminação da AIDS, esta ainda não
tem cura. Entretanto, existem tratamentos disponíveis que controlam
o avanço da doença e permitem às pessoas infectadas viver com este
vírus imunossupressor. O tratamento utilizado atualmente na redução
das taxas de transmissão vertical do HIV é baseado principalmente no
AZT (zidovudina), podendo também ser utilizados outros medicamentos antirretrovirais administrados de maneira conjugada. Todas as
gestantes soropositivas para o HIV devem ser submetidas à terapia
antirretroviral visando à profilaxia da transmissão vertical ou para o
tratamento da infecção materna. Esta administração deve ser iniciada,
preferencialmente, a partir da 14ª semana gestacional, após discussão
entre a equipe de saúde e a gestante acerca dos esclarecimentos dos
benefícios do tratamento da TV, redução dos efeitos colaterais na gestante, atenuação dos riscos de teratogenicidade e escolha do uso de um
ARV mais indicado para a saúde da gestante.
A via de parto dependerá da carga viral presente no sangue e
obtida com 34 semanas de gestação. A administração do AZT é dada
através da via intravenosa, aplicada a partir do início do trabalho de
parto, sendo que na primeira hora são administrados 2mg/kg diluídos
em soro glicosado a 5% e mantidas doses de 1mg/kg até o momento
do clampeamento do cordão umbilical. Esta rotina terapêutica pro66
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porciona uma redução da transmissão viral do HIV durante os períodos que envolvem o parto.
Diante de sua relevância, o estudo busca descrever a assistência
de enfermagem prestada à gestante portadora do vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida – HIV durante o trabalho de parto, parto e
pós-parto, na perspectiva da realização profilática da transmissão vertical do HIV e aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE.
2 METODOLOGIA
A presente pesquisa é resultado de uma observação exploratório-descritiva do tipo estudo de caso e descreve as ações desenvolvidas
pela equipe de enfermagem junto a uma gestante imunodeprimida,
portadora do vírus HIV, na luta contra a prevenção da transmissão
vertical do vírus supracitado.
Para a realização desta pesquisa, utilizou-se este tipo de estudo
com base na justificativa de Gil (2010), que afirma que o estudo de
caso é o meio utilizado para explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos, e também descrever a situação do
contexto em que está sendo feita determinada investigação. Este tipo
de estudo permite uma maior familiaridade com o fato e assunto estudado, a partir da utilização de múltiplas fontes de informação e contato direto com o sujeito da pesquisa, além de possibilitar uma contextualização dos determinantes socioculturais em que este indivíduo está
inserido. Utilizando uma estratégia de investigação qualitativa, o estudo de caso é empregado para descrever e analisar o contexto, as relações e percepções a respeito da situação ou fenômeno em questão,
sendo também útil para gerar conhecimento sobre características significativas de eventos vivenciados, tais como intervenções e processos
de mudança. (MINAYO, 2008).
Os dados apresentados neste trabalho foram obtidos a partir
do acompanhamento de uma gestante portadora do vírus HIV, na
maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Sobral – SCMS, durante
o período de 22 a 25 de março de 2011. A coleta se deu através da
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realização de observações, leitura e análise do cartão de pré-natal,
prontuário e aplicação de questionário semiestruturado de Sistematização da Assistência de Enfermagem no Puerpério.
Para efetivar a coleta de dados referentes à situação de saúde
da gestante, cartão de pré-natal e prontuário, foi solicitada anuência da
coordenação de enfermagem da maternidade da SCMS, a qual foi
prontamente concedida; em seguida, puderam-se realizar as decodificações e interpretações dos documentos supracitados.
É importante ressaltar que o presente estudo observou a preservação da privacidade e individualidade do sujeito investigado na
pesquisa, requisito esse preconizado pela Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, que regula as pesquisas envolvendo seres humanos. Durante a construção desta pesquisa,
adotou-se a observância dos princípios da bioética: autonomia, beneficência, não maleficência, justiça e equidade (BRASIL, 1996).
3 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
3.1 História da paciente
RFM, gestante, 36 anos, parda, natural de Guaraciaba do Norte, escolaridade ensino fundamental incompleto, viúva há 4 anos, dona
de casa, moradora da zona rural, católica, 5 gestas, foi admitida na
maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Sobral – SCMS com 30
semanas de gestação e portadora do vírus HIV há aproximadamente 4
anos.
Mora com apenas dois filhos (11 e 10 anos) em uma casa cedida por familiares. Sua residência apresenta 4 cômodos, saneamento
básico, rede elétrica e água fornecida por poço profundo. Reside às
margens de uma rodovia carroçável, numa região com boa cobertura
vegetal, onde a agricultura é o principal meio de sobrevivência, não
apresentando riscos ambientais diretos. Não apresenta renda mensal
definida, pois é usuária do programa governamental de distribuição de
renda da categoria Bolsa Escola dos dois filhos, esporadicamente recebe ajuda de uma cesta básica fornecida pela paróquia local e usual68
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mente é auxiliada economicamente pelos familiares. Seu estado nutricional era preocupante devido ao padrão alimentar pobre em alimentos protéicos, pela falta de recursos financeiros.
Sua última gestação ocorreu há 10 anos; na atual realizou apenas três consultas pré-natais, na própria localidade em que vive, pois,
por possuir um ciclo menstrual irregular, não acreditava na possibilidade de uma gravidez. De acordo com a paciente, durante as consultas, a enfermeira prestou todos os esclarecimentos concernentes à sua
situação sorológica e a gestante foi avisada da possível necessidade da
realização de um parto cesáreo. Apesar da quantidade insuficiente de
consultas pré-natais, foram realizados todos os exames cabíveis ao
estado fisiológico em que se encontra a paciente, tais como: Hb, glicemia de jejum, VDRL, urina e ABO-Rh. Todos apresentaram resultados dentro dos padrões de normalidade. Durante as consultas prénatais observou-se que a gestante adquiriu em média 1 kg por mês,
totalizando uma massa de 52 kg, e ao final da gestação sua altura uterina indicava 30 cm.
Portadora do vírus HIV diagnosticado há 4 anos, a paciente relatou que contraiu o vírus através do esposo, já falecido. Os filhos não
são portadores e relata desconhecer outros casos de soropositivos no
restante da família. Apesar do conhecimento de ser soropositiva para o
vírus, a gestante não fazia uso do tratamento quimioterápico para o
HIV, e só passou a tomar o ARV por aconselhamento de sua enfermeira nos últimos dois meses de gestação. Não se tem conhecimento
acerca da realização de exames laboratoriais para verificação da carga
viral.
RFM deu entrada na SCMS no dia 22/03/11 com 30 semanas
e 1 dia de gestação, apresentando 6 cm de dilatação cervical, bolsa
íntegra, batimentos cardiofetais – BCF de 120 batimentos por minuto
– bpm e queixa de dor no baixo-ventre. A paciente ficou sob observação por mais de 24 horas; a equipe de saúde aguardava a evolução da
dilatação uterina, o que não ocorreu e, por se tratar de uma gestante de
alto risco, acabaram optando por uma intervenção cirúrgica para a
consolidação do parto.
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Ciências da Saúde
3.2 Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE
A configuração da Enfermagem como categoria profissional
autônoma e de fundamentação científica ocorreu na segunda metade
do século XX, a partir da construção e organização dos modelos teóricos de enfermagem. Os enfermeiros passaram a perceber que deveriam focalizar esforços no sentido de iniciar um processo de organização dos conhecimentos de enfermagem no intuito de se melhorar a
prática assistencial prestada por tais trabalhadores.
A sistematização da assistência de enfermagem está cada vez
mais sendo utilizada no campo assistencial, possibilitando ao enfermeiro aplicar seus conhecimentos técnico-científicos em prol da melhoria dos serviços prestados pela enfermagem, mas principalmente
para trazer benefícios à saúde do paciente. Diante disso, pode-se definir a SAE como sendo uma ferramenta que favorece a melhoria da
prática assistencial com base no conhecimento, no pensamento e na
tomada de decisão clínica com o suporte de evidências científicas, obtidas a partir da avaliação dos dados subjetivos e objetivos do indivíduo, da família e da comunidade (ROZA apud TANNURE; PINHEIRO, 2010).
Com exceção da rigorosa utilização de equipamentos de proteção individual, a SAE aplicada à gestante soropositiva deve seguir os
mesmos parâmetros estabelecidos às demais categorias de pacientes. O
serviço prestado a estas gestantes deve ser precedido de observações,
planejamento estratégico para a definição dos diagnósticos, prescrições
adequadas e eficazes às necessidades da paciente e um acompanhamento detalhado da evolução do estado de saúde da mesma para a
manutenção ou adoção de medidas que melhor se apliquem à gestante
portadora do HIV.
Para a organização das informações acerca da SAE prestada ao
sujeito desta pesquisa, foram realizadas observações no leito, indagações à própria gestante e questionamentos com a equipe de enfermagem a fim de programar a estratégia de tratamento prestado à paciente
portadora do vírus. Ressalta-se que, para fins informativos, optou-se
por realizar uma discussão mesclando o manejo que foi realizado com
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Ciências da Saúde
a paciente do estudo, bem como seguiremos orientações preconizadas
pelo Ministério da Saúde e abordaremos assistência que deve ser prestada às gestantes desse status sorológico.
Quadro 1 – Implantação da Assistência de Enfermagem em paciente soropositiva para o HIV na maternidade da SCMS, 2011
(Continua)
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFEMAGEM – SAE
DIAGNÓSTICOS
PRESCRIÇÕES
Controle ineficaz do regime tera- Assegurar utilização de linguagem
pêutico.
adequada sem risco de prejuízo na
comunicação.
Ansiedade relacionada à incerteza 1 – Realizar entrevista em local privado
em relação ao seu “estado” e pos- e quieto com palavras de positivismo;
sível tratamento e atividade sexual, 2 – Instruir sobre a doença e seus reexpressados verbalmente.
cursos de tratamento; 3 – Fornecer
números de telefone para intervenções
ou informações de emergência; 4 –
Encaminhar para o serviço de psicologia (problema colaborativo).
Conhecimento deficiente relacio- 1 – Explicar, de forma clara e concisa,
nado à rotina do período de inter- as rotinas hospitalares; 2  Orientar
sobre preparo pré-operatório (jejum,
nação.
exames laboratoriais); 3  Orientar
sobre período pós-imediato (possível
sangramento por incisão cirúrgica,
restrição no leito a critério médico ou
de enfermagem).
Risco de infecção relacionado a 1 – Realizar limpeza com solução
fisiológica a 0,9% e renovação de coprocedimento invasivo.
bertura (oclusão seca) em ferida operatória em região ventral uma vez ao dia;
2 – Manter cobertura seca e íntegra em
acesso venoso; 4 – Monitorar sinais de
flebite periférica (dor, calor e rubor
locais).
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Ciências da Saúde
Quadro 1 – Implantação da Assistência de Enfermagem em paciente soropositiva para o HIV na maternidade da SCMS, 2011
(Continuação)
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFEMAGEM
DIAGNÓSTICOS
PRESCRIÇÕES
Risco de infecção relacionado a 1 – Monitorar sinais e sintomas de
procedimento invasivo cirúrgico.
infecção da incisão cirúrgica (inchaço,
vermelhidão, separação dos bordos da
incisão, presença de drenagem purulenta, febre), três vezes ao dia; 2 –
Utilizar técnica asséptica nos procedimentos de curativo (lavar as mãos
antes e depois do procedimento e utilizar material estéril) uma vez ao dia e
sempre que necessário.
Risco de solidão relacionado ao 1 – Encorajar a verbalização de sentiisolamento social.
mentos, percepções e medos; 2 – Encorajar a paciente a avaliar o próprio
comportamento, através de questionamentos durante as consultas; 3 –
Motivar a paciente a participar de grupos de apoio e motivação social promovidos por igrejas, associações ou na
própria unidade de saúde.
Amamentação interrompida relati- 1 – Orientar sobre o perigo de aquisiva a contraindicações à amamenta- ção da doença na criança através da
ção e doença imunossupressora na carga viral presente no leite materno; 2
mãe.
– Aconselhar a administração do aleitamento artificial na criança; 3 – Indicar o uso de inibidores de lactação; 4 –
Sugerir o enfaixamento das mamas
com atadura, em último caso.
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Ciências da Saúde
Quadro 1 – Implantação da Assistência de Enfermagem em paciente soropositiva para o HIV na maternidade da SCMS, 2011
(Conclusão)
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFEMAGEM
DIAGNÓSTICOS
PRESCRIÇÕES
Manutenção ineficaz da saúde 1 – Prestar esclarecimentos acerca da
relacionado ao enfrentamento importância da adesão ao tratamento
individual e familiar ineficaz, e, para a saúde da paciente; 2 – Utilizar
falta demonstrada com relação a uma linguagem clara, simples e objetipráticas básicas de saúde.
va sobre a correta utilização dos medicamentos; 3 – Encorajar a paciente em
relação a continuidade do tratamento;
4 – Sugerir buscar informações, esclarecimentos adicionais ao tratamento e
monitoração da evolução da carga viral
na unidade de saúde mais próxima.
Os diagnósticos de enfermagem – risco de infecção relacionado a procedimento invasivo e risco de infecção relacionado a procedimento cirúrgico invasivo – apontam para o enfermeiro perioperatório as estratégias que podem ser usadas para prevenir infecções da
ferida e promover a cicatrização. Para a profilaxia antimicrobiana, a
prevenção constitui-se na ação mais eficaz para lidar com as infecções de locais cirúrgicos – ILC. Esta categoria de infecção é responsável por 14% a 16% de todas as infecções adquiridas nos hospitais
(ROTHROCK, 2007).
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças – CDC, os enfermeiros devem pesar os fatores que são vistos
como eficazes na prevenção de ILC. Entre esses fatores incluem-se
alguns cuidados com a incisão pós-operatória tais como: proteger
com um curativo estéril durante 24 a 48 horas pós-operatoriamente
as incisões que foram fechadas primariamente; lavar as mãos antes e
depois de trocas de curativos e de qualquer contato com o sítio cirúrgico; educar a família sobre o cuidado adequado com a incisão, os
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Ciências da Saúde
sintomas de ILC e a necessidade de relatar os sintomas. Com exceção do último procedimento, os demais cuidados foram tomados
com o sujeito do estudo.
A transmissão do vírus HIV no leite materno é responsável
por 14% da TV. A utilização de ARV durante a gestação não controla a eliminação do HIV pelo leite; portanto, toda mãe soropositiva
deve ser orientada a não amamentar (BRASIL, 2010; LOWDERMILK et al., 2002). Essa orientação constitui-se em um dos diagnósticos de enfermagem notificados no sujeito da presente pesquisa.
Uma das atribuições da enfermagem é começar a orientação para o
aleitamento artificial já durante o pré-natal, quando a mãe é orientada
a oferecer a fórmula láctea infantil ao seu filho, pelo menos até ele
completar seis meses de idade. Notificou-se a decisão do sujeito da
pesquisa de não amamentar seu filho, pois o mesmo já havia recebido durante as consultas pré-natal as orientações acerca dos perigos
da amamentação. O enfaixamento das mamas é realizado imediatamente após o parto, com o cuidado de não restringir os movimentos
respiratórios; entretanto esse procedimento só deve ser aconselhado
nos casos em que a cabergolina não esteja disponível.
O isolamento social se caracteriza por incapacidade ou necessidade de o indivíduo se relacionar com os outros. É um estado subjetivo, e o sentimento de solidão pode ser manifestado de várias maneiras. Esse estado de isolamento em relação às demais pessoas pode
levar o indivíduo a um quadro problemático de saúde caracterizado
pela perda dos relacionamentos estabelecidos ou fracasso em contruí-los (NANDA).
No caso da gestante, a equipe de enfermagem diagnosticou risco para solidão devido à paciente viver apenas com seus dois filhos e
isolada dos demais membros da comunidade em consequência da
sua baixa condição socioeconômica e abandono por parte dos seus
parentes. Tal situação a deixa vulnerável a quadros de ansiedade, desamparo e sentimento de estar sozinha no mundo. Nesta situação,
Sousa (2006) orienta que a enfermagem deverá: reduzir ou eliminar
os fatores causadores e relacionados, promover a interação social,
encorajar a pessoa a falar sobre os sentimentos de solidão e as razões
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para a sua existência, diminuir as barreiras para o contato social, dentre outros.
O ensino de saúde ajuda as pessoas a conhecer as informações
e as técnicas necessárias para manejarem sua própria assistência à saúde durante a enfermidade e a convalescência. Este tipo de ensino
pode ajudar as pessoas a compreender e atingir seu nível pessoal máximo de saúde. No caso de pacientes soropositivas é possível que estas pessoas possam ser ensinadas como viver com sua doença crônica e permanecer ativas o quanto possível. Todos os diagnósticos de
enfermagem têm o ensino relacionado ao paciente e à família como
parte das intervenções de enfermagem.
A partir de observações do sujeito da pesquisa, notificou-se o
diagnóstico controle ineficaz de regime terapêutico relativo à deficiência cognitiva – padrão no qual a paciente denota risco de apresentar dificuldade em integrar na vida diária o programa de tratamento
da doença por déficit cognitivo (CARPENITO-MOYET, 2007). Melo et al. apud SANARE (2010) corroboram que os pacientes soropositivos muitas vezes não sabem o mal que possuem (HIV), às vezes
tomando ARV sem saber porque ingerem esses medicamentos e são
mantidos alienados com idas e vindas ao médico mensalmente ou
bimestralmente. Este fato constitui num desafio à equipe de saúde,
pois a falta de conhecimento cognitivo acerca da doença pode ameaçar o bom andamento do regime terapêutico, colocando o paciente
numa situação de risco de abandono do tratamento por desconhecer
a importância deste em sua vida.
Apesar das limitações cognitivas da paciente, a equipe de enfermagem realizou o trabalho educativo com o sujeito da pesquisa
em todas as etapas da gestação. Verificou-se que a paciente apresentava certo nível de conhecimento acerca da transmissibilidade da doença, impossibilidade de amamentação e necessidade do uso de
ARV, ambos adquiridos nas consultas pré-natais. Na SCMS tais informações foram retificadas pela equipe de enfermagem.
É importante que também se faça um comentário quanto ao
risco para transmissão de infecção pelo fato de este indivíduo estar
em risco para transferir um agente oportunista ou patogênico para
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seus contatos. Souza (2006) destaca que este diagnóstico atualmente
não está presente na lista do NANDA, mas ele é relevante na infectologia, considerando como fatores relacionados exposição à transmissão por contato (direto, indireto), por lesão contaminada ou ainda
relacionado a equipamentos com secreção contaminada. Nesta situação, a enfermagem deve identificar o modo de transmissão baseado
no agente infeccioso, identificar os indivíduos susceptíveis com base
no foco investigativo dos fatores de risco, aderir às práticas de precaução padrão e ensinar ao indivíduo a cadeia de infecção e a sua
responsabilidade na prevenção da transmissão.
Durante o período de internação da paciente RFM, a equipe de
enfermagem procurou realizar todas as ações preconizadas pelo Ministério da Saúde concernentes à prevenção da TV do HIV, incluindo a dose de ataque de ARV e suas doses de manutenção; entretanto,
não se soube identificar o grau de transmissibilidade mãe-feto estabelecido neste caso. A equipe de enfermagem acompanhou a administração da terapia antirretroviral na gestante e na criança durante o período de internação, entretanto não foi realizado um exame para determinação da carga viral de ambos. Não se pode afirmar que a criança é soronegativa para o HIV pelo fato de a mãe não ter se submetido ao tratamento ARV durante todo o período de gestação.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de as normas e medidas preventivas para o controle da
transmissão vertical estarem definitivamente protocoladas, observa-se
que há uma debilitação na implementação dessas ações por parte das
instituições de saúde e de alguns profissionais. A debilidade organizacional pode ser mostrada nos casos de oportunidades de prevenção
perdidas no pré-natal, parto e pós-parto, em que pouca importância é
dada ao controle da TV por parte dos profissionais de saúde, o que
contribui para a precária implantação do que está recomendado nas
políticas de saúde pública, promovendo uma realidade bem diferente
do que é preconizado.
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Ciências da Saúde
Um dos grandes desafios da equipe de enfermagem diz respeito ao risco de descontinuidade do tratamento da doença por parte do
paciente. O enfermeiro deve ajudar o paciente a realizar um planejamento de horários mais convenientes para a ingestão dos medicamentos ARV de forma que contemplem suas necessidades terapêuticas e,
ao mesmo tempo, que não gerem sinais de intolerância.
É indispensável que o profissional de saúde esteja habilitado de
forma adequada para agir correta e profissionalmente na assistência à
mãe portadora de HIV, bem como realizar as intervenções no tratamento da TV aplicando as devidas ações recomendadas pelo Ministério da Saúde e garantir à gestante uma assistência digna e de qualidade,
estando compromissado fielmente com a prevenção do HIV da mãe
para o filho, assegurando assistência de forma integral para o binômio
mãe-filho.
Acreditamos que a educação em saúde seja uma ferramenta
importante ao enfermeiro para a prevenção da disseminação do HIV
nas perspectivas intrafamiliar e extrafamiliar. Corroboramos o estudo
de Moura e Praça (2006) ao afirmar que é de extrema importância o
desenvolvimento de programas na área de saúde da mulher, que dêem
maior ênfase à vulnerabilidade desse segmento e de sua família ao
HIV, discutindo temas relacionados à sexualidade e planejamento familiar, procurando envolver os parceiros nas discussões.
NURSING CARE FOR A PREGNANCY HIV SEROPOSITIVE:
CARE FOR THE RISKS AND COMPLICATIONS DURING THE
PERINATAL
ABSTRACT - The Acquired Immune Deficiency Syndrome pandemic is treated
a major public health problems due to the degree of morbidity and mortality caused
by it. The study seeks to describe nursing care to pregnant women carry the virus
Human Immunodeficiency Acquired - HIV during labor, delivery and postpartum prophylaxis in view of vertical transmission of the virus and application of
Systematization of Nursing - SAE. It’s a research-type exploratory-descriptive
case study. Data collection took place at the Maternity of the Santa Casa de
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Misericordia de Sobral - SCMS, from 22 to 25 March 2011. Observations were
made, card reading and analyzing prenatal records and application of semistructured questionnaire in the SAE puerperium. The study sought to respect the
bioethical principles recommended by the Resolution 196/96 of the National
Health Council 4 years ago, HIV-positive, RFM lodged at SCMS with 30
weeks pregnant and complaining of pain in the lower abdomen. The nursing staff
provided special assistance to pregnant women throughout the period of
hospitalization. The possible application of the SAE survey of nursing diagnoses
and prescriptions for clarification of the status of health of the pregnant woman. It’s
essential that health professionals are appropriately qualified to act professionally in
the care of a pregnant woman. We believe that health education is an important
tool for the nurse to prevent the spread of the virus in perspective intrafamilial and
extrafamilial.
Keywords: Systematization of Nursing. Pregnant. Acquired Immune Deficiency
Syndrome.
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