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6º Seminário de Iniciação Científica
Goiânia, de 29 de agosto a 01 de setembro de 2012
PLANTAS MEDICINAIS E MANUTENÇÃO DA
SABEDORIA POPULAR NO MUNICÍPIO DE FORMOSAGO
Resumo: A etnofarmacologia, ligada à etnobotânica, baseia seus estudos no conhecimento
popular de uma determinada região, geralmente com os indivíduos que vivem próximos à biodiversidade.
Este conhecimento é passado oralmente de geração para geração e vem se perdendo nos últimos anos.
A forma de estudo escolhida é a que oferece a maior quantidade de descoberta de novos princípios
ativos. Buscou-se avaliar o conhecimento popular acerca de plantas medicinais em Formosa-GO, sua
utilização pelos moradores da cidade, bem como formas de obtenção e de preparação. Além disso,
procurou-se relacionar a forma e o grau do uso das plantas com a condição socioeconômica dos
indivíduos. Foi utilizado um questionário elaborado a partir da revisão bibliográfica, selecionando as
perguntas mais significativas, divididas em duas partes: um grupo de perguntas relacionadas à situação
socioeconômica dos entrevistados e o outro grupo de perguntas relacionadas ao uso das plantas, seu
modo de preparo e cultivo. A maioria dos entrevistados (85%) foi do sexo feminino, indicando que este
gênero é o detentor predominante do conhecimento de plantas medicinais. Quanto às plantas, foram
registradas 100 espécies diferentes, a maioria para problemas no sistema digestivo (dores estomacais,
má digestão, vermífugo), seguido de problemas no sistema respiratório (gripes, resfriados, tosse). As
espécies mais citadas foram Mentha piperita, Cymbopogon citratus, Chenopodium ambrosioides e
Peumus boldus.
Palavras-chave: Etnofarmacologia. Conhecimento popular. Plantas medicinais.
Situação socioeconômica.
Introdução
A pesquisa aqui apresentada é um trabalho baseado em estudos
etnofarmacológicos, um campo ligado à etnobotânica, sendo, ambas, ramificações de
estudos etnodirigidos, que “buscam informações a partir do conhecimento de diferentes
povos e etnias” (ALBUQUERQUE e HANAZAKI, 2006, p. 678). Cabe ressaltar que a
etnofarmacologia insere-se no grande ramo da etnobiologia, que pode ser dividida em
etnozoologia, etnoecologia, etnobotânica, etnofarmacologia, etnoentomologia, dentre
diversas outras áreas. Esses ramos de estudos relacionam-se com as ciências sociais
pelo fato de basearem seus estudos no conhecimento popular tradicional de uma
determinada região. Os resultados da pesquisa dependerão muito da cultura dos
indivíduos da localidade, das suas crenças e costumes, bem como se são nativos
daquele lugar. Como se pode notar, a etnofarmacologia é um campo multidisciplinar,
que vai desde as ciências sociais até a medicina, passando pela agronomia (cultivo das
plantas), biologia (estudo e reconhecimento das plantas em campo), farmacologia e
química (estudo dos princípios ativos).
Uma das principais ferramentas para a realização desses estudos são
entrevistas diretas com os indivíduos, pois o conhecimento popular costuma ser
passado oralmente, de geração para geração. “Há muito tempo os seres humanos
buscam alívio para seus males corporais e espirituais nas plantas [...]. Geralmente tais
fórmulas foram elaboradas por pessoas mais idosas que experimentaram, testaram e
aprovaram tais receitas” (MACIEL e NETO, 2006, pp. 63-64). Isso faz com que as
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entrevistas realizadas nestes estudos foquem, sobretudo, pessoas idosas, que
mostram um saber avançado no que diz respeito a plantas. Atualmente, estes saberes
têm se perdido, devido às novas tecnologias que surgem, especialmente no campo
farmacológico, que fazem, ainda, com que os jovens não se interessem por tais
conhecimentos, fato que reforça a perda do conhecimento tradicional.
Objetivos
Colher informações sobre as práticas e usos tradicionais de plantas medicinais
de Formosa-GO. Catalogar esses saberes, relacionando-os com o conhecimento
científico, como forma de propagá-los como medicina popular alternativa, assim como
esclarecer informações da forma de manuseio e cultivo de tais plantas e proporcionar
sua valorização.
Metodologia
A metodologia utilizada foi um questionário produzido com base nos artigos
científicos lidos na etapa de revisão bibliográfica. “Verificar se a idade, o grau de
escolaridade, o local de nascimento e o gênero afetam o conhecimento botânico e
testar se essas variáveis influenciam no cultivo de plantas medicinais” (SILVA e
PROENÇA, 2008, p. 482). Os resultados e as discussões nos artigos lidos também
indicaram quais perguntas eram essenciais ao questionário e quais poderiam ser
acrescentadas. O questionário procurou obter o máximo de informações possíveis
acerca do uso de plantas medicinais pelos entrevistados, escolhendo para as
entrevistas as pessoas que afirmavam fazer algum uso de plantas medicinais.
Resultados e discussão
Foram realizadas 70 entrevistas com os moradores de Formosa-GO. Das
plantas citadas, 100 espécies foram registradas, distribuídas em 47 famílias diferentes.
As famílias mais representativas foram Asteraceae (14 espécies), Fabaceae (8
espécies) e Solanaceae (8 espécies), sendo as plantas mais utilizadas a Mentha
piperita (hortelã), o Cymbopogon citratus (erva-cidreira), o Chenopodium ambrosioides
(mastruz) e o Peumus boldus (boldo ou salamargo). Das espécies registradas, 39 são
utilizadas para problemas no sistema digestório, 23 para o sistema respiratório, 21 para
o sistema circulatório, 12 para o sistema renal e 9 para o sistema nervoso, levando em
consideração que uma mesma planta foi citada para várias patologias diferentes.
Quanto ao modo de preparo das plantas, os usos mais comuns foram os chás,
como já era esperado, a partir da leitura dos artigos que abordam os estudos
etnofarmacológicos. Nota-se que no município há a predominância do preparo de chás
por decocção (35%), que consiste em levar a planta para fervura juntamente com a
água. Alguns entrevistados afirmaram ser o chá por infusão a melhor forma de preparo,
pois não danificaria suas propriedades medicinais, já que este método apenas
acrescenta a água fervente sobre a planta, evitando a sua fervura. Todos os modos de
preparo citados estão mostrados no diagrama abaixo:
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Gráfico 1: Modos de preparo das plantas, citados durante as entrevistas.
No que se refere ao questionário socioeconômico, a maioria (35%) afirmou
utilizá-las porque não fazem mal à saúde e não por ser mais barato (5%). Além desses
motivos, o uso das plantas como remédio foi justificado porque o acesso a elas é fácil
(18%); por tratar melhor as patologias (16%); porque acreditam que aumenta ou traz
algum bem-estar (12%); por ser mais eficaz (8%); e, por fim, por ser paliativa até
chegar a alguma farmácia (6%).
Cerca de 85% dos entrevistados foi do sexo feminino, o que mostra que é um
público alvo de estudos na busca de novos princípios ativos em plantas medicinais.
Acredita-se ainda, que a predominância deste gênero está ligada aos trabalhos
domésticos realizados por elas. O cuidado com a casa, marido e filhos aumenta o
conhecimento sobre plantas medicinais (SILVA e PROENÇA, 2008).
Por volta de 45% possuem apenas ensino fundamental completo ou incompleto.
Os entrevistados com ensino médio totalizaram 42% e somente cerca de 5% afirmaram
ter ensino superior. Além disso, 77% afirmaram passar seu conhecimento sobre
plantas medicinais para os filhos.
Conclusões
A grande quantidade de espécies registradas nesses tipos de estudos fornece
uma fonte eficaz na busca de novos medicamentos. A resposta para doenças atuais
sem possibilidades de cura ou mesmo com poucas possibilidades pode estar na
medicina popular, daí a importância da valorização desses conhecimentos.
O modo de preparo e o motivo pelo qual os entrevistados disseram utilizar as
plantas medicinais indicam que eles desconhecem, na maioria das vezes, os efeitos
indesejáveis ou tóxicos de tais plantas, mostrando a necessidade de estudos
especializados dos efeitos farmacológicos das plantas utilizadas pela população.
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Referências
ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de e HANAZAKI, Natália. As pesquisas
etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico:
fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia, 16 (supl.), p. 678689, dez. 2006.
MACIEL, Márcia Regina Antunes e NETO, Germano Guarim. Um olhar sobre as
benzedeiras de Juruena (Mato Grosso, Brasil) e as plantas usadas para benzer e curar.
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências humanas, 1 (3), p. 61-77, setdez. 2006.
SILVA, Cristiane Soares Pereira da e PROENÇA, Carolyn Elinore Barnes. Uso e
disponibilidade de recursos medicinais no município de Ouro Verde de Goiás, Brasil.
Acta botânica brasilica, 22 (2), p. 481-492, 2008.
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