Cartilha “Sementes tradicionais e sistemas

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SEMENTES TRADICIONAIS E
SISTEMAS AGROFLORESTAIS
CENTRO INDÍGENA DE FORMAÇÃO E CULTURA
RAPOSA SERRA DO SOL
Autores:
Dayane Silva de Lima
Edivaldo da Silva Simão
Evandro da Silva de Oliveira
Ivailson Pereira Alves
Ively da Silva Rodrigues
Renato Gabriel Francisco
Rivaldo da Silva
Rônison Caetano Pereira
Juvêncio Luis da Silva Neto
Uwilian Jander Alves da Silva
Werisvan Henrique Oliveira
ESTUDANTES DO 1o. ANO
(2014) - MÓDULO: SISTEMAS
AGROFLORESTAIS
Alcebias Mota Constantino
Cirilo Roberto de Souza
Dênison Clementino A. dos Santos
Domingo Ribeiro da Silva
Gessival Pedro Leite
Gleydson André Pereira da Silva
Igo Silva Marques
Josiel Pereira da Silva
Katiane de Silva de Souza
Maira Alexandre de Souza
Maurício dos Santos Silva
Pedro Meriquió Viriato
Rávila Daiana Monteiro Mota
Reylanison Dhiêgo Monteiro Mota
Romário Bezerra Dionísio
Tiago Silva e Silva
Valdeilson de Souza Estevão
Valdimar Francisco Laimã
ESTUDANTES DO 2o. ANO (2014)
- MÓDULO: SEMENTES
TRADICIONAIS
Revisão e diagramação: Iniciativa Wazaka’ye/INPA
Tiragem: 500 cópias
SETEMBRO/2015
PROPAGAÇÃO VEGETAL
ÍNDICE
É a forma como as plantas se reproduzem, se multiplicam, gerando
seus “filhos” (descendentes). Pode ser de duas maneiras:
ASSEXUADA e SEXUADA.
Propagação vegetal ……………………………. 2
ASSEXUADA: é quando a propagação acontece através dos
galhos, raizes ou gemas (formas vegetativas). Exemplos:
Dispersão ……………………………………….. 4
ESTAQUIA (maniva)
Árvores matrizes ……………………………….. 6
Armazenamento de sementes …………………7
Germinação de sementes …………………….. 9
Dormência de sementes ……………………… 10
ESTAQUIA (cana de
açucar)
Viveiro de mudas ……………………………… 11
Plantios ecológicos …………………………… 12
ENXERTIA (limão,
laranja, cupuaçu etc)
1
2
SEXUADA: é quando a propagação acontece através da semente. A
semente é formada através da polinização: mistura do gameta
feminino (planta “mãe” - óvulo) e gameta masculino (planta “pai” pólen).
Quando a semente já está formada acontece a DISPERSÃO, ou
seja, a forma como a semente é levada para longe da planta-mãe.
As principais formas de dispersão são:
ZOOCORIA: dispersão por animais (quando a semente ou fruto se
prende no pelo do animal, ou quando o animal come a fruta e defeca
a semente). Exemplos: goiaba, mamão, manga, etc.
grãos de pólen
(gameta masculino)
oosfera (gameta
feminino)
FLOR (PARTE
INTERNA: OVÁRIO)
ANEMOCORIA: dispersão pelo vento (geralmente essas sementes
são bem leves). Exemplos: cedro, algodão, etc.
Polinização
pelo vento
Polinização = transporte do pólen para se encontrar com a oosfera.
Esse transporte é feito principalmente pelo VENTO (figura acima) ou
pelos insetos (figura abaixo).
Pólem + oosfera = formação da SEMENTE (dentro do ovário da
flor). O ovário da flor se transformará em FRUTO, e dentro do fruto
estarão as sementes.
HIDROCORIA: dispersão pela água (sementes que bóiam).
Exemplo: coco, etc.
Polinização
por inseto
3
4
AUTOCORIA: quando a semente se dispersa por conta própria
(geralmente são frutos que “estouram”, jogando a semente para
longe). Exemplos: mamona, pata de vaca, alguns tipos de feijão etc.
ANTROPOCORIA: dispersão pelo ser humano. Exemplo: qualquer
semente que é coletada e transportada pelo ser humano
Quando coletamos uma semente, é importante saber qual a melhor
planta para coletar, e como é a melhor maneira de armazenar as
sementes. E esses serão nossos próximos assuntos:
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ÁRVORES MATRIZES
Árvore matriz é uma árvore boa para coletar sementes. Nem todas
as árvores são boas para coletar, por exemplo, se eu quero plantar
sementes de manga eu não vou coletar semente de uma mangueira
que produz uma manga azeda e
fiapenta, pois sabemos que essa
semente tem grandes chances de
gerar uma planta parecida com
sua mãe, ou seja, que irá produzir
mangas azedas e fiapentas. Então
eu irei coletar de um pé que
produz manga doce e sem fiapo,
esse sim vai produzir sementes
que irão crescer e gerar uma
planta produtora de boas frutas.
O mesmo vale para plantas
madeireiras, mas nesse caso
temos que escolher uma
matriz não pelo tipo de fruto
(pois não nos interessa o
fruto), e sim pela
MADEIRA, que é o que
interessa. Então uma
árvore com o tronco torto e
com muitos galhos não
pode ser uma matriz, pois
suas sementes irão gerar
árvores com essas mesmas
características. O ideal é
coletar de uma árvore com
tronco reto e poucos galhos.
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ARMAZENAMENTO DE SEMENTES
ARMAZENAMENTO DAS SEMENTES RECALCITRANTES:
Primeiro precisamos saber qual o tipo de semente. Pode ser de dois
tipos:
ORTODOXA: sementes que podem ser secas.
RECALCITRANTE: sementes que não podem ser secas. Se
secarem, morrem.
ARMAZENAMENTO DAS SEMENTES ORTODOXAS:
- Precisam estar limpas e bem secas
- Devem ser guardadas em embalagens bem fechadas, limpas e
secas, como garrafa PET, potes ou outros recipientes
- Podem ser usados repelentes naturais (nim, eucalipto, açafrão,
cinza)
- Se possível, armazenar em baixas temperaturas, como na
geladeira. Se não tiver geladeira, guardar em local sombreado e
ventilado.
- Precisa manter a umidade, não pode secar.
- O ideal é plantar logo que tirar de dentro da fruta.
- Podem ser armazenadas apenas por pouco tempo (semanas).
- Tem que armazenar mantendo a umidade, para isso pode-se
misturar as sementes em serragem úmida, ou casca de arroz, ou
enroladas em pano ou papel úmidos (ex. jornal), molhando sempre
que começar a secar.
- É importante limpar bem a semente (tirar a polpa em volta) para
evitar o crescimento de fungos durante o armazenamento.
- Manter em local sombreado e ventilado.
- Plantar o quanto antes.
EXEMPLOS:
Jambo
EXEMPLOS:
Buriti
Milho
Balde
Ingá
Abacate
Manga
Caju
Feijão
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GERMINAÇÃO DE SEMENTES
DORMÊNCIA DE SEMENTES
Germinação é o processo inicial de crescimento de uma planta.
Quando colocamos uma semente na terra e molhamos, a primeira
etapa que ocorre é a absorção de água pela semente. Na medida
que vai se enchendo de água, a casca se rompe, e o oxigênio
começa a entrar dentro da semente. Assim o embrião sabe que é
hora de nascer, e começa a germinação. Na germinação são
formadas as estruturas:
A dormência das sementes é um atraso na germinação, quando a
semente demora para germinar, mesmo tendo todas as condições
favoráveis (umidade, temperatura, luz e oxigênio). Quando isso
acontece, precisamos “quebrar a dormência”, ’ isso pode ser feito de
várias maneiras, dependendo da sementes.
Algumas formas de quebrar a dormência são:
- Molho em água: deixar a semente de molho
em água quente ou fria, por tempos que
variam dependendo de cada tipo de semente.
- Radícula: será a raiz da planta, crescendo para baixo do solo
- Caulículo (ou epicótilo e hipocótilo): será o caule da planta,
crescendo para cima.
- Gêmula: irão originar as primeiras folhas da planta:
Rompimento da
casca permite
entrada de oxigênio
Oxigênio
- Escarificação química: feita com produtos
químicos, geralmente se coloca a semente de molho em ácido
(sulfúrico, clorídrico etc).
- Escarificação mecânica: é feita ao se lixar
a semente, usando lixa ou uma pedra ou
piso áspero, onde se lixa a semente e
com isso a água consegue entrar com
mais facilidade.
A água faz a semente tufar e a casca romper
Exemplo de germinação
do feijão (hipógea)
- Choque de temperatura: expor as sementes a temperaturas
quentes e frias, alternando a cada período de 8 a 12 horas.
Caulículo
Embrião
Radícula
Gêmula
Gêmula
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VIVEIRO DE MUDAS
É o local onde as sementes serão plantadas, dando origem às
mudas. Devem estar em local semi-sombreado, com cobertura de
palha ou sombrite. Abaixo seguem algumas observações
importantes sobre viveiros:
- Sementeira: é um canteiro onde serão semeadas as sementes
para que elas possam germinar, e depois quando estiverem com o
tamanho necessário serão transplantadas para os saquinhos.
- O transplantio (passar a muda da
sementeira para o saquinho)
deve ser feito retirando-se a
planta da sementeira com um
torrão de terra envolvendo a raiz.
Ela deve ir para o saco com essa
terra a envolvendo.
- Uma outra opção é plantar as
sementes diretamente no saco, nesse caso não é necessário fazer
o transplantio.
- As plantas devem permanecer no saco até atingir as condições
ideais para saírem do viveiro e serem plantadas no local definitivo:
mínimo de 30 centímetros de altura, saudáveis, com bastante
folhas. Antes de serem plantadas, as mudas precisam passar por
um período de rustificação.
- Rustificação: cerca de 1 mês antes do plantio, a muda deve ser
levada para fora do viveiro e colocada no sol, e a irrigação deve ser
diminuída gradativamente. Assim a planta irá aos poucos se
acostumando com o ambiente que irá encontrar quando for
plantada em seu local definitivo.
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PLANTIOS ECOLÓGICOS
Existem várias maneiras de se realizar plantios. No ambiente
tropical, o mais indicado é realizar plantios consorciados, ou seja,
misturando plantas, pois uma ajuda a outra e prepara o ambiente
para as plantas que virão em seguida, além disso a produção fica
mais diversificada e o solo mais saudável. Esse tipo de plantio é
chamado de SISTEMA AGROFLORESTAL ou AGROFLORESTA.
Existem vários tipos de sistemas agroflorestais, aqui vamos tratar da
agrofloresta sucessional, ou seja quando os plantios buscam
imitar o processo de sucessão ecológica que ocorre naturalmente na
natureza.
Na agrofloresta sucessional, plantamos várias plantas ao mesmo
tempo, e cada uma vai se desenvolver ao seu tempo. As que irão
crescer primeiro são as pioneiras, que possuem crescimento rápido
e a vida curta (6 meses à 3 anos), e irão preparar o ambiente para
as plantas secundárias, que possuem crescimento e vida medianos
(5 à 20 anos), e por último se desenvolvem as plantas primárias,
com tempo de vida longo e crescimento mais lento (20 anos ou
mais). Essas são as fases da agrofloresta. Dentro de cada fase,
devem ser inseridas plantas que ocupam diferentes estratos, ou
andares, ou seja, plantas de estrato baixo, médio, alto e emergente
(o mais alto de todos).
Essa ocupação dos diferentes estratos é importante pois assim as
plantas aproveitam melhor o espaço, cada uma ocupando um
“andar”, assim elas não competem. No estrato baixo ficam aquelas
plantas que precisam de pouca luz, no estrato médio as que
precisam de média luz, e nos estratos alto e emergente ficam
aquelas que precisam de muita luz para se desenvolver. Em seguida
serão mostrados alguns exemplos:
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Exemplos de plantas que podem ser utilizadas em uma agrofloresta
sucessional:
Exemplo de agrofloresta sucessional na fase “pioneira” (primeiros
anos):
FASE
ESTRATO
Emergente
(luz plena)
Alto
(muita luz)
Médio
(média luz)
Baixo
(pouca luz)
Pioneiras
(até 3 anos)
Secundárias
(5 a 20 anos)
Primárias
(mais que 20
anos)
Milho
Mamona
Arroz
Berinjela
Quiabo
Cana
Capim napier
Pupunha
Pau rainha
Castanheira
Samauma
Caju
Mamão
Cará
Macaxeira
Feijão guandu
Tomate
Pimenta
Banana
Ingá
Banana
Manga
Seriguela
Acerola
Seringueira
Cajá
Abacate
Açaí
Manga
Capim
mombaça
Laranja
Limão
Tangerina
Ata
Melancia
Feijão (de
moita)
Abóbora
Taioba
Abacaxi
Feijão de porco
Batata
Açafrão
Cacau
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Exemplo de agrofloresta sucessional na fase “secundária” (5 à 10
anos):
Exemplo de agrofloresta sucessional na fase “primária” (15 anos ou
mais):
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O SOLO NA AGROFLORESTA
No solo deve ter a presença de macrorganismos (besouros, cupins,
formigas e minhocas) e de microrganismos (bactérias e fungos), que
são os principais processadores ou decompositores da matéria
orgânica. Alguns deles também exercem o papel de incorporadores
dessa matéria orgânica no solo.
A incorporação da matéria orgânica no solo resulta em um solo mais
rico, fofo, fértil e não-compactado.
Para trazer esses micro e macroorganismos ao solo, precisamos ter
muita matéria orgânica sobre o solo, como capim (sem a raiz), palha
e galhos. Esses materiais podem ser trazidos de fora, mas o melhor
é ter plantas na agrofloresta que irão produzir essas materiais,
como: capim, feijão guandu, feijão de porco etc. Que podem ser
podados e ter suas folhas deixadas para cobrir o solo.
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