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POTENCIAL INFECCIOSO DO TRANSPORTE COLETIVO
UNIVERSITÁRIO DA CIDADE DE URUGUAIANA-RS(1)
Ticiane da Rosa Pinheiro(2), Cheila Denise Ottonelli Stopiglia(3)
(1)
Trabalho executado no Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Pampa, campus Uruguaiana RS.
Acadêmica de Farmácia; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS; [email protected];
(3)
Orientadora; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS; [email protected].
(2)
RESUMO: O corpo humano é colonizado por diferentes micro-organismos, a grande maioria bactérias. Muitas delas
encontram condições úteis sobreviver, permanecendo por longos períodos em superfícies sólidas. Objetos como
maçanetas, telefones, corrimãos de ônibus, são fômites de micro-organismos que podem desencadear doenças
infecciosas via contato com o hospedeiro suscetível. O objetivo desse trabalho foi realizar análise microbiológica de
transporte público universitário da cidade de Uruguaiana-RS e avaliar o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos. Para
isso, foram realizadas três coletas de amostras em dois veículos da frota do transporte coletivo universitário, no
corrimão de entrada, na catraca e na barra de mão central. As amostras foram coletadas através de esfregaço com um
swab estéril, colocadas em meio de transporte e levadas até o laboratório onde foram semeadas em placas de ágar
sangue e incubadas por 24h em estufa à 35ºC. Após incubação, foram realizadas as provas de identificação conforme
técnicas estabelecidas. Foram isolados e identificados trinta e cinco micro-organismos. A maioria dos isolados
apresentou sensibilidade frente aos antimicrobianos testados. No entanto, alguns isolados apresentaram significativa
resistência a determinados antimicrobianos. Dessa forma, os veículos do transporte coletivo analisados podem ser
considerados fômites que abrigam diversas espécies de micro-organismos.
Palavras-Chave: antimicrobianos, bactérias, microbiota, transportes, superfície.
INTRODUÇÃO
O corpo humano é colonizado por muitos micro-organismos, na sua grande maioria bactérias,
pertencentes a microbiota normal humana, sendo variável de indivíduo para indivíduo devido às condições
fisiológicas, idade, dieta e habitat (HARVEY, 2008). A pele é capaz de abrigar diversos micro-organismos e
transportá-los de uma superfície para outra apenas por seu contato direto, pele com pele, ou de forma
indireta, da pele para outros objetos como maçanetas, telefones, corrimãos de escadas, ônibus entre outros
(BRASIL, 2007; LARSON, 1999).
O uso indiscriminado de medicamentos pela população sempre foi um dos principais fatores que
contribuíram para o surgimento de micro-organismos resistentes aos mais variados tipos de antibióticos
(FERNANDES et. al., 2012; ROSSI e ANDREAZZI, 2005). O presente trabalho teve por objetivo a
realização de análise microbiológica do transporte coletivo universitário da cidade de Uruguaiana – RS,
através da identificação de micro-organismos e avaliação do perfil de sensibilidade aos antibióticos.
METODOLOGIA
Foram realizadas três coletas de amostras em dois diferentes veículos da frota do transporte
coletivo universitário da cidade de Uruguaiana- RS nos seguintes locais: corrimão de entrada, catraca e
barra de mão central. As amostras foram coletadas através de esfregaço realizado com swab estéril,
colocadas em meio de transporte e levadas até o laboratório, onde foram semeadas em placa de ágar
sangue e incubadas por 24h em estufa à 35ºC. Após o período de incubação, foram realizadas as provas de
identificação conforme técnicas estabelecidas para os micro-organismos isolados, de acordo com a
coloração de Gram.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram isolados e identificados um total de trinta e cinco micro-organismos a partir de seis coletas
(três em cada veículo). A frequência absoluta de micro-organismos encontrados foi: 48,5% Staphylococcus
coagulase negativa, 14,3% Staphylococcus aureus, 11,4% Acinetobacter, 5,7% Corynebacterium, 5,7%
Enterococcus, 5,7% Serratia spp., 2,9% Providencia spp., 2,9% Klebsiella pneumoniae, 2,9% Streptococcus
alfa- hemolítico.
A maioria dos isolados apresentou sensibilidade aos antimicrobianos testados, com exceção das
enterobactérias que apresentaram resistência à aztreonam; isolados de Staphylococcus aureus que
apresentaram resistência à oxacilina e azitromicina; isolados de Staphylococcus coagulase negativa que
apresentaram resistência à clindamicina e penicilina e isolados de Acinetobacter spp. que apresentaram
resistência à ampicilina-sulbactam.
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
Dentre as bactérias isoladas, um total de cinco isolados do grupo Staphylococcus coagulase
negativa mostrou-se resistente à cefoxitina, eritromicina e penicilina, assim como o estudo de Fernandes et
al. (2012). Dos isolados de Staphylococcus aureus, 60% apresentaram resistência à oxacilina e à
azitromicina, dados esses similares ao estudo de Lisboa et al. (2007) em que 43% dos isolados de S.
aureus de dezesseis Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do estado do Rio Grande do Sul, 63% eram
micro-organismos resistentes à oxacilina/ meticilina, o que torna a bactéria resistente às penicilinas,
cefalosporinas e carbapenêmicos e limita muito as opções de tratamento (WEESE, 2010).
No nosso estudo foram identificados dois isolados de Enterococcus (5,7%), números superiores ao
do levantamento realizado por Mendonça et al. (2006) em 40 ônibus do transporte coletivo do estado de
São Paulo, onde de 120 amostras coletadas, apenas uma apresentou esse gênero (0,68%). Tanto os
nossos isolados como o isolado obtido no estudo realizado em São Paulo mostraram-se sensíveis aos
antimicrobianos testados.
Além disso, no presente estudo foram encontradas bactérias da família Enterobacteriaceae, espécie
Klebsiella pneumoniae e gêneros Providencia e Serratia, as quais apresentaram resistência frente ao
antibiótico aztreonam e sensibilidade aos demais antimicrobianos testados. Estudo realizado por Santos
(2006) em hospitais de Goiás mostrou que 29,5% dos isolados de K. pneumoniae apresentaram resistência
ao aztreonam, o que implica na importância do cuidado com esse micro-organismo que, assim como a
Serratia spp., são comumente encontrados em infecções hospitalares.
Estudo realizado por Godoy (2012), que levantou dados de infecções por Acinetobacter baumannii
em UTI do estado de Goiás, concluiu que essa bactéria além de ser frequentemente isolada em ambiente
hospitalar, tem grande capacidade de adaptação, podendo permanecer por longos períodos em objetos
inanimados. No presente estudo, foram obtidos quatro isolados do gênero Acinetobacter, sendo que todos
apresentaram resistência à ampicilina-sulbactam, dado preocupante e que demonstra uma resistência maior
do que a encontrada no estudo realizado em UTI, que demonstrou uma taxa de 60,9% de resistência a esse
antibiótico. Como o transporte coletivo analisado no presente estudo é da rota universitária e levando em
consideração que os cursos ofertados na universidade de Uruguaiana-RS são da área da saúde, e que
esse gênero é comumente encontrado em áreas hospitalares, nos faz refletir que o micro-organismo isolado
pode estar sendo disseminado de forma indireta através de mãos contaminadas de trabalhadores e/ou
estudantes da área da saúde que utilizam o transporte público.
CONCLUSÕES
De acordo com os resultados obtidos nesse trabalho, foi possível constatar que os veículos do
transporte coletivo que fazem parte da rota universitária da cidade de Uruguaiana-RS podem ser
considerados como reservatórios de uma gama de micro-organismos. É importante ressaltar, que algumas
bactérias apresentaram importantes perfis de resistência aos antibióticos, o que preocupa quanto a
possibilidade e o risco de contaminação dos usuários desse transporte.
A adoção de medidas simples de higiene, como a degerminação diária dos veículos são de suma
importância, assim como, a conscientização da população quanto à lavagem e antissepsia das mãos,
métodos simples e de reduzido custo que podem evitar e reduzir a probabilidade de que tais microorganismos possam causar doenças aos usuários desse tipo de transporte.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Higienização das mãos em serviços de saúde. Brasília: Anvisa,
2007. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos/manual_integra.pdf. Acesso em 04 de maio
de 2015.
FERNANDES, et al. "Diversidade de Bactérias, Fungos e Formas de Resistência de Parasitos em Duas Rotas de
Ônibus do Transporte Coletivo da Grande Vitória-ES”, Revista Sapientia 11 (2012) 39-45.
Godoy
HARVEY, R. A.; CHAMPE, P. C.; FISHER, B. D.; Microbiologia Ilustrada. 2. ed. Porto alegre: ARTMED, 1998;
448p.,28cm.
LARSON E. Skin hygiene and infection prevention: more of the same or different approaches. Clinical Infectious
Diseases Society of America 1999;29:1287-94.
LISBOA et. al. Prevalência de Infecção Nosocomial em Unidades de Terapia Intensiva do Rio Grande do Sul. The
Prevalence of nosocomial infection in Intensive Care Units in the State of Rio Grande do Sul, Revista Brasileira de
Terapia Intensiva Vol. 19 Nº 4.
MENDONÇA et. al. Potencial infeccioso do transporte público de passageiros da cidade de São Paulo. Infection
potential of public transportation system in the municipality of São Paulo, SP, Brasil, Arq Med Hosp Fac Cienc Med
Santa Casa São Paulo. 2008; 53(2):53-7.
ROSSI, F.; ANDREAZZI, D. B. Resistencia bacteriana. Interpretando o antibiograma. 1 ed. São Paulo:
Santos
WEESE, J.S.; VAN D. E.; Methicillin-resistant Staphylococcus aureus and Staphylococcus pseudointermedius un
veterinary medicine. Veterinary Microbiology, v. 140, n. 3, p.418-429, 2010.
Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
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