Importância da entomologia forense nas ciências criminais Thayse Simonetti Brittes Paulo Roberto Queiroz da Silva Bióloga. Aluna de Pós Graduação em Biociências Forenses, pela Universidade Católica de Goiás/IFAR. Biólogo. PhD. Biologia Animal – Universidade de Brasília – UnB. Professor do IFAR/PUC-GO. Endereço: IFAR Instituto de Estudos Farmacêuticos. SHCGN 716 Bl B Lj 05 Brasília-DF CEP: 70770-732. E-mail: [email protected] Resumo Apesar da grande aversão provocada na maioria das pessoas, os insetos possuem grande importância para o meio ambiente e para a sociedade. Dentro da entidade policial os insetos contribuem com um papel muito importante. O objetivo desse trabalho foi apresentar os princípios básicos da entomologia forense, por meio de um estudo de revisão literária, que são aplicados na investigação criminal. A entomologia forense procura determinar o intervalo pós-morte por meio do relacionamento dos estágios de decomposição dos cadáveres utilizando-se o conhecimento a respeito da deposição dos ovos e larvas da fauna cadavérica. O início dos estudos em entomologia forense foi um grande passo para os estudos atuais, o primeiro caso foi revelado pelo investigador Sung T’zu em 1235 e vem sendo pesquisado ainda hoje em diversos países. No Brasil, a entomologia forense iniciou-se em 1908, com os trabalhos pioneiros de Edgard Roquette Pinto e Oscar Freire, respectivamente nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia e vem sendo pesquisado por pesquisadores das áreas de ciências biológicas. Deve-se lembrar que os insetos contribuem para estudos relacionados a tráfico de entorpecentes, maus tratos e cronotanatognose. Assim, deve-se considerar a ciência entomologia forense como mais um recurso de investigação pelas entidades investigativas. Palavra Chave: Ciências criminais; IPM; Tráfico de entorpecentes. Importance of forensic science in criminal Abstract Despite the great antipathy caused in most people, insects are of great importance for the environment and society. Within the entity police insects contribute a very important role. The aim of this study was to present the basic principles of forensic entomology, through a study of literature review, which are applied in a criminal investigation. Forensic entomology demand determine the postmortem interval by means of the relationship between stages of decomposition of the bodies using the knowledge about the deposition of eggs and larvae of cadaveric fauna. The early studies in forensic entomology was a big step for the current studies, the first case was revealed by the investigator T'zu Sung in 1235 and is still being researched in several countries. In Brazil, forensic entomology began in 1908 with the pioneering works of Edgard Roquette Pinto and Oscar Freire, respectively in the states of Rio de Janeiro and Bahia and has been studied by researchers from the biological sciences. It should be remembered that insects contribute to studies related to drug trafficking, abuse and cronotanatognose. Thus, one should consider forensic science as an additional resource for research by the investigative authorities. Key-words: riminal science; Post mortem interval; Narcotics. 1. INTRODUÇÃO Dentre os insetos mais comuns, encontram-se os da ordem Diptera, que são classificados em duas subordens: Nematocera (mosquitos, tais como, Aedes e Anopheles) e Brachycera (moscas, tais como, Calliphora e Musca). Estes comumente são encontrados dentro das residências entrando em contato com alimentos e provocando um aspecto depreciativo aos ambientes em que se encontram (ANTUNES; PATIU, 2008b). As espécies consideradas mais depreciativas encontram-se as da subordem Brachycera, esta subordem é bastante conhecida por trazer desprezo aos seres humanos pelo aspecto sujo que as mesmas possuem e pelos locais que freqüentam, as famílias mais estudadas são Muscomorpha, Syrphidae, Fanniidae, Muscidae e Sarcophagidae (OLIVEIRA-COSTA; QUEIROZ, 2008). As aversões se dão geralmente pelas doenças que os insetos podem trazer, uma vez que, exemplares da ordem Diptera se sobrepõe a todas as outras ordens de insetos em importância médica e veterinária. Espécies sugadoras de sangue são responsáveis diretamente pela transmissão de malária, filarioses, trypanosomiases, leishmanioses e por uma série de arboviroses (febre amarela, dengue, encefalites, entre outras) (ANTUNES; PATIU, 2008b). Deve-se lembrar que os insetos trazem muitos benefícios para o meio ambiente, bem como para os seres humanos. Dentre as inúmeras funções dos insetos tem-se a decomposição da matéria orgânica nos sistemas biológicos, a polinização, a produção de matéria-prima, como também, aplicações em estudos científicos (OLIVEIRA-COSTA, 2008a). Para aplicação em estudos científicos destaca-se a entomologia forense, que aplica o estudo de insetos em procedimentos legais, as pesquisas nesta área são realizadas desde 1850 e nas últimas décadas vem obtendo progresso, no início existia uma resistência quanto sua aplicação, mas com passar do tempo ela foi aceita e hoje traz grandes avanços nas investigações, apesar de ser utilizada por poucas instituições criminais (OLIVEIRACOSTA, 2008b). Segundo Oliveira-Costa (2008a), Francesco Redi, em 1668, demonstrou a inviabilidade da abiogênese utilizando moscas em seus experimentos, comprovando que estes “vermes” são, na verdade, larvas de moscas. Além disso, experimentos de monitoramento de decomposição da matéria orgânica são medidos, principalmente, pela ação dos insetos. A maioria das pessoas já deve ter observado insetos adultos e larvas em carcaças putrefeitas de animais. Estes insetos são considerados de muita importância para as investigações criminais, pois, estas larvas possuem estágios que podem designar a provável data do crime questionado. A fauna entomológica para fins forenses no Brasil apresenta uma ampla diversidade de espécies que se sucedem na decomposição da matéria orgânica, pois o processo de decomposição oferece condições ideais ao desenvolvimento dos dípteros. Os estudos em entomologia forense no Brasil indicam as moscas como os insetos de maior interesse na área, provavelmente pela diversidade desse grupo em regiões tropicais e, sobretudo, pela grande atividade que a matéria orgânica e a decomposição exercem sobre esses insetos adultos ou larvas, influenciando no comportamento e na dinâmica populacional das várias espécies e nichos ecologicamente distintos (GREDILHA et al. 2007). A Entomologia Forense é a aplicação do estudo de insetos, ácaros e outros artrópodes, na elucidação de questões judiciais. Como exemplo, tem-se a morte violenta, associando os estágios de desenvolvimento dos insetos ao processo de decomposição do cadáver humano para determinar a data da morte e, se possível, deduzir as circunstâncias que cercaram o fato antes do ocorrido ou que se seguiram depois deste (KALIANDRA, 2005). Segundo Oliveira-Costa (2008b), cinco questionamentos devem ser respondidos com relação aos casos de morte violenta: quem é o morto, como a morte ocorreu,quando ocorreu e se foi natural, acidental ou criminal. Os conhecimentos em entomologia podem auxiliar nos quatro primeiros questionamentos e desvendar o último, porém freqüentemente é aplicada a estimativa do tempo de morte, (intervalo pós-morte – IPM). Evidências de insetos também podem demonstrar se o corpo foi movido para um segundo local depois da morte, ou se o corpo foi em algum momento manipulado por animais, ou pelo assassino que voltou à cena do crime. Tem-se como outras aplicações, o uso de entorpecentes, danos em bens imóveis, contaminação de materiais, produtos estocados e outros casos que se apresentam à investigação (KALIANDRA, 2005). Países desenvolvidos que possuem centros de investigação reconhecidos internacionalmente, como exemplo o Federal Bureal of Investigation (FBI) nos Estados Unidos da América, já possuem uma linha de pesquisa em perícia entomológica, seja realizado em parceria com pesquisadores de universidades ou laboratórios especializados, (GREDILHA et al., 2007). Através de pesquisas realizadas para estudos científicos, Oliveira-Costa e Dias (2008) relatam em seu artigo a importância das parcerias com universidades que dispõem de pesquisadores e especialistas voltados para a produção de soluções na área de segurança e concluem que: Separar a policia da ciência é como tentar separar as duas faces da mesma moeda. A criminalística encontra-se intimamente ligada à produção cientifica, enquanto o crime adquire uma face sofisticada e procedimentos complexos de atuação. Para Antunes e Patiu (2008 a), o objetivo da identificação é verificar de qual “tipo” de organismo está tratando ou estudando e, dependendo do propósito do trabalho, a identificação poderá ser em graus diferentes de universalidade, por exemplo: pode ser necessário identificar até o nível de família para alguns estudos. Segundo Oliveira-Costa e Dias (2008) o entomologista realizará a criação e a identificação do material coletado, informando aos peritos quais as espécies encontradas. De posse destes dados, o perito fará os cálculos necessários para a determinação do intervalo pós-morte. Em alguns casos é conveniente que esse especialista acompanhe o exame do local do crime. Para que especialistas consigam acompanhar investigações para fins de descrições entomológicas é necessário que comparem exemplares coletados com os identificados em coleções, estes exemplares encontram-se em museus e universidades, na sua maioria, e são subdivididos em: coleções de pesquisa, consideradas grandes coleções preservadas provenientes das várias regiões zoogeográficas; coleções de identificação, são aquelas que servem de apoio a rotina de identificação de materiais para diversas finalidades e por fim as coleções de tipo, que reúnem exemplares que auxiliam na descrição das espécies encontradas (ANTUNES e PATIU, 2008a). O objetivo desse trabalho foi apresentar os princípios básicos da entomologia forense, por meio de um estudo de revisão literária, que são aplicados na investigação criminal. 2. METODOLOGIA Para a elaboração deste trabalho de revisão foram utilizados artigos oriundos de pesquisas em base de dados, tais como, NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), Science Direct (http://www.sciencedirect.com), EBSCO (http://search.ebscohost.com) e Scielo (http://www.scielo.org/php/index.php). Para a elaboração do trabalho também foram utilizados livros específicos da área. 3. DISCUSSÃO A aplicabilidade da entomologia à perícia criminal depende de alguns fatores. O primeiro deles é reconhecer os insetos presentes em um local de crime como um vestígio. Algumas outras questões devem ser de conhecimento dos policiais que freqüentam o local de crime, como o que fazer (ou não fazer), o que e como coletar e preservar, que tipo de informação os insetos podem fornecer. É impressionante a quantidade e diversidade de informações que um inseto pode trazer à investigação criminal (DIAS, 2010). Segundo Oliveira-Costa (2008a), o direito de normas jurídicas estabelecidas em uma sociedade visa possibilitar a convivência de seus integrantes. Para que essas normas sejam aplicadas com justiça é necessário garantir os princípios do contraditório e a ampla defesa, fundamentais do Direito. Portanto, para que justiça seja feita é necessário buscar a verdade real, pois a verdade não pertence à defensoria nem à promotoria, a verdade pertence aos fatos. Desta forma, o Juiz procura inquirir testemunhas, ler documentos e realizar diligências para formar a sua convicção. Segundo Oliveira-Costa (2008b), a divulgação da entomologia forense no âmbito policial é quase inexistente e por este motivo, dados entomológicos, considerados valiosíssimos são completamente ignorados, quando não se obtêm este tipo de dados a investigações são levadas para a perícia médico-legal, que se baseia apenas em análises macroscópicas que se sucedem na decomposição. A criminalística forma um dos alicerces da justiça, por meio de aplicações de diversas ciências, entre elas a Biologia. A Biologia Forense pode prestar contribuições em diversos tipos de exames, como: identificação de pessoas por tipos sanguíneos e DNA; manchas orgânicas (sangue, esperma, urina, fezes, saliva, colostro); investigação de paternidade e maternidade espúria; material entorpecente por meio da botânica; toxicológicos e outros. Entre as várias contribuições está a aplicação do estudo de insetos e outros artrópodes (OLIVEIRA-COSTA, 2008a). 3.1 Estudos iniciais de entomologia forense Nas civilizações antigas da Babilônia e do Egito, as moscas aparecem como amuletos, como deuses (Baal Zebub, O Senhor das Moscas) e como uma das pragas na história bíblica do Êxodo (THOMPSON; PONT, 1993). Gomes e Zuben, (2004) relatam que estudos com insetos são utilizados desde os mais remotos tempos. Um dos casos mais citados em trabalhos de estudos forenses é o do investigador chinês Sung T’zu, que em 1235 trabalhou na investigação de um homicídio próximo a uma plantação de arroz, no qual teria se utilizado um instrumento cortante. Segundo bibliografia descrita: T’zu ordenou que os trabalhadores das vizinhanças apresentassem suas ferramentas de trabalho e notou-se que moscas sobrevoavam uma ferramenta específica, possivelmente atraída por restos de sangue ali presentes, imperceptíveis a olho nú. O proprietário da ferramenta foi interrogado e confessou o crime. Esta ciência tornou-se mundialmente conhecida somente após 1894, com a publicação na França do livro “La faune des cadavres” de Mégnin. Estudos que foram descritos no livro foram e ainda são muito utilizados, porém estes dados não podem ser utilizados no Brasil, já que o clima tropical acelera a decomposição, diferentemente do que ocorre nos países europeus, além das diversas espécies de insetos existentes que são diferentes em varias partes do mundo. Fatores geográficos limitam os estudos da entomologia forense. Equipes investigativas e suas condutas são importantes fatores para uma investigação de qualidade (OLIVEIRA-COSTA et. al., 1999). Apesar dos estudos de Mégnin (1894), a Entomologia Forense foi negligenciada por muito tempo, pela falta de entomologistas especializados no estudo da fauna cadavérica em todo o mundo e, principalmente, por causa do distanciamento entre entomologistas e profissionais da criminalística (médicos-legistas e peritos criminais). O interesse só foi retomado na segunda metade do Século XX. Leclercq (1969) publicou "Entomology and Legal Medicine" e posteriormente Smith (1986) publicou o livro "A Manual of Forensic Entomology". No final do século XX sua aplicação tornou-se rotina, especialmente na América do Norte e na Europa, onde muitos grupos de pesquisa têm se dedicado ao estudo desse tema (PUJOL-LUZ et al., 2008). 3.2 Fauna entomológica de importância forense Diferentes insetos sucedem nas carcaças, pois cada etapa do processo de decomposição oferece condições ideais para o seu desenvolvimento. Tendo a importância ecológica como um dos fatores principais, a decomposição ocasionada pelos insetos é uma importante ferramenta para investigações criminais (OLIVEIRA-COSTA, et. al., 2008). Segundo Oliveira-Costa et. al., (2008), estes insetos são atraídos pelo cadáver logo após a morte e desde então começam o processo de decomposição, dentre estes primeiro insetos encontram-se as moscas varejeiras, que são atraídas pelos odores exalados de um corpo em decomposição, sendo então um dos insetos de maior importância nos estudos de entomologia forense. No decorrer do processo, insetos sucedem-se uns aos outros cada um com preferência por determinada condição da carcaça. 3.2.1 Insetos Necrófagos São insetos que se alimentam do dos tecidos dos corpos decompostos, adultos e imaturos, são exemplos: Dípteros (Sarcophagidae, Muscidae e Calliphoridae); Coleópteros (Scarabaeidae, Silphidae e Dermestidae); Lepidópteros (Tineidae e Pyralidae), (OLIVEIRA-COSTA, et.al,. 2008). 3.2.2 Insetos Omníveros São insetos que se alimentam tanto do corpo quanto da fauna associada a ele, são exemplos: Himenópteros (formigas e vespas) e Coleópteros (alguns besouros), (OLIVEIRA-COSTA, et.al,. 2008). 3.2.3 Insetos Predadores ou Parasitas São insetos parasitas aqueles que utilizam dos insetos que colonizam normalmente o cadáver para seu desenvolvimento próprio e os predadores são os insetos que se alimentam dos estágios imaturos dos insetos necrófagos, são exemplos: Coleópteros (Silphidae, Staphylinidae e Histeridae); Dípteros (Calliphoridae – Chrysomya, Muscidae – Hydrotaea); Ácaros (aracnídeos diminutos – Macrochelidae, Parasitidae e Parholapidae); Himenópteros (predadores ou parasitas de imaturos de dípteros); Dermápteros (vulgarmente conhecidos como tesourinhas), (OLIVEIRACOSTA, et.al,. 2008). 3.2.4 Insetos Acidentais São insetos encontrados nos cadáveres por acaso, com extensão do habitat normal, são exemplos: Outros artrópodes como colêmbolas, percevejos, aranhas, centopéias e tatuzinhos de jardim, (OLIVEIRA-COSTA, et.al,. 2008). 3.2.4 Gráfico das Fases de Decomposição Oliveira-Costa et. al., (2008) apud Bornemissza (1957), relatou estudo realizado com carcaças na Austrália, reconheceu cinca estágios de decomposição: inicial (primeiro e segundo dia), putrefação (segundo ao 12º dia), putrefação negra (12º ao 20º dia), fermentação butírica (20º ao 40º dia) e seco (do 40º dia em diante). O estudo estabeleceu tempo em que deferentes espécies ficaram na nos corpos e o contínuo fluxo de acordo com o tempo de decomposição, como pode ser analisado abaixo na figura 01. 3.3 A Entomologia Forense no Brasil A entomologia forense iniciou-se no Brasil em 1908, com os trabalhos pioneiros de Edgard Roquette Pinto e Oscar Freire, respectivamente nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia. Com base em estudos de casos em humanos e animais realizados na primeira década do Século XX, esses autores registraram a diversidade da fauna de insetos necrófagos em regiões de Mata Atlântica, então ainda bastante preservadas. Tais trabalhos foram realizados pouco tempo depois da publicação do livro de Mégnin (1894), o primeiro a tratar do tema de forma sistemática e chamaram a atenção por postura crítica e seu esforço em desenvolver métodos adequados às condições locais do Brasil (PUJOLLUZ et al,. 2008). A fauna cadavérica constitui a aplicação forense mais importante da Entomologia na Medicina Legal, porém os conhecimentos científicos postulados pela Entomologia Forense não é tão utilizada em casos policiais no Brasil. Pesquisas em entomologia no Brasil são desenvolvidas em carcaças de animais visando obter parâmetros correlacionais com cadáveres humanos, fazendo-se necessário uma pesquisa mais abrangente no meio pericial (OLIVEIRA-COSTA; DIAS, 2008). Segundo Oliveira-Costa e Dias (2008), quando se descobre vestígios em cena de crime devem-se estabelecer direções para que se possa apontar ou eliminar suspeitos. Apesar da entomologia forense não ocorrer tão freqüentemente no Brasil o Código Penal brasileiro determina no Art. 158 que: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo suprilo a confissão do acusado. No Brasil, a entomologia forense está ainda em estágio básico de desenvolvimento. Entretanto, em outros países a prática é comum. No Brasil carece, ainda, a associação entre peritos e entomologistas, tendo em vista que é necessário conhecimento entomológico específico, além de espaço físico apropriado para criação e identificação de insetos (OLIVEIRA-COSTA; DIAS, 2008). Segundo Oliveira-Costa (2008d), uma nova escola formou-se em Campinas-SP; a partir de Souza (1994), que estudou a sucessão de entomofauna na degradação de carcaças de porcos. Com este trabalho, esta pesquisadora, orientada pelo Dr. Arício Linhares, postulou que os dados de distribuição geográfica dos táxons são imprescindíveis para essa ciência, pois espécies importantes para a estimativa do período pós-morte em uma região podem não ter, necessariamente, o mesmo valor em outras, visto que o Brasil é um país de dimensões continentais. Segundo estudos literários realizados por Pujol-Luz et al,. (2008) durante os últimos 10 anos ocorreram vários evento importantes para os estudos em Entomologia Forense: Em 2003, o Simpósio "O Estado da Arte da Entomologia Forense no Brasil", patrocinado pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal com a colaboração da Universidade de Brasília, reuniu cerca de 30 participantes, entre estudantes de graduação e pós-graduação, peritos criminais, agentes e delegados de polícia. Participaram como palestrantes peritos dos Institutos de Criminalística do Distrito Federal, do Rio de Janeiro e pesquisadores da Universidade de Brasília e da Universidade Estadual de Campinas. Em 2004, durante o XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado em Brasília, ocorreu o primeiro Simpósio de Entomologia Forense no Brasil, com apoio do Ministério da Justiça, do Conselho Britânico e da Embaixada Britânica no Brasil. Aberto ao público em geral, aos profissionais da esfera da justiça e aos congressistas, esse evento contou com a participação de dois especialistas britânicos vinculados ao King's College de Londres e à Scotland Yard, compartilhando suas experiências e pesquisa. Em 2007 foi criada a Associação Brasileira de Entomologia Forense (ABEF), sediada em Campinas, SP, simultaneamente com o I Simpósio Brasileiro sobre essa especialidade. O II Simpósio Brasileiro de Entomologia Forense ocorreu em 2008, durante o XXVII Congresso Brasileiro de Zoologia, em Curitiba, Paraná. Os primeiros estudos relatados por Pujol-Luz et al. (2008) contribuíram para as recentes pesquisas forenses no Brasil. Atualmente, a entomologia forense não somente é reconhecida como ramo de cunho científico, como também tem sido empregada, sobretudo nos países desenvolvidos, como um importante recurso para esclarecer eventuais causas e circunstâncias de uma morte. No Brasil, a entomologia forense começa a se consolidar, graças às pesquisas desenvolvidas por uma equipe do Departamento de Parasitologia do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, coordenada pelo professor Arício Linhares (LINHARES, 2007). Juntamente com a medicina legal entomologistas forenses contribuem para diferentes pesquisas. Pesquisadores, alguns consolidados e outros emergentes, concentram seus estudos em três grandes áreas: Entomologia Forense sensu stricto (Urbana, Produtos Estocados e Médico-Legal); exemplos: estudos de simulações de cenas de crimes utilizando modelos de carcaças animais e da aplicação do conhecimento obtido em casos judiciais); Ecologia da Decomposição e Tafonomia Forense; exemplos: estudos teóricos ou práticos sobre a sucessão da fauna cadavérica, estudos exploratórios sobre a diversidade de insetos necrófagos e sua participação nas ações de espalhar/enterrar/soerguer o cadáver ou suas partes; Biologia do Organismo; exemplos: estudos sobre desenvolvimento pós-embrionário e diferentes modelos e variações do comportamento dos insetos (PUJOL-LUZ et al., 2008). O Código Penal no art.129, § 3º, aborda a lesão corporal que resulte no óbito da vítima. Mesmo não tendo sido o objetivo final do agente, a morte da vítima agrava a pena, pois se trata de uma ação dolosa com resultado culposo. A Traumatologia MédicoLegal é, portanto, essencial no oferecimento de subsídios técnicos e científicos ao juízo, uma vez que, fornece dados objetivos acerca das lesões à pessoa, estabelecendo a natureza e a gravidade. Cabe à perícia médica, emitir o laudo que identifique a vítima, a sede das lesões, seus aspectos e dimensões, conseqüências funcionais, grau de deformidade, dentre outros aspectos (MONTEIRO, 2001). Procedimentos judiciais devem ser solicitados para se obter liberação para pesquisas mais específicas com cadáveres humanos. No Brasil, a escassez de entomólogos forenses é apenas mais uma das diversas razões para os poucos estudos realizados na área. Embora a área da entomologia atualmente no Brasil seja reconhecida, inclusive, internacionalmente há, entretanto, várias subáreas da entomologia que são pouco desenvolvidas devido à limitação dos financiamentos em projetos científicos e do fomento a pesquisa básica (PUJOL-LUZ et al., 2008). Para a verificação do estágio de desenvolvimento de imaturos Oliveira-Costa e Dias (2008), falam dos exemplos das limitações para os projetos encontram-se os laboratórios, que necessitam de estufas especializadas, bem como outros materiais de importância. Nas estufas podem ser analisados os estágios de crescimento das larvas de moscas que são essenciais para verificar o tempo de crescimento e conseqüentemente o estágio de IPM em casos que são encontradas larvas em cadáveres. Os projetos que acabam recebendo uma maior atenção são aqueles voltados aos grupos de insetos com importância econômica agrícola, médica ou veterinária não havendo, assim, projetos que visem financiar áreas da entomologia que vão agregar um conhecimento uniforme em longo prazo, conforme os estudos da entomologia forense que exigem habilidades em taxonomia e sistemática de insetos, conhecimento de entomologia geral, ecologia e biologia de insetos, além de noções em perícia criminal e as mais diversas áreas das ciências forenses (PUJOL-LUZ et al., 2008). Para Oliveira-Costa (2008a), insetos são geralmente conhecidos por trazerem doenças e problemas agrícolas, bem como por sua importância nos sistemas de polinização e participação nas decomposições de matéria orgânica, por estes motivos são mundialmente estudados. Estes relados descritos podem explicar o porque da entomologia forense ainda não ser tão pesquisada por estudiosos da área. O entomologista forense deve possuir um bom conhecimento de taxonomia, biologia e ecologia de insetos. Esse perfil é relativamente raro, mas felizmente o Brasil possui um bom número de especialistas aptos para conduzir pesquisas e treinar profissionais nessas áreas do conhecimento, não só no estudo das moscas e besouros mas, também, em outros grupos de animais necrófagos ou associados ao processo de decomposição cadavérica (PUJOL-LUZ et al., 2008). 3.4 Aplicações em entomologia forense Para Oliveira-Costa (2008), entre as diversas áreas de pesquisa forense, a entomologia vem nas últimas duas décadas despertando o interesse de peritos e pessoas ligadas às instituições judiciais devido ao fato de existir uma relação íntima entre esse tipo de estudo e as técnicas de investigação em diferentes casos de morte. Dentre os insetos estudados destacam-se as moscas, estas colaboram para a decomposição da matéria orgânica. As moscas buscam principalmente depositar seus ovos para crescimento larval e formação de adultos. Graças a este feito, elas contribuem para a reciclagem da matéria orgânica. Essa atividade também é útil nas investigações de âmbito forense para a determinação do intervalo de morte, o estudo dos insetos pode ser utilizado em investigações sobre tráfico de entorpecentes, maus tratos e morte violenta (OLIVEIRA-COSTA, 2008b). Segundo Linhares (2007), a entomologia forense pode proporcionar outras informações a respeito de uma morte, como por exemplo, se o corpo foi movimentado de um lugar para outro. O autor esclarece que as espécies que costumam colonizar um cadáver variam de acordo com a localização geográfica. Ou seja, os necrófagos que se alimentam dos restos mortais de uma pessoa na zona urbana são diferentes daqueles que ocorrem na área rural. “Se identificamos a larva de uma espécie que só ocorre na zona urbana em um corpo encontrado na área rural, este é um forte indício de que o cadáver foi transferido de lugar”, ensina. Além disso, a entomologia forense pode eventualmente indicar a causa de uma morte. 3.4.1 Entorpecentes Vários exemplos de aplicações forenses dos insetos podem ser citados. Por exemplo, o tráfico de entorpecentes sendo possível fazer a identificação da origem da droga pelos insetos ali prensados. Na investigação de entorpecentes, comercializados ilegalmente por meio da manipulação dos produtos naturais cultivados ou pertencentes a áreas de extrativismo, são acompanhadas de sua fauna entomológica associada. Como exemplo a identificação de origem da Cannabis sativa (maconha), com base nos insetos encontrados, que no momento da prensagem do vegetal, ficaram retidos, traçando a rota do tráfico por meio da sua distribuição geográfica (CROSBY et al., 1986). Segundo Linhares (2007), casos que envolvem o consumo de drogas lícitas ou ilícitas por parte da vítima, podem indicar a causa da morte segundo a entomologia forense. Assim, na hipótese de uma morte provocada por overdose de cocaína, essa substância certamente será encontrada no organismo dos artrópodes tomados para análise. Para Oliveira-Costa (2008b), drogas e substâncias químicas aparecem quando se analisa o desenvolvimento larval durante o processo de decomposição, quando isso ocorre pode induz o pesquisador ao erro na estimativa de IPM, por este motivo, para uma estimativa mais apurada é necessário identificar qual a influência de substâncias químicas quando ocorre morte por ingestão de dose letal. Cada vez mais, esses dados proporcionados pela entomologia forense têm contribuído para o esclarecimento de crimes em várias partes do mundo, notadamente nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando um cadáver é localizado a polícia toma o cuidado de chamar imediatamente um perito para coletar amostras de insetos e larvas do corpo, para posterior investigação. Somente depois disso é que pode ser providenciada a remoção, destaca o professor Linhares. 3.4.2 Maus tratos Oliveira-Costa, (2003), através de pesquisas bibliográficas, relata que Lord e Rodriguez em (1989) apresentam discussões de técnicas para a aplicação da entomologia forense em investigações citando, como exemplo, a investigação de um caso de negligência e maus tratos a uma criança, com base no desenvolvimento das larvas de dípteros encontradas nas fraldas para verificação do período em que foi privada de cuidados de higiene. Ainda em estudos relatados por Oliveira-Costa (2003) os pesquisadores, Benecke e Lesig em (2001) indicaram que os dípteros podem ser utilizados para estimar o intervalo pós-negligência, pois conhecendo o padrão de sucessão e tempo de chegada de algumas espécies em corpos em processo de decomposição, foi possível deduzir que populações de moscas já estavam infestando a vítima antes de sua morte. 3.4.3 Intervalo Pós Mortem (IPM) Segundo estudos realizados por Wade e Trozzi (2003). Conhecimentos na área de entomologia podem contribuir para a localização e como ocorreu a morte de um indivíduo, com estes dados pode-se estimar o tempo de morte ou o intervalo pós mortem (IPM). Conhecendo a fauna dos insetos associados a entomologia forense pode-se determinar o local onde ocorreu a morte, por exemplo: Algumas espécies de moscas são encontradas em centros urbanos e, diante deste fato, a associação dessas espécies em corpos encontrados nas áreas rurais sugere que a execução do crime não tenha ocorrido no local onde o corpo foi achado. O tempo de desenvolvimento mínimo é dado pela estimativa da idade de um inseto associado a um corpo em decomposição. As larvas encontradas com maior freqüência são muscóides, especialmente das famílias Calliphoridae, Muscidae e Sarcophagidae, e seu tempo de desenvolvimento mostra o mínimo de tempo em que o corpo foi exposto, em condições apropriadas, para a atividade de insetos, uma vez que, raramente, insetos necrófagos ovipõem em uma pessoa viva. Assim, esse tempo é utilizado para a estimativa de IPM nos estágios iniciais de decomposição. Deve ser utilizado o mais velho estágio larval encontrado, pois este corresponderá às primeiras posturas e indicará o tempo mínimo de exposição (OLIVEIRA-COSTA, 2008c). Durante o intervalo pós-morte (IPM) existem estágios de decomposição que se sucedem. Nesses estágios de decomposição são encontradas diferentes ordens de insetos, que decompõem os cadáveres em uma sucessão determinada (IPM). São considerados elementos componentes dos estágios de decomposição cadavérica: a evaporação tegumentar; a rigidez cadavérica; o resfriamento do corpo; os livores cadavéricos; os fenômenos cadavéricos; os gases de putrefação; os cristais no sangue putrefeito; a crioscopia do sangue; o crescimento dos pêlos da barba; o conteúdo estomacal; o fundo dos olhos e os dados entomológicos (OLIVEIRA-COSTA, 2008c). CONCLUSÃO Utilizando-se os recursos de revisão bibliográfica, conclui-se que a entomologia forense contribui para as investigações de crimes como homicídios, relatando o intervalo pós-morte, tráfico de entorpecentes, maus tratos, entre outros. Deve-se lembrar que no Brasil, muitos estudos ainda devem ser realizados para a eficácia desta nova ciência, já que a mesma tornou-se importante para as investigações criminais há poucos anos e ainda sofre rejeição por algumas entidades policiais de investigação. Apesar das rejeições, fica explicito neste trabalho que a entomologia forense é muito importante para determinar ocorrências descritas em vários locais do mundo. No Brasil, esta ciência ainda esta sendo muito estudada, mas já é muito utilizada em diversas partes do mundo como auxilio para vestígios no âmbito forense. Tendo em vista as prerrogativas do trabalho em questão, percebem-se que insetos em geral são importantes nas investigações criminais, em especial os da ordem Brachycera e Coleóptera, que apresentam presença em diversas fases da decomposição dos estágios do (intervalo pós-morte – IPM), sendo assim consideradas as faunas entomológicas mais presentes nos estudos de entomologia forense. REFERÊNCIAS ANTUNES, C.; PATIU, M. Noções de entomologia geral. In: Entomologia ForenseQuando os insetos são vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap.1, p. 0127. (a) ANTUNES, C.; PATIU, M. Diptera. In: Entomologia Forense-Quando os insetos são vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap.2, p. 29-37. (b) CROSBY, Trevor et al. Entomological identification of the origin of imported cannabis. Journal of the Forensic Science Society, v. 26, n. 35-44, 1986. DIAS, C.R. Capacitação em entomologia forense. Disponível http://cienciacontraocrime.blogspot.com/2010/02/capacitacao-em-entomologiaforense.html Acesso em: 19 de jul. 2010. em: GOMES, L.; ZUBEN, C.J.V. Insetos ajudam a desvendar crimes. Revista Ciência Hoje, 35(208): 28-31,2004. GREDILHA, R., et al. Entomologia forense –insetos aliados da lei. Disponível em: <http://www.trimolex.com/artigos_print.asp?id=3751&icaso=artigos>. Acesso em 12 jul. 2010. KALIANDRA, L.M.S. (2005) Responsabilidade criminal no tribunal penal internacional, Brasil. Revista Brasileira de Direito Internacional 1:186-190. LINHARES, A. Entomologia forense – você sabe o que é isso? Disponível em: <http://www.fatimahborges.com.br/artigo.php?code=83>. Acesso em 15 jul. 2010. MONTEIRO, M.S. A traumatologia médico-legal e o estudo das lesões corporais. Disponível em:< http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=94>. Acesso em 15 jul. 2010. PUJOL-LUZ, J.R.; ARANTES, L.C.; CONSTANTINO, R. Cem anos da entomologia Forense no Brasil (1908 – 2008). Revista Brasileira de Entomologia. Volume 52 (4): 485-492. Dezembro. 2008. OLIVEIRA-COSTA, J., et al. A relevância da Entomologia Forense para a Perícia Criminal na elucidação de um caso de suicídio. Entomologia y Vectores, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 203-209, 1999. OLIVEIRA-COSTA, J. 2003. Entomologia Forense, Editora Millennium, Campinas, SP, 257p. OLIVEIRA-COSTA, J. Introdução. In: Entomologia Forense-Quando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. (a) OLIVEIRA-COSTA, J. A entomologia forense e suas aplicações. In: Entomologia Forense-Quando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap.3, p. 39-50.(b) OLIVEIRA-COSTA, J. Metodologia de estimativa de IPM. In: Entomologia ForenseQuando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap. 4, p. 52-64. (c) OLIVEIRA-COSTA, J. Padrão de sucessão no Brasil. In: Entomologia ForenseQuando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap. 8, p. 141-166. (d) OLIVEIRA-COSTA, J.; DIAS, G.S. Metodologia de coleta e criação. In: Entomologia Forense – Quando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap.5, p. 65-90. OLIVEIRA-COSTA, J.; DIAS, G.S.; GOMES, L. Padrão de sucessão entomológica. In: Entomologia Forense – Quando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap.7, p. 105-139. OLIVEIRA-COSTA, J; QUEIROZ, M.M.C., Dípteros de interesse forense no Brasil. In: Entomologia Forense-Quando os insetos são os vestígios. Campinas-SP: Editora Millenium, 2008. Cap. 9, p. 167-195. Thompson, F. & A. C. Pont. 1993. Systematic database of Musca Names (Diptera). A catalog of names associated with the genus-group name Musca Linnaeus, with information on their classification, distribution, and documentation. Thes is Zoologicae 20. Koenigstein, Koeltz Scientific Books, 221 p. Wade. C, et al. 2003. Handbook of Forensic Services. Virginia: FBI Laboratory Publication, 181p.