Endoscopia digestiva no rastreamento do câncer

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Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências
Avaliação de Tecnologias em Saúde
Sumário das Evidências e Recomendações para o
Rastreamento Endoscópico do Câncer Gástrico em
Indivíduos Assintomáticos e Subgrupos com Fatores de
Risco Conhecidos.
Porto Alegre, Outubro de 2009
Avaliação das evidências sobre o rastreamento endoscópico no câncer gástrico em
indivíduos assintomáticos e em subgrupos com fatores de risco conhecidos.
I – Data: 20/09/2009
II – Responsáveis Técnicos Avaliação - Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidência
da Unimed Federação-RS: Dr. Jonathas Stifft, Dra. Mariana V.Furtado, Dra.Michelle
Lavinsky, Dr. Fernando Herz Wolff, Dra. Carisi A Polanczyk, Dr. Luis Eduardo P Rohde e
Dr.Alexandre Pagnoncelli,.
III - Revisão de Especialista: Dr. Fabio Segal
IV – Especialidade Envolvida: Gastroenterologia, Endoscopia Digestiva, Oncologia.
V – Enfoque: Câncer Gástrico, Rastreamento .
Cronograma de Elaboração da Avaliação
Agosto – 09
• Reunião do Colégio de Auditores: escolha do tópico para avaliação e perguntas a serem
respondidas.
• Início dos trabalhos de busca e avaliação da literatura.
Setembro -09
• Análise dos trabalhos encontrados e elaboração do plano inicial de trabalho.
• Reunião da Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências para análise da literatura e
criação da versão inicial da avaliação.
• Reunião da Câmara Técnica com Médico Especialista e Auditor para apresentação dos
resultados e discussão.
• Revisão do formato final da avaliação: Câmara Técnica, Médico Especialista e Auditor.
• Encaminhamento da versão inicial das Recomendações para os Médicos Auditores e
Cooperados.
Outubro-09
• Apresentação da Recomendação na reunião do Colégio de Auditores.
• Consulta pública através do site da UNIMED (www.unimed.com.br)
• Encaminhamento e disponibilização da versão final para os Médicos Auditores e Médicos
Cooperados.
ESTRATÉGIA DE BUSCA DA LITERATURA
Busca de avaliações e recomendações referentes ao impacto do segmento endoscópico
em pacientes com diagnóstico estabelecido de DRGE; elaboradas por entidades internacionais
reconhecidas em avaliação de tecnologias em saúde:
• National Institute for Clinical Excellence (NICE)
• Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health (CADTH)
Busca de revisões sistemáticas e meta-análises (PUBMED, Cochrane, National Guideline
Clearinghouse (NGC)).
Busca de ensaios clínicos randomizados não contemplados nas avaliações ou metaanálises identificadas anteriormente (PUBMED e Cochrane). Quando há meta-análises e
ensaios clínicos, apenas estes estudos são contemplados.
Na ausência de ensaios clínicos randomizados, busca e avaliação da melhor evidência
disponível: estudos não-randomizados ou não-controlados.
Identificação e avaliação de protocolos já realizados por comissões nacionais e dentro
das UNIMEDs de cada cidade ou região.
São avaliados os estudos metodologicamente mais adequados a cada situação. Estudos
pequenos já contemplados em revisões sistemáticas ou meta-análises não são citados
separadamente, a menos que justificado.
APRESENTAÇÃO DA RECOMENDAÇÃO
Descrição sumária da situação clínica e da tecnologia estudada. Discussão dos
principais achados dos estudos mais relevantes e, com base nestes achados, redação das
recomendações específicas. Quando necessário, são anexadas classificações ou escalas
relevantes para utilização mais prática das recomendações.
É descrito o nível de evidência que sustenta cada recomendação, conforme a tabela
abaixo.
Graus de Recomendação
A Resultados derivados de múltiplos ensaios clínicos randomizados ou de meta-análises ou
revisões sistemáticas
B
Resultados derivados de um único ensaio clínico randomizado, ou de estudos controlados
não-randomizados
C
Resultados derivados de séries de casos ou diretrizes baseadas na opinião de especialistas
1.INTRODUÇÃO
O valor da realização de rastreamento para câncer gástrico em sujeitos assintomáticos
permanece controverso. Em países onde a incidência de câncer gástrico é maior, como por
exemplo: Chile, Japão e Venezuela, o rastreamento do câncer gástrico parece ser custo-efetivo.
Por outro lado, em países onde a incidência não é elevada, o rastreamento na população é
questionável. No Japão, o programa de rastreamento de câncer gástrico inicia a partir dos 40
anos de idade com uma entrevista e um raio-x baritado do estômago com duplo contraste. Se
alguma anormalidade é encontrada na avaliação inicial, o paciente é referendado para
realização de uma endoscopia. O Japão apresenta a mais alta taxa de incidência de câncer
gástrico no mundo: 59,9 a 91,6/100.000 em homens e 23,8 a 38,9/100.000 em mulheres [1],
sendo o rastreamento em sujeitos assintomáticos plenamente justificável. No Brasil, o número
de casos novos de câncer de estômago estimados pelo INCA, no ano de 2008, foi de 15 casos
novos a cada 100 mil homens e de 8 para cada 100 mil mulheres. No Rio Grande do Sul , a
incidência é maior que a média da população brasileira: 18,66/100.000 em homens e
10,23/100.000 em mulheres [2]. A figura 1 mostra a incidência nas diferentes regiões
brasileiras.
Figura 1: Casos novos de neoplasia gástrica para cada 100.00 habitantes. Estimativa do INCA para 2008-2009
[2]
A diminuição na incidência de câncer de estômago tem sido observada em vários países
e pode ser explicada por reduções nas taxas de fatores de risco. Estratégias para a prevenção do
câncer de estômago incluem melhorias no saneamento básico, mudanças no estilo de vida da
população, modificação do consumo alimentar (aumento da ingesta de frutas, legumes e
verduras, redução do uso do sal, melhores métodos de conservação dos alimentos), bem como
atitudes individuais como não fumar e manter o peso corporal.
A infecção pelo Helicobacter Pylori é considerada fator de risco para câncer gástrico.
No entanto, há controvérsias na literatura quanto à possibilidade do risco de neoplasia gástrica
ser reduzido pela erradicação da bactéria. Estudos prospectivos descrevem resultados limitados
pelo número pequeno de participantes e desfechos infrequentes. No Brasil, um número grande
de indivíduos são contaminados pelo H. Pylori, entretanto, apenas uma parcela pequena
desenvolverá câncer. Desta forma, programas de erradicação em larga escala, com uso de
antibióticos, têm efetividade duvidosa até o presente momento. Outro aspecto a ser considerado
no câncer gástrico é a razão mortalidade/incidência alta em todas as partes do mundo. A
sobrevida relativa em cinco anos é considerada baixa, em torno de 20%, exceto no Japão onde a
sobrevida é cerca de 60%. Esta diferença pode ser explicada pelos programas de rastreamento
populacional efetivos e aptos para identificar indivíduos com doença precoce [2].
2. OBJETIVO
O objetivo desta recomendação é realizar uma revisão da literatura em busca de
evidências e indicações de endoscopia digestiva alta no rastreamento do câncer gástrico em
indivíduos assintomáticos e em subgrupos que apresentam fatores de risco conhecidos para
neoplasia gástrica, bem como, avaliar o papel da erradicação do Helicobacter pylori na
diminuição da mortalidade por câncer gástrico.
3. RESULTADOS DA BUSCA NA LITERATURA
Avaliações de tecnologias em saúde e recomendações nacionais e internacionais
•
NICE (National Institute for Health and Clinical Excellence - Inglaterra): 0
•
CADTH (Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health): 0
•
OHTAC (Ontario Health Technology Advisory Committee): 0
•
HTA (The National Coordinating Center for Health Technology Assessment –
Inglaterra): 1
•
NGC (Dept of Health - Estados Unidos): 1
•
Diretrizes internacionais: 2
•
Diretriz Nacional: 0
•
Revisões Sistemáticas ou Metanálises: 1
•
Ensaios clínicos randomizados: 7
•
Estudos Prospectivos, coortes: 3
Fuccio L. e col [4] publicaram recentemente uma meta-análise dos ensaios clínicos
randomizados que realizaram erradicação do H. Pylori e posterior seguimento para avaliar o
risco de câncer gástrico. Apenas 7 ensaios clínicos randomizados foram encontrados na busca
na literatura e seis preencheram os critérios de elegibilidade para a meta-análise. A combinação
dos resultados destes 6 estudos mostrou que após 4 a 10 anos de seguimento, 1,1% dos 3388
pacientes tratados desenvolveram câncer gástrico, comparado com 1,7% dos pacientes não
tratados (Risco Relativo 0,65 com IC 0,43-0,98).
Tabela 1. Características dos estudos
Autor, Ano
Período
(referência)
recrutamento
País
Incidência
Desfecho
Grupo
Grupo
câncer na
primário
tratamento,
controle, n
população*
Correa et al,
1991
2000 [16]
Nariño,
160
n
Progressão
491
485
295
292
817
813
379
313
1130
1128
272
272
276
276
lesões pré-
Colombia
neoplásicas.
Leung et al,
1996
2004 [17]
Shandong,
50
Progressão
lesões pré-
China
neoplásicas.
Wong et al, 2004
1994
Fujian, China
99
[3]
Saito et al, 2005
Incidência de
câncer gástrico
Não informado
Japão
62
[18]
Progressão
lesões préneoplásicas.
You et al, 2006
1994
[19]
Shandong,
50
Progressão
lesões pré-
China
neoplásicas.
Fukase et al,
2008 [20]
Zhou, 2008 [21]
Abril de 2001 a
Japão
62
julho de 2003
1996
Incidência de
câncer gástrico
Shandong,
China
50
Progressão
lesões préneoplásicas.
*A taxa de incidência são os casos para cada 100.000 pessoas por ano. Áreas consideradas como sendo de alto risco para
câncer gástrico são aquelas com incidência > 20 casos por 100.000 pessoas por ano em homens.
Tabela 2. Casos de câncer gástrico nos grupos tratados para Helicobacter pylori e
nos grupos controles.
Autor, Ano
Follow-up,
Incidência câncer
Incidência câncer
(referência)
Anos
grupo tratamento,
grupo controle, n
Correa et al,
n (%)
(%)
6
3 (0,6)
2 (0,4)
5
4 (1,3)
6 (2,1)
7,5
7 (0,9)
11 (1,4)
≥4
2 (0,5)
3 (1,0)
7,3
19 (1,7)
27 (2,4)
3
9 (3,3)
24 (8,8)
10
2 (0,7)
7 (2,5)
2000 [16]
Leung et al,
2004 [17]
Wong et al,
2004 [3]
Saito et al,
2005 [18]
You et al,
2006 [19]
Fukase et al,
2008 [20]
Zhou,
[21]
2008
Figura 2: mostra o Risco Relativo após meta-análise dos 6 estudos acima descritos. Nenhum deles mostrou
diferença estatisticamente significativa quando avaliados individualmente. A área dos quadrados pretos
representa o peso de cada estudo na metanálise. [4]
Wong BC e col [3] publicaram em 2004 um ensaio clínico na China onde 1630 pacientes
infectados pelo Helicobacter pylori foram randomizados em dois braços, erradicação da
bactéria ou placebo. Através do estudo endoscópico com biópsias do antro, incisura e corpo
gástrico, foram pesquisadas lesões consideradas como pré-cancerosas: gástrica atrófica,
metaplasia intestinal ou displasia gástrica. Estes achados não estavam presentes em 988 dos
1630 pacientes infectados pelo H. pylori. Dezoito neoplasias foram diagnosticadas ao longo do
seguimento de 7,5 anos. Não houve diferença significativa na incidência global de neoplasia
entre os grupos com e sem erradicação do H. pylori. No entanto, no subgrupo de pacientes que
não apresentaram lesões pré-neoplásicas na primeira endoscopia (atrofia, metaplasia, displasia),
o risco de câncer foi significativamente menor.
The Japanase Guidelines for Gastric Cancer Screening. Hamashima C; Shibuya D;
Yamazaki H; Inoue K; Fukao A; Saito H and Sobue. Japanese Journal of Clinical
Oncology Advance Access pushished March 14, 2008 [22].
Após uma revisão sistemática de vários artigos publicados sobre o assunto, os autores
apresentam os dados separadamente sobre as diferentes ferramentas de rastreamento usadas nos
estudos sobre screnning do câncer gástrico em pacientes assintomáticos. Como o objetivo desta
recomendação é avaliar o papel da endoscopia e da pesquisa do Helicobacter pylori na
prevenção primária da neoplasia de estômago, os dados abaixo descritos se restringem a estes
métodos de rastreamento.
(1) Endoscopia: Os autores não encontraram nenhum estudo que tenha avaliado a eficácia
do rastreamento endoscópico em diminuir a mortalidade por câncer gástrico no Japão.
Um estudo chinês foi realizado em Linqu County [24] onde 4394 pacientes foram
avaliados entre os anos de 1989 e 1990 com endoscopia. A incidência e a mortalidade
do câncer gástrico foram avaliadas até o ano 2000. Neste período, 85 neoplasias foram
identificadas, sendo 25 casos de câncer precoce. Entretanto, não houve diferença
estatística na mortalidade por câncer gástrico nos pacientes que realizaram rastreamento
endoscópico em relação à mortalidade conhecida para esta região da China - RR 1,01
[0,32-1,37]. Outros 2 estudos que são citados neste guideline são registros de uma
cidade do Japão que seguiu pacientes com sintomas gástricos durante 3 anos com
endoscopias periódicas e encontrou uma sensibilidade de 77,8% para diagnóstico de
câncer gástrico e a especificidade não foi informada. Outro estudo mostrou uma
sensibilidade de 84%. Porém, nenhum estudo comparou a curva de sobrevida entre
grupos com e sem rastreamento endoscópico.
(2) Pesquisa do anticorpo para Helicobacter pylori e nível sérico de Pepsinogênio:
grupos de alto risco podem ser identificados usando a pesquisa de anticorpos para H.
pylori e pepsinogênio sérico. Watabe e col [23] publicaram uma coorte de 9293
indivíduos assintomáticos, sem fatores de risco para câncer gástrico, voluntários
saudáveis que foram rastreados usando anticorpo para H. pylori e nível sérico de
pepsinogênio (pepsinogênio I/II baixo relação com gastrite atrófica). O tempo médio
de seguimento foi de
4,7 anos. Os casos de câncer gástrico detectados foram
comparados com os diferentes grupos abaixo especificados em forma de tabela.
Tabela 3: Adaptação da referência [23] sobre a incidência anual de câncer gástrico ao
longo do seguimento médio de 4,7 anos nos diferentes grupos da coorte.
“n”
Câncer
Incidência
Grupo A
Grupo B
Grupo C
Grupo D
3324
2134
1082
443
7
6
18
12
0,04
0,06
0,35
0,60
1
1,1
6
8,2
(IC 0,4-3,8; p =0,81)
(IC 2,4-14,5; p <0,001)
(IC 3,2-21,5; p <0,001)
Anual
(%/ano)
OR
(IC95%; p)
Grupo A = Índice Pepsinogênio normal / Anticorpo H. pylori negativo.
Grupo B = Índice Pepsinogênio normal / Anticorpo H. pylori positivo.
Grupo C = Índice Pepsinogênio diminuído (atrofia) / Anticorpo H. pylori positivo.
Grupo D = Índice Pepsinogênio diminuído (atrofia) / Anticorpo H. pylori negativo.
Este estudo mostrou que houve uma diferença estatisticamente significativa, com maior
incidência de câncer gástrico nos grupos C e D em relação aos grupos A e B. Os autores
descrevem os seus achados concluindo que a pesquisa de anticorpos para H. pylori e
pepsinogênio sérico são bons preditores para o desenvolvimento de câncer gástrico ao longo de
quase 5 anos de seguimento. Outro dado relevante foi a diferença estatisticamente significativa
entre os pacientes com < 60 anos e os pacientes ≥ 60 anos. OR de 5,3 em comparação com o
grupo com < 60 anos, IC 2,9-9,9 e P <0,0001.
O Guideline Japonês para rastreamento de câncer gástrico não recomenda a realização de
endoscopia digestiva alta ou pesquisa de anticorpos para Helicobacter pylori como ferramenta
de screening em massa. O rx baritado com duplo contraste ainda é o método de escolha para o
rastreamento de indivíduos assintomáticos no Japão.
NGC (Dept of Health - Estados Unidos). National Cancer Institute - Stomach
(Gastric) Cancer Screening - [28].
Abaixo, a descrição resumida do parecer sobre o rastreamento do câncer gástrico na
população americana, atualizado em setembro de 2009.
• A endoscopia digestiva alta é um exame que tem sido usada como método para detectar
o câncer gástrico precoce.
• Nenhum ensaio clínico randomizado avaliou o impacto do rastreamento na mortalidade
para câncer gástrico com endoscopia .
• Análises de registros e estudos de caso-controle sugerem uma diminuição na
mortalidade em indivíduos que realizaram o rastreamento versus grupo controle que não
realizou rastreamento.
• Uma coorte com 24134 indivíduos com seguimento de 40 meses não demonstrou
diferença estatisticamente significativa em reduzir mortalidade por câncer gástrico entre
os homens e as mulheres que realizaram o rastreamento [26].
• Um estudo prospectivo avaliou a associação entre rastreamento nos últimos 12 meses e
subsequente mortalidade por câncer gástrico e mortalidade por outras causas. O risco de
morte secundária ao câncer gástrico e morte por outras causas foi reduzido entre os
pacientes que tinham participado dos programas de rastreamento. Este estudo
demonstrou que há um viés de seleção nos programas de rastreamento (os indivíduos
mais saudáveis têm tendência de serem mais cuidadosos com sua saúde).
• Parece haver alguma justificativa para realizar rastreamento em grupos considerados de
alto risco para neoplasia gástrica como os pacientes com idade avançada e com gastrite
atrófica ou anemia perniciosa, pacientes com gastrectomia parcial, pacientes com
diagnóstico de adenomas esporádicos, polipose adenomatosa familiar ou câncer de
cólon hereditário não polipóide e os imigrantes de populações com incidência elevada
de câncer gástrico.
Os autores concluem que o rastreamento não resultará em diminuição da mortalidade por
câncer gástrico na população americana e citam os riscos de realizar o rastreamento
indiscriminado. Existem evidências sólidas (estudos de caso-controle bem desenhados e
conduzidos) de que o exame endoscópico pode expor os indivíduos a efeitos adversos
incomuns, mas graves como: perfuração, eventos cardiopulmonares, pneumonia aspirativa e
sangramento com necessidade de hospitalização.
No Maastricht III Consensus Report, publicado em 2007 sobre Helicobacter pylori,
Malfertheiner P e col [25] realizaram as seguintes considerações em relação à prevenção do
câncer gástrico:
•
Helicobacter pylori é a principal causa de gastrite crônica.
•
A inflamação crônica da mucosa gástrica pode evoluir para alterações histológicas
sequenciais como atrofia, metaplasia , displasia e, finalmente, neoplasia gástrica.
•
Análise de estudos epidemiológicos tem mostrado que pessoas com Helicobacter
pylori carregam um risco estatisticamente mais elevado para desenvolverem câncer
gástrico (exceto neoplasia da região da cárdia).
•
Estudos não randomizados no Japão mostraram que as taxas de câncer gástrico são
significativamente maiores em pacientes infectados pelo Helicobacter pylori do que
em comparação àqueles onde a bactéria foi erradicada.
•
A erradicação do H. Pylori previne o desenvolvimento de lesões pré-neoplásicas da
mucosa gástrica (atrofia e metaplasia intestinal).
•
As evidências de que a erradicação do Helicobacter pylori pode reduzir o risco de
câncer gástrico são baseadas em estudos não randomizados.
•
Vários ensaios clínicos randomizados mostram a regressão de lesões pré-cancerosas,
ou pelo menos a diminuição da progressão, no grupo randomizado para erradicação
da bactéria.
•
Os autores citam o estudo de Wong BC e col [3] que não mostrou diferença na
redução da incidência de câncer após 5 anos de seguimento, mas houve uma
redução significativa no subgrupo sem lesões pré-neoplásicas (sem atrofia ou
metaplasia intestinal).
O consenso de Maastricht III conclui que a erradicação do H. pylori tem o potencial de
reduzir o risco para o desenvolvimento de câncer gástrico e o melhor momento para a
erradicação da bactéria é antes do surgimento das lesões pré-neoplásicas (atrofia e metaplasia
intestinal).
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ainda há várias situações específicas, com evidências muito limitadas na literatura, onde o
rastreamento para câncer gástrico e a erradicação do Helicobacter pylori estão indicados. Os
resultados destes estudos foram resumidos e serão apresentados abaixo em forma de tabela.
Tabela 4: Fatores de risco e propostas de rastreamento para câncer gástrico em
subgrupos específicos.
Fator Risco
H. pylori (HP) infecção
1. HP sem gastrite atrófica
2. HP com gastrite atrófica
3. Gastrite atrófica e
metaplasia intestinal extensa
Anemia perniciosa
Gastrectomia parcial
Adenomas esporádicos
Risco de desenvolver
câncer gástrico
Odds ratio (OR): 2.3
Recomendação
Área alto risco - “screening” em
larga escala: possível benefício
Área baixo risco - “screening” em
larga escala não é custo-efetivo
Ver acima
1. Odds ratio (OR): 7.13
(comparado com s/ HP)
2. Odds ratio (OR): 14.5
3. Odds ratio (OR): 61.9
Erradicação do Hp
Erradicação do Hp
“Standardized incidence
ratio”: 5
15 - 24 years, RR = 9.4,
25 - 46 years, RR = 55.6.
“Screening” com endoscopia é
recomendado.
“Screening” com endoscopia é
recomendado.
Não avaliado
Referência
Huang 1998 [6]
Ohata 2004 [10]
Kokkola 1998 [11]
Lundegardh 1988
[13]
Tersmette 1991 [14]
Ming 1965 [15]
Vigilância pós polipectomia para
excluir displasia
Não avaliado
“Screening” com endoscopia é
Alexander 1989
Polipose adenomatosa
recomendado.
[12]
familiar
Não avaliado
“Screening” com endoscopia é
Aarnio 1997 [7]
Câncer coloretal nãorecomendado.
polipoide hereditário
OR: 2.5-5.1
Erradicação do Hp +/- rastreamento
Yatsuya 2004 [8]
História familiar positiva
com Endoscopia .
Chen 2004 [9]
para câncer gástrico
Adaptado da Tabela do capítulo sobre: Screening and prevention of gastric cancer – UpToDate17.2 Annie On On Chan ;
Benjamin C Y Wong [5].
4. SUMÁRIO DAS EVIDÊNCIAS, INTERPRETAÇÃO E RECOMENDAÇÕES
•
Não há ensaios clínicos randomizados (ECR) que mostraram benefício do screnning em
diminuir a incidência e a mortalidade de câncer gástrico em indivíduos assintomáticos.
•
Os sete ECR publicados até o momento (referências 16, 17, 3, 18, 19, 20 e 21) não
mostraram que a erradicação do Helicobacter pylori reduz o risco de câncer gástrico.
•
A meta-análise dos 6 principais ECR foi publicada por Fuccio L e col [4] em julho de
2009 no Annals of Internal Medicine e mostrou um benefício estatisticamente
significativo na erradicação da bactéria em diminuir a incidência de câncer gástrico,
após análise conjunta dos dados (Risco Relativo 0,65 com IC 0,43-0,98) . Dos 6 estudos
analisados, apenas 1 foi realizado na América do Sul, os demais são ECRs realizados na
Ásia.
•
O Guideline Japonês publicado em 2008 não recomenda o exame endoscópico e a
pesquisa de anticorpos para Helicobacter pylori como métodos iniciais no screening em
massa para câncer gástrico [22].
•
O Instituto Nacional do Câncer nos Estados Unidos não recomenda o screening em
massa na população americana. A baixa incidência de câncer gástrico (7/100.000) e a
falta de ensaios clínicos randomizados avaliando o impacto do rastreamento na
mortalidade, são os principais fatores que justificam esta conduta.
•
O Consenso europeu sobre Helicobacter pylori publicado em 2007 [25] relatou que a
erradicação da bactéria tem o potencial de reduzir o risco para o desenvolvimento de
câncer gástrico (esta afirmação foi baseada em estudos não controlados). O melhor
momento para erradicação do HP é antes do surgimento das lesões pré-neoplásicas
(gastrite atrófica e metaplasia intestinal).
•
Indivíduos com história familiar de câncer gástrico, diagnóstico de polipose
adenomatosa familiar ou câncer colônico hereditário não-polipóide devem realizar o
rastreamento endoscópico para neoplasia gástrica, assim como aqueles pacientes que
realizaram gastrectomia parcial há mais de 15 anos (ver Tabela 4).
SÍNTESE DAS RECOMENDAÇÕES
1. O rastreamento endoscópico em indivíduos assintomáticos sem fatores de risco
conhecidos para neoplasia gástrica em população de baixa incidência deste tumor
(< 25 casos para cada 100.000 habitantes por ano) não está indicado.
(Recomendação de Grau B)
2. A erradicação do Helicobacter pylori parece reduzir o risco para o desenvolvimento
de câncer gástrico em populações com incidência elevada desta neoplasia.
(Recomendação de Grau A)
3. Em populações com menor incidência de câncer gástrico, como ocorre em nosso
meio, não há evidências sólidas indicando benefício na realização de rastreamento
da infecção ou erradicação do H.pylori.
(Recomendação de Grau C)
5.BIBLIOGRAFIA
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vol 8. Lyon: IARC; 2002. (IARC Scientific Publications; no. 155).
2.Instituto Nacional de Câncer; Ministério da Saúde. Estimativas 2008: Incidência de Câncer
no Brasil. Rio de Janeiro (Brasil): INCA; 2007.
3.Wong BC; Lam SK; Wong WM; Chen JS; Zheng TT; Feng RE; Lai KC; Hu WH; Yuen ST;
Leung SY; Fong DY; Ho J; Ching CK; Chen JS. Helicobacter pylori eradication to prevent
gastric cancer in a high-risk region of China: a randomized controlled trial. JAMA 2004 Jan
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4.Fuccio L, Zagari RM, Eusebi LH, Laterza L, Cennamo V, Ceroni L, Crilli D and Bazzoli F.
Meta-analysis: Can Helicobacter pylori eradication treatment reduce the risk for gastric cancer
? Ann Intern Med 2009 Jul 21;151:121.
5. Chan A ; Wong B. Screening and prevention of gastric cancer – UpToDate17.2.
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