A psicopatologia na avaliação psicológica

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A psicopatologia na avaliação psicológica
setembro/2014
A psicopatologia na avaliação psicológica
Purificación Martin Abuli Miceli – [email protected]
Avaliação Psicológica
Instituto de Pós-Graduação – IPOG
Goiânia, Goiás – 28 de agosto de 2013
Resumo
O objetivo geral deste artigo é repassar noções básicas de psicopatologia para profissionais
das diferentes áreas da psicologia, que utilizam de estratégias da avaliação psicológica,
como instrumento de investigação do comportamento humano; recurso este que permite o
resgate de dados objetivos e definidos, para obter respostas às questões que costumam surgir
na investigação do paciente/cliente, com os sintomas e sinais que denunciam a
desorganização patológica. É instrumentação técnica de grande valor para compreender
profundamente a personalidade do paciente, com informações precisas sobre os distintos
níveis do funcionamento mental. Facilita a leitura compreensiva e dinâmica dos indicadores
patológicos que os testes identificam, bem como, atende às necessidades de quem precisa de
informações sucintas que orientem a tarefa de diagnosticar transtornos mentais. A
classificação dos transtornos segue o DSM-IV-TR, porém neste artigo está simplificada e
foram incluídos apenas os casos frequentes, encontrados na prática clínica, assim como, fezse um paralelo entre a nomenclatura antiga e a atual, para maior clareza. A metodologia
clínico-qualitativa levantou a pesquisa em saúde e doença mental, em diversos autores. Para
eles, saúde está relacionada com a pessoa inteira: corpo-mente-espírito, que implica
interação com seus semelhantes, com o mundo que o cerca e consigo mesmo; é viver a
realidade, num conjunto de relações que compõe o mundo do ser. A doença mental torna o
ser alienado, distante do mudo e de si mesmo. Concluindo, pode-se deduzir que a pesquisa
precisou englobar um conhecimento mais preciso de como é, como vive e o que faz o ser
humano, resgatando desta forma, a visão biopsicossocial.
Palavras-chave: Psicopatologia. Semiologia. Saúde/doença. Síndromes Psiquiátricas.
Transtornos Mentais.
1. Introdução
A Avaliação Psicológica, com o recurso dos testes, é uma instrumentação técnica muito
eficaz, pois existem características críticas da organização mental e afetiva dos sujeitos que
não são fáceis de deduzir apenas mediante a história relatada ou a observação do caso. A
aplicação de testes tem por objetivo a exploração, a identificação e o estabelecimento de
estratégias terapêuticas relacionadas aos distúrbios psíquicos do ser humano (GRASSANO,
1996, p. 19).
Conforme Cunha (2000, p.10), convém salientar que o uso de testes psicológicos é apenas um
dos meios de avaliação psicológica, tanto objetivo como projetivo. A entrevista psicológica é
de grande valor para qualquer tipo de atendimento, tal como é a observação clínica nos
contatos com os pacientes, que visa investigar forças e fraquezas no seu funcionamento
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psicológico. Esses recursos buscam compreender profundamente a personalidade, os aspectos
adaptativos e patológicos. Entre os diversos testes psicológicos destacam-se os projetivos por
conseguirem resultados mais completos. Podem existir várias finalidades para a investigação
dependendo dos motivos alegados no encaminhamento para a avaliação.
Sabe-se, que atualmente utilizam-se cada vez menos os recursos de avaliação em termos de
nível mental, e sim, tornam-se instrumentos importantes para atender a um conjunto de
necessidades mais específicas da psicopatologia e da avaliação neuropsicológica, com a
formulação do diagnóstico (o reconhecimento do todo através de suas partes) e pelo
prognóstico (avaliação das condições que possam ter influência no curso do transtorno). E,
pela orientação do paciente em relação ao mundo (orientação alopsíquica) e em relação a si
mesmo (orientação autopsíquica). Assim, obtém-se a experiência vivida do indivíduo no
decurso do seu momento atual de organização e de integração (CUNHA, 2000, p. 12).
De acordo com este autor, é necessário com tudo, tomar cuidado para uma devida elaboração
dos resultados obtidos, enquanto diagnóstico, isto no aspecto essencialmente pragmático desta
denominação estrutural, pois não deve ser considerada em nenhum caso, como um fim, que
possa levar a esquecer o paciente e sua verdade em constituição. Não se deve restringir a uma
simples observação ou classificação que torne esse resultado “coisificante”.
Na avaliação leva-se em conta o aspecto geral do indivíduo, ou seja, a primeira impressão
subjetiva, numa estimativa global de gestos, mímica, vestimenta e suas possibilidades de
expressão verbal ou infra/verbal. Se sua expansividade afetiva é controlada, agitada, fria e
assim por diante. Bem como, seu grau de adaptação à realidade, seu nível de pensamento, sua
autoestima, sua capacidade de estabelecer vínculos com o mundo exterior, de interagir com o
contexto através de respostas integradoras. Enfim, levam-se em conta todas as dimensões do
ser humano, desvendando causas biológicas, genéticas, sociais e psicológicas do seu adoecer.
Para Jaspers (1959, p.68): “os fatos são o terreno do nosso conhecimento”.
A sintomatologia relatada nos traz uma definição do quadro em questão. Cinco sintomas do
paciente, correspondentes a um determinado quadro patológico, fecham um diagnóstico. Para
Dalgalarrondo (2008, p. 23) compete a semiologia o estudo dos sinais e dos sintomas.
2. A Semiologia
A semiologia para Dalgalarrondo (2008, p. 23), num sentido geral é a ciência dos signos.
Temos como exemplo a semiologia linguística, a semiologia musical, a das artes e dos demais
campos de conhecimento e de atividades humanas, sempre que exista uma interação e
comunicação entre interlocutores, via sistema de signos. Define a semiologia médica como o
estudo dos sintomas e sinais (que são signos) das doenças que identificam quadros clínicos,
permitindo diferenciar as alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos observados,
elaborar diagnósticos e direcionar o tratamento. A semiologia psicopatológica é o estudo dos
sintomas e sinais dos transtornos mentais; é ciência autônoma e serve de auxilio a psiquiatria.
“Os signos de maior interesse para a psicopatologia são os sinais comportamentais objetivos,
verificáveis pela observação direta do paciente” (DALGALARRONDO, 2008, p. 24). Tudo o
que se faz presente, enquanto sinais das manifestações clínicas, é dotado de significado da
organização psicopatológica do paciente. Sinais e sintomas é a linguagem que transmite o
processo do adoecer e dão pistas para o diagnóstico.
Nessa tentativa de focalizar o ser que está adoecido e não só a doença de que ele é portador,
este artigo, destaca a visão dinâmica e relacional da psicopatologia que considera a conexão
mente–corpo–contexto. De acordo com Platão: “a cura da parte não deve ser tentada sem o
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tratamento do todo. Nem devem ser feitas tentativas de curar o corpo sem a alma”. Este é o
enfoque holístico para a saúde, para o bem estar. Todo ser é uma relação holística, uma
relação integral e dinâmica. Para Minkowski (patólogo): “a pessoa adoece na sua totalidade,
apenas a manifestação da doença pode ser localizada”. Para Moreno (1998, p.84)
psicodramatista: “todo ser humano sempre adoece com alguém, por alguém e para alguém”.
3. A Personalidade
“Personalidade é o resultado da interação dinâmica daquilo que é herdado geneticamente da
família (temperamento), com as experiências que se adquirem no ambiente durante toda a
vida (caráter), se constitui a personalidade, que se define como um conjunto de padrões de
pensamentos, sentimentos e comportamentos que um ser apresenta ao longo de sua
existência”. Ela é a nossa individualidade, o nosso cartão de visitas (SILVA, 2012, p. 21).
Segundo o dicionário Aurélio (1986), a palavra persona deriva do latim e quer dizer máscara,
daí surge o substantivo personalidade, que na verdade é o eu social que se apresenta nas
relações interpessoais. Integra temperamento e caráter e está relacionada à herança e ao
ambiente. Andrade (l996, p.29) nos afirma que personalidade abrange o ser como um todo.
Trata-se de uma organização dinâmica dos aspectos cognitivos, afetivos, fisiológicos e
morfológicos do indivíduo. É o que confere identidade e a maneira de ser e de estar - nas
diversas situações da vida. É um conjunto de traços psicológicos que marcam o
comportamento de uma pessoa.
A personalidade do indivíduo revela o nível de consciência que o orienta em suas ações e o
grau de maturidade e afetividade que se expressa em suas relações interpessoais. “O
mecanismo mental de sentir, pensar e agir pode abranger uma quantidade incalculável de
combinações” (SILVA, 2012, p.22). Essas possibilidades ilimitadas de combinações que
individualiza e determina a pessoa que somos, é a personalidade. É a nossa identidade
enquanto ser social.
Essa troca do indivíduo com o meio em que vive implica: o ser enquanto corpo, na sua
integração com seu meio biológico; o indivíduo em integração com os seres humanos,
enquanto meio psicológico e a pessoa, na integração de suas atividades complexas
correlacionadas com outros indivíduos, enquanto meio social. São esses papéis, que se
desempenham na vida, que vão determinar maneiras exclusivas de ser. É na qualidade do
desempenho desses papéis que se avalia a saúde ou a doença. Para Moreno (1998), fundador
do Psicodrama, papéis são ramificações do EU; são pequenas unidades culturais. Papel é a
forma de funcionamento que o indivíduo assume no momento específico em que reage a uma
situação específica, na qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos.
Moreno (1998) afirma que saúde é a capacidade de ser espontâneo/criativo no exercício
desses papéis; condição inata que significa poder ser inédito, autêntico e sensível. Por outro
lado, o desempenho rígido dos papéis, representa a sua cristalização, que nada mais é do que a
mera repetição de comportamentos, ou seja, a perda da espontaneidade e do poder criativo.
Passa a ser uma conserva cultural, ou seja, incapacidade de utilizar adequadamente o livre
arbítrio.
Para Bergeret (1988, p. 65), existem estruturas de personalidade autênticas, sólidas, fixas e
definitivas que são as estruturas de personalidade psicóticas e as estruturas de personalidade
neuróticas (na nomenclatura antiga). De outro lado, as organizações intermediárias como os
estados limítrofes, menos especificados de maneira durável e podendo dar origem a arranjos
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mais estáveis como as doenças carateriais ou perversões, que serão vistas mais adiante. Mas
para poder entender o que vem a ser doença, devemos definir a saúde, tarefa da psicologia.
4. A Psicologia
Compete à psicologia o estudo da saúde mental, do comportamento considerado normal, ou
seja, da evolução e das transformações do psiquismo humano. Busca o entendimento da
existência do ser que implica liberdade (possibilidades de escolha), responsabilidade pelos
próprios atos e a angústia que significa existir. A angústia é inerente à condição humana, pois
é a inquietação do ser perante o seu destino. A psicologia preocupa-se com o quê e como o
indivíduo vive.
A maioria das perturbações emocionais é do tipo reativo e estão assentadas nas relações
interpessoais, quando estas não satisfazem as necessidades básicas de: relação,
transcendência, arraigamento, identidade e necessidade de uma estrutura de orientação e
vinculação. O sistema social condiciona, modela, regula e orienta aspectos fundamentais da
conduta e da personalidade. Tanto a formação da pessoa quanto sua realização pessoal passa
por uma trama de relacionamentos interpessoais.
Ainda o mesmo autor, mostra que a psicologia investiga o ser nos diferentes aspectos da vida:
seu desempenho intelectivo, seu desempenho afetivo e volitivo. Leva em conta sua vida
inteira, como suas motivações, percepções, seus valores, seus empenhos, desejos e metas.
Trata os conteúdos emocionais ocasionados pelos diversos transtornos psíquicos que podem
afligir o indivíduo. Em termos psicológicos adoecer implica sentir-se preso, sufocado por
conflitos, impulsos e afetos, o que significa sentimento de perda da liberdade. Pode afetar
todas as suas dimensões: dimensão corporal, interpessoal, dimensão da práxis, motivacional,
afetiva, valorativa, espaço-temporal e psicológica. Esses aspectos avaliam o grau de
desenvolvimento de sua personalidade, seu nível de consciência e de sua capacidade afetiva.
Na psicologia, através da psicoterapia, se recicla doença em saúde. É o procedimento que
interfere no processo da doença, “oxigenando” temas antigos. Seu objeto de estudo são as
vivências e as experiências que o homem vive e como as vive. Ao passo que a Psicopatologia
estuda as anormalidades psíquicas e a psiquiatria trata dessas anormalidades.
5. A Psicopatologia
Campbell (1986, apud DALGALARRONDO, 2008, p.27) define psicopatologia: “como o
ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental”. Trata dos dramas que
envolvem a existência humana e que, de acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 28), “implica
uma alienação do relacionamento interpessoal, por subordinação do sujeito ao outro (nas
neuroses), por não reconhecimento do outro (nas psicopatias), por exclusão do outro (nas
psicoses), ou ainda, por um relacionamento puramente parcial nas perversões sexuais
(sadomasoquismo, voyerismo, assim por diante)”. Entenda-se por alienação do
relacionamento interpessoal - o malogro pessoal e a perda da liberdade, que gera falta de
responsabilidade e de autenticidade nos atos.
Jaspers (1883-1960), um dos principais autores da psicopatologia, afirma que esta é uma
ciência básica, que serve de auxílio à psiquiatria a qual é, por sua vez, um conhecimento
aplicado a uma prática profissional e social. “O objeto de estudo da psicopatologia é o
fenômeno psíquico realmente consciente” (JASPERS, 1959, p.13). Investiga a etiologia das
doenças mentais, conceituadas atualmente como transtornos, definidos como um conjunto de
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sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecíveis, associados a sofrimentos e
interferências com funções pessoais.
“O indivíduo deve ser considerado em interação permanente e evolutiva com seus elementos
estruturais e genéticos, com sua história, com o grupo social a que pertence e com o meio
ambiente em que vive” (ANDRADE, 2002, p.290). Seu comportamento é resultante desta
interação. “Mede-se o sujeito normal pela capacidade de amar, trabalhar e fazer amigos”
(FREUD, s.d.). A partir deste enfoque, torna-se possível conceituar doença mental como uma
resposta inadequada deflagrada por fatores diversos (biológicos, sociais, ambientais e
psicodinâmicos), resultando numa interpretação distorcida da realidade, com consequente
deficiência na comunicação interpessoal (ABDO, 1996, p.30).
6. A Psiquiatria
Para a psiquiatria coube o tratamento das síndromes psiquiátricas, por meio de medicamentos
que atuam sobre o cérebro humano (neurotransmissores). Os sintomas psiquiátricos
promovem de modo dominante, alterações no comportamento e relacionamento do homem
com o mundo. A psiquiatria investiga as perturbações da consciência que alteram a orientação
espaço-temporal, que tornam o pensamento incoerente, o raciocínio sem nexo, agitação
emocional e perda das funções mnêmicas. Não se limita só aos sinais objetivos, envolve
questões complexas que transcendem o limite da pessoa física, são os fenômenos
sociogênicos, por outro as condições da herança biológica (NUNES, BUENO e NARDI,
2005, p. 27).
Segundo Kaplan e Sadock (1998, p.204), a psiquiatria avalia o estado mental através das
observações e impressões obtidas a partir das entrevistas iniciais, altamente importantes.
Quando necessário é feita a entrevista com a família, ou demais pessoas envolvidas com o
paciente. Sempre que necessário são usados outros recursos, conforme indicação:
eletroencefalograma, tomografia computadorizada, ressonância magnética, testes de outras
condições médicas. Podem ser utilizados também testes psicológicos projetivos.
De responsabilidade da psiquiatria, é o diagnóstico clínico (que tipo de transtorno), o
prognóstico (provável curso, extensão e consequências do distúrbio), determinar os objetivos
específicos da terapia e a prescrição medicamentosa, adequada ao tipo de transtorno
apresentado. A classificação diagnóstica é feita de acordo com a quarta edição do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV TR, 2000). Já foi elaborado o
DSM-V.
A psiquiatria oscilou sempre entre duas tendências: a organogênese e psicogênese. A
primeira, explica todo o mecanismo mental relacionado com a atividade dos sistemas
neurológicos e pela disposição sucessiva dos aparelhos anatomofisiológicos (fatores herdados
e adquiridos). Os psicogenistas dão pouca importância aos processos cerebrais e se interessam
apenas pelos processos psicogenéticos, dedicando-se principalmente ao estudo dos conflitos.
“Hoje, a psiquiatria apresenta-se como uma especialidade médica voltada para ajudar o doente
mental, desvendando as causas biológicas, genéticas, sociais e psicológicas do seu adoecer.
Podemos dizer que a psiquiatria é atualmente uma especialidade ambulatorial” (NUNES,
BUENO E NARDI, 2005, p.25).
7. Normalidade e Anormalidade
Segundo Bergeret (1988, p.19), normalidade é um conceito que deriva da palavra norma.
“Torna-se função de um ideal coletivo”- é um referencial. Tanto na Psicologia como na
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Psicopatologia, é considerado normal o Indivíduo que possui faculdades pessoais defensivas
e/ou adaptativas, sendo suficientemente flexível às suas necessidades pulsionais quanto às
sociais, levando em conta a realidade, o contexto e o momento, bem como com quem, ou com
o quê está se relacionando. É a possibilidade de vivenciar o livre arbítrio.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), normalidade é: “um estado de
completo bem estar físico e mental”. É um estado de adequação funcional que permite exercer
os tributos importantes de autoconsciência, a capacidade de transformar a realidade mediante
o trabalho e a capacidade para codificar a experiência mediante a linguagem. Por sua vez,
anormalidade corresponde a uma ruptura do equilíbrio dentro de uma estrutura de
personalidade, ou seja, uma descompensação do ser, num caráter mais permanente. Para
Goldstein: “doença é o obscurecimento da existência”.
8. O Transtorno Mental (definição)
Conforme Kaplan e Sadock (1998, p.692), transtorno mental é uma doença com
manifestações psicológicas ou comportamentais associadas com comprometimento funcional
devido a uma perturbação biológica, social, psicológica, genética, física ou química. Cada
doença possui sinais e sintomas característicos: os psicóticos - sofrem a perda do teste de
realidade, apresentando delírios e alucinações (exemplo: esquizofrenia); os neuróticos – sem
perda do teste de realidade, baseados principalmente em conflitos intrapsíquicos ou
acontecimentos vitais ansiogênicos, aparecem como um sintoma, na forma de uma obsessão,
fobia ou compulsão; os funcionais – com a ausência de um dano estrutural ou fator etiológico
claro que explique o comprometimento (exemplo: falta de estimulação ambiental) e os
orgânicos – doença causada por um agente específico que causa uma alteração no cérebro,
geralmente associado com comprometimento cognitivo, delírium ou demência. Por exemplo:
doença de Pick (degeneração do lobo frontal).
9. Como se Adoece?
Conforme Jaspers (1959, p.17), referindo-se à psicopatologia: “nosso tema é o homem todo
em sua enfermidade”. Trata-se de enfermidade psíquica. A hipótese mais atual em termos
científicos é de que se herda uma tendência, uma predisposição estrutural, que seria acionada,
na interação com o ambiente, por fatores internos e externos estressores, que podem ser
físicos, psíquicos e ambientais. São chamados de fatores desencadeantes da patologia. Um
conflito precede sempre os estados de ansiedade
Segundo a psicopatologia fenomenológica, método de investigação desenvolvido por Karl
Jaspers em 1913, que se baseia na descrição dos fenômenos psíquicos conforme sejam
observados ou relatados - existem dois meios de adoecer: durante o processo de
desenvolvimento do indivíduo com o adoecer pela constituição, personalidade e história do
paciente e/ou pelo processo que implica acontecimentos novos e atuais na constituição e
história do paciente, fenômenos de ordem funcional e principalmente de dinâmica social
(DALGALARRONDO, 2008, p.28).
O exame psicopatológico é peça fundamental para o diagnóstico que visa instituir terapêutica
e o prognóstico, com a finalidade de tratar eficazmente o paciente, seja com medicamentos,
manipulações ambientais ou psicoterapia.
De acordo com Bergeret (1988, p.21): “o Homem é um ser dual: em parte um ente natural, em
parte, um ser social. Essa dualidade profunda emana sua essencial ambiguidade”. Na cultura
está presente o espírito daquilo que inventa e cria como medida objetiva de seu valor. O
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espírito subjetivo é o que cada sujeito vive para si, é o que ele experimenta na sua interação
com o mundo – as coisas, os entes naturais, seus semelhantes, os objetos. Suas grandes
contrariedades são: seu desejo de permanência e sua real transitoriedade, seu empenho pelo
poder e sua impotência, a ânsia pela vida e o temor da morte.
Para Soifer (1996), anormalidade é a existência de sintomas psíquicos, psicossomáticos ou da
vida de relação, ocasionados por conflitos inconscientes que determinam inúmeras carências
de aprendizagem, com consequente vigência de zonas de desorganização do ego e
permanência de atitudes simbióticas, correspondentes a uma idade evolutiva anterior.
Segundo a autora, as três áreas de expressão da enfermidade é a mente, enquanto campo
psíquico, comprometendo a estrutura da personalidade, o corpo, veículo de expressão
psicossomática e a sociedade, enquanto interação interpessoal, afetando a personalidade e seu
potencial relacional. Há um prejuízo nas relações interpessoais. Tudo isso ocorre num tempo e
num espaço, extremamente importantes para a definição de saúde e doença. No passado está o
nascimento, no futuro está a morte e no presente está a ação, que é o movimento significativo
de vida. Este é o tempo que situa o homem no seu momento.
10. O Tempo e o Espaço
O tempo objetivo (exterior, cronológico) é uma construção do homem e o situa na sua
historicidade que, por sua vez, determina a sua existência. Passado, presente e futuro
compõem as três vertentes do tempo. Nessa dimensão fundamental da existência do homem é
que transcorre a trama de sua vida, pois seu presente tem suas raízes no passado e projeta-se
no futuro. O futuro é o aspecto do tempo mais importante para o homem, pois toda sua ação
se dirige para o futuro. O passado é experiência, o presente é ação e o futuro é o projeto.
O tempo subjetivo é vivencial; é interno, e tem ligação direta com o aspecto emocional. Cada
momento do nosso presente tem haver com o nosso passado e se constitui como uma
antecipação do futuro. Enquanto que o espaço é um referencial também, como o lugar onde as
situações se desenvolvem, pois tem suas dimensões criadas a partir do seu corpo, sendo ele o
centro – aberto, orientado pela movimentação do indivíduo no mundo relacional.
O espaço funciona como a extensão de si mesmo e é também um marcador de tempo em seu
percurso vivencial. Ambos, tempo e espaço estão coligados, tanto no mundo pessoal do ser,
que define sua realidade em termos de mundo e que corresponde a vida individual, como no
mundo histórico que tem a ver com um período da história cultural.
“As vivências do tempo e do espaço constituem-se como dimensões fundamentais de todas as
experiências humanas” (DALGALARRONDO, 2008, p.114). Todo conhecimento é resultado
da soma de ambos. Nada existe sem a presença da temporalidade/espacial. Todos os
acontecimentos são marcadamente interpretados e sentidos dentro da subjetividade de cada
um, uma vez que o homem depende dos estímulos externos que incidem sobre ele, bem como,
de suas disposições internas que resultam da ação recíproca entre as características
fisiológicas herdadas e suas experiências com o ambiente. O elo entre o homem e o mundo no
seu momento e lugar - é a afetividade.
11. A Afetividade, a Emoção e o Sentimento
A afetividade é uma capacidade inata de caráter sensorial que permite ao indivíduo, enquanto
elo, interagir com o meio, com seu semelhante e consigo mesmo. Torna possível, desta forma,
avaliar se essa interação provoca sensação de prazer (aceitação) ou sensação de desprazer
(rejeição), permitindo experimentar emoções e sentimentos, que dão sabor e colorido a
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experiência vivida (JAMES, 1952 apud DALGALARRONDO, 2008). As alterações do afeto
podem ser classificadas quanto à quantidade: aumento da excitabilidade afetiva (transtornos
de personalidade, psicose) ou diminuição do afeto, apatia (esquizofrenia, no retardo). Quanto
à qualidade, é mais frequente em doenças psicóticas. Temos três tipos: ambitimia
(sentimentos opostos e concomitantes); paratimia ( inadequação do sentimento ao estímulo) e
neotimia (um sentimento novo). Podemos destacar ainda, a labilidade emocional (mudanças
frequentes e súbitas de sentimentos); incontinência afetiva (exteriorização exagerada);
embotamento afetivo (diminuição da capacidade de ligação afetiva) e rigidez afetiva (perda de
modular o afeto) (NUNES FILHO, BUENO E NARDI, 2005).
Conforme Dalgalarrondo (2008, p.155), afetividade é a dimensão psíquica que permite viver
cinco tipos básicos de vivências afetivas: humor ou estado de ânimo, definido como tônus
afetivo do indivíduo; emoções são reações afetivas agudas, momentâneas causadas por
excitações externas ou internas, conscientes ou inconscientes. São com frequência,
acompanhadas de reações somáticas, de ordem neurovegetativas, motoras, hormonais,
viscerais e vasomotoras; sentimentos são estados e configurações afetivas estáveis
comumente associadas a conteúdos intelectuais. Temos sentimentos na esfera da tristeza
(melancolia, saudade, impotência, culpa.), na esfera da alegria (euforia, confiança, gratidão.);
na esfera da agressividade (raiva, ciúmes, ira, inveja.) e sentimentos relacionados à atração
pelo outro (amor, atração, gratidão, respeito.); afetos são a qualidade e o tônus emocional que
acompanha uma ideia ou representação mental e paixões, estado afetivo extremamente
intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e direcionando a atenção e
o interesse do indivíduo em uma só direção. São de duração breve.
A força propulsora da dinâmica da personalidade é a emoção, palavra que deriva do francês
émotion (ato de mover). É uma reação intensa e breve do organismo que causa alterações
corpóreas a um lance inesperado. Há uma alteração na atividade glandular preparando a
atividade muscular para a resposta exigida pela situação, que a afetividade já classificou como
sendo agradável ou desagradável, maligna ou benéfica, etc. Toda emoção é ao mesmo tempo:
sentimento e preparação motora (DALGALARRONDO, 2008, p.156).
À avaliação psicológica que se faz sobre a emoção que se sente, chama-se sentimento. É uma
valoração subjetiva que faz parte da percepção (fenômeno psicológico) que permite o
conhecimento do que está se passando. Acaba sendo influenciada pelo valor cultural, social,
religioso, etc. É o conjunto das qualidades morais do indivíduo.
12. Como o Ser Humano Pensa?
Pensamento é o resultado da capacidade de organizar as ideias de forma, curso e conteúdo
harmônicos com as necessidades pessoais e circunstanciais. Os distúrbios da forma podem
ser: o descarrilhameto (mudança súbita), substituição (troca de uma ideia por outra), omissão
(é a quebra de ideias), fusão (união de duas ou mais ideias), prolixidade (fazer rodeios),
perseveração (persistência no tema), concretude (dificuldade em abstrair), neologismos (criar
palavras novas), tangencialidade (dificuldade em responder exatamente) e circunstancialidade
(perda no discurso excessivo) - (NUNES FILHO, BUENO E NARDI, 2005, p.7).
De acordo com esses autores (p.153), os elementos constitutivos do pensamento são: o
conceito, que se forma a partir das representações. Trata-se de um elemento puramente
cognitivo e um elemento estrutural básico do pensamento; os juízos, que é o processo que
conduz ao estabelecimento de relações significativas entre os conceitos básicos, ou seja, tem
por função formular uma relação unívoca entre um sujeito e um predicado e o raciocínio, que
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representa um modo especial de ligação entre conceitos de sequência, de juízos, de
encadeamento de conhecimentos, derivando sempre uns dos outros. Pensar pode ser guiado
pela vontade, depende do grau de inteligência, da capacidade sensoperceptiva, do nível de
consciência, da atenção e orientação, da capacidade afetiva e da memória, como ponto de
convergência do tempo/espaço e do corpo/mente.
As diferentes dimensões do processo de pensar são delimitadas como curso do pensamento, a
forma ou estrutura do pensamento e conteúdo do pensamento. Três aspectos são levados em
consideração para esse estudo: os processos ou as operações de pensamento realizadas; os
conteúdos aos quais as operações se aplicam e os produtos que podem resultar desta
aplicação.
O pensamento se forma pela cognição (percepção de dados do mundo externo) e pela
memória (retenção do que foi percebido). É avaliado pelo nível de adequação do material ao
contexto vivenciado; pela conveniência do momento e pela elegância ou qualidade do
material. Todos esses processos podem ser afetados por distúrbios da forma de pensamento,
que são menos comuns do que delírios como manifestações de psicose em doenças
neuropsiquiátricas. “O delírio é uma falsa crença baseada em inferências incorretas sobre a
realidade externa e firmemente mantidas apesar das evidencias em contrário” (KAPLAN E
SADOCK, 1998, p. 206).
Os tipos mais comuns de delírios são as crenças persecutórias. Delírios e alucinações: podem
ocorrer juntos como elementos de um processo psicótico. Alucinações: são manifestações
comuns de doenças neuropsiquiátricas, onde ocorrem percepções sem estímulos presentes
apropriados do órgão sensorial relevante. Existem diversos tipos de alucinações: visuais,
auditivas, táteis, gustativas e olfativas. Obsessões: é outro tipo de conteúdo anômalo do
pensamento, que envolvem temas violentos, sexuais ou de eliminação visceral (ideias
repetitivas) É frequente estar associado às compulsões (atos repetitivos) – comportamentos
estereotipados repetitivos, que são vistos como sem sentido, mas que não existe controle
sobre eles. São comportamentos ritualizados. Despersonalização e Desrealização: são
exemplos de alterações do conteúdo do pensamento. Despersonalização é uma alteração do
pensamento que implica um estado de experiências alteradas em que o sentimento da
realidade de si mesmo, fica temporariamente perdido. Desrealização se refere à sensação de
irrealidade sobre o ambiente circundante.
13. O Cérebro
Embora a ciência progrida a passos largos em relação ao conhecimento e funcionamento do
cérebro humano, ainda há muito chão a ser percorrido para se alcançar um conhecimento
bioquímico exato de todas as funções psíquicas do ser, de como realmente acontecem as mais
variadas conexões sinápticas, que formam as redes neuronais e sua integração com as diversas
estruturas cerebrais. Leninsky (s.d.) afirma que a neurociência mostrou através da
neuroimagem que o cérebro não é o único lugar a registrar informações, apenas é um local
mais preciso. Cada parte do corpo recebe e registra conhecimento (holografia). Há uma
consciência coletiva das células em funcionamento.
Para Dalgalarrondo (2008) a real riqueza do sistema nervoso central (SNC) está basicamente
relacionada à sua capacidade de receber, armazenar e elaborar informações. “A percepção, a
memória, as emoções e mesmo o pensamento surgem em conexão com a atividade desses
circuitos neuronais” (p.45). Temos que os avanços da pesquisa em neurociências estão
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expandindo com muita rapidez as bases do conhecimento do cérebro na psiquiatria e põe em
questão alguns dos conceitos antigos, afetando a sua prática clínica.
De acordo com Soeiro (1995, p.34), psiquiatra psicodramatista, as informações que chegam
ao cérebro do homem, são estímulos advindos tanto do meio externo, como do meio interno.
Esses estímulos são transformados em cargas bioelétricas, que após percorrerem intrincados
trajetos, estimulam órgãos efetores que provocam respostas para o mundo externo (motoras e
sensitivas) e para o mundo interno (equilíbrio homeostático).
É através desses mecanismos cerebrais que ocorre o processo de aprendizado e
desenvolvimento das habilidades e aptidões. Esse cérebro é formado por fatores
constitucionais, por fatores herdados e por fatores adquiridos, que são educacionais,
experienciais e vivenciais. Tudo indica que seja dessa interação que surja a consciência, ou
seja, a mente que comanda o comportamento humano e que é objeto de estudo da psicologia.
O cérebro é um órgão que se autorregula divinamente e, graças a isso, nunca trabalha nem
descansa totalmente, sucedendo-se a cada momento os focos de excitação e de inibição. Sua
função é basicamente relacionada à sua capacidade de receber informações, reter e fixar,
armazenando o conteúdo recebido e selecionado, e de elaborar essas informações, de acordo
com a subjetividade de cada um. Ele é o órgão de interesse da psiquiatria. Enquanto o cérebro
é corpo-matéria, a mente é espírito-alma. Essas duas realidades comandam todas as nossas
ações e se sofrerem algum prejuízo afetam o comportamento como um todo.
Hoje, pensa-se que a unidade funcional do cérebro não é mais o neurônio isolado, mas sim, os
circuitos neuronais. A percepção, a memória, as emoções, o pensamento surgem em conexão
com a atividade desses circuitos neuronais. A organização do cérebro é produto de uma longa
história evolucionária. As partes mais antigas e primitivas são: o tronco cerebral e o
diencéfalo, responsáveis pela respiração, batimentos cardíacos, temperatura corporal e pelo
ciclo sono-vigília. A parte mais evoluída do cérebro é o neocórtex (dos mamíferos
superiores). Na espécie humana, as áreas pré/frontais tiveram maior desenvolvimento
(DALGALARRONDO, 2008, p.46). É o centro executivo responsável pelo pensamento
abstrato e simbólico, por planejar o futuro e por dirigir a atenção.
A comparação do cérebro com um computador natural é uma das maneiras de entender como
ele se especializa em tantas atividades complexas, interagindo com as diversas estruturas que
o compõe: hipotálamo, tálamo, hipocampo, córtex (insula) e cerebelo. O estudo do cérebro é
fundamental para poder entender o comportamento do homem.
É através dos neurônios com suas sinapses, por onde passam as informações, tanto orgânicas
como ambientais; quando um neurônio toca a extremidade do outro (sinapse), ocorre
liberação de compostos químicos, que são os neurotransmissores. Conforme Kaplan e Sadock
(1998, p.55), temos três tipos principais de neurotransmissores cerebrais são as monoaminas,
os aminoácidos e os neuropeptídios.
Com certeza, o neurotransmissor mais importante em termos farmacológicos, tem sido as
monoaminas – as catecolaminas (dopamina, norepinefrina e hepinefrina), serotonina, a
acetilcolina e a histamina. Estes são mais facilmente afetados pelos medicamentos. De acordo
com esses autores o processo de integração e modulação no corpo humano, acontece através
de três grandes sistemas de comunicação: o sistema nervoso central, o sistema imunológico e
o sistema endócrino. Eles se comunicam entre si e se uma doença afetar qualquer um dos
sistemas corre o risco de levar à disfunção dos outros sistemas.
14. Mente: A Consciência e o Inconsciente.
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“Um cérebro – duas mentes” (GAZZANIGA apud LE DOUX, 1998, p.13). Na cirurgia de
cisão do cérebro, conexões nervosas entre os dois lados ou hemisférios do cérebro (que
processam informações de maneira diferente), quando são seccionados, não podem mais se
comunicar. Exemplo: como as funções da linguagem no cérebro em geral situam-se no
hemisfério esquerdo, a pessoa só é capaz de falar unicamente daquilo que o hemisfério
esquerdo conhece (p.15). O lado direito processa as emoções.
Esse tipo de cirurgia parece ter revelado uma dicotomia psicológica fundamental entre
pensamento e sentimento, entre cognição e emoção. O hemisfério direito é incapaz de
transmitir suas ideias sobre a natureza do estímulo ao hemisfério esquerdo, mas consegue
transmitir o significado emocional do estimulo. Existem vários tipos de informação que
podem ser transmitidas ou não de um hemisfério para o outro.
A psicologia costuma dividir a mente em segmentos funcionais, tais como percepção,
memória e emoção. Esta é uma divisão didática que não se refere às verdadeiras funções, uma
vez que o cérebro não possui um sistema dedicado à percepção, por exemplo, e sim a
informação acontece numa série de sistemas neurais específicos (LE DOUX, 1998, p.16).
A mente é um mecanismo de processamento de informações, que organiza, fundamenta e
origina os fatos mentais que resultam na tomada de consciência ou não. Consciência é a
capacidade neurológica de captar o ambiente e de o indivíduo se orientar de forma adequada
em todas as manifestações da vida. A consciência é vista como núcleo da existência, a
compreensão de tudo que assimilamos, enquanto conhecimento. É avaliada pelas funções da
atenção e orientação. Forma os processos psíquicos que são divididos em conscientes e
inconscientes. Ela é subsidiária da práxis (exercício, ação) e do caráter social (relação).
Temos a consciência do objeto, consciência corpórea, a do tempo e espaço, dos sentimentos e
estados de ânimo, impulsos, instinto e vontade. A principal consciência é a do Eu.
Suas alterações causam rigidez na adaptação da realidade alterada e aumento ou diminuição
da amplitude da consciência, ocasionando o estreitamento que consiste na redução
quantitativa e qualitativa da consciência; ocorre em manifestações histéricas e estados
crepusculares epilépticos. Entorpecimento: caracterizado pela diminuição ou perda da lucidez
e da vigília. O coma é o estado de maior gravidade. No aspecto psicopatológico, ocasiona
obnubilação (diminuição da nitidez), estado crepuscular (estreitamento progressivo da
amplitude da consciência) e delírio onírico (caracterizado por obnubilação, alucinação,
ansiedade). Não há delírio propriamente dito (CID-10).
Jaspers (1959) nos revela que a consciência tem três significados: a interioridade de uma
vivência (assimilação da experiência), uma consciência objetiva (um saber de algo) e a autoreflexão (a elaboração pessoal do conteúdo). “A consciência é a manifestação indispensável
da alma, se por consciência se entende toda forma de interioridade vivida. Onde não houver
consciência nesse sentido, não há também alma” (p. 21). “Os fatos são o terreno de nosso
conhecimento” (p. 69).
O inconsciente é determinado por sua origem da consciência. Determinado pela falta de
relação com a atenção. É o refúgio de informações. Conteúdo que ainda não foi objetivado,
mas é determinado como um poder; se torna o criador, o refúgio, a proteção, o fundamento e
o fim. Significa que é tudo que é essencial para nossa vivência.
15. As Grandes Síndromes Psiquiátricas:
“Os transtornos mentais basicamente, neurose e psicose – podem ser considerados como
distúrbios da aprendizagem da realidade” (ANDRADE, 2002, p.46). O termo neurose
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atualmente é considerado impreciso e conceitualmente impróprio, uma vez que, a doença não
é apenas psicogênica e sim multifatorial. Porém, neste estudo, levaremos em conta ainda essa
nomenclatura.
A neurose (doença secundária) apresenta um padrão de respostas defensivas e rígidas diante
de situações de ansiedade. O conflito estrutura-se e se expressa através do sintoma, estando
presentes: a angústia, a culpa, o temor consciente, mas preservando os bons contatos com a
realidade e com as pessoas (ANDRADE, 2002, p.46). O indivíduo sente-se dominado por
pensamentos negativos, oriundos de uma baixa autoestima e falta de autoconfiança, o que
pode levar a uma constante oscilação entre ansiedade e depressão. Toda forma neurótica de
vida implica um desenvolvimento inadequado do caráter.
Enquanto que na psicose (doença primária e mais grave), experiências traumatizantes podem
ter acontecido muito cedo, nas primeiras fases da evolução emocional infantil (em fases muito
primitivas) e não sendo superadas, favorecem um desenvolvimento prejudicado, passando a
apresentar déficit na comunicação e a estabelecer relacionamentos disjuntivos, perdendo o
contato com a realidade (ANDRADE, 2002, p.47). O indivíduo constrói um mundo
fragmentado, alienado, por não ter obtido um reconhecimento mínimo dos outros. Sem
reconhecimento por parte do outro, o sujeito não se reconhece a si mesmo.
Nas perversões sexuais, o sujeito fica preso a uma forma mutiladora de relacionamento.
Condiciona-se de tal maneira que depois não consegue o todo implicado no relacionamento
erótico, fixando-se somente no aspecto predominante do objeto excitatório.
Nas psicopatias, o sujeito não se reconhece propriamente no outro. Fator este, de enxergar-se
no outro como sendo um espelho (um referencial), é o que permite a identificação humana, ou
seja, que leva a sentir-se verdadeiramente humano durante o processo de formação de
identidade.
Nas oligofrenias, os sujeitos não conseguem a autonomia suficiente para permitir o exercício
mínimo da liberdade. Por um determinismo da natureza, fica impossibilitado de ser como os
outros. A área de aprendizado e das responsabilidades básicas é prejudicada, pois seu nível
intelectual está reduzido a nível leve, moderado ou grave.
Essas doenças implicam em momentos de crise. Crise é um período em que nos vemos
obrigados, pelas mais variadas circunstâncias, a reformular as nossas crenças e projetos.
Indicam momentos de ruptura e de questionamento – trânsito de uma etapa para a outra, ou o
final de um processo. Existem três tipos de crise: existenciais (valores e crenças), sintomáticas
(morbidades) e previsíveis (etapas evolutivas).
16. Classificação do DSM- IV – TR (2000)
Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira vez na Infância e na Adolescência:
- Retardo mental: retardo mental leve, moderado, grave, profundo e retardo mental, com
gravidade inespecificada.- Transtorno da aprendizagem: transtorno de leitura, transtornos da
matemática, da expressão escrita e da aprendizagem SOE. - Transtorno das habilidades
motoras: transtorno do desenvolvimento da coordenação. - Transtorno da comunicação: da
linguagem expressiva, transtorno misto da linguagem receptivo-expressiva, fonológico,
tartamudez e transtorno da comunicação SOE. - Transtornos globais do desenvolvimento:
transtorno autista, transtorno de Rett, degenerativo da infância, transtorno de Asperger e
transtorno invasivo do desenvolvimento SOE. - Transtorno de déficit de atenção e
comportamento disruptivo: tipo combinado, tipo predominantemente desatento, tipo
predominantemente hiperativo-impulsivo, tipo de déficit de atenção/hiperatividade SOE,
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transtorno de conduta, transtorno desafiador de oposição e transtorno de comportamento
disruptivo SOE. - Transtorno de alimentação da primeira infância: transtorno de pica, de
ruminação, de alimentação na primeira infância. - Transtorno de tique: o transtorno de
Tourette, de tique motor ou vocal crônico, o tique transitório e transtorno de tique SOE. Transtorno da excreção: encoprese, com constipação e incontinência por hiperfluxo,
transtorno sem constipação e incontinência por hiperfluxo e enurese (não devido a uma
condição médica geral). - Outros transtornos da infância ou adolescência: transtorno de
ansiedade de separação, mutismo seletivo, transtorno reativo de vinculação na infância,
transtorno de movimento estereotipado e transtorno da infância ou adolescência SOE
Delirium, demência, transtorno amnéstico e outros transtornos cognitivos:
- Delirium: devido a uma condição médica geral, por intoxicação com substâncias, por
abstinência de substância, devido a múltiplas etiologias e delirium SOE. - Demência: tipo
Alzheimer com início precoce (sem perturbações do comportamento e com perturbações do
comportamento), tipo Alzheimer com início tardio (sem perturbações do comportamento e
com), demência vascular, com complicações, com delirium, com delírios e com humor
depressivo. - Transtorno amnéstico: comprometimento da memória. – Transtorno cognitivo:
disfunção cognitiva devido a uma condição médica geral ou uso de substancias.
De acordo com Andrade (2002, p.49 a 109) veremos com maior atenção os seguintes quadros:
- O paciente ansioso: o indivíduo ansioso estaria vivendo sob uma forma de pressão
relacionada a duas ameaças fundamentais – perdas afetivas e medo da destruição, vinculado à
agressão (PICHON-RIVIÈRE, 1991 apud ANDRADE, 2002, p.49). Essa pressão pode ser
compreendida como medo de perder o controle sobre os próprios impulsos (por ex.transgredir regras e códigos sócio familiares). A ansiedade (do grego, significa sufocar) pode
ser considerada como um sinal de alerta, diante das ameaças constantes e das pressões do
ambiente. Permite ficar atento aos perigos reais e imaginários e prevenir-se contra eles. Este
tipo é considerado normal. Ansiedade dita patológica seria uma resposta inadequada a
determinados estímulos. Dependendo do seu grau de gravidade, o indivíduo mostra-se
desorganizado e paralisado, com desempenho criativo bloqueado. Diferencia-se do medo,
uma vez que este tem um objeto claro de ameaça, ao passo que a ansiedade é um medo difuso
e futurista. A etiologia está entre predisposição constitucional, estilo de vida e fatores
ambientais. Pode ser de natureza psiquiátrica ou não, porém pode ser manifestação principal
ou única do quadro clinico. Classificação: Distúrbio do pânico com agorafobia (medo à
exposição de lugares abertos, desproteção). Distúrbio do pânico sem agorafobia. Fobia social
(medo da exposição pública). Fobia simples. Distúrbio de ansiedade generalizada. Distúrbio
de estresse pós-traumático. Distúrbio obsessivo-compulsivo e Distúrbio de ansiedade
inespecífico.
- O paciente fóbico: apresenta medo persistente de situações ou objetos que não perturbam os
outros. Há evitação da situação temida. Embora exista consciência de ser um medo irracional,
não pode ser controlado, o que desencadeia intensa ansiedade. A etiologia inclui diversos
fatores, entre eles os medos ancestrais, naturais da espécie. As fobias são comuns na infância.
A constituição familiar tem muita influência, bem como o ambiente. Para Pichon-Rivière
(1991) todas as fobias derivam de duas outras básicas: a fobia do interior (claustrofobia), ou a
do exterior (agorafobia) e tem como fundo a desconfiança embora apareça como medo.
Sensação de perigo iminente. Medo do desamparo, do abandono eminente.
Classificação: Agorafobia. Ataques de pânico - são crises espontâneas, abruptas, com
sintomas variados, predominando mal estar intenso e sensação de morte iminente. O
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indivíduo fica em estado de alerta máximo. Tudo ocorre em questão de minutos. Crises
recorrentes configuram o transtorno de pânico. Fobia social – medo associado a situações que
a pessoa julga estar sujeita à avaliação. Pode apresentar componentes delirantes. Fobias
específicas – O comportamento de esquiva está relacionado às situações específicas como
medo de certos animais. Importante fazer referência à hipocondria que é o medo das mais
variadas doenças. Outro quadro importante é a disfomorfofobia, queixa insistente direcionada
para uma parte do corpo (parece relacionado com mecanismos paranóides).
- O paciente obsessivo: O indivíduo é acometido por pensamentos obsessivos e/ou atos
compulsivos. Obsessões são eventos mentais recorrentes através de idéias, pensamentos,
sensações repetidas, estereotipadas e intrusivas que o indivíduo procura inutilmente evitar por
causar-lhe sofrimento. Compulsões são atos repetitivos sem finalidade útil e reconhecidos
como irracionais, mas realizados devido à fantasia de que através deles o indivíduo estaria
evitando uma catástrofe. O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) inclui os traços de caráter
obsessivo e a personalidade anancástica que corresponde à personalidade obsessivocompulsiva. Existem indícios de algumas alterações neuroendócrinas e eletrofisiológicas. Há
relevância dos fatores genéticos e psicodinâmicos. A comorbidade é também frequente.
- O paciente histérico: pode apresentar os mais variados sintomas, mas sempre associados
com queixas físicas sem explicação clínica. Segundo Pichon-Rivière trata-se do “[...] vinculo
da representação, sendo sua principal característica a plasticidade e a dramaticidade” (1995, p.
24). Atualmente histeria não é mais um termo utilizado pela Classificação Internacional das
Doenças – CID-10, nem pela maioria dos autores, por ser considerado impreciso. Hoje em dia
os quadros histéricos foram nomeados como transtornos somatoformes. Sua etiologia é a
combinação de fatores neurológicos, psicodinâmicos e ambientais, o que inclui contexto
familiar instável, história de abuso físico e/ou emocional ou traumas sexuais da infância.
Classificação: Transtorno de somatização. Transtorno conversivo – pode apresentar alterações
sensório-motoras transitórias (Ex. cegueira histérica). Transtorno de dor somatoforme – com
severas dificuldades nos relacionamentos e queixas físicas crônicas. Ameaças constantes de
suicídio. Hipocondria. Transtorno corporal dismórfico.
- O paciente deprimido: apresenta um transtorno do humor caracterizado por queda do élan
vital – desânimo, tristeza, visão pessimista, incapacidade para a ação e para o prazer. Com
diminuição da autoestima, com aumento ou diminuição do sono e do apetite. Diferenciado das
pessoas que apresentam sentimento temporário de tristeza por uma perda real. Primeiro surto
ocorre entre os vinte e trinta anos de idade. Tendências ao suicídio. Sua etiologia, ainda
desconhecida, pode estar relacionada a determinadas estruturas cerebrais. Os fatores
desencadeantes do ambiente podem ser: estresses graves, dificuldades psicossociais crônicas,
a perda da mãe na primeira infância, transtorno depressivo denominado distúrbio afetivo
sazonal (quadros que ocorrem no inverno e melhoram na primavera). Classificação:
Depressão maior – melancólica, com sintomas psicóticos, distimia e depressão atípica. Os
sintomas são: humor deprimido, diminuição considerável do interesse/prazer em todas as
atividades a maior parte do tempo. Alteração do peso (para mais ou para menos), do sono
(insônia ou hipersonia), agitação ou retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de
menos valia e de culpa, com pensamentos recorrentes de suicídio. A depressão está
subdividida em estados depressivos endógenos ou psicóticos, onde não há fatores externos
determinantes; e em estados depressivos neuróticos ou exógenos, reativos a eventos externos.
- O paciente com transtorno bipolar: ocorre polarização do humor, tanto para a depressão
como para a mania. Os sintomas são muito semelhantes à depressão maior. Nos períodos
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maníacos ocorre exaltação do humor, expansividade, insônia, fuga de ideias. Nessa etapa o
quadro não difere muito da conduta psicopática devido à total falta de controle de impulsos. O
paciente maníaco pode ser sexualmente promíscuo, abusar de álcool e drogas. O transtorno
bipolar é mais comum do que a depressão unipolar (sem episódios maníacos). Forte
vulnerabilidade genética e incidência familiar. Diagnóstico mais reservado. Classificação:
transtorno bipolar I pode apresentar apenas formas maníacas, depressivas ou mistas, com ou
sem sintomas psicóticos. O transtorno bipolar II diz respeito a pacientes que apresentam
somente quadros de hipomania (sintomatologia menos intensa). Os transtornos bipolares mais
comuns caracterizam-se por episódios alternados de mania e depressão. Nos quadros de
mania, o humor é caracterizado por elação e expansividade, mas pode ser também irritável.
Discurso acelerado evolui para fuga de ideias. Os delírios mais comuns são de grandeza e
eróticos. Alucinações principalmente auditivas. O transtorno ciclotímico apresenta pelo
menos durante dois anos, numerosos episódios com humor deprimido e perda de interesse ou
prazer, de forma mais branda, que não satisfazem os critérios para episódio depressivo maior.
Geralmente são medicados com lítio.
- O paciente psicopata: este termo designa uma gama variável de situações que incluem desde
um determinado tipo de comportamento inadequado e transgressor, até graves síndromes
clinicas. Atualmente está classificado no grupo dos pacientes com transtorno de
personalidade. São instáveis, irritáveis, impulsivos, mentirosos e às vezes, excêntricos e
antissociais. Não são nem neuróticos e nem psicóticos São considerados os pacientes mais
difíceis de tratar em psiquiatria e psicoterapia, pela dificuldade de vinculação e inconsciência
de sua atuação psicopata. A etiologia tanto pode ser genética como ambiental, em relação da
baixa tolerância às frustrações. Na psicogênese da psicopatia, dentre os fatores familiares, está
a privação emocional na infância, a ausência paterna, o tratamento brutal sexual, físico ou
emocional. A separação precoce da mãe tem efeito negativo sobre o desenvolvimento do
caráter. Indiferença e frieza substituem sentimentos como amor, ódio, culpa e senso de
responsabilidade. Classificação: psicopata esquizóide - apresenta certa frieza emocional, são
desconfiados e tende a eleger algozes ou praticar atos de extrema crueldade e sadismo. O tipo
depressivo – procura despertar compaixão para regular sua autoestima. O tipo paranoide busca controlar as situações através do levantamento de dados que possam justificar suas
convicções delirantes utilizando racionalizações e manipulações. O tipo obsessivo – tende a
impor seu esquema ético e a utilizar os escrúpulos alheios, esperando o momento oportuno
para lidar com lidar com suas fantasias de vingança. O psicopata fóbico – procura “inocular”
nos outros a tendência a desafiar os perigos, embora ele procure fugir das situações perigosas.
O tipo histérico – tem grande facilidade de simulação de afetos e desempenho de múltiplos
papéis.
O DSM-IV-TR (2000) – apresenta a seguinte classificação dos transtornos de personalidade:
- O TP Paranoide – são grandes argumentadores e projetores. São desconfiados e atribuem
aos outros a responsabilidade por seus sentimentos. São hostis, coléricos, fanáticos e
ciumentos. Afetivamente frios. O TP esquizoide – são pessoas solitárias, quietas e pouco
envolvidas e tendem ao isolamento social. São introvertidas e demonstram pouca necessidade
de vínculos. TP esquizotípico – classificado no grupo das esquizofrenias. Apresenta aspectos
semelhantes aos dos pacientes borderlines. Dificuldades nos relacionamento, ideias de
referência e ansiedade nas vivências sociais. Costumam ter crenças bizarras e acreditam ter
poderes especiais. São estranhas. Sob tensão, podem surtar. TP narcisista - possuem
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sentimentos prevalentes de grandeza (que visa preencher um vazio ou uma ferida). Seus
relacionamentos são frágeis. São pessoas pretensiosas e ambiciosas de fama e fortuna. Fingem
empatia para obter seus objetivos. TP antissocial – são sempre transgressores (abuso de
drogas, perversões e criminalidade são comuns neste tipo de personalidade). São sedutores e
cativantes, mas não consideram o sentimento dos outros. Tem baixa tolerância à frustração, à
culpa e à ansiedade. Impulsivos, manipuladores e mentirosos. Costumam ser promíscuos, não
tem remorsos e parecem desprovidos de consciência. Correspondem aos “insensíveis” de
Schneider. TP evitativo - apresentam sentimentos constantes de tensão, apreensão,
inadequação social e inferioridade. Tem medo da crítica e extrema sensibilidade à rejeição.
Restrição nas atividades devido à insegurança. Tem medo de falar em público e se
autodepreciam. Seu traço predominante é a timidez. Correspondem aos “inseguros de si” e
“astênicos” de Schneider. TP dependente - são pessoas que subordinam suas necessidades às
dos outros e costumam manobrar para que os outros assumam as suas. Profissionalmente
preferem cargos subalternos e evitam posições de responsabilidade. Estabelecem vínculos
simbióticos e sofrem depressão severa na perda dessa simbiose. Na classificação de
Schneider, são considerados os “abúlicos”. TP obsessivo-compulsivo – apresentam
sentimentos excessivos de cautela e dúvida, preocupação com ordem e perfeccionismo,
escrupulosidade e rigidez nas condutas. São pessoas sem espontaneidade, formais, sérias e
sem senso de humor. Sofrem depressões. TP passivo-agressiva – nestas pessoas existe uma
resistência incoberta, tendência à procrastinação de tarefas e críticas injustificadas aos
superiores. Falta-lhes assertividade. São dependentes e ineficientes. Intensa agressividade
expressada de forma passiva. TP borderline – estes pacientes são considerados misteriosos e
de difícil diagnóstico, uma mistura das características dos antissociais, narcisistas e
esquizotípicos.
- O paciente borderline: são indivíduos que sofrem terrivelmente com sua condição, diferente
dos pacientes psicopatas que não sofrem de forma explícita. Apresentam padrão de
instabilidade nos relacionamentos, na autoimagem e no humor. São impulsivos, com
frequentes micro episódios psicóticos. Parece estar relacionada com grave transtorno
depressivo. Podem ter sido vítimas de abuso sexual, abuso verbal, emocional ou físico.
Alguns testes têm demonstrado altos índices de anormalidades neuropsicológicas apontando
para o neurotransmissor serotonina. A etiologia atualmente refere-se a vulnerabilidades
biológicas, genéticas, fatores psicológicos e influências sociais. São dissimulados e infantis.
- O paciente esquizofrênico - esta categoria de psicose abrange os transtornos manifestos por
perturbações do pensamento e interpretação incorreta da realidade, com frequentes delírios e
alucinações. A esquizofrenia é caracterizada por alterações do afeto, ou seja, embotamento
afetivo (ambivalente, rígido e inadequado), com comportamento retraído, agressivo e bizarro
e pensamento distorcido da realidade. É uma perturbação com duração mínima de seis meses
e inclui um mês de sintomas ativos: delírios, alucinações, discurso desorganizado,
comportamento amplamente desorganizado ou catatônico e sintomas negativos. Esses
sintomas estão associados com acentuada disfunção social ou ocupacional. Sabe-se que perde
o juízo da realidade e pode apresentar uma vasta gama de sintomas, tais como distúrbios da
percepção, do pensamento, do afeto e motricidade. Classificação: desorganizado
(Hebefrenico), com alterações afetivas, pensamento desorganizado e discurso incoerente,
catatônico (atividade motora excessiva e ocasionalmente violenta, estupor, mutismo, etc.),
tipo paranoide (delírios persecutórios ou grandiosos, sendo o paciente, com frequência, hostil
e agressivo), tipo indiferenciado (comportamento desorganizado com delírios e alucinações
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proeminentes) e o tipo residual (pacientes com sinal de esquizofrenia, após um episódio
psicótico esquizofrênico).
- O paciente adicto - o adicto possui uma fragilidade do Eu. Trata-se de uma pessoa que nos
primórdios de sua infância possivelmente não conseguiu estabelecer uma boa diferenciação
com o “outro”, nem de se auto-reconhecer. A consciência da própria finitude é o
reconhecimento de limites e vem sempre acompanhado de depressão. Usa a droga para não
sentir e não perceber seu vazio interior. O ato de se drogar substitui o pensamento. A principal
característica da conduta tóxica é o desejo de morrer, pois essas pessoas não suportam
angústia nem tristeza grave por não conseguir processá-las. Trata-se da mais grave forma de
depressão, a depressão química. Por regra geral o adicto carrega o drama da família. Nas
famílias adictas as relações costumam ser simbióticas (dependência recíproca patológica). A
psicoterapia grupal pode funcionar nestes casos. Risco de suicídio e resistência à internação é
frequente.
- Temos ainda os transtornos alimentares, os transtornos do sono e os transtornos da
sexualidade.
17. Considerações finais
Ao pesquisar psicopatologia, enquanto ciência que estuda os dramas da existência humana,
que geram enfermidades e que podem levar o individuo à alienação, por ser tão rica e ampla,
nos levou a perceber que era extremamente difícil identificar as doenças e tentar resumi-las
neste trabalho. Bem como a noção de homem, que é igualmente complexa e diversificada. Ele
não pode ser apreendido e nem compreendido por uma única visão, seja ela de natureza
biológica, psicológica ou social. Estes fatos nos conscientizaram da necessidade de pesquisar
os diversos determinantes envolvidos na gênese e no desvelar do seu adoecer, o que se
revelou um estudo muito gratificante para esta pesquisadora. Este texto trouxe a pretensão de
ser a base teórica para um aprofundamento nas doenças mentais.
Devido a estas razões, este artigo denuncia a limitação de sua proposta em transmitir o
conhecimento suficiente em tão poucas linhas, mas por outro lado, se aprimorou em tentar
compreender a relação saúde/doença, normalidade/anormalidade, para poder avaliar o que os
desvios metabólicos podem causar no comportamento humano e interferir de forma desastrosa
nas suas relações com o mundo. Contudo, ficou evidente como esses conceitos são difíceis de
serem definidos e, muitas vezes, nem mesmo os diversos autores chegaram a um consenso.
Devemos salientar que além do atendimento psiquiátrico (sempre que necessário), a
psicoterapia leva o paciente a compreender as experiências vividas na fase adoecida e o ajuda
a reencontrar o sentido da vida, em busca de sua readaptação social e de uma identidade mais
completa. A psiquiatria trata os sintomas, enquanto que a psicologia busca as causas.
Como sugestão, recomenda-se aos profissionais de psicologia que voltem o seu olhar para a
psicopatologia, não em busca de simplesmente diagnosticar, e sim, para uma melhor
consciência do quadro que cada paciente/cliente apresenta. Com certeza haverá uma maior
compreensão do caso e um atendimento mais adequado.
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