UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Sônia da Silva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Sônia da Silva Leão Porteiro
Importância da família no tratamento do portador de transtorno mental,
um desafio para a enfermagem.
SÃO PAULO – SP
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Sônia da Silva Leão Porteiro
Importância da família no tratamento do portador de transtorno mental,
um desafio para a enfermagem.
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em
Linhas de Cuidado em Enfermagem – Atenção Psicossocial
do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do
título de Especialista.
Profª. Orientadora: Msc Tereza Miranda Rodrigues
SÃO PAULO – SP
2014
FOLHA DE APROVAÇÃO
O trabalho intitulado Importância da família no tratamento do portador de transtorno
mental, um desafio para a Enfermagem de autoria da aluna Sônia da Silva Leão Porteiro foi
examinado e avaliado pela banca avaliadora, sendo considerado APROVADO no Curso de
Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área Atenção Psicossocial.
_____________________________________
Profª. Msc Tereza Miranda Rodrigues
Orientadora da Monografia
_____________________________________
Profª. Drª. Vânia Marli Schubert Backes
Coordenadora do Curso
_____________________________________
Profª. Drª. Flávia Regina Souza Ramos
Coordenadora de Monografia
SÃO PAULO – SP
2014
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................01
2 OBJETIVO GERAL........................................................................................................06
2.1 JUSTIFICATIVA.........................................................................................................06
3 METODOLOGIA............................................................................................................07
4 RESULTADO E ANÁLISE............................................................................................08
5 CONCLUSÃO..................................................................................................................11
REFERÊNCIAS..................................................................................................................12
RESUMO
A família do portador de transtorno mental, antes excluída do tratamento, passa a
ser com o processo de desinstitucionalização, coadjuvante no tratamento. Lida com uma
sobrecarga no convívio com o doente mental, podendo rejeitá-lo e desencadeando
sucessivas internações psiquiátricas. Este trabalho tem como objetivo a importância da
família como coadjuvante no tratamento das pessoas com transtorno mental e contribuir
para a discussão sobre a qualidade de vida dos portadores. Realizou-se pesquisa
bibliográfica em periódicos nacionais, dissertações e teses, publicadas nos últimos dez
anos. Concluímos ser necessária uma reflexão por parte dos profissionais da área de
enfermagem sobre o seu papel neste processo, e também sobre o que tem sido oferecido à
família para que seja propiciada sua participação ativa na assistência do portador de
transtorno mental. É neste momento que o Enfermeiro pode atuar junto aos familiares
capacitando-os para o cuidado e vivência com a doença mental. Alguns instrumentos como
visitas domiciliares, reuniões semanais com familiares, grupos de orientações vem sendo
utilizados para envolver a família no cuidado; práticas estas ainda em construção na
maioria das instituições de assistência psiquiátrica e desenvolvida por outros técnicos da
equipe; fica o desafio à Enfermagem de assistir integralmente o portador de transtorno
mental e seus familiares, a fim de minimizar o sofrimento de ambos e capacitá-los para uma
vida em sociedade. Conclui-se que para a efetivação da prática, o Enfermeiro deve
estabelecer um vínculo com as famílias, oferecendo escuta para seus sentimentos, dúvidas e
angústias, aproximando-os e os tornando aliados do tratamento.
Descritores: Família, Saúde Mental e Transtornos Psiquiátricos.
ABSTRACT
The family of mental patients, excluded before treatment, is now in the process of
deinstitutionalization, adjuvant treatment. Handles an overload in living with mental illness
and may reject it and triggering successive psychiatric hospitalizations. This work aims the
importance of family support in the treatment of people with mental disorders and
contribute to the discussion on the quality of life of patients. Held in national literature,
theses and dissertations, published journals in the past decade. Completed a reflection by
nursing professionals about their role in this process, and also what has been given to the
family to be afforded their active participation in the care of patients with mental disorders
be required. It is at this point that the nurse can act with relatives empowering them to care
and living with mental illness. Some instruments such as home visits, weekly meetings with
families, groups of guidelines are being used to engage the family in care; These practices
still under construction at most care and psychiatric institutions developed by other
technical staff; the challenge is to fully assist the Nursing mental patients and their families
in order to minimize the suffering of both and empower them for life in society. It is
concluded that for effective practice, the nurse must establish a bond with families, offering
listening to their feelings, doubts and anxieties, approaching them and making allies of
treatment.
Keywords: Family, Mental Health and Psychiatric Disorders.
1 - INTRODUÇÃO
O interesse em trabalhar esta temática se deu pela dificuldade de trabalhar com
familiares portadores de transtorno mental, uma vez que a não compreensão da doença de
seu familiar reflete diretamente no cuidado e prognóstico de seu tratamento.
Até a primeira metade do século XX, predominou no Brasil uma assistência aos
portadores de transtornos mentais basicamente centradas nos grandes hospitais
psiquiátricos. Onde era feita a medicalização dos sintomas com o predomínio do saber
médico. Os vínculos e interações sociais do portador de transtorno mental não eram levados
em consideração, portanto sua família pouco se inseria neste contexto de tratamento, uma
vez que as internações eram exclusivamente de longa permanência (COLVERO, IDE e
ROLIM 2004).
Na segunda metade do século se iniciou o movimento da Reforma Psiquiátrica com
os seguintes objetivos: abolir a reclusão e repressão ao portador de transtorno mental e
promover seu tratamento em liberdade, restaurar seus vínculos e interações sociais; a
prática da discussão em grupo e a abordagem interdisciplinar. Para isso preconizava a
diminuição dos leitos nos Hospitais Psiquiátricos e a substituição deste tipo de tratamento
por uma rede de serviços psiquiátricos na comunidade, denominados Centro de Atenção
Psicossocial e Hospital-Dia (estes serviços são estruturas intermediárias entre a internação
integral e a vida comunitária), compostas por equipes interdisciplinares, que devem
responder as necessidades dos portadores de transtorno mental e seus familiares
(ANTUNES e QUEIROZ, 2007).
Segundo Antunes e Queiroz (2007), no Brasil este movimento se fortaleceu em
2001 com a aprovação do projeto de lei de “Paulo Delgado”, que dispõe sobre a proteção e
os direitos das pessoas portadoras de transtorno mental. Também proíbe a construção de
novos Hospitais Psiquiátricos no Brasil ou a contratação pelos serviços públicos. Os
tratamentos devem ser realizados em serviços comunitários de Saúde Mental, procurando
promover a reinserção social do portador de transtorno mental no meio em que vive. A
partir daí o familiar passa a ser corresponsável pelo tratamento do portador de transtorno
mental.
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Neste contexto histórico surge o desafio para a Enfermagem que trabalha com a
saúde mental: cuidar do portador de transtorno mental em outras modalidades de
tratamentos e de seus familiares.
Para Gonçalves e Sena (2001), com a reforma psiquiátrica no Brasil, espera-se o
estabelecimento da cidadania do portador de transtorno mental, que por muitos anos ficou
esquecida por traz dos muros dos grandes hospitais psiquiátricos. Podendo assim torna-lo
sujeito de seu tratamento, aumentando sua autonomia e reintegrando-o à família e à
sociedade.
Este mesmo autor ressalta a sobrecarga que a família enfrenta na convivência com o
doente mental, chegando a rejeitá-lo, desencadeando com isso sucessivas internações
psiquiátricas.
Para alguns autores, isto acontece porque antes da reforma psiquiátrica a família do
doente era excluída do cuidado por ser considerada causadora da doença e assim
atrapalharia a proposta de tratamento. Ou por desconhecer a doença e não saber como
ajudar seu familiar atribuía às grandes instituições asilares este cuidado (COLVERO, 2004;
SPADINI e SOUZA, 2006).
Já Campos e Soares (2005) atribuem esta dificuldade da família em cuidar do
portador de transtorno mental ao rompimento dos laços familiares causado pela cronicidade
da doença e pelos longos períodos em que o doente passou institucionalizado.
Com a proposta de desinstitucionalização a família do portador de transtorno
mental, passa a ser vista como forte aliada na recuperação e prevenção da cronificação do
doente, sendo determinante para o sucesso do tratamento do mesmo (CAMPOS e SOARES
2005; SPADINI e SOUZA, 2006).
Com isso passam a assumir os cuidados diretos com o portador de transtorno mental
que antes eram realizados pela Enfermagem como medicação, cuidados de higiene,
alimentação, lazer, entre outros (CATENA e GALERA, 2002).
Nas leituras realizadas fica claro o despreparo dos familiares em assumir o paciente,
por isso é importante que o Enfermeiro se aproxime destas famílias para orientá-los, de
maneira que se sintam fortalecidos no cuidar do portador de transtorno mental.
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Além disso, é necessário que todos os profissionais da equipe multiprofissional
estejam envolvidos no cuidado do portador de transtorno mental e seus familiares, sendo
este um desafio principalmente ao profissional Enfermeiro, que poderá atuar como agente
terapêutico e de mudança deste contexto.
Para Gonçalves e Sena (2001), é comum que profissionais da saúde mental exijam
da família que aceite a doença, assumindo os cuidados com o portador de transtorno
mental, sem oferecer-lhes suporte e orientações. Em seu estudo com cuidadoras de
portadores de transtorno mental revela que as famílias apresentam problemas de varias
ordens: emocionais – pois assumindo o cuidado com o portador de transtorno mental, acaba
negligenciando suas vontades e desejos como estudar, trabalhar, se relacionar afetivamente,
entre outros. Há ainda o medo do comportamento agressivo e violento do portador de
transtorno mental em seus momentos de crise.
Para muitas famílias a improdutividade do doente mental dificulta a aceitação da
doença por parte de alguns familiares, que ficam sobrecarregados financeiramente. Outras
famílias falam da discriminação social que sofrem por cuidarem de pessoas portadoras de
transtorno mental, ainda não aceitos socialmente (GONÇALVES e SENA, 2001).
Algumas famílias manifestam sua dificuldade em enfrentar a doença com
hostilidade, comentários críticos e super envolvimento emocional com o doente. É
importante que a Enfermagem tenha conhecimento acerca de possíveis problemas
enfrentados por familiares de portadores de transtorno mental para assim elaborar seu plano
de assistência aos mesmos (VILLARES, 1999).
Em sua pesquisa com familiares de portadores de transtorno mental grave
(esquizofrênicos), Villares (1999), observa que muitas famílias desconhecem a natureza da
doença, sua manifestação e curso. O que reflete numa desesperança quanto ao tratamento e
prognóstico da doença, pois chegam a relatar que esta doença não será curada pelos
médicos.
Segundo o mesmo autor outras famílias nomeiam o problema de seu familiar como
“problema de nervos”, demonstrando uma forma de minimizar o problema e seu
sofrimento.
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Uma vez que todas as pessoas podem apresentar certo nervosismo em algum
instante da vida. Tornando assim seu familiar doente, alguém que sofre, mas que é igual aos
outros. Esta interpretação aumenta a perspectiva de cura por parte dos familiares que o vê
como igual.
Outras famílias atribuem à doença como um problema de funcionamento ou na
forma da estrutura cerebral, sendo este o fator desencadeante dos sintomas. Há famílias
ainda que para suportar as dificuldades enfrentadas pela doença acreditam que “forças
superiores” como espíritos obsessores, seriam responsáveis pela manifestação da doença.
Villares, 1999 atribui isso a tentativa dos familiares de preencher as lacunas dos processos
inexplicáveis ou incompreensíveis, o que traz mais conforto frente ao sofrimento.
Encontram-se ainda familiares desmotivados e desinteressados frente à proposta de
tratamento feita pela instituição, devido a historia de fracassos e recaídas de tratamentos
anteriores (COLVERO, 2004).
Tais interpretações acerca de doença mental feita pelos familiares podem atrapalhar
seu envolvimento com o tratamento e cuidado com o portador de transtorno mental.
Portanto a Enfermagem deverá estar preparada para trabalhar estes conceitos e dar
subsídios científicos aos familiares e portadores de transtorno mental para que possam
compreender a doença mental.
No entanto com a reforma psiquiátrica a Enfermagem também sofreu modificações
na assistência ao portador de transtorno mental. Antes pautada na hospitalização e
contenção medicamentosa de seus sintomas, agora individualizando a assistência,
potencializando os familiares ao cuidado e trabalhar com a equipe multiprofissional.
Oliveira e Alessi (2003) destacam que estas mudanças trouxeram conflitos a
identidade do profissional Enfermeiro na saúde mental.
Alguns atribuem a isso a formação acadêmica que é deficitária para que Enfermeiro
possa atuar em psiquiatria, geralmente centrada em modelos asilares de assistência
(KANTORSKI e SILVA, 2000; CAMPOS e BARROS, 2000; SILVEIRA e ALVES 2003).
Isso dificulta ao Enfermeiro definir seu papel diante da equipe multiprofissional,
direcionando suas atividades a tarefas burocrática-administrativas, como forma de se
esquivar do cuidado direto com o portador de transtorno mental.
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Seu trabalho se concentra em gerenciar a equipe de Enfermagem e intermediar a
equipe multiprofissional, facilitando o trabalho de todos, porém não lhe resta tempo hábil
para atender diretamente o doente. Perde com isso a oportunidade de desenvolver seu papel
de agente terapêutico e facilitador na melhora da pessoa em sofrimento mental em aceitar a
si e melhorar suas relações pessoais.
Outros Enfermeiros demonstram ter conhecimento teórico de seu papel na equipe
multiprofissional, mas o que se vê é uma prática voltada aos modelos tradicionais de
medicalização e contenção dos sintomas. Ou ainda atribuem ao profissional médico a
responsabilidade e decisões sobre o tratamento do portador de transtorno mental, se
colocando fora das decisões e intervenções possíveis em relação à melhora do doente
(OLIVEIRA e ALESSI, 2003).
A fim de suprir esta carência os profissionais buscam a especialização para
instrumentalizar sua prática profissional e melhor definir seu papel diante da equipe,
podendo assim assumir com responsabilidade o cuidado ao portador de transtorno mental e
sua família, contribuindo para a melhora destes e participando ativamente da definição de
seu tratamento (SILVEIRA e ALVES, 2003).
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2. OBJETIVO GERAL
Assinalar a importância da família como coadjuvante no tratamento das pessoas
com transtorno mental – apontando intervenções da Enfermagem e contribuir para a
discussão sobre a qualidade de vida dos portadores de saúde mental sobre a ótica dos
profissionais de enfermagem.
2.1 JUSTIFICATIVA
Em dias atuais, devido às propostas de mudança da Reforma Psiquiátrica, está em
funcionamento uma rede ampla e diferenciada de serviços substitutivos do modelo
psiquiátrico tradicional. De maneira geral, eles se caracterizam pela utilização intensiva de
um conjunto amplo e complexo de tecnologias terapêuticas e práticas psicossociais
dirigidas para manter o portador de transtorno mental na comunidade. Todavia, cabe
pontuar que é uma vivência repleta de obstáculos, dificuldades, incertezas e sofrimentos.
Neste contexto, esse estudo privilegia a relação entre o portador de transtorno
mental, sua família e o serviço de saúde mental, enfatizando os aspectos instituídos e
instituintes dessa relação, desvendando o que dificulta o necessário e real apoio no
tratamento do usuário, por parte do familiar, e o que pode propiciá-lo.
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3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que segundo Oliveira (2001), consiste num
levantamento bibliográfico realizado em bibliotecas públicas de faculdades, universidades,
bibliotecas virtuais, e tem por objetivo conhecer as diferentes formas de construção
cientifica realizadas sobre o mesmo tema.
Segundo Marconi e Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica tem por finalidade
colocar o pesquisador em contato direto com tudo àquilo que foi escrito sobre determinado
assunto, permitindo o reforço paralelo na analise e manipulação de suas informações. Para
Cervo e Bervian (2000), a pesquisa bibliográfica tem por objetivo familiarizar-se com o
fenômeno e descobrir relações existentes entre os elementos componentes da mesma,
considerando os diversos aspectos de um problema ou situação.
O levantamento de dados foi realizado de Janeiro à Abril de 2014, nas bibliotecas
virtuais BIREME e SCIELO, utilizando como base de dados LILACS, BDENF e PERINF.
Também foi consultado o acervo das bibliotecas: Biblioteca de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, utilizando os seguintes descritores: “Família, Transtorno
Mental, Psiquiatria e Enfermagem”. Com estes descritores foram encontradas cerca de
1700 publicações científicas entre livros, periódicos, teses e dissertações. Destes foram
selecionados 15 artigos pertinentes à temática abordada, que foram escritos por diversos
profissionais envolvidos na prática da saúde mental e psiquiátrica, não sendo
necessariamente Enfermeiros, estar em língua portuguesa e ter no máximo dez anos de
publicação.
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4. RESULTADO E ANALISE
Para que a Enfermagem psiquiátrica melhore sua assistência ao portador de
transtorno mental se faz necessário seu envolvimento direto e efetivo com os familiares. Ser
capaz de levantar suas reais necessidades e demandas. Para com isso poder propor um
plano de tratamento individualizado, que vise à melhora do doente e sua reinserção na
família e sociedade.
Colvero (2004) e Rosa (2005) destacam que algumas vezes a assistência prestada a
familiares nas instituições vai de encontro às necessidades da instituição e não do doente e
familiar. Uma vez que estes comparecem à instituição apenas para fornecer mais dados do
doente à equipe, momento este em que seus sentimentos e sofrimento psíquico devem ser
suprimidos em função de seu familiar. E na sua alta receber as orientações e seguir com
passividade as prescrições do tratamento oferecido.
É neste momento em que o profissional Enfermeiro pode atuar a fim de estabelecer
um vínculo com estes familiares e oferecer principalmente escuta de seus sentimentos e
angústias.
Para esta autora a relação da família com o profissional deverá ser estruturada para
favorecer a relação dos mesmos com o serviço. Tornando o familiar um parceiro para o
tratamento do portador de transtorno mental.
O Enfermeiro então poderá assumir o papel de facilitador desta relação da família
com a instituição, estabelecendo um vínculo de ajuda mútua.
Além disso, acredita-se como Waidman (1999) que quando alguém tem um
transtorno mental não é só ele que sofre, mas toda sua família, por isso a necessidade de
oferecer apoio e acompanhamento também a eles.
Esta mesma autora sugere a visita domiciliar como instrumento para facilitar o
vínculo entre profissional e familiar. Acredita que se o profissional conhecer a realidade em
que esta família vive poderá melhor avaliar e propor alternativas de tratamento de acordo
com realidade de cada um.
Reinaldo e Rocha (2002) apoiam o uso da visita domiciliar como instrumento de
trabalho do Enfermeiro, pois acreditam que com esta abordagem é possível entender a
dinâmica familiar e envolvê-la no tratamento.
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Também usada após a alta, evita reinternações, uma vez que é possível avaliar a
continuidade do tratamento e intervir precocemente.
As mesmas autoras citam Mechanic e McAlpine que destacam: as visitas de
Enfermagem são direcionadas a orientar o usuário quanto ao transtorno mental,
autocuidado, identificação de situações de risco e uso de medicação.
Pensando nos benefícios citados da visita domiciliar é que o Enfermeiro pode e deve
fazer uso deste recurso terapêutico como estratégia para envolver a família do portador de
transtorno mental no tratamento.
Assim como torná-las seguras para uma vida em
comunidade.
Villares (2000) em sua pesquisa demonstra o quanto os familiares de portadores de
transtorno mental necessitam de apoio e esclarecimentos. Não encontrando isso junto aos
profissionais se organizam e formam grupos de auto-ajuda, com outros familiares que
vivenciam de experiências parecidas. Com isso trocam informações, experiências,
aprendem uns com os outros criando uma rede de ajuda mutua.
Estes grupos de auto-ajuda criados por familiares são importantes, pois os fortalece
na vivencia com a doença mental. Mas pode ser marcado por experiências negativas de
tratamentos anteriores e pré-conceitos adquiridos na própria sociedade acerca de doença
mental. Por isso além destes grupos se faz necessário à abordagem profissional para
orientar e capacitar o familiar para o cuidado com o portador de transtorno mental.
É neste tipo de intervenção direta com a família que o Enfermeiro deve atuar a fim
de capacitá-los para e a vivencia coma doença mental.
Como reforça Villares (2000), deve ser oferecida à família intervenção psicossocial
com informações sobre a doença, intervenção na crise, busca de soluções simples para os
problemas por um período mínimo de nove meses.
A mesma autora destaca em sua experiência em trabalhar com familiares de
portadores de transtorno mental a necessidade de entender a doença do ponto de vista da
família, para então aproximá-los de conceitos científicos da doença.
Outra estratégia utilizada por Villares (2000) é a realização de um projeto educativo
com familiares e profissionais. Onde temas relevantes são escolhidos e discutidos em grupo
a fim de compartilhar experiências, trocar informações e buscar alternativas para melhor
conviver com a doença.
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Com este projeto puderam concluir que os pacientes cujas famílias participavam
aderiam melhor ao tratamento.
Para Rosa (2005), as reuniões semanais com familiares são importantes, para tirar
dúvidas sobre a enfermidade e estabelecer um canal de comunicação entre os familiares e
profissionais. Mas segundo ela esta prática está em construção na vivência psiquiátrica
atual, devendo ser ampliada e oferecida em todos os serviços.
A maioria das vivências e experiências de profissionais com familiares de
portadores de transtorno mental descritas na literatura e aqui representadas é de outros
profissionais da equipe multiprofissional como psicólogos e assistentes sociais. O que traz a
reflexão acerca do envolvimento do profissional Enfermeiro neste tipo de atividade.
Faz-se necessário que o profissional Enfermeiro assuma o papel de cuidador
também dos familiares dos portadores de transtorno mental, uma vez que muitos são os
benefícios de seu envolvimento no tratamento.
Durante a pesquisa foram levantadas algumas sugestões de intervenções para
instrumentalizar a prática do Enfermeiro no cuidado com a família do portador de
transtorno mental, mas como foi dito anteriormente esta é uma prática que está em
construção na maioria das instituições de assistência a psiquiátrica. Portanto ainda há muito
trabalho a ser desenvolvido pelo Enfermeiro neste campo.
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5. CONCLUSÃO
Para a família do portador de transtorno mental a convivência com a doença mental
veio junto com a Reforma Psiquiátrica e a proposta de desinstitucionalização. Devendo o
doente retornar a convivência familiar e à sociedade. Com isso se depararam com uma nova
realidade: conviver com a doença mental. Passaram então a enfrentar algumas dificuldades
antes desconhecidas como sobrecarga financeira, medo do comportamento violento de seu
familiar, dúvidas sobre a doença, discriminação social. Por não saberem como lidar com
estas situações chegam a expressar desânimo, desinteresse e até hostilidade. No entanto
envolver a família do portador de transtorno mental no tratamento pode favorecer o
prognóstico do doente, além de fortalecê-los para lidar com a doença mental.
Embora a Reforma Psiquiátrica tenha tido repercussões positivas com os familiares
e a comunidade em geral, a partir da pesquisa realizada, ainda fica clara a necessidade de
melhorar a relação do serviço de saúde mental com a família.
Diante dessa temática observamos que é fundamental que os profissionais de
Enfermagem criem vínculos, conheça a casa, a família, para poder cuidar. É importante a
atenção voltada para o portador de transtorno mental, mas também é relevante que a família
esteja inserida no processo. Para que seja parceira do serviço, ela precisa ser cuidada,
necessita de alguém para escutá-la, acolhê-la e orientá-la. A partir do momento em que isso
é proporcionado aos familiares, todos passam a sentir que estão envolvidos na assistência, e
fica mais fácil para a família ser parceira da equipe.
Portanto fica o desafio para o Enfermeiro assistir de forma integral o portador de
transtorno mental e seus familiares para reconstruírem juntos a cidadania e autonomia das
pessoas que convivem com a doença mental.
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