UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E AÇÕES COMUNITÁRIAS DEPARTAMENTO DE EXTENSÃO PROGRAMA DE INCLUSÃO, ACESSO E PERMANÊNCIA __________________________________________________________________________________________________________________________________ Povos da Antiguidade A história da Grécia, como de outras civilizações, foi fortemente condicionada pelo ambiente geográfico. A península Balcânica e muito recortada e cercada por centenas de ilhas - tanto no mar Egeu, no mar Jônio e no mar Mediterrâneo. O seu relevo é muito montanhoso e com um solo árido. Em decorrência disto, os gregos irão atribuir uma enorme importância às atividades mercantis. O solo e o clima auxiliam o desenvolvimento da cultura de oliveira, de vinho e ao Pastoreio (cabra e ovelha). Para suprir as necessidades de sua população, os gregos irão se dedicar ao comércio marítimo, resultado o processo de colonização. Dos povos do mundo antigo, os helênicos foram os que melhores refletiram o espírito do homem ocidental. A ideia de liberdade, o racionalismo, o conceito de cidadania, a filosofia e as bases da ciência moderna surgiram como glorificação grega ao Espírito humano. O processo histórico da civilização Helênica está assim dividido: 1) Período Pré-Homérico - século XX a.C ao século XII a.C . 2) Período Homérico - século XII a.C ao século VIII a.C. 3) Período Arcaico - século VIII a.C ao século VI a.C . 4) Período Clássico - século V a.C ao século IV a.C. Os gregos contribuíram muito para o mundo ocidental, verificamos a presença deste povo nas artes, nos princípios éticos e políticos. Os primeiros povos a ocupar a Grécia foram os Pelasgos em 2000 a.C., porém depois seu território foi invadido por povos indo-europeus conhecidos também como helenos. A chegada destes povos foi decisiva para a história política da Grécia, porém eles não realizaram uma ocupação uniforme no território grego. Com esses povos se iniciavam os tempos homéricos. Homero é o suposto autor das obras ―Ilíada‖ e ―Odisséia‖, essas obras são grande fonte de referência histórica para se conhecer esse período. AS CIDADES-ESTADOS: ESPARTA Características - Legislação severa - Militarismo - Estrutura social rígida. Dividia a sociedade em 3 grupos. Elite: eram os espartanos ou esparciatas. Por serem os únicos considerados cidadãos, podiam controlar a religião a política e os assuntos militares. - Periecos: eram livres e se dedicavam ao comércio e ao artesanato. - Hilotas: prisioneiros de guerra, eram a maioria da população. Os espartanos temiam rebeliões dos hilotas, por esta razão fizeram da cidade um verdadeiro campo militar. Aos sete anos, os meninos passavam a pertencer ao Estado e eram educados para a guerra, se desobedecessem eram punidos. Toda essa submissão causava transtornos entre as famílias, pois o cidadão espartano servia ao exército até os 60 anos. O governo espartano era monárquico: dois reis comandavam os exércitos e representavam os interesses das principais famílias espartanas. ATENAS Características Sociedade dividida em 3 grupos: - cidadãos: eram os proprietários de terra e o grupo mais poderoso. - metecos: estrangeiros que se envolviam com o comércio e artesanato. - escravos: não tinham direito político, assim como as mulheres. -Comércio ativo: Exportavam: vinho, azeite, artesanato. Importavam: cobre, ferro e trigo. Antes de se tornar uma Democracia (PESQUISEM mais sobre a democracia ateniense), Atenas conheceu a monarquia, oligarquia (governo de poucas pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família) e a tirania. LÍDERES Drácon (legislador) Sólon (legislador) Pisístrato (tirano) Hípias (tirano) Hiparco (tirano) Ciências da Humanas suas Tecnologias Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Iságoras (último tirano) Clístenes (sob seu comando, Atenas entrou em um período de reformas políticas que beneficiavam os mais pobres). Nos séculos V e IV a.C. (Período Clássico), os gregos se envolveram em várias guerras. 1) Guerras Médicas: lutaram contra os persas, pois estes haviam construído um império que ameaçava as colônias gregas. 2) Guerra do Peloponeso (Atenas X Esparta): Esparta saiu vencedora. 3) Tebas X Esparta: Tebas saiu vencedora. CULTURA GREGA Características - A mitologia grega incluía deuses, semideuses e heróis. - Seus deuses tinham emoções parecidas com os seres-humanos, porém eram imortais. Zeus era o soberano do Olimpo (situado ao norte da Grécia). - Alguns deuses eram homenageados em templos. - Os gregos não se preocupavam com a vida após a morte. - Corpos eram cremados e os cultos eram baseados em sacrifícios humanos. - Outra forma de homenagear os deuses eram nos jogos pan-helênicos e nas Olimpíadas, feitas em homenagem a Zeus. - A mitologia grega trazia ensinamentos e exemplos para a reflexão. Os gregos procuravam fornecer explicações para os mistérios da natureza e dos sentimentos humanos. - Arte era centrada no homem, ou seja, era antropocêntrica. - Exemplos de artistas: Escultura: Fídias, Míron e Praxíteles, são os mais conhecidos, porém o primeiro foi o mais atuante. Teatro: Ésquilo (―Prometeu acorrentado‖), Sófocles (―Édipo rei‖), Eurípedes (―Medéia‖) e Aristófanes (―As nuvens‖ e ―As rãs‖). Poesia: Homero. Suposto autor da‖ Ilíada‖ e ―Odisséia‖. A ―Ilíada‖ narra a Guerra de Tróia e a ―Odisséia‖ conta as aventuras de Ulisses ao voltar para casa após o término dessa guerra. Outros autores: Hesíodo, Heródoto e Tucídides. Filosofia: Pitágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles. Observação: A Grécia fez importantes contribuições ao campo da arte, da literatura e da filosofia: seus escultores e arquitetos, poetas e dramaturgos, filósofos e legisladores lançaram as bases longínquas de toda a cultura ocidental; suas colônias estenderam-se até o mar Negro, norte da África e sul da Itália e França, mas a constante rivalidade, sobretudo entre Esparta e Atenas, acabou enfraquecendo a civilização grega permitindo a sua conquista por Filipe da Macedônia em 338 a.C. Seu filho, Alexandre, O Grande difundiu largamente a civilização helênica, como citado anteriormente. A CRISTANDADE MEDIEVAL IDADE MÉDIA A Idade Média é o período histórico compreendido entre os anos de 476 (queda de Roma) ao ano de 1453 (a queda de Constantinopla). Este período apresenta uma divisão, a saber: ALTA IDADE MÉDIA (do século V ao século IX) fase marcada pelo processo de formação do feudalismo. BAIXA IDADE MÉDIA (do século XII ao século XIV) – fase caracterizada pela crise do feudalismo. Entre os séculos IX e XII observa-se a cristalização do Sistema Feudal. ALTA IDADE MÉDIA - Período do século V ao século IX é caracterizado pela formação do Sistema Feudal. Neste período observa-se os seguintes processos históricos: a formação dos Reinos Bárbaros, com destaque para o Reino Franco; o Império Bizantino - parte oriental do Império Romano - e a expansão do Mundo Árabe. Grosso modo, a Alta Idade Média representa o processo de ruralização da economia e sociedade da Europa. OS REINOS BÁRBAROS Para os romanos, "bárbaro" era todo aquele povo que não possuía uma cultura greco-romana e que, portanto, não vivia sob o domínio de sua civilização. Os bárbaros que invadiram e conquistaram a parte ocidental do Império Romano eram os Germânicos, que viviam em um estágio de civilização bem inferior, em relação aos romanos. Eles não conheciam o Estado e estavam organizados em tribos. Os Germânicos não conheciam o Estado, vivendo em comunidades tribais - cuja principal unidade era a Família. A reunião de famílias constituía um Clã e o agrupamento de clãs formava a Tribo. Página 2 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 A instituição política mais importante dos povos germânicos era a Assembleia de Guerreiros, responsável por todas as decisões importantes e chefiada por um rei (rei que era indicado pela Assembleia e que, por isto mesmo, controlava o seu poder). Os jovens guerreiros se uniam - em tempos de guerra - a um chefe militar por laços de fidelidade, o chamado Comitatus. A sociedade germânica era assim composta: - Nobreza: formada pelos líderes políticos e grandes proprietários de terras; - Homens-livres: pequenos proprietários e guerreiros que participavam da Assembleia; - Homens não-livres: os vencidos em guerras que viviam sob o regime de servidão e presos à terra e os escravos – grupo formado pelos prisioneiros de guerra. Economicamente, os germânicos viviam da agricultura e do pastoreio. O sistema de produção estava dividido nas propriedades privadas e nas chamadas propriedades coletivas (florestas e pastos). A religião era politeísta e seus deuses representavam as forças da natureza. Como vimos o contato entre Roma e os bárbaros, a princípio, ocorreu de forma pacífica até meados do século IV. À partir daí, a penetração germânica deu-se de forma violenta, em virtude da pressão dos hunos. Também contribuíram para a radicalização do contato: crescimento demográfico entre os germanos, a busca por terras férteis, a atração exercida pelas riquezas de Roma e a fraqueza militar do Império Romano. Entre os povos germânicos, os Francos são aqueles que irão constituir o mais importante reino bárbaro e que mais influenciarão o posterior desenvolvimento europeu. EXPANSÃO A expansão árabe representou um maior contato entre as culturas do Oriente e do Ocidente. No aspecto econômico a expansão territorial provocará o bloqueio do mar Mediterrâneo, contribuindo para a cristalização do feudalismo europeu, ao acentuar o processo de ruralização e fortalecendo a economia de consumo. O FEUDALISMO O feudalismo é um sistema econômico, político e social fundamentado na propriedade sobre a terra. Esta pertence ao senhor feudal que cede uma porção dessa terra ao vassalo em troca de serviços ocasionando uma relação de dependência. O feudalismo se inicia com o período das invasões bárbaras e a posterior queda do Império Romano do Ocidente (Século V) que transformam toda a estrutura política e econômica da Europa Ocidental descentralizando-a. Os povos ―bárbaros‖ ao ocuparem parte das terras da Europa Ocidental contribuem com o processo de ruralização e o surgimento de diversos reinos, dentre os quais se destacou o Reino dos Francos. Mas é no Reino Carolíngeo que se solidificam as principais estruturas do feudalismo. Predominante durante toda a Idade Média, o feudalismo se caracteriza pelas relações de vassalagem (dependência pessoal) e de autoridade e posse da terra. As vilas e o colonato tornam-se o centro da nova estrutura socioeconômica que tem um sistema produtivo basicamente voltado para o suprimento das necessidades individuais dos feudos. Os feudos, por sua vez, constituíam a unidade territorial da economia feudal, caracterizando-se pela sua autossuficiência econômica, produção predominantemente agropastoril e ausência quase total de comércio. Nos feudos, a produção de arte ocorre nos castelos. Geralmente divididos em três áreas: o domínio, exclusivamente do senhor feudal e trabalhada pelo servo; a terra comum, matas e pastos que podem ser utilizados tanto pelo senhor quanto pelos servos; e o manso servil, que destinado aos servos era dividido em áreas denominadas ―glebas‖ de onde metade de toda produção deveria ser destinada ao senhor feudal (talha - um tipo de imposto), os feudos podiam tanto ser enormes territórios com cidades inteiras dentro deles, ou apenas uma fazenda, variando muito de um para o outro. Na época do Reino Carolíngeo, feudo significava ―benefício‖, era o nome dado ao benefício que o suserano cedia ao vassalo e, que na maioria das vezes era a posse de terras. Daí o porquê que ―feudo‖ designa hoje a propriedade em si. Com uma estrutura social estática e hierarquizada podemos identificar a vassalagem e a suserania como as principais relações da sociedade feudal. O senhor feudal ou suserano era quem tinha a posse das terras e as cedia aos vassalos que deveriam trabalhar nelas para sustento próprio e, no que chamavam de corvéia, o trabalho gratuito Página 3 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 para o senhor feudal durante três dias por semana. A sociedade era basicamente composta por duas camadas principais: os senhores e os servos. O clero, embora de muita importância na sociedade feudal, não constituía uma classe separada uma vez que os componentes do clero, ou eram senhores (alto clero), ou eram servos (baixo clero). Entretanto, a relação de suserania é mais complexa uma vez que as terras eram cedidas não aos camponeses, mas a outros senhores ou cavaleiros que assumiam um compromisso de fidelidade com o suserano. Este cedia terras em troca de mais poder e um aumento no contingente de seu exército. O que, na prática, não significava que ele possuía poder sobre os outros feudos uma vez que o poder era descentralizado. A Igreja nesse período assume a posição de único poder centralizado. Aliás, a que se considerar a enorme importância da Igreja na sociedade feudal uma vez que naquela época toda a formação moral, social e ideológica era fortemente influenciada pelo clero. O fim do sistema feudal costuma ser delimitado pela queda do Império Romano do Oriente (Queda de Constantinopla) no século XV e, na Europa deveu-se a diversos motivos econômicos, sociais, políticos e religiosos. Dentre eles podemos destacar a fome ocasionada pela estagnação das técnicas agrícolas aliada ao crescimento excessivo da população; a peste que assolou a Europa dizimando um terço da população já bastante debilitada pela fome; o esgotamento das reservas minerais que abalou a produção de moedas afetando inevitavelmente as operações bancárias e o comércio; a ascensão da burguesia e a crise religiosa ocasionada pela necessidade de uma nova filosofia religiosa e novas necessidades espirituais. O RENASCIMENTO CULTURAL Características do Renascimento Cultural: O Renascimento ocorreu, em maior ou menor grau, em várias regiões da Europa, várias regiões da Europa. Começou na Itália e expandiu-se para a França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Holanda. Apesar das diversidades regionais, observamos características comuns e fundamentais do Renascimento, que veremos a seguir. Retomada da cultura clássica: Denominamos de cultura clássica o conjunto de obras literárias, filosóficas históricas e de artes plásticas produzidas pelos gregos e pelos romanos na Idade Antiga. Os pensadores do Renascimento queriam, acima de tudo, conhecer, estudar e aprender os textos da cultua clássica, vistos como portadores de reflexões e conhecimentos que mereciam ser recuperados. É importante salientar que a retomada dos textos da cultura greco-romana teve como objetivo o conhecimento de outras formas de pensar, não para copiá-las, mas sim para refletir sobre elas, entro do contexto próprio da passagem da Idade Média para a Idade Moderna. O pensamento renascentista originou-se da articulação entre os valores culturais presentes nos textos antigos e aqueles herdados do pensamento medieval católico. O homem é a medida de todas as coisas: Talvez a mais marcante característica do Renascimento tenha sido a valorização do ser humano. O humanismo (ou antropocentrismo, como é chamado com frequência) colocou a pessoa humana no centro das reflexões. Não se trata de opor o homem a Deus e medir forças. Deus continuou soberano diante do ser humano. Tratava-se, na verdade, de valorizar as pessoas em si, encontrar nelas as qualidades e as virtudes negadas pelo pensamento católico medieval. O ideal de universalidade: Os renascentistas acreditavam que uma pessoa poderia vir a aprender e a saber tudo o que se conhece. Seu ideal de ser humano era, portanto, aquele que conhecia todas as artes e todas as ciências. Leonardo da Vinci foi considerado, por essa razão, o modelo do homem renascentista, pois dominava várias ciências e artes plásticas. Ele conhecia Astronomia, Mecânica, Anatomia, fazia os mais variados experimentos, projetou inúmeras máquinas e deixou um grande número de obras-primas pintadas e esculpidas. Da Vinci foi a pessoa que mais conseguiu se aproximar do ideal de universalidade. A valorização da razão e da natureza O Renascimento foi marcado pelo racionalismo, que se traduziu na adoção de métodos experimentais e de observação da natureza. Por essas preocupações e valores, os pensadores e escritores do Renascimento eram conhecidos como humanistas. Página 4 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Resumo dos fundamentos do Renascimento: O Renascimento significou uma nova arte, novas mentalidades e foras de ver, pensar e representar o mundo e os humanos. Principais características do Renascimento: a) antropocentrismo (o homem como centro do universo): valorização do homem como ser racional e como a mais bela e perfeita obra da natureza; b) otimismo: os renascentistas tinham uma atitude positiva diante do mundo – acreditavam no progresso e na capacidade humana e apreciavam a beleza do mundo tentando captá-la em suas obras de arte; c) racionalismo: contrapondo à cultura medieval, que era baseada na autoridade divina, os renascentistas valorizavam a razão humana como base do conhecimento. O saber como fruto da observação e da experiência das leis que governam o mundo; d) humanismo: os humanistas eram estudiosos, sábios e filósofos, que traduziam e estudavam os textos clássicos greco-romanos. Os conhecimentos dos humanistas eram abrangentes e universais, versando sobre diversas áreas do saber humano. Com base nesses estudos, fundamentou-se à valorização do espírito humano, das capacidades, das potencialidades e das diversidades dos seres humanos; e) hedonismo: valorização dos prazeres sensoriais, carnais e materiais, contrapondo-se a ideia medieval de sofrimento e resignação. Expressão cultural na Renascença A arte da Renascença também se caracterizou pelo humanismo, naturalismo e realismo na representação de seres e por uma grande preocupação com a racionalidade, o equilíbrio, a simetria e a objetividade, tanto na arquitetura, pintura e escultura quanto na literatura. A música passou a explorar, cada vez mais, temas nãoreligiosos e a utilização da técnica do contraponto deu maior liberdade de criação os compositores. Sem abandonar a fé e a religião, o renascentista não se sentia submetido, mas inspirado e iluminado por elas. Ao contrário do que acontecia na Idade Média, a ciência e a filosofia tornaram-se campos diferenciados. Os estudos científicos valiam-se da indução, da observação da experimentação, buscando explicação naturais enquanto o pensamento filosófico buscava entender a natureza e todas as possibilidades do conhecimento humano. REFORMA E CONTRA-REFORMA A Igreja Católica vinha perdendo prestigio desde o final da Idade Média, sendo o alvo favorito das críticas sociais, pois era grande o descontentamento com as desigualdades sociais, apesar do Renascimento ter cultivado novos valores. Diversos cristãos passaram a condenar energicamente uma serie de abusos e de corrupções que vinham sendo praticados. Despejavam-se ataques contra o comportamento imoral dos sacerdotes, contra o clima de corrupção existente entre o clero, contra o comércio de relíquias sagradas (objetos pessoais dos santos, espinhos da coroa de cristo); bem como a venda de indulgencias (mediante certo pagamento os fiéis poderiam comprar a própria salvação). Por outro lado, a Igreja insistia em se apresentar como instituição universal que unia o mundo cristão. Essa noção de universalidade foi perdendo força, pois crescia o sentimento nacionalista, que surgiu com o fortalecimento das monarquias nacionais. Os reis passaram a encarar a igreja, que tinha sede do Vaticano e falavam Latim, como entidade estrangeira que interferia em seus países. Todo esse processo de crítica contra a Igreja católica desencadeou um movimento de rompimento religioso: a Reforma Protestante do século VXI. Foi essa reforma que quebrou a unidade cristã. LUTERANISMO Martinho Lutero (1483 – 1546) Nascido na Alemanha, estudou teologia na Universidade de Frankfurt e tornou-se monge agostiniano. Revoltado com a veda de indulgencias, Lutero afixou nas portas da Igreja de Winttenberg, Alemanha, um manifesto público (95 teses), em que criticava e denunciava os abusos da Igreja católica e também expunha os elementos de sua doutrina. Essa atitude provocou um conflito com o papa Leão X que, para punir Lutero o excomungou. Para demonstrar firmeza e descaso com a igreja católica, Lutero queimou em praça pública a bula papal que o condenava. Apesar das perseguições do papa e do Imperador Carlos V, Lutero conseguiu apoio junto aos Página 5 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 príncipes alemães e sob proteção, traduziu a Bíblia para o Alemão popular e escreveu os preceitos de uma nova Igreja: a Igreja protestante. Os ensinamentos de Lutero baseiam-se em dois grandes princípios: 1- A Bíblia é a única fonte da verdade religiosa; 2- Só a fé salva; a pratica religiosa não interfere na salvação do indivíduo. Lutero também decretou o fim da veneração dos santos e da Virgem Maria. Em seu lugar, propôs a meditação e a leitura das sagradas escrituras que podiam ser livremente interpretadas, possibilitando dessa forma novas religiões como Calvinismo e o Anglicanismo. CALVINISMO João Calvino (1509 – 1564) Nasceu em Noyon, na França, e desenvolveu nesse país seus estudos de Teologia e de Direito. Influenciado por Guilherme Farel, aderiu as ideias protestantes. Algumas de suas ideias divergiam de Lutero. Enquanto este criticava os hábitos burgueses, atribuindo a corrupção da Igreja Católica ao fato de a burguesia ter instaurado a prática do comércio, Calvino, como vivia em grande centro comercial, apoiava a prática burguês, embora criticasse os abusos da Igreja. Acreditava-se que o ser humano estava predestinado a merecer o céu ou inferno. O sinal da salvação do homem estava no enriquecimento, pois, o homem trabalhando, se conseguisse alcançar sucesso e poupar dinheiro, estaria tendo um sinal de Deus e estaria salvo. Além da Suíça, outros países aderiram ao Calvinismo, como França (Huguenotes), Inglaterra (puritanos), Escócia (presbiterianos), e na Holanda. ANGLICANISMO Henrique VIII (1509 – 1547) Rei da Inglaterra, tinha sido um fiel aliado do papa. Porém uma série de questões políticas e econômicas o levaram a romper com a Igreja Católica e a fundar, na Inglaterra, a Igreja anglicana. Henrique VIII, já casado com Catarina de Aragão, não possuía um com ela um filho homem, o qual pudesse sucede-lo ao trono. Com isso pediu ao papa a anulação de seu casamento para casar-se então com Ana Bolena. Porém o papa Clemente VIII não aceitou o pedido. O rei então, por meio de juízes rompe seu casamento, e se casa com Ana Bolena, levando-o a ser excomungado pelo papa, e por consequência seu rompimento com a igreja Católica. O Parlamento Inglês aprovou, em 1534, o “Ato de Supremacia” pelo qual o rei Henrique VIII seria agora o chefe supremo da Igreja e dono de todos os bens. Senso assim, surgia a nova Igreja Anglicana, o que não significou profundas mudanças em torno das doutrinas e cultos em relação a igreja católica, modificando em suma o líder supremo. CONTRA-REFORMA Seus principais líderes foram os papas Paulo III (1534-1559), Pio V (1566-1572) e Xisto V (1585-1590). As medidas de moralização e reorganização da Igreja Todo um conjunto de medidas foi colocado em prática pelos líderes da Contra-Reforma, tendo em vista deter o avanço do protestantismo. Entre essas medidas, destaca-se a aprovação da Ordem dos Jesuítas, a convocação do Concílio de Trento e o restabelecimento da Inquisição. A OREDEM DOS JESUITAS No ano de 1540, o papa Paulo III aprovou a criação da Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus, que tinha sido fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, em 1534. Inspirando-se na estrutura militar, os jesuítas consideravam-se os soldados da igreja, sua tropa de elite, cuja missão era combater a expansão do protestantismo. Entretanto, o combate deveria ser travado com as armas do espírito, e para isso Inácio de Loyola escreveu um livro básico, chamado os exercícios espirituais, em que se propunha a programar a conversão do indivíduo ao catolicismo, mediante técnicas de contemplação. A criação de escolas religiosas foi um dos principais instrumentos da estratégia dos jesuítas. Outra arma utilizada foi à catequese dos nãocristãos, isto é, os jesuítas empenharam-se em converter ao catolicismo os povos dos continentes recém-descobertos. O objetivo era expandir o domínio católico para os demais continentes. O CONCILIO DE TRENTO No ano de 1545, o papa Paulo III convocou um concílio, cujas primeiras reuniões foram realizadas na cidade de Trento, na Itália. Ao final dos longos anos de trabalho, terminados em 1563, o concílio apresentou um conjunto de decisões Página 6 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica. Reagindo às idéias protestantes, o Concílio de Trento reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como, por exemplo: Salvação humana - depende da fé e das boas obras humanas. Rejeitava-se, portanto, a doutrina da predestinação. Fonte de fé – o dogma religioso tem como fonte a Bíblia, cabendo à Igreja dar-lhe a interpretação correta, e a tradição religiosa, conservada pela Igreja e transmitida às novas gerações. O papa reafirmava sua posição de sucessor de Pedro, a quem Jesus Cristo confiou a construção da sua Igreja. A missa e a presença de Cristo – a igreja reafirmou que no ato da eucaristia ocorria a presença real de Jesus no pão e no vinho. Essa presença real de Cristo era rejeitada pelos protestantes. O Concílio de Trento determinou, ainda, a elaboração de um catecismo com os pontos fundamentais da doutrina católica, a criação de seminários para a formação dos sacerdotes e a manutenção do celibato sacerdotal. A INQUISIÇÃO No ano de 1231 a Igreja católica havia criado os tribunais da Inquisição, que, com o tempo, reduziram suas atividades em diversos países. Entretanto, com o avanço do protestantismo, a Igreja decidiu reativar, em meados do século XVI, o funcionamento da inquisição, que se encarregou, por exemplo, de organizar uma lista de livres proibidos aos católicos, o Index librorum prohibitorum. Uma das primeiras relações de livros proibidos foi publicada em 1564. ABSOLUTISMO – MERCANTILISMO O ABSOLUTISMO MONÁRQUICO CONCEITO: Entende-se por Absolutismo, o processo de centralização política nas mãos do rei. É resultado da evolução política das Monarquias Nacionais, surgidas na Baixa Idade Média; fruto da aliança rei - burguesia. FATORES DO ABSOLUTISMO 1) Aliança rei - burguesia: A burguesia possuía um interesse econômico na centralização do poder político: a padronização monetária, dos pesos e medidas. Adoção de mecanismos protecionistas, garantindo a expansão das atividades comerciais; a adoção de incentivos comerciais contribuía para o enfraquecimento da nobreza feudal e este enfraquecimento- em contrapartida- garantia a supremacia política do rei. 2) Reformas Religiosas: A decadência da Igreja Católica e a falência do poder papal contribuíram para o fortalecimento do poder real. Durante a Idade Média, o poder estava dividido em três esferas: - poder local, exercido pela nobreza medieval; - poder nacional, exercido pela Monarquia; - poder universal, exercido pelo Papado. Assim, o processo de aliança rei - burguesia auxiliou no enfraquecimento do poder local; as reformas religiosas minaram o poder universal colaborando para a consolidação do poder real. 3) Elementos Culturais: O desenvolvimento do estudo de Direito nas universidades e a preocupação em legitimar o poder real. O Renascimento Cultural contribuiu para um retorno ao Direito Romano. MECANISMOS DO ABSOLUTISMO MONÁRQUICO A) Criação de um Exército Nacional: Instrumento principal do processo de centralização política. Formado por mercenários, com a intenção de enfraquecer a nobreza e não armar os camponeses. B) Controle do Legislativo: Todas as decisões do reino estavam controladas diretamente pelo rei, que possuía o direito de criar as leis. C) Controle sobre a Justiça: Criação do Tribunal Real, sendo superior aos tribunais locais (controlados pelo senhor feudal). D) Controle sobre as Finanças: intervenção na economia, mediante o monopólio da cunhagem de moedas, da padronização monetária, a cobrança de impostos, da criação de Companhias de Comércio e a imposição dos monopólios. E) Burocracia Estatal: corpo de funcionários que auxilia na administração das obras públicas, fortalecimento o controle do Estado e consequentemente o poder real. TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO MONÁRQUICO Nicolau Maquiavel (1469/1525) - Responsável pela secularização da política, ou seja, ele supera a relação entre ética cristã e política. Esta superação fica clara na tese de sua principal obra, Página 7 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 O Príncipe - segundo a qual "os fins justificam os meios". Maquiavel subordina o indivíduo ao Estado, tornando-se assim no primeiro defensor do absolutismo. Thomas Hobbes (1588/1679) - Seu pensamento está centrado em explicar as origens do Estado. De acordo com Hobbes, o homem em seu estado de natureza é egoísta. Este egoísmo gera prejuízos para todos. Procurando a sociabilidade, os homens estabelecem um pacto: abdica de seus direitos em favor do soberano, que passa a ter o poder absoluto. Assim, o estado surge de um contrato. A ideia de contrato denota características burguesas, demonstrando uma visão individualista do homem (o indivíduo preexiste ao Estado) e o pacto busca garantir e manter os interesses dos indivíduos. A obra principal de Hobbes é "Leviatã". Jacques Bossuet (1627/1704) e Jean Bodin (1530/1596) - Defensores da ideia de que a autoridade real era concedia por Deus. Desenvolvimento da doutrina do absolutismo de direito divino – o rei seria um representante de Deus e os súditos lhe devem total obediência. Absolutismo na península Ibérica PORTUGAL: Primeiro país a organizar o Estado Moderno. Centralização política precoce em virtude da Guerra de Reconquista cristãos contra muçulmanos. A centralização do Estado Português ocorreu em 1385, com a Revolução de Avis, onde o Mestre da Ordem de Avis (D.João), com o apoio da burguesia mercantil consolidou o centralismo político. ESPANHA: O processo de centralização na Espanha também está relacionado com a Guerra de Reconquista e foi fruto de uma aliança entre o Reino de Castela e o Reino de Aragão, em 1469 e consolidado em 1492 - com a expulsão definitiva dos mouros da península. Absolutismo na França A consolidação do absolutismo francês está relacionada com a Guerra dos Cem Anos: enfraquecimento da nobreza feudal e fortalecimento do poder real. A principal dinastia do absolutismo francês foi a dos Bourbons: Henrique IV (1593/1610) - precisou abandonar o protestantismo para ocupar o trono real. Responsável pelo Édito de Nantes (1598) que concedeu liberdade religiosa aos protestantes. Luís XIII (1610/1643) - Em seu reinado, destaque para a atuação de seu primeiro-ministro o cardeal Richelieu. A política de Richelieu visava dois grandes objetivos: a consolidação do absolutismo monárquico na França e estabelecer, no plano externo, a supremacia francesa na Europa. Para conseguir este último objetivo, Richelieu envolveu a França na guerra dos Trinta Anos (1618/1648), contra a os Habsburgos austríacos e espanhóis. Luís XIV (1643/1715) - O exemplo máximo do absolutismo francês, denominado o "rei-sol". Organizou a administração do reino para melhor controle de todos os assuntos. Governava através de decretos e submeteu a nobreza feudal e a burguesia mercantil. Levou ao extremo a ideia do absolutismo de direito divino. Um dos principais nomes de seu governo foi o ministro Colbert, responsável pelas finanças e dos assuntos econômicos. A partir de seu reinado a França inicia uma crise financeira, em razão das sucessivas guerras empreendidas por Luís XIV. A crise será acentuada com o Édito de Fontainebleau, decreto real que revogou o Édito de Nantes. Com isto, muitos protestantes abandonam a França, contribuindo para uma diminuição na arrecadação de impostos. A crise do absolutismo prossegue no reinado de Luís XV e atingirá o a ápice com Luís XVI e o processo da Revolução Francesa. Absolutismo na Inglaterra O apogeu do absolutismo inglês deu-se com a Dinastia Tudor, família que ocupa o poder após a Guerra das Duas Rosas: Henrique VIII (1509/1547) - Empreendeu a Reforma Anglicana, após o Ato de Supremacia (1534). Com a reforma, o Estado controla as propriedades eclesiásticas impulsionando a expansão comercial inglesa. Elizabeth I (1558/1603) Implantou definitivamente o anglicanismo, mediante uma violenta perseguição aos católicos e aos protestantes. Iniciou uma política naval e colonial - caracterizada pela destruição da Invencível Armada espanhola e a fundação da primeira colônia inglesa na América do Norte - Virgínia (1584). Em seu reinado a Inglaterra realiza uma grande expansão comercial, com a formação de Companhias de Comércio e fortalecendo a burguesia. Página 8 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Com a morte de Elizabeth I (1603), inicia-se uma nova dinastia - Stuart - marcada pela crise do absolutismo inglês. O MERCANTILISMO CONCEITO: Política econômica do Estado Moderno baseada no acúmulo de capitais. A acumulação de capitais dá-se pela atividade comercial, daí o mercantilismo apresentar uma série de práticas para o desenvolvimento das práticas comerciais. OBJETIVOS: A intervenção do estado nos assuntos econômicos visava o fortalecimento do Estado e o Enriquecimento da burguesia. PRÁTICAS MERCANTILISTAS Para conseguir o acúmulo de capitais, a política mercantilista apresentará os seguintes elementos: Balança comercial favorável: medida que visava a evasão monetária. A exportação maior que a importação auxiliava a manter as reservas de ouro. Metalismo (bulionismo): necessidade de acumular metais preciosos (ouro e prata). Intervencionismo estatal: forte intervenção do Estado na economia, com o intuito de desenvolver a produção agrícola, comercial e industrial. O Estado passa a adotar medidas de caráter protecionista - estimular a exportação e inibir a importação, impondo pesadas tarifas alfandegárias. Monopólios: elemento essencial do protecionismo econômico. O Estado garante o exclusivismo comercial sobre um determinado produto e/ou uma determinada área. TIPOS DE MERCANTILISMO Cada Estado Moderno buscará a acumulação de capitais obedecendo suas próprias especificidades. PORTUGAL: Mercantilismo agrário, o acúmulo de capitais virá da atividade agrícola na colônia (Brasil). ESPANHA: Metalismo, em razão da grande quantidade de ouro e prata da América. O grande afluxo de metais trouxe uma alta dos preços das mercadorias e desencadeou uma enorme inflação. Este processo é conhecido como revolução dos preços. FRANÇA: Produção de artigos de luxo para a exportação. Também conhecido como colbertismo, por causa do ministro Jean Colbert. INGLATERRA: Num primeiro momento, a Inglaterra consegue acúmulo de capitais através do comércio, principalmente após o Ato de Navegação de 1651. O grande desenvolvimento comercial vai impulsionar a indústria. Esta última se tornará na atividade principal para a Inglaterra conseguir o acúmulo de capitais. HOLANDA: desenvolve o mercantilismo misto, ou seja, comercial e industrial. MERCANTILISMO E FORMAÇÃO DO SISTEMA COLONIAL A principal dificuldade do mercantilismo residia na necessidade que todos os países tinham de manter uma balança comercial favorável, ou seja, todos queriam exportar, porém nenhum gostava de importar. Para solucionar este problema e que será montado o Sistema Colonial. As áreas coloniais, mediante o denominado pacto colonial, auxiliavam a Europa no processo de acumulação de capitais ao vender – a preços muito baixos matéria-prima e comprar - a preços elevados, os produtos manufaturados. CONSEQUÊNCIAS O processo de acúmulo de capitais, impulsionado o capitalismo; A formação do Sistema Colonial Tradicional (séculos XVI/XVIII); O desenvolvimento do escravismo moderno, onde o escravo é visto como mão-de-obra e mercadoria. EXPANSÃO MARITIMA EUROPEIA A expansão marítima europeia, processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, contribuiu para que a Europa superasse a crise dos séculos XIV e XV. Através das Grandes Navegações há uma expansão das atividades comerciais, contribuindo para o processo de acumulação de capitais na Europa. O contato comercial entre todas as partes do mundo (Europa, Ásia, África e América) torna possível uma história em escala mundial, favorecendo uma ampliação dos conhecimento geográficos e o contato entre culturas diferentes. Fatores para a Expansão Marítima A expansão marítima teve um nítido caráter comercial, daí definir este processo como uma empresa comercial de navegação, ou como grandes empreendimentos marítimos. Para o sucesso desta atividade comercial o fator essencial foi a formação do Estado Nacional. Página 9 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Formação do Estado Nacional e a centralização política: as Grandes Navegações só foram possíveis com a centralização do poder político, pois fazia-se necessário uma complexa estrutura material de navios, armas, homens, recursos financeiros. A aliança rei-burguesia possibilitou o alcance destes objetivos tornando viável a expansão marítima. Avanços técnicos na arte náutica: o aprimoramento dos conhecimentos geográficos, graças ao desenvolvimento da cartografia; o desenvolvimento de instrumentos náuticosbússola, astrolábio, sextante - e a construção de embarcações capazes de realizar viagens a longa distância, como as naus e as caravelas. Interesses econômicos: a necessidade de ampliar a produção de alimentos, em virtude da retomada do crescimento demográfico; a necessidade de metais preciosos para suprir a escassez de moedas; romper o monopólio exercido pelas cidades italianas no Mediterrâneo que contribuía para o encarecimento das mercadorias vindas do Oriente; tomada de Constantinopla, pelos turcos otomanos, encarecendo ainda mais os produtos do Oriente. Sociais: o enfraquecimento da nobreza feudal e o fortalecimento da burguesia mercantil. Religiosos- a possibilidade de conversão dos pagãos ao cristianismo mediante a ação missionária da Igreja Católica. Expansão marítima portuguesa Portugal foi a primeira nação a realizar a expansão marítima. Além da posição geográfica, de uma situação de paz interna e da presença de uma forte burguesia mercantil; o pioneirismo português é explicado pela sua centralização política que, como vimos, era condição primordial para as Grandes Navegações. A formação do Estado Nacional português está relacionada à Guerra de Reconquista - luta entre cristãos e muçulmanos na península Ibérica. A primeira dinastia portuguesa foi a Dinastia de Borgonha (a partir de 1143) caracterizada pelo processo de expansão territorial interna. Entre os anos de 1383 e 1385 o Reino de Portugal conhece um movimento político denominado Revolução de Avis - movimento que realiza a centralização do poder político: aliança entre a burguesia mercantil lusitana com o mestre da Ordem de Avis, D. João. A Dinastia de Avis é caracterizada pela expansão externa de Portugal: a expansão marítima. Etapas da expansão A expansão marítima portuguesa interessava à Monarquia, que buscava seu fortalecimento; à nobreza, interessada em conquista de terras; à Igreja Católica e a possibilidade de cristianizar outros povos e a burguesia mercantil, desejosa de ampliar seus lucros. A seguir, as principais etapas da expansão de Portugal: 1415 - tomada de Ceuta, importante entreposto comercial no norte da África; 1420 - ocupação das ilhas da Madeira e Açores no Atlântico; 1434 - chegada ao Cabo Bojador; 1445 - chegada ao Cabo Verde; 1487 - Bartolomeu Dias e a transposição do Cabo das Tormentas; 1498 - Vasco da Gama atinge as Índias (Calicute); 1499 - viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Expansão marítima espanhola A Espanha será um Estado Nacional somente em 1469, com o casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Dois importantes reinos cristãos que enfrentaram os mouros na Guerra de Reconquista. No ano de 1492 o último reduto mouro - Granada – foi conquistado pelos cristãos; neste mesmo ano, Cristóvão Colombo ofereceu seus serviços aos reis da Espanha. Colombo acreditava que, navegando para oeste, atingiria o Oriente. O navegante recebeu três navios e, sem saber chegou a um novo continente: a América. A seguir a principais etapas da expansão espanhola: 1492 - chegada de Colombo a um novo continente, a América; 1504 - Américo Vespúcio afirma que a terra descoberta por Colombo era um novo continente; 1519 a 1522 - Fernão de Magalhães realizou a primeira viagem de circunavegação do globo. As rivalidades Ibéricas Portugal e Espanha, buscando evitar conflitos sobre os territórios descobertos ou a descobrir, resolveram assinar um acordo – proposto pelo papa Alexandre VI - em 1493: um meridiano passando 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, dividindo as terras entre Portugal e Espanha. Portugal não aceitou o acordo e no ano Página 10 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 de 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas. O tratado de Tordesilhas não foi reconhecido pelas demais nações europeias. NAVEGAÇÕES TARDIAS Inglaterra, França e Holanda O atraso na centralização política justifica o atraso destas nações na expansão marítima: A Inglaterra e França envolveram-se na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e, após este longo conflito, a Inglaterra passa por uma guerra civil - a Guerra das Duas Rosas (1455-1485); já a França, no final do conflito com a Inglaterra enfrenta um período de lutas no reinado de Luís XI (14611483). Somente após estes conflitos internos é que ingleses, durante o reinado de Elizabeth I (15581603); e franceses, durante o reinado de Francisco I iniciaram a expansão marítima. A Holanda tem seu processo de centralização política atrasado por ser um feudo espanhol. Somente com o enfraquecimento da Espanha e com o processo de sua independência é que os holandeses iniciarão a expansão marítima. CONSEQUÊNCIAS As Grandes navegações contribuíram para uma radical transformação da visão da história da humanidade. Houve uma ampliação do conhecimento humano sobre a geografia da Terra e uma verdadeira Revolução Comercial, a partir da unificação dos mercados europeus, asiáticos, africanos e americanos. A seguir algumas das principais mudanças: A decadência das cidades italianas; a mudança do eixo econômico do mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico; a formação do Sistema Colonial; enorme afluxo de metais para a Europa proveniente da América; o retorno do escravismo em moldes capitalistas; o euro centrismo, ou a hegemonia europeia sobre o mundo; e o processo de acumulação primitiva de capitais resultado na organização da formação social do capitalismo. SISTEMA COLONIAL O chamado Sistema Colonial Tradicional desenvolveu-se, na América, entre os séculos XVI e XVIII. Sua formação está intimamente ligada às Grandes Navegações e seu funcionamento obedece aos princípios do Mercantilismo. Como vimos, o Estado Moderno, através das práticas mercantilistas, buscava o acúmulo de capitais e as colônias irão contribuir de forma decisiva para este processo. Assim, através da exploração colonial os Estados Metropolitanos se enriquecem- como também sua burguesia. O Sistema Colonial Tradicional conheceu dois tipos de colônias: a colônia de povoamento e a colônia de exploração. COLÔNIA DE POVOAMENTO: Característica das zonas temperadas da América do Norte e marcada por uma organização econômico-social que buscava manter semelhanças com suas origens europeias: predomínio da pequena propriedade, desenvolvimento do mercado interno, certo desenvolvimento urbano, valorização dos princípios de liberdade (religiosa, econômica, de imprensa), utilização do trabalho livre, desenvolvimento industrial e desenvolvimento do comércio externo. COLÔNIA DE EXPLORAÇÃO: Típica das zonas tropicais da América, onde predomina a agricultura tropical escravista e monocultora. Não houve desenvolvimento de núcleos urbanos nem do mercado interno, ficando esta área dependente da Metrópole. A principal característica desta área foi a Plantationlatifúndio, monocultor escravocrata. A colonização inglesa na América do Norte apresentou as duas formas colônias. As treze colônias inglesas podem assim ser divididas: as colônias do Norte e do centro serão colônias de povoamento; as colônias do Sul serão colônias de exploração. As colônias do Norte tiveram suas origens nas lutas sociais que ocorreram na Inglaterra, quais sejam, as perseguições aos puritanos pela Dinastia Stuart (1603/1642). Com a Revolução Puritana (1640/1660) o contingente que chega à colônia é basicamente formado por nobres aristocráticos. Desde cedo, os colonos do Norte demonstram sua vocação comercial, dinamizando o mercado externo através do chamado "comércio triangular". Aspectos da economia colonial Uma economia colonial, área de exploração vai apresentar os seguintes elementos: Economia complementar e especializada: a principal função de uma colônia era complementar a economia metropolitana, produzindo artigos que pudessem ser vendidos a altos preços no mercado europeu; daí sua especialização em certos Página 11 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 gêneros tropicais, como tabaco, algodão e canade-açúcar. Integrada ao capitalismo: a economia colonial atendia os interesses do capitalismo europeu. A utilização da mão-de-obra escrava não representa um paradoxo, ao contrário, foi mais um elemento utilizado para o processo de acumulação de capitais. O tráfico negreiro era altamente lucrativo. Pacto colonial: o elemento definidor das relações entre Metrópole e colônia, foi o monopólio. Este será implantado através do pacto colonial, onde a colônia é obrigada a enviar para a Metrópole matérias-primas (gêneros tropicais e metais preciosos) e comprar da Metrópole artigos manufaturados e escravos. Através das relações coloniais, foi possível o desenvolvimento pleno do capitalismo na Europa. O objetivo máximo do mercantilismo – o acúmulo de capitais - só foi possível em virtude da existência de uma área extraterritorial auxiliando a Europa em manter uma balança comercial favorável. A Revolução Inglesa No século XVII, a Inglaterra foi revolvida por grandes turbulências políticas, econômicas e sociais. Trata-se da Revolução Inglesa, um período de 50 anos de lutas, que representou o embate das velhas estruturas feudais com as novas forças do capitalismo em expansão. Alo final, essa primeira revolução burguesa da Europa pôs fim ao Estado absolutista e abriu caminho para o avanço industrial inglês. A Inglaterra absolutista do século XVII: As condições que levaram à onda revolucionária Durante o século XVII, a Inglaterra viveu um período de turbulência revolucionária, fruto do conflito entre certas estruturas feudais, ainda vigentes no país, e as novas forças do capitalismo em expansão. Denomina-se Revolução Inglesa o conjunto desses acontecimentos. O papel da Revolução inglesa Os conflitos político-sociais do século XVII foram o meio pelo qual a Inglaterra rompeu definitivamente com o que restava do sistema feudal, promovendo o capitalismo com medidas como a transformação da estrutura agrária, a modificação das relações trabalhistas no campo, o aperfeiçoamento da técnica de produção etc. No plano meramente político, podemos dizer que a Inglaterra promoveu a substituição do Estado absolutista pelo Estado liberal-capitalista, no qual havia três poderes distintos: o Executivo, o Legislativo e o judiciário. A Revolução Inglesa foi a primeira revolução burguesa da Europa ocidental. Antecipou em 150 anos a Revolução Francesa. Representou a destruição do Estado absolutista e a criação de condições para o avanço do capitalismo industrial na Inglaterra. Desse ponto de vista, a Revolução Inglesa e a Revolução Industrial representam duas faces de uma mesma moeda. Organização econômica A situação econômica da Inglaterra no século XVII variava bastante, conforme a região do país. A norte e a oeste ainda predominava uma estrutura agrária do tipo feudal, embora já viesse sofrendo um processo de transformação com o rompimento das relações servis e o assalariamento da mão-de-obra camponesa. A sul e a leste encontravam-se grandes transformações do ponto de vista agrário, havendo fazendas do tipo capitalista, bem como uma indústria artesanal e manufatureira voltada para a produção de mercado. Nos grandes centros urbanos ingleses, desenvolveram-se as sociedades de comerciantes dedicadas ao comércio internacional e interno, bem como uma indústria artesanal. Organização social De acordo com a região econômica do país predominava uma classe social. Na região conservadora do norte e do oeste inglês, predominava a nobreza tradicional, zelosa de seus direitos feudais. Na região do sul e do leste, predominava uma aristocracia em transformação, constituída, em geral, por proprietários agrários que viviam da exploração dessas terras, nos moldes capitalistas. Essa classe, conhecida como gentry, foi responsável pela liderança do processo revolucionário inglês do século XVII. É preciso esclarecer que a gentry não era necessariamente aristocrática, pois dela faziam parte tanto nobres decadentes como burgueses em ascensão. Encontrava-se, também, mas regiões sul e leste, Página 12 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 a classe dos pequenos posseiros (yomanry), que constituiu a força social de massa que impulsionou o processo revolucionário. Nos centros urbanos predominava a burguesia financeira, detentora de monopólios concedidos pela monarquia. Encontravam-se, também, outros importantes segmentos sociais: a burguesia comercial, os mestres das corporações de ofícios, os mestres dos centros manufatureiros e o proletariado marginal. Organização política e religiosa A dinastia dos Tudor, que governava a Inglaterra no século XVI, exerceu um absolutismo de fato, sem a oposição da burguesia, pois realizava uma série de ações administrativas que correspondiam aos anseios burgueses. Entre essas ações, podemos mencionar: a centralização do poder como garantia da ordem social; a uniformização das moedas, dos pesos e das tarifas alfandegárias; e a permissão à atividade dos corsários, que colaboraram para a expansão comercial marítima inglesa. Durante esse período, a Igreja anglicana, embora mantendo a forma ritual católica (hierarquia episcopal, liturgia), dava ênfase ao conteúdo calvinista, pois a ética protestante era mais compatível com a moral do capitalismo. No século XVII, a dinastia dos Stuart pretendeu transformar o absolutismo de fato em absolutismo de direito, isto é, plenamente reconhecido em termos jurídicos. A monarquia buscava, desse modo, uma legitimação de seus poderes absolutistas, pois entra em grave choque com o parlamento inglês, dominado pela burguesia puritana, que defendia limitações jurídicas para o poder real. Para preservar seus poderes, a monarquia inglesa utilizou-se da política religiosa, passando a valorizar, no anglicanismo, a forma litúrgica católica (por meio de uma legislação rigorosa), em vez do conteúdo calvinista puritano. Promovendo essa valorização do rito católico em detrimento do conteúdo protestante, a monarquia buscava apoio na aristocracia tradicional católica. Em 1628, o parlamento proclamou, através da Petição de Direitos, que o rei não poderia criar impostos, convocar o exército ou prender pessoas sem o prévio consentimento parlamentar. No ano seguinte, Carlos I reagiu, dissolvendo o parlamento e perseguindo os líderes políticos que lhe faziam oposição. Onze anos depois, em 1640, Carlos I viu-se obrigado a reconvocar o parlamento, a fim de conseguir recursos financeiros para combater uma revolta escocesa contra seu governo. Uma vez reunido, depois de alguns impasses, o parlamento tomou novamente uma série de medidas que desagradaram a Carlos I, entre elas a decretação de uma lei proibindo o monarca de dissolver o parlamento e tornando obrigatória a convocação do órgão pelo menos uma vez a cada três anos. Longas lutas: As etapas da primeira revolução burguesa Os sucessivos conflitos entre o rei e o parlamento desencadearam a Revolução Inglesa, que pode ser dividida em quatro etapas: guerra civil (1642-1648); república de Cromwell (16491658); restauração monárquica (1660-1688) e Revolução Gloriosa (1688-1689). Guerra civil ou Revolução Puritana Carlos I revoltou-se contra as medidas adotadas pelo parlamento. Ordenou, então, que sua guarda invadisse aquele órgão e prendesse seus principais líderes. Estes, por sua vez, organizaram milícias para lutar contra as tropas do rei. Iniciou-se, assim, uma sangrenta guerra civil. Foi a chamada Revolução Puritana. Nessa sociedade inglesa, dividida em diversos segmentos sociais, havia complexas relações de interesses coletivos que se traduziam no posicionamento dos grupos, contrários à monarquia ou contrários ao parlamento. De modo geral, podemos alinhar entre os grupos favoráveis à monarquia: a burguesia financeira, os mestres das corporações e o alto clero anglicano. Entre os grupos favoráveis ao parlamento podemos relacionar: a burguesia mercantil, a gentry, os mestres manufatureiros e os camponeses pobres. As tropas do parlamento foram lideradas pelo deputado puritano Oliver Cromwell, que organizou um exército, cujos postos de comando eram definidos pelo critério do merecimento militar e não pela origem da família, como ocorria no exército da nobreza. República de Cromwell Ao final da guerra civil, o exército do parlamento venceu as tropas de Carlos I, que foi Página 13 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 preso e condenado à morte, sendo decapitado em 30 de janeiro de 1649. Instaurou-se, então, o regime republicano sob a liderança de Oliver Cromwell, que governou o país de 1649 a 1658. Entre os principais acontecimentos registrados nesse período, podemos destacar: Unificação britânica e Ato de Navegação – Em 1651, Inglaterra, Irlanda e Escócia foram unificadas numa só República, sob o comando de Cromwell. Também foi assinado o Ato de Navegação, determinado que todas as mercadorias destinadas a entrar ou a sair dos portos ingleses deveriam ser transportadas por navios da Inglaterra. O Ato de Navegação tinha como objetivo proporcionar o desenvolvimento da marinha inglesa. Guerra com os holandeses – o Ato de Navegação prejudicou bastante os holandeses, que tinham grande lucro com o transporte marítimo de produtos coloniais para a Inglaterra. A Holanda decidiu entrar em guerra contra a Inglaterra (1652-1654), sendo, ao final, derrotada pelos ingleses. Vitoriosos, a Inglaterra tornou-se a maior potência naval do mundo. A ditadura de Cromwell – Em 1653, Oliver Cromwell assumiu o título de Lorde Protetor da Comunidade Britânica. Seu cargo tornou-se vitalício e hereditário. Em seguida, Cromwell dissolveu o parlamento e passou a exercer um governo ditatorial. Em 1658, Cromwell morre. Para dar continuidade ao governo republicano, assumi o poder seu filho Ricardo. Restauração monárquica O filho de Oliver Cromwell, Ricardo, conseguiu manter-se no governo por apenas oito meses, de setembro de 1658 a maio de 1659, pois não tinha a habilidade político-administrativa do pai. A agitação novamente tomou conta do país, e o parlamento, eleito em 1660, decidiu restaurar a monarquia dos Stuarts, convidando Carlos II para assumir o trono britânico. O rei, entretanto, deveria ceder ao domínio do parlamento. O período da restauração monárquica dos Stuarts estendeu-se pelos reinados de Carlos II (1660-1685) e de seu irmão Jaime (1685-1688). Durante o reinado de Jaime II, surgiu forte descontentamento da grande burguesia e da nobreza anglicana em relação ao catolicismo do rei e ao seu estilo autoritário de governo. Revolução Gloriosa Jaime II, que era católico, tomou uma série de medidas contrariando o parlamento. Este, temendo a volta do absolutismo, estabeleceu um acordo com o príncipe holandês Guilherme de Orange, casado com Maria Stuart, filha de Jaime II. Pelo acordo, ofereceu-se a Guilherme o trono inglês, com a condição de que ele respeitasse os poderes do parlamento. Iniciava-se, então, a Revolução Gloriosa (1688-1689), que foi a luta entre as tropas de Guilherme de Orange e as forças de Jaime II. O rei inglês foi derrotado e Guilherme de Orange e sua esposa Maria Stuart assumiram o poder na Inglaterra, tendo, entretanto, que assinar, em 1689, uma Declaração de Direitos (Bill of Rights), que previa, por exemplo: Aprovação de tributos pelo parlamento; Liberdade de imprensa; Exército permanente; Garantias para o livre exercício da Justiça Pública. No plano político, a Revolução Gloriosa marcou o fim do absolutismo na Inglaterra. O poder do rei passou a ser limitado pelo parlamento, e a monarquia adquiriu um caráter constitucional. No plano socioeconômico, a Revolução Gloriosa selou um compromisso entre a burguesia urbana e a nobreza proprietária de grandes terras, cultivadas em moldes capitalistas, Unidas, essas duas classes poderosas promoveram o desenvolvimento econômico inglês, tornando o país a maior potência comercial da época, e lançaram as bases para o desenvolvimento do capitalismo industrial. O ILUMINISMO Assim como no Renascimento, o movimento Iluminista trazia como ponto principal o racionalismo. O século XVIII foi o momento culminante das sucessivas transformações culturais vividas até então pela sociedade europeia. Desde o Renascimento, o homem moderno foi ampliando a confiança em si mesmo, no poder da razão e na liberdade de pensamento. Muitos pensadores passaram a lançar teorias Página 14 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 novas sobre os mais diversos assuntos: Deus, Terra, planetas, homem, sociedade. A Igreja, os reis absolutistas e a nobreza conservadora, todos muitos criticados, não gostaram dos ataques ao Antigo Regime. Mas as novas idéias foram se proliferando até constituíram o Iluminismo, movimento cultural de grande importância para a história contemporânea. Antigo Regime X Burguesia: O surgimento de uma ideologia burguesa Analisando, de modo geral, as sociedades dos Estados absolutistas, verificamos que elas eram formadas por diversos segmentos, dentre os quais se destacavam duas grandes forças sociais dominantes: a nobreza e a burguesia. Nenhuma dessas forças, entretanto, conseguiu impor-se plenamente sobre a outra, gerando relações sociais extremamente complexas, contraditórias e conflituosas. O Estado absolutista alimentava-se desse conflito social, procurando administra-lo e influir sobre ele. O objetivo era preservar uma situação de equilíbrio de poderes e tirar o máximo proveito dessa tensa coexistência de forças, para garantir o poder supremo da monarquia. Isso explica certas contradições do Estado absolutista, como, por exemplo, conceder monopólios de comércio à burguesia, estimular as atividades comerciais e, ao mesmo tempo, oferecer pensões para sustentar uma nobreza cortesã, parasitária e improdutiva. Com o desenvolvimento do capitalismo, nos séculos XVII e XVIII, a burguesia manteve sua ascensão econômica em importantes países europeus, como Inglaterra e França. Cada vez mais consciente de sua importância e de seus interesses, ela passou a criticar a sociedade do Antigo Regime. Antigo Regime: Uma sociedade em transição Antigo Regime é a designação que costuma ser dada ao conjunto de características sociais, políticas, econômicas e culturais que marcaram as sociedades da Idade Moderna, período de transição do feudalismo para o capitalismo. As principais características que marcaram essas sociedades consistiam de: No setor político – poder absoluto dos reis. No setor social – a divisão do povo em estamentos, onde se distinguiam ordens privilegiadas pelo nascimento e camadas desfavorecidas. No setor econômico – as relações feudais em convivência e conflito com as relações capitalistas. Através do mercantilismo, o Estado intervinha na vida econômica e impulsionava o sistema colonial. No setor cultural – a intolerância religiosa e filosófica. O Estado e a Igreja intervinham na consciência individual das pessoas. A burguesia e o Iluminismo À medida que se fortalecia e formulava críticas ao Antigo Regime, a burguesia foi desenvolvendo sua própria ideologia, tendo por base o seguinte argumento: O Estado só é verdadeiramente rico se for internacionalmente poderoso; Para ser internacionalmente poderoso, precisa expandir as atividades capitalistas; Só expande as atividades capitalistas se der liberdade e poder social para a burguesia. Foi esse argumento burguês que, investindo implicitamente contra os privilégios da nobreza, corroeu, aos poucos, o equilíbrio das forças sociais do Estado absolutista e do Antigo Regime. Ao mesmo tempo, propiciou o surgimento do movimento cultural que ficou conhecido como Iluminismo (também denominado Ilustração ou Filosofia das Luzes). Ideologia O termo ideologia pode ser usado em várias acepções. Neste livro, usaremos com o seguinte significado: A ideologia manifesta-se por meio de um conjunto de ideias, valores e normas de conduta, cujo objetivo social é condicionar o pensamento e as ações do maior número possível de pessoas. Embora seja produzida pelos interesses socioeconômicos de uma classe dominante, a ideologia apresenta-se como um produto generalizado de toda a sociedade. Assim, a ideologia oculta a sua origem particular e elitista. Com isso os valores de apenas um grupo social transforma-se em valores de todos. Uma das finalidades básicas da ideologia é envolver psicossocialmente as classes dominadas, fazendo-as interiorizar e assumir valores e comportamentos úteis às classes dominantes. O objetivo é legitimar, por meios pacíficos, esquemas de dominação social. Veja- Página 15 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 se, por exemplo, que os valores burgueses do Iluminismo foram apresentados como valores sagrados a serem adotados por toda a humanidade. Os valores fundamentais do Iluminismo, segundo o sociólogo Lucien Goldmann1, estavam ligados de alguma maneira ao desenvolvimento do comércio e do individualismo burguês. A atividade econômica fundamental da burguesia era o comércio. Essa atividade tinha como regra de desenvolvimento o jogo da oferta e da procura, que, por sua vez, era o resultado da ação individual de inúmeras pessoas lutando por seus próprios interesses econômicos. O comércio, então, despertava nos homens o espírito de competição, estimulando o individualismo. O que o Iluminismo defendia Os principais valores enfatizados pelo Iluminismo eram: Igualdade – no ato de comércio, isto é, no ato de compra e venda, as possíveis desigualdades de riqueza entre os participantes não deviam ser levadas em conta. O que importava era a igualdade jurídica dos contratantes. Por isso, os filósofos iluministas defendiam a igualdade jurídica de todos perante a lei. Tolerância religiosa ou filosófica – no ato de comércio, não importavam as convicções religiosas ou filosóficas dos participantes. Do ponto de vista econômico, seria absurdo que a burguesia levasse em consideração as convicções pessoais. Fosse muçulmano, judeu ou cristão, a capacidade comercial das pessoas não se alterava em função de suas crenças religiosas, morais ou filosóficas. Liberdade – o comércio só podia desenvolver-se numa sociedade de homens juridicamente livres para vender e comprar. Por isso, a burguesia era contra a escravidão humana, pois sem homens livres não poderia existir mercado comercial. Propriedade – o comércio também só seria possível entre as pessoas que detivessem propriedade de bens ou de capitais. Assim, a burguesia passou a defender que todos os homens tinham direito de conquistar propriedades materiais, pois somente o proprietário tem o direito de usar e dispor livremente de seus bens. O que o Iluminismo combatia Ao defender tais valores, o Iluminismo passou a combater uma série de elementos presentes nas sociedades do Antigo Regime. Entre os principais elementos combatidos pelo Iluminismo, destacam-se: O absolutismo monárquico – na medida em que procurava preservar um equilíbrio entre as forças da nobreza e da burguesia, a monarquia absoluta passou a ser considerada um sistema injusto de governo, pois impedia o predomínio pleno da burguesia. O mercantilismo – na medida em que estava diretamente ligado à intervenção do Estado na vida econômica, o mercantilismo feria o individualismo burguês e sua vocação para a livre iniciativa, sendo considerado, então, prejudicial ao desenvolvimento espontâneo do capitalismo. O poder da Igreja – na medida em que a doutrina cristã baseava-se na autoridade da Igreja e supunha um conjunto de “verdades reveladas” pela fé, o poder da Igreja chocava-se com a autonomia intelectual defendida pelo individualismo e pelo racionalismo burguês. Os iluministas queriam que os princípios religiosos, baseados na “fé-superstição”, fossem substituídos por princípios científicos, baseados na razão. Nesse período, o desenvolvimento das técnicas de produção levou ao crescimento do interesse pela ciência aplicada, nos campos da Engenharia, da Química e da Física. Iluminismo: Um século iluminado pela razão A palavra Iluminismo vem de luz e se refere à capacidade que a razão tem de tudo iluminar. A razão, dizia-se, é a luz natural do homem. Durante a Idade Moderna, o europeu foi adquirindo confiança em si mesmo e na sua capacidade de investigação racional. Isso resultou numa produção intelectual de grande importância para o desenvolvimento do pensamento ocidental, que culminou, no século XVIII, com o movimento iluminista. Página 16 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Os precursores do Iluminismo Entre os precursores do Iluminismo podemos destacar Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1496-1650), Isaac Newton (1642-1727) e John Locke (1632-1704). Bacon: o experimentalismo Francis Bacon, filósofo, inglês, desenvolveu o método experimental, no qual enfatizava a importância da observação e da experimentação para o desenvolvimento do conhecimento. Seus estudos se aplicavam às ciências naturais, e os princípios defendidos por ele foram reunidos no livro Novum, organum, sua principal obra. Descartes: o racionalismo René Descartes, matemático e filósofo francês, é considerado um dos fundadores do racionalismo moderno. Defendia, em termos básicos, que somente através de métodos lógicos e racionais o homem poderia atingir o conhecimento científico. Para ele, a única verdade inquestionável era a existência dos próprios pensamentos. Daí sua célebre frase: Penso, logo existo. Newton: o mecanicismo Isaac Newton, cientista inglês, descobriu leis físicas aplicáveis ao universo, como a lei da gravidade, que foi formulada da seguinte maneira: matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado da distância. Considerava que em função da ciência descobrir leis universais e formulá-las de modo preciso e racional, desenvolvendo uma visão mecanicista do universo. Não excluía a ideia de Deus, mas não o considerava um ser tirânico capaz de fazer parar o Sol ou desviar as estrelas de sua trajetória. Para Newton, Deus manifestavase nas próprias leis universais. Locke: o empirismo e o liberalismo político John Locke, filósofo inglês, é considerado por muitos como o pai do Iluminismo. Em sua principal obra, Ensaio sobre o entendimento humano, afirma que nossa mente é como uma tábua rasa, sem nenhuma ideia. Tudo o que adquirimos é devido à experiência. Para ele, nossas primeiras ideias vêm à mente através dos sentidos. Depois, combinando e associando as primeiras ideias simples, a mente forma ideias cada vez mais complexas. Em resumo, todo o conhecimento humano chega à nossa mente através dos sentidos (empirismo) e, depois, desenvolve-se pelo esforço da razão. Em termos políticos, Locke condenou o absolutismo monárquico, revelando sua grande preocupação em proteger a liberdade individual do cidadão (liberalismo político). As novas concepções de Deus e do mundo Os grandes filósofos iluministas conceberam o mundo físico como uma imensa máquina composta por peças isoladas, mas funcionando harmonicamente. Deus seria o construtor dessa máquina universal, o “grande relojoeiro” responsável pela criação e pelo funcionamento do mundo. Essa concepção fazia parte do pensamento racionalista burguês presente no Iluminismo, que tornava Deus a expressão da lei universal que comanda o mundo. Entretanto, em que consistia essa lei? Montesquieu, em sua famosa definição, diz que leis são relações necessárias decorrentes da natureza das coisas. Então, o objetivo das ciências era desvendar as leis que regem os fenômenos do mundo. No plano social, as leis aplicadas aos indivíduos também deveriam obedecer às relações necessárias decorrentes da natureza das coisas. No caso em questão, a natureza humana, essas relações se manifestam através da vontade individual. Em termos de teoria política, as implicações desse individualismo foram solucionadas pela noção de contrato social: somente o acordo de vontade da maioria dos indivíduos legitima o poder do Estado. O Deus da burguesia tornou-se, evidentemente, um Deus iluminista, respeitador dos direitos individuais, da liberdade de pensamento e de expressão, da igualdade perante a lei e da propriedade material. Um Deus que se contrapunha ao todo-poderoso Deus medieval, suserano máximo de todos os cristãos. Com base nessas novas concepções, o burguês já não tinha grandes motivos para temer a vida depois da morte e a prestação de contas junto a Deus. Do ponto de vista burguês, a vida cristã seria semelhante à vida econômica Página 17 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 capitalista: cada indivíduo, no momento da morte (fechamento do balanço), deveria verificar as virtudes praticadas (relação das receitas) e subtrair os pecados cometidos (controle dos débitos), utilizando o arrependimento e a misericórdia divina (obter o lucro esperado). Para o burguês, tanto a recompensa do céu como a recompensa econômica representavam a culminação de uma vida ativa, baseada no trabalho e assinalada pelo êxito. As teorias econômicas burguesas Os valores do Iluminismo, aplicados à vida social e política, também se manifestavam na teoria econômica através da escola fisiocrática e da escola do liberalismo econômico. Os fisiocratas O termo fisiocrata vem do grego fisis = natureza e cratos = poder. O principal economista representante da teoria fisiocrata foi François Quesnay (16941774), que era contrário à intervenção do Estado na vida econômica. Em sua obra Fisiocracia, o governo da natureza, Quesnay sustenta que existe um poder natural agindo nas sociedades humanas, sendo inútil contrariá-lo com leis, regulamentos ou sistemas. Defendia a valorização da agricultura como a única atividade verdadeiramente criadora de riquezas para uma nação. Os fisiocratas pregavam a implantação de um capitalismo agrário, baseado no aumento da produção agrícola. O liberalismo econômico O principal representante do liberalismo econômico foi Adam Smith (1723-1790), autor de uma importante obra da literatura econômica, o Ensaio sobre a riqueza das nações. Nessa obra, Adam Smith critica a política mercantilista, baseada na intervenção do Estado na economia. Para ele, a economia deveria ser dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura de mercado (laissez-faire). Segundo, Adam Smith, o trabalho em geral representa a verdadeira fonte de riqueza para as nações, sendo que esse trabalho deveria ser conduzido pela livre iniciativa dos particulares. Os grandes pensadores iluministas Vejamos agora um breve resumo sobre os principais pensadores europeus ligados ao Iluminismo. Montesquieu (1689-1755): a separação dos poderes Montesquieu, jurista francês, escreveu O espírito das leis. Nessa obra, defendeu a separação dos poderes do Estado em Legislativo, Executivo e Judiciário, como forma de evitar abusos dos governantes e de proteger as liberdades individuais. Voltaire (1694-1778): as críticas à Igreja e aos poderosos Voltaire foi um dos mais famosos pensadores do Iluminismo. Com seu estilo literário irônico e vibrante, destacou-se pelas críticas que fazia ao clero católico, à intolerância religiosa e à prepotência dos poderosos. Em termos políticos, não era propriamente um democrata, mas defensor de uma monarquia respeitadora das liberdades individuais, governada por um soberano esclarecido. Tornou-se marcante sua posição em defesa da liberdade de pensamento, através de sua célebre frase: Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las. Diderot (1713-1784) e D’Alembert (17171783): a enciclopédia Diderot e D’Alembert foram os principais organizadores de uma enciclopédia de 33 volumes, que pretendia resumir os principais conhecimentos da época nos campos científico e filosófico. Essa enciclopédia contou com a colaboração de numerosos autores, entre os quais se destacaram Buffon, Montesquieu, Turgot, Condorcet, Voltaire, Holbach e Rousseau. A enciclopédia exerceu grande influência sobre o pensamento político burguês, defendendo, em linhas gerais, o racionalismo, a independência do Estado em relação à Igreja e a confiança no progresso humano através das realizações científicas e tecnológicas. Rousseau (1712-1778): o bom selvagem e o contrato social Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, e, em 1742, transferiu-se para Página 18 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 a França, onde escreveu suas grandes obras. Entre elas podemos destacar O contrato social, na qual expôs a tese de que o soberano deveria conduzir o Estado segundo a vontade geral de seu povo, sempre tendo em vista o atendimento do bem comum. Somente esse Estado, de bases democráticas, teria condições de oferecer a todos os cidadãos um regime de igualdade jurídica. Em outra de suas importantes obras, o Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, Rousseau glorificou os valores da vida natural e atacou a corrupção, a avareza e os vícios da sociedade civilizada. Fez inúmeros elogios à liberdade que desfrutava o selvagem na pureza do seu estado natural (o bom selvagem), contrapondo-o à falsidade e ao artificialismo do homem civilizado. Rousseau tornou-se célebre como defensor da pequena burguesia e inspirador dos ideais da Revolução Francesa. Kant (1724-1804): a crítica da razão e sua maioridade Immanuel Kant, filósofo alemão, elaborou uma teoria crítica do conhecimento, afirmando em linhas gerais que todo objeto a ser conhecido está inter-relacionado com o sujeito que processa o conhecimento. O ser em si não existe enquanto objeto do conhecimento, ou seja, ninguém pode ser objeto de conhecimento de si mesmo, pois produzirá qualquer coisa, menos saber científico. Segundo Kant, foi através do Iluminismo que a mente humana alcançou a idade adulta, a maioridade. A Revolução Francesa No final do século XVIII, diversos setores da sociedade francesa se uniram para pôr fim ao absolutismo. A burguesia liderou o movimento, pois queria expandir seus negócios, mas os resquícios do sistema feudal atrapalhavam seus planos. As massas populares, estimuladas pelos ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, também aderiram ao movimento. O movimento radicalizou-se, originando uma verdadeira revolução. No final, tudo ficou com a cara da burguesia. Estamos falando da tão celebrada Revolução Francesa. Considerada o marco inicial da história contemporânea, ela inspirou movimentos de libertação em diversas partes do mundo e abriu caminho para a expansão definitiva do capitalismo. O Antigo Regime na França: As condições que desencadearam o processo revolucionário. A Revolução Francesa é um dos grandes acontecimentos históricos do mundo contemporâneo, representando uma verdadeira encruzilhada de correntes sociais, políticas e econômicas que repercutiram por regiões muito além da França. É utilizada, tradicionalmente, para assinalar o início da Idade Contemporânea. Para entender o processo revolucionário francês, é preciso conhecer a estrutura social, política e econômica da França e suas características no final do século XVIII. Uma sociedade dividida em três estados. Com 25 milhões de habitantes, no final do século XVIII, a França era o país mais populoso da Europa ocidental. De acordo com o direito tradicional que imperava no Antigo Regime, a sociedade francesa estava dividida em três ordens ou estamentos sociais: o primeiro estado (clero), o segundo estado (nobreza) e o terceiro estado (restante da população). É importante frisar que cada uma dessas ordens se dividia em grupos, por vezes rivais. Clero: o primeiro estado Constituído pelo clero, o primeiro estado contava com aproximadamente 120 mil pessoas. Dividia-se em: Alto clero – formado por bispos, abades e cônegos, vindos de famílias da nobreza. A riqueza econômica do alto clero tinha como base o recebimento do dízimo e a propriedade imobiliária da terra. Baixo clero – composto de padres e vigários economicamente pobres, que formavam uma plebe eclesiástica. Nobreza: o segundo estado. Constituído pela nobreza, o segundo estado contava com aproximadamente 350 mil pessoas. Dividia-se em três grupos principais: Nobreza cortesã – vivia no palácio do rei, recebendo pensões da monarquia. Página 19 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Nobreza provincial – vivia nos campos, às custas dos rendimentos feudais recebidos de suas terras. Nobreza de toga – formada por burgueses que compravam títulos nobiliárquicos e cargos políticos de prestígio. Camponeses e burguesia: o terceiro estado Formado pela grande maioria da nação, o terceiro estado contava com mais de 24 milhões de pessoas. Era uma massa economicamente heterogênea, em que podemos distinguir os seguintes segmentos sociais básicos: Camponeses – formados por servos ainda presos às obrigações feudais e por trabalhadores livres. Grande burguesia – formada for banqueiros, poderosos empresários e comerciantes. Média burguesia – formada por profissionais liberais, como médicos, advogados, professores e médios comerciantes. Pequena burguesia – formada por pequenos comerciantes. Sans-culottes – camada social urbana de, aproximadamente, 200 mil pessoas compostos por artesãos, aprendizes de ofícios, assalariados e desempregados marginalizados. Uma economia em crise. A economia francesa era predominantemente agrária e ainda mantinha estruturas feudais. Embora, aproximadamente, 80% da população trabalhasse no campo, sua produção não atendia de modo satisfatório ao consumo de alimentos da sociedade. Problemas climáticos, como secas e inundações, agravavam a situação da agricultura desde 1784. No campo e na cidade, a grande massa do povo vivia num estado de miséria, fome e desesperança. Aumentava esse quadro de dificuldades a grave crise da indústria francesa, devido, em grande parte, ao tratado firmado em 1786 com a Inglaterra. Por esse tratado, os ingleses exportariam tecidos para a França, enquanto os franceses exportariam vinhos para a Inglaterra. AS indústrias francesas, entretanto, não suportaram a concorrência, em seu mercado interno, da indústria têxtil inglesa. Paralelamente, o governo francês atravessava uma terrível crise financeira, que vinha se acumulando desde o reinado de Luiz XIV. As despesas do Estado eram muito superiores às receitas do tesouro público. O déficit era crônico e a única maneira de sana-lo seria promover uma reforma tributária que eliminasse a tradicional isenção de impostos concedida às ordens privilegiadas do clero e da nobreza. Essas ordens, entretanto, não estavam dispostas a perder seus tradicionais privilégios. Cotidiano na história Num conhecido folheto popular daquela época, o abade de Sieyès resumiu a situação do terceiro estado: O que é o terceiro estado? Tudo. O que tem ele sido em nosso sistema político? Nada. O que ele pretende? Ser alguma coisa. Os membros do terceiro estado representavam, em seu conjunto, cerca de 96% da população total do país. Apesar das diferenças sociais existentes dentro do terceiro estado, todos os seus membros opunham-se aos privilégios concedidos à nobreza e ao clero. Reivindicavam um regime jurídico de igualdade de todos perante a lei, pois apenas o clero e a nobreza possuíam uma série de privilégios políticos, judiciários e tributários. Vida popular: A família pobre na França do século XVIII Paris era uma cidade fervilhante. Atraía trabalhadores que saíam do campo devido às más colheitas, à elevação do preço dos arrendamentos e ao cercamento das terras. Era uma população flutuante, uns chegavam otimistas, outros partiam frustrados, outros ainda iam e vinham a cada ano. A agitação era constante nas ruas, invadidas pelos profissionais que atendiam seus fregueses: latoeiros, pasteleiros, limpadores de chaminés, dentistas, floristas e outros. A morte rondava as crianças, nos asilos de enjeitados e nas viagens para a casa das nutrizes. Das 21 mil crianças nascidas anualmente, 20 mil deixavam a capital forçadas pela necessidade. Página 20 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Entre a casa e a rua, a criança levava uma vida oscilando entre as brincadeiras e o trabalho. “Filha tanto do bairro como dos pais, a criança levava recados, prestava pequenos serviços ou, sob o olhar do mestre, conhecia as agruras da condição de aprendiz”. A família popular era fragmentada, e seu estilo de vida decorria das difíceis condições de sobrevivência, especialmente de moradia. Ocupavam os piores cubículos dos prédios de apartamentos, localizados em ruas estreitas, lamacentas e mal cheirosas. Chegavam a seus quartos subindo muitas escadas, e usavam privadas comunitárias. Muitas vezes, de um quarto se passava a outro e, por isso, suas portas deviam ficar destrancadas. “Disputas conjugais, amores clandestinos, inquilinos barulhentos, crianças irrequietas: tudo se sabia e se ouvia sem dificuldades. A promiscuidade moldava os comportamentos e os hábitos.” Exposta ao olhar do outro, a família era vigiada e vigiava. Em meio ao tumulto, a vida privada se confundia com a pública. Uma política decadente Embora não constituísse uma classe homogênea, a burguesia adquiria cada vez mais consciência de seus interesses econômicos e sociais. Sobretudo a alta burguesia tinha noção de que o desenvolvimento do capitalismo exigia uma reestruturação do Estado. O Estado devia ser organizado segundo os mesmos princípios de ordem, de clareza, de unidade que a burguesia aplicava na gestão de seus negócios. Era preciso combater o absolutismo monárquico e os privilégios do clero e da nobreza. Para isso, utilizou-se o fundamento filosófico das ideias iluministas. Difundiram-se os princípios da liberdade, igualdade e fraternidade, tendo em vista a construção de uma sociedade mais digna e mais justa. Tais ideias contagiaram os setores progressistas da sociedade, sendo discutidas nos salões, nos cafés e nas lojas maçônicas. Além disso, multiplicaram-se associações de diversas naturezas que divulgavam os textos dos principais filósofos iluministas. O Processo Revolucionário: As principais etapas da Revolução Francesa. O processo revolucionário foi bastante longo, contraditório e complexo. Para melhor entendê-lo, os historiadores costumam dividi-lo em diferentes fases, conforme os diferentes rumos tomados pela revolução. Embora não exista um acordo entre os historiadores sobre essa divisão, vamos estabelecer, aqui, a seguinte classificação, que nos parece a mais conveniente: A revolta aristocrática; A Assembleia Nacional Constituinte; A monarquia constitucional; A república e a Convenção Nacional; O governo do Diretório. A revolta aristocrática Diante da crise financeira do Estado, o rei Luís XVI propôs, através de seus ministros financeiros, a criação de novos tributos. A ideia era acabar com a isenção tributária da nobreza e do clero. Estes, porém, sentindo a ameaça a seus tradicionais privilégios, revoltaram-se em 1787 e convenceram o rei a convocar uma Assembleia dos Estados Gerais, que não se reunia desde 1614. Tinham como objetivo obrigar o terceiro estado a assumir os tributos que não pretendiam pagar. Luís XVI marcou então para maio de 1789 a abertura dos trabalhos da Assembleia dos Estados Gerais. Instituição antiga, a Assembleia dos Estados Gerais era constituída por representantes das três ordens sociais: clero, nobreza e terceiro estado. O sistema de votação comumente adotado era feito em grupo, por estado, cabendo um voto para cada ordem social. Assim, clero e nobreza, unidos, teriam sempre dois votos, contra apenas um do terceiro estado. No início de maio de 1789, os Estado Gerais reuniram-se no palácio de Versalhes, e logo os conflitos entre as ordens privilegiadas e o terceiro estado eclodiram. Nobreza e clero defendiam a manutenção do antigo sistema de votação (um voto por ordem). Contanto com um grande número de deputados, os representantes do terceiro estado queriam alterar esse sistema de votação para o voto individual, pois dessa maneira teriam condições de fazer valer suas decisões. Apoiados pela monarquia, a nobreza o alto clero não concordavam com essa mudança nas regras Página 21 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 tradicionais o jogo e fizeram de tudo para repelir essa insubordinação do terceiro. Não havendo acordo entre as ordens para o início dos trabalhos, o terceiro estado, em 17 de junho de 1789, proclamou-se em Assembleia Nacional Constituinte. Tiro pela Culatra: O suicídio político da nobreza A exigência, da aristocracia, de convocação da Assembleia do Estados Gerais revelou-se um verdadeiro suicídio político para ela e para o regime que a representava, e isso basicamente por duas razões. Primeiro, porque a aristocracia subestimou perigosamente a força e a capacidade política do terceiro estado. Segundo, porque, como a época coincidi, como vimos, com uma conjuntura econômica de crise, com suas sequelas de fome e de desemprego, o estado de espírito dos pobres do campo e das cidades era de desespero e de revolta. Consequentemente, as eleições para a escolha dos deputados aos Estados Gerais, nesse contexto, eram extremamente favoráveis aos objetivos do terceiro estado, porque de um lado deu à burguesia a oportunidade e o espaço político necessário para, através de uma intensa propaganda, difundir suas ideias e seu programa de reformas e, de outro, permitiu que o descontentamento secular dos camponeses e das massas urbanas ganhasse, pela primeira vez, perspectivas políticas. tencionavam tomar medidas apenas dentro do âmbito jurídico. No dia 14 de julho de 1789, o povo, em célebre jornada revolucionária, invadiu e tomou a velha prisão da Bastilha, símbolo do poder absoluto do rei, pois, lá eram aprisionados os inimigos políticos da monarquia francesa. De Paris, a revolta espalhou-se por diversas regiões do país. Impotente para dominar a agitação políticosocial, o rei Luís XVI foi obrigado a reconhecer a realidade consumada da Assembleia Nacional Constituinte. Esta, para não perder o controle da situação, diante da fúria da revolta das massas camponesas e urbanas, procurou tomar medidas de grande alcance popular, como, por exemplo, a extinção dos direitos feudais devidos pelos camponeses ao rei, à Igreja ou aos nobres. Declaração dos direitos do homem e do cidadão. No dia 26 de agosto, a Assembleia Nacional constituinte proclamou a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, tendo como base o ideário burguês do Iluminismo. Ente os principais pontos defendidos por esse documento, destacam-se: A Assembleia Nacional Constituinte Luís XVI reagiu à atitude do terceiro estado e ordenou o fechamento da sala de reuniões, procurando dispersar a Assembleia. Os representantes do terceiro estado, liderados pela burguesia, dirigiram-se, então, para um salão de jogos utilizado pela nobreza e, nesse local improvisado, decidiram permanecer reunidos até que elaborassem uma nova Constituição para a França. A tomada da Bastilha O rei procurou reagir através da força, organizando tropas para lutar contra as pretensões burguesas do terceiro estado. A essa altura, entretanto, a revolta tomava conta das camadas populares, escapando ao controle até mesmo dos líderes da burguesia, que O respeito, pelo Estado, à dignidade da pessoa humana; A liberdade e a igualdade dos cidadãos perante a lei; O direito à propriedade individual; O direito de resistência à opressão política; A liberdade de pensamento e de opinião. De maneira solene, a Declaração tornava explícitos os pressupostos filosóficos sobre os quais deveria ser construída a nova sociedade liberal burguesa. A formação das forças contrarrevolucionárias Em 1790, a Assembleia Constituinte confiscou inúmeras terras da Igreja, subordinando o clero católico à autoridade do Estado francês através do documento denominado Constituição Civil do Clero. O papa não aceitou as medidas da Assembleia e pronunciou-se contra a revolução. Acatando a orientação do papa, alguns padres saíram da França ou nela ficaram para lutar contra Página 22 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 a revolução, mas muitos deles aceitaram as decisões da Assembleia e juraram fidelidade às novas leis. Ao mesmo tempo, diversos membros da nobreza decidiram sair da França para organizar, no exterior, movimentos de reação à revolução (contrarrevolucionários). Esses nobres tornaramse conhecidos como emigrados. A monarquia constitucional No ano de 1791 foi concluída a Constituição elaborada pelos membros da Assembleia Constituinte, tornando a França uma monarquia constitucional, dominada pela alta burguesia. Em linhas gerais, a Constituição estabelecia; No plano social, a igualdade jurídica de todos os indivíduos (todos os homens são livres aos olhos da lei e do Estado); No plano econômico, a liberdade completa de produção e de circulação dos bens e a nãointerferência do Estado na vida econômica (concebida como uma esfera privada de competência dos indivíduos); No plano religioso, a separação ente Estado e Igreja e a liberdade de crença; No plano político, a divisão (Executivo e Legislativo) e a representatividade do poder (eleições para a escolha dos representantes da nação e dos governantes). A proclamação da república Luís XVI, que era casado com a princesa austríaca Maria Antonieta, oficialmente aceitava a monarquia constitucional, mas secretamente tramava contra a revolução. Estabeleceu contatos com nobres emigrados e com monarcas da Áustria e da Prússia, tendo como objetivo organizar tropas para invadir a França e restaurar a monarquia absolutista no país. Viviam-se então momentos e grande expectativa e temor. Com a ajuda de La Fayette, chefe da Guarda Nacional, Luís XVI tentou fugir da França em junho de 1791, a fim de se juntar às forças contrarrevolucionárias que se organizavam no exterior. Mas foi reconhecido em Varennes, sendo reconduzido à capital francesa e mantido sob vigilância. O exército austro-prussiano invadiu a França, apoiado secretamente pela família real, que fornecia segredos militares aos contrarrevolucionários estrangeiros. Para defender o país, os líderes revolucionários exaltados, como Dalton e Marat, faziam apelos a todos os cidadãos franceses para que lutassem pela França e punissem os traidores da pátria. A república e a Convenção Nacional Com a proclamação da república, a antiga Assembleia Nacional foi substituída por uma Convenção Nacional, que deveria elaborar um nova Constituição para a França. Em suas primeiras sessões, a Convenção adotou um novo calendário, cujo marco inicial era o ano da proclamação da república. Durante esse período, o cenário político francês foi dominado pelos seguintes grandes grupos partidários: Girondinos – representavam a alta burguesia. Defendiam posições moderadas, temendo que as camadas populares assumissem o controle da revolução e comprometessem a riqueza econômica da alta burguesia. Jacobinos – representavam a pequena e a média burguesia, o proletariado urbano de Paris e os sans-culottes. Defendiam posições mais radicais, em benefício das classes oprimidas. Eram conhecidos como o grupo da montanha, pois ocupavam a parte mais alta da Câmara. Sentavam-se à esquerda da Assembléia. Planície – representavam a burguesia financeira. Mudava suas posições políticas, inclinado-se sempre para o grupo que estava no poder. Era também conhecido como o grupo do pântano (ocupava a parte baixa da Câmara). Cotidiano da história O comando sobre o tempo e a história: Os revolucionários mudam o calendário francês. “Em 1793, os revolucionários, colocando abaixo todas as referências que os ligavam ao Antigo Regime (à Igreja Católica e ao Estado Absolutista), aprovaram na Convenção um novo calendário dividindo o tempo em unidades de medida que lhes pareciam mais racionais e naturais. O ano I começou com o término da monarquia: 22 de setembro de 1792. A semana foi dividida em dez dias, cada mês passou a conter três semanas e cada ano ficou com doze meses. Página 23 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Os cinco dias que passaram a restar no ano viraram feriados patrióticos, jours sans-culottides, que eram consagrados aos valores cívicos: a virtude, o caráter, o trabalho, a opinião e a recompensa. Cada dia recebeu um novo nove, sugerindo uma regularidade matemática: primidi, duidi, tridi...Décadi.Ao mesmo tempo, os dias passaram a ser dedicados a aspectos da vida rural, em vês da permanecerem vinculados às homenagens feitas aos santos do calendário cristão. O dia 22 de novembro, antes dedicado à Santa Cecília, tornou-se, por exemplo, o dia do nabo; o dia 25 de novembro, que era dia de Santa Catarina, virou dia do porco; 30 de novembro, que era dia de Santo André, passou a ser o dia da picareta. Os meses, por sua vez, foram relacionados às estações do ano: mês da neve (Nivôse), da neblina (Brumaire), do frio (Frimaire), da chuva (Pluviôse), do vento (Ventônse)... Os revolucionários tomaram para si, então, o comando do tempo, rompendo com o imobilismo da história, transformando os nomes do dia e dos meses em lembranças de suas próprias lutas”. (6) A guilhotina e o terror Nesse ambiente de grandes confrontos políticos, o rei Luís XVI foi levado a julgamento sob a acusação de trair a pátria. De fato, Luís XVI nunca aceitou as transformações introduzidas pela revolução, procurando sempre impedir o avanço do processo revolucionário. Retrata bem sua posição em favor do Antigo Regime a famosa frase que se lhe atribui: Jamais consentirei em trair meu clero e minha nobreza. Durante o julgamento do rei, os girondinos procuravam defende-lo, temendo a radicalização do processo revolucionário pelas massas populares. Os jacobinos, entretanto, liderados por Robespierre e por Saint-Just, pregavam a condenação do rei à pena de morte. Ao final do processo, prevaleceu a vontade dos jacobinos. Em 21 de janeiro de 1793, Luiz XVI subiu ao cada falso para ser decapitado pela guilhotina. A execução do rei demonstrava ser impossível um entendimento entre monarquistas europeus e os rumos da revolução. A propagação das ideias revolucionárias pela Europa e o episódio da execução do rei provocaram uma reorganização das forças absolutistas, em países como Inglaterra, Holanda, Áustria, Prússia, para invadir a França. Fortalecidos no poder, os jacobinos criaram uma série de órgãos encarregados da defesa da revolução. Entre esses órgãos, destacam-se o Comitê de Salvação Pública, responsável pelo controle do exército e da administração do país, e o Tribunal Revolucionário, encarregado de vigiar, prender e punir os traidores da causa revolucionária. Esse Tribunal foi responsável pela morte de milhares de pessoas consideradas inimigas da revolução. Essa fase ficou conhecida como Terror, pois o medo da guilhotina percorria a cabeça de todos aqueles que não concordavam plenamente com os jacobinos. A ditadura jacobina. Sob a liderança de Robespierre, instalou-se uma verdadeira ditadura dos jacobinos, apoiada pelos sans-culottes. O governo procurou equilibrar-se entre as principais correntes políticas, umas mais identificadas com a burguesia e outras mais próximas dos anseios das massas populares. A ditadura jacobina colocou em prática diversas medidas de alcance popular: tabelamento geral dos preços, venda dos bens dos nobres emigrados e aumento de impostos sobre a alta burguesia. No plano militar, procedeu ao recrutamento geral dos cidadãos e ao fortalecimento do exército francês, que conseguiu repelir o ataque das forças absolutistas estrangeiras. Aliviadas as tensões decorrentes da ameaça estrangeira, os girondinos e o grupo da planície uniram-se contra o governo de Robespierre. Tendo liquidado os líderes das massas populares (Herbert e Danton), Robespierre começou a ficar politicamente isolado. Em 27 de julho de 1794, foi preso e logo depois guilhotinado. A Convenção Nacional abandonava, assim, os ideais de formação de uma república igualitária e democrática, passando a ser controlada pelos políticos que representavam os interesses da alta burguesia (grupo da planície e dos girondinos). O governo do Diretório Nessa fase, a Convenção Nacional, liderada pela planície, eliminou as perseguições políticas, o controle de preços e todas as organizações Página 24 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 sociais dos jacobinos. Além disso, preparou uma nova Constituição para a França, que ficou pronta em 1795, estabelecendo a continuidade do regime republicano, que seria controlado por um Diretório composto por cinco membros eleitos pelo Legislativo. Eliminando a influência popular nas decisões políticas, o governo voltou-se para a realização dos objetivos socioeconômicos da burguesia. No plano interno, estabeleceu uma política de plena liberdade comercial. No plano externo, adotou uma política de expansão dos domínios franceses, na qual se destacou a atuação militar do jovem Napoleão Bonaparte. A ascensão de Napoleão Bonaparte O governo do Diretório durou de 1795 a 1799. Foi um período conturbado, em que o governo tentou conter o descontentamento de correntes políticas antagônicas. De um lado, grupos monarquistas planejavam (1795) a tomada do poder e a restauração da monarquia. O golpe monarquista foi desativado por Napoleão Bonaparte, que se encontrava em Paris. De outro lado, encontramos a organização de grupos jacobinos, liderados por Gracchus Babeuf, que conspiravam contra o governo, propondo a construção de uma sociedade mais justa. Descoberta a conspiração, Babeuf foi preso e, posteriormente, condenado à guilhotina. A burguesia francesa estava ansiosa por ordem, paz e estabilidade das instituições públicas. Além disso, sentia necessidade de um governo forte, que contasse, ao mesmo tempo, com um certo prestígio popular. Naquele momento histórico, Napoleão Bonaparte, o dinâmico oficial do exército francês, era quem reunia as melhores condições para cumprir o papel desejado pela burguesia. No dia 10 de novembro de 1799 (18 Brumário, pelo calendário instituído pela revolução), Napoleão Bonaparte, contando com o apoio de influentes políticos burgueses, dissolveu o Diretório e estabeleceu um novo governo, denominado Consulado. Com o golpe do 18 Brumário, Napoleão Bonaparte consolidou as conquistas da burguesia francesa, encerrando o ciclo de turbulência revolucionária. A Revolução Industrial A partir de 1750, iniciou-se na Europa um grande processo de transformações socioeconômicas conhecido como Revolução Industrial. As pequenas oficinas dos artesãos foram sendo substituídas pelas fábricas. As ferramentas simples foram trocadas pelas novas máquinas que haviam surgido. As tradicionais fontes de energia (água, vento e força muscular) foram superadas pelas máquinas a vapor e pela eletricidade. A velha Europa agrária foi se tornando uma região com cidades populosas e industrializadas. Com o tempo, a Revolução Industrial influenciou profundamente a vida de milhões de pessoas em quase todas as regiões do planeta. Os avanços técnicos e a industrialização: Do trabalho artesanal ás máquinas Deixando de lado uma pequena elite de privilegiados, podemos dizer que, até o século XVII, os elementos básicos da vida econômica da grande maioria das pessoas consistiam em procurar obter três coisas essenciais: comida, roupa e alojamento. E tudo isso provinha da terra. O alimento, é claro. E da mesma forma, as peles de animais, a lã e as fibras vegetais. E as casas, naquela época, vinham da floresta próxima, da pedreira ou da olaria. Até o advento da Revolução Industrial, e em muitos países muito tempo depois dela, toda a economia era uma economia agrícola. Existem muitos sentidos para o termo Revolução Industrial. Aqui, ele designa o conjunto de transformações que alteraram a vida da Europa ocidental durante a segunda metade do século XVIII e quase todo o século XIX. Essas transformações estão diretamente ligadas à substituição do trabalho artesanal, que utiliza ferramentas, pelo trabalho assalariado, em que predominava o uso das máquinas. O desenvolvimento da produção O crescimento da produtividade econômica, durante a idade Moderna, desenvolveu-se principalmente através do aperfeiçoamento da organização da produção pela racionalização dos métodos. Com a Revolução Industrial, o crescimento da produtividade deu-se não apenas em função do aperfeiçoamento dos métodos produtivos, mas também pelo avanço da técnica, com a invenção Página 25 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 de máquinas. A produção passou por diferentes etapas: artesanal, manufatureira e, por último, mecanizada. Produção artesanal – A princípio, a produção era realizada por meio do artesanato. Nesse estágio, o produtor (artesão) exercia pleno controle sobre as diversas fases do processo produtivo, não havendo divisão do trabalho entre várias pessoas. Um artesão que fazia alfinetes, por exemplo, tinha que conhecer e executar sozinho todas as tarefas dessa atividade. Isto é, tinha que pegar um arame, endireita-lo, corta-lo, afiar uma ponta, colocar a cabeça na outra extremidade e dar o polimento final. Assim, o artesão dominava o conjunto do processo produtivo e era dono dos instrumentos de produção, desde a matéria-prima até as ferramentas que utilizava. Produção manufatureira – O estágio seguinte ao artesanato foi a produção realizada em manufaturas. As manufaturas eram oficinas que ainda não possuíam máquinas, mas dispunham de grande número de operários, equipados com ferramentas, que trabalhavam sob a coordenação de um gerente de produção. Foi nesse estágio que se introduziu a divisão do trabalho produtivo. Cada operário executava uma tarefa específica, não tendo visão de conjunto do processo de fabricação. No caso da fabricação de alfinetes, um operário puxava o arame, outro o endireitava, um terceiro cortava, um quarto o afiava, um quinto o esmerilhava na outra extremidade para a colocação da cabeça, um sexto colocava a cabeça e uma sétimo dava o polimento final. As tarefas eram subdivididas de forma racional, criando-se linhas de operações e de montagens cujo objetivo era aumentar a velocidade da produção. Produção mecanizada – Por último, chegamos à maquinofatura, insto é, à produção mecanizada nas fábricas. Esse estágio foi atingido quando os avanços técnicos, aliados ao aperfeiçoamento dos métodos produtivos, propiciaram a criação das máquinas industriais. Elas substituíram várias ferramentas e o próprio trabalho de muitos operários. As fábricas e a alienação do trabalho O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), no livro O capital, analisou as principais características do trabalho nos diferentes estágios da produção: do artesanato e manufatura até o advento da máquina nas fábricas. Na manufatura e no artesanato o operário se serve da ferramenta; na fábrica, ele serve à máquina. Lá, os movimentos dos instrumentos de trabalho partem dele; na última é ele que tem que seguir seus movimentos. Na manufatura, os operários são membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, existe, independente deles um mecanismo morto, ao qual são incorporados como apêndices vivos. (...) Até as medidas que tendem a facilitar o trabalho convertem-se em meio de tortura, pois a máquina não livra o operário do trabalho, mas priva seu trabalho de conteúdo. As fases da Revolução Industrial Podemos dividir a Revolução Industrial em, pelo menos, duas grandes fases: a primeira, de 1760 a 1860, com o predomínio industrial inglês; e a segunda, de 1860 a 1900, com a expansão da industrialização pela Europa e outros continentes. A industrialização inglesa – A primeira fase da Revolução Industrial ficou limitada, basicamente, à Inglaterra, o primeiro país europeu a conhecer um rápido processo de industrialização, baseado na utilização de carvão e ferro e na fabricação de tecidos. A indústria inglesa de tecidos de algodão desenvolveu-se a partir da introdução do tear mecânico. É interessante notar que a vestimenta (como ainda hoje) constituía um importante motivo de ostentação dos ricos e uma necessidade indispensável para os pobres. A fiação e tecelagem manuais eram processos infinitamente entediante e caros; a simples compra de um casaco pelo cidadão comum era comparável, hoje em dia, à aquisição de um automóvel ou, até mesmo, de uma casa. As novas máquinas tiraram a confecção de tecidos de dentro das residências e a levaram definitivamente para as tecelagens, tornado o produto mais barato. O aperfeiçoamento das máquinas a vapor também teve importância fundamental para o desenvolvimento industrial (fiação de algodão, minas de carvão etc.). A expansão industrial por outros países – Nesta segunda fase, a industrialização espalhou- Página 26 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 se por diversas regiões da Europa, atingindo países como França, Alemanha, Itália, Bélgica e Holanda. Em outros continentes, o processo de industrialização alcançou os Estados Unidos, na América, e o Japão, na Ásia. Nesse período, as principais inovações técnicas foram a utilização do aço, que superou o ferro, a utilização da energia elétrica e o desenvolvimento dos produtos químicos. O pioneirismo industrial da Inglaterra Um conjunto de fatores explicam o pioneirismo industrial da Inglaterra: Acúmulo de capitais – No plano econômico, a Inglaterra possuía a mais importante zona de livre comercio da Europa, sobretudo depois da Revolução Gloriosa, que fortalecera as ações da burguesia. Além disso, o país contava com um aprimorado sistema de créditos financeiros, desde a fundação do Banco da Inglaterra, em 1694. Isso permitiu â burguesia inglesa promover um grande acúmulo de capitais, através da expansão do comércio em escala mundial. Além disso, o puritanismo inglês estimulava a acumulação de riquezas da burguesia e o emprego de capitais para gerar novos lucros. Controle capitalista do campo – Com o acúmulo de capitais, a burguesia passou a investir na área rural. Isso conduziu ao controle capitalista do campo, que se desenvolveu por meio de um processo de concentração da propriedade agrícola (enclousures = cercamentos), ampliandose as grandes propriedades rurais. Foi introduzido também um sistema de racionalização dos métodos agrícolas, que promoveu o aumento da produtividade rural, liberando, ao mesmo tempo, grandes contingentes de camponeses de suas funções no campo. Pressionados a emigrar para as cidades, esses camponeses foram sendo aproveitados como mão-de-obra nas indústrias em expansão. Crescimento populacional – O aumento da produtividade agrícola e os progressos da medicina sanitária no combate às epidemias colaboraram para o crescimento da população, criando grande oferta de trabalhadores, que seriam explorados nas industriais. Posição geográfica – Outro fator que contribuiu para o pioneirismo inglês foi sua posição geográfica, isto é, o fato da sua situação à margem da Europa ocidental lhe dar acesso imediato às vias importantes do comércio do mundo e lhe facilitar a exploração dos grandes mercados ultramarinos. Os seus numerosos portos proporcionavam-lhe um comércio costeiro ativo. Muitos rios navegáveis ajudavam o desenvolver o comércio interno. 3 Jazidas de carvão - A Inglaterra também possuía grandes reservas de carvão e o fato das suas jazidas de carvão estarem muitas vezes convenientemente situadas perto dos portes tornava-lhe possível desenvolver as indústrias baseadas no carvão, numa época em que outros países ainda contavam com a madeira como combustível e usavam carvão de madeira como agente de fusão. As comunicações internas foram ainda desenvolvidas pela construção de uma rede de canais e novas estradas, e a construção de vagonetas veio servir o comércio do carvão, as minas, as pedreiras e as fábricas. O resto da Europa teve de esperar a época do vapor para começar a sério a industrialização. Capitalismo, progresso e exploração: As transformações da sociedade na era industrial. A partir da Revolução Industrial, o capitalismo industrial se estabeleceu como o principal modo de produção europeu. Isto é economia tornou-se capitalista, tendo a indústria como atividade econômica mais importante. Isso trouxe diversas transformações à nova sociedade industrial. Empresas X proletariado Com o advento da Revolução Industrial, o setor mais importante da burguesia passou a ser dominado pelos capitalistas industriais. Para desenvolver suas industriais, essa classe passou a lutar pela liberdade econômica para a iniciativa privada, pela ampliação dos mercados consumidores e pela mão-de-obra barata para trabalhar nas indústrias. Nas relações sociais, despontaram, portanto, duas novas classes em conflito: de um lado, os empresários industriais (donos dos meios de produção das fábricas) e, de outro, o proletariado (trabalhadores das indústrias, que viviam unicamente da venda da sua força de trabalho). O meio pelo qual o capitalista industrial Página 27 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 comprava a força de trabalho do proletariado era o salário. A exploração do trabalhador Tendo como objetivo obter os maiores lucros possíveis, o capitalista industrial procurava pagar o menor preço admissível pelo salário, enquanto explora ao máximo a capacidade de trabalho do proletariado, em busca do aumento da produção. Em diversas indústrias, a jornada de trabalho ultrapassava quinze horas diárias. Os salários pagos eram tão reduzidos que mal davam para assegurar a alimentação mínima de uma única pessoa. Para sobreviver, toda a família proletária era obrigada a trabalhar, inclusive mulheres e crianças de até seis anos. AS PESSIMAS CONDIÇÕES DE TRABALHO. Para agravar o quadro de miséria representado pelos salários de fome, as fábricas tinham instalações péssimas, contrárias a todas as normas de higiene e de saúde pública. Um relatório apresentado ao Parlamento Britânico, em 1833, apurou-se, por exemplo, que nas fábricas antigas e pequenas o ambiente é de sujeira, puçá ventilação, falta de banheiros e de vestuário, ausência de exaustores para a poeira. Alguns tetos são tão baixos que torna difícil permanecer em pé. Nessas fábricas, existem crianças trabalhando o mesmo número de horas que os adultos. Os efeitos provocados por essa longa jornada de trabalho são: deformação permanente da constituição física, aquisição de doenças incuráveis. O surgimento dos movimentos operários. Essa terrível situação de injustiça e de exploração do trabalho humano decorrente da Revolução Industrial acabou gerando lutas entre os proletários e capitalistas. Houve casos de grupos de operários que, armados de porretes, atacaram as fábricas, destruindo suas máquinas. Para eles, as máquinas personificavam a miséria, os salários de fome, a opressão. Com o tempo, o movimento operário evoluiu para a luta contra o sistema de injustiça gerado pela exploração do capitalismo industrial. Surgiram, então, movimentos operários que lutavam por melhores condições de trabalho, salário etc. As CONSEQUENCIAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Ao lado das transformações sociais, a Revolução Industrial teve como consequências, entre outras coisas: Divisão do trabalho e alienação – Visando aumentar a produtividade industrial, o trabalho do operário foi subdividido nas fábricas em múltiplas operações, dando origem às linhas de montagem. Com a divisão do trabalho, o operário perdia a noção do conjunto do processo produtivo, fragmentando o seu saber e colaborando para a sua alienação. Produção em série e padronização dos gostos – As linhas de operação e de montagem existentes ns fábricas trabalhavam para realizar uma produção em série do mesmo artigo. O aumento da produção em série colaborava para homogeneizar o gosto dos compradores dos produtos industriais. Desenvolvimento dos transportes e das comunicações – A revolução Industrial influiu decisivamente no progresso dos meios de transporte e de comunicação, sem os quais não se poderiam vender produtos industrializados nos mercados cada vez mais amplos do mundo. Constituíram momentos significativos do progresso dos transportes e das comunicações as invenções do navio a vapor, da locomotiva e do telégrafo. Urbanização – As cidades cresceram devido à concentração das indústrias e da grande massa de trabalhadores. A população urbana aumentou rapidamente. Na Inglaterra, por exemplo, a população crescia linearmente desde 1500. A partir de 1750, no entanto, houve verdadeiro salto populacional. De 6,571 milhões de habitantes em 1750, a população aumentou para 16,345 milhões em 1801 e saltou para 27,533 em 1851. As Teorias socioeconômicas: A reação ideológica à Revolução Industrial Diante da realidade da industrialização, surgiu todo um conjunto de teorias sociais e econômicas, algumas com o objetivo de justificar a organização da sociedade industrial, outras com objetivo de criticar ou reformar a sociedade que estava sendo moldada. Essas teorias podem ser divididas em três grupos principais: aquelas que justificam a sociedade industrial capitalista, aquelas que pretendiam revolucionar o mundo capitalista e Página 28 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 aquelas que sociedade. pretendiam reformar essa O LIBERALISMO ECONOMICO Entre as teorias que justificavam a organização da sociedade industrial capitalista, podemos citar o liberalismo econômico, que teve como principais representantes Adam Smith (1723-1790), Thomas Robert Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823). Adam Smith – Principal fundador do liberalismo econômico, defendia a não-intervenção do Estado na economia (laissez-faire), isto é, o Estado deveria cuidar apenas das funções relativas à segurança pública, garantindo a ordem e defendendo a propriedade privada. Defendia também a liberdade contratual, argumentando que os indivíduos deviam possuir liberdade para realizar qualquer tipo de contrato uns com os outros. Essa liberdade deveria vigorar, sobretudo, na negociação dos contratos de trabalho, em que patrões e empregados combinavam questões como salário, horas de trabalho, produtividade etc. Malthus – Escreveu o Ensaio sobre os princípios da população, em que afirmava que a miséria dos trabalhadores era produto de uma lei da natureza. Segundo Malthus, devido à “paixão entre os sexos” a população crescia em progressão geométrica, enquanto suas possibilidades de manutenção cresciam em progressão aritmética. Concluía que era preciso, então, impor sérias restrições morais à prática de relações sexuais, para evitar a explosão demográfica. Do contrário, o mundo se encaminharia cada vez mais para uma situação de pobreza extrema e fome permanente. David Ricardo – Em sua obra Princípios de economia política, afirmava que o trabalho deveria ser encarado como uma mercadoria sujeita à lei da oferta e da procura. Se havia muita oferta de trabalho, o preço dessa mercadoria evidentemente, diminuía, refletindo-se em baixos salários. Não competia ao Estado exigir aumentos dos salários que se opusessem à lei da oferta e da procura. Com essa tese, que justificava os salários de fome, David Ricardo fornecia aos ricos capitalistas uma fórmula admirável para que continuassem explorando, sem dramas de consciência, a miséria dos pobres. O SOCIALISMO Estamos utilizando o nome genérico socialismo para definir o conjunto de teorias que procuravam propor alternativas para a superação das injustiças da sociedade industrial. Essas teorias propunham uma alteração profunda nas estruturas sociais, com a retirada das classes dominantes do poder (revolução). As duas principais correntes socialistas foram: a utópica e a científica. SOCIALISMO UTÓPICO Pela expressão socialismo utópico, ficaram conhecidas as primeiras correntes socialistas, formuladas por homens como SaintSimon, Charles Fourier, Pierre Proudhom e Robert Owen. Saint-Simon (1760-1825) – Pregava a extinção das diferenças de classes e a construção de uma sociedade em que todos ganhassem de acordo com o seu trabalho. Fourier (1772-1837) – Imaginou uma sociedade composta de indivíduos vivendo harmonicamente em comunidades livres, onde cada um se dedicaria à atividade que lhe fosse confiada pelo conjunto dos membros. Pierre Proudhon (1804-1865) – Considerava toda a propriedade privada um roubo, sendo a base da exploração do trabalho alheio. Robert Owen (1771-1852) – Pregava a organização da sociedade em comunidades cooperativas (trade-unions) compostas por operários, baseadas em sistemas de autogestão. Socialismo científico ou marxismo Os pensadores Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) formularam o chamado socialismo científico, que depois passou a ser denominado simplesmente marxismo. Foi denominado cientifico, pois se baseava na análise histórico-filosófica da sociedade e não apenas em ideais de justiça social. Vamos, então, as principais ideias da teoria marxista. Dialética – A natureza e a sociedade sofrem permanentemente mudanças quantitativas e qualitativas. Para Marx e Engels, essas mudanças ocorrem de maneira dialética, isto é, elas são o resultado da luta de forças contrárias (positivo X negativo, amor X ódio, vida X morte, explorado X explorador etc). Página 29 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Modo de produção – Toda sociedade tem uma base material, um a estrutura, que a sustenta. Essa estrutura é constituída pelas forças produtivas (instrumentos utilizados, habilidades e hábitos dos trabalhadores) e pelas relações de produção estabelecidas entre os homens que participam do processo produtivo. O conjunto dessas forças e relações determina o modo de produção que uma sociedade utiliza para garantir sua existência material, condicionando também toda a sua vida social, política e intelectual. Capitalismo e socialismo são exemplos de modos de produção. Luta de classes – Em termos sociais, o motor da história é a luta de classes, que só cessaria com o aparecimento da sociedade comunista perfeita. Nela não haveria a exploração de classes, e os homens estariam livres das injustiças sociais. Mas para isso era necessária a união dos trabalhadores. Por isso, Marx pregava: Proletários de todos os países, uni-vos. Mais-valia – Para Marx e Engels, o capitalista (proprietário dos meios de produção), ao explorar o trabalho assalariado, recebe lucros gerados pela mais-valia. Em termos bem simples, podemos explicar a noção de mais-valia da seguinte maneira: um operário, por exemplo, ao realizar um trabalho, deveria receber de forma integral o correspondente ao valor social do seu trabalho. Entretanto, o capitalista apropria-se de parte desse trabalho que deveria ser paga ao operário. A essa parte não-remunerada do trabalho social dá-se o nome de mais-valia. Entre as principais obras do socialismo científico, podemos citar Contribuição à crítica da economia política (1859), Manifesto comunista (de Marx e Engels, publicado em 1848) e O Capital (de Marx, cujo primeiro volume foi publicado em 1857). Uma conciliação plena desses interesses seria difícil, na medida em que exigia um acordo entre explorado e explorador. De qualquer modo, foi assim que nasceram as teorias sociais-cristãs, numa tentativa de aplicar os ensinamentos evangélicos de amor e de respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização. O pensamento social-cristão Diversos pensadores cristãos, como Robert Lamennais, Adolph Wagner, J. D. Maurice e outros, procuraram lançar apelos às classes dominantes para que fossem aliviados os sofrimentos das classes trabalhadoras. O objetivo era promover uma reforma na sociedade, conciliando os interesses dos capitalistas industriais com certos padrões mínimos de dignidade humana exigidos pela classe operária. A constituição americana Implantada em 1787 adotou o governo republicano; separação dos três poderes; e livre exercício dos direitos políticos e civis. A INDEPENDENCIA DAS AMERICAS INDEPENDENCIA DOS EUA “O processo histórico que levou a independência dos Estados Unidos, inaugurou um sistema de rompimento colonial americano. ” Esse processo iniciou-se após a guerra dos sete anos, travada entre Inglaterra e França, por terras na América do Norte. Inglaterra no intuito de pressão as suas terras coloniais e restrição, desagradou as elites coloniais, dando início ao processo de independência. Leis adotadas pelos Ingleses Lei do açúcar (1764); Lei do Selo (1765) e Lei do chá (1773), o que tiravam autonomia comercial das colônias. A Declaração de Independência Declarada oficialmente por Thomas Jefferson, em 4 de julho de 1776, se livrando assim da dominação Inglesa. A Guerra da Independência A guerra entre colonos e Inglaterra perdurou por sete anos, o que a dividiu e duas etapas, após ser iniciada em 1775: Na primeira fase as tropas americanas enfrentam as tropas inglesas sozinhas. Na segunda etapa os norte-americanos recebem apoio de outros países: França, Espanha e Províncias Unidas. A independência das Américas A Independência da América espanhola está relacionada as transformações que ocorreram na Europa no século XVIII, levando a derrocada do Absolutismo, o que causaram um enorme impacto nas Américas. Página 30 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 As Razões da Independência: A riqueza das colônias espanholas já não era mais a mesma. A exploração de metais preciosos em séculos anteriores sugou praticamente toda a riqueza de algumas regiões. Como a Espanha era um país extremamente atrasado no seu desenvolvimento industrial, importava inúmeros produtos da Inglaterra e da França, e tornou-se grande devedora desses países. Na tentativa de contorno para a situação, a Coroa encontrou algumas soluções: 2.1) Aumento de Impostos; 2.2) Restrição ainda mais do comércio Colonial. Medidas que desagradaram colonos: crioullos (descendentes de espanhóis na América), controladores de grande parte das atividades econômicas coloniais e que não viam seus interesses representados. Proibidos de tomar decisões políticas, a qual estava na mão dos Chapetones (espanhóis escolhidos pela coroa para governar as colônias). Impulsionados pelos ideais da independência norte-americana e da Revolução Francesa, diversos movimentos de independência na América Espanhola surgiram, com financiamento Inglês, que via interesses com o fim do Pacto Colonial, e crescimento de mercado. Os Movimentos de Independência: Tupac Amaru, que se iniciou em 1783, com uma revolta indígena, liderados por José Gabriel, que dá nome ao movimento, incitada pela grande exploração que os mesmos sofriam, e acabou se tornando uma tentativa de Independência do Peru. Porém movimento foi sufocado brutalmente. A Independência do México: Conhecida como Vice-Reinado da Nova Espanha, que primeiramente tentou a independência, em 1810, sob a liderança de Miguel Hidalgo, porém sufocado pelo exército Espanhol. Posteriormente, a independência definitiva veio a ocorrer em 1821, sob comando do general Itúrbe que se declarou imperador, e em 1823 é proclamada a República. A independência de Nova Granada: O Vice-Reinado de Nova Granada veio a formar três países no sul do continente: Venezuela, Colômbia e Equador. Liderados por Simon Bolívar, que ficou conhecido como o grande libertador. A Venezuela rompendo com a Colômbia, tornou-se independente em 1830, e o Equador em 1822. A independência do Vice-reinado do Rio da Prata Iniciado em 1811 pelo Paraguai, com a sua libertação e incentivo a Argentina que logo em seguida o fez. O Uruguai por sua vez só conquistou a independência em 1828, após uma guerra de três anos com o Brasil, liderado por San Martin. Imperialismo e as disputas capitalistas Neocolonialismo: O século XIX vai conhecer uma nova corrida colonial. Este processo histórico está diretamente relacionado com a chamada Segunda Revolução Industrial–ocorrida na Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália Japão e Estados Unidos. A Segunda Revolução Industrial provocou um enorme aumento na capacidade produtiva das indústrias, fazendo-se necessário uma ampliação do mercado consumidor e do mercado fornecedor. A disputa por novos mercados resulta no imperialismo e, posteriormente, na Primeira Guerra Mundial. O Antigo Sistema Colonial e o Neocolonialismo. O Antigo Sistema Colonial ocorreu entre os séculos XVI e XVIII. A preocupação fundamental era o fornecimento de gêneros tropicais e de metais preciosos para a Europa, bem como o consumo de produtos manufaturados europeus, por parte das colônias. A mão-de-obra utilizada era a escrava (negra ou indígena), a política econômica que norteava as relações era o Mercantilismo – com a necessidade de acumulação de capitais, daí a existência dos monopólios. A área geográfica do Antigo Sistema Colonial era a América- podendo-se encontrar colônias de exploração e colônias de povoamento. Já no Neocolonialismo a área geográfica passou a ser a África e a Ásia. A política econômica que predomina será o liberalismo e o fator básico da colonização é econômico, ou seja, necessidade de matérias-primas industriais, tais como carvão, ferro, petróleo. A área colonial receberá os excedentes industriais e será local para investimentos de capitais disponíveis na Europa. As novas áreas coloniais também auxiliarão as tensões sociais da Europa: novas terras para receber população europeia, tornando-se uma válvula de escape às pressões demográficas. O regime de trabalho será o assalariado – garantindo assim o mercado consumidor. A mão-de-obra Página 31 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 barata das áreas coloniais interessava às grandes industriais, pois o trabalhador europeu recebia altos salários, em razão de sua organização sindical e de partidos políticos que lutavam pelos direitos trabalhistas. A propaganda que defendia o imperialismo denominava-se ―darwinismo social. Baseada em ideias pseudocientíficas, afirmava ser a sociedade europeia (branca) mais civilizada que outras sociedades (não brancas). Assim, cabia à sociedade europeia a missão de ―civilizar as demais, o conhecido ―fardo do homem branco‖. Porém, o neocolonialismo foi estritamente econômico, satisfazendo os interesses dos grandes grupos econômicos – cartéis, trustes e holdings – e beneficiando a alta burguesia. Por conta disto, o neocolonialismo alterou o capitalismo que, de concorrencial passou a ser monopolista: o capital concentrado em grandes grupos econômicos financiados por grandes bancos. Desenvolve-se então uma nova modalidade de capitalismo, o capitalismo financeiro. O imperialismo na Ásia A revolução Industrial e a expansão das indústrias têxtis inglesas tornam a Ásia uma consumidora de produtos europeus, especialmente britânica. Uma das regiões mais disputadas na Ásia foi a Índia que, ao longo dos séculos XVI ao XIX ficará sob o controle da Inglaterra. A Índia será administrada pela Companhia das Índias Orientais. Em 1857 ocorre a Revolta dos Sipaios, última tentativa de resistência ao domínio britânico e, em 1876 a rainha Vitória foi coroada imperatriz da Índia. O imperialismo na China ligava-se aos interesses econômicos do chá, seda e outras mercadorias. Entre 1840 e 1842 ocorreu a Guerra do Ópio, em razão da destruição de carregamentos de ópio para a China. A vitória inglesa no conflito resultou na assinatura do Tratado de Nanquim, onde Hong Kong é incorporado à Inglaterra e cinco portos foram abertos ao comércio inglês – com destaque para os portos de Xangai e Nanquim. Após esta abertura forçada, a China será alvo de outras nações imperialistas, como o Japão, Alemanha, França Itália e Estados Unidos. Como reação ao domínio estrangeiro surge uma sociedade nacionalista secreta – a Sociedade dos Boxers – promovendo ataques e sabotagens aos estrangeiros. Surge então a Guerra dos Boxers, cuja derrota chinesa às potências estrangeiras culminou com novas concessões econômicas. O imperialismo na África Um dos pioneiros na conquista da África foi a França que, em 1830 ocupou a Argélia; em 1844 conquistou o Marrocos e em 1854 o Senegal. No ano de 1910 foi formada a África Ocidental Francesa, composta pelos territórios da Guiné, Gabão, parte do Congo e do Sudão. Ainda parte do império colonial contava-se o Madagascar e a Tunísia. A Inglaterra teve sua colonização na África impulsionada pelo à construção do canal de Suez, no Egito. Em 1888 a companhia dirigida por Cecil Rhodes conquistou a Rodésia. Entre os anos de 1888 e 1891 foram incorporados ao império britânico o Quênia, a Somália e Uganda. Outros territórios britânicos foram a União Sul- Africana, Nigéria, Costa do Ouro e Serra Leoa. A Alemanha conquistou o Camarão, África Sudoeste e África Oriental. A Itália anexou a Líbia, Somália e Eritréia. Portugal anexou Moçambique, Angola, Guiné Portuguesa; a Espanha com o Marrocos Espanhol, Guiné Espanhola e Rio do Ouro. A região central da África era objeto de disputa por várias nações europeias. Para resolver a questão foi organizada a Conferência de Berlim (1884/85), que contou com a participação da Rússia e dos Estados Unidos. A conferência estimulou a corrida sobre os poucos territórios livres que existiam no continente africano. O Japão adota posturas imperialistas a partir da década de 1860, início do período de modernização do Japão, conhecido como ―Era Meiji‖. O imperialismo japonês ocorrerá sobre a China, Coréia e Formosa (Taiwan). O imperialismo na América Latina será exercido pelos Estados Unidos: México, após a guerra de 1848. A partir de 1870 o domínio norteamericano se fará na região do Caribe. A parte sul do continente americano terá o predomínio da Inglaterra. Consequências do neocolonialismo O mundo será partilhado entre as grandes potências industriais. A tentativa de ampliar as áreas de dominação provocará o choque imperialista. Este choque vai deflagrar a Primeira Guerra Mundial. A descolonização Causas da descolonização A descolonização da Ásia e da África está relacionada com a decadência da Europa, Página 32 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 motivada pela Primeira Guerra Mundial, pela crise de 1929 e Segunda Guerra Mundial. Outro fator será o despertar do sentimento nacionalista na Ásia e na África, impulsionado pela decadência da Europa e pela Carta da Onu, que, em 1945, reconheceu o direito dos povos colonizados à autodeterminação. O ponto máximo do nacionalismo será a Conferência de Bandung (1955), ocorrida na Indonésia que estimulou as lutas pela independência. A guerra fria e a polarização entre EUA (capitalismo) e a URSS (socialismo) também contribuiu para o fim dos impérios coloniais. Cada uma das superpotências via na descolonização uma oportunidade de ampliar suas influências políticas e econômicas. A Descolonização da Ásia O processo de independência das áreas coloniais asiáticas foi por meio da guerra ou pacífica. Independência da Índia O processo de independência da Índia teve seu início na década de 1920, através do Partido do Congresso, sob a liderança de Mahatma Gandhi e Jawarhalal Nerhu. A campanha de Gandhi foi caracterizada pela desobediência civil, não violência e resistência passiva. Em 1947, os ingleses reconheceram a independência da Índia. Em face das rivalidades religiosas o território foi dividido: a maioria hinduísta, governada por Nerhu formará a União Indiana; a parte islâmica, governada por Ali Junnah, formará o Paquistão. Em 1971 o Paquistão Oriental proclama sua independência do Paquistão Ocidental, surgindo a República do Bangladesh. Independência da Indonésia O movimento de independência da Indonésia foi conduzido por Sukarno. A luta estendeu-se até 1949, quando a Holanda reconheceu a independência. Independência da Indochina No ano de 1941, como resistência à ocupação japonesa, formou-se um movimento nacionalista – Vietminh – dirigido por Ho Chi Minh. Após a derrota japonesa na guerra foi proclamada a independência da República Democrática do Vietnã (parte norte). Os franceses não reconheceram a independência e tentaram, a partir de 1946, recolonizar a Indochina, tendo início a Guerra da Indochina. Em 1954, na Conferência de Genebra foi reconhecida a independência da Indochina, dividida em Laos, Camboja e Vietnã (parte norte e parte sul). A mesma conferência estabeleceu que o paralelo 17 dividiria o Vietnã. Em 1956 formou-se a Frente de Libertação Nacional, contra o governo de Ngo Dinh Diem – apoiado pelos EUA. A Frente contou com o apoio do Vietcong (exército guerrilheiro). O cancelamento das eleições de 1960 deu início à guerra do Vietnã. O Vietcong contou com o apoio do Vietnã do Norte, e o governo de Ngo Dinh Diem dos EUA. A guerra perdurou até 1975, quando os Estados Unidos se retiraram da região. O fim do império colonial português Durante a década de 1950 começaram a se organizar movimentos separatistas em Angola, Moçambique e Guiné portuguesa. Em 1956 foi criado o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), sob a liderança de Agostinho Neto. Posteriormente surgiram a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Após a independência de Angola, mediante o Acordo de Alvor em 1975, os três grupos acima iniciaram uma guerra civil, na disputa pelo poder. A independência de Moçambique foi patrocinada pela Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), tendo como lider Samora Machel – que em 1960 iniciou um movimento de guerrilha. Portugal reconheceu a independência em 1975. No ano de 1956, Amílcar Cabral fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). No ano de 1974 foi reconhecida a independência da Guiné; em 1975 do Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe. Um importante fato que contribuiu para o fim do império colonial português foi a Revolução dos Cravos, que ocorreu em 25 de abril de 1974 e que marcou o fim do regime fascista (imposto por Oliveira Salazar e continuado por Américo Tomás e seu primeiro-ministro Marcelo Caetano). O novo governo de Portugal não ofereceu resistência para o reconhecimento da independência das colônias. As consequências da descolonização Entre as consequências do processo de descolonização afro-asiática enumeramos o surgimento de novos países que, ao lado das nações latino americanas, formaram o bloco do Terceiro Mundo. Este bloco fica sob a Página 33 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 dependência dos países capitalistas desenvolvidos (Primeiro Mundo) ou de países socialistas (Segundo Mundo). A dependência deste bloco será responsável pela concentração de renda nos países ricos e pelo crescente endividamento externo dos países subdesenvolvidos, apresentando sérios problemas de saúde, educação, desnutrição, entre outros. O MUNDO EM CONFLITO Primeira Guerra Mundial Com o declínio da supremacia europeia sobre o mundo, e a tardia colonização de mercado por parte e alguns países, nem mesmo a Europa acreditava em um conflito tão grande. Com enormes antagonismos entre as nações e alianças secretas, e reivindicação por uma divisão de colônias, a guerra se tornou inevitável. Causas da Guerra As causas da guerra vão ser ocasionadas devido à enorme tensão existente entre diversos países europeus, os quais estavam ligadas a questões históricas, questões fronteiriças, e um forte revanchismo. Países como Alemanha, Inglaterra, França, Eslavos estiveram fortemente envolvidos nestas tensões, ocasionando alianças, as quais estavam em dois polos: Tríplice Aliança formada pela Alemanha, Áustria e Itália; e a Tríplice Entente composta por Inglaterra, Rússia e França. Incitada, principalmente como válvula de escape, a morte do imperador austríaco Francisco Ferdinando em 1914, desencadeou a abertura da primeira Guerra Mundial. Etapas da Guerra A primeira etapa está ligada as invasões dos países, ou seja, a primeira movimentação, com a Alemanha invadindo a Bélgica, (1914 – 1915). Na segunda etapa nos anos de 1915 a 1917, ficou conhecida como guerra das trincheiras, a qual fortemente estava atrelada a uma guerra sem movimentação, parada, com a entrada da Itália ao lado da Entente. A terceira fase da guerra fica marcada pela entrada dos EUA, o qual possuía altos investimentos na Inglaterra e na França. O que também deu forte apoio a Entente, ocasionando a vitória do grupo. Efeitos da Guerra A guerra trouxe diversas diferenças, modificações e transformações a sociedade mundial. A exemplo disso temos a realocação do papel da mulher no mercado de trabalho, o forte risco de revoluções nos países vencidos, forte dependência da Europa em relação aos produtos americanos, além da reorganização geográfica com o surgimento de novos países. Outra importante instituição que surgiu com o fim da guerra foi a chamada Liga das Nações, com o papel de agir como mediadora mundial em conflitos entre nações. Como consequência pelo fim da guerra, tem-se o Tratado de Versalhes, o qual impôs diversas condições aos países derrotados, principalmente a Alemanha, a qual sofreu sanções e humilhações demasiadamente penosas e constrangedoras: pagar uma enorme taxa aos países vencedores, e devolução de uma enorme parte que havia anexado aos seus territórios. O Período entre Guerras O período entre guerras, assim conhecido por ter sido o intervalo entre a primeira e a segunda guerra mundial, em um curto espaço de tempo, inicialmente se mostrou bastante promissor pela época de crescimento e renovação de uma época de progresso, altas importações e investimentos na Europa tornou os EUA em uma enorme potência mundial, e a Europa conheceu a chamada Bela Époque. Porém este crescimento teve fim com a Crise de 29, devido à quebra da bolsa de Nova York, ocasionando um a crise geral em todo o globo. Tal crise desencadeou graves consequências, como a falência generalizada, aumento da fome, do desemprego, e principalmente ao fortalecimento do NaziFascismo. O governo Norte americano para acabar com a crise, em pleno governo de Roosevelt, implantou o New Deal, trazendo assim a passagem do liberalismo econômico para o capitalismo monopolista, ou seja, uma intervenção do estado na economia, o que perdurou até a segunda Guerra Mundial. O Fascismo O medo das ideias socialistas, crescentes pela Europa, abalaram as classes medias e a alta burguesia dentro da Itália, os levando assim a apoiar o Partido Nacional Fascista, liderado por Página 34 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 Benito Mussolini, que via no liberalismo econômico uma fraqueza muito grande. Através da Marcha sobre Roma, Mussolini se torna primeiro ministro italiano em 1922. Porém a quebra da bolsa de Nova York abalou gravemente a economia, fazendo com que Mussolini desse início a expansão imperialista invadindo a Etiópia, na tentativa de reequilibrar as finanças italianas. O Fascismo trazia consigo diversas características que seriam próprias: Militarismo, Nacionalismo, Idealismo e o Totalitarismo. O Nazismo A Alemanha, saída da guerra como a grande derrotada e humilhada pelas fortes imposições do Tratado de Versalhes, além da crise que abalava ainda mais a economia Alemã. Com isso houve o crescimento do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores (Partido Nazista) liderado por Adolf Hitler, o qual trazia teorias de superioridade (arianismo), além de uma ideologia de extrema direita. Em 1934, Adolf Hitler assume o poder por completo como primeiro ministro e presidente, sendo conhecido com Funhrer. Outro caráter forte que estava ligado ao nazismo era a ideia antisemitista, o que seria um diferencial em relação ao fascismo italiano. Adotado por outros países com características locais, porém ainda fascista como em Portugal que ficou conhecido como Salazarismo e na Espanha como Franquismo. A Alemanha atacava e bombardeava a Inglaterra intensamente, porem as ilhas britânicas sob comando de Winston Churchill resistia militarmente a Adolf Hitler. Na segunda fase da Guerra (1942 – 1943), há uma contraofensiva por parte dos aliados, contendo os ataques do Eixo. Os EUA impunham pesadas derrotas aos Japoneses nas batalhas de Midway e Guadalcanal, após terem sido bombardeados no ataque a Pearl Harbour, no Havaí. A terceira fase se caracteriza pela derrocada do Eixo, que era formalizada pelo Japão, Alemanha e Itália, as quais agora saiam derrotadas, principalmente pela forte atuação e imposição militar Norte Americana e da URSS. Mussolini foi deposto em 1943, com a Itália assinando o armistício. A Alemanha invadida e ocupada pelo Exército Vermelho, que ficou conhecido como Rolo compressor, por rapidamente derrotar as forças alemãs, além da invasão por parte dos aliados, com a rendição oficialmente dada em 8 de maio de 1945, conhecido como Dia D. Já o Japão só veio a se render em 2 de setembro de 1945, após sofrer uma gigantesca ofensiva com os ferozes ataques em Hiroshima e Nagasaki, com as bombas atômicas norte americanas. A Segunda Guerra Mundial Com o fim da primeira guerra mundial, permaneceu um resquício de humilhação e revanchismo em relação ao povo alemão. O que fortaleceu ainda mais as ideias de conquistas e imperialismo de Hitler, além da ideia de mudança no Tratado de Versalhes, recebendo apoio de Itália e Japão. Fim da Guerra e a Criação da ONU A Organização das Nações Unidas, foi criada em 1945, na chamada conferencia de São Francisco, a qual foi referenciada na Assembleia Geral do mesmo ano, onde inclusive o Brasil é considerado membro fundador. Com o objetivo de manter a paz e a cooperação mundial, já que a antiga Ligas da Nações havia falhado nesta tarefa. Possuindo diversos conselhos como: Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela, Corte Internacional de Justiça. Além de instituições especializadas: OMS, OIT, ONUID, GATT e UNESCO. Fases da Segunda Guerra A primeira fase da segunda grande guerra (1939 – 1941) é fortemente caracterizada pela invasão Alemã a Polônia e logo em seguida da Noruega e da Dinamarca, com guerra relâmpago, a qual ficou conhecida como estratégia Blitzkrieg. Posteriormente a Alemanha invade a Holanda, Luxemburgo e a Bélgica, e em parte da França. Aliados também a esta guerra estava o Japão invadindo a China e a Itália que entrava na Guerra atacando Malta, Gibraltar e Alexandria. Patrimônio Cultural e Diversidade Cultural Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental, ter também a capacidade de diferenciar entre patrimônio material e imaterial e por fim será elencado os patrimônios culturais e naturais brasileiros, acompanhado de algumas questões do ENEM sobre o assunto. Contexto Histórico Significado primitivo: Patrimônio = grego (Pater) 1) Patrimônio: tudo aquilo que é deixado pelo Pai; Página 35 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 2) Patrimônio: bens materiais + cultura, identidade; 3) Patrimônio: monumentos vão expressar os fatos (singular); 4) Patrimônio: artístico e estético (só para elite) 5) Século XIX -> Avanço -> espaço urbano, cultura. 2. Existem dois conceitos de Patrimônio: Material; Legal; O conceito de Patrimônio não existe isolado. Só existe em relação a alguma coisa. Podemos dizer que Patrimônio é o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitimos a gerações futuras. Um outro conceito para você não esquecer: ―Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: são os monumentos e obras de arte, e também as festas, músicas e danças, os folguedos e as comidas, os saberes, fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as ideias e a fantasia. Cecília Londres. No sentido Legal, está no artigo 216 da Constituição Federal da República Federativa do Brasil. 3. Classificação do Patrimônio: Histórico; Cultural; Ambiental Patrimônio Histórico É o conjunto de bens que contam a história de uma geração através de sua arquitetura, vestes, acessórios, mobílias, utensílios, armas, ferramentas, meios de transportes, obras de arte, documentos. Até final da década de 1970, tinha caráter político/elitista. A partir de 1980, passaram a ser consideradas outras etnias e classessociais. Um exemplo de patrimônio histórico é a Universidade Federal do Paraná. Localizada no centro de Curitiba, capital do estado, foi a primeira universidade criada no Brasil. Patrimônio Cultural É o conjunto de bens materiais e/ou imateriais, que contam a história de um povo através de seus costumes, comidas típicas, religiões, lendas, cantos, danças, linguagem. Tipos de Patrimônio Material Imaterial Material: O patrimônio material é formado por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis – núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais – e móveis – coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. 3 Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Livro do Tombo Histórico. Livro do Tombo das Belas-Artes. Livro do Tombo das Artes Aplicadas. Entre os bens materiais brasileiros estão os conjuntos arquitetônicos de cidades como Ouro Preto (MG), Paraty (RJ), Olinda (PE) e São Luís (MA) ou paisagísticos, como Lençóis (BA), Serra do Curral (Belo Horizonte), Grutas do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida (Bonito, MS) e o Corcovado (Rio de Janeiro). Imaterial: Os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, ao modo de ser das pessoas. Desta forma podem ser considerados bens imateriais: conhecimentos enraizados no cotidiano das comunidades; manifestações literárias, comidas e bebidas típicas, danças, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; rituais e festas que marcam a vivência coletiva da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; além de mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais. Na lista de bens imateriais brasileiros estão a festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a Feira de Caruaru, o Frevo, a capoeira, o modo artesanal de fazer Queijo de Minas e as matrizes do Samba no Rio de Janeiro. Características de um patrimônio: A principal característica de um patrimônio é que a sua conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do lugar e de seu povo, quer por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico. Página 36 de 37 Prof. Danilo Mendes – História Geral – UniENEM/PIAP - 2017 REFERENCIAS www.sohistoria.com.br\ef2\renascimento\p2 \php Acesso: 21 de março de 2015. www.brasilescola.com/geografia/descoloniz acaoafrica.htm. Acesso: 21 de março de 2015. www.mundovestibular.com.br/articles/4399/ 1/ABSOLUTISMOEMERCANTILISMO/P aacutegina1.html Acesso: 21 de março de 2015. www.mundovestibular.com.br/articles/4398/1/AE XPANSAOMARITIMAEUROPEIA/P aacutegina1.html. Acesso: 21 de março de 2015. www.infoescola.com/historia/sistema-colonialmercantilista/ Acesso: 21 de março de 2015. DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo: Pioneira, 1989. MICELI, Paulo. O Ponto Onde estamos. Viagens e Viajantes na História da Expansão e da Conquista (Portugal séculos XV e XVI). S.P. Página Aberta. 1994. COTRIM, G. História e Consciência do Mundo 2.10ª ed. São Paulo: Saraiva, s.d. Magalhães, C. M. B. B. de. História e Geografia. Curitiba: Arco-íris Casa Publicadora, s.d. ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. IN: MAGNOLI, Demétrio (Org.). História das guerras. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2006, pp. 319 – 354. TOTA, Pedro. Segunda Guerra Mundial. IN: MAGNOLI, Demétrio (Org.). História das guerras. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2006, pp. 355 – 390. Página 37 de 37