UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MODELO DE GASTRECTOMIA VERTICAL EM RATOS WISTAR JOÃO DE BONA CASTELAN FILHO CRICIÚMA – SANTA CATARINA 2007 I1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MODELO DE GASTRECTOMIA VERTICAL EM RATOS WISTAR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Extremo Sul Catarinense, para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientadora: Prof. Dra. Jane Bettiol Co-orientador: Prof. Dr. Armando José d’Acampora CRICIÚMA – SANTA CATARINA 2007 II2 III 3 DEDICATÓRIA Á minha esposa Maria de Glória e aos filhos João Vicente e José Augusto, sempre queridos, incentivadores amorosos e companheiros de todos os momentos, meu amor, e agradecimento pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência, em todos estes anos de profissão e principalmente durante este mestrado Sem vocês não seria possível. À meus pais (in memorian), certo de que fariam a leitura deste trabalho com o mesmo amor com que leram as teses de mestrado e doutorado dos demais filhos e netos . Aos meus irmãos e irmãs, e especialmente ao mano e padrinho Walter (in memorian), Mestre e Doutor pioneiro em Santa Catarina. Ao Grupo de Pesquisa em Obesidade, os antes acadêmicos e hoje colegas, João Vicente Edom Castelan, Jonathan Caon de Souza e Vinicius Bressiani, e à acadêmica Simoni Batisti Giroldi, desejando-lhes uma bela carreira médica. Á todos os mestres e colegas que deram sua contribuição em todas as etapas de minha formação, básica, de graduação e de pós-graduação. . IV4 AGRADECIMENTOS À minha orientadora Professora Dra. Jane Bettiol, incentivadora, compreensiva das dificuldades e deficiências do orientado, por ter acreditado no projeto e ter sido companheira até o final desta etapa. Ao co-orientador, Professor Dr. Armando José d´Acampora, por ter aberto para mim as portas da cirurgia experimental, com objetividade e sabedoria nas orientações. Ao Professor Vilson Cardoso, veterinário experiente e colaborador da técnica operatória, sem o qual não teria sido viabilizado o experimento; emprestou seu tempo, materiais, auxílio, e sua clínica. Aos Professores Sergio Alice e Patrick Canela, pelos anatomopatológicos, e ao Professor. Dr. Álvaro Back pelas análises estatísticas Aos funcionários do Biotério e dos Laboratórios de Técnica Operatória da Unesc e da Unisul, e aos acadêmicos colaboradores Caroline Brito Bassani, Gustavo de Oliveira Silva, Bruna Larissa Zanella, Samira Valvassori e Gustavo Feier. Aos colegas do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital São José, Lúcio Stopazzolli, Alexandre Silvestre, Giancarlo Búrigo e Nehad Nimer, pela amizade e pela cobertura no sobreaviso de cirurgia e no Serviço de Endoscopia. Aos professores e funcionários de PPGCS-UNESC. À Deus , nosso porto mais seguro. V5 ÍNDICE PARTE I.....................................................................................................................06 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS....................................................................06 RESUMO....................................................................................................................07 ABSTRACT................................................................................................................08 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................09 1.1 A Obesidade e a Cirurgia Bariátrica.....................................................................10 1.1.1 A Evolução da Cirurgia Bariátrica......................................................................15 1.1.2 Bypass Jejuno-Ileal (BPJI)................................................................................16 1.1.3 Bypass Gástrico................................................................................................17 1.1.4 Gastroplastia Vertical........................................................................................19 1.1.5 Derivação Biliopancreática (DBP) com Gastrectomia Subtotal.........................20 1.1.6 Derivação Bilio-pancreática (DBP) com GV, ou Duodenal-Switch (DS)...........21 1.1.7 Banda Gástrica Ajustável (BGA).......................................................................22 2 REGULAÇÃO NEUROHORMONAL DA FOME.....................................................23 3 GASTRECTOMIA VERTICAL (GV) .......................................................................26 4 OBJETIVOS............................................................................................................28 5.1 Objetivo Geral.......................................................................................................28 5.2 Objetivos Específicos...........................................................................................28 5.3 Aprovação do Comitê de Ética da Unesc.............................................................28 PARTE II....................................................................................................................29 1 ARTIGO...................................................................................................................29 9 DISCUSSÃO...........................................................................................................35 10 CONCLUSÕES.....................................................................................................42 11 PERSPECTIVAS...................................................................................................43 12 REFERÊNCIAS.....................................................................................................44 LISTA DE FIGURAS..................................................................................................50 6 PARTE I LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AVE - Acidente Vascular Encefálico BGA - Banda Gástrica Ajustável BPGYR - Bypass Gástrico em Y de Roux DBP - Derivação Biliopancreática. DS - Duodenal-switch GC - Grupo Controle GH - Hormônio do Crescimento GHr - Ghrelina GV - Gastrectomia Vertical GVA - Gastroplastia Vertical com Anel HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica IAM - Infarto Agudo do Miocárdio IM - Intramuscular IMC - Índice de Massa Corporal NIH - National Institute of Health OMS - Organização Mundial da Saúde UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense 7 RESUMO A obesidade é um grave problema de saúde em nível mundial, com preocupante aumento de sua incidência neste século. Os tratamentos conservadores têm poucos resultados favoráveis, e nas últimas décadas a opção cirúrgica tem sido capaz de proporcionar emagrecimento duradouro e resolução ou melhora das comorbidezes. Várias técnicas operatórias são utilizadas, continuando a procura pela operação ideal, com poucos efeitos indesejáveis a longo prazo, e considerável perda do excesso de peso. É aceito que as cirurgias feitas para tratamento da obesidade induzem à perda de peso pela diminuição da capacidade gástrica e do apetite. Estudos relacionados a esses mecanismos necessitam da experimentação animal, que sempre pode contribuir com o melhor entendimento dos efeitos das operações ditas bariátricas, e com o estabelecimento de novas técnicas. Nesse estudo é proposto um modelo de gastrectomia vertical (GV) em ratos Wistar. Foram submetidos à operação doze ratos (n=12), adultos jovens, machos. Oito animais (n=8) foram submetidos a gastrectomia vertical, com sutura manual e invaginante. Em quatro (n=4) praticou-se a laparotomia e manipulação digital do estomago, sendo esse o grupo controle (GC). Utilizou-se material estéril, antibioticoterapia profilática e suplementação nutricional. Acompanhou-se o peso dos animais no dia da cirurgia e a cada sete dias, por sete semanas. No grupo GV houve uma perda média de peso de 49,57g (43 a 60 g) até a quarta semana. No grupo GC a perda média foi de 15 g (10 a 25), mas atingiram o peso inicial ou superior, já na primeira semana. Após sete semanas, houve ganho de peso em ambos os grupos, entretanto no grupo GV esse ganho foi significativamente inferior ao GC. Os resultados comprovam que a metodologia aplicada tornou viável um modelo de gastrectomia vertical, concluindo que esta forma de redução da capacidade gástrica influiu positivamente na perda de peso. O estudo em modelo animal de obesidade pode ser útil num ensaio para avaliação dos níveis plasmáticos de ghrelina e de outros mediadores, antes e após gastrectomia vertical. Poderá ser útil também para futuros estudos dos mecanismos de regulação do apetite. Palavras-chave: Obesidade. Cirurgia Bariátrica. Gastrectomia. Ratos Wistar 8 ABSTRACT Obesity is a severe health problem worldwide that has increased dramatically in the current century. Conservative treatments present few favorable results and, in the last decades, the surgical option has proven capable of providing long-lasting weight loss and resolution or improvement of co-morbidities. Several surgical techniques have been used in the search for the ideal surgery, with few longterm undesirable effects and optimal weight loss. It is understood that surgery in the treatment of obesity induces weight loss by decreasing gastric capacity. Trials aimed to investigate such mechanisms require animal experimentation, which can contribute to the better understanding of the effects of bariatric surgery and to the establishment of new techniques. In this trial is proposed a sleeve gastrectomy model in Wistar rats. Twelve young adults male rats (n=12) were operated. Eight animals (n=8) underwent sleeve gastrectomy (SG) with manual invaginating suture. The control group (CG) consisted of four rats (n=4), which underwent laparotomy and digital manipulation of the stomach. Sterile materials were used, as well as prophylactic antibiotic therapy and nutritional supplementation. The rats´ weights were recorded on the first day and every week for seven weeks. In the SG group there was an average weight loss of 49.57g (43 a 60 g) up to the fourth week. In the CG the average weight loss was 15g (10 to 25), but they regained their original weight or gained higher weight in the first week already. After seven weeks, there was weight gain in both groups, however in the SG group such gain was significantly lower than in the control group. Results prove that the methodology applied has become a viable sleeve gastrectomy model and that this form of gastric capacity reduction has a positive influence on weight loss. An experimental obesity trial using an animal model can be useful to assess ghrelin plasma levels and those of other mediators, prior to and after sleeve gastrectomy. It can also be useful for future trials on appetite regulation mechanisms. Key words: Obesity. Bariatric Surgery. Gastrectomy. Wistar Rats 9 1 INTRODUÇÃO O excesso de peso causa vários problemas de saúde para o ser humano, sendo atualmente um grave problema de saúde em nível mundial, diminuindo a qualidade e o tempo de vida das pessoas, com grandes custos para os sistemas de saúde. (ALVAREZ-CORDERO, 1998). O tratamento cirúrgico tem se mostrado o único capaz de proporcionar adequada e duradoura perda de peso, em pacientes com obesidade grave, com impacto positivo na saúde dos pacientes (NIH – National Institute of Health, 1998; MC DONALD, 2003), e várias técnicas tem sido utilizadas, porem não isentas de conseqüências anatômicas e fisiológicas, sendo a técnica com menos efeitos indesejáveis ainda um objetivo dos cirurgiões bariátricos. (MC DONALD, 2003). A ghrelina (GHr), peptídeo liberador do GH (hormônio do crescimento) tem importante efeito orexígeno e adipogênico e encontra-se em nível plasmático elevado em obesos, mas também nos que realizaram cirurgia bariátrica que manteve o intacto o fundo gástrico, o que influi na manutenção do apetite. (ADAMI, et al, 2003). As gastroplastias com by-pass excluem praticamente todo o estomago, e impedem o acesso endoscópico habitual às vias biliares, por retirar o duodeno do transito dos alimentos, além de alterações nutricionais. A cirurgia de gastrectomia vertical pode ser uma opção na terapêutica da obesidade mórbida, como primeiro tempo de procedimentos disabsortivos em pacientes graves, ou como tratamento definitivo em casos selecionados, pois interfere reduzindo nos níveis de ghrelina, de modo duradouro, ao retirar o fundo gástrico. 10 Há poucos dados na literatura consultada demonstrando modelos experimentais de tratamento cirúrgico da obesidade, especialmente em animais não modificados geneticamente. 1.1 A Obesidade e a Cirurgia Bariátrica A obesidade sempre existiu, tornando-se nesse século uma verdadeira pandemia, problema de saúde publica de praticamente todos os países, e em julho de 2004 foi oficialmente reconhecida pela OMS como uma doença, capaz de causar um custo extra, anual, de 117 bilhões de dólares com os cuidados de saúde, e ser causa de 300.000 mortes anuais. (NIH, 1998). A obesidade é doença multifatorial, relacionada com o alto peso ao nascer, nível de alimentação ao seio, obesidade infantil, hábitos sedentários de vida, padrão alimentar, número de parentes obesos, e fatores genéticos, entre outros. Alguns estudos de hereditariedade consideram que até 70% da variabilidade do peso corporal em seres humanos pode ser causada por fatores genéticos. (ALLISON et al, 1996). Porém considera-se praticamente impossível que somente fatores genéticos estejam influindo no rápido e progressivo aumento da obesidade, atribuindo-se importante papel ao fácil acesso aos alimentos, gordurosos e saborosos, além da redução da atividade física (YANOVSKI et al., 2000; DAS, 2001). Quanto maior o grau de obesidade, maior a freqüência e gravidade das comorbidezes (algumas já se manifestando com o sobrepeso) sendo as mais freqüentes a hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus tipo II (DM II), 11 dislipidemia, e doenças cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico. São também frequentes a litíase de vesícula biliar, esteatose hepática, refluxo gastroesofágico, artropatias, maior incidência de alguns tipos de câncer (mama, esôfago, vesícula biliar, colon, próstata, rim, endométrio), infertilidade, diminuição da libido, além do sofrimento psíquico e da inadequação social, gerando importante perda de auto-estima. Mulheres obesas frequentemente sofrem de incontinência urinaria de estresse, necessitam de mais cesarianas, tem maior risco de doença hipertensiva na gravidez, e maior incidência de infertilidade (NIH, 1998; MALHEIROS e FREITAS, 2002, DEITEL 2005; THOMPSON, WOLF, 200). Citam também o aumento da pressão intra-abdominal causando hérnias, pseudotumor cerebral e doença hemorroidária, além de casos de morte súbita, dificuldades respiratórias, edema periférico. A obesidade grave traz conseqüências danosas para praticamente todos os sistemas do organismo. Costuma-se classificar os graus de excesso de peso em sobrepeso e obesidade. O primeiro ocorre quando o Índice de Massa Corporal (IMC) é de 25 a 29,9 kg/m2, e a segunda quando o IMC é maior ou igual a 30 kg/m2. A obesidade é ainda classificada em grau I (IMC entre 30 a 34,9 kg/m2), grau II (IMC entre 35 a 39,9 kg/m2) e grau III ou obesidade mórbida (IMC igual a 40 kg/m2 ou mais) (NIH – EUA – 1998). O IMC é calculado dividindo-se o peso em kilograma pela altura em metro ao quadrado (m²). Quanto maior o grau de obesidade maior o risco de doença, relação demonstrada na tabela abaixo: 12 Tabela 1: Relação entre o IMC e o risco de doenças (comorbidezes) Classificação da IMC (KG/M²) Obesidade Risco de Doença Baixo Peso - < 18,5 Aumentado Peso Normal - 18,5 a 24,9 Normal Sobrepeso - 25 a 29,9 Aumentado Obesidade Grau I I 30 a 34,9 Aumentado Obesidade Grau II II 35 a 39.9 Alto Obesidade Mórbida III 40 Muito alto .Fonte: NIH, (1998). A população mundial com sobrepeso e obesidade, antes estimada em 1,1 bilhões de pessoas, agora deve estar em 1,7 bilhão, segundo a Força Tarefa Internacional contra a Obesidade, um programa envolvendo a Associação Internacional para o Estudo da Obesidade e a Organização Mundial da Saúde (OMS), indicando que muitos governos têm ignorado os grandes riscos da obesidade. Em abril de 2003 a OMS, ao identificar os vinte principais riscos atuais de doença, deficiências e morte, responsabilizou os dez primeiros riscos por 40% das mortes, enquanto os dez seguintes são responsáveis por menos de 10%. A obesidade é o décimo principal risco, enquanto a hipertensão, hipercolesterolemia e sedentarismo, respectivamente terceiro, sétimo e décimo quarto na lista, são freqüentemente relacionados com a obesidade. (DEITEL, 2003). Quanto ao risco cardiovascular, observa-se aumento de mortalidade por doença coronariana de uma a duas vezes para IMC < 35 kg/m², e de até sete vezes para IMC>35 kg/m². 13 O National Institute of Health (NIH) considera que todo adulto, a partir dos 18 anos, com sobrepeso ou obesidade, é considerado de risco para o desenvolvimento de hipertensão, hipercolesterolemia, doença arterial coronariana, DM II, e outras doenças, e que o tratamento da obesidade deve ter como foco a perda de peso prolongada. Portanto a obesidade é considerada um fator de risco independente e modificável, para as doenças coronarianas. (HUBERT et al,1983). O DM II, uma doença do adulto, aumenta em freqüência nas crianças, e a obesidade é atualmente a queixa mais freqüente nos consultórios pediátricos norteamericanos. (SNIDJER et al, 2003). Há aumento significativo no risco de desenvolvimento de DM II relacionado ao IMC elevado, mesmo que abaixo de 40 kg/m². (LIST e LEVITSKY, 2002; SNIJDER et al, 2003). Além disso, o grau e a duração da obesidade são todos considerados substanciais fatores de risco independentes para DM II (WANNAMETHEE e SHAPER, 1999). No Brasil a prevalência da obesidade vem aumentando, especialmente na última década, registrando-se crescimento de 0,36%/ano para mulheres e 0,20%/ ano para homens. Esta taxa é menor que a das mulheres russas e alemãs, e menor que a das mulheres e homens norte-americanos e ingleses. Em alguns países desenvolvidos como Japão e Holanda essas taxas mostram-se estáveis (MALHEIROS e FREITAS, 2002). Em Março de 1991 o National Institute of Healht promoveu a II NIH Consensus Development Conference on Gastrointestinal Surgery for Severe Obesity reunindo várias especialidades, para discutir propostas de tratamento conservador e cirúrgico da obesidade grave, critérios de seleção de pacientes, eficácia e riscos dos 14 tratamentos, e a necessidade de pesquisas futuras e avaliação epidemiológica dessas terapias. A epidemia da obesidade, nos EUA, trouxe uma segunda epidemia, a da cirurgia bariátrica, estimando-se que aproximadamente 16.000 cirurgias foram realizadas em 1990, contra 103.000 em 2003, o que foi acompanhado pelo grande crescimento no número de obesos, devido à falha dos tratamentos baseados em dieta, exercícios e medicamentos; ao mesmo tempo em que os procedimentos laparoscópicos foram introduzidos. (STEINBROOK, 2004). Em 2003 foi calculado em 200.000 cirurgias bariátricas anuais, no mundo. (MAC DONALD, 2003). As principais entidades envolvidas com o tratamento da obesidade defendem em seus consensos que a cirurgia deve ser indicada para pacientes com IMC igual ou superior a 40kg/m², ou entre 35 e 40kg/m², quando existirem comorbidezes de difícil controle. (KUCZMARSKI et al, 1994). O tratamento clínico para obesidade costuma alcançar entre 5 a 10% de redução do peso corporal, com mais de 90% dos pacientes recuperando o peso em até cinco anos e até o momento não surgiram medicamentos realmente efetivos no controle da obesidade (SAGES/ASBS, 2004; SATER et al, 1991; WADDEN et al, 1989). O tratamento cirúrgico tem se mostrado o único método efetivo no controle da obesidade grave não sendo isento de riscos, e comportando grandes alterações da anatomia e fisiologia do aparelho digestivo, ou o uso de próteses. (SAGES/ASBS 2004). São procedimentos complexos e sujeitos às complicações, operatórias, ou posteriores. As alterações no pós-operatório estão relacionadas aos hábitos de vida e aquelas devidas às das alterações do tubo digestivo: pequeno volume de alimento a ser ingerido, vômitos, deslocamento ou erosão de próteses (anéis e bandas), 15 hipovitaminoses e suas conseqüências, anemias, desmineralização óssea, possibilidade de fetos mal formados, entre outras. (MASON e REQUIST, 1992). As indicações e contra-indicações de cirurgia bariátrica estão bem definidas pelo NIH e pela International Society of Surgery of Obesity. O IMC não é único critério. Há pacientes com obesidade grau II e com comorbidezes de gravidade suficiente para indicar a cirurgia. 1.1.1 A Evolução da Cirurgia Bariátrica O tratamento cirúrgico melhora a saúde dos pacientes com obesidade grave, e prolonga sua vida, quando comparado com o tratamento não cirúrgico. (BLUE CROSS AND BLUE SHILD, 2003). Quanto mais efetiva a cirurgia em controlar o peso ao longo dos anos, maior o risco de complicações, apesar de tratáveis, e ainda não são conhecidas todas as alterações provocadas pelas mais diferentes técnicas utilizadas (BUCHWALD e BUCHWALD J., 2002; JEOR et al, 2004). Há publicações mostrando os melhores resultados do tratamento cirúrgico da obesidade grave, quando comparado com o tratamento clínico, (CARMICHAEL AR, 1999;75; 7-12; NIH – 1998, Publication N° 98-4083, September 1998), mas ainda é necessário melhor conhecimento dos mecanismos básicos, fisiológicos, campo da pesquisa experimental. As técnicas atualmente aplicadas podem ser exclusivamente restritivas à ingesta alimentar (banda gástrica, gastrectomia vertical), disabsortivas (derivações 16 biliopancreáticas), ou mistas (by-pass gástrico em Y de Roux e suas variantes). As últimas são as mais utilizadas em todo o mundo (MILER e HELL, 2003). 1.1.2 Bypass Jejuno-Ileal (BPJI) Seu uso iniciou empiricamente em 1954. e nos anos 60 e inicio dos anos 70 foram desenvolvidos tipos de (BPJI), com diferentes comprimentos de alça e formas de anastomose entre alças, permitindo a sobrevivência, apesar da síndrome do intestino curto criada. Desequilíbrio hidroeletrolítico frequentemente necessitava de reposição de potássio, magnésio ou cálcio, com necessidade de seguimento e tratamentos frequentes. A maioria das complicações foi relacionada ao supercrescimento bacteriano na alça exclusa, causando migração dos produtos da quebra de proteínas e bactérias para o sistema portal, podendo causar insuficiência hepática (7/100 pacientes), doença no rim e nas articulações, além do odor extremamente fétido dos gases e fezes eliminados. A precipitação de oxalato de cálcio e formação de cálculos renais e vesicais podia levar à insuficiência renal. A técnica foi praticamente abandonada em todo o mundo, devido a essas complicações. (BUCHWALD, 200). 17 Figura 1: Bypass de Kremen Figura 2: Bypass de Payne e de Wind Fonte: BUCHWALD e BUCHWALD J. (2002). Fonte: BUCHWALD e BUCHWALD J. (2002). 1.1.3 Bypass Gástrico Introduzido em 1966, procurava restringir a ingesta, sem as complicações do by-pass intestinal. As complicações foram relacionadas com a regulação, secreção e esvaziamento do acido clorídrico, além das resultantes da exclusão do trânsito duodenal, interferindo com a absorção do cálcio e do ferro. Permitia a entrada das secreções pancreática e biliar no estômago, levando a gastrite alcalina. Isso acabou levando a reconstrução em Y de Roux, que eliminou também a tensão no mesentério da alça levada ao estomago. Úlceras da boca anastomótica fazem pensar na presença de uma fístula gastro-gástrica, que facilita a retomada do peso. (BUCHWALD, 2003). 18 Uma pequena bolsa gástrica com capacidade em torno de 20-30 cc, com o restante do estômago excluído do trânsito alimentar, e o trânsito reconstruído com anastomose gastrojejunal em Y de Roux, com um anel (“pseudo piloro”) – Cirurgia de Capella, podendo ser associada uma gastrostomia (Cirurgia de Fobi), obtiveram aceitação praticamente mundial. (Fig. abaixo). Pouch Gastrostomia Anel Duodeno transposto a b Marcador da gastrostomia Gastrojejunostomia transposto Figura 3a: Bypass gástrico de Capella secção gástrica vertical com gastrojejunostomia em Y e anel de silastic proximal no pouch gástrico. Fonte: BUCHWALD, (2002). Figura 3b: Bypass gástrico de Fobi: gastroplastia vertical com anel de silastic proximal no pouch gástrico, e gastrostomia com anel radiopaco marcador. Fonte: Modificado de FOBI et al, (2005). Uma úlcera sangrante, ou outra lesão no estômago excluído, somente poderá ser visualizada por endoscopia através de um acesso cirúrgico, ou com enteroscópio, pouco disponível. Entre as complicações possíveis estão a obstrução intestinal, déficit de absorção protéica e hipoalbuminemia, hipocalcemia, anemia 19 ferropriva, deficiência de cálcio, déficit de vitaminas lipossolúveis, osteopenia e fibrose cística. 1.1.4 Gastroplastia Vertical Edward Mason, de Iowa, temendo as complicações da gastrectomia a Bilroth II, em 1971 substituiu o bypass gástrico pela gastroplastia horizontal, que foi ineficiente na perda de peso, pelo alargamento da boca de saída. Em 1981 introduziu a gastroplastia vertical, baseado em que a musculatura da pequena curvatura é mais resistente à dilatação, o que tornou possível a redução gástrica pura. O procedimento foi muito utilizado até por volta de 1986, porem sem atingir a perda de peso desejada. A diminuição da boca de saída levou a obstrução do pouch, ruptura da linha de grampos, estenoses, migração do anel e alto índice de reoperações. Então Mason passou a usar um anel de silastic, prevenindo o alargamento. Os maus resultados de perda de peso em relação ao bypass, tornaram a aumentar o interesse pelo uso e aperfeiçoamento do bypass em Y de Roux. 20 Figura 4: Gastroplastia vertical com anel (Mason) Fonte: BUCHWALD e BUCHWALD J. (2002). 1.1.5 Derivação Biliopancreática (DBP) com Gastrectomia Subtotal A operação idealizada por Nicola Scopinaro é baseada em redução da capacidade gástrica e eliminação do controle pilórico do esvaziamento gástrico, e na má absorção proporcionada pelo bypass da maior parte do intestino delgado. A alça comum de intestino delgado fica com apenas 50 a 70 cm de extensão. A remoção do estomago distal reduz o risco de úlcera estomal. É necessário controle da ingestão de proteínas e cálcio, prevenindo doença óssea. A ingesta de gorduras piora o odor dos gases e fezes, necessitando uso de desodorantes intestinais. 21 Figura 5a: Cirurgia de Scopinaro Figura 5b: Duodenal Switch (Hess) Fonte: BUCHWALD e BUCHWALD J. (2002). Fonte: ALMOGY et al. (2004) 1.1.6 Derivação Bilio-pancreática (DBP) com GV, ou Duodenal-Switch (DS) Difere da técnica de Scopinaro por ser a gastrectomia realizada no sentido vertical, retirando o fundo, permanecendo pequena parte do antro, e formando um remanescente gástrico em forma de meia lua, com capacidade aproximada de 100 ml. O bypass jejuno-ileal é feito da mesma forma que na técnica anterior. O piloro é preservado. 22 1.1.7 Banda Gástrica Ajustável (BGA) Além de reversível, mantém a integridade anatômica do tubo digestivo, porém tendo como resultado final uma menor perda de peso. (MILLER e HELL, 2003). Apesar da menor complexidade técnica, não é isenta de complicações (LEONETTI F et al, 2003), como esofagite, e as relacionadas à presença de uma prótese, que pode mudar de posição, ou erosar para dentro do estomago, podendo necessitar reoperação em até 15% dos casos. Assim como na gastroplastia, os efeitos de emagrecimento dependem somente da restrição da ingesta. Não há disabsorção ou alteração do mecanismo neurohormonal do controle do peso. Figura 6: Banda gástrica ajustável Fonte: SORBELLO et al, (2006). 23 2 REGULAÇÃO NEUROHORMONAL DA FOME O fenômeno da recuperação do peso após emagrecimento é fruto de um potente sistema homeostático de regulação do peso corporal que visa compensar a perda aumentando a fome e diminuindo o gasto energético, sendo os mediadores moleculares desta resposta potenciais desafios no tratamento da obesidade. (LEIBEL et al, 1995; SCHWARTZ et al, 2000). Hoje é creditado papel importante na regulação da fome e da ingesta a vários mediadores. A ghrelina (GHr) é o único hormônio orexígeno conhecido, e adipogênico, que parece ter importante papel na resposta adaptativa a perda de peso. É um peptídeo, estimulante do apetite, por mecanismos dependentes do hormônio do crescimento (GH), produzido principalmente nas glândulas oxínticas do fundo gástrico, onde há dez a vinte vezes mais GHr por grama de tecido do que no duodeno, que é o terceiro sítio mais rico neste secretagogo. As modificações decorrentes das cirurgias de redução do estomago sugerem que pelo menos dois terços de toda a GHr é produzida no estomago. (FARAJ et al, 2003). Concentrações menores são encontradas também no jejuno e íleo, diminuindo quanto mais distante do estômago. Os estudos experimentais e clínicos comprovam que a GHr está elevada no período de jejum, antes da refeição, diminui com a alimentação, e volta a elevar-se logo após. (HEUNG-MAN et al, 2002; FLIER, MARATOS-FLIER, 2002; CUMMINGS e SHANNOM, 2003; REGAN et al, 2003). Observações em humanos e animais sugerem que a GHr regula tanto a iniciação de uma refeição individual como o controle do peso corporal a longo prazo. Nas situações que cursam com perda de peso corporal os níveis de GHr mostram-se elevados. Fig. 8 (CUMMINGS, 2003). 24 Pacientes submetidos a BPGYR tem seus níveis de GHr circulante normalizados, por longo tempo, podendo voltar a aumentar, mesmo que tendo a perda de peso esperada com o procedimento, pois a manutenção da integridade do fundo gástrico, apesar de excluído do trânsito alimentar, mantém a maior parte das células produtoras de GHr, fazendo retornar ou aumentar os níveis circulantes desse hormônio. (Figura 9). Processo semelhante ocorre na técnica da banda gástrica, o que poderia explicar em parte a menor média de perda de peso, quando comparado com o BPGYR e com as técnicas mais disabsortivas, como Scopinaro e DuodenalSwitch (CUMMINGS e SHANNOM, 2003, FARAJ et al, 2003; FRUHBECK et al, 2004; ADAMI et al, 2003). Sabe-se que a obesidade se comporta como um estado inflamatório subclínico, permanente, e que o emagrecimento melhora os parâmetros que comprovam esta condição, que predispõe ao aparecimento de comorbidezes como DM e a HAS. (KOPP et al, 2003). Essas melhoram ou desaparecem, com a diminuição da massa gordurosa corporal fazendo cair os níveis de GHr e leptina, que participam da regulação da ingesta alimentar, e de mediadores inflamatórios. (KOPP et al, 2003; WEIGLE et al, 2003). 25 Figura 7. Níveis plasmáticos médios de GHr sérica de 13 humanos, antes e após perda de peso, através de dieta. Perda media final de peso de 17,4% (1,5%). Níveis de GHr obtidos no inicio e ao final de 6 meses. Desjejum (B), almoço (L) e jantar (D) fornecidos nos tempos indicados. Fonte: CUMMINGS et al, (2003). Figura 8: Níveis médios de Ghr de 24 horas, de pacientes submetidos ao bypass gástrico e controles não operados. Grupos estudados incluem aqueles submetidos a bypass gástrico proximal(n=5), controles de peso normal (n=10), e obesos indicados para bypass gástrico, segundo o IMC, idade, sexo (n=5). Desjejum (B) almoço (L), e jantar (D) fornecidos nos tempos indicados. Fonte: Cummings et al, (2003). 26 3 GASTRECTOMIA VERTICAL (GV) A redução da capacidade gástrica leva a perda de peso, relacionada diretamente ao volume de alimentos ingeridos, e a saciedade precoce. As gastrectomias parciais realizadas para tratamento do câncer, ou da doença ulcerosa péptica, geram emagrecimento. Noshiro et al, (2003), ao estudar as gastrectomias vídeo-assistidas para câncer gástrico precoce, notaram que em pacientes obesos a reconstrução do transito era difícil, e com maior morbi-mortalidade, além de estudarem o emagrecimento. Shimizu et al, (2003), atribuíram o emagrecimento não somente ao câncer, mas foi o grupo de Yasuda et al, (2004), o primeiro a fazer a conexão entre o IMC elevado e a gastrectomia. (FREZZA, 2007). A literatura recente tem mostrado a utilização da GV como primeiro tempo cirúrgico em super-obesos (IMC >50 kg/m²) e super-super obesos (IMC > 60 kg/m²), objetivando significativa perda de peso com um procedimento de menor porte. Assim tem seu risco cirúrgico bastante diminuído, e o segundo tempo do tratamento pode ser realizado com melhores condições técnicas e melhor estado clínico do paciente. (REGAN et al, 2003; ALMOGY et al, 2004). A GV foi difundida em 1990 por Marceau et al., proposta como parte de uma derivação biliopancreática sem gastrectomia distal, preservando o piloro e diminuindo o potencial ulcerogênico. O procedimento deve ter uma vantagem fisiológica sobre outros procedimentos restritivos como a BGA e a GVA, que mantém o fundo gástrico, a maior zona produtora de ghrelina (MARCEAU et al, 1998; LANGER et al, 2005). O conceito de GV apareceu desde que o DS laparoscópico tornou-se uma realidade, ao ser introduzido por Gagner em 1999 (GAGNER et al, 27 2000) autor que também introduziu a GV como primeiro estágio do DS ou do BPGYR. Baltasar et al (2005), considera a GV uma técnica com várias indicações. Lee et al, (2007), utilizaram a GV em 216 pacientes e comparando resultados concluíram que a técnica é capaz de proporcionar significativa perda de peso, quando comparada com o BPGYR e o DS, com morbidade semelhante a LapBand®, uma das banda gástricas ajustáveis disponíveis. Acrescentam que mais estudos são necessários para determinar os resultados a longo prazo e identificar o papel da GV como opção de cirurgia bariátrica. Como estudos experimentais podem trazer importante contribuição no entendimento dos mecanismos que levam aos resultados obtidos com as cirurgias bariátricas, optamos por estudar em animal a gastrectomia vertical, modelo ainda não estabelecido em literatura. Foi proposto um modelo de GV, em ratos Wistar, com materiais e custos compatíveis com o meio da realização do trabalho. Foram operados nove animais, testados alguns materiais, e somente depois de alcançada a sobrevivência de um animal, sem complicações como deiscência de sutura gástrica, realizamos o estudo experimental. 28 4 OBJETIVOS 5.1 Objetivo Geral Estabelecer os efeitos da gastrectomia vertical em modelo experimental de obesidade. 5.2 Objetivos Específicos Estabelecer o modelo experimental de gastrectomia vertical em ratos Wistar. Determinar os efeitos da gastrectomia vertical sobre o peso do animal, durante um período de observação. 5.3 Aprovação do Comitê de Ética da Unesc O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Unesc, Protocolo N° 361/2006, aprovado em 10 de maio de 2006. A análise estatística do comportamento do peso dos animais foi realizada pelos testes t de student e regressão logística, tendo como significativo os valores de p<0,05. 29 PARTE II 1 ARTIGO Sleeve Gastrectomy Model in Wistar Rats João de Bona Castelan Filho, MD; Jane Bettiol, MD, PhD; Armando D’Acampora, MD, PhD; João Vicente Edom Castelan; Jonathan Caon de Souza; Vinicius Bressiani; Simone Batisti Giroldi Departamento de Medicina e Laboratório de Imunologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Criciúma, SC, Brazil Status: Publicado 30 31 32 33 34 35 9 DISCUSSÃO A literatura mais recente tem mostrado as vantagens da GV como primeiro tempo do DS ou mesmo com intenção de tratamento definitivo. A GV foi utilizada como primeiro tempo do DS em 126 super-obesos, metade deles com risco anestésico ASA III e IV, alcançando perda média do excesso de peso de 46,5%, em um ano (COTTAM et al, 2006). LEE, CM et al (2007) indicaram a GV em 216 pacientes, incluindo cinco com IMC> 80 kg/m², seis ente 70 e 80 kg/m², e 25 entre 60 e 70 Kg/m². Compararam os resultados após dois anos com os do DS e do BPGYR e concluíram que a GV é relativamente simples de ser realizada e alcança importante perda de peso até a realização do segundo tempo do DS, e que pacientes com IMC> 50 kg/m² rapidamente chegam a menos de 35 kg/m². Himpens et al, (2006), compararam a BGA e a GV, concluindo que a perda de peso e a perda da sensação de fome após um ano e três anos foram melhores com a GV, enquanto a DRGE foi mais freqüente após um ano com a GV e após três anos com a BGA (HIMPENS et al, 2006). Milone et al, (2005), mostraram melhores resultados com a GV, comparativamente ao uso do balão intragástrico por seis meses, em super-obesos, antes da realização da DBP. Publicações recentes têm considerado que a GV é a operação ideal em IMC>55 kg/m², como primeiro tempo, naqueles com graves problemas clínicos e uma excelente alternativa em pacientes com IMC inferior a 40 kg/ m², ou em jovens (BALTASAR et al, 2005; ROA et al, 2006). Um estudo prospectivo comparou os níveis plasmáticos de GHr e a perda de peso após GV e BGA, em 20 pacientes, concluindo que havia redução dos níveis 36 de GHr, que manteve-se após seis meses, enquanto um dia após a BGA não havia modificação, e estava aumentado após 6 meses. A perda média de peso foi maior com a GV, concluindo que isto se deve a retirada do fundo gástrico. (LANGER et al, 2005). Melissas et al, (2007), mostraram que o esvaziamento gástrico após GV, estudado por cintigrafia, é significativamente mais rápido. Algumas complicações tardias foram relatadas, como síndrome de Wernicke, gerada pelos erros alimentares e vômitos de repetição, com a oferta da vitamina B1 corrigindo o quadro, ou reganho de peso, com aumento da bolsa gástrica, solucionado com nova GV com DS. (MAKAREWICZ et al, 2007; BALTASAR et al, 2006). Há pacientes que temem as complicações de outras cirurgias, como as relacionadas às próteses (BGA, ou o anel das gastroplastias), a possibilidade de obstrução intestinal, úlceras, anemia, osteoporose, déficit de proteínas, e outras complicações do BPGYR e das cirurgias disabsortivas, e que podem ser beneficiados pela GV. Esta técnica pode ser boa opção para pacientes portadores de doenças inflamatórias intestinais, estenoses intestinais, aqueles com asma severa necessitando corticoterapia, candidatos a transplante, os portadores de anemia que necessitam usar AINE, ou medicação crítica. Pacientes com alto risco para câncer gástrico também seriam bons candidatos à gastrectomia vertical, pois o acesso ao estomago excluído pelo bypass gástrico seria possível somente por laparotomia, ou videoassistido, ou então usando um enteroscópio de duplo balão, técnica disponível em poucos centros. A BGA deixaria um corpo estranho a ser removido. 37 Pacientes obesos tem risco cirúrgico-anestésico aumentado, na proporção de seu IMC, principalmente os super e os super-super obesos, homens e submetidos à DS (FAZYLOV et al, 2005) seja por comprometimento hepático, ou outras co-morbidades como insuficiência cardíaca, doença bronco pulmonar obstrutiva crônica, doenças renais, vasculopatias periféricas. (BLUE CROSS AND BLUE SHILD ASSOCIATION, 2003; ADAMI et al, 2003). Podem surgir problemas técnicos, quando um lobo esquerdo do fígado por demais volumoso dificulta ou impede a correta visualização do fundo gástrico a ser incluído na GV, assim como a colocação de BGA ou a septação do estômago, no BPGYR. (NGUYEN et al, 2005), obrigando a um procedimento em dois tempos. Na GV a perda de peso acontece pela diminuição do volume de alimentos consumido, sem má absorção, e a bolsa gástrica fica menor do que no DS, do contrário poderia haver reganho de peso. O esvaziamento gástrico é adequado e vários tipos de alimentos podem ser consumidos, apesar de em pequenos volumes. Tem ainda a vantagem de não usar anéis, telas, ou possibilidade de fístula gastrogástrica. Na obesidade grau I os resultados parecem ser promissores, com vantagens sobre a BGA, apesar do ainda curto segmento. Baltasar considera a GV uma boa operação em caso de inadequada perda de peso, erosão, má qualidade de vida, ou necessidade de retirada da banda. (BALTASAR et al, 2005). Ainda não há um consenso quanto ao tamanho do estomago remanescente, talvez porque ainda não está bem estabelecido se a GV será uma boa opção de tratamento definitivo. Baltasar considera que a bolsa gástrica deve ficar com capacidade de 50 a 60 ml, e não com 150-200, como proposto por Gagner, o que está esquematizado na figura abaixo. 38 a Figura 9a: Gastrectomia vertical. Primeiro tempo de um DS. remanescente com capacidade de 150-200 ml. Fonte: FOBI et al, (2004). b Estomago Figura 9b: Estomago remanescente com capacidade de 50-60 ml. Ressecção chega próxima ao piloro e ao cárdia, locais de maior dilatação, quando esta ocorre. Fonte: Baltasar et al, (2006). A revisão da literatura mostra grande número de trabalhos estudando as modalidades de tratamento clínico ou cirúrgico da obesidade grave, porém poucos trabalhos experimentais em modelos animais foram encontrados. Na literatura consultada encontramos três trabalhos com cirurgia bariátrica experimental em ratos. Xu Y. et al. 2002, publicaram um modelo de bypass gástrico em Y de Roux, utilizando ratos geneticamente obesos. Mostraram a viabilidade do modelo e estudando os efeitos da operação na perda de peso, porém o modelo é de alto custo para nosso meio, por usar ratos Zucker e criar o reservatório gástrico com sutura mecânica. Monteiro et al, (2006), publicaram modelo de bandagem gástrica em ratos Wistar, descrevendo a colocação de um anel de silicone logo abaixo do rúmen, na 39 porção glandular do estômago, criando cavidades superior e inferior, com restrição parcial do volume ingerido. Portanto a cavidade superior fica de grande capacidade, se comparada com a cavidade inferior e com a BGA realizada em humanos, quando a prótese é posicionada logo abaixo da cárdia, deixando uma pequena cavidade superior. Fusco et al, (2006), avaliaram os efeitos da invaginação da grande curvatura no peso de ratos, realizando uma sutura continua desde a transição corpoantro até próximo da cárdia, e estudando o comportamento do peso. Através deste estudo foi possível estabelecer um modelo animal de gastrectomia vertical, o qual pode ser aplicado em experimentos de cirurgia bariátrica. Foi um experimento de baixo custo por não utilizar animais modificados geneticamente, nem sutura mecânica. Haja vista a avaliação bem sucedida por sete semanas, considerou-se que o modelo pode ser utilizado para estudos de acompanhamento por prazo relativamente longo. A ressecção de 60 a 70% do estomago, retirando quase todo o fundo, imitou a gastrectomia vertical realizada em humanos. Em roedores, assim como no homem, a retirada do fundo gástrico, onde é produzida a maior parte da ghrelina do corpo, é um fator importante para a manutenção da redução do apetite. Nesse estudo não era objetivo avaliar os efeitos da cirurgia e sim sua viabilidade, no entanto pode-se observar que o grupo de animais gastrectomizados teve perda de peso um pouco mais prolongada que o grupo controle. Em tentativas anteriores a este estudo piloto, apenas um de nove animais nos quais foi realizada a GV, não evoluiu para óbito. Para todos, exceto o sobrevivente, foi permitida a dieta com água e ração, ad libitum, assim que 40 recuperada a via oral, e não foram tomados cuidados especiais de assepsia e antissepsia, nem antibioticoterapia profilática. Foram utilizados materiais limpos, porém não estéreis. O jejum pré-operatório de doze horas foi observado para o animal sobrevivente, que no pós-operatório foi alimentado somente com soro glicofisiológico, por três dias. O animal mostrou-se prostrado no primeiro e segundo dia, recuperando-se e permanecendo vivo por sete meses. Nos oito animais falecidos foi observada deiscência de sutura do estômago em três deles, e sinais de sepsis em outros três animais. Dois não apresentaram estes sinais, sendo os óbitos atribuídos à desidratação e desnutrição. Devidos a esses achados, considerou-se a adoção de todos os cuidados expostos na metodologia, incluindo antibioticoprofilaxia e suporte nutricional. O jejum de doze horas propiciou que o estomago estivesse livre de resíduo sólido, e praticamente vazio em todos os animais, exceto o de número cinco, o que exigiu ordenha de alguns resíduos para o intestino. Isso foi considerado uma vantagem, pois em etapa anterior, acontecia a saída dos resíduos no momento da gastrorrafia, contaminando o campo operatório e dificultando a sutura, já que era difícil a ordenha completa. A técnica de sutura, em plano único invaginante foi importante para o sucesso, pois nas tentativas anteriores, quando usada sutura não invaginante aconteceram deiscências. Além disso, a dieta líquida exclusiva por três dias pode ter contribuído para garantir a integridade da sutura nesse estudo. O único animal falecido (do grupo GV) foi submetido à necropsia, procedendo-se a retirada total do estomago remanescente, assim como dos órgãos alterados, sendo diagnosticada pancreatite aguda ao exame histopatológico, e que foi supostamente devido à manipulação e compressão do pâncreas e seu ducto. 41 a c b Figura10: Histopatologia da pancreatite aguda. Animal falecido do grupo GV. a) ácinos pancreáticos normais, b) edema, necrose e alterações inflamatórias, c) ducto pancreático com material necrótico. Foi observado que ao longo das sete semanas de pós-operatório houve ganho de peso nos dois grupos estudados. É possível que esse ganho de peso tenha sido influenciado pelo uso de complemento alimentar (Glucopan pet®) em ambos os grupos; seria necessário estudo adicional para confirmar essa hipótese. O ganho de peso dos animais gastrectomizados foi significativamente menor do que nos controles, atribuindo-se à saciedade mais precoce, resultante da diminuição da capacidade gástrica. Além disso, a retirada do fundo, principal fonte de GHr, pode ter sido relevante na redução do apetite e menor ganho de peso. Pesquisas futuras usando o modelo para investigação dos efeitos da GV, evitando o uso do complemento alimentar, poderão responder melhor essa questão. 42 10 CONCLUSÕES Foi possível estabelecer um modelo de gastrectomia vertical, que poderá ser utilizado, isoladamente, ou associado a outros procedimentos, para estudos experimentais que busquem um melhor entendimento de como atuam as cirurgias bariátricas. Este modelo foi viável devido aos cuidados adotados no pré e pósoperatórios, como utilização de antibioticoterapia e material esterilizado, com baixo custo. O ganho de peso dos animais gastrectomizados foi significativamente inferior ao dos que submetidos a laparotomia, sob a mesma dieta. 43 11 PERSPECTIVAS O modelo possibilita novas investigações, como a comparação entre grupos de ratos obesos e não obesos submetidos a diferentes dietas. Além disso, podem ser realizados estudos das alterações metabólicas e neuroendócrinas. É possível que este modelo permita estudos de acompanhamento a longo prazo, podendo dar respostas ao atual questionamento acerca dos resultados da GV a longo prazo, relacionados ao aumento da capacidade gástrica ou de adaptação alimentar. 44 12 REFERÊNCIAS ADAMI, G.F; CORDERA, R; MARINARI, G; LAMERINI, G; ANDRAGHETI, G; SCOPINARO N. Plasma ghrelin concentration in the short-term following biliopancreatic diversion. Obes Surg, v.13, p.889-892, 2003. ALLISON, D.B; KAPRIO, J; KORKEILA, M; KOSKENVUO, M; NEALE, MC; HAYAKAWA, K. The heritability of body mass index among international sample of monozygotic twins reared apart. 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N Engl J Med, p. 861-862, 2000. 50 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Bypass de Kremen.....................................................................................17 Figura 2: Bypass de Payne e de Wind......................................................................17 Figura 3a: Bypass gástrico de capella secção gástrica vertical com gastrojejunostomia em y e anel de silastic proximal no pouch gástrico....................................................................................................18 Figura 3b: Bypass gástrico de fobi: gastroplastia vertical com anel de silastic proximal no pouch gástrico, e gastrostomia com anel radiopaco marcador.................................................................................................18 Figura 4: Gastroplastia vertical com anel (Mason)....................................................20 Figura 5a: Cirurgia de scopinaro...............................................................................21 Figura 5b: Duodenal switch (Hess)...........................................................................21 Figura 6: Banda gástrica ajustável (Kuzmak)............................................................22 Figura 7. Níveis plasmáticos médios de ghr sérica de 13 humanos, antes e após perda de peso, através de dieta. Perda media final de peso de 17,4% (1,5%). Níveis de ghr obtidos no inicio e ao final de 6 meses. Desjejum (b), almoço (l) e jantar (d) fornecidos nos tempos indicados............................25 Figura 8: Níveis médios de ghr de 24 horas, de pacientes submetidos ao bypass gástrico e controles não operados. Grupos estudados incluem aqueles submetidos a bypass gástrico proximal (n=5), controles de peso normal (n=10), e obesos indicados para bypass gástrico, segundo o IMC, idade, sexo (n=5). Desjejum (b) almoço (l), e jantar (d) fornecidos nos tempos indicados................................................................................................... 25 51 Figura 9a: Gastrectomia vertical. Primeiro tempo de um Duodenal - Switch. Estomago remanescente com capacidade de 150-200 ml.....................38 Figura 9b: Estomago remanescente com capacidade de 50-60 ml. Ressecção chega próxima ao piloro e ao cárdia, locais de maior dilatação, quando esta ocorre...............................................................................................38 Figura 10: Histopatologia da pancreatite aguda. Animal falecido do grupo GV. a) ácinos pancreáticos normais, b) edema, necrose e alterações inflamatórias, c) ducto pancreático com material necrótico.....................41