15 FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA “AS PERCEPÇÕES DOS PACIENTES EM TRATAMENTO DE TUBERCULOSE SOBRE SUA DOENÇA: UMA ANÁLISE DA LITERATURA CIENTÍFICA” Caroline Fonseca Marques Rio de Janeiro / RJ Abril/2011 16 “AS PERCEPÇÕES DOS PACIENTES EM TRATAMENTO DE TUBERCULOSE SOBRE SUA DOENÇA: UMA ANÁLISE DA LITERATURA CIENTÍFICA” Caroline Fonseca Marques Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz. Orientadora: Profª Drª em História e Pesquisadora da COC- FIOCRUZ: Anna Beatriz de Sá Almeida. Rio de Janeiro / RJ Abril/2011 17 CATALOGAÇÃO NA BIBLIOTECA DA COC / FIOCRUZ M357 Marques, Caroline Fonseca As percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença: uma análise da literatura científica. / Caroline Fonseca Marques. – Rio de Janeiro : s.n. 2011. 56 f. Monografia (Especialização em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2011. Bibliografia: 56 f. 1.Tuberculose. 2.Percepção. 3.Estigma . 4.Tratamento. 18 AS PERCEPÇÕES DOS PACIENTES EM TRATAMENTO DE TUBERCULOSE SOBRE SUA DOENÇA: UMA ANÁLISE DA LITERATURA CIENTÍFICA Monografia apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Especialista em Saúde Pública. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Prof. Drª Anna Beatriz de Sá Almeida Coordenadora _______________________________________________________ Profª Drª Mônica Bastos de Lima Barros 1ª Examinador _______________________________________________________ Profª Drª Laurinda Rosa Maciel 2ª Examinador Aprovada em: _____________________________ 19 DEDICATÓRIA A Deus meu criador e protetor, por me abençoar em todos os momentos desta trajetória. Graças a Ele, que me possibilitou chegar até aqui alcançando meus objetivos. A Ele toda honra, toda glória e todo louvor! Ao meu amado esposo Wellerson, que teve tamanha compreensão e respeito nos momentos intensos pelos quais passei. Agradeço com profunda ternura e admiração a você meu amor, meu cúmplice. À minha Família, que sempre acreditou e investiu em mim. Agradeço a vocês que com carinho e atenção estiveram sempre comigo. Não tenho palavras, somente amor. 20 AGRADECIMENTOS À minha querida orientadora Profª. Drª. Anna Beatriz de Sá Almeida por sua dedicação, empenho e amizade. Agradeço infinitamente sua contribuição para a realização deste estudo, por acreditar que valeria a pena investir em mim e fazer este sonho se realizar de forma sublime e grandiosa. Às Profªs Drªs Mônica Barros e Laurinda Maciel que honrosamente aceitaram abrilhantar com a vossa presença em minha banca de defesa. Às Profªs. Drªs Isabel Lamarca e Sandra Venâncio que com grande estima, participou do início deste trabalho com relevantes contribuições. Às Profªs. Drªs. Gíssia Galvão e Marina Ferreira de Noronha, coordenadoras do curso de especialização em saúde pública, por terem participado de forma veemente desta etapa de minha formação. A todos os amigos. A minha amiga Marcela que sempre esteve comigo, de longe, de perto. A Lilian que me apresentou à minha ilustre orientadora. A Ana Carolina pela grande contribuição. A vocês que me incentivaram a caminhar e seguir rumo à conquista. Agradeço por tudo, pelo apoio, carinho e atenção. 21 EPÍGRAFE Diga "33"! Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. (Manuel Bandeira - Vou-me embora pra Pasárgada e outros poemas. - Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 2 22 MARQUES, Caroline Fonseca. As percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença: uma análise da literatura científica. 2011. p. Monografia (Pós- Graduação em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 2011. RESUMO Trata-se de um estudo que teve como objeto as percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença. O objetivo geral foi analisar uma amostra de trabalhos voltados às percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença. A pesquisa caracterizou-se qualitativa com abordagem quantitativa, utilizando o método de revisão da literatura científica. As buscas bibliográficas foram realizadas num recorte temporal de 1995 a 2010. Para coleta dos dados realizou-se um levantamento de literaturas completas, indexadas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e nas principais bases de dados. No campo de busca utilizou-se a padronização das palavras-chaves que deram origem aos descritores de assuntos utilizados na BIREME, selecionando-se um total de 10 artigos. Foram elaborados quadros para registro e tabulação dos dados, o que permitiu conhecer o panorama geral da produção científica selecionada e levantar os pontos de análise. Verificou-se a percepção dos doentes em dois momentos históricos distintos: o primeiro antes de 1950 com concepções negativas, como medo de morrer devido a não existência de tratamento eficaz para a obtenção da cura e concepções positivas como, a aura da excepcionalidade romântica da doença na época; e o segundo momento, ao longo da virada do século XX para o XXI, que mesmo com o atual controle epidemiológico e tratamento eficaz da doença, a tuberculose continua a inspirar os temores do passado, como medo, estigma social e representação negativa da doença. A diversidade e complexidade dos fatores relacionados ao tratamento da tuberculose, como a obtenção do sucesso terapêutico vai além da eficácia farmacológica, existindo dificuldades relacionadas ao paciente e sua inserção social, ao tratamento empregado e à operacionalização do cuidado nos serviços de saúde. Dessa forma precisa-se de subsídios para que os profissionais de saúde compreendam a experiência dos portadores de tuberculose e possam trabalhar diversos aspectos da vida social, com o intuito de promover uma assistência à saúde integral e de qualidade. Assim, espera-se que este trabalho sirva como um instrumento importante para os gestores repensarem as atuais estratégias de implementação das políticas públicas de controle e tratamento da tuberculose no Brasil. Palavras-chaves: tuberculose, percepção, estigma e tratamento. 23 ABSTRACT This is a study that aimed at the perceptions of patients about their treatment of tuberculosis disease. The overall objective was to analyze a sample of works related to perceptions of patients about their treatment of tuberculosis disease. The qualitative research was characterized with a quantitative approach, using the method of scientific literature review. The literature searches were performed in a time window from 1995 to 2010. For data collection was carried out a comprehensive survey of literature, indexed in the Virtual Health Library (VHL) in major databases. In the search field was used to standardize the key words that led to the descriptors used in matters of BIREME, on which we selected a total of 10 articles. Tables were developed to record and tabulate the data, which allowed us to know the overall picture of scientific production and raise the points selected for analysis. There was the perception of patients in two distinct historical moments: the first before 1950 with negative concepts such as fear of dying because there aren’t specific drugs for the tratment and cure; and positive conceptions as the romantic aura of exceptionality of the disease at the time, and the second time over the turn of for the XXI century, that even with the current epidemiological control and effective treatment of disease, tuberculosis continues to inspire the fears of the past, such as fear, social stigma and negative representation of the disease. The diversity and complexity of the factors related to treatment, such as obtaining successful treatment goes beyond the pharmacological effectiveness, difficulties related to the patient and their social integration, the treatment used and the operationalization of health care services. Thus one needs some subsidies for health professionals understand the experience of people with tuberculosis and can work various aspects of social life, in order to promote a comprehensive and qualitative health care. This work will serve as an important tool for managers to rethink the current strategies for implementing public policies to control and treat tuberculosis in Brazil. Keywords: tuberculosis, perception, stigma and treatment. 24 RESÚMEN Se trata de un estudio cuyo objetivo fue la percepción de los pacientes sobre su tratamiento de la tuberculosis. El objetivo general es analizar una muestra de obras relativas a las percepciones de los pacientes sobre su tratamiento de la enfermedad. La investigación cualitativa se caracteriza por un enfoque cuantitativo, se utilizó el método de revisión de la literatura científica. Las búsquedas bibliográficas se realizaron en una ventana de tiempo desde 1995 hasta 2010. Para la recolección de datos se llevó a cabo un estudio exhaustivo de la literatura, indexada en la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) en bases de datos importantes. En el campo de búsqueda se utilizó para normalizar las palabras clave que llevó a los descriptores utilizados en materia de BIREME. Seleccionado un total de 10 artículos. Tablas fueron desarrolladas para registrar y tabular los datos, que nos permitió conocer el panorama general de la producción científica y aumentar los puntos seleccionados para el análisis. Había una percepción de los pacientes en dos momentos históricos distintos: el primero antes de 1950, con conceptos negativos como el miedo de morir debido a la falta de tratamientos efectivos para la enfermedad y concepciones positivas como el aura romántica de la excepcionalidad de la enfermedad en el momento, y la segunda sobre el cambio de para el siglo XXI, que aun con el control actual epidemiológica y el tratamiento eficaz de la enfermedad, la tuberculosis sigue inspirando a los temores del pasado, como el miedo, el estigma social y la representación negativa de la enfermedad. La diversidad y complejidad de los factores relacionados con el tratamiento, como la obtención de éxito del tratamiento va más allá de la eficacia farmacológica, las dificultades relacionadas con el paciente y su integración social, el tratamiento utilizado y la puesta en funcionamiento de los servicios de salud. Así, uno necesita un poco de las subvenciones para los profesionales de la salud a comprender la experiencia de las personas con tuberculosis y puede trabajar varios aspectos de la vida social, con el fin de promover una atención sanitaria integral y de calidad. Este trabajo servirá como una herramienta importante para los gerentes de repensar las estrategias actuales para la aplicación de políticas públicas para controlar y tratar la tuberculosis en Brasil. Palabras clave: tuberculosis, la percepción, el estigma y el tratamiento. 25 SUMÁRIO RESUMO LISTA DE QUADROS LISTA DE SIGLAS Capítulo 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS...........................................................pg15 1.1 - Etiologia..........................................................................................................pg18 1.2 - Histórico da Tuberculose..............................................................................pg19 1.3 - Repercussões psicossociais da tuberculose..................................................pg22 1.4 - Tuberculose no Brasil, anos 1990 a 2000: em destaque o Programa Nacional de Controle da Tuberculose.................................................................................pg24 Capítulo 2 – ABORDAGENS TEÓRICO–METODOLÓGICAS........................pg29 2.1 - Questões teóricas..............................................................................................pg29 2.2 - Aspectos metodológicos da pesquisa..............................................................pg30 Capítulo 3 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS..........................................pg34 3.1 – Organização do Material................................................................................pg34 3.2 - Discussão dos Dados.........................................................................................pg37 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................pg51 FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................pg54 ANEXOS 26 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Distribuição dos artigos publicados em periódicos sobre repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento. Conforme o grupo analítico / ano, título da obra, autor e titulação autoral........................................pg34 Quadro 2: Distribuição dos artigos sobre a temática das repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento. Conforme o grupo analítico/obra, periódicos e base de dados onde foram localizados................................................pg36 Quadro 3: Distribuição dos artigos sobre a temática das repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento. Conforme grupo analítico, assunto principal, temas vinculados, hipóteses e tipologia de fontes................................. pg37 Quadro 4: Distribuição dos artigos sobre a temática das repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento. Conforme o grupo analítico, papel / percepção do paciente no tratamento, papel do profissional de saúde e conclusão principal.....................................................................................................................pg44 27 LISTA DE SIGLAS ACS - Agente Comunitário de Saúde AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida BAAR-Bacilos Alcóol Ácido Resistentes BCG- Bacilo de Calmet – Guérin (Vacina) BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde – Biblioteca Regional de Medicina BVS - Biblioteca Virtual em Saúde CEP - Comitê de Ética em Pesquisa CNCT- Campanha Nacional contra a Tuberculose CRHF - Centro de Referência Hélio Fraga DAB - Departamento de Atenção Básica DEVEP- Departamento de Vigilância Epidemiológica DGSP - Diretoria Geral de Saúde Pública DNPS- Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária DNT - Divisão Nacional de Tuberculose DOTS - Tratamento Diretamente Observado E - Etambutol Et - Etionamida H - Isoniazida HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana IPT - Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose LILACS -Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde MEDLINE - Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica MESP - Ministério da Educação e Saúde Pública OMS - Organização Mundial de Saúde PACS - Programas de Agente Comunitários de Saúde PAS - Programação Anual de Saúde PAVS - Programas das Ações de Vigilância em Saúde PN- DST/AIDS - Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmitidas / AIDS PNCT - Programa Nacional de Controle da Tuberculose 28 PND - Plano Nacional de Desenvolvimento Portal CAPES - Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior PSF - Programa de Saúde da Família R- Rifampicina RHZE- R – Rifampicina; H- Isoniazida; Z – Pirazinamida; E- Etambutol (Atual esquema) RIP – R- Rifampicina; I- Isoniazida e P- Pirazinamida (Antigo esquema) S - Estreptomicina SciELO – Scientific Electronic Library on Line SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação SMS - Secretaria Municipal de Saúde SNT - Serviço Nacional de Tuberculose SNVS - Sistema Nacional de Vigilância em Saúde SUS - Sistema Único de Saúde SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde TB - Tuberculose TS - Tratamento Supervisionado UBS - Unidades Básicas de Saúde Z - Pirazinamida 29 Capítulo 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS Ainda hoje, a tuberculose se apresenta como um problema de Saúde Pública merecedor de atenção especial. Um terço da população mundial está infectada pelo bacilo da tuberculose (100 milhões por ano), ficando a tuberculose em 108ª posição em incidência no mundo. Destes, oito milhões desenvolverão a doença e dois milhões morrerão a cada ano, sendo ainda hoje a maior causa de morte por doença infecciosa em adultos (BRASIL, 2006). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil apresenta 46 mil casos novos em 100 mil habitantes por ano (WHO, 2008). Sobretudo em alguns estados, se destaca o Rio de Janeiro pelos mais de 23 mil casos confirmados em 2007, sendo a região Sudeste uma das responsáveis pelo maior número de casos. Desta forma, a tuberculose apresenta a sétima posição em gastos com internação no Sistema Único de Saúde (SUS) por doenças infecciosas e a primeira causa de morte em pacientes com AIDS (BRASIL, 2008). Ressalta-se que ultimamente o Brasil vem ocupando a 19ª posição entre 22 países que apresentam casos de tuberculose e encontra-se na 104ª posição em relação ao coeficiente de incidência. Uma estimativa feita pelo Banco Mundial relata que a tuberculose vem crescendo em mortalidade desde 1997, e continuará crescendo até 2020 em relação às outras doenças infecciosas nos países em desenvolvimento (BRASIL, 2006). Outra questão bastante preocupante relaciona-se com o crescente número de abandono do tratamento da tuberculose, sendo esta uma das principais causas de multirresistência do bacilo e falência de tratamento. Vislumbra-se que tal ocorrência pode estar relacionada com problemas operacionais dos serviços de saúde, e ainda com o modo de agir dos profissionais, que precisa continuamente estar fundamentado no resgate da humanização do cuidado, no qual o profissional de saúde realiza escuta solidária, identifica as necessidades manifestadas pelo doente, e com ele define as melhores estratégias de cuidado na perspectiva de ser o tratamento da tuberculose um processo de co-responsabilização (PEREIRA, 1998). Em uma perspectiva histórica, no final do século XVIII, a tuberculose era representada como “doença romântica” na época do Romantismo literário. Já no final do século XIX e início do século XX, a doença era vista como um “mal social” firmando-se no decorrer do século XX, apresentando-se de forma significativa no imaginário social por meio 30 de uma forte auréola estigmatizante. No Brasil, a percepção da tuberculose como doença social, firmou-se a partir de meados do século XX, estando presente no discurso médico, respaldado pelos dados estatísticos e sendo associada às precárias condições de vida (FERNANDES, et al; 1993). Em decorrência disso, ao longo do século XX, foram surgindo formulações e implementações de políticas de controle da tuberculose. A partir das décadas de 40 e 50, a descoberta da quimioterapia antibiótica específica foi um marco importante para o tratamento da tuberculose, pois alterou o perfil epidemiológico, a ação institucional e o conhecimento científico, além de repercutir nas representações sobre a doença (FERNANDES; et al, 1993). Contudo, a tuberculose ainda é deferida, na maior parte dos casos, por preconceito, fator de condicionamento social, que tem provocado sentimentos negativos em relação à doença. (VAZ, 1996). A partir do exposto, decidiu-se desenvolver este estudo que teve como objeto de investigação as percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença. Cabe informar que o interesse em desenvolver um estudo sobre a temática das repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento, parte da minha própria experiência obtida através do projeto de extensão universitária: “Ações de enfermagem na prevenção e controle da tuberculose” desenvolvido em um Centro Municipal de Saúde localizado no Município do Rio de Janeiro, no qual, na qualidade de acadêmica de enfermagem atuei como bolsista. Esta experiência permitiu apreender que os pacientes do programa de Tuberculose convivem com uma multiplicidade de percepções e sentimentos, além de lidar com o corpo fragilizado e ressentido pelos sinais do adoecer e pelas dificuldades que permeiam o seu percurso de vida, de adoecimento e de cura. Neste sentido, definiu-se como questão-base do estudo a seguinte problemática: “Quais as percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença?” Partindo deste princípio, e com intuito de apropriação do objeto de estudo, foram definidas algumas questões norteadoras: - Que percepção os pacientes em tratamento de tuberculose tem sobre sua doença? - As concepções sociais da doença podem influenciar no comportamento dos pacientes em tratamento de tuberculose? 31 - As percepções e as concepções dos pacientes acerca do seu tratamento podem interferir na continuidade do mesmo? - A atuação das equipes de saúde e o Programa Nacional de Controle da Tuberculose influenciam no tratamento? Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo geral analisar uma amostra de publicações voltadas às percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença e como objetivos específicos: identificar publicações voltadas às percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença; especificar as categorias de análise utilizadas pelos autores dos trabalhos analisados e analisar e comparar as diferentes percepções apresentadas. O desenvolvimento deste estudo torna-se relevante uma vez que busca contribuir com a área da assistência, trazendo subsídios e discussões aos profissionais de saúde, em especial aos enfermeiros, com o intuito de que possam realizar alianças entre a prática científica do fazer saúde com práticas educativas em saúde, assumindo deste modo, um papel significativo ao possibilitar aos pacientes o papel de se constituírem protagonistas da sua história. Segundo Certeau (2008), o conceito de sujeito histórico se vincula à capacidade dos homens e das mulheres, independente da situação social que se encontrem, metaforizarem a ordem dominante. Neste sentido, uma vez conhecendo e refletindo sobre as percepções e os sentimentos dos pacientes acerca da vivência da Tuberculose, espera-se colaborar para que os profissionais de enfermagem possam apropriar-se de uma assistência humanizada e específica, resultando na qualidade e, por conseguinte na eficácia das ações profissionais e do tratamento. Para o campo da pesquisa, também este estudo torna-se bastante relevante, contribuindo através do uso de ferramentas de análise de literatura, por meio de quadros analíticos e de comparação entre os textos selecionados, e da análise de forma indireta, a cerca da percepção dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença, configurando um levantamento amplo de saberes importantes para a assistência ao paciente, bem como para o enriquecimento científico e prático dos profissionais de saúde. 1.1- Etiologia 32 A doença é causada por uma bactéria denominada Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, em homenagem ao seu descobridor Robert Koch (1843-1910), médico patologista e bacteriologista alemão. A transmissão ocorre de uma pessoa para outra através de gotículas de saliva expelidas quando uma pessoa bacilífera (aquela que libera bacilos ativos) tosse, espirra ou canta, contaminando o ar, até por horas. Quem esteja próximo pode inalar (respirar) estas gotículas e ficar infectado. Cada indivíduo bacilífero é capaz de transmiti-la para até 15 pessoas por ano. Dessa forma, as pessoas do convívio têm alto risco de se infectarem (BRASIL, 2010). A infecção se inicia quando o bacilo chega aos alvéolos pulmonares e pode atingir os nódulos linfáticos através da circulação sanguínea indo para tecidos mais distantes. Pode acometer vários órgãos como: rins, intestino delgado, ossos, etc. Nos adultos é mais freqüente a forma pulmonar e cerca de 90% dos casos se iniciam nos pulmões (BRASIL, 2010). Na tuberculose pulmonar, a maioria dos casos é assintomático ou com sintomas discretos, como anorexia, fadiga e irritação. Os sintomas podem se assemelhar aos da gripe e resfriado, com: febre, tosse seca, sudorese noturna e emagrecimento. Geralmente, a doença se torna ativa depois de anos de infecção quando na ocorrência de alguma baixa imunológica (BRASIL, 2010). Em uma primeira infecção, as lesões podem regredir espontaneamente através da absorção do processo inflamatório, da fibrose e das calcificações das lesões. Mas em alguns casos, ocorre a reativação dos focos primários, caseificação progressiva (necrose do tecido) e cavernização, caracterizando a tuberculose crônica. Tendendo à progressão dos nódulos da primeira infecção principalmente em pessoas que convivem com portadores de tuberculose bacilíferos (BRASIL, 2010). A principal forma de diagnosticar a infecção pulmonar é através do exame de escarro. Os casos ocultos (não bacilíferos) podem ser descobertos através de radiografias (abreugrafia) e do teste cutâneo (prova de tuberculina ou teste de Mantoux). Em 2002, o tratamento básico era composto por três antibióticos: Rifampicina(R), Isoniazida(H/I) e Pirazinamida(Z/P) e chamava-se RHZ/RIP, com duração mínima de seis meses para atingir a cura, sendo que com dois meses de tratamento, o paciente tornava-se não bacilífero (BRASIL, 2010). 33 Em 2009, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), juntamente com o seu Comitê Técnico Assessor reviu o sistema de tratamento da tuberculose (TB) no Brasil. Baseado nos resultados preliminares do II Inquérito Nacional de Resistência aos medicamentos anti-TB, que mostrou o aumento da resistência primária à Isoniazida (de 4,4 para 6,0%), introduziu-se o Etambutol como quarto fármaco na fase intensiva de tratamento (dois primeiros meses) do esquema básico (RHZE). Essa recomendação e apresentação farmacológica são as preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e utilizadas na maioria dos países, para adultos e adolescentes. Para as crianças (abaixo de 10 anos), permanece a recomendação do Esquema RHZ. (BRASIL, 2010). A profilaxia da doença é feita através da vacina BCG (bacilo de Calmet-Guérin), que previne somente contra as formas extra-pulmonares, também chamadas miliares (BRASIL, 2010). 1.2- Histórico da Tuberculose A tuberculose é uma doença presente na humanidade há muito tempo; as primeiras evidências da sua presença foram constatadas em múmias do período neolítico (7000-3000 a.C.) encontrados na Alemanha. Sendo descrita ao longo do tempo por Hipócrates, pelo Egito Antigo e pela Roma Antiga. No século XI, os árabes suspeitavam de seu caráter transmissivo e na Renascença, século XVI, foi descrito sua forma de transmissão. Devido aos seus altos índices de mortalidade na Europa no século XVIII, foi denominada Peste Branca. A bactéria responsável pela doença foi identificada, em 1882, por Robert Koch (GOMES, s/d). Até a descoberta do agente etiológico, atribuía-se à tuberculose uma origem hereditária. Com a nova organização social, resultante do processo de industrialização, criouse um ambiente favorável à sua transmissão. Devido às precárias condições de vida dos operários, a tuberculose assumiu o papel de patologia transmissível e de caráter social (ALMEIDA, 1994). A terapêutica para a tuberculose no século XIX era o tratamento higieno-dietético. Este tinha como hipótese a cura espontânea do doente quando em condições favoráveis, manifestadas por uma boa alimentação e repouso. Sua indicação abrangia o isolamento dos pacientes, viabilizadas por meio da criação de sanatórios e preventórios (FERNANDES, et al; 34 1993). No final do século XIX e início do século XX, a tuberculose era considerada a maior causa de morte no Rio de Janeiro e se encontrava sem assistência por não ser prioridade do Estado, assim as elites médicas tomaram para si esse encargo (NASCIMENTO, 2002). A tuberculose só passou a fazer parte das prioridades do governo quando as epidemias de febre amarela, varíola e peste regrediram. Nesse contexto, em 1902, a Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) determinou sua notificação compulsória e que os doentes deveriam ser submetidos ao isolamento em sanatórios para o tratamento. Em decorrência desta mobilização surgiu a Liga Brasileira Contra a Tuberculose (LBCT), que mais tarde viria a ser chamada de Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) para combater a alta mortalidade imposta pela enfermidade e conscientizar a população quanto às medidas de prevenção. Função que também passou a ser dividida com o Estado quando este assumiu, de certa forma, a responsabilidade pelo controle da moléstia, no início da década de 1920. Já em 1930 no contexto da Reforma Carlos Chagas, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), instituíram-se vários órgãos, dentre os quais, a Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose. (NASCIMENTO, 2002). Ainda nos anos 30, Getúlio Vargas no comando federal, reforçou a intervenção oficial nas instituições privadas e públicas, com a expansão o aparato governamental, inclusive na esfera da saúde coletiva (BERTOLLI FILHO, 2001). A criação do Ministério de Educação e Saúde Pública (MESP), em 1931, inseriu-se na determinação do novo governo em redefinir a imagem em que o Brasil possuía frente às potências internacionais. A presença de múltiplas endemias e epidemias que minavam a população impôs a criação de uma ação sanitária cujo principal objetivo foi revitalizar as formas de normatização e manutenção da capacidade produtiva do proletariado. Sob o lema de que a saúde se construía em um dos “direitos básicos do cidadão brasileiro”, a Assembléia Nacional, reunida em 1934, pontificou que caberia ao Estado zelar pelas condições sanitárias do país intervindo nos momentos epidêmicos e, sobretudo desenvolvendo ações educativas de prevenção às enfermidades (FONSECA, 2007). A atuação do Estado no controle da tuberculose foi intensificada no final dos anos 30 com a Reforma Capanema. Na década de 1940, com a Reforma de 1941, foram criados vários serviços dentre os quais o Serviço Nacional de Tuberculose (SNT) (FONSECA, 2007). A Campanha Nacional contra a Tuberculose (CNCT) foi criada em 1946. Esta última assumiu 35 como proposta a expansão da estrutura hospitalar e sanatorial, trazendo a idéia da interiorização e uniformização do atendimento, a normatização das ações de saúde e a formação de recursos humanos (FERNANDES et al, 1993). Ainda nesta década foram definidas as prioridades da FAP, antiga LBCT, para o tratamento da tuberculose, tais como: a propaganda, vulgarização e emprego de todas as medidas de profilaxia social e individual, bem como de ensinamentos de preceitos higiênicos, no sentido de limitar a extensão e a devastação da tuberculose; a assistência aos tuberculosos que frequentavam os consultórios médicos, fornecendo-lhes alguns medicamentos essenciais, alimentos aos mais necessitados, e outros recursos possíveis em cada caso particular; a educação profilática antituberculosa dos doentes e de suas famílias, no sentido de impor a noção do contágio e dos meios de evitá-lo; e a vigilância sanitária no domicílio e junto à família dos tuberculosos a que assistir no intuito principal de evitar a contaminação dos que os rodeiam e de surpreender a tempo uma infecção inicial (NASCIMENTO, 2002). Além disso, desde meados dos anos 1950 com a descoberta da quimioterapia antibiótica específica foi ocorrendo uma queda dos índices de mortalidade da doença, mas causou o surgimento de bacilos resistentes às drogas, sendo a resistência superada pelo aprofundamento dos estudos. Com a comprovação da eficácia desses quimioterápicos (estreptomicina, isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida) na cura da tuberculose, ao longo das décadas de 1950 e 1960, o tratamento passou a ser primordialmente ambulatorial, sendo iniciado um processo crescente de desativação dos sanatórios e hospitais destinados à tuberculose (FERNANDES et al, 1993). Na década de 70, foi criada a Divisão Nacional de Tuberculose (DNT) e a implementação do já referido Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), contido no II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Este Plano foi compreendido na Lei n° 6.151, de 04 de dezembro de 1974 que dispõe sobre o II PND, para o período de 1975 a 1979; concernindo no desenvolvimento urbano, controle de poluição e preservação do meio-ambiente. A Lei declarava ser necessário reconhecer que a poluição da pobreza, ou seja, a deficiência das condições básicas de saneamento e controle biológico indispensáveis à saúde das populações de baixa renda constituía-se em uma prioridade. Uma das metas era realizar, até o final da década, o progresso nesse sentido, eliminando as endemias da pobreza. Tal política atuaria em três áreas principais: política de meio-ambiente na área urbana; política de 36 preservação de recursos naturais do país e política de defesa e proteção da saúde humana (BRASIL, 1974). A consolidação do uso dos antibióticos, ao lado das medidas profiláticas e da simplificação do diagnóstico, levou a uma mudança no perfil epidemiológico da doença com uma queda acentuada no índice de mortalidade. Nesse sentido, em 1976, a DNT transformouse em Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária (DNPS), passando a se ocupar também de outras pneumopatias de interesse da Saúde Pública. Para dar suporte técnico-científico a esta e à CNCT foi criado, em 1986, o Centro de Referência Hélio Fraga (CRHF), no RJ. Entre suas responsabilidades estavam previstas a realização de cursos de especialização e a incorporação dos funcionários que trabalhavam na CNCT (FERNANDES et al; 1993). Recentemente, de acordo com o Ministério da Saúde o Brasil registra, por ano, cerca de seis mil mortes, e em 2008 teve 46 mil casos confirmados. Dessa forma a tuberculose, infelizmente, ainda permanece na agenda de prioridades enquanto moléstia a ser combatida, com sua devida importância (BRASIL, 2008). Assim, a tuberculose faz parte da história da sociedade brasileira, que se somou ao conjunto de fatores de retardo do desenvolvimento social e econômico do país, desde o início da colonização, repercutindo no sofrimento psicossocial humano determinado pela doença (HIJJAR, 2007). 1.3- Repercussões psicossociais da tuberculose Em aspectos sociais, a tuberculose vem sendo caracterizada como uma doença reemergente e negligenciada, levando seus portadores a viverem a experiência do preconceito ou até mesmo isolamento social; isto é devido ao fato da doença estar ligada a situações de miséria ou pobreza, aglomerações, má–alimentação e falta de saneamento básico; deve-se também, pela falta de conhecimento da população acerca da cura, tratamento e formas de prevenção, bem como problemas operacionais dos serviços de saúdes, sendo assim, a tuberculose é uma doença carregada de estigmas negativos (VAZ, 1996). Para Sontag, a doença é como uma metáfora que consiste em dar a uma coisa o nome de outra: “As metáforas contribuem para a estigmatização de certas doenças, como por exemplo, a tuberculose, que isolava a pessoa doente da comunidade, sendo encarada de modo sentimental, uma identidade deteriorada, um mal incurável.” (2007: 81). 37 Segundo Goffman, a palavra "estigma” representa algo de mal, que deve ser evitado, uma ameaça à sociedade, isto é, uma identidade deteriorada por uma ação social. Cria-se um modelo social do indivíduo e, no processo das nossas vivências, nem sempre é imperceptível a imagem social do indivíduo que criamos; essa imagem pode não corresponder à realidade, denominando-se de uma identidade social virtual. O termo estigma e seus sinônimos ocultam uma dupla perspectiva: Assume o estigmatizado que a sua característica distintiva já é conhecida ou é imediatamente evidente ou então que ela não é nem conhecida pelos presentes e nem imediatamente perceptível por eles? No primeiro caso, estáse lidando com a condição do desacreditado, no segundo com a do desacreditável (GOFFMAN, 2008:14) O estigma estabelece uma relação impessoal com o outro; o sujeito não surge como uma individualidade empírica, mas como representação circunstancial de certas características típicas da classe do estigma, com determinações e marcas internas que podem sinalizar um desvio, mas também uma diferença de identidade social. Goffman conceitua a informação social como uma representação social do sujeito, com suas características mais ou menos permanentes, contrapostas aos sentimentos, estados de ânimo e à intenção que o sujeito pode ter em dado momento. São signos que o sujeito transmite para o outro através da expressão corporal. O autor também denominou "social” a tal informação, que pode ser de freqüência acessível e recebida de forma rotineira (GOFFMAN, 2008). A identidade social estigmatizada destrói atributos e qualidades do sujeito, exerce o poder de controle das suas ações e reforça a deterioração da sua identidade social, enfatizando os desvios e ocultando o caráter ideológico dos estigmas. A sociedade impõe a rejeição, leva à perda da confiança em si e reforça o caráter simbólico da representação social segundo a qual os sujeitos são considerados incapazes e prejudiciais à interação sadia na comunidade. Fortalece-se o imaginário social da doença e do "irrecuperável", no intuito de manter a eficácia do simbólico (GOFFMAN, 2008). De acordo com Ruffino Netto (2002: 53), define-se genericamente o tuberculoso como “um homem histórico, concreto, que preenche um lugar no tempo e no espaço, concepção articulada ao entendimento da saúde e da doença como fenômenos explicados pelas relações globais ao nível da realidade social concreta.” Assim, o indivíduo acometido por tuberculose, tem uma imagem negativa da doença e conseqüente sentimentos negativo da mesma, no que concerne à realidade social, tais como: 38 medo, insegurança, vergonha, angústia, ansiedade, mágoa, culpa. O medo geralmente é mais freqüente, pois o indivíduo sente receio de transmitir a doença para a família, de sofrer preconceito, de ser desprezado; sente medo também de tossir, de escarrar, do corpo rejeitar o remédio, de perder a vitalidade, de ter seqüelas, enfim de morrer (VAZ, 1996). O preconceito, fator de condicionamento social, bem como os problemas operacionais dos serviços de saúdes tem provocado tais sentimentos, determinando desse modo, o abandono de tratamento, que é uma dos principais causas de multirresistência do bacilo e falência do esquema RIP (VAZ, 1996). Cabe ressaltar que historicamente antes da década de 50 do século XX, a percepção era de medo e a doença era tida como incurável e a elite da época, negava a presença da moléstia em seu meio social e os pobres sentiam-se mais rejeitados. De acordo com BERTOLLI FILHO (2001: 25) “quando a mortal enfermidade invadia os lares burgueses, o fato era protegido pelo absoluto sigilo familiar, pois tal doença seria castigo de Deus devido a uma vida desregrada, culpabilizando o doente”. Já, a partir da década de 50, os avanços científicos trouxeram novos meios de diagnóstico e técnicas de tratamento, que vieram questionar conceitos até então “aceitos”, caracterizando intensas discussões a respeito da tuberculose, promovendo mudanças significativas no entendimento e nas representações e percepções sociais sobre a doença, tanto para a população como para o doente, cabendo destacar a diminuição, a redefinição e não a extinção de tais representações (FERNANDES, et al, 1993). 1.4- Tuberculose no Brasil, anos 1990 a 2000: em destaque o Programa Nacional de Controle da Tuberculose Passando por vários contextos históricos, a tuberculose teve um crescimento notório que vem percorrendo ao longo dos anos no Brasil, sendo um importante problema de saúde pública. Desse modo, o Ministério da Saúde, em 1999, definiu a tuberculose como prioridade entre as políticas governamentais de saúde, estabelecendo diretrizes para as ações e fixando metas para o alcance de seus objetivos, aprimorando o PNCT inserido na atenção básica, para visar à intensificação das ações de controle da tuberculose. Regido por um Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil voltado para os profissionais de 39 saúde da rede básica, tais como médicos enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde (BRASIL, 2006). O PNCT está integrado na rede de Serviços de Saúde, é desenvolvido por intermédio de um programa unificado, executado em conjunto pelas esferas federal, estadual e municipal. Está subordinado a uma política de programação das suas ações com padrões técnicos e assistenciais bem definidos, garantindo desde a distribuição gratuita de medicamentos e outros insumos necessários até ações preventivas e de controle do agravo. Isto deveria permitir o acesso universal da população às suas ações (BRASIL, 2006). As ações de controle da tuberculose no Brasil têm como meta diagnosticar pelo menos 70% dos casos esperados e curar pelo menos 85% dos casos diagnosticados e reduzir o abandono do tratamento a menos de cinco por cento. O conjunto de metas a serem alcançadas é: expandir a cobertura do tratamento supervisionado para os 315 municípios prioritários (2006 = 86%); informar sobre desfecho de 100% dos casos diagnosticados (2006 = 75%); oferecer teste anti-HIV para 100% dos adultos com TB (2006 = 70%) e reduzir para 70.000 o número de casos novos de TB até 2011. Como metas globais foram consideradas: reduzir, até o ano de 2015, a incidência para 25,9/100.000 hab. e a taxa de prevalência e de mortalidade à metade em relação a 1990. Além disso, espera-se que até 2050, a incidência global de TB ativa seja menor que 1/1.000.000 habitantes por ano (BRASIL, 2010). O SUS pressupõe a hierarquização das ações de saúde com distribuição das competências pelas três esferas da administração pública: o federal, o estadual e o municipal. O Ministério da Saúde organizou-se a partir de secretarias, diretorias, coordenações e programas. O PNCT encontra-se situado hierarquicamente dentro do Departamento de Vigilância Epidemiológica (DVEP), que por sua vez integra a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) (BRASIL, 2010). Os gestores municipais juntamente com o gestor estadual, devem agir de forma planejada e articulada para garantir a implantação da estruturação da rede de serviços de saúde para identificação de sintomáticos respiratórios; organização da rede laboratorial para diagnóstico e controle dos casos; garantia de acesso ao tratamento supervisionado e/ou autoadministrado dos casos; proteção dos sadios; alimentação e análise das bases de dados para tomada de decisão (BRASIL, 2010). 40 Dentre as várias estratégias para estender o PNCT a todos os municípios brasileiros, estão à expansão e a consolidação dos Programas de Agentes Comunitários de Saúde e do Programa de Saúde da Família do MS, em parceria com as prefeituras municipais (BRASIL, 2010). As atribuições das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do SUS de todos os municípios do país no PNCT de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) são: Identificar entre as pessoas maiores de 15 anos que procuram o serviço, sintomáticos respiratórios (pessoa com tosse e expectoração por três semanas ou mais), fazer o diagnóstico de tuberculose, iniciar o tratamento, acompanhar os casos em tratamento, dar alta aos pacientes; Identificar entre as crianças que procuram os serviços de saúde, aquelas portadoras de pneumopatias e outras manifestações clínicas sugestivas de tuberculose, e encaminhá-las a uma unidade de referência para investigação e confirmação do diagnóstico; Acompanhar e tratar os casos confirmados nas UBS; Aplicar a vacina BCG; Coletar material para a pesquisa direta de bacilos álcool ácido resistentes (BAAR) no escarro. Caso a unidade básica de saúde não possua laboratório, identificar um laboratório de referência e estabelecer um fluxo de envio do material; Realizar a prova tuberculínica quando necessário; Realizar exame anti-HIV (anti- Vírus da Imunodeficiência Humana) quando indicado, devido a grande associação da tuberculose com AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana); Dispor de estoque de medicamentos específicos para os doentes inscritos no programa de tuberculose (Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida, Etambutol, Estreptomicina, Etionamida); Fazer tratamento supervisionado na unidade de saúde ou no domicílio quando indicado – Tratamento Diretamente Observado (DOTS); Manter o Livro de Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose com informações atualizadas acerca do seu acompanhamento, baciloscopias e critério de alta. Essas informações devem ser enviadas mensalmente ao primeiro nível informatizado do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), seja o distrito sanitário, nos municípios maiores, ou para a Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) (BRASIL, 2009); Informar a SMS acerca dos casos atendidos e situação de encerramento (resultado do tratamento) desses casos; Realizar trimestralmente estudo de coorte dos casos acompanhados para a análise do resultado do tratamento; 41 Fazer uma programação anual para o PNCT, juntamente com a Vigilância Epidemiológica do município, estabelecendo metas a serem atingidas; Fazer visita domiciliar quando necessário; Treinar os recursos humanos da unidade básica de saúde; Realizar ações educativas junto à clientela da unidade de saúde, bem como na comunidade; Divulgar os serviços prestados tanto no âmbito do serviço de saúde como na própria comunidade. Dentre os desafios do PNCT, (BRASIL, 2006) estão: Melhoria do sistema de informação; Descentralização, ampliação do acesso e expansão da cobertura do programa para toda a rede básica; Construção de consensos e normalização de conceitos; Ampliação do TS/DOTS com qualidade; Articulação com o Fundo Global, com o Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis/ Aids (PN-DST/Aids), com o Departamento de Atenção Básica (DAB) e outras instituições governamentais e não governamentais; Manutenção da priorização no controle da TB (política e recursos); Ampliação da Parceria Brasileira contra a TB; Ampliação da participação da Sociedade Civil e do controle social; Protagonismo internacional. É importante ressaltar que segundo a Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS) é elencado um conjunto de ações para subsidiar a Programação Anual de Saúde (PAS) das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, para o alcance de metas do Pacto pela Vida e demais prioridades de relevância para o SNVS, eleitas pelas esferas Federal, Estadual e Municipal. Assim, o Pacto pela Vida tem como uma das prioridades o fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, e com ênfase na tuberculose, a meta para o biênio 2010/2011 é: 42 - 2010: 40% dos casos de retratamento de tuberculose com exame de cultura de escarro realizado; 90% de casos novos de tuberculose com situação de encerramento informada; 70% casos novos de tuberculose pulmonar bacilífera em tratamento diretamente observado; 70% de contatos de tuberculose pulmonar bacilífero examinados. - 2011: 60% dos casos de retratamento de tuberculose com o exame de cultura de escarro realizado; 95% de casos novos de tuberculose com situação de encerramento informada; 80% casos novos de tuberculose pulmonar bacilífera em tratamento diretamente observado; 90% de contatos de tuberculose pulmonar bacilífero examinados (BRASIL, 2009). Cabe relembrar que esta programação é de âmbito nacional, envolvendo todos os entes federados, e que, as mesmas devem priorizar estas ações no período de sua gestão. O que se almeja com esta programação é que todas as ações acima citadas sejam desempenhadas adequadamente em sua totalidade (BRASIL, 2009). 43 Capítulo 2 - ABORDAGENS TEÓRICO – METODOLÓGICAS 2.1- Questões teóricas Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem quanti-qualitativa. Segundo Minayo (2001), a pesquisa qualitativa preocupa-se com um nível de realidade, aprofundando-se no mundo dos significados, das ações e das relações humanas. Permitindo conhecer o que pensam os indivíduos sobre suas experiências, suas vidas e seus projetos, privilegiando o conteúdo da percepção e do individual. Novamente recorrendo a Minayo (2010), a pesquisa qualitativa em saúde engloba a pesquisa social, que envolve vários tipos de investigação que tratam do ser humano em sociedade, de suas relações e instituições, de sua história e de sua produção simbólica. De acordo com a autora (2010: 204) “a pesquisa social em saúde, envolve todas as investigações que tratam do fenômeno saúde/doença, de sua representação pelos vários atores que atuam no campo: as instituições políticas e de serviços e os profissionais e usuários.” Já a pesquisa quantitativa, segundo Santos e Gamboa (1995), é a que se considera como objetivo da ciência social, o encontro de regularidades e relação entre os fenômenos sociais, tendo como principal instrumento o modelo, que apresenta uma versão simplificada da estrutura ou do comportamento de um sistema. No campo da história, recorreu-se em Certeau (2008) e em outros teóricos (utilizados pelos autores de alguns dos artigos analisados) que discutem o papel do sujeito histórico no processo de construção das suas trajetórias e percepções de mundo inseridas nos contextos históricos em que vivem. Segundo Nascimento (2006: 100), “a abordagem utilizada sobre as representações sociais da doença, ganha originalidade ao promover o entendimento do fenômeno patológico para além de sua conceituação médica, descrevendo-o como objeto histórico socialmente construído.” 44 2.2- Aspectos metodológicos da pesquisa Para o alcance dos objetivos foi utilizado o método de revisão da literatura científica que, de acordo com Roman e Friedlander (1998), tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas relativos a um tema ou a uma questão específica, de forma sistemática e ordenada, com o intuito de contribuir para o conhecimento desse tema ou questão. Santiago (2006) e Lakatos (1995) enfatizam que essa metodologia nos permite conhecer as contribuições culturais ou científicas do passado, aproximando o pesquisador do que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. A pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto. Mas, propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. Ao fazer uma releitura do que foi produzido pode-se visualizar aspectos que de outra forma passariam despercebidos, como pontos obscuros ou lacunas do conhecimento. Além de ser um reforço paralelo no referencial teórico e na análise de sua própria pesquisa (Lakatos, 1995 pg. 91). As buscas bibliográficas foram realizadas privilegiando um período de 10 anos de 2000 a 2010, porém foram encontrados três artigos de períodos anteriores, que nos levaram a redefinir o recorte temporal para 1995 a 2010. Devido ao fato de se trabalhar com textos completos disponíveis em base de dados, não se tornou necessário encaminhamento do estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição. Para coleta dos dados realizou-se um levantamento de literaturas completas, indexadas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) nas seguintes Bases de Dados: Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde / Centro Latino-Americano de Informação em Ciências da Saúde – Biblioteca Regional de Medicina (LILACS/ BIREME), Scientific Electronic Library Online – Biblioteca Científica Eletrônica em Linha (SCIELO), além da Medical Literature Analysis and Retrieval System Online - Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE - Pub Med – bases de citações biomédicas) através do portal de periódicos (PORTAL CAPES). 45 No campo de busca, utilizou-se a padronização das palavras-chave que deram origem aos descritores utilizados na BIREME, a saber: tuberculose, percepção, estigma e tratamento. Os descritores de assuntos podem ser entendidos como um vocabulário estruturado, que são utilizados na indexação de artigos de revistas científicas, livros, anais de congressos, relatórios técnicos, e outros tipos de materiais. Devido a uma grande quantidade de publicações encontradas, englobando áreas de conhecimentos diversificados e com pouca relevância para o trabalho aqui apresentado, fez-se necessária uma pesquisa com a combinação de descritores de assuntos, a fim de refinar ainda mais a pesquisa. A partir do índice, foi localizado e selecionado o descritor adequado para representar o assunto a ser buscado. Ao realizar a busca literária, foram localizados inicialmente 18 (dezoito) artigos. Alguns destes artigos inicialmente selecionados não foram incluídos na pesquisa devido à dificuldade de acesso, e por se apresentarem como publicações incompletas nos periódicos on-line. Além disso, foram utilizados critérios pré- definidos e considerados no momento da escolha das publicações para a análise, tais como: texto em língua portuguesa, em decorrência de opção por se trabalhar com pesquisadores brasileiros, periódicos nacionais e título do trabalho contemplando o objeto do estudo. Assim sendo, selecionou-se um total de 10 (dez) artigos que apreciam tema relacionado com repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento. Deste total, 01 (um) foi localizado na base de dados LILACS, 08 (oito) na SCIELO e 01 (um) na MEDLINE; citados a seguir, por ordem cronológica das publicações em geral, neste primeiro momento para melhor compreensão e visualização, sendo estes divididos posteriormente em dois grupos de momentos distintos no capítulo das análises: 1PORTO, A.A.; NASCIMENTO, D.R. “Tuberculosos e seus itinerários”. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.1, nº. 2: 100-117, Rio de Janeiro, nov. 1994-fev.1995. 2GONÇALVES H.; COSTA, J.D.; MENEZES, A.M.B .“Percepções e limites: visão do corpo e da doença”. Physis: Revista de Saúde Coletiva v.9 n.1: 151-173 Rio de Janeiro jan./jun. 1999. 3BERTOLLI FILHO, C.‘Antropologia da doença e do doente: percepções e estratégias de vida dos tuberculosos’ História, Ciências, Saúde — Manguinhos VI (3): 493-522 nov. 1999-fev. 2000. 46 4BERTAZONE E.C.; GIR, E. “Aspectos gerais da sexualidade dos portadores de tuberculose pulmonar atendidos em unidades básicas de saúde de Ribeirão Preto-SP” Rev. Latino-Am. Enfermagem v.8 n.1: 120-140 Ribeirão Preto jan. 2000. 5VENDRAMINI, S. H. F.” O tratamento supervisionado no controle da tuberculose em Ribeirão Preto sob a percepção do doente” Rev. Latino-Am. Enfermagem v.9 n.1: 78-106 Ribeirão Preto jan.2001. 6LIMA, M.B., et al. “Estudo de casos sobre abandono do tratamento da tuberculose: avaliação do atendimento, percepção e conhecimentos sobre a doença na perspectiva dos clientes (Fortaleza, Ceará, Brasil)” Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(4): 877-885 julago, 2001. 7NASCIMENTO, D.R.” As pestes do século XX: tuberculose e AIDS no Brasil, uma história comparada” Cad. Saúde Pública vol.22 no. 2: 96-123 Rio de Janeiro Fev. 2006 8PÔRTO, A.A. “Representações sociais da tuberculose: estigma e preconceito” Rev. Saúde Pública v.41 supl.1: 100-120 São Paulo set. 2007 9SÁ, L.D. et al. “Tratamento da tuberculose em unidades de saúde da família: histórias de abandono” Texto contexto Enfermagem. v. 16 n.4: 80-114 Florianópolis out./dez. 2007. 10SOUZA, S.S.; SILVA, D.M.G.V.; MEIRELLES, B.H.S. “Representações sociais sobre a tuberculose” Acta paul. enferm. vol.23 no. 1: 112-130 São Paulo 2010. Em sequência, foi realizada a seleção e a pré-análise dos textos. Ressalta-se que os textos foram selecionados a partir da leitura prévia dos resumos e posteriormente se decorreu a apreciação dos trabalhos na íntegra analisados e discutidos no capítulo três. Foram elaborados quadros para registro e tabulação dos dados identificados, que foram analisados quanti-qualitativamente, e comparados entre si, o que permitiu conhecer o panorama geral da produção científica selecionada e levantar os pontos de análise (Quadro 3 e Quadro 4). A discussão e análise dos dados estão apoiadas na análise de conteúdo, que segundo Bardin (1997), consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença ou frequência de aparição podem significar algo para o objetivo analítico escolhido. O autor assevera que o método: É um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não), que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1997, p. 42). 47 Em consonância com o método, foram relacionadas às categorias estabelecidas pelos autores dos artigos para identificar as diferentes percepções encontradas nos pacientes em tratamento de tuberculose sobre a sua doença (ver Quadro 4 no capítulo 3). 48 Capítulo 3 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Ao analisar as publicações sobre o tema das repercussões psicossociais da tuberculose nos pacientes em tratamento, buscou-se vislumbrar a percepção dos clientes em dois momentos históricos distintos: O primeiro, antes de 1950, quando o tratamento existente era a terapia higieno-dietética e algumas intervenções cirúrgicas tais como o pneumotórax ; e o segundo, ao longo da virada do século XX para o XXI, com um contexto de discussões acerca dos esquemas de tratamento, da resistência das drogas e da avaliação do PNCT. A título de melhor compreensão da analise comparativa das percepções dos pacientes tuberculosos em tratamento foi designado dois grupos analíticos: o primeiro, codificado como (G1), referente ao contexto anterior a 1950 acerca da Tuberculose, e o segundo ao contexto do final do século XX e início do século XXI, codificado como (G2). 3.1 - Organização do material Elaborou-se o Quadro 1, que apresenta o Grupo Analítico, ano da publicação, título da obra (codificado de “A-J”), as citações e as titulações autorais. Quadro 1 Grupo -Ano G1 - 2000 G1 - 2006 G1 - 2007 G1 - 1995 G2 - 2000 G2 - 1999 G2 - 2001 G2 - 2007 DISTRIBUIÇÃO DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS SOBRE REPERCUSSÕES PSICOSSOCIAIS DA TUBERCULOSE NOS PACIENTES EM TRATAMENTO TÍTULO/OBRA Autor Titulação Autoral Antropologia da doença e do doente: percepções e estratégias de vida dos tuberculosos (A) As pestes do século XX: tuberculose e AIDS no Brasil, uma história comparada (B) Representações sociais da tuberculose: estigma e preconceito (C) Tuberculosos e seus itinerários (D) Bertolli Filho, C. Doutor em Ciências Professor de antropologia Nascimento, D.R. Doutora em História Pôrto, A. Doutora em Saúde Coletiva Pôrto, A. Nascimento, D.R. Doutora em Saúde Coletiva Doutora em História Aspectos gerais da sexualidade dos portadores de tuberculose pulmonar atendidos em unidades básicas de saúde de Ribeirão Preto – SP (E) Percepções e limites: visão do corpo e da doença (F) Bertazone, E.C. Gir, E. Mestre em Enfermagem. Enfermeira e Docente. Gonçalves, H. Costa, J.D. Menezes, A.M.B. Lima, M.B. Mello,D.A. Morais, A.P.P. Silva, W.C. Sá, L.D. Souza, K.M.J. Nunes, M.G. Palha, P.F. Nogueira, J.A. Villa, T.C.S. Souza, S.S. Silva, D.M.G.V. Meirelles, B.H.S. Vendramini,S.H.F. Mestre em Antropologia. Mestre em Epidemiologia. Doutora em Epidemiologia. Estudo de casos sobre abandono do tratamento da tuberculose: avaliação do atendimento, percepção e conhecimentos sobre a doença na perspectiva dos clientes (G) Tratamento da tuberculose em unidades de saúde da família: histórias de abandono (H) G2 - 2010 Representações sociais sobre a tuberculose (I) G2 - 2001 O tratamento supervisionado no controle da tuberculose em Ribeirão Preto sob a percepção do doente (J) Professora de Enfermagem Secretária Estadual Professora de Saúde Pública Professora de Enfermagem Doutora em Enfermagem Mestranda em Enfermagem Pós-Doutor em Enfermagem, Doutora em Enfermagem Professora Livre Docente (REVER) Doutoranda em Enfermagem Doutora em Enfermagem Doutora em Enfermagem. Mestre em enfermagem 49 A análise do referido quadro permitiu a identificação de 04 (quatro) artigos que designam o primeiro momento histórico da TB (G1), representado 40% do total de 10 (dez) artigos selecionados, e os outros 06 (seis) fazem referência ao segundo momento histórico da TB (G2), representando, portanto 60% das obras. Este percentual nos sugere que dentro da amostra trabalhada, o número de trabalhos de cunho mais histórico e o de trabalhos do campo da saúde pública é quase equivalente. De acordo com o período em que os artigos foram publicados, notou-se que da totalidade, dois artigos foram realizados nos anos 90, enquanto os demais, oito, que representam um número mais expressivo, foram realizados a partir do ano 2000, podendo este incremento na produção científica estar relacionado à crescente busca por conhecimentos e necessidade de estudos nesta área, visando uma melhor contribuição da Saúde Pública no controle e tratamento dos pacientes com tuberculose. A análise do referido quadro possibilitou a apreensão de que dois autores se destacaram por apresentarem mais de uma publicação sobre o referido assunto. Pôrto e Nascimento são autoras de um artigo em conjunto, e um artigo individual cada uma. Tal evidência aponta para a responsabilização e comprometimento profissional com o incremento de novos saberes científicos, por meio da publicação de pesquisas relacionadas com a temática. No âmbito de apreciação das titulações acadêmicas dos autores, a maioria se enquadra na profissão de enfermagem, nas categorias de professor, mestre, doutor e pós- doutor, apresentando 50% do total das publicações, enquanto que as demais autorias se enquadram principalmente nos campos da antropologia, epidemiologia e história. Esse retrato nos indica a multiplicidade dos campos de especialização dos autores, revelando o quanto a interdisciplinaridade pode ser uma ferramenta importante na elaboração das políticas públicas. Com a finalidade de enriquecer o trabalho, foi elaborado outro quadro (Quadro 2), no qual foram demonstradas as obras segundo seu tipo de circulação em periódico e a base de dados na qual foi indexada como publicação científica on-line. 50 Quadro 2 DISTRIBUIÇÃO DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS SOBRE REPERCUSSÕES PSICOSSOCIAIS DA TUBERCULOSE NOS PACIENTES EM TRATAMENTO Grupo / Obra Periódicos LILACS MEDLINE SCIELO G1- A G1- B G1- C G1- D História, Ciências, Saúde – Manguinhos Cad. Saúde Pública Rev. Saúde Pública História, Ciências, Saúde – Manguinhos x x x x G2- E G2- F G2- G G2- H G2- I G2- J Rev. Latino – Am. Enfermagem Phisis: Revista de Saúde Coletiva Cad. Saúde Pública Texto contexto enferm. Acta Paul. Enferm. Rev. Latino – Am. Enfermagem x x x x x x A partir da análise do quadro exposto, se pode evidenciar que, dentre os periódicos em que se encontraram publicados os trabalhos, se destacaram os seguintes: História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Cadernos de Saúde Pública e Revista Latino- Americana de Enfermagem, os quais apresentaram cada um 20 % do total das publicações. Dentro das suas áreas específicas (história, saúde pública e enfermagem), estes periódicos têm alta conceituação (A1, A2 e A2, respectivamente) no Qualis Periódicos da CAPES. Quanto às bases de dados, nas quais foram indexadas as publicações, observou-se que apenas um trabalho foi encontrado indexado na base de dados LILACS, e também um na MEDLINE, enquanto que oito artigos foram evidenciados na base SCIELO. Cabe ressaltar que a SciELO - Scientific Electronic Library Online (Biblioteca Científica Eletrônica em Linha) é um modelo para a publicação eletrônica cooperativa de periódicos científicos na Internet, especialmente desenvolvido para responder às necessidades da comunicação científica nos países em desenvolvimento e particularmente na América Latina e Caribe1 . 1 O Modelo SciELO é o produto da cooperação entre a FAPESP- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, instituições nacionais e internacionais relacionadas com a comunicação científica e editores científicos. A metodologia SciELO permite a publicação eletrônica de edições completas de periódicos científicos, a organização de bases de dados bibliográficas e de textos completos, a recuperação de textos por seu conteúdo, a preservação de arquivos eletrônicos e a produção de indicadores estatísticos de uso e impacto da literatura científica. Também inclui critérios de avaliação de revistas, baseado nos padrões internacionais de comunicação científica e os textos completos são enriquecidos dinamicamente com links de hipertexto com bases de dados nacionais e internacionais, como por exemplo, LILACS e MEDLINE. Fonte: htttp://www.scielo.org/php/level.php?lang=pt&component=56&item=1, acessada em 14/04/2011. 51 3.2 - Discussão dos Dados Conforme apreendido anteriormente, dos 10 (dez) artigos publicados, quatro foram inferidos como pertencentes ao Grupo Analítico denominado G1, por apresentarem discussões que permeiam a época passada da tuberculose, antes de 1950; e os outros 06 (seis), foram alocados ao segundo grupo, G2, pois trazem em foco o contexto da tuberculose a partir de 1950 até a atualidade. Para melhor entendimento da análise, foi elaborado um quadro demonstrativo (Quadro 3), que explicita em essência as principais reflexões e discussões temáticas propostas em cada estudo. Quadro 3 DISTRIBUIÇÃO DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS SOBRE REPERCUSSÕES PSICOSSOCIAIS DA TUBERCULOSE NOS PACIENTES EM TRATAMENTO Grupo Analítico Objetivos Temas Analisar a reação individual dos tuberculosos exilados nas cidades-sanatórios paulistas frente às representações sociais que lhes eram imputadas. Experiência de vidas marcadas eufemisticamente como "mal-dospeitos". G1- B Promover o entendimento do fenômeno patológico descrevendoo como objeto histórico social-mente construído As representações sociais da tuberculose focalizando aspectos associados aos sentimentos e manifestações contraditórios. Oferecer subsídios para a elaboração da imagem matizada da doença. Estigmatização social do doente, dialogando com os valores morais vigentes e com a organização social estabelecida. G1- D Tipologia de fontes vinculados G1- A G1- C Hipóteses As imagens criadas da doença se adequam, enquanto metáforas. Experiência de se estar doente numa perspectiva apologética e satírica. Espanto e desalento eram suscitados não apenas pela enfermidade que corrompia o corpo, mas também, pela carga simbólica que a tuberculose impunha às suas vítimas e às pessoas que lhes eram próximas. O medo do aniquilamento dos indivíduos e da sociedade associado à transmissibilidade e incurabilidade da tubérculose e da AIDS Escritos memórialísticos. As diversas formas de representação da tuberculose seriam expressões da vontade coletiva de reorganização da ordem social. Obras poéticas literárias da época. O rigor do discurso médico no tratamento da doença. Depoimentos orais e escritos Correspondência e artigos. Documentos oficiais, produção médico-científicas, matérias publicadas em jornais e revistas da época. 52 G2-E Analisar o conhecimento que os portadores de tuberculose pulmonar têm acerca da doença e as experiências vivenciadas por estes acerca do exercício de sua sexualidade antes e após a doença. Revelar que algumas manifestações corporais são percebidas como mais graves pelos pacientes. Dificuldade para controlar a doença devido à pobreza, à epidemia de AIDS e a deterioração dos serviços de saúde. Podem ocorrer modificações no comportamento e conseqüentemente nas relações dos portadores de tuberculose pulmonar, após a manifestação da doença. Entrevista semi-diretiva gravada, norteada por um questionário composto por questões abertas e fechadas. A percepção e a representação social da tuberculose interferem na cura. G2-G Identificação de fatores que determinam o abandono do tratamento da tuberculose Características sócio econômicas e culturais dos clientes (atores sociais); causas impeditivas ao tratamento; conhecimentos e percepção da doença pelos clientes. O método etnográfico de observação participante, conjugados com as entrevistas semi – estruturadas e conversas informais. Dados epidemiológicos e questionário semiestruturado G2-H Identificar e analisar os motivos de abandono do tratamen-to da tubérculose pelos usuários das Unidades de Saúde da Família G2- I Conhecer as representações sociais da tuberculose de pessoas acometidas pela doença e atendidas em um serviço de referência de um município Percepção do doente de tuberculose sob tratamento supervisionado O envolvimento dos profissionais SF no desen-volver de estratégias para potencializar a adesão do usuário ao trata-mento da tuberculose. O tratamento é difícil, a tuberculose afasta as pessoas, a tuberculose muda a percepção de si. As percepções e representações do corpo influenciam a qualidade e a intensidade da participação do doente, em diversos âmbitos da vida social. Apesar de existirem drogas eficazes, a realidade quanto ao êxito do tratamento aponta fatores complexos que intervêm nos resultados, entre os quais, a resistência aos medicamentos, o tratamento incompleto e o abandono. As causas do abandono estão associadas ao doente, à modalida-de do trata-mento emprega-do e a dos serviços de saúde. Investimentos em relação ao controle da tuberculose têm sido importantes, porém são insuficientes, considerando a evolução da doença no Brasil. Entrevistas estruturadas Não há adesão do doente ao tratamento No PNCT e existem dificuldades enfrentadas pelos doentes relacionadas à assistência e aos serviços de saúde. O prontuário dos doentes e as fichas epidemiológicas de notificação da doença e a entrevista semi – estruturada. G2-F G2- J Enfoque da terapêutica no tratamento supervisionado do doente sob tratamento supervisionado Entre-vistas com história oral temática semi- Na análise, como foi citado anteriormente, percebeu-se que dos 10 artigos da amostra publicados, quatro pertenciam ao primeiro grupo, por estarem relacionados com o período do início do século XX até a década de 1950; e os outros seis artigos, pertenciam ao segundo grupo, pois traziam em seus textos a tuberculose nas décadas mais recentes. Para melhor 53 entendimento das análises, os artigos foram denominados como G1, os pertencentes ao primeiro grupo, e como G2, os pertencentes ao segundo grupo. O grupo G1 com seus quatro artigos têm como assunto principal de um modo geral as representações sociais frente à tuberculose no final do século XIX e primeira metade do século XX, tais como: a imagem matizada da doença a partir de experiências; a reação dos tuberculosos exilados nos sanatórios frente às representações sociais; a tuberculose como objeto histórico socialmente; bem como as representações sociais da tuberculose na passagem do século XIX para o século XX. O século XX se inicia com um processo de tentativa de desmistificação da tuberculose e da figura do tuberculoso. O Estado passa a investir um pouco mais em políticas de saúde pública, ao mesmo tempo em que a doença ganha confins mais dramáticos justamente por caracterizar aparências evidentes de miséria social. Nesse contexto, a DGSP também determinou importantes trabalhos voltados para os doentes, surgindo em conseqüência a LBCT, a atual FAP (NASCIMENTO, 2002). De acordo com Bertolli Filho, 2001 o tuberculoso é um homem comum, necessitado de recursos, que habita os centros urbanos e industrializados. A migração da tuberculose para as classes mais pobres da população com suas descrições mais peculiares – dentre elas o de degenerescência moral – continuam presentes ao nível da percepção da doença. A questão é que os traços "negativos" não correspondem simetricamente, os "positivos". Quanto aos temas vinculados ao assunto principal, o grupo G1 enfoca a sátira, o eufemismo e metáforas da estigmatização social da doença, tais como: o doente num aspecto apologético e satírico; a experiência de vida marcada eufemisticamente como “mal-dospeitos”; a estigmatização social e os valores morais vigente da época; além das imagens criadas como metáforas a situações socialmente indesejáveis (escarradeira em via pública, tosse...). Já o grupo G2 traz como assunto principal um momento mais atual da tuberculose, com temas relacionados à sexualidade do doente, o tratamento supervisionado, o abandono de tratamento e unidades de saúde da família e de referência de tuberculose, tais como: as manifestações do corpo que são percebidas como grave; o conhecimento do paciente sobre a doença e a experiência do exercício de sua sexualidade; a percepção do paciente tuberculoso 54 sobre o tratamento supervisionado; os fatores que determinam o abandono do tratamento da tuberculose; os motivos do abandono do tratamento da tuberculose nos pacientes de uma Unidade de Saúde da Família; e as representações sociais da tuberculose em pacientes tratados num serviço de referência. Ao falar sobre a questão do abandono ao tratamento, Lima et al (2001: 883) aponta que: Os fatores que contribuem para o abandono do tratamento da tuberculose são: à dinâmica do atendimento e a discussão institucional sobre o serviço de saúde e o papel desempenhado no controle da tuberculose; à reflexão de que a tuberculose é uma doença assentada predominantemente em variáveis de natureza econômica, social e cultural; os conhecimentos dos atores sociais que percebem e descrevem com clareza a tuberculose em seus diferentes níveis de complexidade (a doença, sua história natural e social), e à problemática específica do tratamento. Tais fatores (em especial, a dinâmica do atendimento, o papel dos serviços de saúde e o conhecimento dos atores sociais acerca da sua doença) fazem parte dos assuntos principais de todos os outros artigos deste grupo analítico. A expressão da tuberculose no Brasil, ao longo do século XX, caracteriza-se por modificações tão profundas, que quase se poderia dizer não existir uma única forma nosológica para descrever a doença. A tuberculose, analisada quanto ao seu comportamento na comunidade, é hoje uma doença diferente daquela conhecida há mais de 50 anos. Apesar dos esforços de assistência e controle da doença desde o século passado, houve mudanças no perfil das pessoas acometidas e o surgimento de bactérias resistentes aos medicamentos utilizados devido ao abandono do tratamento, gerando o desenvolvimento da tuberculose multirresistente. Além disso, a tuberculose se agrava com o surgimento da co-infecção TB/HIV, fatores estes que contribuem para dificultar ainda mais o controle da doença e a relação da tuberculose com a sexualidade. Ao destacar as mudanças das políticas e das tecnologias acerca da tuberculose, Gonçalves (1999: 154) ressalta em seu artigo que: O diagnóstico ganhou recursos tecnológicos; o risco de contágio também se alterou, a possibilidade de cura tornou-se efetiva, além da implementação do TS, mas, por outro lado, as pessoas continuam a se sentir discriminadas pelo preconceito que existe com relação à doença; abandonam o tratamento 55 porque consideram que, muitas vezes, ele traz manifestações piores do que a própria doença; ou por não compreenderem a relação entre a cura e a remissão das manifestações, pois se sentem livres dos sintomas nos primeiros meses sem saber que ainda estão infectados. Quanto aos temas vinculados ao assunto principal, esses artigos trazem os fatores que dificultam o tratamento e conseqüentemente a cura na atualidade, tais como: a percepção e representação social da tuberculose que interfere na cura; a dificuldade para controlar a doença devida à pobreza; a deterioração dos serviços de saúde; a ação terapêutica no tratamento supervisionado, e a singularidade do doente; as características sócio-econômicas e culturais dos pacientes que são causas impeditivas do tratamento; o envolvimento dos profissionais do PSF em estratégias para adesão do paciente ao tratamento; e por fim o tratamento que é difícil, pois a tuberculose pode muita das vezes afastar o doente da sociedade e de seus grupos de convivência mudando a percepção que o doente tem de si próprio. Com relação às hipóteses, o grupo G1 enfoca o medo e o espanto associados à incurabilidade e a visão da sociedade como carga simbólica da doença e o rigor do tratamento do século passado. Tais artigos trazem como hipóteses o rigor do discurso médico no tratamento da doença; o espanto e o desalento que não são apenas pela doença do corpo, mas também pela carga simbólica que a tuberculose impunha; o medo e o aniquilamento físico e moral que são associados à transmissibilidade e a incurabilidade da tuberculose; e as diversas formas de representação da tuberculose que seriam expressões da ordem social. Esses autores pressupõem que a doença é temida ainda por ser expressão de algo que é socialmente digno de censura, bem como por representar o estágio último de miséria humana. O autor Bertolli Filho (1999: 494) aponta em seu artigo: O espanto e desalento eram suscitados não apenas pela enfermidade que corrompia o corpo, mas também, e, sobretudo, pela carga simbólica que a tuberculose impunha às suas vítimas e às pessoas que lhes eram próximas. A morte física prometida pela doença tinha como etapa anterior a exclusão social que, nas confidências pessoais, era declarada como muito mais sombria e dolorida que os padecimentos físicos produzidos pela infecção. Nesse sentido persiste no imaginário social e como forma de relação da sociedade com o doente, o processo de estigmatização da tuberculose e do tuberculoso. Os tratamentos da 56 época em especial a higieno-dietética não ofereciam um tratamento ao alcance de todos e nem tinham eficácia para todos aqueles que se submetiam ao mesmo, pois existiam vários fatores que interferiam neste processo, entre os quais a resistência as drogas, os hábitos de vida e a classe social dos pacientes. Já o grupo G2 traz como hipóteses os fatores que interferem no tratamento da tuberculose como as percepções sociais e as dificuldades relacionadas aos serviços de saúde. Tais hipóteses são: as percepções e representações do corpo que influenciam na participação do doente em diversos âmbitos da vida social; as modificações que podem ocorrer no comportamento e nas relações dos tuberculosos após a doença; a não adesão do doente ao tratamento do PNCT devido às dificuldades relacionadas à assistência e aos serviços de saúde; os fatores complexos que intervêm no tratamento, como resistência medicamentosa, reação dos medicamentos no organismo, tratamento incompleto e o abandono; as causas do abandono que estão associadas ao doente, ao tipo de tratamento e aos serviços de saúde; e os investimentos no controle da tuberculose que são insuficientes, causando muitas vezes, falta de medicação e de vários recursos especiais no combate à doença. Ao trabalhar com a importância do reconhecimento da doença como uma questão também social Sá (2007: 88) destaca que: Os profissionais de saúde muitas vezes não compreendem que a tuberculose não é somente uma doença física, mas que se integra ao viver das pessoas atingidas. Compreender esta realidade de forma mais ampla certamente auxiliará numa abordagem mais adequada de cuidados e tratamentos. A importância da prática dos profissionais de saúde debaterem com os doentes o tratamento e as preocupações dos mesmos com a sua doença, é a hipótese central do artigo de Vendramini (2001: 96): É importante os profissionais da saúde abrirem espaços de discussão com os pacientes, permitindo que eles expressem seus medos e preocupações, o que poderá favorecer a superação do próprio preconceito com relação à doença e ajudá-los a encontrar novas maneiras de lidar com a situação, diminuindo também a questão do abandono de tratamento. Quanto à tipologia de fontes, o G1 usou especialmente fontes históricas dentre os quais: depoimentos, correspondências e artigos da época; os escritos memorialísticos; documentos oficiais, jornais e periódicos médicos; como também obras poéticas literárias da época sobre a tuberculose. 57 Defendendo suas tipologias de fontes, as autoras Pôrto e Nascimento (1995: 100) declararam em seu artigo que “as cartas e depoimentos sinalizam, portanto, a presença de vozes diferentes num discurso polifônico, uma tentativa de construir a tuberculose em suas múltiplas facetas, expressões e vivências.” Assim, essas autoras trazem em seus artigos a concepção da tuberculose que seria própria de uma sensibilidade marcada como romântica, que se difundia em especial entre intelectuais e artistas. A doença surge para os poetas como um atributo que os torna interessantes. Esta forma de expressão parece ter sido o veículo adequado para muitos tísicos ilustres que procuravam alguma forma de compreensão do mal que os consumia, compreensão que lhes era negada pelo saber médico da época, a tuberculose romântica propriamente dita, além da tuberculose como um mal social. Para uma melhor exemplificação a autora Pôrto (2007: 101) explicita em seu artigo: Até meados do século XIX, o tuberculoso trazia uma aura de excepcionalidade, que o colocava aos olhos de seus contemporâneos, numa posição de certo refinamento. A concepção da tuberculose seria própria de uma sensibilidade marcadamente romântica, que se difundia em especial entre intelectuais e artistas. O termo romântico é definido como uma sensibilidade peculiar de um determinado período histórico, que desde o princípio do século XVIII "assume o matiz de 'atraente', de ato de deleitar a imaginação", vindo "associar-se com outro grupo de conceitos, como 'mágico', 'sugestivo', 'nostálgico', e, sobretudo com palavras que exprimem estados de alma inefáveis, essência da romanticidade. Já o grupo G2, usou como tipologia de fontes, em todos os seis artigos, a entrevista semi- estruturada que segundo Minayo (2010), é uma modalidade de abordagem atual que desdobra-se em vários indicadores considerados essenciais e suficientes e em tópicos que contemplem a abrangência das informações esperadas. Neste sentido, Bertazone (2000: 124) afirma que “como tipologia de fontes foi utilizada a entrevista semi-diretiva gravada, norteada por um questionário composto por questões abertas e fechadas, após a concordância dos entrevistados, mediante a assinatura de um termo de consentimento”. Os artigos, em seu conjunto, utilizaram o método etnográfico de observação participante, com entrevista semi-estruturada e conversas informais com questões abertas e fechadas; os prontuários dos doentes e as fichas epidemiológicas de notificação da doença; a natureza epidemiológica descritiva e sociológica interpretativa; e as entrevistas com história oral. Souza (2010: 105) destaca em seu artigo que “os dados que foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas e a análise foi efetuada sob a ótica da análise de conteúdo, tendo como 58 referência a teoria das representações sociais.” A análise dos artigos que adotaram estes métodos foi efetuada em sua maioria com base na análise de conteúdo categorial temática. Conforme Bardin (1997: 43): A análise é subdividida nas seguintes etapas: pré-análise (transcrição das entrevistas, leitura do material, com registro das impressões sobre a mensagem); exploração do material (as entrevistas foram lidas várias vezes, com a sua codificação e com uma reorganização dos códigos, e elaboração das categorias que convergiram para o tema central); e tratamento dos resultados obtidos e interpretação (os dados foram discutidos e interpretados à luz do referencial teórico com apreensão do significado das falas dos sujeitos do estudo). Ainda analisando e discutindo os dados, foi elaborado um quadro demonstrativo (Quadro 4), que aponta em essência as fundamentais ponderações e discussões temáticas apoiadas pelos autores dos artigos no que concerne a percepção do paciente no tratamento, o papel do profissional de saúde e conclusão principal. Quadro 4 Grupo analítico G1-A DISTRIBUIÇÃO DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS SOBRE REPERCUSSÕES PSICOSSOCIAIS DA TUBERCULOSE NOS PACIENTES EM TRATAMENTO Papel/ Percepção do paciente Papel do profissional de saúde Conclusão A exclusão social nas confidências pessoais era declarada como sombria e dolorida. Os tuberculosos recorriam à produção de diários, poesias, contos e romances como forma de expressão de suas angústias. O medo do aniquilamento físico e moral dos indivíduos e da sociedade como um todo, associado ao caráter de transmissibilidade e incurabilidade da tuberculose e da AIDS Especialistas médicos tentavam a correção dos espíritos e a cura dos corpos. Permitiu um maior conhecimento público das condições de vida dos tuberculosos e o reforço das representações sociais. Deverão ser fortalecidos pelo imaginário social, o conhecimento científico e as estratégias institucionais. G1-C O tuberculoso trazia uma aura de excepcionalidade, que o colocava, aos olhos de seus contemporâneos, numa posição de certo refinamento. A tuberculose também era vista como um sinal de caráter nobre, genialidade artística e intelectual, bem como a expressão de uma individualidade incomum. Também era vista como um tabu, um objeto de interdição e seu sintoma extremo são a estigmatização do doente e seu conseqüente isolamento. G1-D Tentativa de construir a TB em suas múltiplas facetas. A TB fazia com que houvesse um pavor. A aparência do doente evoca uma concepção espiritualizada da doença .A representação social da tuberculose começa a apresentar mudanças tanto quanto mais complexas se mostra seu entendimento à luz da ciência médica. A literatura médica tratava como fenômeno patológico, identificável por um conjunto de sintomas. Destacaram-se elementos de aproximação e distanciamento, nas dimensões do conhecimento científico, bem como nas estratégias institucionais. A tuberculose é uma enfermidade que tem cura, não havendo razões para ser uma doença estigmatizada. A observação de freqüentes recaídas, nesses grupos sociais, provoca descrença na possibilidade de cura da tuberculose. A doença é temida ainda por ser expressão de algo que é socialmente digno de censura. Os médicos viam uma vontade de luta pela vida e aceitação de si como doentes. G1-B 59 G2-E G2-F G2-G G2-H G2-I G2-J Percebem reações negativas, onde o medo da parceria sexual em adquirir a infecção/doença pode causar alterações na sua vida social, surgindo também sentimentos positivos como situações de aproximação da família e amigos para dar mais atenção. As representações do corpo, se configuram de forma mais intensa durante a doença, afetando assim as suas relações no cotidiano. A deterioração dos serviços de saúde é fator que contribui expressivamente para o recrudescimento desta doença.. É necessário profissionais de saúde, como o enfermeiro, oferecer assistência sistematizada aos portadores de tuberculose pulmonar. As experiências vivenciadas estão diretamente ligadas ao convívio com os familiares e o parceiro, surgindo assim na maioria sentimentos negativos devido ao preconceito que a doença carrega consigo. O médico aborda o processo biológico e corporal minimizando sua atenção ao paciente como um ser social, tornando-o mais sujeito à passividade. Os pacientes abandonavam o tratamento, pois não estavam com vontade, não tinham quem os levassem, não tinham dinheiro para o transporte, não tinham com quem ir, não viam resultado no tratamento, tinham constrangimentos devido à exclusão social. Existem dificuldades como a falta de informação e as representações negativas relacionadas à doença e ao tratamento, os problemas sociais, concorrem para que o doente de TB abandone o tratamento. O adoecer por TB é percebido como sofrimento pelo isolamento social, pelas dificuldades de realizarem o tratamento, pelo medo do contágio e pela mudança na percepção da imagem corporal. Os profissionais foram avaliados como sendo alguns grosseiros e outros educados. Eles não cumpriam os horários que refletiam na qualidade do exame clínico e na interação com o cliente. Demonstraram diferenças entre doentes e médicos no processo de adoecimento e cura, onde os pacientes enfrentam a doença com preocupações da vida social, enquanto que os médicos encaram como um fato corporal e biológico. Fatores múltiplos de natureza complexa, que influenciam para o abandono do tratamento. É assentada predominantemente como econômica, social e cultural. As disfunções e o enfraquecimento da auto-estima, expressando atitudes de resignação em face da doença. Observa-se que o vínculo e o acolhimento são essenciais para assegurar a continuidade do tratamento. É preciso reorganizar o processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe multiprofissional. Os pacientes são receptivos às visitas, tendo interação com os profissionais de saúde. A doença é encarada como péssima e debilitante para o corpo, muito visível e carregada de estigma pela sociedade. O profissional é bem aceito no tratamento supervisionado, os pacientes falam de sua doença e de questões pessoais que envolvem a doença. Ele é um elemento facilitador. Porém também é visto como um elemento fiscalizador. O envolvimento dos profissionais do PSF é importante. Existem dificuldades relacionadas à assistência de saúde. É importante ressaltar que, algumas vezes, o serviço de saúde abandona o doente, negligenciando-o. É visto como parte do serviço de saúde onde o tratamento é difícil estando ancorado nas sensações desagradáveis que os medicamentos trazem. As representações da tuberculose como sofrimento apontam a necessidade de promover a criação de uma rede de suporte às pessoas com tuberculose e de trabalhar preconceitos, medos e respeito às diferenças. As fortalezas percebidas foram: medicação gratuita, cesta básica, vale transporte e visita domiciliar, isso permite um vínculo. As debilidades percebidas foram: fiscalização na tomada da medicação, e a dependência do horário da visita. Além de isolamento social e preconceito que vem carregado na doença. 60 Conforme os dois grupos divididos anteriormente, os artigos do G1 trazem como percepções dos pacientes, algumas concepções negativas e positivas, dentre as negativas tem-se a maioria, tais como: medo de ficar tísico e morrer porque a doença trazia pavor; a exclusão social era muito mais dolorida que os padecimentos físicos pela infecção; medo do aniquilamento físico e moral associado à transmissibilidade e incurabilidade da tuberculose e da AIDS. Como concepções positivas tinham-se poucas como: a aura de excepcionalidade, na época, um sinal de caráter nobre, genialidade artística, intelectual e romântica, ao mesmo tempo em que também havia uma mistura de concepções negativas, como: a doença também era vista na época como tabu, com estigmatização do doente e isolamento social. Para a autora Nascimento (2006: 96): ... qualquer moléstia transmissível e incurável reveste-se de grande poder simbólico e passa a ser interpretada como "calamidade", "flagelo", "doença contagiosa grave" e "epidemia com grande poder de mortandade", assumindo características de peste, perpassando os limites impostos pelas desigualdades sociais, atingindo de forma transversal todos os segmentos da sociedade como encarnação do próprio mal. Já os artigos do G2 também trazem como percepções dos pacientes uma mistura dessas concepções, cada uma em sua historicidade. Como concepções negativas têm-se: a representação do corpo, como mudanças corporais, é mais intensa durante a doença, afetando suas relações como o cotidiano; os pacientes abandonavam o tratamento devido a vários fatores: não tinham vontade, não tinham dinheiro para o transporte, não viam resultado no tratamento, tinham constrangimento devido à exclusão social; os pacientes tinham dificuldades devido à falta de informações e representações negativas relacionado à doença e o tratamento, abandonando o tratamento devido aos problemas sociais; e o adoecer é percebido como sofrimento pelo isolamento social, pela dificuldade de realizarem o tratamento, pelo medo do contágio e da mudança da imagem corporal. As concepções positivas, embora poucas e vindo juntamente com as negativas também foram expressas, tais como: aproximação da família e amigos para dar mais atenção ao doente ao mesmo tempo tendo reações negativas como o medo de transmissão para a parceria sexual 61 alterando a vida sexual; e os pacientes também mostraram reações positivas ao serem receptivos às visitas domiciliares dos agentes de saúde da família tomando a medicação corretamente, ao mesmo tempo em que tinham reações negativas como o medo de morrer, sendo encarada a doença como péssima e debilitante para o corpo, muito visível e carregada de estigma pela sociedade. Para melhor exemplificar estas percepções a autora Bertazone (2000: 130) ressalta em seu artigo que: ... os portadores de tuberculose pulmonar não têm conhecimento a respeito da doença e não sabem como prevenir a mesma. Eles percebem reações negativas, onde o medo do próprio portador de transmitir a infecção/doença, bem como o medo da parceria sexual em adquirir a infecção/doença, pode causar alterações na sua vida social, afetiva e/ou sexual, resultando na diminuição da freqüência das relações sexuais, afetando assim a sua relação. Nesta mesma linha de argumentação, Gonçalves (1999: 171) reforça que: A concepção de que a tuberculose é ainda uma doença carregada de estigma social avigora as atitudes de resignação dos doentes diante do sofrimento. Mesmo hoje se compreendendo que a tuberculose tem cura, prevalece, no entanto, entre os pacientes, o credo no reaparecimento da tuberculose reforçando a passividade e descrença, além de comportamentos negativos em relação à doença. Quanto ao papel dos profissionais de saúde, os artigos do G1 focaram na figura do médico e das instituições estatais em seus depoimentos, tais como: os profissionais médicos da época tratavam a doença como um fenômeno patológico, identificável por um conjunto de sintomas, onde muita das vezes não havia cura e muitos morriam. Por outro lado, os especialistas médicos tentavam a correção dos espíritos e a cura dos corpos; a medicina tinha dificuldades para a realização do tratamento que era possível, mas dependiam das condições de cada paciente, além da existência de uma concepção espiritualizada da doença; e haviam estratégias das instituições elaboradas pelo Estado e pelas entidades civis para o controle da doença. Neste sentido, de acordo com Pôrto e Nascimento (1995: 102): Antigamente, a categoria doença era vinculada ao campo da história da medicina e da epidemiologia histórica. Os relatos ocorriam por meio da elaboração de teorias, teses e doutrinas que se restringiam a descrever as enfermidades analisadas. Já a epidemiologia histórica tratava as doenças como entidades naturais, que podiam se espalhar entre as pessoas e trazer 62 assim conseqüências nefastas à população. Assim, através disso, o corpo era tratado meramente como objeto de estudo, e apenas era contabilizado epidemiológica e demograficamente. Bertolli Filho (1999: 518) enfoca em seu artigo que “havia uma desvinculação com a história particular de vida da pessoa e perdia-se a oportunidade de tentar entender a complexidade das ligações deste indivíduo com a sociedade, a cultura e o ambiente no qual ele estava inserido”. Já os artigos do G2 mostraram o papel dos profissionais de saúde, focalizando em geral os serviços de saúde e a equipe de profissionais de saúde como um todo, como: há a deterioração dos serviços de saúde, comunicação com ruídos por parte dos profissionais de saúde, sendo necessário esses profissionais como o enfermeiro oferecer assistência sistematizada; nos serviços de saúde o tratamento é difícil devido as sensações desagradáveis que os medicamentos trazem; os profissionais do PSF são importantes, mas há dificuldades dos serviços de saúde, que abandona e negligencia o doente, o agente comunitário de saúde (ACS) é primordial, pois ele representa o elo entre a comunidade e a equipe de saúde da família; alguns profissionais são grosseiros, outros educados, não tinham interação com o paciente; o profissional é bem aceito no tratamento supervisionado, é um elemento facilitador, porém também é visto como um elemento fiscalizador; e o médico aborda somente o processo biológico e corporal minimizando o ser social. Ao falar sobre a precariedade dos serviços de saúde como fator propiciador do abandono do tratamento, Sá (2007: 112) afirma que: O abandono do tratamento da tuberculose também está relacionado ao trabalho desenvolvido pelos profissionais de Saúde da Família. É importante ressaltar que, algumas vezes, o serviço de saúde abandona o doente, negligencia o acompanhamento dos casos, fragilizando as relações imprescindíveis ao êxito do tratamento e, em conseqüência, o doente deixa de tomar a medicação. A quebra de um vínculo compromete o sucesso do tratamento, principalmente quando se trata do agente comunitário de saúde, pois este profissional que representa o elo entre a comunidade e a equipe de Saúde da Família, vem sendo reconhecido como um dos mais envolvidos nas ações do controle da tuberculose na atenção básica à saúde. O papel dos serviços de saúde atualmente é desempenhado no controle da tuberculose. Considerado como uma das questões polêmicas e importantes, o campo institucional tem sido responsabilizado pelo insucesso do tratamento. Snider 1982 enfatizou a importância do 63 acompanhamento decisivo e motivador para o paciente e para a família na aderência ao tratamento, criando um elo de respeito e confiança. Neste sentido, Vendramini, (2001: 97) expõem que “a relação de afeto e respeito entre os profissionais de saúde e pacientes estimula o seguimento do tratamento, diminuindo os casos de abandono e aumentando as possibilidades de cura.” Quanto à conclusão principal dos autores, os artigos do G1 trazem: os documentos mostram a tuberculose como “coisa viva” em que os médicos viam em seus pacientes uma vontade de luta pela vida e aceitação de si; os tuberculosos expõem nas obras produzidas uma rede de significados, com percepções e estratégias de vida da comunidade dos excluídos (forte representação social e estigma aos tísicos); em comparação a tuberculose e a AIDS tem elementos de aproximação nos conhecimentos científicos e popular como a estigmatização e a exclusão social e de distanciamento nas estratégias institucionais, pois diferentemente da tuberculose, a AIDS atingiu as classes mais altas, fazendo com que o Estado interviesse com mais prioridade; e a tuberculose é uma doença que tem cura não havendo razões para ser estigmatizada, é temida por ser expressão de algo que é socialmente digno de censura, estágio último da miséria humana, persistindo no imaginário social a sua estigmatização. Assim, de acordo com os autores dos artigos deste primeiro grupo analítico a tuberculose inspirava temores, sendo até comparada com a AIDS pela repercussão em que tais doenças traziam. Durante o século passado a tuberculose também era interpretada nas expressões literárias, muitas delas preservadas pelo sigilo familiar, pois apesar de ser um mal romântico e social, era digno de recriminação e preconceito social., fato destacado por Pôrto (2007: 108): A descontinuidade da vida saudável com a vinda desta doença mostra-se particularmente dramática para aqueles por ela acometidos devido às suas particularidades. Os doentes experimentam não apenas a sensação de apartamento da vida social, mas, talvez muito mais tragicamente, a de divergência entre seus corpos biológicos e seus estados de espírito. Já os artigos do G2 têm como conclusão principal que: há diferenças entre doentes e médicos no processo de adoecimento e cura, onde os pacientes enfrentam a doença com preocupações ligadas à vida social e os médicos encaram como fator corporal e biológico; o vínculo, o acolhimento e a educação em saúde são essenciais para a continuidade do tratamento e do autocuidado, é preciso deslocar o eixo central do médico para uma equipe multiprofissional com parâmetros humanitários; as representações da tuberculose como o 64 sofrimento, apontam necessidade de uma criação de rede de suporte às pessoas com tuberculose e trabalhar preconceitos, medos e respeito. Desta maneira, Lima et al, (2001: 884) revela a importância do vínculo entre profissionais e pacientes: É importante que estes profissionais permitam que os pacientes expressem suas concepções e sentimentos negativos em relação à doença favorecendo a superação do preconceito com novos modos de enfrentamento de sua condição. Também foram explicitados fatores múltiplos que influenciam direta e indiretamente para o abandono de tratamento, tais como: o campo institucional e a relação de afeto e respeito entre profissionais de saúde e pacientes, pois a tuberculose é uma doença econômica, social e cultural, com enfraquecimento da auto-estima e disfunções biológicas; as experiências vivenciadas estão ligadas ao convívio com familiares e os parceiros, surgindo sentimentos negativos devido ao preconceito da doença, e a falta de conhecimento a respeito da relação da doença com a vida sexual; e por fim foram percebidas fortalezas como: medicação gratuita, cesta básica, vale transporte e visita familiar (vínculo entre os doentes e familiares), e também foram percebidas debilidades como: fiscalização da tomada da medicação, isolamento social e preconceito. Assim, Souza (2010: 121) reforça a necessidade da inclusão familiar como um ponto positivo ao tratamento e reabilitação do doente: É necessária a inclusão da família e de outras pessoas próximas, de modo a favorecer que tenham maior compreensão das formas de transmissão, permitindo que essas pessoas possam manter suas relações pessoais e íntimas de forma mais confiante. Além disso, há também a necessidade de maior divulgação sobre o que é a tuberculose, de como é transmitida, bem como de suas manifestações iniciais, promovendo tanto sua prevenção como o diagnóstico mais precoce, contribuindo para uma nova representação acerca desta doença. Desta maneira, os autores deste segundo grupo analítico acreditam de uma forma geral que os profissionais de saúde como um todo devem entender que esta doença se agrega ao cotidiano dos pacientes abrangidos e que não é apenas uma enfermidade física, com conjuntura biológica e corporal. 65 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho revelou as percepções dos pacientes em tratamento de tuberculose sobre sua doença e suas repercussões psicossociais, através da revisão de uma parte da literatura com seleções das publicações a respeito deste tema, tendo sido especificadas as categorias de análise usadas pelos autores dos trabalhos analisados, identificando e comparando as diferentes percepções apresentadas. Verificou-se com a análise dos dados a percepção dos doentes em dois momentos distintos: um primeiro momento antes de 1950, quando o tratamento existente era a terapia higieno-dietética e algumas intervenções cirúrgicas; e um segundo momento, ao longo da virada do século XX para o XXI em um contexto de discussões acerca do tratamento em geral e da avaliação do PNCT. As percepções dos pacientes apresentadas pelos autores dos artigos analisados no primeiro momento histórico da tuberculose através de depoimentos, correspondências, obras poéticas literárias da época, foram algumas concepções negativas e positivas, dentre as negativas tem-se a maioria, tais como: medo de morrer; medo da exclusão social; medo do aniquilamento físico e moral associado à transmissibilidade e incurabilidade da tuberculose. Como concepções positivas tinham-se poucas como: a aura de excepcionalidade, na época, um sinal de caráter nobre e romântico. Já as percepções dos pacientes apresentadas pelos autores dos artigos analisados no segundo momento da tuberculose através de entrevistas trazem uma mistura dessas concepções. Como concepções negativas têm-se a representação do corpo; o abandono do tratamento devido à exclusão social; o adoecer era percebido como sofrimento pelo medo do contágio. As concepções positivas, embora poucas foram expressas juntamente com as percepções negativas como a aproximação da família e amigos ao mesmo tempo tendo reações negativas como o medo de transmissão para o parceiro sexual; os pacientes também mostraram reações positivas ao serem receptivos às visitas domiciliares do PSF, ao mesmo tempo em que tinham reações negativas encarando a doença como péssima e debilitante para o corpo, muito visível e carregada de estigma pela sociedade, o que influenciou no comportamento destes pacientes interferindo na continuidade do tratamento. 66 A atuação dos profissionais de saúde no primeiro momento analisado focou-se na figura do médico e das instituições estatais, onde os médicos tratavam a doença como um fenômeno patológico, identificável por um conjunto de sintomas, tentavam a correção dos espíritos e a cura dos corpos; a medicina tinha dificuldades para a realização do tratamento que era possível, mas com algumas debilidades; haviam estratégias das instituições elaboradas pelo Estado e pelas entidades civis para o controle da doença. Já na análise do segundo momento focalizou em geral nos serviços de saúde e na equipe de profissionais como um todo incluindo o PNCT, com pontos negativos e positivos. Como pontos negativos têm-se a deterioração dos serviços de saúde, a comunicação com ruídos por parte dos profissionais de saúde, o abandono e a negligência ao doente pelos serviços de saúde. Como pontos positivos têm-se que alguns profissionais são educados com os pacientes escutando e acolhendo; o profissional do PSF é bem aceito no tratamento supervisionado visto como um elemento facilitador, mas ao mesmo tempo fiscalizador. Deste modo, considerando as novas feições que a tuberculose vem assumindo não apenas nos meios científicos, mas no imaginário social, ainda é cedo para saber quais caracteres da doença serão lembrados quando no futuro se quiser revisitar o momento presente. Evitar a reprodução de estigmas e a elaboração de novas metáforas para a doença seria um avanço para a representação da tuberculose. Superestimar o impacto da tecnologia é injusto para muitas pessoas que anteriormente não puderam ter atendidas suas expectativas quanto a tratamentos e prevenção que hoje em dia é muito mais apropriado. E mesmo assim, após o controle epidemiológico da doença, a tuberculose continua a inspirar os temores do passado, mesmo sendo hoje compartilhados por doenças de grande repercussão como a AIDS. Ao lado das tradicionais abordagens de intervenção institucional, como o próprio PNCT, pode-se refletir sobre a contemplação de uma dimensão integradora, na direção da concepção do modelo de promoção à saúde. A diversidade e complexidade dos fatores relacionados ao tratamento da tuberculose, como a obtenção do sucesso terapêutico vai além da eficácia farmacológica, existindo dificuldades relacionadas ao paciente, ao tratamento empregado e à operacionalização do cuidado nos serviços de saúde. As estratégias de controle da tuberculose e formas de prevenir o abandono terapêutico são diversificadas. Cabe aos profissionais da atenção básica à saúde desenvolver o cuidado centrado no trabalho em equipe e com base nas necessidades da pessoa e das famílias assistidas, estando fundamentado no resgate da humanização do cuidado. É premente a necessidade dos profissionais de saúde, 67 onde destaca-se o enfermeiro, envidar esforços no sentido de oferecer assistência sistematizada aos portadores de tuberculose. Dessa forma precisa-se de subsídios para que os profissionais de saúde compreendam a experiência dos portadores de tuberculose e possam trabalhar diversos aspectos da vida social, com o intuito de promover uma assistência à saúde integral e de qualidade. A sociedade provoca mudanças no comportamento de um indivíduo, sobretudo quando o mesmo adquire uma doença como a tuberculose. Assim, os portadores desta enfermidade e seus familiares deveriam receber mais atenção no que diz respeito às orientações sobre a sua doença, com recursos de cartazes com histórias em quadrinhos; com uma linguagem mais popular como explicitado no Anexo A, (mesmo este não utilizando imagens) e menos técnica conforme o cartaz exposto no Anexo B, (pois mesmo fazendo uso de imagens, a linguagem não foi codificada de forma coloquial) a fim de atingir não só os pacientes tuberculosos, mas a sociedade em geral, como os estudantes da rede pública e privada podendo usá-los como irradiadores deste conhecimento para a sua comunidade. Assim, o desenvolvimento deste estudo é relevante, pois para o campo da pesquisa contribui através de ferramentas de análise de literatura por meio de quadros analíticos e de comparação entre os textos selecionados com uma análise indireta dos dados. E para a área da assistência, contribui para que os profissionais de saúde realizem alianças entre a prática científica com práticas educativas em saúde. Uma vez que conhecendo as percepções e os sentimentos sobre a doença que envolvem o paciente, pode-se programar uma assistência específica, resultando na eficácia das ações do profissional e do tratamento. Desta forma, espera-se que este trabalho servirá como um instrumento importante para os gestores repensarem as atuais estratégias de implementação das políticas públicas de controle e tratamento da tuberculose no Brasil. 68 FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fontes Oficiais: BRASIL. Lei n° 6.151, de 04 de dezembro de 1974. Dispõe sobre o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), para o período de 1975 a 1979. 1974. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/lei_fed_6151-74.pdf. Acesso em: 11 de fev. de 2011. _______. Ministério da Saúde. DATASUS. Indicadores e dados básicos. 2008. 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