A problemática da acção humana: análise e compreensão do fenómeno do agir. A unidade anterior centrou-se numa reflexão acerca do horizonte da filosofia e da caracterização da sua especificidade. Procurámos, pois, reflectir sobre o horizonte da pergunta “ O que é a filosofia?”. Esta questão levou-nos a afirmar que a filosofia é uma actividade do espírito humano que procura, por um trabalho de reflexão, de crítica e de problematização, reflectir acerca da totalidade da experiência humana. Contudo, se acentuarmos a dimensão antropológica da filosofia, constatamos que ela diz respeito a tudo o que se relaciona com o homem e com a sua existência no mundo. Neste sentido, “ Quem é o Homem?”, em que aspectos se distingue dos animais? O homem é diferente dos outros animais porque, enquanto sujeito de conhecimento, de acção, de vontade, de consciência valorativa, torna-se um ser que, naturalmente, possui uma existência diferente da dos outros animais. Se o homem não existe como os outros animais, então, há que questionar o modo de existir ou de agir próprio do homem. HOMEM ANIMAL Não se trata de pensar o homem como um ser, entre outros seres, da escala zoológica, mas sim de pensar a dimensão do humano como aquilo que, justamente, determina a singularidade do homem em relação aos outros seres. Trata-se de reflectir o que podemos designar como o núcleo do humano. O que singulariza o existir humano? Quem é o homem? Como se caracteriza o agir do homem? A problemática desta unidade “ Acção humana” insere-se aqui: A problemática da acção humana refere-se à singularidade do existir humano – e esta singularidade é definida pela ideia de liberdade. A liberdade é constitutiva da natureza humana. O homem é o único ser capaz de agir livremente. O homem é livre e é o uso (moral e racional) desta liberdade e, portanto, das possibilidades de ser, que nos permite compreender o homem como o único ser capaz de agir por determinação da sua consciência, da sua vontade, das suas escolhas, das suas decisões, dos seus motivos, dos seus projectos. O homem é possibilidade de realização de si mesmo e para si mesmo. Os animais não escolhem, não decidem, não têm conhecimento do bem e do mal, do justo, do injusto, não se definem entre as possibilidades de ser e de dever ser. Então, se assim é, o agir humano é marcado pela experiência da liberdade, isto é, pelo poder de escolher, de decidir, de agir. A experiência humana da liberdade faz com que o homem possa ser definido como um agente moral e racional, ou seja, a acção do homem é decidida pela sua vontade livre e pela sua consciência valorativa. A vontade, a consciência, a acção e a liberdade definem o horizonte ético do agir humano. O horizonte dos valores é o horizonte configurador do agir humano. O núcleo do agir humano remete para o núcleo da ética. A esfera dos valores e da consciência moral é, então, o núcleo ou o horizonte que especifica a acção humana. Ética provém de “êthos” traduzida como habitação ou morada originária, o que, de modo simples, poderá exprimir o modo humano de morar, isto é, de existir = habitar = ser = agir “…Existir é morar em sentido originário, é estar no seu próprio espaço como o animal no campo, as estrelas no céu ou o homem no mundo. Esta morada ou habitação que o cerca caracteriza de modo especial o ser vivo na sua realidade…o que se traduz por moralidade envolve, portanto, o conjunto das relações que o homem estabelece enquanto pessoa com o mundo natural da vida e com a realidade social, onde é requerida a realização plena da sua existência…” M. Batista Pereira, Sobre a condição humana da ciência Pressupostos contextualizadores do tema da “ Acção humana”: O homem é definido como agente, isto é, como um ser que se define pela acção A acção refere-se ao agir próprio do homem, isto é, ao agir que compromete e define o homem como um ser capaz de fazer um uso moral e racional da sua liberdade O homem não está pré-determinado O homem é um ser livre de se fazer a si mesmo O homem é tarefa para si mesmo O homem é um ser de possibilidades A experiência da liberdade é inseparável da experiência humana A existência humana é marcada pela liberdade e finitude Como ser livre o homem é construtor de si mesmo Como ser finito o homem é o único ser que tem consciência da morte Liberdade, finitude configuram o horizonte da experiência humana O mal, a destruição e o sofrimento são possibilidades da existência histórica do homem À ideia de liberdade, como condição inalienável da experiência histórica do homem, subjazem as possibilidades finitas e humanas de realização do bem ou do mal