‘ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Centro de Ciências da Saúde Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medicamentos Mara Rúbia Winter de Vargas DISPERSÕES SÓLIDAS DE SINVASTATINA: PREPARAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO, NO ESTADO SÓLIDO UTILIZANDO TÉCNICAS EMERGENTES E ESTUDO DE ESTABILIDADE. Natal 2014 Mara Rúbia Winter de Vargas DISPERSÕES SÓLIDAS DE SINVASTATINA: PREPARAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO, NO ESTADO SÓLIDO UTILIZANDO TÉCNICAS EMERGENTES E ESTUDO DE ESTABILIDADE. Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos. Orientador: Túlio Flávio Accioly de Lima e Moura Natal 2014 Mara Rúbia Winter de Vargas DISPERSÕES SÓLIDAS DE SINVASTATINA: preparação, caracterização, no estado sólido utilizando técnicas emergentes e estudo de estabilidade. Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos. _________________________________________ Túlio Flávio A. de Lima e Moura (orientador) - UFRN _____________________________________ Andressa de Araújo Porto Vieira - IFPE _________________________________ Euzébio Guimarães Barbosa - UFRN __________________________ Irinaldo Diniz Basílio Júnior - UFAL ________________________________ Waldenice de Alencar Moraes – UFRN Natal, 29 de maio de 2014. Aos meus pais (in memorian), pelo amor e pela referência de valores. Ao Severino, esposo, amigo e colega, pelo incentivo, ajuda e paciência durante essa caminhada. Aos meus filhos Taína e Órion, luzes do meu viver, pela compreensão e vitórias compartilhadas. AGRADECIMENTOS A todos os que possibilitaram a realização desse trabalho, seja com palavras de apoio, sugestões ou ajuda técnica, em especial: Ao Prof. Dr. Túlio Moura pela orientação, confiança em minha capacidade e oportunidade de realização desse sonho. À Prof.ª Drª Fernanda Raffin pela confiança e sugestões. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro sem o qual não seria possível a realização desse trabalho. À Indústria BASF pela doação do excipiente Soluplus. Ao Prof. Dr. Cícero Flávio Soares Aragão, à doutoranda Lílian Solon e à técnica e mestre Tereza pelos conselhos, sugestões, apoio, amizade e por deixarem sempre abertas as portas do Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos (LCQMED) - UFRN. À Prof.ª Silvana Zucolotto Langassner (UFRN) pelos ensinamentos, amizade e apoio no Estágio de Docência. À Drª Márcia Cristina Breitkreitz, do Laboratório de Quimiometria em Química Analítica, Instituto de Química (UNICAMP), por ter dado um novo enfoque a esse trabalho através das análises com espectroscopia de imagem, pelas análises por MEV, pela parceria, seriedade profissional, ensinamentos, paciência e por me mostrar que ainda é possível a amizade verdadeira e praticamente virtual nesses tempos modernos. À Profª Drª Beate Saegesser Santos, do Departamento de Ciências Farmacêuticas (UFPE), pela amizade e sugestões na discussão desse trabalho. Ao Prof. Dr. Sandro Torres do Departamento de Engenharia de Materiais (UFPB), pelas análises de difratometria de raios x utilizando o software Topas e pela paciência nos ensinamentos das bases teóricas que contribuíram de forma inovadora nessa tese. Ao técnico Wellington (UFPB) pela realização dos espectros de Infravermelho. Aos colegas do Laboratório de Desenvolvimento de Medicamentos (LDM) (UFRN), à doutoranda Fátima Duarte e ao prof. Dr. Marco Navarro pelo compartilhar de conhecimentos e amizade. À doutoranda Daiane dos Santos (Laboratório de Farmacotécnica) “irmã” da mesma terra, pela amizade, apoio técnico e pousada. Aos colegas do Laboratório de Sistemas Dispersos (LASID) (UFRN), em especial à Scheila Daniela, Everton Alencar e Walteçá Silveira pela ajuda na utilização dos equipamentos; e ao Christian Assunção e Sarah Rafaelly pela ajuda e amizade. À Mariza Fernanda, grande amiga da adolescência, que reencontrei no decorrer desses anos de doutorado, pelas palavras de incentivo e por me mostrar que amizades verdadeiras existem e que nem o tempo, nem a distância abalam. À amiga Iara Sales que assistiu e apoiou com palavras de motivação a toda essa jornada, “recheada” de angústias, tristezas, mas também de grandes vitórias. Aos amigos Maria José (Zezé) e Sr. Geraldo que ajudaram com suas orações durante esses anos de estudo e ausências. A todos que não se encontram aqui citados (e são muitos) minha gratidão, pois falta espaço nessas linhas, mas não no coração. Finalmente agradeço a Deus pelo dom da vida e à espiritualidade maior que me amparou e orientou meus passos nas vezes em que vacilei ao longo dessa jornada. Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor (Johann Wolfgang Von Goethe, Fausto, 1806). RESUMO Esta tese teve como objetivo avaliar o aumento de solubilidade da sinvastatina (SINV) através de dispersões sólidas utilizando as técnicas de malaxagem (MA), evaporação com co- solvente (ES), fusão com carreador (FC) e secagem por “spray dryer” (SD). Foram utilizados os carreadores Soluplus (SOL), PEG 6000 (PEG), PVP K-30 (PVP) e lauril sulfato de sódio (LSS). As dispersões sólidas contendo PEG [PEG-2(SD)], Soluplus [SOL-2(MA)] apresentaram maior aumento de e lauril solubilidade sulfato de sódio (5,02; 5,60 e [LSS-2(ES)] 5,43 vezes, respectivamente); a análise por ANOVA entre os três grupos não demonstrou diferença significativa (p<0,05). No estudo de solubilidade de fases, o cálculo da energia livre de Gibbs (ΔG) revelou que a espontaneidade de solubilização da SINV ocorreu na ordem SOL>PEG >PVP 75%>LSS, sempre a 80%. Os diagramas de fases de PEG e LSS apresentaram estequiometria de solubilização 1:1 (tipo AL). Os diagramas de PVP e SOL possuem uma tendência a estequiometria 1:2 (tipo AL + AP). Os valores de coeficiente de estabilidade (Ks) dos diagramas de fases revelaram que as reações mais estáveis ocorreram com LSS e PVP. As dispersões sólidas foram caracterizadas através de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), calorimetria exploratória diferencial (DSC), microscopia eletrônica de varredura (MEV), distribuição de tamanho de partícula (DTP), espectroscopia de imagem no infravermelho próximo (NIR-CI) e difratometria de raios X do Pó utilizando o software Topas (PDRX-TOPAS). A dispersão sólida PEG-2(SD) apresentou a maior homogeneidade e o menor grau de cristalinidade (18,2%). O estudo de estabilidade revelou que as dispersões sólidas são menos estáveis que SINV, sendo PEG-2(SD) a de menor estabilidade, confirmada por FTIR e DSC. As análises por PDRX-TOPAS revelaram a cristalinidade das dispersões e o mecanismo de aumento de solubilidade. Palavras-chave: Sinvastatina. Dispersões sólidas. Solubilidade. Espectroscopia de imagem. Quimiometria. Refinamento Rietveld. ABSTRACT This thesis aimed to assess the increase in solubility of simvastatin (SINV) with solid dispersions using techniques such as kneading (MA), co-solvent evaporation (ES), melting carrier (FC) and spray dryer (SD). Soluplus (SOL), PEG 6000 (PEG), PVP K30 (PVP) e sodium lauryl sulphate (LSS) were used as carriers. The solid dispersions containing PEG [PEG-2(SD)], Soluplus [SOL-2(MA)] and sodium lauryl sulphate [LSS-2(ES)] were presented with a greater increase in solubility (5.02, 5.60 and 5.43 times respectively); analyses by ANOVA between the three groups did not present significant difference (p<0.05). In the phase solubility study, the calculation of the Gibbs free energy (ΔG) revealed that the spontaneity of solubilisation of SINV occurred in the order SOL>PEG >PVP 75%>LSS, always 80%. The phase diagrams of PEG and LSS presented solubilization stoichiometry of type 1:1 (type AL). The diagrams with PVP and SOL tend to 1:2 stoichiometry (type AL + AP). The stability coefficients (Ks) of the phase diagrams revealed that the most stable reactions occurred with LSS and PVP. The solid dispersions were characterized by Fourier transform infrared (FTIR), differential scanning calorimetry (DSC), scanning electron microscopy (SEM), particle size distribution (PSD), near-infrared spectroscopy imaging (NIR-CI) and X-ray diffraction of the powder using the Topas software (PDRX-TOPAS). The solid dispersion PEG-2(SD) presented the greatest homogeneity and the lowest degree of crystallinity (18.2%). The accelerated stability study revealed that the solid dispersions are less stable than SINV, with PEG-2(SD) being the least stable, confirmed by FTIR and DSC. The analyses by PDRX-TOPAS revealed the amorphous character of the dispersions and the mechanism of increasing solubility. Keywords: Simvastatin. Solid Chemometric. Rietveld refinement. dispersions. Solubility. Imaging spectroscopy. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Visão geral da tese......................................................................... 20 Figura 2 – Conversão da pró-lactona inativa SINV a sua forma ativa βhidroxiácido.................................................................................. 23 Figura 3 – Estruturas químicas das estatinas naturais e sinvastatina............ 24 Figura 4 – Estatinas Sintéticas........................................................................ 25 Figura 5 – Formação de Pontes de Hidrogênio Intermoleculares na SINV..... 27 Figura 6 - Gráfico de barras da distribuição percentual das diversas técnicas utilizadas para melhoria da solubilidade da SINV ........... 30 Figura 7 – Fórmula Estrutural de Soluplus...................................................... 35 Figura 8 – Molécula de Soluplus aprisionando o fármaco............................... 36 Figura 9 – Fórmula Estrutural do Lauril Sulfato de Sódio................................ 36 Figura 10 – Fórmula Estrutural da Copovidona............................................... 37 Figura 11 – Fórmula Estrutural do PEG 6000................................................. 38 Figura 12 – Cubo de dados gerado em espectroscopia de imagem (hipercubo espectral).................................................................... 39 Figura 13: Procedimentos para a aquisição do hipercubo espectral............... 41 Figura 14: Esquema geral para a geração de imagens químicas utilizando métodos quimiométricos............................................................... 42 Figura 15 - Arranjo Geométrico de Bragg-Brentano.................................... 46 Figura 16 – Esquema de decisão do melhor refinamento............................... 47 Figura 17 – Diagrama de solubilidade de fases de SINV na presença de concentrações crescentes de carreadores (n=3) 62 Figura 18 – Avaliação das interações físico-químicas em PEG-2(SD) 69 Figura 19 – Avaliação das interações físico-químicas em LSS-2(ES) 71 Figura 20 – Avaliação das interações físico-químicas em SOL-2(MA) 73 Figura 21 – Espectros infravermelho de SINV, PEG, PEG-2(MA), PEG2(ES) e PEG-2(SD)...................................................................... 76 Figura 22 – Padrões de difração de SINV, PEG-2(SD), PEG-2(MA) e PEG-2(ES)................................................................................... 77 Figura 23 – Curvas DSC de SINV, SOL-2(MF), SOL e SOL-2(MA)................ 78 Figura 24– Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL1(MA)............................................................................................ 80 Figura 25 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL1(MF)............................................................................................ 81 Figura 26 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL2(MA)............................................................................................ 82 Figura 27 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL2(MF)............................................................................................ 83 Figura 28 – Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS1(ES)............................................................................................ 84 Figura 29 – Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS1(MF)............................................................................................ 85 Figura 30 – Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS2(ES)............................................................................................ 86 Figura 31 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS2(MF)............................................................................................ 87 Figura 32 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG1(SD)............................................................................................ 88 Figura 33 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG 1(MF).......................................................................................... 89 Figura 34 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG2(SD)............................................................................................ 90 Figura 35 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG2(MF)............................................................................................ 91 Figura 36 - Gradiente de homogeneidade das dispersões sólidas por NIRCI............................................................................................ 91 Figura 37 - Fotomicrografias de SINV e dispersões sólidas obtidas por MEV.............................................................................................. 93 Figura 38 - Histograma com Distribuição do Tamanho de Partícula de SINV (A), PEG-2(SD)(B), LSS-2(ES)(C) e SOL-2(MA)(D).................... 95 Figura 39 – Teor de SINV e dispersões sólidas durante o estudo de estabilidade..................................................................................... 100 Figura 40 – Análise por PDRX-TOPAS de SINV 180 dias.............................. 102 Figura 41 - Análise por PDRX-TOPAS de PEG-2(SD) 180 dias..................... 102 Figura 42 – Análise por PDRX TOPAS de SOL-2(MA) 180 dias.................... 103 Figura 43 - Curvas DSC de SINV durante Estudo de Estabilidade................. 105 Figura 44 - Curvas DSC de PEG-2(SD) durante Estudo de Estabilidade............................................................................... 105 Figura 45 – Curvas DSC de SOL-2(MA) durante Estudo de Estabilidade............................................................................. 106 LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1 Métodos utilizados para aumentar a solubilidade aquosa de fármacos..................................................................................... Quadro 2 Relação de medicamentos no mercado utilizando a tecnologia de dispersões sólidas................................................................... Quadro 3 32 34 Síntese dos Resultados da Caracterização das Dispersões Sólidas Selecionadas................................................................... 99 Tabela 1 Resultados do ensaio de solubilidade de dispersões sólidas...... 60 Tabela 2 Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo PEG.............................................................................................. 61 Tabela 3 Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo PVP 62 Tabela 4 Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo LSS 62 Tabela 5 Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo SOL 62 Tabela 6 Dados DSC de SINV, PEG-2(SD), PEG-2(MF) e PEG................ 69 Tabela 8 Dados DSC de SINV e SOL-2(MF)............................................... 74 Tabela 9 Dados DSC de SINV, PEG, dispersões sólidas e mistura física com PEG ...................................................................................... 78 Tabela 10 Dados do cálculo do grau de cristalinidade por PDRX TOPAS em 180 dias do estudo de estabilidade........................................ 105 Tabela 11 Dados obtidos a partir das curvas DSC para SINV....................... 107 Tabela 12 Dados obtidos a partir das curvas DSC para PEG-2 (SD)............ 108 LISTA DE SIGLAS AER Aerosil 200 CMC Carboximetilcelulose CD Ciclodextrinas CLS Regressão em Mínimos Quadrados Clássicos (“Classical Least Squares”) CIVIV Correlação In Vivo-In Vitro DRX Difratometria de raios x DSC Calorimetria Diferencial Exploratória DTA Análise Térmica Diferencial DTP Distribuição do Tamanho de Partícula ES Técnica de produção de dispersões sólidas por secagem em evaporador rotatório FC Técnica de produção de dispersões sólidas por fusão com carreador FDA Food and Drug Administration (órgão de fiscalização de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) FTIR Infravermelho por Transformada de Fourier FP Função Parâmetro Fundamental FPA arranjo de plano focal (“Focal Plane Array”) HMG-CoA 3-hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A redutase redutase HPMC hidroxipropilmetilcelulose IUPAC União Internacional de Química Pura e Aplicada LSS lauril sulfato de sódio LSS-1(ES) dispersão sólida SINV:LSS (1:0,25) preparada por secagem no evaporador rotatório. LSS-2(ES) dispersão sólida SINV:LSS (1:1) preparada por secagem no evaporador rotatório. MA Técnica de produção de dispersões sólidas por malaxagem MCR resolução multivariada de curvas (“Multivariate Curve Resolution”) MEV Microscopia Eletrônica de Varredura MET Microscopia Eletrônica de Transmissão MF misturas físicas MSC correção de espalhamento multiplicativo (Multiplicative Scattering Correction) NIR Infravermelho Próximo NIR-CI Espectroscopia de imagem no infravermelho próximo utilizando técnica quimiométrica de calibração multivariada PA pró-análise (grau analítico) PAMAN poli amidoamina PCA Análise de Componentes Principais (“Principal Component Analysis”) PDRX Padrão de difração de raios x do pó PDRX - análise de dados obtidos por difratometria de raios x do pó através TOPAS do software Topas para obtenção do grau de cristalinidade PEG PEG 6000 (polietilenoglicol) PEGs polietilenoglicóis PEG-1(SD) dispersão sólida SINV:PEG:AER(1:0,25:1) preparada por técnica de secagem por “spray dryer”) PEG-2(SD) dispersão sólida SINV:PEG:AER(1:1:1) preparada por técnica de secagem por “spray dryer”) PLS Regressão em Mínimos Quadrados Parciais (“Partial Least Squares”) PVP polivinilpirrolidona (PVP K-30) RENAME Relação Nacional de Medicamentos SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia SCB Sistema de Classificação Biofarmacêutica SD Técnica de produção de dispersões sólidas por secagem por “spray dryer” SINV Sinvastatina SOL Soluplus SOL-1(MA) dispersão sólida SINV: SOL (1:0,25) preparada por técnica de malaxagem. SOL-2(MA) dispersão sólida SINV: malaxagem. URA umidade relativa do ar SOL(1:1) preparada por técnica de SUMÁRIO PARTE 1 1.1 1.2 1.2.1 1.2.2 1.3 1.3.1 1.3.2 1.3.3 1.3.4 1.3.4.1 1.3.4.2 1.3.4.2.1 1.3.4.2.1.1 1.3.4.2.1.2 1.3.4.2.1.3 1.3.4.2.1.4 1.3.5 1.3.5.1 1.3.5.1.1 1.3.5.1.2 1.3.5.1.3 1.3.5.2 INTRODUÇÃO................................................................................ Justificativa.................................................................................... Objetivos........................................................................................ Objetivo Geral................................................................................ Objetivos Específicos................................................................... Referencial Teórico....................................................................... As estatinas e sua utilização na hiperlipidemia ........................ A sinvastatina e suas características físico químicas.............. A questão do aumento de solubilidade dos fármacos – estratégias utilizadas e as dispersões sólidas........................... Estratégias utilizadas para o aumento da solubilidade da SINV................................................................................................ Utilização de dispersões sólidas como estratégia de aumento de solubilidade de fármacos........................................ Dispersões sólidas comercializadas como medicamentos...... Carreadores utilizados – características e aplicação...................... Soluplus(SOL)................................................................................. Lauril sulfato de sódio (LSS)........................................................... Polivinil pirrolidona (PVP)................................................................ Polietilenoglicol (PEG)..................................................................... Caracterização físico-química no desenvolvimento de medicamentos – principais técnicas utilizadas........................ A utilização de Espectroscopia de Imagem no Infravermelho Próximo (NIR-CI) com Calibração Multivariada como técnica analítica de caracterização .......................................................... Obtenção das imagens multiespectrais........................................... Análise dos dados por quimiometria............................................... Regressão em Mínimos Quadrados Clássicos (“Classical Least Squares” CLS) Utilização do software Topas no tratamento de dados 19 20 20 20 20 21 21 26 27 29 31 33 34 34 36 37 37 38 38 39 42 43 obtidos por Difratometria de Raios X do Pó (PDRX- PARTE 2 2.1 2.1.1 2.1.1.1 2.1.1.2 2.1.2 2.1.2.1 2.1.2.1.1 2.1.2.1.2 2.1.3 2.1.3.1 2.1.3.2 TOPAS)........................................................................................... 44 PREPARAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS DE SINVASTATINA.............................................................................. Procedimento Experimental......................................................... Preparo das Dispersões Sólidas.................................................. Materiais......................................................................................... Métodos.......................................................................................... Teor de Fármaco nas Dispersões Sólidas ................................. Método............................................................................................ Varredura no Espectrofotômetro..................................................... Preparação das Amostras para Doseamento................................. Ensaio de Solubilidade................................................................. Materiais......................................................................................... Método............................................................................................ 53 53 53 53 55 55 56 56 56 56 56 57 2.1.4 2.1.4.1 2.1.4.2 2.2 Estudo de Solubilidade de Fases................................................ Materiais......................................................................................... Metodologia................................................................................... Resultados e discussão................................................................ PARTE 3 CARACTERIZAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS SELECIONADAS............................................................................ Procedimento Experimental......................................................... Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR)................. Difratometria de Raios X do Pó utilizando o software Topas (PDRX-TOPAS)............................................................................... Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)............................... Espectroscopia de Imagem no Infravermelho Próximo (NIRCI).................................................................................................... Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)............................... Análise e Distribuição do Tamanho de Partícula (DTP)............. Comparação das dispersões sólidas produzidas com PEG.. Resultados e Discussão .............................................................. Interações Físico-Químicas.......................................................... Comparação de PEG-2(ES), PEG-2(MA) e PEG-2(SD)................ Espectroscopia de Imagem de Infravermelho Próximo (NIRCI).................................................................................................... Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)............................... Distribuição do Tamanho de Partículas (DTP)........................... Síntese da caracterização das dispersões sólidas selecionadas.................................................................................. 3.1 3.1.1 3.1.2 3.1.3 3.1.4 3.1.5 3.1.6 3.1.7 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 3.2.6 PARTE 4 57 57 58 59 65 66 66 66 66 67 68 68 68 68 68 75 79 95 97 98 4.1 4.1.1. 4.1.2 4.2 ESTUDO DA ESTABILIDADE DA SINVASTATINA E DISPERSÕES SÓLIDAS SELECIONADAS.................................. Procedimento Experimental ........................................................ Materiais......................................................................................... Métodos.......................................................................................... Resultados e Discussão............................................................... 101 101 101 101 101 PARTE 5 CONCLUSÃO................................................................................. 111 REFERÊNCIAS............................................................................... 112 PERSPECTIVAS PARA PESQUISAS FUTURAS......................... 123 PRODUÇÃO RESULTANTE DO PROJETO DE TESE................. 126 Parte 1 INTRODUÇÃO 19 PARTE 1 INTRODUÇÃO Essa tese está dividida de forma geral em três partes, sendo a primeira a Preparação das Dispersões Sólidas de Sinvastatina com as técnicas de malaxagem (MA), evaporação com co-solvente (ES), fusão com carreador (FC) e secagem por “spray dryer” (SD) e os carreadores Soluplus (SOL), PEG 6000 (PEG), PVP K-30 (PVP) e lauril sulfato de sódio (LSS). Foi ainda feito o estudo de solubilidade de fases de fármacos e excipientes para verificar a cinética de solubilização e o ensaio de solubilidade para selecionar de forma racional as dispersões sólidas. Na segunda parte foi feita a Caracterização das Dispersões Sólidas selecionadas no ensaio de solubilidade. Foram utilizadas técnicas usuais como Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR), Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Distribuição de Tamanho de Partícula (DTP), e duas técnicas analíticas emergentes: a espectroscopia de imagem no infravermelho próximo utilizando técnica quimiométrica de calibração multivariada (NIR-CI) e a quantificação da cristalinidade através do software Topas na análise de dados obtidos por difratometria de raios x do pó (PDRX-TOPAS). Na terceira parte foi feito um Estudo de Estabilidade (seis meses) em câmara climatizada com as dispersões sólidas selecionadas. Em cada etapa do estudo foi feito a análise de teor, análise térmica e análise da cristalinidade das amostras. 20 Resumidamente a tese está organizada conforme a Figura 1. Figura 1 – Visão geral da tese 1.1 Justificativa A motivação dessa tese foi a de preencher lacunas no estudo das dispersões sólidas de sinvastatina através da compreensão das interações físico-químicas e do estudo da estabilidade, de forma a propor teorias que expliquem o aumento da solubilidade do fármaco. 1.2 Objetivos 1.2.1Objetivo Geral Compreender os mecanismos físico-químicos envolvidos no aumento da solubilidade da sinvastatina e suas implicações na estabilidade da mesma. 1.2.2 Objetivos Específicos I. Preparar dispersões sólidas de sinvastatina com diferentes carreadores e técnicas. II. Avaliar o aumento de solubilidade aquosa da sinvastatina nas dispersões sólidas produzidas. 21 III. Caracterizar as dispersões sólidas selecionadas através de técnicas convencionais, bem como de técnicas emergentes na área farmacêutica. IV. Propor teorias para o aumento de solubilidade das dispersões sólidas selecionadas. V. Avaliar a contribuição das técnicas emergentes na caracterização das dispersões sólidas. VI. Avaliar a estabilidade físico-química das dispersões sólidas 1.3 Referencial Teórico 1.3.1 As estatinas e sua utilização na hiperlipidemia A hiperlipidemia é a taxa aumentada de lipídios no sangue, chamada também de dislipidemia. Associados aos lipídios ou gorduras existem três tipos de substâncias em nosso organismo: o colesterol, os triglicerídios e os fosfolipídios. Do ponto de vista clínico o colesterol é o mais importante por ser responsável pela obstrução das artérias quando em nível elevado (aterosclerose), sendo seguido pelos triglicerídios, responsável por pancreatites e por processos degenerativos dos vasos (KATZUNG, 2006) (SILVA, 2006). A hiperlipidemia é um problema de saúde cada vez mais recorrente no mundo moderno, onde o ritmo de vida intenso, o excesso de responsabilidades, sedentarismo, alimentação inadequada, obesidade e stress são uma constante no ano. Existem também causas genéticas, a chamada hiperlipidemia familiar onde, apesar dos cuidados, o indivíduo apresenta taxas elevadas (RANG et al , 2004). A doença começa de forma silenciosa, porém é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, incluindo aterosclerose, angina e infarto. É de ocorrência comum na clínica médica; segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), nos Estados Unidos mais de um milhão de pessoas morrem por ano de infarto agudo do miocárdio e no Brasil, estima-se que as doenças cardiovasculares matam de 300 a 400 mil pessoas atualmente, sendo a primeira causa de mortalidade no país. Ainda, segundo a SBC, cerca de 40% da população brasileira apresenta taxa elevada de colesterol (JORNAL SBC, 2012). 22 No tratamento da hiperlipidemia, além de alimentação adequada e exercícios, são prescritos medicamentos como estatinas, fibratos, resinas sequestradoras de ácidos biliares, etc. Na classe das estatinas inclui-se a sinvastatina (SINV), foco dessa tese, sendo classificada como “hipolipemiante simples” na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (BRASIL, 2013), sendo seu único representante e distribuído na forma de comprimido nas dosagens de 10, 20 e 40 mg. A RENAME contempla a lista de medicamentos e insumos distribuídos pelo SUS a toda a rede pública no país. A SINV é um fármaco pertencente à classe química das estatinas, sendo prescrita no tratamento da dislipidemia com o objetivo de reduzir os níveis de colesterol e lipídios no sangue. Após a ingestão oral, SINV, que é uma lactona inativa (Figura 1), é hidrolisada no trato gastrointestinal ao seu correspondente ß-hidroxiácido. Essa hidrólise ocorre em valores de pH entre 4,5 e 6,8 sendo um processo reversível onde normalmente coexistem em equilíbrio no organismo as formas lactona e hidroxiácido (UNGARO et al, 2011 apud ALVAREZ-LUEGE et al, 2005). A forma hidrolisada de SINV (hidroxiácido) é o metabólito inibidor da 3hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A redutase (HMG-CoA redutase), que age por um processo de mimetismo, o qual bloqueia a conversão do substrato HMGCoA em ácido mevalônico, inibindo os primeiros passos da biossíntese de colesterol. Sua biodisponibilidade é baixa, ou seja, apenas 5% da dose oral possui exposição sistêmica, sendo que 95% do fármaco se ligam às proteínas plasmáticas (RANG et al, 2004). O mecanismo de transporte de membrana de SINV ocorre por difusão passiva, estando então diretamente relacionada à concentração (SANTIAGO, 2011). Apresenta como principais efeitos colaterais problemas hepáticos e dores musculares (miotoxicidade). É um composto sintético derivado da lovastatina, a qual é o produto da fermentação do fungo Aspergillus terreus (PEREIRA et al, 2003). 23 Figura 2 – Conversão da pró-lactona inativa SINV a sua forma ativa β-hidroxiácido Fonte: adaptado de HUNGARO, 2011. As estatinas são os fármacos mais utilizados no tratamento das hiperlipidemias. Existem várias estatinas sendo utilizadas clinicamente, algumas naturais como a lovastatina (Mevacor) e a pravastatina (Pravachol), a sinvastatina (Zocor), que é semi-sintética. A fluvastatina (Lescol) é uma forma racêmica sintética, cujos enantiômeros puros são atorvastatina (Lipitor) e rosuvastina (Crestor), que estão representadas na Figura 3 e 4. Esses fármacos diferem em termos de potência, perfil farmacocinético, interação farmacológica e efeito indesejado relacionado à miotoxicidade (KATZUNG, 2006). 24 Figura 3 – Estruturas químicas das estatinas naturais e sinvastatina 25 Figura 4 – Estatinas Sintéticas Fonte:FLUVASTATINA, 2014 26 1.3.2 A sinvastatina e suas características físico-químicas A SINV apresenta fórmula molecular C25H38O5; na nomenclatura IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada) é o 1S,3R,7S,8S,8aR)-8-[2[(2R,4R)-4-hydroxy-6-oxotetrahydro-2H-pyran-2-yl]ethyl]-3,7-dimethyl1,2,3,7,8,8a-hexahydro naphthalen-1-yl 2,2-dimethylbutanoate. Apresenta-se como um pó cristalino branco com coeficiente octanol/água = 4,68; funde entre 135 e 138 ºC e apresenta absorção na região do ultravioleta em λ = 231, 238 e 247 nm. O fármaco é facilmente solúvel em clorofórmio (610 mg/mL), dimetilsulfóxido (540 mg/mL), metanol (200 mg/mL), e etanol (160 mg/mL); muito pouco solúvel em hexano (0,15 mg/mL); insolúvel em água (0,03 mg/mL) e em ácido clorídrico 0,1 M (0,06 mg/mL) ( MOFFAT; OSSELTON; WIDDOP, 2004) (BRITISH PHARMACOPOEIA, 2009). Possui pKa=4,18, estando a molécula quase completamente dissociada em pH 6,8 (YOSHINARI et al, 2007). Possui baixa solubilidade em meio aquoso e alta permeabilidade intestinal, sendo no sistema de classificação biofarmacêutica (SCB) um fármaco de Classe II. (AMIDON, 1995).Para essa classe de fármacos a dissolução é o passo limitante da velocidade de absorção e uma correlação in vivo-in vitro (CIVIV) pode ser esperada. (KASIM et al, 2004). Sofre processo de oxidação quando exposta ao ar e/ou altas temperaturas, devendo ser conservada em recipientes bem fechados em temperaturas entre 15°C e 30°C (SILVA et al, 2009). Em solução aquosa forma pontes de hidrogênio intermoleculares entre a hidroxila do oxigênio 3 de uma molécula com o oxigênio 5 do éster de outra molécula, tornando a hidroxila comprometida e com isso o fármaco apresentase insolúvel em água (Figura 5) (CEJKA et al, 2003). 27 Figura 5 – Formação de Pontes de Hidrogênio Intermoleculares na SINV Fonte: adaptado de CEJKA et al, 2003. 1.3.3 A questão do aumento de solubilidade dos fármacos – estratégias utilizadas e as dispersões sólidas Solubilidade pode ser definida em termos quantitativos como a concentração de soluto em uma solução saturada, a uma determinada temperatura. Embora a definição de solubilidade possa parecer simples e direta, existem muitas variáveis envolvidas. A solubilidade é determinada por princípios cinéticos e termodinâmicos, como o tempo e grau de saturação da solução (SINKO, 2008). Em geral, a solubilidade é melhorada com a diminuição do tamanho das partículas, com o aumento da temperatura no meio, com mudança de pH do meio (por exemplo, fármacos, com um pKa na faixa ácida são mais solúveis em meio alcalino), a formação de misturas eutéticas, de co-cristais e sais, bem como a utilização de certos excipientes (ALSENZ ; KANSY, 2007) ( ALMEIDA, 2009). Existe uma estreita relação entre o conceito de “solubilidade” e “dissolução”. A velocidade de dissolução de fármacos pode ser definida como a 28 quantidade de fármaco no estado sólido ou de uma forma de dosagem sólida que fica em solução em certo período de tempo. No teste de dissolução, a solubilidade do fármaco é o principal parâmetro que afeta a velocidade de dissolução ( BANAKAR , 1992) . Portanto, o teste de dissolução é o principal instrumento utilizado para determinar a solubilidade aquosa do fármaco. Os meios de dissolução são escolhidos com a finalidade de simular as condições in vivo no qual a absorção do fármaco é provável que ocorra. Os tampões são geralmente usados para simular os valores do pH do estômago ou do intestino delgado e enzimas específicas também pode ser usadas. Além disso, são necessários agitação e aquecimento adequados. A fim de avaliar a quantidade de fármaco que foi dissolvido no meio, alíquotas são retiradas da solução em intervalos fixos de tempo e analisadas para determinar a concentração do fármaco (STORPIRTIS et al, 2009 ) Os testes de dissolução estão descritos nas farmacopéias e os métodos variam de acordo com a forma de dosagem. A solubilidade de fármacos tem sido amplamente discutida por pesquisadores na indústria e no meio acadêmico nos últimos tempos. Isso ocorre porque a cada dia está se tornando mais difícil descobrir moléculas com atividade farmacológica e com boa solubilidade aquosa; estima-se que em torno de 40% dos fármacos recentemente descobertos apresentem baixa solubilidade aquosa, por isso as atenções estão se voltando para moléculas que já são consagradas como fármacos, mas que sofrem de alguma restrição, entre as quais aquelas com baixa solubilidade em água podem ser destacadas (KARAVAS et al, 2007). Esse fato implica em baixa biodisponibilidade, ou seja, o fármaco chega ao local de ação em quantidades inadequadas (LIPINSKI, 2002). Para que haja uma boa biodisponibilidade é preciso que o fármaco sofra liberação de sua forma farmacêutica, atravessando em seguida as membranas celulares, atingindo assim a circulação sistêmica. No caso de medicamentos que utilizam a via oral, a velocidade de absorção está diretamente relacionada com a solubilidade aquosa e a permeabilidade intestinal do fármaco (AMIDON, 1995; WENLOCK et al, 2003). 29 Um fármaco é considerado de alta solubilidade quando sua dose mais alta for completamente solúvel em 250 mL de meio aquoso, na faixa de pH entre 1,0-7,5 à 37ºC; e de alta permeabilidade quando a extensão de sua absorção em humanos for ≥ 90% da dose administrada, comparando‑se com uma dose referência pela via endovenosa (LACERDA; LIONZO, 2011). 1.3.4 Estratégias utilizadas para o aumento da solubilidade da SINV Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de aumentar a solubilidade aquosa de SINV, principalmente por seu uso continuado no tratamento de pacientes com taxas elevadas de colesterol e triglicerídeos. As estratégias utilizadas envolvem a formação de dispersões sólidas, microemulsões, nanopartículas, secagem por fluido supercrítico, formação de complexos de inclusão com ciclodextrinas (CD) e formação de dendrímeros (VARGAS; RAFFIN; MOURA, 2012). No entanto, muitos destes métodos apresentam restrições como, por exemplo, a diminuição do tamanho de partículas pode causar aglomerados, ocasionando um fluxo pobre dos pós; em muitas dispersões sólidas são utilizadas grandes proporções de polímeros, o que dificulta a transposição para a escala industrial (MURTAZA, 2012). De acordo com Cunha – Filho e Sá - Barreto (2007) as técnicas para a preparação de complexos de inclusão com CD tem uma ampla gama de aplicação e pode ser produzido em escala industrial, por liofilização e secagem por “spray dryer” de uma forma muito eficaz, sendo que já existem cerca de 30 medicamentos produzidos dessa forma no mercado mundial. Foi realizada uma revisão sistemática de todas as estratégias utilizadas para aumentar a solubilidade de SINV em um período de 12 anos (janeiro de 2000 a abril de 2012 com um total de 27 artigos), onde as técnicas foram comparadas (VARGAS; RAFFIN; MOURA, 2012). Analisando os artigos relacionados, os autores inferiram que a técnica utilizada mais frequentemente para melhoria da solubilidade do fármaco é a formação de dispersões sólidas seguido da formação de nanopartículas e após complexos de inclusão com CD. A representação gráfica pode ser vista na Figura 6. 30 Figura 6 - Gráfico de barras da distribuição percentual das diversas técnicas utilizadas para melhoria da solubilidade da SINV DS – dispersão sólida, ME – microencapsulação, NP – nanopartículas, FS – fluido supercrítico, CD – ciclodextrinas Fonte: adaptado de VARGAS; RAFFIN; MOURA, 2012. O maior resultado relatado foi produzido pela formação de microemulsões com um aumento de 50 vezes (MARGULIS - GOSHEN; MAGDASSI, 2009). Um aspecto a destacar é que esse artigo se enquadra em mais de uma categoria, pois utilizou a técnica de microemulsões tendo produzido nanopartículas. A técnica de nanopartículas produziu um aumento de 25,7 vezes (PANDYA; PATEL; PATEL, 2010). É importante notar que o mecanismo responsável pelo aumento da solubilidade aquosa de SINV apresentou resultados variados nos diferentes métodos. De acordo com Margulis – Goshen e Magdassi (2009), a produção de nanopartículas por liofilização a partir de microemulsão ocasionou uma diminuição da cristalinidade de SINV, sendo essa a causa do aumento da solubilidade aquosa. Por outro lado, Kulhari e outros (2011) relataram o uso de complexos de SINV - dendrímero, como uma forma eficiente para aumentar a solubilidade 31 aquosa do fármaco. No entanto, os autores não apresentaram uma hipótese para o aumento da solubilidade aquosa. Pandya e colaboradores (2010) relataram terem produzido uma nanossuspensão, com PVP K-30 como estabilizante para preparar as partículas com diâmetros compreendidos entre 100 e 1000 nm. A formação de complexos de inclusão com CD também levou a um bom aumento na solubilidade no estudo de Vyas, Saraf e Saraf (2011), formando partículas de tamanho nanométrico. Ungaro e colaboradores (2011) usaram hidroxipropil-β-CD e SINV, utilizando secagem por “spray dryer”. 1.3.4.1 Utilização de dispersões sólidas como estratégia de aumento de solubilidade de fármacos O termo dispersão sólida refere-se à dispersão de um ou mais fármacos em uma matriz ou carreador (geralmente um polímero) (PATEL; PATEL, 2008). É uma mistura fármaco-polímero onde as interações físico-químicas resultam normalmente na perda de cristalinidade do fármaco e consequente aumento na solubilidade. As dispersões sólidas são classificadas como modificações físicas de um fármaco através de um carreador (LEUNER; DRESSMAN, 2000). Algumas explicações para o aumento de solubilidade por meio de dispersões sólidas envolvem o tamanho de partícula reduzido, o aumento da área de superfície, maior a molhabilidade pela presença de suportes hidrófilos, a elevada porosidade das partículas, a redução ou ausência de aglomeração e agregação e a possível presença do fármaco na sua forma amorfa (PATEL; PATEL, 2008) (VASCONCELOS; SARMENTO; COSTA, 2007). De acordo com Storpirtis e colaboradores (2009), alguns métodos podem ser utilizados para aumentar a solubilidade do fármaco sem alterar a sua estrutura química (Quadro 1). 32 Quadro 1 – Métodos utilizados para aumentar a solubilidade aquosa de fármacos MÉTODO Micronização Dispersão Sólida de Primeira Geração Dispersão Sólida de Segunda Geração Dispersão Sólida de Terceira Geração DESCRIÇÃO Redução do tamanho de partícula a menos que 10 µm. Formação de misturas eutéticas utilizando carreadores solúveis em água como uréia e manitol. Diminuição da cristalinidade de fármacos através da utilização de carreadores como PEG, PVP e derivados da celulose podendo ser formadas soluções sólidas, suspensões sólidas ou simples misturas físicas. Mistura com surfactantes (ex. Gelucire 14/44, polissorbatos, etc,) que promovem o aumento da solubilidade através da diminuição da tensão interfacial. As dispersões sólidas podem ser produzidas também através da técnica de fusão, onde o fármaco é fundido no interior do carreador, o sistema é resfriado e depois micronizado. O processo de fusão tem a finalidade de dissolver ou dispersar o fármaco no carreador, e o processo de resfriamento é responsável pela solidificação da mistura, o que facilita a micronização. No entanto, esta técnica não é adequada para os medicamentos termolábeis. Outra técnica de produção de dispersões sólidas envolve evaporação do solvente, onde o fármaco é dissolvido num solvente adequado e disperso na solução contendo o carreador, sendo então secado em evaporador rotatório, em forno, na secagem por “spray dryer” ou por fluido supercrítico (VARGAS; RAFFIN; MOURA, 2012). Outra forma de produzir dispersões sólidas envolve a malaxagem, feita em gral. Como exemplo dessa técnica tem a dispersão sólida produzida por Modi e Tayade (2006), onde foi produzida uma dispersão sólida de valdecoxib com PVP K-30 que resultou no aumento do perfil de dissolução do fármaco. Na técnica de fusão, seguida de resfriamento, por exemplo, pode ocorrer a formação de misturas eutéticas, onde a matriz, que é mais solúvel, envolve o fármaco em solução solubilizando-o e formando cristais mais finamente divididos (com maior área de contato), aumentando a solubilidade do fármaco e possivelmente sua biodisponibilidade. No entanto, a fusão, seguida de 33 resfriamento tem algumas limitações como, por exemplo , quando não existe uma boa miscibilidade entre o fármaco e o carreador poderá não ocorrer a dispersão , além disso, a temperatura elevada para fundir o polímero (carreador) pode degradar o fármaco (SEKIGUCHI; OBI, 1961) ( GOLDBERG; GIBALDI; KANIG, 1966). Quando polímeros tais como polivinilpirrolidona (PVP), polietilenoglicóis (PEGs) ou polímeros de celulose são usados, é comum serem formadas soluções sólidas, em que o polímero está frequentemente presente como uma rede amorfa, no qual o fármaco é aprisionado. As moléculas do soluto podem também plastificar o polímero, resultando numa redução da sua temperatura de transição vítrea (LEUNER; DRESSMAN, 2000). Em relação às dispersões sólidas com PVP, a cristalização do fármaco pode ser inibida, resultando em formas amorfas que são menos estáveis termodinamicamente e liberam o fármaco mais rapidamente. A inibição pode ser devido a ligação de hidrogênio entre PVP e o fármaco ou pela incorporação das moléculas de fármaco dentro da matriz de polímero (FORD, 1986) (MATSUMOTO; ZOGRAFI, 1999). No caso de polímeros hidrofílicos, tais como derivados de celulose (HPMC - hidroxipropilmetilcelulose, carboximetilcelulose - CMC, etc.), polímeros semi-sintéticos (alginatos, goma xantana, quitosana, etc) e os polímeros acrílicos (carbômeros) (LOPES; LOBO; COSTA, 2005), quando em contato com a água, atuam como um plastificante, que causam uma mudança no estado vítreo (configuração polímero altamente enredada) para um estado maleável, que está associado a um processo de expansão / relaxamento (COLOMBO et al, 2000). 1.3.4.2 Dispersões sólidas comercializadas como medicamentos Existem no mercado alguns medicamentos que utilizam a estratégia de dispersões sólidas como pode ser visto no Quadro 2. 34 Quadro 2 - Relação de medicamentos no mercado utilizando a tecnologia de dispersões sólidas Medicamento Fármaco Carreador Tecnologia Indústria Ano de Aprovação GrisPEG griseofulvina PEG 400 e 8000, PVP Fusão a quente Pedinol Pharm Inc. 1975 Cesamet nabilona PVP Desconhecida Meda Pharmaceuticals 1985 Sporanox itraconazol PEG Spray Drying Jansen 1996 Kaletra lopinavir/ PEG, PVP Extrusão à Abbott quente ritonavir Fonte: Adaptado de New Jersey Centre for Biomaterials. 2005 O GrisPEG é um antifúngico; o Cesamet é um antiemético potente, um derivado canabinóide usado em neuropatias e em pacientes em quimioterapia.O Sporonax é um antifúngico e o Kaletra é usado na terapia antirretroviral (HIV). É importante salientar que em todos os medicamentos foi utilizado PEG e PVP em suas formulações. As tecnologias predominantes foram a secagem por “spray dryer” e extrusão a quente. 1.3.4.2.1 Carreadores utilizados – características e aplicação Nessa tese foi utilizado o Soluplus, um excipiente inovador, lançado pela Basf em 2009 que foi comparado com excipientes já consagrados como carreadores em dispersões sólidas – PEG 6000 e PVP K-30, além de um surfactante conhecido - lauril sulfato de sódio. 1.3.4.2.1.1 Soluplus (SOL) O SOL é um surfactante co-polimérico que apresenta uma cadeia principal hidrofílica (composta de polietilenoglicol) e cadeias laterais lipofílicas (compostas por polivinil caprolactama e polivinil acetato), sendo considerado como pertencente à quarta geração de carreadores para o preparo de dispersões sólidas (HARDUNG; DJURIC; ALI, 2010). Foi desenvolvido com o objetivo de melhorar a solubilidade e a biodisponibilidade de fármacos de baixa solubilidade aquosa através da extrusão à quente (SOLUPLUS, THE SOLID 35 SOLUTION – OPENING NEW DOORS IN SOLUBILIZATION, 2010). Possui massa molecular em torno de 118.000 g/mol. Apresenta-se como grânulos brancos ou amarelados, amorfos, com fluxo livre, solúvel em água e alguns solventes orgânicos como acetona, metanol, etanol, etc. Figura 7 – Fórmula Estrutural de Soluplus HO O O N O O O O HO Quando formada uma dispersão sólida ou solução sólida o fármaco ligase ao SOL conforme ilustrado na Figura 8. 36 Figura 8 – Molécula de Soluplus aprisionando o fármaco Fonte: Adaptado de ALI e KOLTER, 2012. 1.3.4.2.1.2 Lauril Sulfato de Sódio (LSS) Também chamado de dodecil sulfato de sódio. Possui fórmula mínima C12H25NaSO4, massa molar 288,38 g/mol e ponto de fusão 204-207ºC. Sua fórmula estrutural está demonstrada na Figura 9. Figura 9 – Fórmula Estrutural do Lauril Sulfato de Sódio É considerado um surfactante ou tensoativo aniônico, ou seja, com propriedades anfifílicas, possuindo uma porção polar (hidrofílica) e uma apolar (hidrofóbica) da molécula (ROWE et al, 2011). Tem sido utilizado no desenvolvimento de formas farmacêuticas sólidas para aumentar a solubilidade de fármacos por um mecanismo de formação de micelas com diminuição da tensão superficial quando em solução (RAO et al, 2006). 37 1.3.4.2.1.3 Polivinil pirrolidona (PVP) Também chamado de povidona, copovidona, com fórmula mínima (C6H9NO)n, com PM ≈ 45.000 e PF – 140ºC. Sua fórmula estrutural pode ser vista na Figura 10. Figura 10 – Fórmula Estrutural da Copovidona Na indústria farmacêutica tem aplicação como formador de filme e também como ligante na fabricação de comprimidos. É usualmente utilizada em formulações para melhorar a dissolução de fármacos pouco solúveis, na produção de dispersões sólidas (SOTTHIVIRAT et al, 2013). O PVP é solúvel numa grande variedade de solventes orgânicos, por essa razão é adequado à produção de dispersões sólidas produzidas por evaporação do solvente (ALVES et al, 2012). 1.3.4.2.1.4 Polietilenoglicol (PEG) O número que acompanha o PEG corresponde ao peso molecular médio do polímero, no caso PM ≈ 60.000 g/mol. Nesse trabalho foi utilizado o PEG 6000 (PEG) (Figura 11). 38 Figura 11 – Fórmula Estrutural do PEG 6000 1.3.5 Caracterização físico-química no desenvolvimento de medicamentos – Principais técnicas utilizadas Muitas modificações podem ocorrer ao se aumentar a solubilidade de um fármaco, dependendo da técnica e da natureza das matrizes utilizadas. Tais misturas podem sofrer interações completamente diferentes do objetivo inicial da pesquisa. Portanto é necessário um monitoramento dessas interações através de técnicas de caracterização que se complementem nas informações fornecidas, de modo que se tenha um conhecimento mais completo das interações ocorridas e se faça as alterações necessárias na formulação ou na técnica. Esses dados podem fornecer o estado exato das misturas formadas. As análises mais comumente utilizadas na caracterização são: Análise Térmica (Calorimetria Exploratória Diferencial [DSC], Termogravimetria [Tg], Análise Térmica Diferencial [DTA]) Difração de Raios X do pó (PDRX), Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET), dentre outras. 1.3.5.1 A utilização de Espectroscopia de Imagem no Infravermelho Próximo (NIR-CI) com Calibração Multivariada como técnica analítica de caracterização A espectroscopia de imagem é uma técnica emergente dentro da área química e farmacêutica, sendo atualmente de grande interesse esse tipo de análise no meio científico. O Conselho para Pesquisa Química, no seu relatório “Technology Vision 2020: The US Chemical Industry” reconhece que a espectroscopia de imagem é uma tecnologia importante e essencial no desenvolvimento de produtos, processos e controle de produção. No relatório a 39 espectroscopia de imagem é citada como uma tecnologia com potencial impacto para o futuro (VISION 2020, 2000). No Brasil são poucos ainda os grupos de pesquisa que trabalham com espectroscopia de imagem. A espectroscopia de imagem no NIR (NIR-CI), com efeito, é um "passo a frente" da espectroscopia NIR tradicional. De forma geral pode-se dizer que ao invés de obter o espectro em um único ponto, é feito o mapeamento de uma área da amostra, tirando espectros a cada 50 ou 100 µm. Assim, é possível localizar através dos espectros cada composto na amostra, permitindo obter informações sobre a distribuição espacial de seus constituintes sendo, porém, necessário um tratamento quimiométrico. 1.3.5.1.1 Obtenção das imagens multiespectrais A espectroscopia de imagem compreende a medida de um espectro completo por unidade da superfície da amostra (pixel). O resultado pode ser visualizado como um cubo, denominado hipercubo espectral onde as três dimensões são as coordenadas x e y do pixel e a terceira é a dimensão dos comprimentos de onda (Figura 12). Figura 12 – Cubo de dados gerado em espectroscopia de imagem (hipercubo espectral) Fonte: POPPI, 2013. 40 A espectroscopia de imagem ocorre na literatura com os termos sinônimos “hyperspectral imaging” ou hyperspectral image”. Esse fato tem origem nas primeiras aplicações de imagens hiperespectrais em sensoriamento remoto, nos anos 70. Nesta época, as imagens eram geradas por um conjunto de bandas ao invés de um espectro contínuo e a técnica era denominada “multispectral imaging”. A partir de 1980, a utilização de espectros contínuos para o monitoramento deu origem ao termo “hyperspectral imaging” (GELADI; BURGER; LESTANDER, 2004). De acordo com a maneira como o cubo de dados é gerado, o procedimento de geração do hipercubo espectral pode ser classificado como “mapping” ou “imaging”. Quando uma plataforma móvel é utilizada para movimentar a amostra, o procedimento é denominado “mapping”, e ainda pode ser subdividido em “point mapping” (varredura feita pixel a pixel) ou “linemapping” (varredura simultânea de uma linha de pixels). O procedimento “mapping” em geral, representa a adaptação da microespectroscopia (técnica na qual o microscópio é utilizado apenas como dispositivo de visualização da amostra) pela adição de uma plataforma móvel. Por outro lado, quando toda a área da amostra é refletida sobre um detector multi-elementar (formado por centenas ou milhares de elementos em uma matriz) do tipo “focal plane array” (arranjo de plano focal) (FPA), o procedimento passa a ser denominado “imaging”. Estes detectores permitem que os espectros sejam adquiridos de forma simultânea para uma determinada área da amostra, em um dado comprimento de onda. A seleção de um ou outro procedimento de aquisição de dados depende da aplicação. O procedimento “imaging” é ideal para aplicações que necessitem de respostas rápidas, nas quais constituintes majoritários são analisados. No procedimento “mapping”, os espectros são obtidos variando-se a posição da amostra em relação à fonte incidente, pode-se pensar no cubo de dados como contendo informações espectrais espacialmente resolvidas, uma vez que um espectro completo é disponível por pixel da superfície da amostra. Considerando que o procedimento “imaging” não envolve movimento da amostra uma vez que a fonte ilumina toda a superfície da amostra de uma única vez e os comprimentos de onda são posteriormente separados, pode-se 41 pensar no cubo de dados como contendo informações espaciais espectralmente resolvidas, pois se tem uma imagem por comprimento de onda. Tanto o procedimento “mapping” quanto o procedimento “imaging” geram imagens químicas, ou seja, imagens cujos contrastes são gerados por diferenças espectrais (AMIGO, 2010). Os modos de obtenção dos espectros estão ilustrados na Figura 13. Figura 13 - Procedimentos para a aquisição do hipercubo espectral. 1.6 A) log (1/R) 1.4 1.2 1 0.8 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500 8000 Número de onda (1/cm) 1.6 B) log (1/R) 1.4 1.2 1 0.8 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500 8000 Número de onda (1/cm) Imagem univariada: C) A) “point-mapping” - geração de um único espectro; B) “line-mapping” - geração de uma linha de espectros e C) “imaging” - geração de uma imagem baseada na intensidade em um único comprimento de onda. Fonte: Adaptado de AMIGO, 2010. Métodos univariados e multivariados podem ser utilizados para a geração de imagens químicas. O método univariado consiste basicamente em selecionar um comprimento de onda do hipercubo espectral; a imagem é gerada pelos valores de intensidade de absorbância em todos os pixels do 42 comprimento de onda. Este método pode ser utilizado para obter uma avaliação qualitativa da distribuição dos constituintes. O método multivariado faz uso de várias medidas espectrais de forma simultânea, fornecendo uma avaliação mais quantitativa. 1.3.5.1.2 Análise dos dados por quimiometria A análise de dados é uma parte essencial em todo experimento. Há muito tempo a estatística univariada vem sendo aplicada a problemas químicos, mas a sua utilização tornou-se limitada. Nas últimas décadas, a análise multivariada foi introduzida no tratamento de dados químicos, ganhando rapidamente popularidade e dando origem a uma nova ciência analítica, a Quimiometria, que correlaciona muitas variáveis simultaneamente, permitindo um maior número de informações (SENA et al, 2000). A Figura 14 mostra um esquema de geração de uma imagem empregando métodos quimiométricos. Figura 14 - Esquema geral para a geração de imagens químicas utilizando métodos quimiométricos. Num primeiro momento ocorre o desdobramento do cubo de dados em uma matriz de duas dimensões (amostras nas linhas e as variáveis nas colunas). Após o desdobramento, podem ser realizados pré-processamentos nesta matriz com o objetivo de remover ruído e artefatos não relacionados à composição física e química da amostra. O tipo de pré-processamento depende da técnica que foi empregada para obter os espectros; os espectros NIR de amostras sólidas normalmente requerem a eliminação de flutuações de linha base, o que pode ser feito pelo método de correção de espalhamento 43 multiplicativo (Multiplicative Scattering Correction, MSC) ou pelo uso de derivadas. Após o pré-processamento, segue-se a etapa de extração de informações dos mapas, sendo os compostos químicos localizados nesta etapa. Muitas são as ferramentas quimiométricas que podem ser utilizadas, sendo as principais: Análise de Componentes Principais (“Principal Component Analysis” - PCA), Regressão em Mínimos Quadrados Clássicos (“Classical Least Squares” - CLS), Resolução Multivariada de Curvas (“Multivariate Curve Resolution” - MCR), Regressão em Mínimos Quadrados Parciais (“Partial Least Squares” - PLS). A aplicação destas ferramentas fornece como resultado vetores (ou matrizes) contendo as propriedades de interesse (concentrações, scores) as quais são redobradas, de acordo com a distribuição espacial original, dando origem aos mapas de distribuição (de scores ou concentrações) também chamadas de imagens químicas (GENDRIN; ROGGO; COLLET, 2008). 1.3.5.1.3 Regressão em Mínimos Quadrados Clássicos (“Classical Least Squares” CLS) O método CLS é um método quantitativo baseado na Lei de Beer, que assume que cada medida é a soma de sinais linearmente independentes, ou seja, que o espectro em cada pixel é a soma de todos os espectros dos componentes puros ponderadas pelas suas concentrações . O CLS é um método quimicamente intuitivo, sendo suas principais vantagens a facilidade de execução e principalmente de compreensão. A matriz de espectros X desdobrada é considerada como sendo o produto da matriz de concentrações (C) e da matriz contendo os espectros (S) dos constituintes puro, conforme mostrado na equação 1. X =CST + E (Eq.1) Se um conjunto de amostras de concentrações conhecidas estiver disponível, o CLS também pode ser utilizado para estimar os espectros puros. Isolando-se S na equação 1, obtém-se: S = (CTC)-1CTX (Eq.2) 44 Caso os espectros dos componentes da amostra estejam disponíveis é possível estimar as concentrações de cada componente em uma amostra desconhecida, isolando-se C na equação 1, conforme mostrado na equação 3: C = (SST)-1SXT (Eq.3) A equação 3 indica que os espectros puros devem ser linearmente independentes (não colineares), pois caso exista colinearidade, a matriz (SST) não poderá ser invertida. Na prática, quando as respostas apresentam apenas pequena colinearidade, esta matriz ainda poderá ser calculada, mas será instável e os valores previstos de concentração podem não ser exatos. Considerando que no método CLS um dado espectro é considerado como sendo a correspondentes soma ponderada concentrações, dos espectros interações puros físico-químicas pelas entre suas os constituintes da amostra (as quais geram deslocamentos no sentido dos números de onda) e não-linearidades no sinal analítico com relação à concentração, podendo levar à falta de exatidão do método (GENDRIN; ROGGO, COLLET, 2008). 1.3.5.2 Utilização do software Topas no tratamento de dados obtidos por Difratometria de Raios X do Pó (PDRX-TOPAS) A difração de raios X é uma das técnicas mais aplicadas para o estudo da cristalinidade dos materiais na área farmacêutica nos últimos tempos. Isso ocorre devido à natureza dos fenômenos de difração, que leva em conta que apenas as fases cristalinas contribuem para a intensidade do pico em um padrão de difração. A contribuição total de raios X também vem do ruído de fundo inerente, assim como a partir de fases amorfas, cujos perfis não geram picos típicos. A cristalinidade define muitos parâmetros físico-químicos que refletem em última análise na estabilidade e biodisponibilidade de um medicamento. Sem dúvida é uma técnica de grande utilidade, rápida, que utiliza pouca quantidade de amostra e tem muito a ser explorada. Para produzir raios X por difração em um difratômetro, é necessário aplicar uma diferença de potencial da ordem de 35 kV entre um cátodo e um 45 alvo metálico que funcionam como ânodo, mantidos no vácuo. Quando o filamento de tungstênio do cátodo é aquecido, liberam-se elétrons, por efeito termo iônico, que são acelerados através do vácuo pela diferença de potencial entre o cátodo e o ânodo, ganhando, assim, energia cinética. Quando os elétrons se chocam com o alvo metálico (por exemplo, de molibdênio), liberamse raios X. Contudo, a maior parte da energia cinética (em torno de 98%) é convertida em calor, razão pela qual o alvo metálico deve ser resfriado externamente (CALLISTER, 2008). O difratômetro é constituído basicamente por um tubo de raios X, um porta-amostra onde incide a radiação e um detector móvel, geralmente de cintilação. Os raios X são uma forma de radiação eletromagnética que possui elevada energia e curto comprimento de onda (comprimentos de onda da ordem de magnitude dos espaçamentos atômicos nos sólidos). Quando um feixe de raios X incide sobre um material sólido, uma fração deste feixe se dispersa, ou se espalha, em todas as direções pelos elétrons associados a cada átomo ou íon que se encontra na trajetória do feixe. Considerando-se dois ou mais planos de uma estrutura cristalina, as condições para que ocorra a difração de raios X vão depender da diferença de caminho percorrida pelos raios X e o comprimento de onda da radiação incidente. Esta condição é expressa pela lei de Bragg que é representada na equação 4 a seguir. n = 2 d sen θ, (Eq.4) onde - comprimento de onda da radiação incidente, “n” - número inteiro (ordem de difração), “d” - distância interplanar para o conjunto de planos “h k l” (índice de Miller) da estrutura cristalina e θ - ângulo de incidência dos raios X medido entre o feixe incidente e os planos cristalinos (CALLISTER, 2008). 46 No difratômetro a captação do feixe difratado é feita por meio de um detector de acordo com um arranjo geométrico denominado de geometria Bragg-Brentano (Figura 15). Figura 15 – Arranjo Geométrico de Bragg-Brentano Fonte: GEOMETRIA DE BRAGG-BRENTANO [2014?] Com essa geometria um feixe de radiação monocromática incide em uma amostra na forma de pó, rotacionada de um ângulo θ, enquanto os dados são coletados por um detector que se move de 2θ. A intensidade do feixe difratado, variável em função do ângulo 2 θ é normalmente expressa através de picos que se destacam da linha de base (“background” ou ruído de fundo) registrados num espectro de intensidade pelo ângulo 2 θ ou da distância interatômica , constituindo o padrão de difração . Desta forma, o padrão de difração representa uma coleção de picos, cada qual com sua altura, área integrada, posição angular, largura e caudas que decaem gradualmente à medida que se distanciam da posição de altura máxima do pico. Cada composto cristalino apresenta um difratograma característico, permitindo sua identificação através da comparação com padrão difratométrico existentes em bases de dados específicas. 47 Quando utilizada a difração de raios x do pó (PDRX) nas análises farmacêuticas, a cristalinidade dos fármacos ou formulações são avaliadas de uma maneira geral, qualitativa, através da observação dos padrões de difração e dessa forma pequenas alterações podem não ser observadas. Uma alternativa para a quantificação é a aplicação da técnica computacional chamada de método Rietvield, que é um ajuste matemático de um padrão experimental com o modelo (teórico ou padrão) através do método de mínimos quadrados. O método de Rietveld envolve o refinamento de um difratograma a partir do ajuste do padrão difratométrico de uma amostra através de uma representação matemática. O método faz um ajuste empírico a partir da forma do pico. No ajuste empírico, o método utiliza para modelar a forma do pico funções tais como de Gauss, Lorentziana, Voigt, Pseudo-Voigt e Pearson VII. Para aplicação da função adequada é preciso observar se o pico de difração assemelha-se a uma curva gaussiana ou não e dessa forma escolher o melhor modelo (Figura 16). Figura 16 – Esquema de decisão do melhor refinamento Fonte: Elaborada pelo autor Como uma estrutura cristalina se apresenta por múltiplos picos em um difratograma; o “refinamento” é, portanto, a identificação das características do pico como posição (2θ), intensidade (I),largura a meia altura (FWHM) que mais 48 se aproxima do pico real obtido no experimento.Com isso tem-se a geração de um padrão de difração de alta qualidade. (YOUNG, 2000). No cálculo da cristalinidade a intensidade de fundo (I BCK) pode ser encontrada por meio de uma função polinomial de várias ordens até a quinta ordem, de acordo com a equação 5: z I Bck a z (2 ) z 1 ; z =[1,6] (Eq.5) 1 A contribuição da fase amorfa (IAM) pode ser avaliada por um perfil apropriado de pico simples de grande largura, em que várias funções de pico podem ser empregadas como função Gaussiana. A contribuição de fase cristalina (ICr) pode ser avaliada por várias abordagens sendo a intensidade do pico integrado o mais comumente utilizado (ZEVIN; KIMEL, 1995). O grau de cristalinidade (DC) é, portanto, a intensidade de todos os picos cristalinos relacionados com a contribuição total de raios X, de acordo com a equação 6, em que a intensidade de fundo é retirada. i DC I Cr 1 i I Cr ; i (1, n) (Eq. 6) I Am 1 Onde “n” é o número de picos da fase cristalina “i”. As intensidades dos picos integrados podem ser frequentemente calculadas usando funções matemáticas de pico, com grande grau de precisão (Gaussian, Lorenzian, Voight, Pseudo-Voight, Pearson VII, etc ), como já citado anteriormente (YOUNG, 2000). Pode também ser usada a Função Parâmetro Fundamental (FP), a qual oferece algumas vantagens, uma vez que leva em conta vários parâmetros importantes, tais como física, óptica do difratômetro, estrutura cristalina e fração de volume da fase cristalina. Em ambos os casos, a qualidade do processo de ajuste é avaliado de acordo com o critério do método dos mínimos quadrados. Uma ampla descrição do significado físico e técnico destes parâmetros pode ser encontrada em livros didáticos de DRX (CULLITY;STOCK, 2001). 49 Quando utilizando função FP para um difratômetro com Geometria de Bragg-Brentano com uma seção transversal constante, a intensidade difratada por um espécime ideal pode ser descrito pela equação 7 (ZEVIN;KIMEL, 1995). 2 re 2 I .BH 3 1 cos 2 2 Fij .Dij.Mij V j 0 C i ; I ij sen 2 cos 2 32 R 2 i i Onde: j- Fase cristalina j; re - Raio do elétron; I0 – Feixe de raios x de intensidade primária; B – Seção transversal do feixe primário na superfície da amostra; Hc – Altura da fenda receptora; - Comprimento de onda do raios X do alvo; R-Raio do Goniomêtro; i – Ângulo “i” do Goniômetro; Fij - Fator estrutural da fase cristalina Structural; Dij - Fator de temperatura de Deby-Waller; Mij - Fator de multiplicidade; - Volume da célula; V j - Volume de fração da fase cristalina; µ - Coeficiente de absorção linear Linear. Esta função pode ser dividida em três grupos: 1. Constantes Físicas e Instrumentais relacionadas: re 2 I BH 3 1 cos 2 2 i 0 C 2 K ij R 32 sen i cos i F 2 .Dij.Mij ij 2. Constantes Estruturais do Cristal: S ij 2 Vj 3. Volume de fração de uma fase j: V j ; 2 (Eq. 7) 50 Considerando que as mesmas configurações do instrumento e a mesma fração de volume da fase cristalina foram mantidas constantes para todos os experimentos, os grupos 1 e 3 pode, ser reduzidos a uma constante ( ) e qualquer variação da contribuição cristalina pode ser atribuída a alterações na sua estrutura cristal, de acordo com a equação 8. F 2 .Dij.Mij ij ; I ij ij 2 (Eq. 8) É importante destacar o conceito de amorfo segundo as bases teóricas da difratometria de raios x, onde amorfo se relaciona com simétrico, ou seja, em uma rede cristalina, os padrões dos cristais devem se repetir com mesmas ângulos.Quando se tem cristais com ângulos variados tem-se um matéria amorfo. Em contrapartida é possível ocorrer de duas amostras de mesma natureza, com mesma geometria cristalina, porém com distribuição diferente dos elementos químicos dentro dos cristais, o que pode se refletir em propriedades físico-químicas diversas (CULLITY; STOCK, 2001). O programa computacional TOPAS® 4.2(Brucker), utilizado nessa tese, tem como base o método Rietvield com uma linguagem simbólica C++, uma ferramenta poderosa que permite grandes mudanças funcionais de forma simples em tempo de execução relativamente pequeno. TOPAS faz inúmeras análises envolvendo a cristalinidade de materiais, de forma rápida com menor margem de erro, podendo identificar a natureza e posição dos átomos na rede cristalina, propor a conformação do cristal, dentre outros. Na presente tese somente o percentual de cristalinidade foi calculado (COELHO et al, 2011). Topas utiliza para o cálculo de cristalinidade os mesmos sistemas de equações já descritos anteriormente. Esses cálculos podem feitos também por outros programas computacionais como, por exemplo, GSAS e PANalytical X'Pert HighScore, porém esses programas são mais lentos, apresentam uma maior margem de erro e executam um menor número de tarefas, quando comparados ao Topas, que já se encontra em sua quarta versão, não tendo similar no mercado até o momento. 51 Existem poucos artigos publicados na área de farmácia utilizando o programa computacional TOPAS, sendo esse mais conhecido na área de engenharia de materiais. 52 Parte 2 PREPARAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS DE SINVASTATINA 53 PARTE 2 PREPARAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS DE SINVASTATINA As dispersões sólidas foram produzidas tendo como foco o carreador Soluplus (SOL) e a técnica de secagem por “spray dryer” Foi feita uma análise prévia das condições de nebulização de SOL, sendo utilizadas várias velocidades de fluxo e proporções de carreador. Foi conduzido então um estudo de solubilidade de fases a fim de avaliar os parâmetros cinéticos envolvidos em diversas proporções fármaco:carreador quando em solução aquosa. Foi ainda feito o doseamento das amostras e utilizado o ensaio de solubilidade como critério de seleção das amostras a serem caracterizadas. 2.1 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 2.1.1 Preparo das Dispersões Sólidas 2.1.1.1 Materiais A sinvastatina (SINV), adquirida da Galena (China) (99,6%). Os carreadores utilizados PEG 6000 (PEG) (Sigma-Aldrich - Alemanha), PVP K30(PVP) (BASF - Alemanha), lauril sulfato de sódio (LSS) (VETEC - Brasil) e Soluplus (SOL) (BASF - Brasil), Aerosil 200 (AER).Os solventes utilizados foram etanol (VETEC - Brasil) PA e água destilada. 2.1.1.2 Métodos As dispersões sólidas de SINV foram preparadas por diferentes métodos (Secagem por “Spray Dryer”, Secagem de solvente por Evaporador Rotatório, Fusão com Carreador e Malaxagem) utilizando os mesmos carreadores (PEG, PVP, SOL e LSS) e proporções de massa (1:0,25 e 1:1 fármaco:carreador).Todas as técnicas mantiveram fixas a massa do fármaco, sendo alterados apenas os carreadores. 54 Secagem por “Spray Dryer” (SD) Técnica adaptada de Pandya e colaboradores (2008). Foi utilizado um “spray dryer” de escala laboratorial marca Lab-Plant SD-05 (Labplant, UK) com os seguintes parâmetros: agulha – 0,5 mm, temperatura de entrada – 110ºC, temperatura de saída – 60ºC, fluxo – 8 mL/min O primeiro excipiente testado foi SOL tendo sido dado especial atenção a esse, pois foi desenvolvido industrialmente com o objetivo de aumentar a solubilidade de fármacos pouco solúveis. Sendo assim foram testadas 8 proporções diferentes de SINV e SOL, utilizando etanol a 70% e água. Foi também testada a secagem com e sem Aerosil. Os demais excipientes (PEG, PVP e LSS) foram ajustados nas mesmas proporções do SOL para fins de comparação. Foram utilizados 3 g de SINV em todas as proporções de massa. Fusão com Carreador (FC) Técnica adaptada de Bley, Fusnegger e Bodmeier (2010), fármaco:excipiente 1:0,25 e 1:1, tendo sido utilizado 3 g de SINV. Foram utilizados todos os excipientes do método anterior. O excipiente foi mantido em cápsulas de porcelana até a fusão, em chapa aquecedora. Adicionou-se então rapidamente SINV, misturando para homogeneizar. Resfriou-se em banho de gelo com NaCl por 10 min. Deixou-se em repouso por 24 h. Após, as dispersões sólidas foram trituradas em gral com pistilo, homogeneizadas em tamis de 42 mesh e colocadas em dessecador à vácuo por 24 h. 55 Evaporação com Co-Solvente (ES) Técnica adaptada de Pandya e colaboradores (2008). Foram adicionados em balão de vidro de fundo redondo 3 g de SINV e 150 mL de etanol. Em outro balão de vidro de fundo redondo foi adicionado o excipiente e 60 mL de água destilada. As duas preparações foram misturadas, secas em evaporador rotatório, colocadas em dessecador por 24 h, trituradas em gral, tamisadas (42 mesh) e acondicionadas. Malaxagem (MA) Adaptada de Maulvi e outros (2011). Colocou-se o excipiente (0,75 e 3 g) em gral e adicionou-se 5 mL de água destilada, homogeneizou-se. Adicionou-se então 3 g de SINV ao gral e triturou-se por 30 min, formando uma pasta, sendo essa secada em estufa a 60ºC por 24 h. Após isso a mistura foi passada por tamis de 42 mesh e acondicionada. Misturas Físicas (MF) Foram preparadas misturas físicas nas mesmas proporções das dispersões sólidas através de simples mistura, seguida de tamisação. 2.1.2 Teor de Fármaco nas Dispersões Sólidas Para quantificar o teor de SINV nas dispersões sólidas foi escolhido o método espectrofotométrico por ser mais acessível, rápido e econômico (SILVA et al, 2010). 56 2.1.2.1 Método 2.1.2.1.1 – Varredura no Espectrofotômetro Para verificar qual o comprimento de onda adequado a fim de avaliar o teor de fármaco e as concentrações a serem utilizadas na curva de calibração foi feita uma varredura exploratória no espectrofotômetro na faixa de 200 a 400 nm utilizando concentrações na faixa de 2 a 50 µg/mL partindo de uma solução estoque de 100 µg/mL em metanol. 2.1.2.1.2 Preparação das Amostras para Doseamento As amostras foram diluídas em metanol, filtradas em filtro de seringa de 0,22 µm e feita a leitura espectrofotométrica (238 nm) em triplicata. Os valores das leituras foram convertidos em concentração através da utilização de uma curva de calibração.Foi utilizado metanol como branco. O teor de fármaco nas dispersões sólidas foi avaliado considerando a concentração teórica de SINV, bem como as quantidades de excipientes nas pesagens das amostras, todas em triplicata. 2.1.3 Ensaio de Solubilidade 2.1.3.1 Materiais Água destilada Lauril Sulfato de Sódio - Marca VETEC (Brasil) Tubos Falcon 15 mL Pipetador Automático volume variável Balões Volumétricos 25 e 50 mL Filtros de seringa 0,45 µm (nylon) (Simplepure) (USA) Incubadora de bancada com agitação orbital (Shaker) – modelo TE 420 marca TECNAL Espectrofotômetro UV/VIS – marca Biochrom Libra S21 / S22 57 2.1.3.2 Método Para o Ensaio de Solubilidade foram utilizados os seguintes parâmetros: Temperatura - 37 ± 1ºC Agitação - 150 rpm Tempo – 24 h As amostras foram selecionadas e pesadas considerando os resultados do doseamento e a proporção fármaco: carreador nas dispersões sólidas, sendo colocado o equivalente a 25 mg de sinvastatina em tubos Falcon com 12,5 mL de água destilada (2 mg/mL), ou seja, uma solução saturada, visto que a solubilidade da sinvastatina em água é de 0,03 mg/mL; por essa razão a água foi o solvente escolhido. Todas as amostras foram feitas em triplicata. Os parâmetros foram pré-definidos anteriormente. Ao final do experimento as amostras foram diluídas, retirando 70 µL do tubo Falcon, colocadas em balão volumétrico de 25 mL e completado com água. A concentração final teórica foi de 5,6 µg/mL. As amostras foram filtradas e lidas em espectrofotômetro (238 nm), sendo usada uma curva de calibração, sendo o fármaco diluído em LSS 0,3%. 2.1.4 Estudo de Solubilidade de Fases O estudo de solubilidade de fases foi feito com o objetivo de avaliar a solubilidade da sinvastatina frente a proporções variáveis de carreadores, tendo como base o parâmetro termodinâmico Energia Livre de Gibbs (ΔG); com a elaboração dos diagramas de fases foi possível compreender as interações moleculares que promoveram o aumento de solubilidade. A metodologia foi adaptada de Higushi e Connors (1965), Arias, Moyano, Ginés (1998), Biswall e colaboradores (2008). 2.1.4.1 Materiais: Sinvastatina Excipientes PEG, PVP, LSS, Soluplus Incubadora de Bancada com Agitação Orbital (Shaker) – modelo TE 420 58 Espectrofotômetro UV/VIS – marca Biochrom Libra S21 / S22 Tubos Falcon 50 mL Pipetador automático volume variável 100-1000 µL. Balão volumétrico 25 mL Filtro de seringa 0,45 µm (nylon) Seringa descartável 10 mL 2.1.4.2 Metodologia Um excesso de fármaco foi colocado em tubos Falcon contendo 25 mL de água destilada com proporções variáveis de carreador, sendo mantidos a 37±1ºC, com 150 rpm de agitação, por 24 h (todas as amostras em triplicata). As proporções fármaco:carreador usadas foram 1:0,25, 1:0,5, 1:1, 1:2, 1:3 e 1:4 e os carreadores utilizados foram PEG, PVP, LSS e SOL. As amostras foram lidas em espectrofotômetro (238 nm) após diluição das amostras, onde foi retirada uma alíquota de 150 µL e elevado a 25 mL em balão volumétrico, filtradas e lidas em espectrofotômetro, sendo utilizada água como branco e solução de SINV como referência. Todas as amostras foram feitas em triplicata.Os valores de absorvância encontrados foram plotados numa curva de calibração de sinvastatina em água utilizando uma solução de LSS como co-solvente (0,3%), sendo utilizada uma equação de reta e pontos variáveis. Os valores de Energia Livre de Gibbs (ΔG) foram obtidos utilizando a Equação (9) ΔG = -2,303.RT.logSs/S0……………………………………………………………(9) Onde R é a constante universal dos gases (8,313 J/mol K), T a temperatura (em Kelvin), Ss é a solubilidade molar do fármaco na presença do carreador. e S0 a solubilidade molar do fármaco sem o carreador 59 2.2 Resultados e discussão As dispersões sólidas, após serem produzidas, foram submetidas à avaliação do teor de fármaco por espectrofotometria no UV e apresentaram valores entre 97,8 e 107,3% da concentração teórica (curva de calibração y=0,0536x+0,0434, R2 = 0,9998). A varredura exploratória no espectrofotômetro demonstrou que a banda de maior absorção foi em 238 nm. As dispersões sólidas PVP-2 (SD) e LSS-2 (SD) apresentaram resultados inferiores a 90% e foram descartadas, pois de acordo com a monografia oficial é aceitável um teor de sinvastatina em comprimidos na faixa de 90-110% (USP 30). Somente PEG produziu dispersões sólidas com a técnica FC. As amostras foram então submetidas com as respectivas misturas físicas ao ensaio de solubilidade, tendo sido os resultados representados na Tab.1. 60 Tabela 1– Resultados do ensaio de solubilidade de dispersões sólidas AMOSTRA PEG-1(FC) PEG-2(FC) PEG-1(SD) PEG-2(SD) SOL-1(SD) SOL-2(SD) PEG-1(MA) PEG-2(MA) PVP-1(MA) PVP-2(MA) LSS-1(MA) LSS-2(MA) SOL-1(MA) SOL-2(MA) PEG-1(ES) PEG-2(ES) PVP-1(ES) PVP-2(ES) LSS-1(ES) LSS-2(ES) SOL-1(ES) SOL-2(ES) SOLUBILIDADE DE SATURAÇÃO (µg/mL)a 0,90±0,02 0,83±0,02 0,62±0,01 2,31±0,04 0,47±0,01 0,40±0,09 0,65±0,06 1,04±0,02 0,69±0,02 0,85±0,08 0,92±0,05 1,33±0,07 0,62±0,03 2,56±0,17 0,70±0,03 1,41±0,02 0,66±0,02 1,67±0,09 0,64±0,03 2,50±0,03 1,02±0,03 0,57±0,01 AUMENTO DE SOLUBILIDADE (VEZES) 1,96 1,80 1,35 5,02 1,41 2,26 1,5 1,85 2,0 2,90 1,35 5,60 1,52 3,06 1,43 3,63 1,39 5,43 2,22 1,23 Dados de solubilidade de saturação da SINV – 0,46 µg/ml ±0.02a a – desvio padrão (n=3) Curva de calibração y = 0,0772x + 0,0146 (R2 = 0,9997) PEG-polietilenoglicol, PVP – polivinilpirrolidona, LSS – lauril sulfato de sódio, SOL Soluplus SD – Spray Dryer, MA – malaxagem, ES – evaporação com solvente, FC – fusão com carreador 1 – proporção 1:0,25 fármaco:carreador, 2 – proporção 1:1 fármaco:carreador Aumento da Solubilidade (vezes) = solubilidade de saturação dispersão sólida/ solubilidade de saturação SINV Em todas as dispersões sólidas houve aumento da solubilidade do fármaco, exceto em SOL-2(SD) e nas misturas físicas. De forma geral houve maior aumento de solubilidade nas proporções 1:1, o que não ocorreu com SOL-2 (ES) onde a solubilidade foi menor que seu correspondente em menor proporção [SOL-1(ES)]. Pelos resultados da Tabela 1, verificou-se a influência da técnica no aumento de solubilidade, como no caso do carreador PEG, onde ocorreu aumento em todas as técnicas, porém na ordem SD>ES>MA>FC. Os demais carreadores (proporção 1:1) produziram aumento de solubilidade somente com as técnicas ES e MA; em ambas as técnicas uma temperatura de 60°C foi utilizada, mas em MA houve o processo de moagem, além de aquecimento 61 mais prolongado do que em ES; é possível que esses fatores tenham contribuído para um melhor resultado. As dispersões sólidas selecionadas para caracterização foram SOL-2 (MA), LSS-2 (ES) e PEG-2 (SD) com aumento de solubilidade de 5,60, 5,43 e 5,02 vezes, respectivamente. Comparando os valores por ANOVA (Fator Único) não houve diferença significativa entre as médias (p<0,05), nas condições testadas. Com os dados de solubilidade de saturação da sinvastatina foi calculado a Energia Livre de Gibbs (ΔG) conforme as Tabelas 2-5. As concentrações foram convertidas em percentual do carreador para melhor avaliação dos resultados. Foi utilizada a curva de calibração com equação de reta ( y = 0,0622x – 0,0227, R2 = 0,9963) e os pontos 0,04; 0,28; 1,0; 3,0; 6,0; 9,0;12,0 µg/mL. Tabela 2 – Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo PEG Conc. PEG (% p/p) Conc. SINV µg/mL a 37ºC (n = 3 ±DP*) Energia Livre de Gibbs ( J/Mol) 0 0,40±0,02 - 20 33 0,47±0,01 0,57±0,02 -397,3 -903,4 50 0,58±0,07 -948,4 67 75 0,63±0,02 1,69±0,02 -1162,3 -3705,9 80 2,64±0,06 -4855,7 DP* - Desvio Padrão Tabela 3 – Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo PVP Conc. PVP (% p/p) Conc. SINV µg/mL a 37ºC (n = 3 ±DP*) Energia Livre de Gibbs ( J/Mol) 0 0,40±0,02 20 0,38±0,04 +140,7 33 0,39±0,01 +73,5 50 0,50±0,01 -575,5 67 75 0,51±0,02 1,36±0,15 -617,7 -3145,6 80 2,60±0,03 -4816,3 DP* - Desvio Padrão 62 Tabela 4 - Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo LSS Conc.LSS (% p/p) Conc. SINV µg/mL a 37ºC (n = 3±DP*) Energia Livre de Gibbs ( J/Mol) 0 0,40±0,02 20 33 0,41±0,02 0,48±0,02 -53,1 -460,9 50 0,69±0,09 -1397,0 67 75 1,04±0,05 3,26±0,17 -2454,5 -5399,4 80 2,34±0,06 -4544,7 DP* - Desvio Padrão Tabela 5 – Cálculo da Energia Livre de Gibbs nas amostras contendo SOL Conc. SOL (% p/p) Conc. SINV µg/mL a 37ºC (n = 3 ±DP*) Energia Livre de Gibbs ( J/Mol) 0 0,40±0,02 - 20 0,40±0,02 - 33 0,42±0,02 -118,7 50 0,44±0,01 -238,3 67 0,47±0,02 -406,5 75 11,60±0,03 -8670,9 80 11,70±0,02 -8693,0 DP* - Desvio Padrão Avaliando a solubilidade de saturação do fármaco nos diversos carreadores, observou-se que o melhor resultado foi obtido com SOL a 80% (11,70 µg/mL), o que está de acordo com o afirmado pelo fabricante de que a simples mistura com fármaco aumenta a solubilidade aquosa, provavelmente devido a propriedade anfifílica do carreador.O mesmo ocorreu com os demais carreadores. Com relação ao parâmetro termodinâmico Energia Livre de Gibbs (ΔG), compreende-se que valores negativos significam um processo de solubilização espontânea do fármaco, com um maior grau de entropia e, portanto, mais estável, sendo que quanto mais negativos os valores mais espontaneamente ocorre a solubilização do fármaco no sistema (SINKO, 2008). Foram elaborados diagramas de fases, tendo sido calculadas as constantes de estabilidade (Ks) com os dados de solubilidade de saturação (Figura 17) para 63 melhor visualizar o comportamento do fármaco frente aos diversos carreadores quanto ao aumento de solubilidade. Figura 17- Diagrama de solubilidade de fases de SINV na presença de concentrações crescentes de carreadores (n=3) Os diagramas de fase apresentaram perfil do tipo A (HIGUCHI; CONNORS, 1965), ou seja, ocorreu um aumento da solubilidade da SINV com o aumento da concentração de todos os carreadores. Os diagramas de PEG e PVP apresentaram estequiometria de solubilização do tipo 1:1, com produtos formados sendo de primeira ordem em relação ao fármaco e ao carreador, com desvio de linearidade positiva com diagramas tipo AL. Porém os diagramas com LSS e SOL possuem uma tendência a estequiometria 1:2 a partir da segunda metade da curva, onde o produto formado é de primeira ordem tanto com relação ao fármaco, mas de segunda ordem em relação ao carreador (diagramas tipo AL + AP). Com relação a constante de estabilidade dos produtos formados (KS), a maior estabilidade foi observada em LSS e em SOL a menor. Esses resultados estão de acordo com os resultados de Energia Livre de Gibbs, demonstrando que reações que ocorrem de forma mais espontâneas fornecem produtos mais estáveis. 64 PARTE 3 CARACTERIZAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS 65 PARTE 3 CARACTERIZAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS As dispersões sólidas PEG-2(SD), LSS-2(ES) e SOL-2(MA) foram selecionadas para caracterização através do ensaio de solubilidade. A utilização de estratégias para aumentar a solubilidade de fármacos fracamente solúveis, tais como modificação da cristalinidade, uso de solventes, formação de complexos entre outros, pode conduzir a alterações de ordem física ou química. Desse modo a caracterização torna-se de extrema importância, pois quanto maior o número de informações sobre o produto obtido, tais como propriedades físico-químicas, propriedades termodinâmicas, interações fármaco-excipiente, características das partículas, cristalinidade, melhor será a compreensão dos mecanismos envolvidos no aumento de solubilidade e na estabilidade do produto formado e maiores as possibilidades de propor modificações nas técnicas de desenvolvimento. Com essa visão foram utilizadas nesse estudo técnicas já consagradas na caracterização do estado sólido como análise no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), calorimetria diferencial de varredura (DSC), difração de raios X do pó (PDRX), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e análise e distribuição do tamanho de partícula (DTP), além de duas outras técnicas muito úteis e pouco utilizadas até o momento. A primeira consiste na análise de dados de PDRX pelo software 4.2 TOPAS (BRUKER), que permite verificar a cristalinidade das amostras de forma quantitativa e dessa forma verificar o percentual de contribuição amorfa, ainda pouco utilizado na indústria farmacêutica, onde os dados de PDRX são normalmente analisados pela observação do padrão de difração (análise qualitativa) (FERG; SIMPSON, 2013). Outra técnica utilizada foi a espectroscopia de imagem por infravermelho próximo, que é uma tecnologia emergente a qual gera imagens com diferenças espectrais através de contrastes em pixels, fornecendo a superfície de distribuição de componentes químicos numa amostra e que são analisados através de métodos quimiométricos, determinando desse modo o grau de homogeneidade da amostra (RAVN; SKIBSTED; BRO, 2008). 66 3.1 Procedimento Experimental 3.1.1 Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) Cerca de 1,0 mg de cada dispersão sólida foi misturado a 30,0 mg de brometo de potássio utilizando um almofariz de ágata. Em seguida as pastilhas foram obtidas em prensa hidráulica. As análises foram realizadas em espectrômetro de infravermelho por transformada de Fourier (Prestige 21, Shimadzu, Japão), sendo os espectros adquiridos na faixa de 4000 cm-1 a 400 cm-1 3.1.2 Difratometria de Raios X do Pó utilizando o software Topas (PDRXTOPAS) Para análise por difração de raios x do pó foi utilizado um difratômetro Bruker AXS modelo D5000 (Siemens), tubo emissor de cobre (1,54060 Ǻ), geometria θ-2θ, tensão aplicada de 40 KV, corrente de 30 mA, θi = 5º, θf = 45º, tamanho de passo de 0,02, velocidade de 20º/min. O grau de cristalinidade foi calculado através do software DIFFRAC SUITE TOPAS 4.2 (Bruker), da última geração de softwares que utiliza os princípios do método de Rietveld. A área integrada de cada pico cristalino foi calculada com uma função de pico Parâmetro Fundamental, numa faixa de ângulo de 5 a 40º 2θ. A área de contribuição do ruído de fundo foi estimada usando um polinômio de quinta ordem. Os picos cristalinos nas dispersões sólidas foram selecionados baseados no padrão de difração de SINV fornecidos na literatura (DIXIT; NAGARSENKER, 2010) (PATEL; PATEL, 2008). A contribuição amorfa foi calculada com dados de região do difratograma em forma de halo, tendo a intensidade integrada. 3.1.3 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) As análises foram feitas utilizando um calorímetro diferencial exploratório de marca DSC 60 – Shimadzu (Japão) e calibrado com Índio/Zinco. As 67 amostras foram hermeticamente fechadas em cadinhos de alumínio com 4,0 mg ±0,4 (exceto amostras contendo SOL onde foram utilizados cadinhos parcialmente fechados para melhor visualização do evento de fusão de SINV) e aquecidas na razão de 10ºC/min na temperatura de 26 à 400ºC, sob atmosfera inerte de nitrogênio com razão de 50 mL/min. 3.1.4 Espectroscopia de Imagem no Infravermelho Próximo (NIR-CI) A distribuição dos componentes nas dispersões sólidas e as suas misturas físicas foram avaliadas pela técnica NIR-CI. O pó foi prensado a fim de se obter comprimidos com a superfície plana, adequados para análise de imagem NIR. As imagens (Mapas de Distribuição) foram obtidas utilizando um equipamento NIR Imaging System (Spotlight 400N FT-NIR Imaging, PerkinElmer), em uma área de 4000 x 4000μm, usando as seguintes condições espectrais: pixel de 50 mm, 32 varreduras / pixel, resolução espectral de 4 cm-1 e gama espectral de 7800 - 4000 cm-1. Foi utilizada uma superfície de ouro polida como referência para cálculo da reflectância relativa (R relativa = Ramostra/Rreferência). A análise dos dados foi realizada pelo método quimiométrico de regressão dos Mínimos Quadrados Clássicos (CLS), já que todos os compostos puros presentes na amostra eram conhecidos antecipadamente. Os cálculos CLS foram realizados em ambiente Matlab 7.8, com PLS Toolbox versão 6.7. Um pré-tratamento foi realizado por Correção de Espalhamento Multiplicativo (Multiplicative Scattering Correction, MSC) para remover influências de espalhamento devido a diferenças no tamanho das partículas, sendo obtidos histogramas de concentração (valores previstos em pixels), os quais permitem compreender as características de homogeneidade das imagens. Para análise dos Mapas de Distribuição deve-se observar que os pixels que tendem ao vermelho no mapa de distribuição do lado esquerdo serão sempre relativos à SINV e terão suas correspondências em pixels que tendem ao azul no mapa do lado direito. 68 3.1.5 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) As amostras foram pré-tratadas com deposição de uma camada de ouro sobre a superfície e as medições foram realizadas com um Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) JEOL JMS 6360-LV com microssonda de Raios-X, sendo aplicada uma voltagem de 20 kV. 3.1.6 Análise e Distribuição do Tamanho de Partícula (DTP) As amostras foram colocadas sobre uma lâmina de vidro e as medições do tamanho de partículas foram realizadas com lentes objetiva de 40 x, utilizando o parâmetro do diâmetro de Feret, sendo contadas 500 partículas. Com os valores obtidos foi calculada a distribuição de tamanho de partícula para cada amostra. Para as análises foi utilizado um microscópio óptico LEICA DM-500 (Leica Application Suite - LAS Sistema de Análise de Imagem). 3.1.7 Comparação das dispersões sólidas produzidas com PEG A fim de avaliar a contribuição do método no aumento de solubilidade foram escolhidas as amostras PEG-2(MA) e PEG- 2 (ES) para serem analisadas por FTIR, PDRX e DSC, já descritos nos itens 3.1.1, 3.1.2 (porém não foi feita a análise por Topas) e 3.1.3, respectivamente e assim verificar se ocorreram modificações físico-químicas. Os resultados foram comparados com os de PEG-2(SD). As amostras com PEG foram escolhidas por ter sido o carreador onde foi possível produzir dispersões sólidas em todos os métodos. 3.2 Resultados e Discussão 3.2.1 Interações Físico-Químicas As interações físico-químicas nas dispersões sólidas selecionadas foram avaliadas por FTIR, DSC e PDRX-TOPAS e encontram-se na Figura 18 – 20. 69 Figura 18 – Avaliação das interações físico-químicas em PEG-2(SD) Tabela 6 - Dados DSC de SINV, PEG-2(SD), PEG-2(MF) e PEG SINV PEG PEG-2(MF) PEG-2(SD) Pico de Fusão (ºC) 140,10 68,73 70,47 57,38 Onset(ºC) 138,63 63,66 64,91 51,85 Endset(ºC) 142,20 72,65 74,12 62,33 Os dados das amostras PEG-2(SD) e PEG-2(MF) referem-se somente ao carreador No espectro FTIR de SINV os picos característicos são observados em 3.548 cm-1 (estiramento vibracional de OH de álcool), 3011 cm-1 (estiramento vibracional de C-H olefínico), 2952 e 2872 cm-1(estiramento vibracional simétrico e assimétrico de C-H de metila e metileno), 1712 e 1698 cm-1 (associado com estiramento C=O de lactona e C=O de éster), 1465 e 1390 cm1 (associado com balanço vibracional de grupos metila e metileno), 1269, 1228 e 1073 cm-1 (relacionado com balanço vibracional C-O-C de grupos lactona e éster), 1055 cm-1 (estiramento vibracional C-O de álcool secundário) e 870 cm-1 (vibração C-H de olefina trissubstituída) (PATEL; PATEL, 2008) (MOHAMMADI 70 et al, 2010) (PANDYA et al, 2008) (AMBIKE; MAHADIK; PARADKAR, 2005) (JUN et al, 2007) (RAO et al, 2010). No espectro de PEG-2(SD) (Figura 18) ocorreu um intenso alargamento com diminuição da intensidade do pico em 3553 cm-1 (estiramento vibracional de OH de álcool), bem como em 2955 e 2841 cm-1(estiramento C=O de lactona em1710 cm-1 e C=O de éster em1690 cm-1). Além disso, ocorreu a supressão dos picos em 1710 e 1690 cm-1 (estiramento C=O de lactona e éster). Esse perfil deixa evidente a interação química ocorrida em PEG-2(SD). A análise do difratograma de PEG-2(SD) por Topas revelou uma cristalinidade do fármaco de 18,2%, ou seja, com 81,8% de amorfização. Um sólido amorfo é mais solúvel por ter um arranjo molecular com ligações mais fracas que um arranjo cristalino e, portanto, maior instabilidade química, ou seja, existe a tendência ao retorno da forma cristalina (SINKO, 2008). É importante destacar o conceito de amorfo segundo as bases teóricas da difratometria de raios x. Para isso é preciso compreender o que é um material cristalino, no qual os átomos estão situados em um arranjo com ângulos com mesmos valores e que se repetem, ou seja, tem ordem de longo alcance, simetria. O material amorfo não possui esse padrão (CALLISTER JUNIOR, 2008). É possível ocorrer duas amostras de mesma natureza, com mesma geometria cristalina, porém com distribuição diferente dos elementos químicos dentro dos cristais, o que pode se refletir em propriedades físico-químicas diversas (CULLITY; STOCK, 2001). Esses dados associados com a diminuição ou supressão de bandas ocorridas em FTIR são indicativos de uma possível formação de complexo entre PEG e SINV, no qual a porção não complexada é responsável pela presença de bandas inalteradas no espectro FTIR. A formação deste tipo de complexo, em que moléculas maiores envolvem menores pode ocorrer através da formação de ligações não covalentes, como pontes de hidrogênio, ligações iônicas, Van der Waals, etc (YANG et al, 2008) (WOJNAROWSKA et al, 2010) (FREEMAN, 1984). Existem relatos na literatura sobre a formação de ligações de hidrogênio intermoleculares na SINV (CEJKA et al, 2003); nesse caso existe a possibilidade da SINV formar pontes de hidrogênio intermoleculares com 71 PEG, deixando hidroxilas da SINV livres e capazes de formar também pontes de hidrogênio com a água. A curva de DSC de PEG-2(SD) (Figura 18) mostrou uma supressão do pico de fusão da SINV, sugerindo a possibilidade de formação de complexos, reforçada pela diminuição e mesmo supressão das bandas no espectro de FTIR, o que caracteriza uma modificação química e física (PATEL; PATEL, 2008) (JUN et al, 2007) ( DIXIT; NAGARSENKER, 2010) (TAKAHASHI, 2009) . Outra possibilidade é a solubilização do fármaco havendo a diminuição ou desaparecimento do pico deste e só aparecendo o pico de fusão do carreador, fenômeno que pode ocorrer quando utilizados carreadores de baixo ponto de fusão (caso do PEG) durante a análise por DSC, sendo então um processo físico (OLIVEIRA; YOSHIDA; GOMES, 2011). É possível que o fenômeno tenha ocorrido com PEG-2(MF). Figura 19 - Avaliação das interações físico-químicas em LSS-2(ES) 72 Tabela 7 – Dados DSC de SINV, LSS-2(MF) SINV LSS-2(MF) Pico de Fusão (ºC) 140,10 144,03 Onset(ºC) 138,67 140,22 Endset(ºC) 142,16 146,78 1,43 3,81 ΔT (ºC) ΔT = Onset – Pico de Fusão Pico de Fusão de LSS – 201,4ºC Evento Exotérmico em LSS-2(MF) – 174,08ºC Evento Exotérmico em LSS-2(ES) – 163,72ºC Todos os dados da tabela são relativos ao fármaco. Os dados de LSS-2(ES) não foram avaliados por não apresentar evento de fusão No espectro de LSS-2(ES) (Figura 19) observou-se que os picos característicos de SINV se mantêm, tanto na mistura física quanto na dispersão sólida, com o pico relativo ao estiramento vibracional de OH de álcool ocorrendo em 3553 cm-1, o estiramento vibracional simétrico e assimétrico de C-H de metila e metileno ocorrendo em 2955 e 2841 cm-1, respectivamente, e o estiramento C=O de lactona (1710 cm-1) e C=O de éster (1690 cm-1). Esses resultados demonstram que provavelmente não ocorreu modificação química no fármaco ao produzir a dispersão sólida com LSS. Com relação à LSS-2(ES) os dados de PDRX-TOPAS revelaram não ter havido perda de cristalinidade do fármaco. Na análise por DSC (Figura 19) houve mudança significativa na curva de LSS-2(MF), com desaparecimento do pico de fusão do carreador (201,4ºC), aparecimento de evento exotérmico em 174,08ºC e com pico de fusão da SINV em 144,03ºC. Porém em LSS-2(ES) o pico do fármaco é suprimido, ocorrendo novamente o evento exotérmico, porém em temperatura menor (168,17ºC). Alguns autores sugerem como uma explicação para as transições exotérmicas uma gama de fenômenos físicos (transição cristalina, adsorção) e químicos (decomposição, degradação por oxidação, etc) (BERNAL et al, 2002), porém o espectro FTIR não revelou uma modificação química nem em LSS-2(MF), nem em LSS-2(ES), restando então a possibilidade de um fenômeno de ordem física. Ionashiro (2005) também se referiu a eventos exotérmicos ocorridos em curvas DSC como fenômenos de transição cristalina. A supressão do pico de fusão da SINV na curva de LSS2(ES) sugere uma interação fármaco-carreador, visto não ter ocorrido em LSS2 (MF), porém não de ordem química, por não terem ocorrido modificação ou supressão de picos no FTIR. O evento exotérmico ocorre com a presença de 73 SINV, portanto fica clara a interação, não estando, porém, relacionada a aumento de solubilidade do fármaco, pois nenhuma mistura física apresentou aumento de solubilidade (Tabela 1). Uma possível explicação para o mecanismo de aumento da solubilidade de LSS - 2 (ES) é a formação de micelas em solução devido às propriedades surfactante de LSS (YAGUI; PESSOA; TAVARES, 2005) A concentração micelar crítica (CMC) do LSS em água a 25ºC é de 0,0082 M (BALES et al, 1998).O ensaio de solubilidade (item 2.1.3) foi feito em água a 37ºC com concentração de LSS na amostra de 0,5667 M. De acordo com Sinko (2008), substâncias anfifílicas com concentração acima da CMC quando em solução apresentam uma maior tendência de formação de micelas laminares, em contrapartida quando a concentração se encontra próxima à CMC formam-se micelas esféricas, porém ambas coexistem em equilíbrio no meio. Portanto pelas condições do experimento é possível ter ocorrido a formação de micelas. Figura 20 - Avaliação das interações físico-químicas em SOL-2(MA) 74 Tabela 8 - Dados DSC de SINV e SOL-2(MF) SINV SOL-2(MF) Pico de Fusão (ºC) 142,40 141,40 Onset (ºC) 140,75 138,51 Endset (ºC) 145,67 143,77 1,65 2,89 ΔT(ºC) ΔT = Onset – Pico de Fusão Todos os dados da tabela são relativos ao fármaco. Os dados de SOL-2(MA) não foram avaliados por não apresentar evento de fusão. No espectro FTIR de SOL-2(MA) (Figura 20) ocorreu o mesmo que em LSS-2(ES), ou seja, a presença de picos característicos do fármaco, com a sobreposição de picos de SOL em 3560 cm-1. Em 1730 e 1628 cm-1 ocorrem dois picos característicos de SOL, que se sobrepõem a 1723 e 1615 cm-1 de SINV. Os espectros de SOL-2(MA) e SOL-2(MF) têm perfis semelhantes, com exceção de um pico mais intenso em SOL-2(MA) em 1628 cm-1, que pode estar relacionado a grupamento amida de SOL, sugerindo interação, visto não ter ocorrido o mesmo em SOL-2(MF). Como SOL possui PEG em sua composição (Figura 7 do item 1.3.4.2.1.2) é possível ter ocorrido o mesmo mecanismo de formação de Pontes de Hidrogênio. A curva DSC de SOL-2(MA) não apresentou o pico de fusão do fármaco, possivelmente por ter sido completamente envolvido pelo carreador, visto que a proporção molar do fármaco é muito menor que SOL, o qual possui uma massa molecular em torno de 90.000 – 140.000 g/mol enquanto que a SINV tem massa molecular de 418,54 g/mol, ou seja, SOL tem uma massa molecular em torno de 275 vezes maior que SINV (SOLUPLUS – TECHNICAL INFORMATION - BASF, 2010). Portanto o perfil da curva DSC de SOL-2(MA) demonstrou interação, corroborado por seu correspondente espectro FTIR (Figura 20), onde ocorreu aumento da intensidade do pico em 1628 cm-1, já discutido no presente item como possivelmente relacionado a grupamento amida de SOL. A análise de SOL-2(MA) por PDRX-TOPAS demonstrou um grau de cristalinidade de 59,3% (40,7% do material amorfo). O carreador SOL também possui um caráter amorfo e existem relatos na literatura de outros fármacos que ao serem misturados com SOL em diferentes técnicas se tornaram também amorfos (BERNAL et al, 2002) (NAGY et al, 2012). Embora o aumento 75 de solubilidade de SOL-2(MA) tenha sido semelhante a PEG-2(SD) somente 40,7% da amostra encontra-se em estado amorfo enquanto em PEG-2(SD) o percentual de material amorfo é bem maior. Provavelmente a natureza anfifílica de SOL, com uma CMC de aproximadamente 7,6 ppm formando micelas em solução possa ter também contribuído para o aumento de solubilidade em SOL-2(MA). Novamente tem-se uma hipótese multifatorial para o aumento de solubilidade de SOL-2(MA), com influências da formação de micelas em solução, de material amorfo e de Pontes de Hidrogênio. 3.2.2 Comparação de PEG-2(ES), PEG-2(MA) e PEG-2(SD) As dispersões sólidas utilizando PEG foram analisadas por FTIR, DSC e PDRX para avaliar a contribuição da técnica nos resultados do ensaio de solubilidade e os resultados das análises encontram-se nas Figuras 21 – 30 e Tabela 11. 76 Figura 21 - Espectros infravermelho de SINV, PEG, PEG-2(MA), PEG-2(ES) e PEG-2(SD) 77 Figura 22 – Padrões de difração de SINV, PEG-2(SD), PEG-2(MA) e PEG2(ES) 78 Figura 23 – Curvas DSC de SINV, PEG, PEG-2(SD), PEG – 2 (ES), PEG-2(MA) e mistura física Tabela 9 - Dados DSC de SINV, PEG, dispersões sólidas e mistura física com PEG SINV PEG PEG-2(MF) PEG-2(MA) PEG-2(ES) PEG2(SD) Pico de Fusão (ºC) 143,02 68,73 69,97 64,41 63,55 57,38 Onset (ºC) 140,17 63,46 64,84 59,35 57,59 52,70 Endset (ºC) 146,16 72,62 73,21 69,26 68,58 62,17 Os dados das amostras contendo PEG referem-se somente ao carreador Há relatos na literatura em que foi usada a mesma proporção SINV e PEG, mas com técnicas diferentes em que o aumento dos valores de solubilidade foi menor do que o encontrado nesse estudo para PEG-2(SD). (SHINDE et al, 2012) (SILVA et al, 2010). Os dados de DSC, FTIR e DRX também foram diferentes; essas informações demonstram que o método utilizado influenciou nos resultados em nosso trabalho. Os espectros FTIR de PEG-2(ES) e PEG-2(MA) apresentaram perfis semelhantes à SINV, sugerindo não ter havido modificação química. Nas análises por PDRX observou-se amorfização em PEG-2(MA) e PEG-2(ES), menos evidentes que em PEG-2(SD), mas que podem explicar o aumento de solubilidade. Nas curvas DSC houve desaparecimento do pico do fármaco ocorrendo somente o pico de fusão do carreador; é possível que tenha ocorrido 79 um fenômeno de solubilização do fármaco, como já discutido acima para PEG2(MF). Em PEG-2(ES) e PEG-2(SD) foi utilizado etanol como co-solvente; existem relatos na literatura demonstrando o papel do co-solvente no aumento de solubilidade de fármacos, produzido pela quebra das ligações hidrofóbicas na interface fármaco/água (FIESE, HAGEN,1986, p.188). 3.2.3 Espectroscopia de Imagem de Infravermelho Próximo (NIR-CI) As dispersões sólidas foram caracterizadas pela técnica de NIR-CI quanto à homogeneidade de concentração dos componentes, bem como suas análogas com proporção menor de carreador (1: 0,25) e as misturas físicas correspondentes a cada proporção. Os resultados das proporções foram comparados para avaliar se existe correspondência quanto à homogeneidade. Os resultados dessas análises podem ser observados nas Figuras 24-35 e resumidos na Figura 36. 80 Figura 24 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL-1(MA) Porcentagem teórica de SINV (80 % ) - Porcentagem teórica de SOL (20 %) Porcentagem média de SINV (80,0 %* ) - Porcentagem média de SOL(20,1 %*) *Desvio Padrão = 4,4 81 Figura 25 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL1(MF) Porcentagem teórica de SINV (80 % ); Porcentagem teórica de SOL (20 %) Porcentagem média de SINV (75,4 % ); Porcentagem média de SOL(24,6 %) 82 Figura 26 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL2(MA) Porcentagem teórica de SINV (50 % ); Porcentagem teórica de SOL (50 %) Porcentagem média de SINV (52,5 % *); Porcentagem média de SOL(48,5%*) *Desvio Padrão = 7,0 83 Figura 27- Mapas de distribuição da concentração e histogramas de SOL2(MF) Porcentagem teórica de SINV (50 % ); Porcentagem teórica de SOL (50 %) Amostra muito heterogênea, com valores médios de concentração distantes dos valores teóricos, porém as imagens são perfeitamente complementares mostrando que os resultados das concentrações estão corretos (Figura 34). 84 Figura 28 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS1(ES) Porcentagem teórica de SINV (80 % ); Porcentagem teórica de LSS (20 %) Porcentagem média de SINV (79,6 % *); Porcentagem média de LSS(20,1%*) *Desvio Padrão = 2,6 85 Figura 29- Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS1(MF) Porcentagem teórica de SINV (80 % ); Porcentagem teórica de LSS (20 %) Porcentagem média de SINV (79,98 % *); Porcentagem média de LSS(19,99%*) *Desvio Padrão = 5,6 86 Figura 30 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS2(ES) Porcentagem teórica de SINV (50 % ); Porcentagem teórica de LSS (50 %) Porcentagem média de SINV (49,7 % *); Porcentagem média de LSS(50,2%*) *Desvio Padrão = 6,7 87 Figura 31 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de LSS2(MF) Porcentagem teórica de SINV (50 % ); Porcentagem teórica de LSS (50 %) Porcentagem média de SINV (49,9 % *); Porcentagem média de LSS(49,9%*) *Desvio Padrão = 8,4 88 Figura 32 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG1(SD) Porcentagem teórica de SINV (44,4%); Porcentagem teórica de PEG (11,1 %); Porcentagem teórica de AER (44,4%) Porcentagem média de SINV (43,3 % *); Porcentagem média de PEG (10,7%*) *Desvio Padrão = 3,5 89 Figura 33 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG1(MF) Porcentagem teórica de SINV (80%); Porcentagem teórica de PEG (20 %) Amostra muito heterogênea, com valores médios de concentração distantes dos valores teóricos, porém as imagens são perfeitamente complementares confirmando os resultados das concentrações (Figura 33). 90 Figura 34 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG2(SD) Porcentagem teórica de SINV (33,3%); Porcentagem teórica de PEG (33,3 %); Porcentagem teórica de AER (33.3%) Porcentagem média de SINV (34,1 % *); Porcentagem média de PEG (34,5%*) *Desvio Padrão = 1,4 91 Figura 35 - Mapas de distribuição da concentração e histogramas de PEG2(MF) Porcentagem teórica de SINV (50%); Porcentagem teórica de PEG (50 %) Amostra muito heterogênea, com valores médios de concentração distantes dos valores teóricos, porém as imagens são perfeitamente complementares, confirmando os resultados das concentrações (Figura 35). Não foi possível fazer a calibração multivariada com os resultados das amostras SOL-2(MF) (Figura 27), PEG-1(MF) (Figura 33) e PEG-2(MF) (Figura 35) por serem muito heterogêneas. Figura 36 – Gradiente de homogeneidade das dispersões sólidas por NIR-CI 92 Com exceção de PEG-2(SD), nas demais amostras proporções menores de carreador foram vantajosas para obtenção de uma maior homogeneidade. Esse resultado demonstra que houve influência da técnica de obtenção em PEG-2(SD). Em amostras muito homogêneas como LSS-1(ES) (Figura 28) e PEG2(SD) (Figura 34) não foi possível distinguir pixels relativos ao fármaco ou ao carreador, ficando os pixels todos misturados. A utilização de calibração multivariada nos resultados das amostras foi um grande diferencial para avaliar com clareza a homogeneidade das amostras, principalmente ao observar os desvios padrão que estão diretamente relacionados com perfil agudo do histograma, demonstrando valores próximos; numa análise somente dos mapas de distribuição não seria possível esse grau de refinamento. Os resultados dos histogramas estão resumidos na Figura 36, revelando que PEG-2(SD) apresentou a amostra mais homogênea (menor desvio padrão). Nas amostras preparadas por malaxagem (MA) e evaporação com cosolvente (ES) a menor proporção (1:0,25 – fármaco: carreador) apresentou maior homogeneidade, com exceção de secagem por spray dryer (SD). O tratamento quimiométrico aplicado nos dados dos mapas de distribuição foram fundamentais para avaliar a homogeneidade das amostras, haja vista que cada amostra pode gerar cerca de 10 mil espectros e esse método pode trabalhar com uma quantidade de dados dessa magnitude, fornecendo dados de forma inequívoca (CARNEIRO; POPPI, 2012). Avaliando os resultados de NIR-CI quanto a homogeneidade de teor do fármaco destaca-se PEG-2(SD), pois apresentou o menor desvio padrão com histograma agudo. Esse resultado é importante, pois uma amostra com componentes distribuidos homogeneamente auxilia no processo de solubilização do fármaco, quando esse encontra-se em solução. O método NIR-CI pode ser usado na pesquisa de transição polimórfica e na detecção de impurezas presentes em concentração muito pequenas de forma eficiente. Além disso é um método não destrutivo que utiliza a chamada “química verde”, livre de solventes (GENDRIN; ROGGO; COLLET, 2008). Pode ser também aplicado na indústria farmacêutica como um substituinte do teste de uniformidade de conteúdo e na validação de processos 93 de misturas com menor margem de erro, tornando com isso o processo final mais rápido. 3.2.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) As fotomicrografias obtidas por MEV (Figuras 37) permitiram visualizar a topografia de SINV e das dispersões sólidas selecionadas. Figura 37 – Fotomicrografias de SINV e dispersões sólidas obtidas por MEV A – SINV / B – LSS-2(ES) / C – SOL-2(MA) / D – PEG-2(SD) A análise por MEV revelou que as técnicas para produzir as dispersões sólidas resultaram em uma morfologia diferente de SINV (Figura 37 - A), sendo essa composta de cristais retangulares achatados. As amostras LSS-2(ES) 94 (Figura 37 - B) e SOL-2(MA) (Figura 37 - C) apresentaram dimensões variadas. Porém PEG-2(SD) apresentou morfologia bastante diferente com partículas tendendo à esfericidade, porosas, com dimensões mais homogêneas (Figura 37 - D), sendo essas características próprias de material obtido na secagem por “spray dryer”, já descritas por Oliveira e Petrovick (2010). Segundo Sinko (2008), partículas porosas podem adsorver gases e vapor d’água em seus interstícios promovendo o aumento da dissolução de seus componentes, o que seria um diferencial para as partículas de PEG-2(SD). Paudel e colaboradores (2013) ressaltaram também que a secagem por “spray dryer”, por ser uma técnica com rápida evaporação do solvente, facilita a formação de dispersões sólidas amorfas. 3.2.5 Distribuição do Tamanho de Partículas (DTP) O tamanho e distribuição das partículas do fármaco e das dispersões sólidas foram tabulados e organizados na forma de histogramas, conforme podem ser vistos na Figura 38. 95 Figura 38 – Histograma do Tamanho de Partícula de SINV (A), PEG-2(SD) (B), LSS-2(ES) (C) e SOL-2(MA) (D). Os histogramas de SINV (Figura 38 - A) e PEG-2(SD) (Figura 38 - B) revelaram assimetria positiva, ou seja, com uma maior concentração de partículas em menores dimensões. A amostra SINV apresentou 45,4% das partículas com diâmetro entre 5-8 µm; a amostra PEG-2(SD) apresentou uma distribuição de frequência de 96,4% no intervalo de 1-6 µm, sendo que 67,6% desse percentual apresentou tamanho entre 2-3 µm. As amostras LSS-2(ES) (Figura 38 – C) e SOL-2(MA) (Figura 38 – D) apresentaram histogramas com frequência de distribuição normal, ou seja, com maior número de partículas em tamanhos medianos. A amostra LSS-2(ES) apresentou a distribuição mais variada de todas com os maiores percentuais nos intervalos de 11-20 µm (35,6%) e 21-30 µm (37,4%); a amostra SOL-2(MA) apresentou maior percentual no intervalo de 11-20 µm (61,1%). Ambas as dispersões sólidas apresentaram tamanhos de partícula maiores que o fármaco isoladamente, de forma que a técnica utilizada não contribuiu para a diminuição 96 do tamanho de partícula, ou seja, não foi um fator que tenha contribuído para o aumento da solubilidade e sim a provável formação de micelas em LSS-2(ES) e SOL-2(MA) e a amorfização em SOL-2(MA). 3.2.6 Síntese da caracterização das dispersões sólidas selecionadas Os resultados encontrados na caracterização de PEG-2(SD), LSS-2(ES) e SOL-2(MA) estão resumidos no Quadro 3 abaixo. 97 Quadro 3 – Síntese dos Resultados da Caracterização das Dispersões Sólidas Selecionadas FTIR PEG-2(SD) DSC PDRXTOPAS Intensa Supressão do pico Intensa modificação do de fusão do amorfização espectro fármaco. . original da SINV. NIR-CI MEV Material muito Partículas porosas homogêneo e tendendo á quanto à esfericidade. concentração. LSS-2(ES) Sem Formação de pico Sem modificação do exotérmico e amorfização espectro desaparecimento . original da do pico de fusão SINV. do fármaco. Material pouco Placas achatadas homogêneo com dimensões quanto à variadas. concentração. SOL-2(MA) Discreta Supressão do pico Discreta modificação do de fusão do amorfização espectro fármaco. . original da SINV. Material pouco Placas achatadas homogêneo com dimensões quanto à variadas. concentração. . DTP Distribuição de frequência de 96,4% no intervalo de 1-6 µm, sendo que 67,6% desse percentual com tamanho entre 2-3 µm. Distribuição de frequência de 35,6% no intervalo de 11-20 µm e 37,4% no intervalo de 21-30 µm. Distribuição de frequência de 61,1% no intervalo de 11-20 µm . 98 PARTE 4 ESTUDO DA ESTABILIDADE DA SINVASTATINA E DISPERSÕES SÓLIDAS SELECIONADAS 99 PARTE 4 ESTUDO DA ESTABILIDADE DA SINVASTATINA E DISPERSÕES SÓLIDAS SELECIONADAS O estudo teve como foco avaliar a estabilidade físico-química de SINV, SOL2(MA) e PEG-2(SD) baseado na Resolução nº 1, de 29 de julho de 2005, da ANVISA (MS) (BRASIL. 2005) (estudo de estabilidade acelerada) através do teor de fármaco por espectrofotometria, difratometria de raios x do pó com análise por Topas (PDRXTOPAS) e calorimetria diferencial exploratória (DSC). 4.1 Procedimento Experimental 4.1.1 Materiais Para o estudo foram utilizadas amostras de SINV, PEG-2(SD) e SOL-2(MA), tubos eppendorf (1,5 mL transparentes) e metanol grau analítico. 4.1.2 Métodos As amostras foram acondicionadas em tubos eppendorf (triplicata) e colocadas em câmara climatizada marca Solab, modelo SL206/600 nas condições de 40ºC(±1) e 75% (±5) umidade relativa do ar (URA), sendo estudadas nos tempos inicial (T0), 90 (T90) e 180 dias (T180) (BRASIL, 2005) através da análise de teor de fármaco e DSC e nos tempos inicial (T 0) e 180 dias (T180) por PDRX-TOPAS. A metodologia para o teor de fármaco foi feita do mesmo modo que em 2.1.2; as análises por PDRX-TOPAS e DSC foram feitas como em 3.1.2 e 3.1.3, respectivamente. 4.2 Resultados e Discussão Os resultados do estudo de estabilidade através da análise do teor de fármaco nas amostras encontram-se na Figura 39. 100 Figura 39– Teor de SINV e dispersões sólidas durante o estudo de estabilidade. 12 114,66% SINV PEG-2(SD) SOL-2(MA) [SINV](µg/mL) 11 103,31% 95,42% 10 100,38% 91,92% 91,87% 9 84,96% 68,70% 8 0 30 60 90 67,04% 120 150 180 Tempo(dias) Desvio padrão SINV T 0 - 0,04; SINV T 90 – 0,04; SINV T 180 – 0,07; PEG-2(SD) T0 – 0,10; PEG-2(SD) T 90 – 0,02; PEG-2(SD) T180- 0,02; SOL-2(MA) T 0 – 0,03; SOL-2(MA) T 90-0,06; SOL-2(MA) T 180 – 0,01; n=3) Estabilidade físico-química é a capacidade de um produto se manter com as mesmas propriedades e características que possuía no momento de sua fabricação durante o período de estocagem A estabilidade de produtos farmacêuticos depende de fatores ambientais como temperatura, umidade e luz, e outros relacionados ao próprio produto como as propriedades físicas e químicas do fármaco e excipientes, a forma farmacêutica, o processo de fabricação, etc (BRASIL, 2005). De acordo com Silva e colaboradores (2009) e Ito (2012) a metodologia utilizada no estudo de estabilidade acelerada de medicamentos é ainda objeto de discussão no meio científico internacional, não existindo um texto padrão a ser seguido. No Brasil é utilizada a RE 01, de 2005 (Anvisa) (BRASIL. 2005), onde para medicamentos sólidos com armazenamento entre 15-30ºC, embalagem semi- 101 permeável o estudo de estabilidade acelerada deve ser conduzido em 40ºC/75% URA, com coletas nos tempos 0, 3 e 6 meses, modelo de estudo no qual o presente trabalho foi baseado. A resolução não deixa claro quais análises utilizar. São encontrados na literatura inúmeros artigos com o foco de aumentar a solubilidade de SINV através de variadas técnicas (VARGAS; RAFFIN; MOURA, 2012), porém poucos abordam a questão da estabilidade, fator primordial, sem o qual não é possível prosseguir na pesquisa, cujo objetivo final deve ser a obtenção de um medicamento, com qualidade, segurança e eficácia terapêutica. Segundo Oliveira e colegas (2010), onde foi avaliada a SINV em condições de estresse como a exposição à luz ultravioleta, exposição ao calor e oxidação, dentre essas apenas na ultima condição (oxidação) houve alteração, com formação de novos picos no cromatograma obtido por HPLC, deixando bem evidente a degradação da molécula. SINV apresenta grupamentos ésteres alifático e cíclico (lactona) e grupamento hidroxila ligado ao anel lactônico, que podem sofrer oxidação (CELESTINO, 2011). Como já visto por Oliveira e colegas (2010), SINV apresentou estabilidade ao calor, porém não foi testada a influência da umidade. Um fármaco quando oxidado apresenta diminuição de seu teor, nem sempre fornecendo provas, visual ou olfativa, de sua ocorrência (VADAS, 2004). Na Figura 42 observou-se que as dispersões sólidas PEG-2(SD) e SOL2(MA) apresentaram um perfil de degradação mais acentuado que o fármaco, sendo que em PEG-2(SD) houve redução do teor de 45,96%, de 8,51% em SOL-2(MA) e de 7,89% para a SINV em 90 dias. Ao final do experimento a redução total do teor em PEG-2(SD) foi de 47,62%, em SOL-2(MA) de 15,42% e de SINV de 11,39%. Os teores foram comparados entre grupos por ANOVA (fator único) (p<0,05) e apresentaram diferença significativa para todos os tempos de análise. Souza e colaboradores (2007) estudaram a cinética de degradação de SINV e verificaram que possui um modelo cinético de degradação de primeira ordem, onde a velocidade de reação é diretamente proporcional à concentração dos componentes da amostra. Pelo aspecto da reta correspondente a degradação de SOL-2(MA), essa parece se assemelhar a SINV sugerindo um perfil de degradação semelhante. Pelos resultados obtidos na análise de teor é possível ter ocorrido oxidação das dispersões sólidas de forma mais intensa do que no fármaco isolado, sendo ainda maior em PEG-2(SD). 102 Ao analisar os dados dos difratogramas pelo programa Topas, a discussão sobre a estabilidade das dispersões sólidas e SINV recebeu novo enfoque, o que definiu o rumo da discussão, comprovando ter sido a análise PDRX-TOPAS de fundamental importância na caracterização e acompanhamento da estabilidade cristalina das amostras. Nas Figuras 40- 42 e Tabela 12 estão representados os difratogramas obtidos através do tratamento dos dados de PDRX no programa computacional Topas (PDRX-TOPAS). Figura 40 – Análise por PDRX-TOPAS de SINV 180 dias. 7.733007 9.17757 10.01879 10.71858 16,000 14,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0 -2,000 5 6 7 8 14.72385 24.04334 15.4482 24.8673 16.39485 25.32391 17.02896 25.75339 12.56623 17.53377 26.19461 18.0822 27.67599 18.5896 28.16713 19.17339 28.95829 20.20931 29.51678 21.0213 30.75016 21.86729 31.52342 22.33924 31.68813 23.51396 34.622 34.66307 36.26344 38.88223 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Chave de cores: vermelho (linha de refinamento),verde (linha do difratograma), cinza (ruído de fundo), púrpura (contribuição amorfa). Figura 41 - Análise por PDRX-TOPAS de PEG-2(SD) 180 dias. 4,000 16.70375 16.8338 16.96385 18.00424 18.19932 18.29685 18.45942 18.687 18.97961 19.14218 3,500 3,000 2,500 2,000 1,500 1,000 500 0 -500 22.49095 25.64465 22.65351 25.93726 23.07617 23.27125 23.43381 -1,000 -1,500 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Chave de cores:vermelho (linha de refinamento),azul (linha do difratograma), cinza (ruído de fundo) 103 Figura 42 - Análise por PDRX TOPAS de SOL-2(MA) 180 dias. 9.119346 20.93856 31.1464 9.327403 21.82812 10.72147 22.29629 11.75676 23.18237 13.26116 24.51608 14.65507 25.84478 15.40176 27.72368 16.3203 28.60556 16.96552 17.44709 18.15653 18.54087 19.11021 8,000 7,000 6,000 5,000 4,000 3,000 2,000 1,000 0 -1,000 5 6 7 8 9 34.0858 42.46454 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 Chave de cores:vermelho (linha de refinamento),preto (linha do difratograma), cinza (ruído de fundo), púrpura (contribuição amorfa). Tabela 10 – Dados do cálculo do grau de cristalinidade por PDRX TOPAS em 180 dias do estudo de estabilidade SOL-2(MA)T180 PEG-2(SD)T180 SINV T180 Contribuição Cristalina 72741,59 7909,0 76340 Contribuição Amorfa 35582,97 34035 426,5 Grau de Cristalinidade 67,2% 18,7% 99,4% Grau de Refinamento 2,08 21,30 3,74 Os cálculos de cristalinidade feitos por Topas (Tabela 12) revelaram que não houve modificação da cristalinidade da SINV após 180 dias (99,4%). O mesmo ocorreu com PEG-2(SD) que apresentou uma baixa cristalinidade no tempo inicial (18,2%), não tendo se alterado após 180 dias (18,7%). Somente em SOL-2(MA) houve um aumento de cristalinidade de 7,9% (de 59,3 para 67,2%) em relação ao tempo inicial. Para o cálculo da cristalinidade de PEG-2(SD) por PDRX TOPAS foi utilizada a função FP (Parâmetro Fundamental); para o cálculo de SINV e SOL-2(MA) foi utilizada a função Pearson VII. As dispersões sólidas mantiveram o percentual de cristalinidade inicial, o que é uma informação importante, pois outros autores que utilizaram estratégias para aumentar a solubilidade de SINV com produção de material amorfo relataram o retorno ao estado cristalino do fármaco, ou seja, as amostras mostraram-se instáveis quanto à cristalinidade. É o caso de Margulis-Goshen e Magdassi (2009), os quais 104 verificaram que 14% da SINV amorfa retornou para a forma cristalina em 280 h na temperatura ambiente. A estabilidade do material amorfo só foi possível quando mantido a -12 º C, tendo sido estável por até 4 meses. Esse fato foi também observado por Zhang e colaboradores (2009) que avaliaram a estabilidade de SINV amorfa produzida por diferentes técnicas e verificaram a instabilidade dessa forma, havendo um retorno a forma cristalina durante o processo de estocagem, que é acelerado pelo aumento de temperatura. Ainda Zhang e colaboradores (2009) verificaram que partículas amorfas de SINV com tamanho menor que 10 µm apresentaram maior instabilidade física. Na presente tese as partículas de PEG-2(SD) foram caracterizadas por microscopia ótica como tendo 50% (já descrito em 3.2.5) das partículas com 1- 6 µm de tamanho. É provável que o tamanho reduzido de partícula tenha contribuído para uma degradação mais rápida, pois partículas menores possuem maior superfície de contato havendo maior interação com oxigênio atmosférico, facilitando a oxidação (instabilidade química), evidenciados pelas análises de teor. Graeser e colaboradores (2008) avaliaram a estabilidade da SINV amorfa, produzidas por duas técnicas diferentes: “crio-milling”, onde é feita uma moagem em condições criogênicas (nitrogênio líquido) e “quench-cooling”, onde o fármaco foi fundido (150ºC) e subitamente resfriado em nitrogênio líquido. Os autores colocaram ambos os materiais em estocagem a 20ºC com 35% URA e observaram que o produzido por “quench-cooling” não recristalizou, mesmo quando estocado a 40ºC; já o produzido por “crio-milling” recristalizou completamente em 20 h de estocagem a 20ºC, o que comprova que a técnica para modificação da cristalinidade da SINV pode comprometer a estabilidade cristalina. Esse resultado foi semelhante ao encontrado na presente tese, onde também não houve recristalização da SINV durante a estocagem. Correlacionando os resultados de teor do fármaco com os dados obtidos por PDRX-TOPAS (Tabela 10), nesse estudo de estabilidade, observou-se que os dados de cristalinidade foram mantidos, porém ocorreu degradação química, evidenciados pela diminuição do teor de fármaco, principalmente de PEG-2(SD), possivelmente pelo processo de secagem ser feito com ar ou pela diminuição do tamanho de partículas. As curvas DSC obtidas nas análises do estudo de estabilidade podem ser observadas nas Figuras 43-45 e os dados relativos às curvas nas Tabelas 13 e 14. 105 Figura 43 - Curvas DSC de SINV durante Estudo de Estabilidade. Tabela 11 – Dados obtidos a partir das curvas DSC para SINV. SINV T0 T90 T 180 Onset(ºC) 139,92 138,29 139,43 Pico de fusão (ºC) Entalpia de Fusão(J/g) 143,92 141,23 143,07 59,93 57,35 54,44 Figura 44 - Curvas DSC de PEG-2(SD) durante Estudo de Estabilidade 106 Tabela 12 – Dados obtidos a partir das curvas DSC para PEG-2 (SD) PEG-2(SD) T0 T90 T 180 Onset(ºC) 52,34 49,85 45,92 Pico de fusão(ºC) Entalpia de Fusão(J/g) 57,66 55,38 49,26 34,99 27,08 5,39 Dados referentes a PEG. Figura 45– Curvas DSC de SOL-2(MA) durante Estudo de Estabilidade Dados não calculados devido a ausência de eventos de fusão Os dados de DSC de SINV revelam um aumento do pico de fusão em torno de 2ºC (Tabela 13), havendo pequena modificação entre 90 e 180 dias, tendo os valores de entalpia de fusão se mantido próximos. Desse modo não houve modificação física de SINV nas condições de análise. Avaliando as curvas DSC de PEG-2(SD) (Figura 44) no período até 180 dias observou-se que o perfil da curva se manteve, porém o evento de fusão de PEG sofreu alteração (Tabela 14), tendo o pico de fusão do PEG deslocado para valores menores demonstrando a formação de produto mais instável, o que é confirmado pela diminuição da entalpia de fusão (STORPIRTIS et al, 2009). Essas informações estão de acordo com as obtidas por análise de teor para PEG-2(SD). As curvas DSC de SOL-2(MA) (Figura 45) apresentaram perfis semelhantes em todos os tempos de análise, sugerindo não ter ocorrido modificação física. 107 De forma geral as dispersões sólidas mantiveram a estabilidade quanto ao percentual de contribuição amorfa, bem como a cristalinidade de SINV. Porém quanto ao teor da SINV em ambas as dispersões sólidas houve provável degradação química, com possível oxidação, visto ser um fator de instabilidade do fármaco. Uma possibilidade de evitar essa degradação seria produzir um comprimido revestido logo após a preparação da dispersão sólida. Para uma compreensão mais completa da estabilidade de PEG-2(SD) e SOL-2(MA) é necessário identificar os produtos de degradação por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e repetir o estudo de estabilidade, porém em atmosfera inerte. Os achados sobre estabilidade da contribuição amorfa das dispersões sólidas no presente trabalho deixa clara a importância de estudar a cristalinidade dos fármacos com recursos como Topas, complementadas com análises que avaliem o aspecto químico dos mesmos. 108 PARTE 5 CONCLUSÃO 109 PARTE 5 CONCLUSÃO De acordo com os resultados encontrados conclui-se que houve aumento de solubilidade em todas as dispersões sólidas, com exceção de SOL-2(SD), com influência da técnica no aumento de solubilidade, como no caso das dispersões sólidas preparadas com PEG, onde se conclui que os mecanismos de aumento de solubilidade foram multifatoriais. Através da caracterização das dispersões sólidas utilizando FTIR, DSC e PDRX-TOPAS foi possível compreender as interações físico-químicas, bem como propor teorias para o aumento de solubilidade. Com o estudo de estabilidade foi possível avaliar o comportamento das dispersões sólidas ao longo do tempo. Esses aspectos são importantes para o aperfeiçoamento das técnicas de obtenção das dispersões sólidas de forma racional, sendo viável aprimorar as técnicas de PEG-2(SD) e SOL-2(MA) visando a estabilidade físico-química. O estudo de solubilidade de fases apontou que é possível utilizar proporções maiores de carreadores do que as utilizadas em nosso estudo, podendo ser restrita pela técnica de preparação. O carreador SOL apresentou grande potencial para o aumento da solubilidade de SINV, porém não através de secagem por “spray dryer” (SD). As propostas de teorias que explicam o aumento de solubilidade das dispersões sólidas, bem como o estudo de estabilidade preencheram uma lacuna na pesquisa para o aumento da solubilidade de SINV, colaborando com futuros trabalhos. A técnica PDRX-TOPAS deu um novo enfoque tanto na teoria proposta para o aumento de solubilidade das dispersões sólidas, quanto para o estudo de estabilidade, revelando a manutenção do estado amorfo de PEG-2(SD) e SOL2(MA). A técnica NIR-CI contribuiu com a informação sobre a homogeneidade dos componentes, podendo ser utilizado como uma alternativa mais rápida e eficiente ao teste de uniformidade de conteúdo e ao controle de qualidade dos processos de misturas realizados na indústria farmacêutica. 110 REFERÊNCIAS 111 REFERÊNCIAS ALI, Shaukal; KOLTER, Karl. Challenges and Opportunities in Oral Formulation Development.American Pharmaceutical Review, dec 2012. Disponível em: < http://www.americanpharmaceuticalreview.com/Featured-Articles/126887Challenges-and-Opportunities-in-Oral-Formulation-Development/> Acesso em 17 abr 2014. ALMEIDA, Hugo. Métodos para o incremento da solubilidade de substâncias activas pouco solúveis (BCS – Classe II). 2009.126 p. Dissertação (Mestrado em Farmacotécnica Avançada) - Universidade de Lisboa; Faculdade de Farmácia, Lisboa.Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/1868/1/Tese%20de%20Mestrado.pdf> Acesso em 20 mar 2014. ALSENZ, Jochem; KANSY, Manfred. 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Realizar ensaio de solubilidade de fases com SINV e SOL + lactose, maltodextrina ou ciclodextrina em diversas proporções para avaliar o comportamento termodinâmico, bem como a solubilidade de saturação. Com as amostras selecionadas, testar por extrusão a quente, por ser um método que o próprio fabricante (BASF) indica para ser utilizado com SOL; fazer a caracterização e estudo de estabilidade. 3. Produzir novas dispersões sólidas de SINV e PEG com concentrações maiores de PEG (pois o estudo de solubilidade de fases revelou resultados promissores em concentrações maiores de PEG), com otimização do método por spray dryer. Fazer a caracterização e estudo de estabilidade por termogravimetria das dispersões obtidas. 4. Com PEG-2(SD) e SOL-2(MA), objeto de estudo da presente tese, produzir comprimidos revestidos com a função de proteger as dispersões sólidas da oxidação; fazer novo estudo de estabilidade, comparando com estudo por termogravimetria (análise térmica). Avaliar o perfil de dissolução comparando com comprimidos comerciais de sinvastatina. Fazer estudo de permeabilidade intestinal (in vitro) e se o resultado for satisfatório fazer estudo de biodisponibilidade (in vivo). 5. Avaliar através de Topas a disposição dos átomos componentes das dispersões PEG-2(SD) e SOL-2(MA) dentro da rede cristalina e a conformação espacial 122 desta para melhor entendimento das características verificadas nas demais análises executadas. 123 PRODUÇÃO RESULTANTE DO PROJETO DE TESE 124 PRODUÇÃO RESULTANTE DO PROJETO DE TESE Artigo 1 (publicação) - VARGAS, Mara Rúbia Winter; RAFFIN, Fernanda Nervo; MOURA,Túlio Flávio Accioly de Lima. Strategies used for to improve aqueous solubility of simvastatin: a systematic review. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, V.33, n.4, p. 497-507, 2012. Artigo 2 (submissão) – VARGAS, Mara Rúbia Winter et al. Solid dispersions of simvastatin: solubility improvement, characterization and evaluation of interactions. AAPS PharmScitech.