VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Rio de Janeiro / 2007 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. U n3p Universidade Castelo Branco. Filosofia da Educação. – Rio de Janeiro: UCB, 2007. 48 p. ISBN 978-85-86912-18-4 1. Ensino a Distância. I. Título. CDD - 371.39 Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br Responsáveis Pela Produção do Material Instrucional Coordenadora de Educação a Distância Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Coordenadora do Curso de Graduação Ana Cristina Noguerol - Pedagogia Conteudista Giana Claudia de Castro Araújo Atualizado por Liliana Lúcia da Silveira Barbosa Supervisor do Centro Editorial – CEDI Joselmo Botelho Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Orientações para o Auto-Estudo O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades complementares. As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2, 3 e 4. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos! Dicas para o Auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5 - Não pule etapas. 6 - Faça todas as tarefas propostas. 7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 9 - Não hesite em começar de novo. Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor SUMÁRIO Quadro-síntese do conteúdo programático.................................................................................................... 11 Contextualização da disciplina ......................................................................................................................... 14 UNIDADE I FILOSOFIA E EDUCAÇÃO 1.1 - A reflexão filosófica .................................................................................................................................... 15 1.2 - As filosofias da educação ......................................................................................................................... 17 1.3 - A práxis educacional ................................................................................................................................... 18 UNIDADE II VALORES E EDUCAÇÃO 2.1 - Axiologia ...................................................................................................................................................... 22 2.2 - O papel dos valores na educação: a formação do juízo moral............................................................... 23 UNIDADE III FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 3.1 - As principais tendências da educação no Brasil..................................................................................... 26 3.2 - A educação popular .................................................................................................................................... 31 3.3 - Correntes pedagógicas contemporâneas................................................................................................. 32 UNIDADE IV TRANSDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO 4.1 - A abrangência do termo transdisciplinar.................................................................................................. 4.2 - Educação transdisciplinar ......................................................................................................................... 39 39 Glossário ............................................................................................................................................................... 42 Gabarito ............................................................................................................................................................... 43 Referências bibliográficas ................................................................................................................................. 46 Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor Quadro-síntese do conteúdo programático UNIDADE UNIDADE I: FILOSOFIA E EDUCAÇÃO 1.1. A reflexão filosófica OBJETIVOS BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICOS BÁSICA 1.1. Iniciar o aluno na forma de raciocinar filosoficamente, através da história da Filosofia e das questões apresentadas. 1.1.1. BUZZI, A. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1989. p. 174. 1.1.2. FULLAT, O. Filosofias da Educação. 1.1.1. As origens da Filosofia 1.1.2. O estudo da Filosofia e suas tarefas 1.2. As filosofias da educação 11 Petrópolis: Vozes, 1999. 1.2. Demonstrar a especificidade das concepções de educação no raciocícinio filosófico. 1.2.1. ARANHA, M. L. de A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1998. 1.2.2. FULLAT, O. Op. cit. 1.3. A práxis educacional 1.3.1. Conceito de educação 1.3.2. Crise da educação 1.3.3. Instituição Educacional: Estado, ideologia e classe dominante – reprodução ou crítica? 1.3. Levar o aluno a refletir sobre a prática institucional da educação, suas relações com o Estado e com o sistema capitalista – reprodução e inovação. 1.3.2. FULLAT, O. Op cit., cap. 3. 1.3.3. TELES, M. L. S. Educação – a revolução necessária. Petrópolis: Vozes, 1997. 12 UNIDADE UNIDADE II: VALORES E EDUCAÇÃO 2.1. Axiologia 2.2. O papel dos valores na educação: a formação do juizo moral 2.2.1. Liberdade e determinismo 2.2.2. Os valores e a prática UNIDADE III: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 3.1. As principais tendências da educação no Brasil 3.1.1. Demerval Saviani 3.1.2. José Carlos Libâneo 3.2. A educação popular 3.3. Correntes pedagógicas contemporâneas • Racional-tecnológicas • Neocognivistas • Sociocríticas • Holísticas • Pós-modernas OBJETIVOS BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICOS BÁSICA 2.1. Fazer com que o aluno perceba o quanto os conteúdos programáticos, os textos e as análises sociais trazem como parte integrante de suas argumentações os valores e julgamentos morais. 2.1.1. SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1985. 2.1.2. FULLAT, O. Op cit. 2.2. Apresentar aos alunos a importância da conscientização dos valores individuais e sociais, bem como uma construção elaborada segundo os interesses dos variados grupos sociais. 3.1. Fornecer um quadro geral das propostas das políticas educacionais do Brasil, que vigoraram ao longo da história da educação, destacando as perspectivas dos professores Demerval Saviani no contexto da orga-nização política e social da educação e José Carlos Libâneo, sobre as diversas pedagogias em vigor. 3.1.1. GHIRARDELLI JR., Paulo. História da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. 3.2. Avaliar as possibilidades de um projeto educacional para a população brasileira dentro dos moldes institucionais atuais. 3.2. GHINARDELLI JR., Paulo. Op. cit. 3.3. Proporcionar uma revisão crítica das teorias pedagógicas modernas em face do embate entre modernidade e pós-modernidade a partir da leitura de Libâneo. 3.3. LIBÂNEO, J.C e SANTOS, A. (org). Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. São Paulo: Alínea, 2005. 3.1.2. LUCKESI, C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1993. LUCKESI, C. Op. cit. UNIDADE UNIDADE IV: TRANSDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO OBJETIVOS BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICOS BÁSICA 4.1. Compreender o sentido do termo transdisciplinar no processo de conhecimento do mundo. 4.1.A abrangência do termo transdisciplinar 4.2. Educação transdisciplinar 4.2. Proporcionar reflexões sobre novos olhares da educação para a construção da identidade do homem como ser planetário. 4.1. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. 4.2. DERLORS, J. Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 3. ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1999. 13 14 Contextualização da Disciplina O estudo das filosofias é raramente diferenciado do estudo das ciências, visto a predominância do modelo científico para a explicação da realidade nas sociedades ocidentais contemporâneas. A metodologia científica serve-nos largamente para a apreensão de qualquer conteúdo que trabalhe com conceitos. Por isso, serve para os nossos estudos de Filosofia, visto que esta necessita do aprendizado de palavras e conceitos específicos de sua problemática. Mas não basta a aplicação da metodologia científica para compreender a Filosofia. Precisamos exercitá-la, ingressar em seu mecanismo básico, que é a reflexão radical sobre a nossa condição existencial. Porém, o seu estudo é pressuposto para a apreensão dos conteúdos científicos. A Filosofia da Educação, como as outras filosofias, foi durante longo tempo deixada de lado e tida como de importância menor frente aos avanços científicos e tecnológicos da sociedade. O tecnicismo prepondera ainda em nossa sociedade, mas, durante um bom tempo, relegaram-se os estudos da Filosofia ao estudo mecânico sobre as diversas correntes de pensamento. No final deste século, porém, vimos ressurgir, quase das cinzas, a bandeira da reflexão filosófica, que tenta recuperar o seu lugar, mostrando a importância e o sentido de seu estudo em meio a outras disciplinas de cunho mais técnico e aplicado. UNIDADE I 15 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO Objetivos específicos: - Apresentar a disciplina filosófica ao aluno – suas características e importância – através do conceito do “pensar”; - Situar a Filosofia da Educação dentro deste processo de reflexão mais geral – seu papel específico; - Mostrar como os elementos da reflexão se inserem no cotidiano da crise da Educação; - Demonstrar como a reflexão filosófica está diretamente vinculada à práxis educacional; - Pensar a Educação como um caminho para algumas soluções da sociedade contemporânea; - Compreender por que a Educação não consegue efetivar os seus ideais; -Pensar alternativas à crise da Educação. 1.1 – A Reflexão Filosófica Quando refletimos sobre algo, estamo-nos projetando sobre este algo. Estamos nos entregando a este objeto do mesmo modo que o espelho vem a nós para refletir a nossa imagem. O espelho tem o aço para nos mostrar a nossa imagem e forma. Nós temos o nosso pensamento para dar imagem e forma aos objetos. Assim pode ser resumida a reflexão filosófica. O pensamento, diferente do espelho que temos em casa, que reproduz nossa imagem mecanicamente, cria novas realidades, novas formas, dá novos significados ao que ele apreende. Um grego chamado Demócrito, tido pela história da Filosofia como um filósofo pré-socrático, já dizia que “o importante não é saber muito, é pensar muito”. Esta atividade é diferente da do conhecimento: quando conhecemos algo, estamos absorvendo conteúdos para nossa informação. Já quando pensamos, estamos nos “expondo” aos objetos. Tudo em nós é “vasculhado” quando pensamos: nossos sentimentos, nossos valores, nossas experiências de vida, tudo se mistura à nossa fisiologia corporal quando estamos pensando as coisas. Por isso, pensar é uma atividade que demanda muito esforço. É uma atividade de coragem do ser humano, a de enfrentar a realidade, sem se negar a pensar sobre ela. Precisamos cuidar bem dos objetos que nos atingem e nos intrigam: já que o nosso pensamento traz estes objetos de reflexão para dentro de nós mesmos, devemos nos fortalecer com a nossa reflexão, ou seja, desenvolver a capacidade de pegar estes objetos e moldá-los com o nosso pensamento da melhor maneira possível, dando novos significados à realidade. Passamos por vários estágios de reflexão sobre os objetos, selecionamos cada vez mais um objeto mais complexo, de modo que, com o passar do tempo, um número maior de objetos possam ser pensados e dominados pelo nosso pensamento. Nossa intenção, a partir de agora, deve ser a de tentarmos desenvolver o nosso pensamento para aprendermos a definição de Filosofia. Vamos “dominar” a tarefa de estarmos matriculados em um curso, e de nos tornarmos habilitados a ensinar aquilo que nos propomos, tendo em punho este instrucional, os textos complementares, e o nosso pensamento. Oxalá! 16 1.1.1 – As Origens da Filosofia A Filosofia surgiu na Grécia Antiga. A origem da palavra filosofia é grega, e significa, em princípio, o “amor (philo) à sabedoria (sofia)” . Se formos ainda pensar sobre o termo, diríamos que a filosofia é um sentimento de amor que leva o homem à busca do mundo. Mundo é uma palavra que só faz sentido com a existência do homem que pensa. Já o pensar do homem se dá com uma série de sentimentos perante à realidade, que comprovam a afinidade deste homem com o mundo. A Filosofia, deste modo, surge com a construção do mundo pelo homem. Assim, como não podemos evitar o aparecimento dos sentimentos, não podemos evitar a irrupção da Filosofia. 1.1.2 – O Estudo da Filosofia e Suas Tarefas O estudo da Filosofia possui cinco elementos básicos que operam o tempo todo: a inquietação, a admiração, a angústia, o medo e a coragem. A atitude filosófica inclui esses cinco sentimentos, de modo que, alguns desses elementos, como o medo e a angústia, enquanto podem ser tidos como sentimentos negativos e paralisadores pelo senso comum, para a produção do pensamento filosófico são elementos extremamente frutíferos. Vamos ver, de modo sucinto, cada um desses elementos separadamente. Um espanto que não era horrorizado, mas inquieto, admirado e fascinado com tudo o que nos cerca... Como se fôssemos crianças em nossos primeiros anos de vida, querendo saber o porquê de as coisas se apresentarem subitamente a nós... À medida que crescemos, aprendemos que as coisas têm uma explicação, e essa explicação acaba tirando a nossa curiosidade, emprestando às coisas uma aparição muito sem mistério diante de nós. A Filosofia nos leva a redescobrir os mistérios de cada aspecto de nossa vida. A angústia, por sua vez, também é um sentimento que a atitude filosófica cultiva, pois ela é fruto de nossa percepção da gama de possibilidades infinitas de explicação que as coisas possuem. Inquietação significa não ficar quieto. Estar incomodado com as coisas é um primeiro passo para querer resolvê-las. A Filosofia não vai nos deixar quietos nunca: vai apenas nos levar a formular melhor as nossas inquietações para nós mesmos e para os outros, pois muitas vezes estamos nos sentindo incomodados e não sabemos bem o que nos incomoda... A partir daí, a Filosofia poderá também nos dar elementos para que nossas inquietações mudem e outras apareçam... Admirar-se é a atitude fundamental da Filosofia: ela nasceu do espanto dos primeiros filósofos com a natureza e com o mundo. Quanto mais nos aproximamos dos objetos de nosso estudo, mais possibilidades e impossibilidades se apresentam a nós, e acabamos nos tornando angustiados, porque nunca esgotaremos a totalidade da realidade. Isso tudo nos leva, cada vez mais radicalmente, a termos medo do saber e dos sentimentos. Esse medo provém da sensação que advém após constatarmos que nunca conseguiremos dominar a totalidade do conhecimento. A partir daí, experimentamos o nada, o vazio... Afloram as nossas inseguranças, devido ao pouco controle que cada vez mais descobrimos ter sobre as coisas. Por isso, um filósofo jamais se arroga à sabedoria. Sócrates, um filósofo grego, tinha por lema o dito: “sei que nada sei”. Por fim, para enfrentar toda essa nova disposição espiritual que o estudo e a atitude filosófica nos leva, é preciso ter coragem. Coragem de assumir as nossas inquietações com o mundo e de querer suportar as angústias que a reflexão filosófica nos vai imprimir ao espírito. Por outro lado, a coragem nos dá também as forças necessárias para realizarmos quaisquer empreendimentos a que nos propusermos: A coragem não está imediatamente no êxito, na vitória nem no vencimento do que nos aflige! Está primordialmente em nós mesmos como sentido do possível: abre-nos para a tentativa, o esforço e o trabalho; libera-nos para a criação do modo certo de viver. A coragem diz: é por aqui, vai em frente! Ela não titubeia e por isso não erra. (BUZZI, 1989: 174). O que está sendo dito aqui, afinal, é que a atividade de pensar não é algo tão diferente e distante de outras atividades humanas relacionadas à luta pela sobrevivência. Nós já experimentamos todos esses sentimentos em nosso cotidiano, alguma vez na vida... Estes aparecem toda vez que encontramos alguma dificuldade para prosseguirmos nas nossas tarefas comuns do dia-a-dia. Também no momento em que nos lançamos na tarefa de pensar, as dificuldades aparecem e, por conseguinte, estes sentimentos voltarão. Do mesmo modo que temos a coragem de ir em frente com o trabalho cotidiano em momentos difíceis, assim também deve ser no momento da reflexão filosófica, quando encontramos muitas dificuldades: enfrentemos o desafio de estudar as maravilhas do homem no mundo! 1.2 – As Filosofias da Educação Questionar o acontecimento da educação é a tarefa da Filosofia da Educação. Existem ciências que auxiliam a educação. Perguntar-se como se dá a relação professor-aluno, de que modo fazer a avaliação desta, é tarefa dessas ciências, como a Psicologia da Educação e a Didática. Mas a Filosofia da Educação auxilia o educador a ter uma perspectiva mais ampla sobre o seu ofício, quando se pergunta sobre o significado desta para o homem. As perguntas que importam neste sentido são: “O que é a Educação?” ; “O que é educar?”; “Qual o significado da Educação para o homem?”; e finalmente: “Para que serve educar?” A educação não depende da escolha humana: faz parte da existência do homem. O homem está imerso numa realidade social, e para sobreviver necessita de aprendizados e ensinamentos, cujas formas lhes serão apresentadas de acordo com a cultura que o circunda. Por ser um animal cultural, sua formação coincide com a educação. Desta perspectiva, já podemos tirar uma conclusão, subentendida na afirmação acima: educação não é sinônimo de escola. As escolas foram criadas pelo homem, ora espontaneamente, como as Academias da Grécia Clássica, ora para servir a uma determinada organização social e política, atrelada a um Estado centralizado. As escolas são as instituições que veiculam a educação na sociedade. Mais do que isso: as escolas veiculam uma educação programada pelo Ministério da Educação, de modo a servir a uma determinada organização social e política. Isso porque dentro dessas organizações sociais e políticas existem várias culturas, de modo que a escola é veículo apenas para o tipo de educação que é considerado mais importante pelo Ministério da Educação, em favor dos grupos que dirigem esta organização social e política. Outros tipos de ensino e aprendizado, no entanto, também são veiculados fora da escola. Isso significa que uma pessoa que nunca freqüentou uma escola, 17 18 também é uma pessoa que foi “educada” pelo grupo de sua convivência. É uma educação espontânea, que não é mais ou menos válida para a vida do que a educação das escolas, dita científica. profissional de educação, pois permite que ele planeje melhor os seus projetos pedagógicos. A reflexão filosófica produz, portanto, consciência. Deste modo, a Filosofia da Educação não cria a educação: limita-se a refletir sobre as educações que existem, ou que já existiram. Pelo fato de a educação estar sempre atrelada a finalidades específicas e pelo fato de a educação científica ter sido já bastante elaborada pelo homem em diversas sociedades, a Filosofia da Educação se ocupa principalmente da educação escolar dita “científica”, e não da espontânea. Assim, se torna visível mais um aspecto importante da Filosofia da Educação para a formação do profissional educador: através da Filosofia da Educação, adquirimos o instrumental intelectual necessário para tomarmos consciência de que existem diferentes processos educacionais, diferentes utilidades para cada um e para distinguirmos com clareza a quem estamos servindo quando ensinamos. Com este instrumental, podemos optar com consciência entre as abordagens e os conteúdos que utilizaremos em sala de aula com os nossos alunos. Esta conscientização também é útil ao próprio Deste modo, o educador deve estar atento a que tipo de ser humano quer formar, e que finalidades deseja atingir com a educação que veicula. Como quando alguém mais velho aconselha que uma pessoa aja de uma determinada maneira “para o seu próprio bem” . Se essa pessoa de fato vai encontrar o “ bem” , a Filosofia da Educação não será capaz de responder. Porém, com o auxílio desta filosofia, teremos condições melhores de: • Avaliar o que a pessoa mais velha estaria chamando de “bem”, de acordo com o conteúdo do conselho dado; • Saber o porquê de ela estar levando o jovem para aquela e não para outra direção, pois vamos buscar as suas experiências/aprendizados anteriores; •A que estado de coisas ela estaria beneficiando com este conselho, dentro da gama de alternativas dos possíveis comportamentos que a pessoa mais velha poderia ter optado. 1.3 – A Práxis Educacional Este é o espaço de conjugarmos a reflexão filosófica às questões que surgem no dia-a-dia da prática educacional: como pensamos educação, o que significa a crise da educação, e os meios possíveis de se alcançar a sua superação. 1.3.1 – Conceito de Educação Educação significa introjeção de aprendizados. Os conteúdos destes aprendizados fazem parte de milênios de história vivida. Em vez de termos que passar por todas as experiências que a humanidade viveu até agora para podermos aprender, os conteúdos que aprendemos na escola trazem até nós essa informação já pronta. O homem levou séculos para descobrir uma unidade intrínseca das coisas: o átomo, que já havia sido pensado, mas nunca experimentado como foi há um século atrás. Deste modo, o homem pode alterá-lo e transformá-lo em energia, a favor do bem-estar do ser humano. No colégio, aprendemos os movimentos dos átomos; já na faculdade, aprendemos como podemos alterá-los e produzir energia a partir deles. 1.3.2 – Crise de Educação Em que consistiria a crise da educação? Podemos dizer que o estado permanente da educação é estar em crise. Isso porque os seus objetivos vão sempre esbarrar no seu processo de realização. A acumulação de culturas está tão avançada nos dias de hoje que qualquer processo educativo necessita de uma boa organização institucional que o sustente. E o que é uma boa organização institucional? É possuir infraestrutura para suportar e manter a veiculação da educação, como a produção de professores, material escolar, organização de currículos em grande escala para que ocorra a transmissão dos saberes em massa. 19 Ou seja, sem as escolas, todo esse conhecimento dificilmente será veiculado. Só que toda essa organização está atrelada às atividades do Estado. Só a União é capaz de arrecadar recursos suficientes para montar esse grande aparato institucional. Por outro lado, o Estado está sempre atrelado aos interesses de uma determinada classe social, que o domina. E o interesse do Estado na Educação é que esta veicule a ideologia que interessar a essa classe dominante. Vamos com calma nesse ponto. 1.3.3 – Instituição Educacional: Estado, Ideologia e Classe Dominante – Reprodução ou Crítica? Sabemos que os grupos que controlam o Estado no Brasil não fazem parte das classes populares. Estão vinculados, antes, à classe mais rica. E a classe mais rica, num país capitalista, corresponde aos grandes grupos capitalistas: bancos, indústrias e agricultura. São capitalistas exatamente porque valorizam uma política econômica que se volta primordialmente para o aumento dos lucros, acreditando que uma sociedade que cuide bem da “saúde” dos seus capitais, necessariamente, será uma sociedade rica e desenvolvida. Esta é a chave da ideologia do liberalismo: a “liberdade” apregoada por essa ideologia e a “liberdade” concedida em prol do crescimento dos capitais, ou seja, defendem que favorecendo os grandes grupos que controlam essa produção, como os banqueiros, os grandes industriais e empresários agrícolas, toda a sociedade só tem a ganhar. Será que poderíamos questionar esse ponto de vista? Uma coisa é certa: a principal característica dos países do Terceiro Mundo é a opção econômica desses países pelo desenvolvimento capitalista, mas que não os impede de apresentar graves problemas sociais: mortalidade infantil, analfabetismo, saúde precária da população etc. Só por estarmos enquadrados, então, nessa categoria de terceiro mundistas, já poderíamos desconfiar que a fórmula capital saudável = sociedade saudável vem se mostrando “furada” ao longo da nossa história... E em que ponto a Educação se relaciona com este estado de coisas? Por estar vinculada ao Estado e ao grupo que o governa, podemos dizer que a Educação está a serviço desses grandes grupos capitalistas. Isso leva a uma não correspondência entre as demandas sociais (saúde, aumento da renda etc.) e o que está sendo efetivamente veiculado pela Educação (saber tecnológico de ponta para o desenvolvimento da economia capitalista). O saber veiculado pela escola está a serviço do desenvolvimento do sistema capitalista, está voltado para a formação de profissionais e técnicos aptos a reproduzir esse modo de organização social. Você se lembra de quando mencionamos que a Filosofia ajudava na reflexão acerca dos conteúdos que estariam efetivamente sendo veiculados no processo educativo, e que tipo de conhecimento estaria sendo levado a cabo por nós? Pois é, pensar por que este e não outro conteúdo está sendo ensinado, e a forma como estamos conduzindo esse ensino, nos aproxima da realidade da prática educacional no Brasil: quem faz a seleção desse conteúdo, da metodologia a ser aplicada, da grade curricular mínima é o Ministério da Educação! Portanto, é esse órgão do Estado que impõe que o saber científico tecnológico seja mais importante que o saber das humanidades; e que, portanto, os conhecimentos das áreas humanas sejam tão afastados da prática de nossos técnicos. A desvalorização desses conteúdos inclui a realidade em que vivem os profissionais das artes e das Ciências Humanas em nosso país. Leva ao esvaziamento da busca por esses conteúdos. Faz com que nossos técnicos pensem e produzam o aumento dos lucros e da produção e deixem de lado de que forma essa produção é distribuída na sociedade. 20 O como fazer para que as riquezas que são produzidas por todos possam ser redistribuídas à população com o mínimo de justiça social, não é um saber que esteja no centro das pesquisas de nossos técnicos. pensam a Educação como atividade ampliadora das capacidades humanas. Como conclusão, vamos seguir à risca o projeto filosófico de provocar inquietações no nosso pensamento, lançando uma pergunta que ficará para ser desenvolvida na última unidade: é possível a escola ser um espaço de mudança, e não de reafirmação da ordem social? Como pode ser isso? O Estado diz, munido da ideologia liberal: “pensar a redistribuição justa não é importante, pois ela é conseqüência natural da produção de riqueza individual e social”. A realidade social do Brasil, no entanto, nos mostra todos os dias, de modo enfadonho, inclusive, como isso não é verdade... Daí podermos já vislumbrar a função ambígua que a atividade educacional produz: ao passo que forma profissionais que estão prontos a recriar a mesma situação social, forma também aqueles que são capazes de contestar e criticar essa organização. É esse o papel primordial dos educadores, dos que Nesta primeira Unidade, tivemos por objetivo iniciar você através da história da Filosofia e das questões apresentadas, na forma de raciocinar filosoficamente bem como demonstrar as relações entre Filosofia e Educação. Procure refletir sobre o tema estudado, inclusive utilizando-se das leituras indicadas e faça os exercícios para fixar melhor o conhecimento apreendido. Exercícios de Fixação Exercício I - Responda: 1- Em que a atividade de pensar se diferencia do ato do conhecimento? 2- Que sentimentos são permanentes na atividade filosófica, devido ao fato de ela apresentar muitas dificuldades? 3- Qual o papel das ciências na Educação? 4- Qual o papel da Filosofia da Educação? 5- Educação é sinônimo de escola? Por quê? 6- Qual a relação entre a Filosofia da Educação e a Educação? 7- De que os elementos da Filosofia da Educação mune a nossa consciência para a nossa prática do dia-a-dia? 8- Qual a receita fundamental do crescimento e prosperidade social e individual apregoada pela ideologia do liberalismo? 9- Em que contradição está imersa a Educação em nossa sociedade capitalista? 10- Como a Educação exclusivamente tecnicista beneficia o sistema e prejudica a formação do indivíduo? Exercício II - Leia o texto de Maria Luíza Silveira Teles, Educação- A revolução necessária, e faça uma lista das idéias centrais que ele contém. Depois, elabore um texto crítico, de três parágrafos, favorável ou não às idéias do texto. Leitura Complementar 21 - Leia o trecho a seguir e comente num pequeno texto, em torno de dez linhas, como o autor concebe a Filosofia. Depois, diga como você se sente em relação a este ponto de vista: A Filosofia não existe desligada da vida. Antes o contrário. Como a luz possibilita aos olhos ver e andar com as coisas com desembaraço e sem tropeços, assim a Filosofia, qual raio de luz, penetra no sentido secreto da realidade. Filosofar demanda empenho diligente por merecer a arte de conhecer cada coisa no relâmpago do seu estranho acontecimento. Na Filosofia, por conseguinte, o pensamento procura um saber proveitoso. De nada serviria a capacidade de transformar as pedras em ouro a quem não soubesse valer-se do ouro; de nada serviria uma ciência que tornasse imortal a quem não soubesse servir-se da imortalidade. Requer-se, portanto, uma ciência na qual coincidam pensar e ser. Esta ciência é a Filosofia. (BUZZI, 1989:10). Não se esqueça de anotar todas as informações e principais conceitos para fixar os conhecimentos. E lembre-se de que o estudo metódico e tranqüilo é fator importante para a aprendizagem. 22 UNIDADE II VALORES E EDUCAÇÃO Objetivos específicos: - Introduzir o significado da palavra axiologia como o estudo dos valores, bem como sua nomenclatura específica; - Mostrar a importância deste estudo para a Educação; - Conduzir à reflexão sobre a formação dos próprios valores; - Associar estes valores à intervenção imediata do homem em sua realidade, segundo a potencialidade renovadora de seus atos. 2.1 – Axiologia A Filosofia tem nos ajudado, até agora, a separar os diferentes níveis de abordagem mental no processo educativo. Até chegarmos neste item agora, de axiologia, cada um sentiu uma certa simpatia ou desaprovação em relação ao estudo da disciplina filosófica. Mesmo quem não sentiu nada em relação a este estudo, não possui escapatória: a indiferença também está conferindo algum “valor” em relação ao que está sendo estudado. Isso significa que a Axiologia, ou seja, a teoria dos valores, também vai nos ajudar a refletir sobre as nossas ações. Ao tomar atitudes, estamos o tempo todo fazendo escolhas. Até entre fazer e não fazer algo. Essas escolhas são movidas pelos nossos valores. Perguntamos: “ o que é melhor para ser feito?”, e agimos com a crença de que estamos fazendo o melhor possível. Mesmo quando tomamos alguma atitude inconscientemente, essa atitude provocará resultados. Isso quer dizer que nossas atitudes sempre serão correspondentes a determinados valores que trazemos e que foram adquiridos ao longo de nossa formação, com nossas experiências de vida. Se não tomarmos consciência desses nossos valores, corremos o risco de ser manipulados pela nossa própria ignorância e de viver à mercê de resultados indesejados e para nós “ absurdos”, sem saber como solucionar os problemas do dia-a-dia. Corremos ainda o risco de, muitas vezes, assumir os valores dos outros como nossos, pelo simples fato de não termos parado para pensar quais são nossos valores de fato, ou seja, perguntar-se: “como eu venho conduzindo minha vida até agora?”; “isso é bom para mim?”; “devo continuar conduzindo minha vida assim?”; “por quê?”. O movimento existencialista contribuiu muito nesse debate. Segundo esse movimento, que incluía a figura do pensador francês Jean-Paul Sartre, a existência do indivíduo precede a sua essência. Isso significa que ninguém é alguma coisa préestabelecida, mas torna-se. À medida que vamos fazendo as nossas escolhas pela vida, principalmente naqueles momentos que Sartre chamou de “situações-limite”, vamos construindo a nossa essência no mundo. No livro de contos “O muro”, Sartre exemplifica, com várias situações-limite, o ponto de inflexão, no qual o ser humano deve estar bem preparado para fazer a sua opção na vida, sob pena de incorrer num gravíssimo erro e prejudicar o seu semelhante. E como nunca poderemos ter controle total sobre o processo, a preparação para enfrentar essas situações-limite seria um bom nível de consciência e reflexão sobre a realidade social. Precisamos ter coragem ao encarar e assumir as nossas escolhas. Não adianta dizer: “fui neutro” porque esta neutralidade certamente contribui para que algo ocorra de um modo e não de outro. Desta forma, tomando consciência de nossos valores, podemos optar pelo que seria a melhor atitude a ser tomada para que possamos chegar ao nosso objetivo final. Freqüentemente, ocorre de não atingirmos os objetivos desejados. Mas só assim se dá o aprendizado de que necessitamos para retraçar as estratégias de ação em busca de nossos objetivos. Com certeza, isso leva ao reforço e à reformulação das nossas crenças e valores. O que são juízos de valor? Em Filosofia, ao acharmos algo ou alguém “bom” ou “ruim”, “útil” ou “inútil”, e nos posicionamos frente a algo ou alguém a partir disso, dizemos que estamos fazendo um julgamento, ou juízo. Precisamos, assim, desvincular estas palavras do sentido que estamos acostumados a entendê-las, para que a compreensão do conteúdo seja satisfatória. Toda vez que falamos em julgamento, lembramos-nos de “Tribunal de Justiça”, advogados, juízes, etc. E toda vez que falamos de juízo, 23 lembramos-nos de uma pessoa ajuizada etc. Podemos simplesmente nos acostumar com a utilização do significado filosófico das palavras juízo e julgamento se todas as vezes que falarmos “eu penso isso de você”, pensarmos que isso é sinônimo “eu julgo você assim”. Daí, então, as expressões “julgamento de valor”, ou “ juízo de valor” terão um sentido mais claro para nós. Fora isso, podemos nos perguntar: que tipos de juízos podem existir, além dos juízos de valor? 2.2 – O Papel dos Valores na Educação: a Formação do Juízo Moral Uma das principais perguntas que o educador deve se colocar durante a elaboração de seus objetivos educacionais é, como já vimos, “ que tipo de homem quero formar?”. Perguntar-se sobre isso implica um julgamento entre o bem o e mal. É, portanto, emitir o tempo todo “juízos de valor”, visto que, pela aquisição do cabedal de conhecimentos acumulados pela cultura humana, o homem pode transformar a realidade circundante, ampliando sua participação, sua liberdade e se tornando cidadão crítico, consciente e ativo junto à sociedade. O fato de acharmos esta questão importante, já conduz o leitor a saber que tipo de educação estamos propagando, ao veicularmos este instrucional de Filosofia da Educação e não outro, e darmos este curso dessa forma e não de outra maneira: acreditamos que a Educação faça parte do processo de formação do homem. Assim, acreditamos que a sociedade como um todo, seus projetos políticos e sociais são também, de uma certa forma, fruto do tipo de educação que foi ministrada aos homens. Desse modo, durante o processo de ensino/ aprendizagem, estaremos sempre nos referindo, também, ao tipo de sociedade que idealizamos, ou que consideramos a melhor possível: se estamos satisfeitos com a realidade do presente, agimos de uma maneira, selecionamos determinados conteúdos, e até mesmo nos comportamos de modo diferente, do modo como nos comportaríamos se estivéssemos Eis as perguntas que o educador deve procurar responder para si mesmo o tempo todo: insatisfeitos e quiséssemos modificá-la de alguma forma. - O que faz um sistema educacional ser melhor do que o outro? - Se as sociedades escolhem o tipo de educação a ser ministrado, que tipo de educação se escolheu para nossa sociedade? - Que tipo de educação deveria ser dada? - Que modelos de homem nos são oferecidos? Todas essas perguntas só serão respondidas baseadas nos juízos de valor. Resta apenas analisarmos em que condições esses juízos de valor são utilizados pelos homens. 2.2.1– Liberdade e Determinismo Ter um ideal ou vários ideais é fundamental para a realização do ser humano. Os ideais são necessários para toda ação frutífera do homem sobre a realidade. E a Educação está sempre vinculada à busca da perfeição, da melhoria do estado de coisas presentes. O que estamos discutindo até agora faz parte da afirmação do nosso poder de modificar uma realidade, de intervir no rumo que as coisas podem tomar. Sempre modificaremos a vida de outra pessoa quando estabelecemos um contato com ela. Trata-se, aqui, de acreditarmos que temos a liberdade e a condição de escolher qual diferença queremos fazer na vida desta outra pessoa. Tudo depende do modo como 24 encaramos a nossa atuação no mundo: se não acreditamos ser capaz de modificar o rumo das coisas, que não adianta tentar mudar a forma como as coisas nos são dadas e apresentadas, não teremos outra alternativa, a não ser nos adaptar e nos conformar com o estado das coisas. enfadonhas, chatas e inúteis; caso contrário, o professor estará sempre acreditando no seu potencial renovador, e vai em busca de mostrar aos seus alunos, algum valor em seu ofício. Desses dois modos de encarar a potencialidade de intervenção do ser humano na realidade, saem as principais iniciativas educacionais. Cabe a você detectar que atitudes remetem a que valores. Como no caso da relação do professor com seu aluno: se o professor não acredita que aquilo que ele ensina não possa despertar interesse nos alunos a ponto de mudar algo importante em seu comportamento, está escolhendo, consciente ou inconscientemente, reafirmar a idéia que comumente trazem os seus alunos de que aulas e estudo são coisas completamente 2.2.2. Os Valores e a Prática Acima de tudo, temos que ter em mente que o mundo dos valores não é um “saber fazer” puro, mas um “saber agir” na vida. Até então, nós vimos como nos conscientizar de nossos valores. Uma vez feito isso, esses valores passam a habitar a nossa prática. Como podemos relacionar valores e prática? O valor está ligado a algo que deve ser realizado e está intimamente relacinado àquilo que é bom, útil, positivo. Sendo assim, o espaço que se forma entre o que é e o que deve ser, segundo Saviani, constitui-se o mundo prático no qual o homem experiencia as múltiplas possibilidades da existência. Ou seja, em resumo, os valores estão intimamente vinculados à formulação de objetivos a serem atingidos. Não tem sentido pensarmos uma situação ideal para a educação e não traçarmos estratégias para que esses valores se concretizem. É um movimento de muitas escolhas. Vamos explicar passo a passo este processo: O primeiro passo que damos quando começamos a estudar a Filosofia da Educação é nos conscientizarmos de nossos valores em relação à atividade pedagógica. Depois de tomarmos consciência de nossos valores, podemos partir para uma nova tarefa: a de dizer o que é mais importante, dentro da pergunta sobre que tipo de homem queremos formar. Ao fazermos isso, estamos estabelecendo uma lista de prioridades. Estamos hierarquizando nossos valores. Dizendo: este valor é mais importante que este. O que fazemos, quando tentamos ensinar um conteúdo? Tentamos dar conta de alguns objetivos que queremos atingir com a transmissão desse conteúdo. E traçar objetivos é dizer aquilo que DEVE SER alcançado. Dessa forma, sempre damos mais importância a uns valores, em prejuízo de outros. E estas prioridades sempre visam a atender às nossas necessidades básicas. Como explica Saviani (1985: 41-43). - Valorização: transformamos o que é no que deve ser. - Traçar objetivos: arrumamos um jeito de transformar o que deve ser no que é. E quais são, fundamentalmente, esses objetivos? • subsistência – o homem precisa saber sobreviver em seu meio. A Educação deve fornecer os conteúdos básicos para que ele atue com tranqüilidade no meio social; • liberdade – a Educação fornece os instrumentos necessários para que o homem reflita sobre a sua condição social e construa a própria vida segundo os seus princípios; • comunicação – traço essencial para a convivência e sobrevivência do homem em seu meio, visto que sua característica básica é viver em grupo; • transformação: colocando em prática esses princípios, estes esbarram sempre na estrutura política que os sustenta – daí o porquê de após elaborar-se um estado optimum ideal para a realização da Educação, esta realização em si vem sendo sempre destoante: cabe ao educador atentar para esse estado de coisas e buscar sempre, criativamente, modos de realizar o optimum, segundo os seus princípios, de modo que estes não esbarrem nestes obstáculos políticos. Não basta se conscientizar de seus valores: é preciso ocupar-se de sua viabilização nas circunstâncias dadas. Desta forma conseguir-se-á atingir uma racionalidade cada vez maior no processo educativo. Pesquise, na bibliografia indicada, os pontos abordados nesta Unidade, visando a eliminar todas as dúvidas existentes. Em caso de necessidade, entre em contato com o tutor da disciplina. Ele terá prazer em atendê-lo. Exercícios de Fixação I - Responda: 1) O que é axiologia? 2) Como a axiologia se relaciona com a nossa prática social? 3) Como podemos definir “juízo de valor”? 4) Podemos dizer que o nosso juízo moral é imutável? Por quê? II - Leia o texto do professor Demerval Saviani intitulado Educação: do senso comum à consciência filosófica, e faça uma relação das idéias principais que aparecem no texto. Leitura Complementar - Escolha uma novela do livro “O muro”, de Jean-Paul Sartre e comente as opções dos personagens e as situações-limite em que cada um se encontrava (apenas uma novela do livro). Exercício de Reflexão - Escreva em dez linhas, com as suas palavras, a importância e o significado que uma filosofia dos valores pode adquirir em sua prática social pedagógica. O ensino individualizado requer que você adote um ritmo próprio e uma participação ativa nos estudos para o melhor êxito de sua aprendizagem. 25 26 UNIDADE III FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Objetivos específicos: - Fornecer um quadro geral das propostas das políticas educacionais do Brasil que vigoraram ao longo da história da educação, destacando as perpectivas dos professores Demerval Saviani, no contexto da organização política e social da educação, e José Carlos Libâneo, sobre as diversas pedagogias em vigor; - Avaliar as possibilidades de um projeto educacional para a população brasileira dentro dos moldes institucionais atuais; -Proporcionar uma revisão crítica das teorias pedagógicas modernas em face do embate entre modernidade e pós-modernidade a partir da leitura de Libâneo. 3.1. As Principais Tendências da Educação no Brasil Vamos, aqui, abordar algumas análises acerca dos projetos educacionais que foram formulados por alguns de nossos intelectuais e homens públicos mais influentes ao longo da trajetória de nossa história educacional. Com o desenrolar da ditadura no Brasil, que ocorreu entre os anos de 1964 e 1985, as propostas educacionais sofreram uma modificação drástica em seu rumo. A lógica do sistema capitalista e do capital descrita anteriormente passou a dominar as outras, com o auxílio de legislações impostas pelos governos militares. De repente, a matéria de Filosofia não fazia mais qualquer sentido dentro do âmbito educacional. Depois de tudo que temos visto a respeito da Filosofia, podemos imaginar a pobreza intelectual da formação profissional e do cidadão que foi imposta pelos governantes da ditadura militar: uma estrutura voltada para a formação tecnicista, sem se preocupar com as condições de desenvolvimento social efetivas, sem espaço para a crítica política e para as manifestações populares de reivindicação por melhorias. Na época, foram criados cursos de pós- graduação voltados para a ultra-especialização técnico-profissional, que se encaixavam perfeitamente dentro dessas características. Mas os próprios intelectuais que compunham estes departamentos encontravam-se profundamente insatisfeitos com as condições educacionais a que estavam submetidos. Eram pessoas extremamente críticas, e que não se furtaram a veicular suas idéias inovadoras a respeito do estado em que se encontrava a organização educacional. Abriu-se um espaço para isso, principalmente após terem vencido a batalha pela abertura, em 1979, encampada pela oposição e finalmente concedida pelo general João Baptista Figueiredo, então presidente da República. Dois intelectuais se destacaram neste movimento de retomada da consciência crítica, com o auxílio da reflexão filosófica: por um lado, Demerval Saviani pensava a situação educacional e institucional como um todo, buscando as brechas por onde este sistema poderia “falhar”, enquanto José Carlos Libâneo fazia a sistematização e crítica das pedagogias vigentes, relacionando pedagogia com as opções políticas e ideológicas de seus usuários. Podemos dizer que um curso de Filosofia da Educação, tal como vem sendo ministrado neste instrucional, não exisitiria, ou teria conteúdos bastante diferentes, antes desses dois autores entrarem em cena no contexto nacional. Vamos ver com mais detalhes os dois autores. 3.1.1 – Demerval Saviani Com a efervescência e a proliferação dos fóruns de debate sobre o papel real que a Educação deveria cumprir na sociedade, o professor Demerval Saviani se destacou com o lema “não há revolução educacional sem teoria educacional revolucionária” (GHIRARDELLI, 1994: 205). Deste modo, após a classificação dos diversos tipos de processos educacionais implementados no Brasil, elaborou uma teoria que superou as escolas mais tradicionais de educação, inovando, inclusive, no rumo das pesquisas no país. 27 A classificação elaborada pelo professor Saviani está baseada na maior ou menor influência que a Educação, através da escola, possa exercer sobre o indivíduo e a sociedade. Chegou, assim, a três perspectivas gerais, ou seja, classificou em três categorias o modo como os educadores, pedagogos e filósofos encaram a educação: suas funções, seu papel, seus métodos. Ele chegou à seguinte conclusão à pergunta - “Qual o papel que a Educação exerce na sociedade?” – os homens vêm formulando três respostas básicas ao longo da história: a concepção redentora, a reprodutora e a transformadora. Vamos começar pela concepção da redenção. A escola que vê o seu papel na Educação como “redentora” acredita na adaptação progressiva do homem em sua vida social. * Vamos ver o que diz o verbete do dicionário Aurélio sobre “redimir”: Remir [redimir] [Do lat. redimere, ‘adquirir de novo’.] 6. Libertar (uma propriedade) de um ônus, pagando a importância dela. V. t. d. V. t. d. e i. 1. Adquirir de novo. 7. Livrar, libertar, resgatar. 2. Tirar do cativeiro, do poder alheio; resgatar. V. p. 3. Indenizar, compensar, reparar, ressarcir. 9. Recuperar-se de uma falta; reabilitar-se. 4. Livrar das penas do Inferno; salvar. 10. Livrar-se de uma situação arriscada. 8. Livrar-se do cativeiro; resgatar-se. 5. Fazer esquecer; expiar, pagar. A Educação, nessa perspectiva, tem o poder de reabilitar o homem para a vida em sociedade. 28 Isso significa que o educador tem a missão de tornar o homem mais feliz na sua vida, porque estará mais adaptado à realidade, com uma formação técnica e humanística capaz de fazê-lo compreender e se mover melhor dentro da comunidade. Nessa perspectiva, ainda, a recíproca é verdadeira: formando um homem mais habilitado e capaz, a sociedade, por sua vez, vai experimentar uma melhoria em seus problemas sociais. Saviani chamou essa tendência de não-crítica, porque se considera independente dos movimentos políticos e da tendência política geral. A educação volta-se, basicamente, para atender aos problemas sociais. Verbete: reproduzir [De re- + produzir.] V. t. d. 1. Produzir novamente; tornar a produzir: 2. Apresentar de novo; tornar a apresentar. 3. Multiplicar (animais ou vegetais); gerar, procriar. 4. Tornar a fazer; repetir, recomeçar. 5. Expor ou contar com minudência; descrever. 6. Imitar fielmente; copiar, repetir; estresir. O segundo tipo de escola foi a que ele chamou de reprodutora. É uma escola ligada intimamente a uma corrente filosófica, de onde vai retirar todo o seu arcabouço explicativo. Essa corrente filosófica, que surgiu com o desenvolvimento dos estudos de antropologia, chamase estruturalismo. Concebe a sociedade como um sistema articulado e fechado. O homem é apenas parte da engrenagem social, que funciona de um modo tão complexo, que foge do controle do próprio homem. Os homens trabalham, vivem e se reproduzem em função de uma ideologia. Essa ideologia serve aos propósitos de quem se beneficia com a atual organização da sociedade, a classe burguesa capitalista. Essa ideologia prepondera sobre as outras, produzidas pela classe menos favorecida. Atualmente, é conhecida como liberalismo. Vamos estudar mais profundamente o sentido da ideologia e do liberalismo no próximo semestre. Por agora, vamos nos contentar com alguns traços básicos da ideologia: - Fornece ao homem um sentido para a vida, seus objetivos e valores. - É veiculada através dos meios de comunicação da cultura, da educação, de modo a garantir que as pessoas não contestem, ou concordem com a base da organização social da produção, mesmo vivendo as injustiças sociais e econômicas que decorrem do capitalismo. Deste modo, o papel da escola é a reprodução dos valores da sociedade. Ela é um dos mecanismos pelos quais a sociedade vem se reproduzindo ao longo do tempo. V. p. 7. Perpetuar-se pela geração; procriar, multiplicar-se. 8. Renovar-se, repetir-se. Reprodução, segundo o sentido assinalado, remetenos tanto ao sentido de produzir de novo quanto ao sentido de multiplicar-se pela procriação. Para que a sociedade continue a existir ela precisa se reproduzir. E quem a reproduz? O homem, em primeiro lugar procriando (sem homens não há sociedade), e em segundo lugar, executando as funções sociais existentes. A educação e os educadores são funções sociais a serem preenchidas pelos homens em prol da reprodução da sociedade. Sem a educação, a sociedade não sobrevive. Por isso a educação jamais terá o poder da transformação. Quem quer a mudança social não conseguirá atingir seus objetivos através da educação. Por mais que alguns educadores tentem direcionar o ensino em busca da transformação da sociedade, ele ou vai falir, ou vai ser despedido, se tornando incapaz de prosseguir com seus projetos, uma vez que foi privado de recursos pelo sistema. Necessariamente, o processo educacional se molda ao formato do sistema. É inútil remar contra a maré, diriam os defensores deste ponto de vista. O máximo que se pode fazer é a crítica a esse estado de coisas, através do esclarecimento proporcionado pela educação. Por isso, Demerval Saviani chama esta escola de crítica. A terceira e última forma de conceber a educação é a escola transformadora. Demerval Saviani considera esta escola dialética. Isso porque engloba a concepção das duas anteriores, superando-as. O seu traço básico é valorizar os projetos. Segundo essa corrente, os homens, mesmo limitados em sua ação pelos entraves impostos pelo sistema social, podem encaminhar a transformação da sociedade pela via da educação. O principal é que os projetos e objetivos a serem implementados nas escolas sejam transformadores. Se o projeto for conservador, o processo educativo será conservador também. E o que é conservador e transformador? Como saber se um projeto é conservador e o outro é transformador? Chama-se transformador um projeto que viabilize a mudança social. Não apenas reformas em sua estrutura, mas uma mudança radical, uma nova organização econômica e política. É conservador, por sua vez, aquele projeto que, por mais otimista e idealista que seja, o fato de lutar por apenas algumas reformas na sociedade, porque acredita que esta organização social pode ser boa, justa, desde que atente para a solução de alguns problemas, faz com que ela não atinja a raiz dos problemas. Ou que seja pessimista, como o que vê a escola como instância simplesmente reprodutora, que qualquer mudança vem para reforçar a conservação. A tendência denominada transformadora não acredita que a sociedade, tal como está, possa algum dia ser justa. É preciso uma grande reformulação socioeconômica, política e cultural para que estes problemas sociais que vivemos hoje em dia não existam mais. Portanto, as duas primeiras escolas analisadas (redentora e reprodutora) foram classificadas de “conservadoras”, em oposição à escola transformadora. Resumindo para você as três concepções: TIPO DE ESCOLA REDENTORA CARACTERÍSTICAS - Propõe uma adaptação ou uma integração melhor do indivíduo com a sociedade existente; - Não tem compromissos com o mundo político, apenas com o mundo social. REPRODUTORA - A sociedade tem a escola a seu serviço, por isso é impossível a mudança através da escola: ela apenas reproduz o “status quo”; - O indivíduo não tem espaço de ação livre, está sempre controlado pelo sistema. TRANSFORMADORA - Contém elementos das duas escolas anteriores: se propõe a integrar melhor o indivíduo através da educação, e sabe que a escola está a serviço do sistema social e da ideologia dominante; - Se vê como mediadora dos diferentes projetos sociais, dando ao indivíduo um espaço de atuação e de liberdade para a mudança social. 29 30 3.1.2 – José Carlos Libâneo Aprofundando a reflexão do professor Saviani no setor das pedagogias, o Professor José Carlos Libâneo também classificou-as, para melhor podermos refletir sobre elas. Cada tendência que interpreta o papel da educação na sociedade corresponde a um tipo de pedagogia. Existem as pedagogias liberais, que estão articuladas à perspectiva da educação redentora e as pedagogias progressistas, que estão ligadas à perspectiva da educação transformadora. O que é uma pedagogia liberal? A palavra liberal vem de liberalismo, da ideologia da sociedade capitalista. O nome remete ao sentido de “livre”, “aberto”, “avançado”, como lembra o professor Libâneo (apud LUCHESI, 1993:54). Mas essas qualidades são atribuídas ao liberalismo pelos próprios liberais. Poderíamos resumir essa ideologia como defensora da propriedade privada e da sociedade de classes, que são as bases da economia (propriedade privada) e da sociedade (classes sociais) do sistema capitalista. isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois, embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. Portanto, o projeto dos pedagogos liberais visa à preparação dos indivíduos para desempenhar os seus papéis sociais. Não questionam, segundo o professor Libâneo, a desigualdade de oportunidades dos indivíduos que receberem esta preparação. Já os pedagogos que se ligam à tendência progressista acreditam que a educação tenha finalidades sociopolíticas, elaboram suas pedagogias a partir de análises críticas das realidades sociais. Sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, por Esses dois grandes grupos possuem subdivisões, segundo suas perspectivas políticas. Estas subdivisões estão relacionadas no quadro a seguir: TIPO DE PEDAGOGIA ESPECIFICIDADES LIBERAL Liberal tradicional Liberal renovada progressivista Liberal renovada não-diretiva Liberal tecnicista PROGRESSISTA Progressista libertadora Progressista libertária Progressista crítico-social dos conteúdos A tendência liberal pode ser ainda tecnicista, que vê a educação exclusivamente como cumpridora do dever de prover técnicos hábeis para a formação de recursos humanos na sociedade; formar homens iniciados no paradigma científico para servirem de mão-de-obra na sociedade industrial. Essa seria a função primordial da educação, segundo os defensores desta corrente de pensamento pedagógico. Acredita-se que a realidade contém em si suas próprias leis, bastando aos homens descobri-las e aplicá-las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A tendência liberal tradicional baseia-se na formação clássica do indivíduo, visando ao acesso deste a uma cultura geral que objetiva, acima de tudo, realizar o aluno como pessoa. Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da palavra do professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente intelectual. Esse é o objetivo que satisfaz o pedagogo liberal tradicional. Já a pedagogia liberal renovada se distancia um pouco da tradicional pelo fato de que ela considera essa cultura geral importante, mas toma como base da educação a valorização das experiências concretas do indivíduo. É a partir destas experiências que o indivíduo vai assimilar uma cultura geral que o ajude em suas questões. Os conteúdos são valorizados, não a partir de um critério totalmente externo (como quer a tendência tradicional), mas parte da realidade cotidiana e de vida dos alunos. Propõe um ensino que valorize a auto-educação (o aluno como sujeito do conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela atividade; um ensino centrado no aluno e no grupo. Outro subgrupo pedagógico existente seria o progressista libertador. Este tem como defensor e idealizador máximo o intelectual Paulo Freire, do qual falaremos com mais detalhes a seguir e no próximo semestre. Junto com outro subgrupo progressista libertário, essas tendências cultivam como valores primordiais o anti-autoritarismo, a experiência de vida, a aprendizagem grupal. Subordinam a assimilação dos conteúdos à veiculação desses valores. Ambas valorizam a aprendizagem em grupo. A pedagogia progressista libertária se distancia da libertadora por defender com radicalidade a autogestão pedagógica. Essa tendência liberal renovada pode ser subdividida ainda em liberal renovada progressivista, que foi difundida pelos educadores da educação nova, como Anísio Teixeira, inspirados pelo filósofo norteamericano John Dewey, e a liberal renovada nãodiretiva, baseada em critérios psicologizantes, voltada para as realizações interpessoais e para a autorealização, tendo a figura do psicólogo Norteamericano Carl Rogers na linha de frente. Por último, temos a pedagogia crítico-social dos conteúdos, que valoriza os conteúdos repassados pela pedagogia liberal, desde que reformulados a partir da prática social dos indivíduos. Os conteúdos tradicionais devem ser transmitidos e assimilados pelos alunos segundo suas experiências de vida. O papel do pedagogo é produzir, em conjunto com seus alunos, esse novo saber criticamente reelaborado. Essa é a tendência defendida pelo professor José Carlos Libâneo. 3.2 – A Educação Popular Várias propostas para a educação popular afloraram ao longo do período em questão, também voltadas para o movimento de resistência à repressão e à pobreza intelectual que a perseguição política e a censura haviam instaurado no país, desde o ano de 1968. Essas propostas caracterizam-se principalmente pelos seus objetivos bastante gerais, focados na formação de um novo homem, dentro de uma nova humanidade. Os autores anteriores traçaram para si também esse objetivo. Porém, buscavam atingir esse objetivo de forma mais indireta, a partir da crítica ao sistema educacional. A educação popular vem necessariamente atrelada à reformulação do recrutamento da população carente, a novas propostas de auto-organização comunitária e localizada, independente da iniciativa estatal, e à reformulação dos conteúdos ministrados e do currículo que o acompanha. Só assim ocorreria o enriquecimento mútuo, entre professor e aluno, já que esse princípio necessita do confronto permanente entre os diferentes enfoques do professor e do aluno. Aula é sinônimo de troca. Desse modo, ao passo que os conteúdos seriam melhor introjetados, tanto professor como aluno estariam aprendendo com o processo de aprendizagem. Além disso, o objetivo mais geral da convivência entre os diferentes e o princípio da tolerância estariam permanentemente sendo exercitados. E seriam aprendidos indiretamente, dentro da nova forma de ministrar o conhecimento. Dessa corrente, Paulo Freire foi o pedagogo que mais se destacou. A proposta da educação popular veio colada à sua “Pedagogia Libertadora”. O início dos 31 32 anos 60 no Brasil foi marcado por uma polarização política: o Brasil não era mais um país rural, tinha se tornado definitivamente urbano com o avanço da industrialização. As forças progressistas, em vez de estarem unidas em torno da luta pelo desenvolvimento industrial, começaram a levantar bandeiras de lutas pertinentes à nova realidade industrial: ou se tomava partido dos exploradores ou dos explorados. Ou apoiava-se as reivindicações dos operários, que agora sobrepujavam em número os camponeses, ou a burguesia industrial. Nesse ponto, também a cultura começa a ser questionada: a que segmento social ela vem servindo? O principal foco do movimento pela educação popular é, portanto, trazer a realidade vivida fora do processo de ensino para dentro do processo de ensino. Ensinar a partir das diferentes experiências de vida. As propostas de descobrir uma cultura alternativa à imposta pelas instituições burguesas, uma cultura popular, estão na base da formulação da educação popular. Agora, que você tomou conhecimento de detalhes importantes a respeito das principais tendências da educação no Brasil, procure consultar a bibliografia indicada, que lhe ajudará a aprofundar seus estudos sobre o tema. 3.3 – Correntes Pedagógicas Contemporâneas Vivemos hoje a incerteza, a multiplicidade de olhares, como diz Libâneo (2005:19) “a realidade atual mostra-se ao mesmo tempo homogênea e heterogênea, num processo de globalização e individualização, afetando sentidos e significados de indivíduos e grupos, criando múltiplas culturas, múltiplas relações”. As situações de crises, pressões sociais e econômicas, a inversão de valores por que passa a sociedade exige da escola decisões e ações imediatas a fim de promover mudanças qualitativas na aprendizagem e formação plena do indivíduo. Assim sendo, a Pedagogia irá proporcionar ao educador a efetivação de práticas pedagógicas que possam influir na formação desse indivíduo, atendendo as diferentes dimensões do homem, situadas nos contextos biopsíquico-social, histórico e cultural, e por que não dizer, o espiritual e cósmico, como alerta Morin (2003) em seu livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro”. A sala de aula vem provocando insuficientes mudanças na qualidade de vida do sujeito. O agir pedagógico dissociado da vivência dos alunos e destituído de uma bagagem de conhecimento que possa permitir o desenvolvimento das potencialidades do homem acaba por criar um ambiente de aprendizagem desinteressante e um, como afirma Libâneo (2005) “sentimento de fracasso, de mediocridade, de incompetência”. As pedagogias, ditas “clássicas”, não estão propiciando espaço de tomada de decisões que efetivamente possa provocar as mudanças necessárias à educação. Essas pedagogias acabam por permitir abarcar novas concepções filosóficas pedagógicas, na tentativa de alicerçar novos caminhos de entendimento e de ação do homem na sociedade de hoje e, em especial, na sala de aula. Esses novos olhares permitem o trabalho com o homem nos diferentes aspectos que compõem esse ser. A partir desse contexto, Libâneo (2005) apresenta um quadro que compreende as teorias e correntes pedagógicas contemporâneas revisitadas. 33 Correntes 1- Racional-tecnológica Modalidades Ensino de excelência Ensino tecnológico 2- Neocognivistas Construtivismo pós-piagetiano Ciências cognitivas 3- Sociocríticas Sociologia crítica do currículo Teoria histórico-cultural Teoria sociocultural Teoria sociocognitiva Teoria da ação comunicativa 4- Holísticas Holismo Teoria da complexidade Teoria naturalista do conhecimento Ecopedagogia Conhecimento em rede 5- Pós-modernas Pós-estruturalismo Neopragmatismo Quadro das correntes pedagógicas contemporâneas, segundo Libâneo (2005). 34 1-A corrente racional-tecnológica Diferentemente do cunho acadêmico da pedagogia tradicional, a corrente racional-tecnológica busca seu fundamento na racionalidade técnica e instrumental, visando a desenvolver habilidades e destrezas para formar o técnico. que se desenvolvem a partir de referenciais marxistas ou neomarxistas e mesmo, apenas, de inspiração marxista e que são, freqüentemente, divergentes entre si, principalmente quanto a premissas epistemológicas” (LIBÂNEO, 2005:32). Principais características: Principais Características: • Ensino de excelência, para formar a elite intelectual e técnica para o sistema produtivo; • Ensino para a formação de mão-de-obra intermediária, centrada na educação utilitária e eficaz para o mercado; •Centralidade no conhecimento em função da sociedade tecnológica, transformação da educação em ciência (racionalidade científica); • Produção do aluno como um ser tecnológico (versão tecnicista do “aprender a aprender”); • Utilização mais intensiva dos meios de comunicação e informação e do aparato tecnológico. 2- A corrente neocognitivista Introduz novos aportes ao estudo da aprendizagem, do desenvolvimento, da cognição e da inteligência. a) Construtivismo pós-piagetiano • A aprendizagem humana é resultado de uma construção mental realizada pelos sujeitos com base na sua ação sobre o mundo e na interação com outros; • Incorpora contribuições de outras fontes tais como o lugar do desejo e do outro na aprendizagem, o predomínio da linguagem em relação à razão, o papel da interação social na construção do conhecimento, a singularidade e a pluralidade dos sujeitos. b) Ciências cognitivas A partir da psicolingüística, da teoria da comunicação e da cibernética (ciência dos computadores) surgem duas versões: • A psicologia cognitiva, que estuda diretamente o comportamento inteligente de sujeitos humanos, isto é, o ser humano como processador de informações; • A ciência cognitiva, que aprofunda as analogias entre mente e computador, visando à construção de modelos computacionais para entender a cognição humana. 3- Teorias sociocríticas “A designação ‘sociocrítica’ está sendo utilizada para ampliar o sentido de ‘crítica’ e abranger teorias e correntes • Compreensão da realidade para transformá-la, visando à construção de novas relações sociais para superação de desigualdades sociais e econômicas; • Considera os efeitos do currículo oculto e do contexto da ação educativa nos processos de ensino e aprendizagem, inclusive para submeter os conteúdos a uma análise ideológica e política; • Algumas dão ênfase às questões políticas do processo de formação, outras colocam a relação pedagógica como mediação da formação social e política (função de transmissão cultural e formação da cidadania); • Diferenças na determinação dos objetivos da educação e do ensino levam a distintas opções metodológicas que vão desde a visão do ensino como transmissão cultural até a uma idéia de escola mais informal centrada na valorização de elementos experienciais, fortuitos, da convivência social, minimizando ou até recusando um currículo formal. a) A teoria curricular crítica Com características neomarxistas, acentua os fatores sociais e culturais na construção do conhecimento, lidando com temas como cultura, ideologia, currículo oculto, linguagem, poder, multiculturalismo (MOREIRA; SILVA, 1994). Questiona como são construídos os saberes escolares, propõe analisar o saber particular de cada agrupamento de alunos, porque esse saber expressa certas maneiras de agir, de sentir, de falar e de ver o mundo. Tem sua origem na Sociologia Crítica. Na esfera dos sistemas de ensino, leva às políticas de integração de minorias sociais, étnicas e culturais ao processo de escolarização opondo-se à definição de currículos nacionais. b) Teoria histórico-cultural As bases teóricas apóiam-se em Vygotsky e seguidores. A aprendizagem resulta da interação sujeito-objeto, em que a ação do sujeito sobre o meio é socialmente mediada, atribuindo-se peso significativo à cultura e às relações sociais. A atividade do sujeito supõe a ação entre sujeitos, no sentido de uma relação do sujeito com o outro, com seus parceiros. Esta abordagem está focada na estrutura do funcionamento cognitivo em suas interações com as mediações culturais (DANIELS, 2003). c) Teoria sociocognitiva Põe em relevo as condições culturais e sociais da aprendizagem, visando ao desenvolvimento da sociabilidade por meio de processos socioculturais. O mais importante para essa teoria é a organização de um ambiente educativo de solidariedade de relações comunicativas, com base nas experiências cotidianas, nas manifestações da cultura popular. d) Teoria da ação comunicativa Formulada por J. Habermas, está associada à teoria crítica da educação originada da Escola de Frankfurt. O agir pedagógico se faz a partir da interação entre sujeitos por meio do diálogo para se chegar a um entendimento e cooperação entre as pessoas nos seus vários contextos de existência. 4- Teorias holísticas Correntes de diferentes vertentes teóricas, que têm como denominador comum uma visão “holística” da realidade, isto é, a realidade como uma totalidade de integração entre o todo e as partes, mas compreendendo diferentemente a dinâmica e os processos dessa integração. O que é holismo? O holismo é uma tendência que sintetiza unidades em totalidades organizadas , nas quais o homem é um todo indivisível, na podendo ser explicado pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico) considerados separadamente. Tudo é interdependente. Tudo se interliga e se inter-relaciona de forma global. A visão holística procura romper com toda espécie de reducionismo: o científico, o somático, o religioso, o niilista, o materialista ou substancialista, o racionalista, o mecanicista, o antropocêntrico, entre outros. O projeto educativo visa a conscientizar para o fato de que as pessoas pertencem ao universo e que o desenvolvimento da espécie humana depende de um projeto mundial de preservação da vida. A educação holística não rejeita o conhecimento racional e outras formas de conhecimento, mas insiste em considerar a vida como uma totalidade em que o todo se encontra na parte, cada parte é um todo, porque o todo está nela. Este é um novo conceito e processo educacional que respeita os pilares da Educação do Século XXI propostos pela UNESCO: “aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser”. Ou seja, a educação precisa alcançar três níveis de ecologia e de consciência, conforme definidos por Pierre Weil: ecologia e consciência pessoais, ecologia e consciência sociais e ecologia e consciência planetárias. Para atingi-los, torna-se necessário identificar os obstáculos à paz, as razões profundas que levam à guerra e à destruição da vida no planeta. No plano do indivíduo, a violência começa na mente de cada um de nós, gerada pela idéia fantasiosa de que somos separados do mundo. Dessa maneira surge o apego a tudo o que nos dá prazer e a rejeição a tudo o que nos ameaça, quer sejam pessoas, coisas ou idéias. Do apego surge o medo da perda, a desconfiança, a intolerância no plano das emoções (raiva, ciúme, orgulho) que, afetando o corpo, leva ao estresse, à doença e ao sofrimento, aumentando ainda mais a sensação de sermos separados. Cria-se, então, um círculo vicioso e repetitivo. a) Teoria da complexidade É uma abordagem metodológica dos fenômenos, na qual se aprende a complexidade das situações educativas, em oposição ao pensamento simplificador. Complexus significa o que foi tecido junto: de fato, há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade. Os desenvolvimentos próprios a nossa era planetária nos confrontam cada vez mais e de maneira cada vez mais inelutável com os desafios da complexidade. (MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez Brasília: UNESCO, p.38.) Aplicado à Pedagogia, o pensamento complexo pressupõe a integração no ato pedagógico de múltiplas dimensões, o que requer o diálogo com várias orientações de pensamento, reconhecendo que nenhuma teoria pedagógica é capaz, sozinha, de atender as necessidades educativas, sociais e individuais. 35 36 b) Teoria naturalista do conhecimento Desenvolvida por autores como Varela e Maturama, e Hugo Assmann (Brasil),compreende que o conhecimento humano está ligado ao plano biológico, bioindividual e biosocial. Essa teoria opõe-se a uma visão mentalista do sujeito e da consciência, afirmando a mediação corporal dos processos de conhecimento. O ato pedagógico vai além do racional. Assmann (1994), para compreender a corporeidade na dimensão educativa, busca o cultivo da sensibilidade e a quebra da dicotomia corpo/mente ou razão/emoção. “Todo conhecimento tem uma inscrição corporal” (ASSMANN,1996:30). Para Hugo Assmann o conhecimeto deve provocar a emergência de novas vivências e o que chamamos de conhecimento é uma organização dinâmica de organismo/ambiente em um contexto de inter-ação. Para os biólogos Varela e Maturana, da Escola de Santiago, toda experiência cognitiva inclui aquele que conhece de modo pessoal e enraizado a sua estrutura corpórea, razão pela qual toda experiência de certeza é um fenômeno individual, uma solidão que só é transcendida no mundo que criamos juntos uns com outros. c) Ecopedagogia Trata-se da pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana, tendo como objetivo a promoção das sociedades sustentáveis. O conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da “Carta da Terra”, documento anunciado em março de 2000 pela Unesco e que foi adotado pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da “Declaração dos Direitos Humanos”. A “Carta da Terra” foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representante de todos os povos, e, por isso, conseguiu o status de documento da “cidadania planetária”. A ecopedagogia inclui abordagens da planetaridade, educação para o futuro, cidadania planetária, virtualidade e a Pedagogia da Terra. Ela se fundamenta num paradigma filosófico (Paulo Freire, Leonardo Boff, Sebastião Salgado, Boaventura de Sousa Santos, Milton Santos) emergente na educação que propõe um conjunto de saberes/valores interdependentes. Entre eles podemos destacar:educar para pensar globalmente; educar os sentimentos; ensinar a identidade terrena; formar para a consciência planetária; formar para a compreensão e educar para a simplicidade e para a quietude. d) Conhecimento em rede O conhecimento constrói-se socialmente, não no sentido de assimilação da cultura anteriormente acumulada, mas no sentido de que ele emerge nas ações cotidianas, rompendo-se com a separação entre conhecimento científico e conhecimento cotidiano. “A escola é um espaço/tempo de relações múltiplas entre múltiplos sujeitos com saberes múltiplos, que aprendem/ ensinam o tempo todo, múltiplos conteúdos de múltiplas maneiras” (ALVES, apud LIBÂNEO e SANTOS, 2005:38). 5- Correntes pós-modernas A maior parte das publicações dessa corrente tem sido produzidas na área de educação, sendo assim, Libâneo denomina-a como “pedagogias”. Não sendo aceita pela maioria dos autores pós-modernos. Criticam as concepções globalizantes do destino humano e da sociedade. Segundo as pedagogias pósmodernas, não há mais uma consciência unitária, não há uma referência moral, teórica na qual se baseie o desenvolvimento da consciência. a) Pós-estruturalismo Aparece principalmente pela divulgação do pensamento de Michel Foucault sobre as relações entre o saber e o poder nas instituições educativas. O sistema educativo como poder cria um saber para exercer controle sobre as pessoas, razão para lançar descrédito sobre a pedagogia, já que seu papel é formar sujeito da modernidade, isto é, o sujeito submisso, disciplinado, submetido ao poder do outro. b) Neopragmatismo Está associado à virada lingüística pragmática iniciada por filósofos ligados à Filosofia Analítica. Seu principal representante é R. Rorty. Propõe uma visão de conhecimento e de construção humana em que se supere uma visão individualista, estática, por outra de caráter dialógico, comunicativo, de compartilhamento com os outros, realizado no mundo prático onde o conhecimento é produzido. Exercícios de Fixação 37 1- Que tipo de escola o Professor Demerval Saviani considera ideal, após separar as diferentes concepções de Educação? 2- Qual a pedagogia defendida pelo professor José Carlos Libâneo? 3- Leia o texto do professor Libâneo, no capítulo 3 do livro de Cipriano Luckesi, A Filosofia da Educação, e depois preencha o quadro abaixo: LIBERAL TRADICIONAL LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA LIBERAL RENOVADA NÃO-DIRETIVA LIBERAL TECNICISTA PROGRESSISTA LIBERTADORA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA PROGRESSISTA CRÍTICOSOCIAL DOS CONTEÚDOS PAPEL DA CONTEÚDOS ESCOLA DE ENSINO MÉTODOS RELAÇÃO PRESSUPOSTO MANIFESTAÇÃO PROFESSOR- DA NA PRÁTICA ALUNO APRENDIZAGEM ESCOLAR 38 4- Apresente as características das escolas da tendência da Educação Popular: 5- Faça um quadro síntese das características de cada pedagogia contemporânea e envie ao tutor. Exercícios de Reflexão 1- Em qual tipo de escola se enquadra a(s) que estamos em contato em nosso cotidiano? Justifique sua resposta. (10 linhas) 2- Em que perspectiva pedagógica você enquadra a sua prática? Justifique a sua resposta. (10 linhas). 3- Desenvolva um texto procurando resgatar as principais contribuições das pedagogias tradicional, renovada, tecnicista e progressista para uma educação atual comprometida com a formação do cidadão. UNIDADE IV 39 TRANSDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO Objetivos específicos: - Compreender o sentido do termo transdisciplinar no processo de conhecimento do mundo. - Proporcionar reflexões sobre novos olhares da educação para a construção da identidade do homem como ser planetário. 4.1 - A Abrangência do Termo Transdisciplinar O termo transdisciplinaridade foi tratado por Jean Piaget em 1970 durante um congressso. O prefixo trans significa ao que está entre, através e além das disciplinas. Tem como proposta o rompimento da dualidade sujeito/objeto. Envolve aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através da diferentes disciplinas e além de toda e qualquer disciplina. A transdisciplinaridade atravessa as fronteiras epistemológicas de cada ciência, praticando o diálogo dos saberes sem perder de vista a diversidade e a preservação da vida no planeta, construindo um texto contextualizado e personalizado de leitura dos fenômenos. A transdisciplinaridade é sustentada por três pilares: os níveis de realidade, a lógica do terceiro incluído e a complexidade. Para muitos autores, a transdisciplinaridade é o preâmbulo do conhecimento holístico. Segundo Ubiratan D’Ambrósio, a transdisciplinaridade repousa sobre uma atitude aberta, de respeito mútuo e mesmo de humildade com relação a mitos, religiões e sistemas de explicações de conhecimento, rejeitando qualquer tipo de arrogância ou prepotência. Em seu livro “O Manifesto da Transdisciplinaridade”, Basarab Nicolescu mostra a transdisciplinaridade como possível solução para a adaptação do indivíduo aos saberes e aos novos conhecimentos vivenciados, evitando-se o declínio da civilização. 4.2 - Educação Transdisciplinar O Relatório Delors, elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, ligada à UNESCO, ressalta nitidamente os quatro pilares de um novo tipo de educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser. Quanto mais transdisciplinar for a prática pedagógica, mais avançará nos conhecimentos disciplinares, multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares (respeitando cada um deles), mais avançará nos diferentes aspectos e nos diferentes campos do pólo saber (respeitando cada um deles), mais em conta levará os diferentes níveis dos pólos dos sujeitos (professores e alunos) – e, neste caso, nos diferentes campos do pólo saber estimulará um diálogo profundo com as tradições de sabedoria. (SOMMERMAN, apud Libâneo, 2005: 162) Nas práticas educativas centradas no paradigma da disciplinaridade, cada disciplina é abordada e desdobrada de modo fragmentado e percorre uma trajetória paralela e isolada demais. Na medida em que os currículos são compostos por fluxogramas que apresentam saberes demarcados por regiões fronteiriças que os dividem e os fragmentam, professores e alunos tornam-se especialistas nas partes, nos recortes das especialidades perdendo de vista a compreensão das relações e das inte-relações dinâmicas que perfazem a teia interativa da complexidade das fenômenos. (ARAÚJO, extraído de www.cegel.org.br/revista/transd.html, 01/04/01). 40 Na transdisciplinaridade, precisamos descontruir para reconstruir; manter as fronteiras abertas (em todos os sentidos: científica, social, econômica ...); compreender a diversidade e daí extrair algo positivo que deva expandir para todos. A Educação deve tirar as amarras, isto é, deve abranger outros olhares sobre o homem e seu mundo; abarcar toda a diversidade, possibilitar uma transculturalidade. A educação tradicional vem alicerçada num modelo dictômico, por isso fragmentado, isso está espelhado desde a infraestrutura do prédio, perpassando pelos conteúdos programáticos, estratégias, avaliações, gestão etc. Exercícios de Fixação 1- Procure no dicionário os termos: disciplina, multidisciplina, interdisciplina, e transdisciplina e contextualize diante do cenário educacional hoje. Obs.: não esqueça de apresentar a referência bibliográfica, isto é, a fonte de consulta. 2- Qual a contribuição da transdisciplinaridade para a educação do século XXI? Exercícios de Reflexão 1- Desenvolva uma dissertação a partir do texto a seguir (30 linhas). A educação tem, sem dúvida, um papel importante a desempenhar, se quiser dominar o desenvolvimento do entrecruzar de redes de comunicação que, pondo os homens a escutarse uns aos outros, faz deles verdadeiros vizinhos. (DELORS, J. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI. 3 ed., São Paulo: Cortez. Brasília, DF: MEC UNESCO, 1999: 40) Ao terminar o estudo desta disciplina, você terá assimilado os conteúdos mais significativos que foram apresentados através deste módulo. Não deixe de esclarecer qualquer dúvida que porventura tenha surgido. Só passe à avaliação final com toda a matéria bem compreendida. 41 Se você: 1) 2) 3) 4) concluiu o estudo deste guia; participou dos encontros; fez contato com seu tutor; realizou as atividades previstas; Então, você está preparado para as avaliações. Parabéns! 42 Glossário Cibernética – a Cibernética é uma palavra de origem remota que explica o estudo das funções humanas de controle e dos sistemas mecânicos e eletrônicos que se destinam a substituí-los. Originada do grego kibernetiké (timoneiro; o que governa o timão da embarcação; o homem do leme, em sentido figurado, ou aquele que dirige ou regula qualquer coisa; guia, chefe). Dialética – originalmente, Dialética quer dizer a arte do diálogo, da contraposição de idéias que leva a outras idéias. O conceito de dialética, porém, é apropriado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo com cada uma delas, assume um significado distinto. Educação – etimologia da palavra educação provém de dois vocábulos latinos, educare e educere, e significa o “processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano” (FERREIRA, 1993: 197). Liberalismo – doutrina cujas origens remontam ao pensamento de Locke (1632-1704), baseada na defesa intransigente da liberdade individual, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra ingerências excessivas e atitudes coercitivas do poder estatal. Pedagogia – o conceito de pedagogia nasceu na Grécia. No início, na paidéia grega, “criação de meninos”, posteriormente, os pensadores educacionais de outras épocas ampliaram-no acrescentando o conceito de Agogôs (que conduz), criando um novo conceito, o “Paidagogos que significa “aquele que conduz a criança” (ARANHA, 1996: 41) e, hoje, temos a pedagogia, classificada por muitos estudiosos como uma ciência da educação.(http://www.uniube.br/institucional/proreitoria/propep/mestrado/educacao/revista/vol02/04/art01.htm. Acesso em 12 jan., 2007). Pensamento complexo – é o pensamento que se abre às influências tanto no âmbito estritamente metodológico, quanto no campo cultural. Um pensamento aberto e flexível que aceita e procura entender as constantes mudanças do mundo e não nega a multiplicidade, a diversidade, a aleatoriedade e a incerteza. Práxis – a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Psicolingüística – o estudo das conexões entre a linguagem e a mente. Gabarito A auto-avaliação deve conter respostas amplas. Quantos mais elementos você puder apresentar nas suas respostas, maiores são os conhecimentos adquiridos por você. É sinal de que você está conseguindo articular, intelectualmente, os diferentes conceitos entre si. Não se acanhe em buscar elementos em todas as unidades para sua argumentação final. Procure dar as respostas da maneira mais completa possível e encaminhe-as ao tutor, de modo a serem, se não corrigidas, recolocadas por ele, dentro do modo como você apreendeu o conteúdo geral. Gabarito dos Exercícios de Fixação Unidade I Exercício I 1- Quando conhecemos algo, estamos absorvendo conteúdos para nossa informação. Pensar significa desenvolver a capacidade de pegar objetos e moldá-los com o nosso pensamento da melhor maneira possível, dando novos significados à realidade. 2- A inquietação, a admiração, a angústia, o medo e a coragem. 3- Perguntar-se como se dá a relação professor-aluno, de que modo se pode fazer a avaliação deste é tarefa destas ciências, como a Psicologia da Educação e/ou a Didática. 4- Auxilia o educador a ter uma perspectiva mais ampla sobre o seu ofício, quando se pergunta sobre o significado desta para o homem. 5- Não. Porque as escolas são as instituições que veiculam a educação na sociedade: a escola é veículo apenas para o tipo de educação que é considerado mais importante pelo Ministério da Educação, em favor dos grupos que dirigem esta organização social e política. 6- A Filosofia da Educação não cria a educação: limita-se a refletir sobre as educações que existem, ou que já existiram. 7- Através da Filosofia da Educação, adquirimos o instrumental intelectual necessário para tomarmos consciência de que existem diferentes processos educacionais, diferentes utilidades para cada um, e para distinguirmos com clareza a quem estamos servindo quando ensinamos. Com este instrumental, podemos optar com consciência entre as abordagens e os conteúdos que utilizaremos em sala de aula com os nossos alunos. Esta conscientização também é útil ao próprio profissional de educação, pois permite que ele planeje melhor os seus projetos pedagógicos. 8- Acreditam que uma sociedade que cuide bem da “saúde”dos seus capitais, necessariamente, será uma sociedade rica e desenvolvida. 9- Uma não correspondência entre as demandas sociais (saúde, aumento da renda etc.) e o que está sendo efetivamente veiculado pela educação (saber técnológico de ponta para o desenvolvimento da economia capitalista). 10- Faz com que nosso técnicos pensem e produzam o aumento dos lucros e da produção, mas deixem de lado de que forma essa produção é distribuída na sociedade. Exercício II Resposta de cunho pessoal. Encaminhe ao tutor. Leitura Complementar Resposta de cunho pessoal. Encaminhe ao tutor. 43 44 Unidade II Exercícios de Fixação Exercício I 1- A teoria dos valores. 2- Ao tomarmos atitudes, estamos o tempo todo fazendo escolhas. Essas escolhas são movidas pelos nossos valores. 3- Em Filosofia, ao acharmos algo ou alguém “bom”ou “ruim”, “útil” ou “inútil”, e nos posicionarmos frente a algo ou alguém a partir disso, dizemos que estamos fazendo um julgamneto, ou juízo de valor. 4- Não. Porque a moral também faz parte de um processo de construção. Exercício II Resposta de cunho pessoal. Encaminhe ao tutor. Leitura Complementar 1- O guerrilheiro de esquerda, durante a Guerra Civil Espanhola, foi capturado para entregar o líder do seu grupo, carismático e influente pela causa contra a ditadura do general Franco. Ou entregava o paradeiro do líder, seu amigo, ou seria executado. 2- Resolveu não informar o paradeiro do líder. Pela manhã, antes de ser executado, após muita reflexão, resolveu dar um pouco de trabalho aos seus algozes, e informar um paradeiro falso de seu amigo, já que ele seria executado de qualquer maneira. 3- Acabou, por obra do acaso, sendo libertado. Depois de passar a noite toda refletindo e concluir sobre a curta duração da existência humana, da extrema contingência de estar vivo no mundo, quando não fazia mais a menor diferença viver mais 30 anos ou 30 segundos, no momento em que estava prestes a ser “redimido”através de sua execução, passou a ser “condenado”a ficar livre, e com um sentimento de culpa, por ter entregado, sem querer, o seu amigo, líder da facção contra-revolucionária, que seria desmobilizada a partir de então. Exercício de Reflexão Resposta de cunho pessoal. Encaminhe ao tutor. Unidade III Exercícios de Fixação 1- Tabela a ser conferida pelo tutor, transcrita do texto, como auxiliar do fichamento. 2- Transformadora. 3- Pedagogia crítico-social dos conteúdos. 4- Objetivos bastante gerais, focados na formação de um novo homem. Trazer a realidade vivida fora do processo de ensino para dentro do processo de ensino. Ensinar a partir das diferentes experiências de vida. Aula é sinônimo de troca. O objetivo mais geral da convivência entre os diferentes, o princípio da tolerância estaria permanentemente sendo exercitado. Exercícios de Reflexão Resposta de cunho pessoal. Encaminhe ao tutor. Unidade IV Exercícios de Fixação 1) Resposta se encontra em dicionário. Deverá ser encaminhada ao tutor. 2) Abre espaços para a comunhão de diferentes saberes em diferentes níveis de conhecimento, procurando atender as necessidades do homem como ser integral e possibilitando que a educação possa estimular e desenvolver a consciência planetária na pessoa, visto que essa atitude tornar-se-á imprescindível diante de um mundo ameaçado por diversas catástrofes, sejam elas ambientais, sociais, políticas, econômicas etc. Exercícios de Reflexão Resposta de cunho pessoal. Encaminhe ao tutor. 45 46 Referências Bibliográficas ARANHA, M. L. de A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1988. ARAÚJO, M. L. Transdisciplinaridade e educação. Disponível em http://www.cegel.org.br/revista/transd.html. 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