Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE (S) OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Memória Social na UNIRIO [email protected] RESUMO O presente artigo discute, em uma abordagem interdisciplinar, fundamentada no campo da memória social, as relações familiares nas construções identitárias de músicos profissionais que tiveram sua iniciação ou atuaram nas Bandas Filarmônicas Portuguesas na cidade do Rio de Janeiro. Serão abordadas as relações entre memória, narrativas e identidades dentro de um paradigma socioconstrucionista. Através das narrativas de experiências pessoais colhidas no grupo focal realizado com estes músicos profissionais, selecionamos e analisaremos quatro segmentos narrativos procurando mostrar elementos das construções das suas identidades no tocante às relações familiares nas suas interações com as Bandas Filarmônicas Portuguesas observando, também, questões afetivas e intergeracionais. Palavras-chave: Bandas Filarmônicas Portuguesas. Memórias. Identidade. ABSTRACT This article discusses, in an interdisciplinary approach, based in social memory, family relationships in the identity constructions of professional musicians who had their initiation or played in Portuguese Philharmonic Bands in the city of Rio de Janeiro. We will address the relationship between memory, narratives and identities within a social constructionist paradigm. Through personal experience narratives collected in focus group comprised of these professional musicians, we selected and will analyze four narrative segments trying to show elements of the constructions of their identities with regard to family relationships in their interactions with the Portuguese Philharmonic Bands also taking intergenerational and emotional issues. Key-words: Portuguese Philharmonic Bands. Memories. Identity. INTRODUÇÃO O presente estudo é parte integrante de uma pesquisa de doutoramento com foco no processo de construção das memórias das Bandas Filarmônicas Portuguesas no Rio de Janeiro, a partir de 1920, e da compreensão da sua realidade atual. A inspiração para o desenvolvimento da presente pesquisa surgiu a partir de um artigo que me foi solicitado pela Confederação Musical Portuguesa para publicação na MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 148 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 edição número 3 de sua revista “Entre Bandas” (2012) a respeito das Bandas Filarmônicas Portuguesas no Brasil. Ao iniciar a revisão da literatura, percebi que as informações sobre estes grupos musicais eram escassas e baseavam-se, na sua maioria, em relatos orais de sujeitos que fizeram ou ainda fazem parte destas instituições ou que tiveram alguma ligação com elas dentro da comunidade luso-brasileira. A única pesquisa acadêmica sobre o tema foi a Dissertação de Mestrado de Ana Maria de Moura Nogueira intitulada “Como Nossos Pais – Uma História da Memória da Imigração Portuguesa em Niterói, 1900/1950”, na qual a autora destaca a influência da imigração portuguesa no desenvolvimento da cidade de Niterói na primeira metade do século XX a partir de duas instituições musicais fundadas por imigrantes portugueses sendo, uma delas, o Centro Musical Beneficente da Colônia Portuguesa - a Banda Portuguesa de Niterói. Existiram, na cidade do Rio de Janeiro, diversas Bandas Filarmônicas fundadas por imigrantes portugueses e o primeiro grupo fundado na cidade foi a Banda do Centro Musical da Colônia Portuguesa, em 1920. Desde então outras bandas foram criadas e encerraram suas atividades como a Banda Luzitana, a Banda União Portuguesa e a Banda da Sociedade Beneficente Musical Portuguesa. Foi possível constatar a existência destas bandas, fundadas na década de 1920, através de pesquisa em periódicos na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Até meados da década de 1990, existiam no estado do Rio de Janeiro quatro Bandas Filarmônicas Portuguesas: Banda Portugal, Banda Luzitana, Banda Portuguesa de Niterói e Banda Irmãos Pepino. Atualmente só estão em atividade a Banda Portugal e a Banda Irmãos Pepino funcionando, ainda assim, de forma bastante precária se compararmos ao apogeu que tiveram até meados da década de 1980. A fim de construir as memórias destas instituições e procurar entender os motivos que levaram à situação de declínio atual, adotamos, como um dos procedimentos metodológicos, a realização de grupos focais e entrevistas com sujeitos que atuam ou atuaram, de alguma forma, nas bandas. O primeiro grupo focal foi constituído com músicos que hoje atuam profissionalmente e que tiveram sua iniciação musical ou tocaram por um determinado período em pelo menos uma das Bandas Filarmônicas Portuguesas na cidade do Rio de Janeiro. MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 149 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 As memórias trazidas à tona pelos músicos profissionais nas suas narrativas de experiências pessoais serão analisadas com vistas à compreensão das influências familiares na coconstrução das suas identidades. Para tal fundamentaremos teoricamente a pesquisa em autores da Memória Social como Gondar (2005), Farias (2011) e Ferreira (2005), autores que trabalham com Narrativas e Histórias de Vida como Linde (1993, 2001), Narrativas de experiência pessoal laboviana como Bastos (2008) e Discursos e Identidades como Moita Lopes (2003), De Fina (2011) e Pollack (1992). 1. MEMÓRIA, NARRATIVAS E IDENTIDADE(S) Conforme destacamos, na seção anterior, a análise do processo de construção das memórias das Bandas Filarmônicas Portuguesas no Rio de Janeiro será realizado, em parte, através das narrativas colhidas em entrevistas e grupos focais constituídos no decorrer da pesquisa, com sujeitos que fizeram ou ainda fazem parte destes grupos musicais, como músicos profissionais e amadores, maestros, diretores e pessoas ligadas à comunidade portuguesa no Rio de Janeiro. Neste sentido é importante ressaltar que o arcabouço teórico para a análise será fundamentado num tripé baseado nos conceitos de memória social, narrativas e identidade(s), entendendo-os como construções sociais e discursivas que acontecem na interação entre as pessoas. Segundo Linde (1993, 2001), histórias de vida representam eventos passados através de algum meio e podem ser orais, escritas, filmadas ou desenhadas. O foco do presente estudo será nas histórias orais, obtidas junto aos músicos profissionais que participaram do primeiro grupo focal realizado na pesquisa. Linde (1993) estabelece que histórias de vida podem conter narrativas, como as labovianas; crônicas, em que os relatos não são narrativas completas; explicações, que assemelham-se à estrutura de um argumento (Schiffrin, 1987). A narrativa laboviana, de experiência pessoal, é mais específica, conforme veremos a seguir1. Bastos (2008) explica que o estudo da narrativa, na Sociolinguística, foi introduzido pelos trabalhos de Labov e Waletzky (1967) e Labov (1972), que a definiram como um método de recapitular experiências passadas combinando uma 1 Utilizamos os conceitos de história de vida e de narrativa de experiência pessoal reportável. Não traduzimos como „estória de vida‟, mas entendemos que são relatos construídos pelos participantes, como memórias de suas experiências de vida musical. MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 150 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 sequência verbal de orações com uma sequência de eventos que (presume-se) ocorreram de fato. Para os autores, o que caracteriza a recapitulação de experiências como uma narrativa, e não como um relatório, é o fato dela remeter a um acontecimento específico e não a hábitos passados ou ações recorrentes, ser estruturada em uma sequência temporal e ter um ponto a ser contado. Na percepção de Bastos (2008), as narrativas “[...] não são mais consideradas como representações diretas e transparentes de eventos passados, mas sim como recontagens seletivas e contextualizadas de lembranças de eventos.” (p. 94). Desta forma, a autora afirma que falamos sobre nossas experiências passadas guiados pelo filtro de nossas emoções, o que faz com que transformemos e recriemos a nossa experiência, ou seja, cada vez que contamos uma história podemos estar tanto transformando nossas lembranças quanto cristalizando determinadas interpretações e formas de relatá-las e essas interpretações e formulações discursivas muitas vezes passam a ser a nossa memória do que aconteceu. Alguns autores criticam o estudo das narrativas na perspectiva laboviana reconhecendo, no entanto, que esta abordagem abriu caminho para a pesquisa em narrativa nos estudos linguísticos. Contudo, observam que Labov trata a narrativa como uma estrutura autônoma e descontextualizada aliado ao fato do autor não problematizar a relação entre evento passado, memória e narrativa. Linde (1993), uma das críticas do modelo laboviano, propõe o estudo das histórias de vida, que funcionam na construção e afirmação das identidades. Para a autora, a história de vida de cada pessoa é um conjunto de histórias que se relacionam coerentemente entre si e que vão, dinamicamente, se alterando no curso da vida das pessoas, que as transformam em cada situação de narração, como também no sentido de que novas narrativas vão sendo acrescentadas e outras esquecidas, estando em constante revisão e reinterpretação. A análise proposta está em consonância com histórias de vida (Linde, 1993), narrativas labovianas (Bastos, 2008) e em autores da memória social como Gondar e Dodebei (2005) que afirmam que a memória está inserida em um campo de lutas e de relações de poder, configurando um contínuo embate entre lembrança e esquecimento. Gondar, em sua perspectiva socioconstrucionista do processo de construção da memória, afirma que: MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 151 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 Admite-se hoje que a memória é uma construção. Ela não nos conduz a reconstituir o passado, mas sim a reconstruí-lo com base nas questões que nos fazemos, que fazemos a ele, questões que dizem mais de nós mesmos, de nossa perspectiva presente, que do frescor dos acontecimentos passados. [...] É apenas nesse período, bastante recente na história do pensamento (final do séc. XIX, no qual a memória passa a ser concebida como uma construção social), que os homens admitiram que a memória é algo que eles mesmos constroem a partir de suas relações sociais – e não a verdade do que se passou ou do que é. (GONDAR, 2005, pág. 18) Farias (2011) acrescenta a dimensão criativa no processo de construção da memória: Isso quer dizer que, em se tratando de memória, estamos, pois, diante de um campo onde impressões e lembranças que retornam revestemse de uma roupagem produzida de forma criativa, evidenciando a singularidade de cada um em perceber, interpretar, imaginar ou mesmo assimilar as experiências da vida, não obstante vertentes distintas se entrelacem na engrenagem da grande “máquina” da memória. Em princípio, existem os traços referentes às experiências vividas, que concernem à produção de diferentes arranjos subjetivos, mas que não podem ser pensados como um mero armazenamento, ou seja, um arquivo do passado. Trata-se de uma espécie de virtualidade passível de atualização. (FARIAS, 2011, pág. 11) Bastos (2008) considera, ainda, que construímos as histórias que contamos em função da situação de comunicação (quando, onde e para quem contamos), de filtros afetivos e culturais, e do que estamos fazendo ao contar uma estória e acrescenta que, ao contar histórias, situamos os outros e a nós mesmos numa rede de relações sociais, crenças e valores, ou seja, estamos construindo identidades. Moita Lopes (2003) considera que as identidades sociais são fragmentadas, contraditórias e em fluxo. Para o autor, as identidades sociais são discursivas, pois aprendemos a ser quem somos ao longo de nossas vidas, nos encontros interacionais de todo dia. A propósito das construções da identidade e da memória, Pollack (1992) ressalta um elemento de disputa política: A construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com outros. Vale dizer que memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um grupo. Se é possível o confronto entre a memória individual e a memória dos outros, isso mostra que a memória e a identidade são valores MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 152 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos. (Pollack, 1992, p. 5) Em consonância com a visão de Pollack, Gondar (2005) confirma a relevância do elemento político na construção da memória, pois, a partir do posicionamento político, serão feitas as escolhas de como se dará a construção da memória - se como uma reconstrução racional do passado, erigida com base em quadros sociais bem definidos, como propôs Halbwachs (1994), ou como uma memória construída por nossos afetos e expectativas diante do devir, concebendo-a como um foco de resistência no seio das relações de poder, como propôs Foucault (Deleuze, s/d). Na próxima seção, analisaremos segmentos de dados de transcrições de gravações geradas com um grupo focal dos músicos profissionais e procuraremos mostrar como as relações familiares atuaram nas construções identitárias destes músicos e que motivos poderiam ter levado à situação atual de declínio das Bandas Filarmônicas Portuguesas no Rio de Janeiro. 2. RELAÇÕES FAMILIARES E CONSTRUÇÕES DE IDENTIDADE(S) NAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO Nesta seção, analisaremos segmentos de histórias de vida, como propõe Linde (1993), dos músicos profissionais que tiveram sua iniciação ou atuaram durante um período de tempo nas Bandas Filarmônicas Portuguesas no Rio de Janeiro. Para efeito de análise, apresentaremos os dados em um bloco narrativo com foco nas relações familiares e construções identitárias dos músicos profissionais. Os segmentos 1 e 2, conforme veremos, fazem parte de duas situações de gravação: uma em que os músicos estavam conversando informalmente, sem a interferência dos pesquisadores, como entrevistadores; outra em que os pesquisadores atuam no contexto de entrevista de pesquisa. O grupo focal que deu origem ao presente estudo foi formado por seis músicos que atuam profissionalmente nas seguintes especificidades: músico de orquestra sinfônica, professor de música, músico militar e músico freelancer. A escolha dos participantes deu-se pelo nosso prévio conhecimento do envolvimento dos mesmos com as Bandas Filarmônicas Portuguesas, por conta de quase trinta anos de atuação e contato MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 153 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 com músicos e pessoas envolvidas com estas instituições. No tocante à realização de grupos focais nos quais o pesquisador é participante da prática discursiva, Ferreira (2005) afirma que: Uma das consequências metodológicas da opção pela perspectiva socioconstrucionista de natureza interpretativista é a percepção de que, sendo o próprio objeto de investigação socioconstruído, o pesquisador está “imbricado no conhecimento que constrói”. São frequentes as análises em que o pesquisador é participante na prática discursiva estudada já que não raro o estudo compreendido se relaciona à defesa de identidades, memórias e tradições. (FERREIRA, 2005, pág. 112) O Segmento 1, que apresentaremos a seguir, foi extraído do início do encontro, quando ainda não havia sido feita qualquer pergunta do roteiro previamente estabelecido. A interação se deu espontaneamente entre os membros do grupo focal. Apesar de todos os participantes serem profissionais da música, atuam em segmentos diferentes. Conforme apresentado no início desta seção, muitos deles não tinham contato ou não se viam há muitos anos. O grupo foi formado por oito participantes sendo seis deles convidados e dois pesquisadores. Esta primeira interação entre os participantes do grupo, que não se encontravam há muito tempo, foi gravada e nos apresenta aspectos relevantes no âmbito da pesquisa, como a questão da rivalidade entre as bandas, citação de pessoas que foram importantes nestas instituições musicais e relações familiares, foco deste artigo. Os nomes dos participantes são fictícios, a fim de preservar as identidades dos mesmos sendo mantidos somente os nomes dos pesquisadores que participaram do grupo focal, Antonio e Diana. Analisamos, no segmento 1, na história de vida de Pedro, como se deu a sua iniciação musical. Pedro, músico freelancer, está conversando com João, músico de orquestra sinfônica. A narrativa se desenvolve a partir da pergunta de João para Pedro a propósito do período em que Pedro atuou com um dos grandes artistas da Música Popular Brasileira. Os dados foram gravados sem a nossa interferência como entrevistador. Segmento 1 001 002 003 Pedro O meu, o meu tataravô era músico. O meu av... bisavô era músico, meu av, avô era músico meu pai era músico eu nasci e me botaram na música... Hoje eu tenho duas filhas, tenho dois netos, mas ninguém quer saber de música... MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 154 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 004 005 006 007 008 009 010 011 012 013 014 015 016 017 018 019 020 021 022 023 024 025 026 027 028 029 030 031 032 033 034 035 036 037 038 039 040 041 042 043 044 045 046 (risos) parou aqui. [Normal, né?] [Meus irmãos] é tudo músico, são tudo músico. O meu tataravô já era músico era de uma família que vem de músicos. Pa, pa, passou de avô, bisavô, tataravô, pai, enfim... João É que nessa fase... eu acho que o Osvaldo... não sei se ele deve lembrar, eu ouvia falar de você... né? Das suas qualidades artísticas... [Se lembra que a gente falava? Agora, EU ACHEI...] Osvaldo [É.] Pedro [É. Eu era muito prodígio porque meu pai] me dava surra. João [Ah é?] Pedro [Meu pai]=SABE O QUE EU QUERIA SER? Eu queria ser... trocador de ônibus. Eu... guri. Não. Quero ser trocador de ônibus, me, mexer em dinheiro... “Tu tá maluco é? Eu vou te ensinar uma profissão que em qualquer parte do MUNDO tu vai se, tu vai, vai ganhar teu dinheiro, [tu vai, vai,] vai se virar” (risos) João [Ah, é? (risos)] Antonio [(risos)] Pedro “MAS EU NÃO QUERO SABER DE MÚSICA”. “MAS TU VAI ((batidas na mesa)) APRENDER”=aí botou um trompete na minha mão em sessen... em 1964. João Você tinha o que? Uns doze anos? Pedro Tinha cinco anos. João [CINCO?] Antonio [VOCÊ TINHA] CINCO ANOS DE IDADE? Osvaldo [CARAMBA!] Incrível, né? Pedro Começou a me ensinar dó, ré, mi, fá sol, dó. Começou a ensinar o... Parabéns Pra Você... “Vai tocando=OLHA EU VOU TRABALHAR QUANDO EU VOLTAR EU QUERO ((batidas na mesa)) A LIÇÃO PRONTA”. Abria o Arban e me fez estudar o Arban... AÍ EU VIREI UM GAROTO PRODÍGIO. Eu antes do tempo... Ao invés de estar jogando bola e procurando... cineminha com as garotinhas, eu tava estudando trompete trancado no quarto. Virei prodígio... Então, com, com 15 anos eu já era... trompetista de boate..., já sabia bossa nova, jazz, tudo porque meu pai me enfi, me enfiou música até pelos ouvidos. (risos) João Nisso você tinha dez anos de estudo já? Já tinha... Pedro É. Em 64 em 74 já tinha dez anos de trompete. João CARAMBA, CARA. OLHA SÓ. Pedro Aí de lá pra cá... Aí comecei a trabalhar na noite. Fui pro exército=teve uma época no exército e tal... mas depois começou a noite a Orquestra do Cipó, Orquestra do Carioca essas orquestras todas que aprendi muito com esses maduros, esses músicos Maestro Cipó, Maestro Severino, Maestro... Carioca aprendi muito com esses maestros tocando nessas, nessas orquestras... João Pedro Uma leitura preliminar deste primeiro segmento, logo na orientação da história de vida, nos leva à percepção de que a questão familiar foi decisiva na “escolha” profissional de Pedro, não só pela tradição que perpassava diversas gerações e que é exposta e reexposta logo no início de sua história de vida (linhas 001 e 002 e 006 a MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 155 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 008), conforme Linde (1993) como pela narrativa mais específica que surge, semelhante a uma narrativa laboviana (Bastos, 2008), com a imposição do pai relatada e descrita (linhas 015 a 019, 022 a 024 e 030 a 038). A narrativa da experiência do aprendizado obrigatório de música por imposição do pai nos aponta para uma situação que deixou uma marca negativa na vida de Pedro. A narrativa evoca conhecimentos partilhados (linha 011). Em vários trechos da narrativa, as consequências relatadas reforçam a percepção do ouvinte de que, na adolescência, não pode interagir com as pessoas da sua idade nem participar de atividades típicas desta fase etária como jogar bola ou namorar. Também a afirmativa, logo no início da história de vida, de que a tradição musical da família parou nele, nos aponta para a interpretação de que Pedro não quis que suas filhas e netos passassem pelas privações que ele passou. Outro aspecto relevante na narrativa de experiência do aprendizado é a iniciação profissional precoce, aos 15 anos de idade (linha 36). É interessante ressaltar como Pedro se constrói identitariamente e se posiciona para o grupo. Pedro faz referência a ter estudado no método de Joseph Baptiste Arban (linha 033), um método utilizado nos principais conservatórios e escolas de música do mundo, e se posiciona como um “garoto prodígio”. Pedro, conforme sua própria narrativa é um músico que atua na área popular (linha 036 - “Então, com, com 15 anos eu já era... trompetista de boate..., já sabia bossa nova, jazz...”) e o fato de ter estudado no método que é utilizado nas principais escolas de música do mundo o posiciona como um músico popular “que tem escola”, que tem estudo. Esse fato é importante na questão da construção identitária, pois há um preconceito estigmatizado dos músicos que atuam em orquestras sinfônicas para com os músicos que atuam na música popular decorrentes do estigma (Goffman, 2008) de que “quem toca música popular toca de ouvido” ou “não tem escola”. Ao narrar que estudou no método Arban, Pedro se posiciona como um profissional da música popular que tem formação e não “aprendeu a tocar de ouvido”. A propósito do estigma Goffman afirma que: Assim, deixamos de considerá-lo criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande algumas vezes ele também é considerado um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem - e constitui uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real. (GOFFMAN, 2008, p. 6) MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 156 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 Linde (1993) afirma que narrativas, como a de Pedro (Segmento 1) possuem uma reportabilidade estendida, ou seja, são muitas vezes contadas e, a cada recontagem, ou a cada performance narrativa (Bastos, 2008), há adaptações ao contexto e aos ouvintes. Essas histórias são constantemente reinterpretadas e reformuladas dando ao ouvinte a possibilidade de entender como ele está se construindo identitariamente. No segmento 2, que apresentaremos a seguir, está contida a primeira pergunta do roteiro previamente estabelecido para o grupo focal, a saber: Segmento 2 113 Antonio Então a primeira... pergunta do, do roteiro que a gente preparou pra, pra, pra 114 essa... entrevista, considera perguntar exatamente EM QUE MEDIDA ... A 115 PARTICIPAÇÂO NUMA BANDA PORTUGUESA CONTRIBUIU PARA A 116 SUA FORMAÇÃO COMO MÚSICO. Como respostas a esta primeira pergunta, foram mencionados diversos aspectos musicais de ordem técnica, teóricos e práticos como: aprender a ler partitura, tocar em grupo, conhecer repertório, entre outros os quais não nos ativemos neste artigo pois nossa pretensão é discutir, neste trabalho, as construções identitárias dos músicos profissionais com relação às relações familiares. No segmento 3, podemos observar que o participante Manoel pede o turno e expõe um aspecto que até então não havia sido cogitado em resposta à pergunta: a importância das relações sociais na sua formação como músico e como indivíduo, conforme dados abaixo: Segmento 3 159 Manoel Posso é... falar então? Que é... pra responder somente à pergunta além do lado 157 artístico, né? e musical que eu aprendi na prática, realmente na banda, tem o lado 158 social também que eu acho muito importante=eu era criança também °como é o 159 caso dele° eu comecei na banda com 7 anos, então eu tinha muito convívio com 160 pessoas mais velhas, pessoas, músicos mais experientes, mesmo sendo amadores, 161 músicos mais experientes eu acho que aquilo foi, pra minha formação não só pra 162 formação como músico, mas como pessoa fun-da-men-tal... É... estar ao lado 163 daquelas... tinham crianças também, adolescentes, mas a maioria era aquela 164 portuguesada né? que a gente chama com carinho, aquela portuguesada 165 :a:paixonada... apaixonada pela música mesmo né? que.... além de amarem a 166 música amavam a banda, enfim, e... cuidavam da gente como se fosse a coisa 167 mais importante... do mundo para eles, né?=aquilo pra eles fazia parte da vida 168 deles com muito carinho que eles faziam então além do lado musical, o lado 169 social... e aprender, através da música você viver em sociedade, a respeitar, né? 170 seu solo termina quando o solo do outro começa, tudo isso foi muito importante 171 na minha criação como pessoa não só musical. Acho que a banda... Por ser, de 172 repente, a banda da minha família né? a Banda Irmãos Pepino, que eu estava me MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 157 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 173 174 175 referindo de repente tinham um carinho especial por mim eu era tratado de uma maneira diferente lá dentro. Então acho que... o carinho sempre foi... o número um... a coisa mais importante que a gente tinha enquanto músico naquela época. A história de vida (Linde, 1993) de Manoel também aponta para um componente familiar importante na sua construção identitária como músico, pois, como ele mesmo ressalta (na linha 172), o grupo de que ele participava era “a banda da minha família, né? a Banda Irmãos Pepino”. É interessante observar que a experiência de Manoel parece, de forma diferente à de Pedro, ter deixado boas lembranças pois as lembranças que ele usa para identificar o seu processo de formação como músico salientam aspectos como forte envolvimento emocional e uma carga afetiva ao utilizar, por exemplo, a palavra “carinho” por diversas vezes (linhas 164, 168, 173 e 174) e expressões como “cuidavam da gente” (linha 166). Também observamos uma questão intergeracional, pois Manoel relata que, apesar de haver crianças e adolescentes na banda, a maioria era composta de pessoas mais velhas e menciona o perfil identitário dessas pessoas: portugueses (linha 164), músicos amadores (linha 161) apaixonados por música, apaixonados por banda de música e pela banda de música da qual faziam parte (linha 166). Manoel também ressalta que ter participado em uma banda portuguesa não só foi importante na sua formação como músico, mas como pessoa e exemplifica dizendo que através da música aprende-se a viver em sociedade, pois “seu solo termina quando o solo do outro começa” (linhas 169 e 170). Esta narrativa encontra-se em sintonia com a abordagem de história de vida de Linde (1993) que afirma que, ao contá-las, expressamos quem somos: As histórias de vida expressam nossa noção de self: quem somos e como nos tornamos assim. São também meios importantes através dos quais comunicamos essa noção de self e a negociamos com os outros. Além disso, usamos estas histórias para afirmar ou negociar pertencimento a grupos e para demonstrar que verdadeiramente somos membros dignos de tais grupos, entendendo e seguindo corretamente seus padrões morais. Por último, as histórias de vida tocam na mais ampla das construções sociais, já que apresentam pressuposições sobre o que pode ser esperado, quais são as normas, e quais sistemas de crença especiais ou comuns podem ser usados para estabelecer coerência (LINDE, 1993, p. 3). MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 158 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 Analisaremos, a seguir, o último segmento selecionado para o presente trabalho, que foi a resposta do participante Osvaldo à primeira pergunta do roteiro: Segmento 4 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 Osvaldo A Minha história é um pouquinho diferente sobre o início porque... eles é... são de famílias portuguesas Diana [Sei...] Osvaldo [e meu] avô era espanhol, né? Então assim ele já tocava na banda. Trombone, né? E o meu avô quem me... introduziu à banda, né?... Então assim... É... Ele me colocou lá, eu estudei BASTANTE, né? Naquele sistema rígido, né? Meu avô pegou todas as... as marchas e tudo pra eu poder estudar ficar direitinho quando eu cheguei lá já estava ao menos... Diana Treinado. Osvaldo É, treinado, né? E assim... senti isso... tudo que eles falaram e lembrei de uma coisa assim o carinho, né? Assim... a dedicação, o amor com que eles souberam assim... conduzir a gente e essa situação, por exemplo você treinar... em casa é uma situação diferente agora você com o grupo é totalmente diferente muda você precisa ouvir as outras pessoas, então isso enriqueceu muito a gente, né? Principalmente uma criança de doze anos, onze anos, né? Então a, abriu muito, assim, o universo. Logo no início do seu turno, Osvaldo se posiciona identitariamente como diferente do grupo no tocante à nacionalidade, pois sua família é de origem espanhola enquanto a maioria dos outros participantes é de família portuguesa (linhas 214 e 215). Também observamos a importância do componente familiar na construção identitária de Osvaldo pois o seu avô já era músico da banda (linha 217) e foi o avô quem o levou para a banda (linha 218). Também foi o avô quem o ensinava “Naquele sistema rígido” e Osvaldo enfatiza que estudou bastante (linha 219). Diferentemente da narrativa de aprendizado de Pedro, segundo o qual o pai abria o método Arban e fazia com que ele o estudasse, o que já observamos como um posicionamento de um músico que teve estudo, Osvaldo narra que o avô levava as músicas da banda para que ele praticasse em casa e para que, quando se juntasse ao grupo, já tivesse ensaiado (linhas 220 e 221), o que constrói o perfil de alguém comprometido não só com o aprendizado musical do neto, mas com o desempenho artístico do grupo. Osvaldo, assim como Manoel, salienta o aspecto afetivo ao ressaltar o “carinho”, “dedicação” e “amor” com que os mais velhos souberam conduzir a situação de diferente que é praticar o instrumento em casa e tocar em conjunto. MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 159 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das histórias de vida e de narrativas, na relação com os estudos sobre memória, nos segmentos escolhidos neste grupo focal, nos possibilitou percepções no tocante à construção das identidades nas relações familiares dos músicos profissionais que tiveram sua iniciação nas Bandas Filarmônicas Portuguesas. Observou-se que, no momento da interação, todos ali construíram suas identidades como músicos profissionais, com um sentimento de pertença com relação às Bandas Portuguesas, por terem participado destas instituições muito jovens e, consequentemente, pela questão intergeracional, pois conviviam com pessoas de muito mais idade em uma mesma atividade artística. As histórias de vida e as narrativas de aprendizado trazem a memória coletiva da influência do elemento familiar, que nos parece essencial para esse diálogo intergeracional como ancoragem de aprendizagem do grupo. As relações familiares apontam, nos casos de Manoel e Osvaldo, para um elemento afetivo, fundamental na dinâmica do processo de construção das narrativas e das memórias. As histórias de vida evidenciam afetos dos participantes que revelam um envolvimento emocional para com as bandas e as pessoas que delas faziam parte. No caso do participante Pedro, a experiência familiar lhe parece ter sido um tanto quanto traumática e as referências ao pai o posicionam como severo e inflexível. Não há na narrativa de Pedro nenhuma referência afetiva com relação ao pai ou ao seu aprendizado de música, contudo, percebe-se um reconhecimento tácito do filho pelo fato do pai terlhe ensinado uma profissão. Procuramos, neste artigo, analisar as relações familiares na construção das identidades dos músicos profissionais que participaram das Bandas Filarmônicas Portuguesas na cidade do Rio de Janeiro. Infelizmente o momento atual destas instituições inspira preocupação, pois, das três bandas que existiam até alguns anos atrás, só existem duas atualmente e em condições muito precárias, conforme relatamos anteriormente. O processo de construção das memórias destas instituições musicais é relevante, pois estes grupos, durante mais de meio século, tiveram fundamental importância na vida e no cotidiano da cidade, apresentando-se em festividades cívicas e populares, MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 160 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 como a Festa da Penha. As Bandas Portuguesas revelaram e formaram músicos que se profissionalizaram e foram referência para a elevação do nível artístico do segmento bandas de música em todo o Estado do Rio de Janeiro ao se sagrarem, por diversas vezes, campeãs dos Encontros Estaduais de Bandas de Músicas Civis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATKINSON, J. Maxwell & HERITAGE, John. Transcript notation. IN: ___Structures of social action. Studies in conversation analysis. 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(1998) Como Nossos Pais – Uma História da Memória da Imigração Portuguesa em Niterói (1900-1950). Dissertação de Mestrado –UFF. OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de. (2012) Bandas Portuguesas no Brasil – Tradição, Apogeu e Realidade Atual. In: Entre Bandas, v.3. Corroios, Portugal, p. 3034. POLLACK, Michael (1992). Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n.10, p. 200-212. SCHIFFRIN, D. Intonation and transcription conventions. IN: ____ Discourse markers. Cambridge, Cambridge Univ. Press, 1987. TANNEN, D. Appendix II. Transcription conventions. IN: ____ Talking voices. Repetition, dialogue, and imagery in conversacional discourse. Cambridge, Cambridge University Press, 1989. p.202-3. ANEXOS Abaixo seguem as Convenções de Transcrição utilizadas neste trabalho: ... (2.3) . ? , = sublinhado MAIÚSCULA : ou :: [ ] () (( )) ↑ ↓ (riso) pausa não medida pausa medida entonação descendente ou final de elocução entonação ascendente entonação de continuidade elocuções contíguas, enunciadas sem pausa entre elas ênfase fala em voz alta ou muita ênfase alongamentos início de sobreposição de falas final de sobreposição de falas fala não compreendida comentário do analista, descrição de atividade não-verbal subida de entonação descida de entonação risos MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de 162 Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 Convenções baseadas nos estudos de Análise da Conversação (Sacks, Schegloff e Jefferson, 1974; Atkinson e Heritage, 1984), incorporando símbolos sugeridos por Schiffrin (1987), Tannen (1989). 163 MEMÓRIAS E NARRATIVAS DAS BANDAS FILARMÔNICAS PORTUGUESAS NO RIO DE JANEIRO - FAMÍLIA E IDENTIDADE(S), OLIVEIRA, Antonio Henrique Seixas de