Fuja de softwares comerciais Fabio Kisner é consultor e diretor de tecnologia da KSC Brasil. Já ministrou palestras e consultoria em diversas empresas do país. por Fabio Kisner e Daniela Ohara Alguns dias atrás eu conversava com um representante em São Paulo de uma marca tradicional de software. Ele estava inconformado pelo fato da KSC Brasil não cobrar taxa de manutenção de seus clientes. Eu explicava que a KSC Brasil cobra apenas por eventuais evoluções no sistema caso o cliente as deseje e foi quando ele fez o seguinte comentário: “Mas dessa forma a KSC Brasil não ganha dinheiro de forma passiva, terá que trabalhar pra receber!!”. Confesso que aquele comentário me tirou o sono! Porém, não por constatar que a KSC Brasil estava errada, pelo contrário, pois acredito que está certa! O que me surpreendeu foi o fato de que se passaram 30 anos desde o início da era da informatização comercial e a mentalidade dos fornecedores e clientes ainda não evoluíram. Fazendo uma retrospectiva poderíamos dizer que na década de 1980 quase não existiam softwares comerciais. As empresas que utilizavam um software de gestão possuíam um diferencial competitivo no mercado. Já na década de 1990 existiam vários softwares comerciais e o que passava a ser diferencial era o fato de se ter um software específico para o segmento de atuação. A partir do ano 2000 o mercado de software se tornou altamente competitivo e era possível encontrar várias soluções com os mais diversos valores de investimentos. Basicamente a forma de comercialização continuava a mesma da década de 1980, onde se adquiria uma licença e pagava-se uma taxa mensal de manutenção. Esta modalidade comercial continua predominante atualmente e tem algumas vantagens tais como um custo mais acessível e isso devido a ter um mercado mais competitivo. Além disso, periodicamente os fornecedores atualizam as versões de suas soluções trazendo novas funcionalidades para software. Porém esta modalidade traz uma consequência muito séria: “Os softwares de gestão deixaram de ser um diferencial competitivo no mercado.” Supondo que várias empresas, incluindo a sua e as de seus concorrentes utilizem a mesma solução de gestão. O que acontece é que ocorre um nivelamento da gestão de todas as empresas. Quando o fornecedor da solução lançar uma atualização que não é capaz de atender as suas necessidades específicas que surgem devido ao seu crescimento, ou a uma inovação gerencial que você deseja implantar, a sua empresa acaba sendo “nivelada por baixo” e o valor pago com a taxa da manutenção foi mal empregado. Estamos na era da gestão da informação e o diferencial competitivo da empresa agora está na gestão de seu próprio conhecimento. A empresa que tiver essa gestão mais aprofundada tem mais conhecimento dos pontos positivos e negativos que devem ser trabalhados. É neste ponto que eu fico indignado, pois é um mercado novo que está se abrindo para os desenvolvedores de software e que está sendo esquecido! A gestão da informação precisa de uma solução de sistema personalizada em que o software tenha um ciclo evolutivo contínuo em conjunto com a cultura de gestão de cada empresa. Quando isso ocorre a empresa pode empregar todo o seu diferencial competitivo. Mas existe um motivo para as empresas tradicionais de software não praticarem este novo conceito. O motivo é o mesmo da pergunta do representante: GANHAR DINHEIRO DE FORMA PASSIVA! Os fornecedores de softwares comerciais pulverizaram suas soluções e ganham dinheiro sem ter muito esforço. Por quê? Suponha que o software tenha um custo de produção e comercialização de 30 mil reais, mas que ele pulverize a um preço relativamente baixo e tenha 500 clientes pagando 200 reais mensalmente. Em um mês ele arrecadará 100 mil reais! E geralmente aqueles clientes que acabam “dando muito trabalho”, pois exigem uma atenção diferenciada, são abandonados já que representam um volume muito pequeno na carteira de clientes. Ainda que este cliente troque de solução ainda ficam 499 pagantes. Outro fato é que muitos desses clientes, que precisam de atenção especial, se conformam e deixam de “dar trabalho”, pois o atendimento é demorado e nem sempre resolve o problema, e para não se estressar mais, o cliente “vai levando” com a mesmo fornecedor. É muito comum esses fornecedores “venderem” módulos adicionais, para aumentar a mensalidade. Esses módulos devem ser analisados com cautela. Esses dias vi uma propaganda de um fornecedor de software, no segmento de comunicação visual, que está pra lançar um módulo de gestão de custo. Eu fiquei pensando como é possível existir um módulo de gestão de custo, que atenda as mais variadas empresas, sendo que a gestão de custo é extremamente personalizada. Para se ter uma ideia, não tem como implantar um módulo de gestão de custo no segmento de comunicação visual, sem ter um processo de rateio de custos, que tem como pré-requisito uma gestão financeira bem sofisticada, trabalhando com diversas classificações e composições de centro financeiro X plano de contas X Tipo de Conta X tipo de mídia, e pra finalizar um bom PCP. Sendo que tudo isso é volátil e configurado de acordo com cada estrutura organizacional de cada empresa. A KSC Brasil desenvolve módulos de gestão de custo, mas para adquirir a empresa tem que estar preparada, e o cliente que conseguiu implantar no menor prazo levou 6 meses. Tirando algumas exceções, as empresas devem procurar soluções mais personalizadas no lugar de softwares comerciais de prateleiras ou nos modelos SAP (Application Service Provider), que são os sistemas em que todos os clientes utilizam a mesma solução e normalmente são locados. Somente desta forma poderão ter mais sucesso na gestão da informação.