ECONOMIA 43 PÚBLICO • SEXTA-FEIRA, 7 JUL 2006 DR BCE mantém taxas de juro, mas sinaliza aumentos Trichet volta a falar em “forte vigilância” sobre a inflação, tornando provável subida dos juros em Agosto PEDRO RIBEIRO Indo de encontro às expectativas da generalidade dos observadores, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu ontem manter inalterada a taxa de juro de referência para a zona euro nos 2,75 por cento. Contrariando as expectativas, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, sugeriu em termos relativamente claros que o banco se prepara para aumentar o preço do dinheiro nos Doze da “eurolândia” já no próximo mês. Trichet disse que a decisão do Conselho de Governadores de não mexer em Julho na taxa de juro (aumentada por três vezes desde Dezembro, sempre em incrementos de 25 pontos-base) foi “unânime”; ao contrário de outros bancos centrais, o BCE não costuma divulgar as intenções de voto dos seus decisores. Mas acrescentou que as taxas continuam a níveis “baixos”, e que a política monetária do BCE permanece “acomodatícia”. E voltou a utilizar uma expressão que, na linguagem normalmente ambígua dos banqueiros centrais, costuma representar a iminência da subida das taxas: continua a ser necessária uma “forte vigilância” sobre a inflação. Mais: Trichet anunciou que a 3 de Agosto o Conselho de Governadores do BCE irá reunir em pessoa em Frankfurt, e não por teleconferência. E que haverá uma conferência de imprensa após essa reunião. Normalmente, a reunião mensal de Agosto do BCE é à distância, e sem declarações à imprensa. “O nosso sentimento é que seria útil nas actuais circunstâncias uma reunião em pessoa, que permite uma interacção mais profunda que a teleconferência”, disse ontem Trichet, citado pela AFP. Todos estes sinais, aliados à convicção de Trichet de que a retoma económica europeia continua a bom ritmo, apontam para uma subida da taxa de juro em Agosto. Essa subida deverá ser novamente de 0,25 pontos percentuais. O presidente do BCE descartou a hipótese de um aumento mais abrupto, na ordem dos 0,5 pontos percentuais: “Não vejo motivos para fazermos algo de diferente de decisões anteriores”. ■ Económicas Fidelity com carteira de 230 milhões de euros As novas pastagens fixam, num ano, cinco toneladas de carbono por hectare EDP aposta em pastagens que retêm carbono para reduzir emissões nacionais Investimento de meio milhão de euros num projecto agro-florestal irá permitir reduzir sete mil toneladas de dióxido de carbono por ano ANA FERNANDES Governo reafecta verbas do QCA III O Governo aprovou ontem, em Conselho de Ministros, as orientações para a reprogramação das verbas no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio (QCA) III. A grande transferência de fundos será afecta à formação certificada de jovens e adultos, em prejuízo sobretudo do programa relativo às “acessibilidades e transportes”. Segundo explicou o ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Francisco Nunes Correia, o prazo para a última reprogramação financeira do QCA III é o final de Julho. O Governo pretende reorientar 184 milhões de euros (que se juntam aos 239 milhões já definidos) para a Iniciativa Novas Oportunidades, “objectivo prioritário do Governo para a valorização do potencial humano”. A intenção, segundo Nunes Correia, é que jovens que tenham terminado prematuramente os seus estudos possam aumentar a sua formação profissional. O mesmo sucede relativamente aos adultos que precisem de reforçar as suas competências. O outro reinvestimento mais forte tem a ver com o Programa de Incentivos à Modernização da Economia, apoiando nomeadamente novos grandes investimentos contratualizados com o Governo (mais 125 milhões de euros). ■ R.D.F. Um projecto que vai ser financiado pela EDP irá permitir juntar empresas, investigação e desenvolvimento rural numa iniciativa que pretende reduzir as emissões nacionais de dióxido de carbono através de sumidouros. A Quinta da França, nas margens do Zêzere, será o ponto de partida de uma experiência com pastagens que poderá estender-se a outras herdades do país. Através de um sistema de pastagens inventado em Portugal, conjugado com sementeira directa (sem movimentação do solo) e gestão florestal, será possível reter sete mil toneladas de carbono por ano, no período de 2006 a 2012. Em quatro anos, a EDP vai ver o retorno do seu investimento, já que, se fosse comprar licenças ao mercado de carbono, iria pagar, por cada tonelada, cerca de 16 euros. A iniciativa assenta num sistema de pastagens inventado em Portugal por David Crespo, nos anos setenta (ver caixa). Uma mistura de diferentes espécies de plantas permite não só aumentar a matéria orgânica no solo – fundamental, já que um terço do país está ameaçado de desertificação física –, como aumentar a rentabilidade económica das explorações pecuárias (porque aumentar o número de animais por exploração) e reter dióxido de carbono. Uma experiência levada a cabo no âmbito do projecto Extensity – Sistemas de Gestão Ambiental e de Sustentabilidade na Agricultura Extensiva, apoiado pela União Europeia, concluiu que com este sistema de pastagem é possível fixar cinco toneladas de carbono por hectare por ano, enquanto a sementeira directa permite reter três toneladas anuais por hectare. O Extensity é gerido pela empresa Terraprima – responsável pela Quinta da França – e envolve parceiros como o Instituto Superior Técnico, a Deco, a Liga Portuguesa para a Protecção da Natureza, a Confederação dos Agricultores de Portugal e o Ministério da Agricultura. “O nosso objectivo é potenciar a agricultura sustentável de forma a dar uma diferenciação comercial ao produtor e avaliar de que forma é que este pode ser pago pelos serviços que presta à sociedade”, explica Tiago Domingos, da Terraprima. “Decidimos começar por aquilo que era mais fácil quantificar: a retenção de carbono”, acrescenta. Além da Quinta da França, estão envolvidas neste projecto mais 50 quintas, o que equivale a 60 mil hectares na Beira Interior, Alentejo e Ribatejo. É com toda esta área no horizonte que a EDP defende que o seu objectivo “é produzir um stock de carbono, reduzindo assim o tecto nacional de emissões, e demonstrar a viabilidade de alargamento desta iniciativa a uma escala nacional mais vasta”. Os resultados a que chegaram sobre a retenção de carbono leva Tiago Domingos a considerar que este tipo de projectos deve ser apoiado pelo Fundo de Carbono em vez de este se destinar a adquirir direitos a poluir. A aposta em sumidouros de carbono não leva à criação de “licenças de emissão transaccionáveis, mas permite melhorar o balanço nacional apresentado anualmente em Bruxelas, o que, na prática, corresponde à redução do défice de emissões previsto”, explica a EDP. Reduzir as emissões, melhorar o solo, proteger o ambiente e dar um estímulo económico aos agricultores são as grandes mais-valias de um projecto que liga a investigação às necessidades da sociedade, salientam os seus responsáveis. ■ Um sistema inventado em Portugal O sistema de pastagens permanentes semeadas biodiversas foi inventado por um português. David Crespo, investigador na Estação de Melhoramento de Plantas, do Ministério da Agricultura, criou, nos anos setenta, misturas de diferentes espécies – podem chegar a 20 – que funcionam de forma dinâmica, equilibrando-se umas às outras e adaptando-se aos diferentes solos mediterrânicos. Misturando leguminosas – que fixam azoto, o que dispensa a adubação, e que são ricas em proteínas –, com gramíneas, Crespo seleccionou variedades e conseguiu um produto que consegue aumentar a matéria orgânica do solo em 0,2 por cento ao ano. Nos solos alentejanos, que têm entre 0,5 a um por cento de matéria orgânica, é possível duplicar a quantidade existente em cinco anos. Crespo formou um empresa, a Fertiprado, que está a exportar para Espanha e Itália. A gestora de fundos de investimento norte-americana Fidelity, há um ano no mercado português, gere 230 milhões de euros de activos subscritos por investidores nacionais, e está a negociar novas parcerias para alargar a rede de distribuição. A informação foi avançada pelo responsável da Fidelity para o mercado português, Rafael Febres-Cordero, num encontro com jornalistas para fazer um balanço do primeiro ano de actividade, onde manifestou interesse em continuar a investir em Portugal. Febres-Cordero adiantou que a Fidelity pretende reforçar a rede de distribuição dos seus fundos de investimento, agora concentrada em cinco instituições – Millennium bcp, ActivoBank, Banco Best, BIG Online e Deutsche Bank – estando em negociação com os cinco principais bancos nacionais e seguradoras. Está também em aberto a possibilidade de experimentar em Portugal algo semelhante ao acordo feito em Espanha com o El Corte Inglés para distribuição de produtos Fidelity. Estando ainda por definir se será o El Corte Inglés ou outra cadeia de distribuição. Taxa de ocupação hoteleira sobe no Algarve A taxa média de ocupação por quarto nas unidades hoteleiras algarvias subiu 8,1 pontos percentuais em Junho, face a igual mês de 2005, para 80,3 por cento, anunciou a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). A AHETA refere que não se registaram descidas em quaisquer zonas, tendo as maiores subidas na ocupação por quarto sido verificadas nas áreas de Portimão/Praia da Rocha (9,5 pontos percentuais) e em Carvoeiro/Armação de Pêra (9,0 pontos percentuais). A zona de Albufeira foi a que apresentou a taxa de ocupação mais elevada, com 89,9 por cento, tendo a mais baixa ocorrido na zona de Lagos/ Sagres, com 65,9 por cento. Por categorias, também não há descidas a assinalar, tendo as principais subidas ocorrido nos hotéis e aparthotéis de três estrelas (mais 17,4 pontos percentuais), nos aldeamentos e apartamentos de cinco e quatro estrelas (mais 15,5 por cento). Os aldeamentos e apartamentos turísticos de cinco e quatro estrelas foram aqueles que registaram a taxa de ocupação mais alta (87 por cento), enquanto a mais baixa ocorreu nos hotéis e aparthotéis de duas estrelas (60,1 por cento).