Mayara Goulart de Camargos AVALIAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE E ASSOCIAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES COM CÂNCER E DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UM HOSPITAL ONCOLÓGICO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação do Hospital de Câncer de Barretos, para a obtenção do Título de Mestre em Oncologia. Área de Concentração: Oncologia Orientadora: Prof. Dra. Bianca Sakamoto Ribeiro Paiva Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Paiva BARRETOS, SP 2014 2 Mayara Goulart de Camargos AVALIAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE E ASSOCIAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES COM CÂNCER E DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UM HOSPITAL ONCOLÓGICO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação do Hospital de Câncer de Barretos, para a obtenção do Título de Mestre em Oncologia. Área de Concentração: Oncologia Orientadora: Prof. Dra. Bianca Sakamoto Ribeiro Paiva Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Paiva BARRETOS, SP 2014 3 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada por Vanessa Alves Zagatto CRB 8/8638 Biblioteca da Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos C172a Camargos, Mayara Goulart de Avaliação da Espiritualidade/Religiosidade e associação com a Qualidade de Vida de pacientes com câncer e de profissionais de saúde de um hospital oncológico / Mayara Goulart de Camargos. - Barretos, SP 2014. 150 f. : il. Orientadora: Bianca Sakamoto Ribeiro Paiva. Co-orientador: Carlos Eduardo Paiva Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos, 2014. 1. Espiritualidade. 2. Crenças Religiosas. 3. Qualidade de Vida. 4. Oncologia. 5. Neoplasias. 6. Profissional de Saúde. I. Autor. II. Paiva, Bianca Sakamoto Ribeiro CDD 616.06852 4 FOLHA DE APROVAÇÃO Mayara Goulart de Camargos Avaliação da espiritualizada/religiosidade e associação com a qualidade de vida de pacientes com câncer e de profissionais de saúde de um hospital oncológico Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde - Área de Concentração: Oncologia Data da aprovação: 10/06/2014 Banca Examinadora: Prof. Dr. Giancarlo Lucchetti Instituição: Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Medicina Prof.ª Dra. Namie Okino Sawada Instituição: Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Prof. ª Dra. Bianca Sakamoto Ribeiro Paiva Orientadora Prof. Dr. Adhemar Longatto Filho Presidente da Banca 5 “Esta dissertação foi elaborada e está apresentada de acordo com as normas da Pós-Graduação do Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII, baseando-se no Regimento do Programa de Pós-Graduação em Oncologia e no Manual de Apresentação de Dissertações e Teses do Hospital de Câncer de Barretos. Os pesquisadores declaram ainda que este trabalho foi realizado em concordância com o Código de Boas Práticas Científicas (FAPESP), não havendo nada em seu conteúdo que possa ser considerado como plágio, fabricação ou falsificação de dados. As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a visão da Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos”. “Embora o Núcleo de Apoio ao Pesquisador do Hospital de Câncer de Barretos tenha realizado as análises estatísticas e orientado sua interpretação, a descrição da metodologia estatística, a apresentação dos resultados e suas conclusões são de inteira responsabilidade dos pesquisadores envolvidos”. 6 Aos meus pais Maurício e Marli e ao meu irmão Murilo, que com serenidade e esperança me incentivaram na busca do que eu queria verdadeiramente, originando então o fruto do meu desejo: esta dissertação de Mestrado. 7 AGRADECIMENTOS À Deus, que durante toda minha trajetória de vida providenciou, ao Seu modo, que meus caminhos fossem abertos, muitas vezes até diferentes dos meus desejos, mas me mostrando ao final que Sua vontade me traria oportunidades muito maiores do que eu poderia sonhar. Aos meus orientadores Dra Bianca Sakamoto Ribeiro Paiva e Dr Carlos Eduardo Paiva que não mediram esforços para me ensinarem o valor de um profissional de excelência, um professor entusiasmado e um orientador realmente dedicado. Não poderia, neste momento, dissociá-los perante minhas palavras de agradecimento, pois ambos foram realmente essenciais à mesma medida para que este estudo acontecesse. São meus exemplos de perseverança, persistência e otimismo. Obrigada pela confiança que sempre depositaram em mim! E é por me espelhar em vocês que seguirei sempre entusiasmada, apaixonada pelo que me propor a fazer! Aos pacientes portadores de câncer e aos profissionais de saúde que dedicaram um momento de suas vidas para exprimirem seus pensamentos, experiências, crenças e convicções. Eles me responderam com entusiasmo muito mais do que eu lhes perguntei, o que proporcionou a este estudo o retrato da Espiritualidade/Religiosidade e da Qualidade de Vida sob a ótica dos dois grupos envolvidos no processo saúde-doença. A importância destas visões é ainda inestimável. À minha amiga e companheira de Pós-Graduação Eliane Marçon Barroso que foi muito mais que uma colega de sala, foi uma irmã de coração que esteve ao meu lado compartilhando das minhas angústias, alegrando-se com minhas vitórias, dando-me força e amparo para continuar. E além de tudo isso, dedicou-se também à realização deste estudo de maneira imensurável. Você é um dos anjos que Deus colocou em meu caminho... Ao GPQual (Grupo de Pesquisa em Cuidados Paliativos e Qualidade de Vida Relacionada à Saúde) que me proporcionou a oportunidade de obter conhecimentos científicos, profissionais e pessoais, os quais levarei por toda a vida. Com o grupo aprendi a 8 ser mais otimista, perspicaz e acreditar que é possível alcançar nossos objetivos... Obrigada a cada integrante por, ao seu modo, fazer parte da minha história! À equipe do NAP Suporte (Núcleo de Apoio ao Pesquisador) que contribuiu ativamente na organização do banco de dados e nas análises estatísticas. O trabalho de vocês foi essencial para qualidade deste estudo. Aos assessores das Bancas de Acompanhamento, Dra Namie Okino Sawada e Dr René Aloísio da Costa Vieira que, a partir de suas experiências, contribuíram de forma muito positiva para o aprimoramento deste estudo. Àqueles que dão luz à minha existência: Meus pais, Maurício Rodrigues de Camargos e Marli Luiza Goulart de Camargos que sempre me incentivaram a alçar vôos em busca dos meus sonhos. Sem vocês nada disso seria possível. São exemplos de honestidade, trabalho, esforço e luta diária. Sei o quanto sofrem com meu sofrimento e alegram-se com minha felicidade, por isso, sintam-se imensamente alegres, pois neste momento só tenho a agradecê-los por terem contribuído imensuravelmente para que eu subisse mais um degrau da minha vida profissional. Amo vocês! Ao meu irmão Murilo Goulart de Camargos que com incentivo e confiança diversas vezes proferiu palavras positivas e aquecedoras, motivando-me e crendo que eu pudesse alcançar os meus desejos. Obrigada por acreditar e apostar em mim. Te amo! Ao meu namorado, Gabriel Borges Ferreira, que entrou em minha vida em meio à agitação do Mestrado, mas que encarou isso como mais um dos seus belos desafios. Com certeza o seu amor amenizou meu cansaço diário, mudou minha visão de mundo, me fez mais feliz! Amo você! 9 “Un peu de science éloigne de Dieu, beaucoup de science y ramène". "Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima". Louis Pasteur, 1892 10 ÌNDICE CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 23 1.1 Câncer – Epidemiologia e Tratamento ............................................................................. 23 1.2 Qualidade de Vida ............................................................................................................ 24 1.3 Espiritualidade e Religiosidade ........................................................................................ 27 1.3.1 Evidências da importância de estudos sobre Espiritualidade/Religiosidade ................ 30 1.4 Instrumentos de avaliação de Espiritualidade/Religiosidade .......................................... 36 1.4.1 WHOQOL-SRPB ............................................................................................................. 37 1.4.2 DUREL ............................................................................................................................ 39 1.4.3 Escala CRE...................................................................................................................... 41 1.4.4 FACIT-Sp ........................................................................................................................ 42 1.4.5 Escala de Atitude Religiosa ........................................................................................... 43 1.4.6 Resultados da aplicação de Escalas de Espiritualidade/Espiritualidade e Qualidade de Vida ........................................................................................................................................ 44 2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... 46 3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 47 3.1 Objetivo Geral .................................................................................................................. 47 3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 47 4 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................................... 48 4.1 Desenho do Estudo .......................................................................................................... 48 4.2 Local da Pesquisa ............................................................................................................. 48 4.3 Sujeitos da Pesquisa ......................................................................................................... 48 4.4 Divisão dos grupos e subgrupos da pesquisa................................................................... 49 4.5 Critérios de Inclusão ......................................................................................................... 50 4.6 Critérios de Exclusão ........................................................................................................ 50 4.7 Amostra ............................................................................................................................ 51 4.7.1 Cálculo do Tamanho Amostral ...................................................................................... 51 4.7.2 Seleção da amostra ....................................................................................................... 52 4.8 Coleta de Dados ............................................................................................................... 54 4.9 Instrumentos de Coleta de Dados .................................................................................... 56 4.9.1 WHOQOL-Bref ............................................................................................................... 56 11 4.9.2 WHOQOL-SRPB ............................................................................................................. 59 4.9.3 EORTC QLQ – C30 .......................................................................................................... 60 4.10 Análise Estatística........................................................................................................... 61 4.11 Aspectos Éticos............................................................................................................... 61 5 RESULTADOS ....................................................................................................................... 62 5. 1 Características Clínicas, Sócio demográficas e Espirituais dos participantes.................. 62 5.2 Resultados referentes à Qualidade de Vida ..................................................................... 66 5.3 Resultados referentes à Espiritualidade/Religiosidade ................................................... 75 6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 100 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 110 7 PRODUÇÃO CIENTÍFICA GERADA À PARTIR DESTE ESTUDO ............................................. 112 8 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 114 ANEXOS ................................................................................................................................ 126 Anexo A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Paciente) .................................... 126 Anexo B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Profissional de Saúde) ............... 128 Anexo C - Instrumento de Caracterização Sócio econcômica, Clínica, Demográfica e SemiEstruturado de E/R de Profissionais de Saúde ..................................................................... 130 Anexo D - WHOQOL-Bref ..................................................................................................... 132 Anexo E - WHOQOL-SRPB .................................................................................................... 136 Anexo F - Instrumento de Caracterização Sócio econômica, Clínica, Demográfica e SemiEstruturado de E/R de Pacientes ......................................................................................... 139 Anexo G - EORTC-QLQ-C30 .................................................................................................. 141 Anexo H - Autorização do Grupo EORTC para utilização do EORTC QLQ-30 ....................... 143 Anexo I - Carta de aprovação do CEP ................................................................................... 145 Anexo J - Situação do artigo científico ................................................................................. 147 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Subgrupos compostos por pacientes com câncer 50 Figura 2 - Subgrupos compostos por profissionais de saúde 50 Figura 3 - Fluxograma de recrutamento de pacientes 56 Figura 4 - Fluxograma de recrutamento de profissionais de saúde 57 Figura 5 - Medianas e percentis do WHOQOL-Bref e EORTC QLQ-C30 de pacientes segundo classificação do ECOG 71 Medianas e percentis do WHOQOL-Bref e EORTC QLQ-C30 de pacientes segundo tipo de tratamento 72 Gráfico Boxplot de comparação da E/R de pacientes e profissionais de saúde 97 Figura 6 - Figura 7 - 13 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Validade discriminativa do WHOQOL-SRPB segundo estado de saúde 52 Tabela 2 - Tamanho amostral considerando significância de 0,05 e poder de teste 0,8 e 0,9 (Barretos, HCB, 2012) 53 Número de profissionais de saúde do HCB candidatos à participação no estudo (Barretos, HCB, 2012) 54 Tabela 4 - Domínios e Facetas do WHOQOL-Bref 58 Tabela 5 - Características Clínicas e Demográficas de Pacientes com Câncer (n=525) e de Profissionais de Saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013) 64 Características Espirituais, Religiosas e Crenças Pessoais de Pacientes com Câncer (n=525) e de Profissionais de Saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013) 66 Escores do domínio Global do WHOQOL-Bref entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013) 68 Comparação do domínio Global do WHOQOL-Bref entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013) 68 Medianas dos domínios do EORTC QlQ-C30 e do WHOQOL-Bref segundo os diversos tipos de tratamento (Barretos, HCB, 2013) 69 Medianas dos domínios do EORTC QLQ-C30 e do WHOQOL-Bref de acordo com a classificação do ECOG (Barretos, HCB, 2013) 70 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e os domínios do WHOQOL-Bref (Barretos, HCB, 2013) 73 Comparação entre os conteúdos dos domínios do WHOQOL-Bref e do EORTC QLQ-C30 (Barretos, HCB, 2013) 74 Escores do Global do WHOQOL-Bref entre os profissionais que atuavam nos diversos departamentos da instituição (Barretos, HCB, 2013) 75 Comparação do domínio Global do WHOQOL-Bref entre os departamentos de atuação dos profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013) 75 Tabela 3 - Tabela 6- Tabela 7- Tabela 8 - Tabela 9 - Tabela 10 - Tabela 11 - Tabela 12 - Tabela 13 - Tabela 14 - Tabela 15 - Mediana dos escores de QV de pacientes e profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013) 76 Tabela 16 - Análise de comparação entre a diferença dos escores do WHOQOL- 14 Tabela 17 - Tabela 18 - Bref entre pacientes e profissionais de saúde após ajustes a partir do modelo de Regressão Quantílica (Barretos, HCB, 2013) 76 Escores do domínio Global do WHOQOL-SRPB entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013) 77 Comparação do domínio Global do WHOQOL-SRPB entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013) 77 Tabela 19 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB em pacientes com câncer (n=525) (Barretos, HCB, 2013) 78 Tabela 20 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB de acordo com tipos de tratamento (Barretos, HCB, 2013) 79 Tabela 21 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB em pacientes classificados como ECOG 0 (n=115) (Barretos, 80 HCB, 2013) Tabela 22 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB em pacientes classificados como ECOG 1 (n=282) (Barretos, HCB, 2013) 80 Tabela 23 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB em pacientes classificados como ECOG 2 (n=84) (Barretos, HCB, 2013) 81 Tabela 24 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB em pacientes classificados como ECOG 3/ 4 (n=44) (Barretos, HCB, 2013) 81 Tabela 25 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB de acordo com a religião auto-referida pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013) 82 Tabela 26 - Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB em pacientes com câncer (n=525) (Barretos, HCB, 2013) 84 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes em tratamento adjuvante (n=173) (Barretos, HCB, 2013) 85 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes em tratamento sistêmico paliativo (n=263) (Barretos, HCB, 2013) 86 Tabela 27 - Tabela 28 - Tabela 29 - Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes em tratamento paliativo exclusivo 15 Tabela 30 - Tabela 31 - Tabela 32 - Tabela 33 - Tabela 34 - Tabela 35 - Tabela 36 - Tabela 37 - Tabela 38 - Tabela 39 - Tabela 40 - (n=89) (Barretos, HCB, 2013) 87 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 0 (n=115) (Barretos, HCB, 2013) 88 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 1 (n=282) (Barretos, HCB, 2013) 89 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 2 (n=84) (Barretos, HCB, 2013) 90 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 3 e 4 (n=44) (Barretos, HCB, 2013) 91 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes católicos (Barretos, HCB, 2013) 93 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes evangélicos (Barretos, HCB, 2013) 94 Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes espíritas (Barretos, HCB, 2013) 95 Escores do Global do WHOQOL-SRPB entre os profissionais que atuavam nos diversos departamentos da instituição (Barretos, HCB, 2013) 96 Comparação do domínio Global do WHOQOL-SRPB entre os departamentos de atuação dos profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013) 96 Mediana dos escores de E/R de pacientes e profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013) 97 Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOLSRPB em pacientes com câncer (n=525) e profissionais de saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013) 95 16 LISTA DE ABREVIATURAS BDI Inventário de Depressão de Beck BHS Inventário de Desesperança de Beck CIA Centro de Intercorrências Ambulatoriais CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CRE Coping Religioso-Espiritual DUREL Duke Religious Index EORTC Organização Européia de Pesquisa e Tratamento do Câncer E/R Espiritualidade/Religiosidade FACIT Functional Assessment of Chronic Ilness Terapy – Spiritual Well-Being HCB Hospital de Câncer de Barretos MHIQ McMaster Health Index Questionnaire MOS SF-36 The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey NAP Núcleo de Apoio ao Pesquisador NHP Nottingham Health Profile OMS Organização Mundial da Saúde PIL-Test Teste Propósito de Vida QLI Quality of Life Index QV Qualidade de Vida QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde QVRE Qualidade de Vida Relacionada à Espiritualidade Rand HIS Rand Health Insurance Study RE Religiosidade Extrínseca RI Religiosidade Intrínseca RNO Religiosidade Não-Organizacional RO Religiosidade Organizacional SIP Sickness Impact Profile SRPB Espiritualidade, Religiosidade e Crenças Pessoais (sigla em inglês) TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UTI Unidade de Terapia Intensiva 17 RESUMO Camargos MG. Avaliação da Espiritualidade/Religiosidade e associação com a Qualidade de Vida de pacientes com câncer e de profissionais de saúde de um Hospital Oncológico. Dissertação (Mestrado). Barretos: Hospital de Câncer de Barretos; 2014. JUSTIFICATIVA: Portadores de doenças crônicas utilizam a Espiritualidade/Religiosidade (E/R) como forma de enfrentamento e adaptação à doença e a utilização deste construto tem apresentado associação positiva com a Qualidade de Vida (QV). O construto E/R tem sido foco de uma maior atenção na assistência à saúde, contudo como o interesse científico sobre o tema é recente e há ainda poucas publicações sobre o assunto, principalmente sob a ótica dos dois grupos envolvidos no processo saúde-doença: o paciente e o profissional de saúde. OBJETIVO: Buscou-se identificar se o construto E/R exerce papel importante na vida dos pacientes com câncer e na vida de profissionais de saúde que cuidam destes. Avaliou-se se a E/R se correlaciona com os escores de QV dos dois grupos. Em adição, os escores de E/R e QV foram comparados entre os pacientes e os profissionais de saúde. MATERIAIS E MÉTODOS: Neste estudo transversal, foram entrevistados 1050 participantes (525 pacientes oncológicos e 525 profissionais de saúde). A QV foi avaliada por meio do WHOQOL-Bref e do EORTC QLQ-C30 e a E/R pelo WHOQOL-SRPB. Para comparar os grupos quanto aos domínios dos instrumentos foi utilizado um modelo de regressão quantílica. Os escores do WHOQOLBref e do EORTC QLQ-C30 foram comparados em função de diferentes categorias do ECOG, tipos de tratamento e religião por meio do teste de Kruskal-Wallis. Os domínios do WHOQOL-Bref, EORTC QLQ-C30 e WHOQOL-SRPB foram correlacionados pelo teste de Pearson. RESULTADOS: A maioria dos pacientes (94,1%) consideraram importante que os profissionais abordassem sobre suas crenças espirituais; 99,2% utilizavam a E/R como meio de enfrentamento à doença e 99,6% reportaram que seria necessário um suporte espiritual/religioso durante o tratamento; 98,3% dos profissionais concordaram que era importante suporte espiritual e religioso para os pacientes oncológicos. Os pacientes apresentaram níveis significativamente mais elevados de E/R. Foram observadas correlações positivas entre os escores de E/R e os domínios de QV, no entanto, as correlações foram mais altas entre os pacientes. Os profissionais apresentaram escores mais elevados no domínio Físico, enquanto os pacientes apresentaram maiores escores no domínio Ambiental e, não houve diferença entre os dois grupos em relação aos domínios Psicológico, Social e Global de QV. A faceta Global do WHOQOL-SRPB apresentou alta correlação com o domínio Psicológico no grupo em Cuidados Paliativos Exclusivos. O EORTC QLQ-C30 conseguiu discriminar de forma mais fidedigna a diminuição da QV de pacientes com ECOG 3/4 e em Cuidados Paliativos Exclusivos. Pacientes espíritas apresentaram correlações moderadas entre algumas facetas do WHOQOL-SRPB e o domínio Funcional Emocional do EORTC QLQC30, o que não é evidenciado nas outras categorias religiosas. Não foram encontradas diferenças entre os escores de QV global e entre a E/R entre os profissionais dos diferentes departamentos. CONCLUSÕES: A E/R foi um construto importante na visão dos pacientes com câncer e também dos profissionais de saúde. Ambos os grupos utilizavam frequentemente recursos da E/R em suas vidas diárias e opinaram que a E/R deveria ser incluída em uma abordagem holística ao atendimento oncológico. Foram observadas correlações positivas entre índices de E/R e QV, especialmente entre os pacientes. Estes apresentaram maiores escores de E/R em comparação com os profissionais de saúde. Considerando a importância da E/R no binômio paciente-profissional de saúde, novos 18 estudos são necessários para determinar de que maneira os profissionais de saúde podem abordar efetivamente a E/R na prática oncológica. PALAVRAS-CHAVE: Crenças Religiosas; Espiritualidade; Neoplasias; Oncologia; Profissional de Saúde; Qualidade de Vida. 19 ABSTRACT Camargos MG. Assessment of Spirituality/Religiosity and its association with the quality of life of cancer patients and health professionals of an Oncology Hospital. Thesis (Master’s). Barretos: Barretos Cancer Hospital; 2014. BACKGROUND: Patients affected by chronic diseases use Spirituality/Religiosity (S/R) as a way of coping with and adapting to the disease. The use of this construct has shown a positive association with Quality of Life (QoL). The construct S/R has been the focus of increased attention in health care, yet scientific interest regarding such topic is new and there are still few publications on the subject, particularly from the perspective of the two parties involved in the health-disease process: the patient and the health professional. IAMS: We sought to identify whether the construct S/R plays an important role in the lives of cancer patients and in the lives of healthcare professionals who care for such patients. We evaluated whether S/R correlates with QoL scores of the two groups. In addition, S/R and QoL scores were compared with those of patients and health professionals. MATERIALS AND METHODS: In this cross-sectional study, 1050 participants were interviewed (525 cancer patients and 525 health professionals). QoL was evaluated with the WHOQOL-BREF and EORTC QLQ-C30 and S/R by WHOQOL-SRPB. The quantile regression model was used in order to compare the groups with respect to the domain of the instruments. The scores obtained with the WHOQOL-Bref and EORTC QLQ-C30 were compared for different categories of ECOG, types of treatment and religion by means of the Kruskal-Wallis test. WHOQOL-Bref, EORTC QLQ-C30 and WHOQOL-SRPB domains were correlated using the Pearson test. RESULTS: Most patients (94.1%) considered it important that health professionals addressed their spiritual beliefs; 99.2% used S/R as a means of coping with the disease and 99.6% reported that spiritual/religious support would be needed during treatment; 98.3% of the professionals agreed that spiritual and religious support was important for cancer patients. Patients presented significantly higher levels of S/R. Positive correlations between S/R scores and QoL domains were observed, however, correlations were higher among patients. Professionals had higher scores in Physical domain, whereas patients had higher scores in Environmental domain, and there was no difference between the two groups regarding Psychological, Social and Global QoL domains. Global facet of the WHOQOL-SRPB showed high correlation with the Psychological domain in the Palliative Care Only group. EORTC QLQ-C30 was able to distinguish more reliably the decrease in the QoL of patients with ECOG 3/4 and Palliative Care Only. Spiritualist patients displayed moderate correlations between some of the WHOQOL-SRPB facets and the Emotional Functional domain of the EORTC QLQ-C30, which is not observed in other religious categories. No differences were found between the global QoL scores and between S/R among professionals from different departments. CONCLUSIONS: S/R was an important construct in the view of cancer patients and also health professionals. Both groups frequently used features of S/R in their daily lives and stated that S/R should be included in a holistic approach to cancer care. Positive correlations between levels of S/R and QoL, especially among patients, were observed. Patients had higher S/R scores compared with health professionals. Considering the importance of S/R in the binomial: patient-health professional, further studies are needed to determine how healthcare professionals can effectively address S/R in oncological practice. 20 KEYWORDS: Quality of Life. Religion; Spirituality; Neoplasms; Medical Oncology; Health Personnel; 21 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A vinda para o Hospital de Câncer de Barretos, em 2010, mudaria parte da minha história. Após ser aprovada para a primeira turma de Residência em Enfermagem em Oncologia desta instituição, o trabalho árduo, a aquisição de conhecimentos e o agradecimento pelo cuidado estampado no olhar de cada paciente, seriam diários. A jornada de 60 horas semanais não era leve, porém a cada novo departamento algumas novas descobertas me faziam vibrar. Como era bom aprender o que é realmente o atendimento às necessidades de pacientes oncológicos. E estas necessidades eram variadas, afinal o paciente era um indivíduo composto por várias dimensões, o que exigia que o profissional o enxergasse de forma global e não somente como portador de um câncer. E juntamente com esta prática assistencial proporcionada pela Residência conheci também a área acadêmica. Era possível que residentes frequentassem as aulas da Pós-Graduação Stricto Sensu da instituição, o que aguçou ainda mais minha vontade de ingressar no meio científico. Desde o término da graduação havia em mim um enorme sonho de ingressar no Mestrado, porém como tudo acontece ao seu tempo, a oportunidade ainda estaria por vir. No último semestre da Residência, já em 2012, conheci minha orientadora Prof. Dra. Bianca Sakamoto Ribeiro Paiva, que desde o primeiro contato se mostrou acolhedora e aconchegou aquele meu sonho antigo. Partiu dela a sugestão de estudarmos a Espiritualidade e a Religiosidade, que posteriormente seria aliado à Qualidade de Vida de pacientes oncológicos e, depois ainda, aos profissionais de saúde que eram quem atendiam aqueles pacientes. De imediato fiquei atraída pelo assunto, pois seria possível aliar muito do pouco que, como Enfermeira, eu havia vivenciado até então, pois havia terminado uma especialização em Enfermagem do Trabalho (o que remete aos profissionais), tinha trabalhado em um Centro de Atenção Psicossocial na esfera psiquiátrica (o que envolve de certa forma a Espiritualidade e a Religiosidade) e estava concluindo a Residência em Enfermagem em Oncologia (agregando Oncologia e Qualidade de Vida). Aquele sonho foi criando forma em um projeto, que se transformou em uma pesquisa com mais de 1000 pessoas e, posteriormente gerou esta dissertação. Neste período dedicado ao Mestrado tive a oportunidade ser integrante do GPQual (Grupo de Pesquisas em Cuidados Paliativos e Qualidade de Vida Relacionada à Saúde) e participar de alguns estudos desenvolvidos no grupo, o que muito auxiliou na minha 22 formação científica e pessoal, assim além da minha pesquisa, os orientadores proporcionaram com que eu contribuísse em outras, e com isso, publiquei e estou publicando alguns artigos importantes na linha de Cuidados Paliativos e Qualidade de Vida. Participei também de eventos científicos que enriqueceram minha vida profissional e ampliaram minha visão. Durante a coleta de dados foi possível perceber o quanto os pacientes oncológicos recorrem ao construto espiritual/religioso para lutar contra o câncer, é realmente uma das principais formas de enfrentamento mais utilizadas. Eles respondiam muito mais do que eu lhes perguntava, sentiam-se à vontade para falar sobre sua Espiritualidade/Religiosidade e diante disso eu reconhecia a necessidade que eles tinham de ter alguém para “dialogar” sobre o tema. Em muitas ocasiões, eu que era a “pesquisadora” fui ensinada pelos pacientes sobre vida, relacionamentos, família, prioridades, Deus, morte, qualidade de vida. As necessidades humanas se tornam muito subjetivas diante de uma doença, principalmente quando o diagnóstico é um câncer. E diante deste termo que muitas pessoas preferem nem pronunciar, surge a necessidade e a possibilidade de se aprimorar a vida espiritual/religiosa, o que diversas vezes é fonte de consolo e esperança, proporcionando então, uma melhor qualidade de vida a estes pacientes. Foi importante também entender que os profissionais de saúde também têm na Espiritualidade/Religiosidade um auxílio durante sua prática assistencial ao paciente oncológico e nas diversas necessidades da sua vida pessoal e familiar, de maneira geral, dizendo isto sem medo de se expor. Viver esta pesquisa me proporcionou amadurecimento imensurável, que levarei comigo seja onde for, disseminando amplamente os conhecimentos por meio de palavras, pensamentos, gestos e olhares, seja para pacientes, cuidadores, profissionais de saúde ou amigos. Enfim, levo a sensação de dever cumprido e a necessidade de divulgação de que a Espiritualidade/Religiosidade merece e precisa ser cientificamente desbravada e a Qualidade de Vida aprimorada. 23 1 INTRODUÇÃO 1.1 Câncer – Epidemiologia e Tratamento O câncer é reconhecido mundialmente como um importante problema de saúde pública tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano e representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo. O número de casos novos desta doença dobrou entre os anos de 1970 e 2000 e nos próximos 30 anos as estatísticas evidenciam que haverá aumento de 20% em países desenvolvidos e de 100% naqueles em desenvolvimento (1, 2). No Brasil, as estimativas para o ano de 2012 apontavam cerca de 518.510 novos casos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma. Quando não considerado este subtipo haveria ocorrência de aproximadamente 385 mil novos casos. Para os homens, esperava-se um total de 257.870 casos e 260.640 para as mulheres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030 está estimada uma incidência de 27 milhões de casos de câncer, 17 milhões de mortes por esta causa e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente com esta doença(2). Atualmente diversos tipos de tratamento estão disponíveis para o câncer, entre eles a quimioterapia. Trata-se da administração de agentes antineoplásicos isolados ou em combinação na tentativa de destruir as células tumorais, uma vez que interferem em funções celulares e de reprodução, sendo uma forma de terapia sistêmica podendo ter como objetivo a cura, o controle ou a paliação(3-5). O Tratamento Sistêmico Adjuvante consiste em uma terapêutica adicional após o tratamento primário, geralmente cirúrgico curativo quando não há evidências de neoplasia tendo como finalidade impedir a disseminação de células tumorais que podem permanecer após a cirurgia, aumentar o intervalo livre de doença e a sobrevida globlal. Esta terapia adjuvante pode incluir quimioterapia, terapia hormonal, terapia-alvo ou terapia biológica(6). Indicado para controlar a disseminação de células neoplásicas entre os diversos sistemas do organismo, o Tratamento Sistêmico Paliativo objetiva retardar o crescimento celular e a evolução da doença, permitindo maior sobrevida global, contudo sem possibilidades de cura(6). Os Cuidados Paliativos Exclusivos visa prevenir e tratar, o mais breve possível, sintomas e complicações decorrentes da doença que, progressivamente comprometem a capacidade 24 funcional do indivíduo, entretanto não influencia diretamente na sobrevida. Todavia, esta modalidade de cuidado deve enfatizar o paciente como um ser único, complexo e multidimensional, sendo considerado seus aspectos biológicos, emocionais, sociais e espirituais/religiosos, visando propiciar melhor qualidade de vida (QV) no remanescente período de vida, seja ele curto ou não(6, 7). Diante dos crescentes índices de morbidade e mortalidade decorrentes do câncer tem sido reconhecida a importância de uma análise da QV dos portadores desta doença, visto que esta avaliação pode ser um importante indicador de resposta do paciente à doença e ao tratamento. Esta pode evidenciar como diferentes condutas terapêuticas influenciam nos resultados, provendo informações relacionadas às decisões de tratamento e indicando intervenções para melhorar a QV dos portadores de câncer (8-10). Na busca de significados, conforto e apoio para percorrer toda a trajetória da doença e do tratamento, diversos indivíduos buscam na Espiritualidade/Religiosidade (E/R) uma estratégia de enfrentamento e adaptação a este novo contexto. Epidemiologicamente, tal recurso tem se revelado um fator de proteção e consequentemente apresentado associação positiva no desenvolvimento de melhores resultados na QV de indivíduos doentes sugerindo uma estreita relação entre E/R e QV(11-14). 1.2 Qualidade de Vida Diversos instrumentos para mensuração da QV de portadores de doenças graves, sendo uma delas o câncer, têm sido criados, estruturados e utilizados como aliados ao desenvolvimento técnico-científico adquirido pela medicina(15). Os instrumentos genéricos buscam abordar o perfil de saúde ou não, e foram desenvolvidos com o objetivo de evidenciar o impacto de uma doença sobre a vida de pacientes em uma ampla variedade de populações. Alguns destes instrumentos são: The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey (MOS SF-36), Sickness Impact Profile (SIP), Nottingham Health Profile (NHP), McMaster Health Index Questionnaire (MHIQ), Rand Health Insurance Study (Rand HIS), Avaliação da QV da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100), este último possui a versão abreviada, WHOQOL-Bref contendo 26 questões, entre outros(16, 17). Todavia, esta diversidade parece refletir heterogeneidade no conceito deste construto, neste sentido a OMS(10) definiu QV como “uma percepção individual da posição do indivíduo 25 na vida, no contexto de sua cultura e sistema de valores nos quais ele está inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito de alcance abrangente afetado de forma complexa pela saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais e relações com as características do meio ambiente do indivíduo”. Há uma conformidade moderada acerca do construto QV, que tem como características a subjetividade relacionada às respostas individuais e que são dependentes de experiências prévias de vida, valores e culturas; a multidimensionalidade, uma vez que avalia os diversos domínios que a envolve; e a bipolaridade que perpassa entre avaliações de bom para ruim. Em vista disso, a percepção de QV difere entre os indivíduos, as culturas, os lugares e os tempos(15). De maneira geral, considerando que a QV se relaciona com diversos aspectos fundamentais sofrendo influências do estado funcional, das características físicas, psicológicas, espirituais e das relações sociais, é possível considerar que o próprio diagnóstico de câncer aliado à ansiedade, ao medo, ao estresse e, posteriormente às manifestações clínicas da doença e de seu tratamento, pode causar interferência e, consequentemente modificar a QV dos pacientes(18, 19). A fim de aproximar e compreender os efeitos sobre a saúde, a própria doença e a QV de indivíduos doentes foi desenvolvido o termo “Qualidade de Vida Relacionada à Saúde” (QVRS) buscando compreender as necessidades humanas básicas, materiais, espirituais e suas relações com a doença e com as intervenções em saúde. Logo, faz referência aos diversos aspectos da vida de um indivíduo que são afetados por alterações no seu estado de saúde e que são significativos para a sua QV(20). Há alguns anos, a preocupação da equipe de saúde em relação ao câncer era o tempo de sobrevivência dos pacientes. Atualmente, há também preocupação em avaliar a QV que estes podem ter durante e após o tratamento oncológico. Considerada uma importante medida de resultados, a QV admite maior atenção à percepção do indivíduo sobre seu modo de conduzir a vida, podendo incluir avaliações do nível de satisfação referentes ao tratamento, estado de saúde e perspectivas futuras(10, 21). Da mesma forma, existe preocupação em se avaliar a QV dos profissionais de saúde, visto que a QV no trabalho é o maior determinante da QV global, pois na atualidade o trabalho ocupa lugar central na vida dos indivíduos(22). A satisfação dos profissionais e a boa 26 percepção de sua QV são essenciais para que em uma instituição os objetivos de excelência no atendimento prestado sejam alcançados. Profissionais de saúde, devido ao contexto de trabalho em que estão sujeitos podem apresentar sofrimento, ansiedade e insatisfação e constroem, a partir disso, sistemas defensivos, entretanto apesar de vivenciado, o sofrimento, às vezes tende a não ser reconhecido(23, 24). Os aspectos éticos e psíquicos do trabalho na área da saúde só começaram a ser considerados a partir da década de 1990. O conceito de QV entre os profissionais da área da saúde ainda é pouco abordado nas literaturas nacional e internacional, todavia tais profissões são vistas como insalubres e, contraditoriamente de risco à saúde quando consideradas as características inerentes ao trabalho. Na atualidade, estes profissionais têm tido a QV comprometida devido também à extenuante carga de trabalho, sendo o estresse e outras consequências biopsicofisiológicas apontados como cumulativos e progressivos (22, 25). Além de todos os fatores já mencionados, os profissionais de saúde que se dedicam à oncologia deparam-se com maior freqüência e intensidade com sofrimento, dor e perda, estando vulneráveis à forte carga emocional. Associado a isso, acrescenta-se a aproximação entre profissionais, pacientes e familiares, visto que o tratamento é longo, no decorrer deste há vários atendimentos ambulatoriais e internações, sendo favorecido o vínculo entre eles. E ainda soma-se a este intenso relacionamento as exigências de preparo técnico-científico e a convivência freqüente com o enigma vida e morte, o que contribui para um adicional desgaste emocional(26, 27). Contudo, profissionais que se dedicam à oncologia, buscam na E/R estratégias de enfrentamento e conforto para sua rotina de trabalho desgastante, física e emocionalmente, o que implica também na melhoria da sua QV global(27, 28). Podendo vir se tornar um mediador entre o campo da saúde e o das questões religiosas e espirituais, a QV pode ser considerada um facilitador no desenvolvimento de intervenções em saúde espiritualmente embasadas. Para que isso ocorra torna-se necessário que os pacientes sejam compreendidos em suas singularidades e que haja por parte dos profissionais de saúde o entendimento a respeito da influência das relações no processo de QV, uma vez que são preconizados nestes tipos de relacionamentos os fatores psicológicos, sociais e espirituais(10, 29). 27 1.3 Espiritualidade e Religiosidade Tem-se conhecimento de que desde o início da década de 1980, a medicina tem buscado abranger um modelo de assistência à saúde com foco na necessidade de avaliação de fatores ambientais e psicossociais(30). Assim, torna-se relevante destacar que a medicina moderna encontra-se em fase de transição e em busca de novas fronteiras e caminhos para a evolução do conhecimento, tendo reconhecido a importância de estudos sobre espiritualidade(31). Durante toda trajetória da humanidade sempre houve o interesse a respeito da espiritualidade e da religiosidade, todavia apenas recentemente o tema tem sido alvo de investigações científicas(32). Na literatura médica e psicológica acadêmica encontra-se cada vez mais estudos sobre a relação entre religião e saúde. Destaca-se ainda que muitas escolas de medicina têm integrado a espiritualidade no currículo acadêmico(33), sendo que nos Estados Unidos 90% das escolas médicas estão oferecendo cursos de Espiritualidade aos seus alunos, enquanto no Reino Unido este percentual está em torno de 59%, e no Brasil 40% integram cursos ou conteúdos que abrangem E/R(34-36), todavia há poucas pesquisas sobre o ensino da E/R nas escolas médicas em outros países, como os da América Latina, Ásia, Austrália e África. Um estudo(36) que buscou investigar a situação do ensino da E/R nas escolas médicas do Brasil e evidenciou que de 86 escolas que aceitaram a participação, quatro (4,6%) tiveram um curso obrigatório em E/R, cinco (5,8%) tiveram um curso eletivo, ou seja, nove (10,4%) escolas médicas no Brasil tiveram um curso específico dedicado a este assunto. Além disso, 14 (16,2%) instituições declararam pelo menos uma palestra sobre E/R em algum ponto no currículo. Outros 12 (13,9%) relataram que enquanto não têm um curso ou palestra específico, um membro do corpo docente integrado à E/R ministra um curso ou palestra. De um modo geral a literatura revela que questões espirituais frequentemente chegam à prática clínica, contudo raramente são abordadas pelos profissionais médicos (37, 38) , que justificam esta barreira principalmente pela falta de formação e conhecimento para lidar com estes aspectos, mesmo concordando que trata-se de uma questão importante a ser explorada(38-40). Segundo dados do Instituto Brasileito de Geografia e Estatística(41) somente 8,0% da população brasileira não têm religião e há uma alta prevalência de indivíduos praticantes de E/R, logo o Brasil tem reconhecido seu expressivo potencial sincrético religioso. 28 Há crescente reconhecimento de que apenas intervenções técnicas podem não resolver ou amenizar os problemas de saúde dos pacientes, resultando assim na necessidade de incorporar outros parâmetros de saúde no tratamento do câncer, como a espiritualidade e a religiosidade(42, 43). Tal construto tem demonstrado grande impacto sobre a saúde física, sendo considerado como possível fator de prevenção ao desenvolvimento de doenças e eventual redução de óbito ou impacto de outras diversas doenças (44-46). Uma meta-análise(47) sobre E/R e mortalidade demonstrou uma taxa de mortalidade 22% menor para aqueles que frequentavam serviços religiosos pelo menos uma vez por semana quando comparados com a população em geral. Ao avaliar a relação entre Espiritualidade e Saúde Física de pessoas saudáveis foi encontrada uma redução de 25% na mortalidade e concluiu que a frequência religiosa parece diminuir o risco de óbito(48). Em uma revisão sistemática(49) foi encontrada uma redução de 18% na mortalidade de pessoas saudáveis que praticavam atividades religiosas organizações. O efeito protetor da E/R nos estudos populacionais inicialmente saudáveis foi independente de fatores comportamentais (uso de álcool, cigarro, realização de exercícios físicos e nível socioeconômico), saúde mental e de apoio social. Há referência de que “a prática regular de atividades religiosas tem reduzido o risco de óbito em cerca de 30% e, após ajustes para fatores de confusão, em até 25%”(50). De modo geral os autores observaram que a E/R tem um efeito favorável sobre a sobrevivência. O modelo assistencial biomédico, cujo atendimento torna-se fragmentado por considerar somente aspectos físicos do processo saúde-doença pode ser complementado com a utilização da espiritualidade, uma vez que através dela é possível promover o desenvolvimento de relações mais personalizadas e humanizadas entre pacientes e profissionais de saúde, sendo capaz de estabelecer uma visão holística do ser humano, considerando-o em sua totalidade e respeitando sua singularidade(51). A fim de melhor esclarecer o processo que cerca todo este contexto, é necessário estabelecer as diferenças entre espiritualidade e religiosidade. A espiritualidade impõe questionamentos acerca do significado da vida e da razão de viver, propiciando a busca por sentido ou por um ser transcendente, não restringindo-se a crenças ou práticas. Em contrapartida, a religiosidade palavra originada do latim religare, significando religar, caracteriza-se pela convicção na existência de um poder sobrenatural, criador e controlador do universo, que ofertou ao homem uma essência espiritual que persiste mesmo após a 29 morte do corpo físico, implicando diretamente na vivência desta religiosidade. Trata-se da extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião, sendo determinada por tradições espirituais expressadas concretamente em ritos e celebrações codificadas cultural e historicamente(52). A espiritualidade deriva da palavra latina spiritu, cujo vocábulo relaciona-se com o termo respiração, logo entendido como um ato inquestionavelmente vital está relacionado também com as necessidades de busca de significado, razão e preenchimento da vida; de esperança e vontade de viver; de ter fé e acreditar em si mesmo, nos outros ou em Deus, sendo então um processo de percepção entre a consciência humana e a interação com Deus ou com um Poder Superior, em função do que é chamado Fé. Considerada uma condição essencial à vida, a necessidade de significado é o que traz sentido às vivências de cada indivíduo e, este muitas vezes é capaz de experimentar sensações de vazio e desespero quando sente-se incapaz de encontrá-lo. Tendo isto em vista, ao abordar um referencial de significados frente à condição de doença, o construto E/R apresentaria um valor intrínseco para avaliação em saúde(53, 54). Grande parte das pessoas acometida pelo câncer utiliza diferentes estratégias de adaptação frente a esta condição, destacando-se entre elas a E/R. Verbalizações de pacientes oncológicos, cujo tratamento foi permeado por situações estressantes foram identificadas com conteúdos referentes a este construto. Evidenciou-se, então que os pacientes utilizaram o enfretamento espiritual/religioso como estratégia de redução do estresse diante da relação entre doença e possibilidade de morte, o que contribuiu diretamente na melhoria da QV destes indivíduos(27, 31, 55-57). A relação entre E/R tem se tornado um claro paradigma na prática diária dos profissionais de saúde. Com isso, a partir da compreensão sobre espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais destes profissionais a prática clínica tende a ser aprimorada, refletindo no aperfeiçoamento das relações com o paciente(58, 59). Oposta à consciência puramente biomédica que foca unicamente nos sintomas ou em órgãos comprometidos, esta visão evidencia o cuidado integral e humanizado ao ser humano, indo ao encontro até mesmo da Política Nacional de Humanização, que visa no atendimento aos indivíduos, o princípio da integralidade, considerando as diferentes dimensões do processo saúde-doença(60). Logo, considerada uma das dimensões da 30 subjetividade humana, torna-se necessário que a espiritualidade estabeleça seu lugar no atendimento humanizado. 1.3.1 Evidências da Espiritualidade/Religiosidade importância de estudos sobre A E/R tem sido cada vez mais foco de atenção na assistência à saúde devido às evidências destas influências na QV de indivíduos doentes. Nas diferentes épocas e culturas que permeiam a história sempre houve o interesse pelo assunto, entretanto o interesse investigativo somente foi demonstrado recentemente pela ciência, uma vez que a prática religiosa tem como intuito complementar a prática médica e não substituí-la(32). A E/R é uma das estratégias de enfrentamento mais utilizada pelos pacientes com câncer, especialmente durante períodos de maior demanda psíquica, como por exemplo, após o diagnóstico inicial, início de quimioterapia, suspensão do tratamento antineoplásico, ao ser encaminhado aos cuidados paliativos, dentre outras situações desgastantes (61, 62). Tal estratégia pode auxiliar minimizando o medo durante todo o curso da doença e interferindo de modo significativo nas tomadas de decisões(27, 63, 64). Além do mais, maiores escores de E/R estiveram associados com melhores relacionamentos sociais(56) e níveis mais elevados de esperança e QV(65-69). Ao serem indagados, os pacientes reportam que gostariam que a sua dimensão espiritual fosse abordada durante a assistência oferecida pelos profissionais de saúde(58, 59, 63, 64, 70, 71). Contudo, a literatura evidencia que profissionais de saúde expressam concepções ambíguas quanto à influência da E/R sobre a saúde. Eles apresentam tendência a respeitar o elemento deste construto na tentativa de utilizar uma visão integral e ampliada de saúde, entretanto expressado de forma imparcial, representando um respeito sem envolvimento. Apesar de reconhecida a importância da assistência às necessidades espirituais dos pacientes, a maioria dos profissionais de saúde não recebeu formação específica durante sua vida acadêmica para prestar tais cuidados, por esta razão, justificam não oferecerem suporte espiritual e religioso durante seus atendimentos(40, 72). Estudo brasileiro(73) buscou identificar como os profissionais de saúde que dedicam-se à oncologia vivenciavam os fenômenos E/R e ressaltou em seus resultados a dificuldade que 31 eles têm em lidar com recidivas e paliação. Evidenciou a contradição de sentimentos aflorados entre eles, uma vez que sentiam tristeza, medo e impotência diante de agravos; e otimismo e esperança quando o paciente reagia bem. Ainda revelou que alguns profissionais apresentavam dificuldades em falar sobre morte com certos pacientes e familiares, por terem que posteriormente lidar com os sentimentos destes. A cura do câncer advinda de um milagre foi relatada como acontecimento possível por alguns profissionais de saúde, porém outros não se mostraram crentes em Deus ou em Algo Extraordinário ou em uma religião que possibilitasse ajuda ao paciente, referindo ainda que fé e milagres não são reconhecidos pela ciência. Ainda, houve os que reconheceram o significado da E/R como relevantes também para os profissionais que lidavam com situações de possibilidade de morte e isso poderia implicar em maior humanização e dignidade consigo e com os outros. Estes resultados ressaltam, mais uma vez a ambiguidade que o tema gera na percepção dos profissionais de saúde. Por meio de uma revisão de literatura(74) buscou-se compreender, sob o olhar da enfermagem como a espiritualidade permeia o processo de cuidar de si e do outro. Foi possível então, evidenciar que a disposição do profissional para cuidar, principalmente ao oferecer cuidados à dimensão espiritual, parecia sofrer influências do cuidado que o enfermeiro tem consigo mesmo. Logo, o cuidado prestado ao outro elevaria o autoconhecimento, e descuidando-se de si mesmo, os profissionais de enfermagem poderiam descuidar-se também dos pacientes. A QV de profissionais da área da saúde foi avaliada e foram encontradas médias baixas de satisfação da QV em todos os domínios do instrumento WHOQOL-Bref, principalmente quando avaliados enfermeiros e técnicos de enfermagem, ressaltando a necessidade de maior atenção com a QV desta classe(75). O bem-estar espiritual de enfermeiros foi investigado e buscou-se saber a opinião destes sobre a importância de prestar uma assistência espiritual ao paciente e se eles haviam recebido preparo para lidar com tal dimensão durante sua formação profissional. Através deste estudo descritivo e exploratório realizado com 30 enfermeiros foi encontrado em uma escala de bem-estar espiritual escores positivos em 76,6%, sendo que a grande maioria reconheceu a importância dos cuidados espirituais aos pacientes, entretanto a maioria dos enfermeiros relatou não ter recebido formação durante sua vida acadêmica para prestar cuidados espirituais aos pacientes. Tais achados revelam a necessidade de 32 preparo dos profissionais de enfermagem durante sua formação para uma melhor assistência espiritual dedicada aos pacientes(76). Uma pesquisa qualitativa, exploratória e transdisciplinar teve como objetivo pontuar as dificuldades que os enfermeiros apresentavam em abordar questões espirituais/religiosas com os pacientes. Percebeu-se por parte destes, uma postura reservada e insegura, sendo isto atribuído ao fato de a E/R ser uma questão polêmica, principalmente no âmbito da ciência(77). Em estudo multicêntrico desenvolvido com 75 pacientes, 339 enfermeiros e médicos, os pesquisadores buscaram identificar fatores que contribuíam para um cuidado espiritual irregular por parte de enfermeiros e médicos ao prestarem assistência a pacientes oncológicos em fim de vida. A maioria dos pacientes com câncer avançado nunca tinha recebido qualquer forma de assistência espiritual por parte de enfermeiros ou médicos (87% e 94%, respectivamente), contudo a maioria considerava o cuidado espiritual um componente importante a ser abordado por tais profissionais {enfermeiros (86%) e médicos (87%)} durante a assistência ao paciente oncológico. Em contrapartida, enfermeiros e médicos reconheceram a necessidade do fornecimento de cuidado espiritual aos pacientes (87% e 80%, respectivamente) e ambos concordaram que a maior barreira para tal cuidado é a falta de formação e preparo para lidar com a dimensão espiritual de pacientes oncológicos em fim de vida(58). Por meio de um estudo transversal(78), pesquisadores brasileiros objetivaram comparar conhecimentos e atitudes de docentes e discentes de Enfermagem frente à interface E/R e Saúde. Mais de 95% dos participantes possuíam algum tipo de filiação religiosa, 96% acreditavam que a Espiritualidade influenciava muito na saúde do paciente, 77% sentiam vontade de abordar o assunto e cerca de metade acreditava que a Espiritualidade influenciava no próprio atendimento do Enfermeiro. Todavia, somente 36% julgavam-se preparados e os professores sentiam-se mais preparados para a abordagem que os alunos. Da mesma maneira, os alunos de semestres mais avançados sentiam-se mais preparados em comparação aos dos semestres iniciais, e a maioria dos participantes concordava que a universidade não proporcionava as informações necessárias sobre o tema. O medo de impor as próprias crenças, a falta de tempo e o medo de ofender os pacientes foram as principais justificativas para a não abordagem do assunto. Concluíram que há a necessidade de implementação de práticas que tornem possível preparar os acadêmicos para a realização 33 dessa abordagem junto a seus pacientes, no intuito de contemplar uma terapêutica mais integrativa e humanística. Através de uma revisão crítica, pesquisadores buscaram refletir sobre a dimensão espiritual no cuidado ao paciente com câncer e evidenciaram que a E/R é utilizada como estratégia de combate ao medo durante todo o curso da doença e é encarada como fator significativo nas tomadas de decisões. A maior parte dos pacientes gostaria que os profissionais de saúde não só demonstrassem respeito por suas necessidades espirituais, mas desejavam também sentirem-se confortáveis para abordar questões espirituais sem medo, atitudes de julgamento ou comentários desdenhosos e gostariam de uma maior interação e reflexões sobre fé, significado e esperança. O bem-estar espiritual foi reconhecido como importante para uma melhor QV durante e após o tratamento oncológico(63). Com o objetivo de avaliar como a fé e o bem-estar espiritual estavam associados com o sofrimento psicológico (distress), um estudo recrutou 1043 pacientes oncológicos, revelando associação entre elevado bem-estar espiritual, menor distress e maior adaptação à doença(57). Grande parte (84%) de pacientes com câncer avançado utilizavam crenças espirituais e religiosas para lidar com a doença em um estudo multicêntrico nos Estados Unidos, sendo que o enfrentamento religioso foi associado com melhor QV (66). Reconhecida como fonte de apoio, adaptação, enfrentamento, conforto, força e bem-estar no período da doença e do tratamento oncológico a E/R tem demonstrado sua importância cientificamente (27, 67, 69) . A importância da E/R e crenças pessoais foi correlacionada positivamente à QV e a diversos domínios psicológicos, ambientais, de relacionamentos sociais, e mesmo após o ajuste para o nível socioeconômico, aos sintomas depressivos, à idade e à presença de uma doença crônica em um estudo transversal que contou com a participação de 122 pacientes portadores de doenças crônicas e 119 indivíduos saudáveis. Tal achado demonstra efetivamente a relação entre a E/R e melhores relações sociais, apresentando-se de acordo com a literatura(56). Além disso, os mesmos autores em 2010 encontraram associação religiosa entre índices mais baixos de características depressivas, mais elevados referentes à esperança e bem-estar, sendo possível também justificar a relação positiva com a QV geral(79). 34 Ao avaliar a relação entre tempo de internação e religiosidade foi constatado que pacientes deprimidos religiosos comparados aos não religiosos permaneceram menos tempo internados, e melhor saúde física esteve associada à maior frequência religiosa(29). Independentemente do tipo de orientação religiosa, pessoas que buscaram a E/R demonstraram maior esperança, confiança e menor estresse, o que poderia ser potencialmente a razão de menor grau de acometimento físico e melhor recuperação de doenças(80). Houve evidências de diminuição de cortisol e de parâmetros cardíacos em doentes que realizavam orações frequentemente(81). A ocorrência de doenças cardíacas, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, depressão, ideação suicida, abuso de drogas, comportamentos sexuais de risco e mortalidade têm sido associados de forma negativa com a E/R(44, 82) . Além disso, maior sobrevida global e menores níveis de marcadores inflamatórios séricos foram encontrados em pacientes com câncer avançado que reportavam rezar com maior frequência (83). Acredita-se, dentre outras possíveis razões, que a participação em atividades religiosas possa impelir o indivíduo a práticas comportamentais mais saudáveis(44) e possibilitar um melhor suporte social(84). Entende-se que a E/R esteja associada com uma melhor QV, sendo que um dos mecanismos mediadores prováveis é o estímulo a uma sensação de maior autonomia perante a vida(85). Estudo multicêntrico procurou verificar se a E/R seria um recurso importante para 580 pacientes que apresentavam dores crônicas. Foi constatado que os pacientes utilizavam tal construto como forma de enfretamento ativo durante a condição de doença e de quadros álgicos(86). Durante dois anos pesquisadores acompanharam 40 pacientes com enfisema pulmonar que foram pareados por idade, sexo, raça e escolaridade com indivíduos saudáveis a fim de descrever a utilização do enfrentamento espiritual/religioso e sua relação com a QV destes pacientes. Foi encontrada maior utilização do enfrentamento espiritual/religioso, tanto negativo quanto positivo, em pacientes que em pessoas saudáveis, não tendo sido evidenciado associação direta com a QV, entretanto foi uma das estratégias de enfrentamento mais utilizadas frente à doença(87). Buscando descrever o uso do humor e suas influências sobre a espiritualidade de sobreviventes ao câncer de mama, desenvolveu-se uma pesquisa descritiva utilizando relatos de nove mulheres que vivenciaram tal doença. As participantes identificaram o 35 humor como importante fator ao lidar com a trajetória do câncer de mama, acreditando também que a espiritualidade contribuiu em consonância com o humor de maneira positiva para uma melhor percepção de significado e propósito de vida(88). Foi analisada a correlação entre as crenças espirituais e a QVRS de indivíduos submetidos à hemodiálise em Taiwan. Participaram do estudo 633 pacientes de 14 centros, sendo evidenciado que aqueles sem crenças ou com fortes crenças espirituais apresentaram melhor QVRS do que os indivíduos com fraca crença espiritual. Os autores justificaram este achado referindo que era possível que pacientes sem crenças espirituais eram mais autoconfiantes o que levaria a uma atitude mais positiva em relação à doença, com tendência à maior pontuação no instrumento de QVRS(89). Por meio de uma revisão da literatura procurou-se compreender a importância da assistência espiritual no cuidado aos pacientes com doença avançada. Evidenciaram que tais pacientes consideravam o construto E/R importantes para lidar com a doença e as utilizavam a fim de obter um melhor bem-estar geral associado à melhoria da QV psicológica e até mesmo física, sendo que diversos pacientes ao depararem com o avançar da doença encontravam também diversas necessidades espirituais, algumas não identificadas anteriormente. Muitos pacientes gostariam que a dimensão espiritual fosse abordada durante a assistência oferecida pelos profissionais de saúde, até mesmo porque tal dimensão poderia ter influência na tomada de decisão do paciente, contudo este tema ainda não era amplamente abordado durante o atendimento(64). Com o objetivo de determinar o que pacientes com câncer e seus cuidadores esperavam de enfermeiros, no que diz respeito ao cuidado às suas necessidades espirituais, um estudo transversal descritivo com 21 pacientes e sete cuidadores verificou que enquanto alguns pacientes oncológicos e seus cuidadores prefiram não serem abordados quanto a esta dimensão, a maioria permanecia ansiosa para receber assistência espiritual advindo de enfermeiros, pois acreditavam que tais profissionais poderiam contribuir para sua saúde espiritual(71). Buscando entender o papel da espiritualidade e do enfrentamento religioso na QV de pacientes com câncer avançado durante tratamento radioterápico paliativo foi desenvolvida uma pesquisa transversal e multicêntrica com 69 pacientes paliativos oncológicos durante radioterapia paliativa. A maioria dos participantes (84%) afirmou utilizar E/R para enfrentar a doença e aqueles com maior espiritualidade e enfrentamento religioso apresentaram 36 associação com melhor QV, através de análises multivariadas. A maior parte também concordou que é importante durante o tratamento oncológico que enfermeiros (85%) e médicos (87%) prestem atenção espiritual aos seus pacientes(66). Ao estudar a prevalência de terapias alternativas/complementares entre 100 pacientes oncológicos encontraram que de fato o tipo mais utilizado desta forma de terapia foi a oração individual (77,5%), apresentando-se associada à melhoria da QV global destes pacientes(90). A busca por um líder é apontada pelas práticas adotadas por meio de rigorosidade nas orações à procura de conforto, dever e devoção(55). Com o passar do tempo, encarada como o centro da crença religiosa, a oração foi transformada em maneiras variadas de adoração, contemplação, penitência, comunhão, petição e graças. É bastante empregada como fonte de conforto em momentos de fragilização, doença e dor, proporcionando um controle que vai além do aspecto humano, sendo por isso o enfretamento religioso visto com tamanha importância. A ansiedade e o medo são reduzidos no momento em que o paciente atribui esse controle a um ser supremo que o liberta(91). Logo, diante de todas estas evidências, torna-se importante entender que durante o processo saúde-doença a E/R tem sido apontada como importante no cotidiano dos pacientes, devendo a dimensão espiritual ser considerada fator relevante nesta etapa e analisada durante o planejamento e implementação de intervenções, tendo como foco a melhoria da QV desses indivíduos, uma vez que a E/R tem sido considerada um aspecto específico de notável influência na avaliação da QV(56). Frente ao reconhecimento da relevância da E/R na QV, foi incluída uma dimensão relacionada a esses aspectos nos domínios de alguns instrumentos de QV genéricos(52, 92) , de QVRS (QV relacionada à saúde)(93) e de QV relacionada a alguma doença específica(94). 1.4 Instrumentos de avaliação de Espiritualidade/Religiosidade A E/R tem sido apontada como fator protetor à saúde e identificada como importante dimensão na evolução de doenças, representando características adaptativas à vida. Todavia, ainda existem poucos instrumentos que incluam esta dimensão de forma satisfatória em seus domínios e que, além disso, contemplem aspectos genéricos das religiões e sejam facilmente aplicáveis em diferentes culturas. A importância de tal inclusão 37 representaria uma avaliação com maior fidedignidade da influência da E/R na QV tanto de indivíduos doentes quanto naqueles saudáveis(52, 56, 95). Uma revisão sistemática recente objetivou identificar os instrumentos utilizados na investigação clínica que avaliassem a espiritualidade, para assim propor uma classificação dos que poderiam fornecer informações sobre a necessidade de intervenção espiritual. Foi constatado que existiam 35 instrumentos utilizados na pesquisa clínica em saúde para avaliar tal dimensão. Estes foram classificados em medidas de espiritualidade geral (n=22), bem-estar espiritual (n=5), enfrentamento espiritual (n=4) e necessidades espirituais (n=4). Os instrumentos mais utilizados em pesquisa clínica foram o FACIT-Sp e a Escala de BemEstar Espiritual(96). De acordo com uma revisão sistemática desenvolvida no Brasil (97), atualmente existem 20 Religiosidade instrumentos (45%), para avaliação da Espiritualidade (40%), E/R coping em português. Estes religioso/espiritual avaliam (10%) e Espiritualidade e Religiosidade (5%). 90% foram traduzidos (n=15) ou criados (n=3) para a língua portuguesa no Brasil e 2 (10%) somente para o português de Portugal. Porém, a maioria dos instrumentos não foi submetida a análises psicométricas. Destes, a validação concorrente foi verificada em 40% dos instrumentos, a validação discriminativa em 45% e teste-reteste em 15%. Importante destacar que, atualmente os principais e mais utilizados instrumentos com características psicométricas satisfatórias capazes de avaliar o construto E/R traduzidos e validados para a população brasileira são WHOQOL-SRPB (Instrumento de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde – Módulo Espiritualidade, Religiosidade e Crenças Pessoais), DUREL (Duke Religious Index), Escala CRE (Escala de Coping Religioso-Espiritual) e FACIT-Sp-12(Functional Assessment of Chronic Ilness Terapy – Spiritual Well-Being). Além da Escala de Atitude Religiosa desenvolvida no Brasil. 1.4.1 WHOQOL-SRPB O WHOQOL-SRPB é um instrumento transcultural e auto-aplicável desenvolvido pela OMS com o objetivo de avaliar a maneira como espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais (SRPB, sigla em inglês) correlacionam-se com a QV na saúde e na assistência à saúde(56, 98). Durante o estudo de validação do WHOQOL-SRPB em português brasileiro quando avaliou 404 indivíduos doentes e saudáveis, encontraram em mulheres uma média 38 significativamente mais elevada na faceta Conexão Espiritual. Entre os mais velhos foram identificadas médias mais altas nas facetas Totalidade e Integração e Paz Interior. As facetas Sentido na Vida e Totalidade e Integração entre os saudáveis tiveram escores maiores em relação aos indivíduos doentes. Aqueles que tinham alguma crença religiosa/espiritual quando comparados aos ateus e agnósticos tiveram escores significativamente maiores nos domínios SRPB global do WHOQOL-SRPB e SRPB do WHOQOL-100 e em todas as facetas de Qualidade de Vida Relacionada à Espiritualidade (QVRE), exceto Paz Interior (12). Objetivando verificar a associação entre presença de doença crônica e a importância dada à SRPB e a presença de um problema crônico de saúde e a QV, foram utilizados, entre outros, os instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-SRPB. Em um total de 241 pessoas (122 pacientes com alguma doença crônica e 119 indivíduos saudáveis), quando avaliados domínios de QV, os pacientes apresentaram médias significativamente mais baixas na maioria dos domínios, inclusive QV geral, com exceção do domínio SRPB, quando a média foi ligeiramente mais elevada, contudo não foi estatisticamente significativa. Pacientes atribuíram maior importância à SRPB e a presença de doença crônica correlacionou-se negativamente com o domínio físico e à QV geral, bem como a presença de sintomas depressivos apresentou correlações negativas em todos os domínios da QV. Os resultados evidenciaram a importância da SRPB na vida dos pacientes durante o processo de saúdedoença, o que poderia contribuir durante o planejamento de intervenções com o intuito de melhorar a QV destes(56). Há críticas referentes às facetas que constituem o WHOQOL-SRPB, são questionamentos do quanto seu conteúdo avaliaria ou não Espiritualidade e Religiosidade(99). Alguns autores questionam as perguntas sobre bem-estar psicológico, satisfação, conexão com os outros, esperança, significado, propósito na vida ou valores altruístas como parte da investigação de saúde mental e não de E/R. Relatam que por se tratar de um instrumento de medida inclusiva, transcultural e de acesso mundial o risco de ser demasiadamente amplo e perder o significado central destas palavras seria grande. Contudo, há que se ponderar que até mesmo as definições dos termos Espiritualidade e Religiosidade ainda são focos de críticas e controvérsias no meio científico. O Grupo WHOQOL no Brasil(98) ressalta que o WHOQOL-SRPB não é um instrumento que busca avaliar o construto SRPB, mas sim qualidade de vida referente a este construto. Enfatizam que as crenças pessoais podem auxiliar na forma de enfrentar e conseguir lidar 39 com os problemas, pois dão significado ao comportamento humano e podem influenciar na QV, e que o SRPB é um construto coerente e pode ser considerado independente de bemestar psicológico. Todos os conceitos incluídos no projeto WHOQOL foram considerados genuinamente transculturais por consenso e isso é um de seus pontos fortes mais relevantes. E concluem que o WHOQOL-SRPB deve ser visto como um meio de buscar entender a relação entre qualidade de vida e espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. A fim de analisar o instrumento WHOQOL-SRPB e o cálculo dos seus resultados, os autores de um estudo brasileiro interpretaram a sintaxe do Programa SPSS e propuseram uma ferramenta alternativa para o cálculo dos escores e estatística descritiva do instrumento. Desta forma, procuraram clarificar e aumentar a possibilidade de utilização do WHOQOL-SRPB em estudos referentes à espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais e associação com a QV(100). 1.4.2 DUREL O instrumento DUREL é uma breve, válida e confiável escala de religiosidade que tem sido amplamente utilizada em estudos internacionais, já tendo sido traduzida para 11 idiomas e empregada em mais de 100 estudos, tendo sido validada no Brasil em 2010 (101). Possui cinco itens que captam três das dimensões de religiosidade que mais se relacionam com desfechos em saúde: organizacional (RO) – envolve práticas religiosas públicas, tais como assistir a serviços religiosos ou participar de grupos relacionado a atividades religiosas; não-organizacional (RNO) - consiste em atividades religiosas privadas, como oração e estudo íntimo das escrituras; e religiosidade intrínseca (RI) que avalia o grau pessoal de compromisso religioso ou motivação religiosa, uma forma de demonstrar a religiosidade como um meio para algum fim importante. Os dois primeiros itens que abordam RO e RNO foram derivados de grandes estudos epidemiológicos americanos e evidenciaram indicadores de saúde física, mental e apoio social. Referindo à RI os outros três itens compõem a RI de Hoge, apresentando melhor pontuação total nesta escala e revelando também suporte social e desfechos em saúde. Durante avaliação dos resultados finais da DUREL, os escores das três dimensões (RO, RNO e RI) não devem ser somados a fim 40 de se obter um escore total, logo as pontuações nas três dimensões devem ser analisadas individualmente(101-103). Buscando validar a versão brasileira da Escala DUREL em duas amostras distintas, sendo 323 estudantes universitários e 113 pacientes psiquiátricos, evidenciou-se correlações moderadas e significativas entre suas subescalas (RO, RNO e RI), bem como com a faceta global de espiritualidade do WHOQOL-SRPB, que também foi utilizado no estudo. Correlações fracas, porém significativas foram encontradas entre sintomas depressivos, RI e RNO apenas na amostra de estudantes e correlação inversa e significativa entre RO e sintomas de ansiedade em pacientes psiquiátricos(104). De forma transversal foram avaliados 73 pacientes com Epilepsia do Lobo Temporal e as variáveis relacionadas à religiosidade, seus correlatos sócio demográficos, clínicos e de QV, utilizando entre outros instrumentos a Escala DUREL. Como resultados, foram encontrados maiores escores de religiosidade extrínseca (RE) em pacientes que em indivíduos saudáveis durante processo de validação do instrumento, contudo na religiosidade intrínseca a pontuação dos pacientes foi menor. Indivíduos com menor escolaridade, maior idade, desempregados e com baixa cognição apresentaram maiores escores na Escala DUREL. Menor preocupação com as crises epilépticas foi evidenciada em pacientes com maior RE e maior preocupação com os efeitos dos medicamentos e melhor auto-percepção sobre sua QV foram encontrados naqueles com maior RI. Não foram encontradas correlações entre religiosidade, QV e presença de depressão, o que os autores atribuem à complexa relação e à influência mútua de religião e bem-estar, sugerindo a realização de novos estudos para elucidar tal associação(105). Utilizando a Escala DUREL, na Alemanha, buscou-se entender a perspectiva de 123 Psiquiatras sobre a influência da E/R no tratamento dos seus pacientes (106). Como resultado os pesquisadores revelaram que os Psiquiatras alemães tiveram uma visão positiva da influência da E/R sobre a saúde mental dos pacientes. Identificaram ainda que a E/R dos próprios Psiquiatras influenciou significativamente na sua interpretação do efeito da E/R em pacientes psiquiátricos, bem como sua atitude em relação à E/R no ambiente clínico. Aqueles mais religiosos tendem a observar uma influência mais positiva da E/R sobre saúde mental. Ressaltam ainda que são recomendados programas de formação sobre questões espirituais e religiosas, e ainda seria necessário um trabalho eficaz em equipe com profissionais com experiência neste contexto. 41 Avaliou-se através da Escala DUREL, a associação entre E/R e QV ou Depressão entre 274 idosos que vivem sozinhos em uma cidade da Coréia do Sul. Houve uma correlação significativa entre as Escalas de depressão, QV e a Escala DUREL. Aqueles deprimidos tiveram uma pontuação menor no instrumento de QV comparado aos não-deprimidos. Entre os deprimidos, os que crêem em uma religião teve uma maior pontuação no instrumento de QV do que os não-religiosos. As análises revelaram que a E/R tiveram efeitos significativos sobre a Depressão e QV idosos que vivem sozinhos. Curiosamente, a E/R não foi relacionados à Depressão e QV entre os budistas, mas foram relacionados entre protestantes e católicos. Concluíram que mais pesquisas são necessárias para elucidar esses achados. 1.4.3 Escala CRE A Escala CRE foi traduzida, adaptada e validada no Brasil em 2004, tendo como base a estrutura da escala norte-americana RCOPE, com o intuito de investigar a maneira como são relacionados o coping religioso-espiritual, a saúde e a QV(107, 108). Durante a aplicação do instrumento, é solicitado que o respondente lembre-se do acontecimento de maior estresse que vivenciou nos últimos 3 anos e que a resposta às questões do questionário sejam referentes às suas atitudes naquela ocasião, de forma que o indivíduo responda o quanto fez ou não de cada item para enfrentar o estresse da situação em questão. É composta por 96 itens, sendo utilizada escala de likert para classificação dos resultados. Este instrumento possui uma versão abreviada - Escala de Coping ReligiosoEspiritual Abreviada (Escala CRE-Breve) a qual possui 49 itens divididos em duas dimensões, sendo o CRE Positivo, compreendido por 34 itens e sete fatores, e CRE Negativo 15 itens e quatro fatores(95, 108). Com o intuito de desenvolver a versão brasileira da Escala CRE e avaliar a relação entre CRE, saúde e QV, tendo como participantes do estudo 616 indivíduos saudáveis, encontrouse que a utilização do CRE tem associação positiva com QV, sendo que o grupo QV-Baixa teve médias mais altas de CRE negativo, enquanto ao grupo QV-Alta apresentou escores mais altos de CRE positivo, sendo que a influência prejudicial do CRE negativo foi maior que a influência benéfica do CRE positivo sobre a QV. Aqueles que tiveram maiores médias entre outras medidas religiosas, multidimensionais, globais e unidimensionais apresentaram 42 também QV-Alta. Considerando a idade, aqueles que empregam o CRE com mais freqüência são os que têm maior idade. Indivíduos que utilizam mais CRE, entre outros benefícios tiveram melhor QV psicológica e nas relações sociais(95). 1.4.4 FACIT-Sp A Escala FACIT-Sp busca avaliar o bem-estar espiritual dos indivíduos através de 12 itens e pode ser aplicada independentemente de crenças religiosas. As duas sub-escalas que a compõem avaliam “sentido/paz” através de oito itens e “fé” através de quatro itens. Quanto maior a pontuação da soma dos 12 itens maior é tido o bem-estar espiritual(109, 110). Utilizando o FACIT-Sp buscou, de forma transversal examinar até que ponto o bemestar espiritual e os aspectos da fé associavam-se com angústia e saúde mental entre 1043 pacientes sobreviventes ao câncer. Foi encontrado associação entre maior bem-estar espiritual e menor angústia total e maior adaptação ao contexto da doença, logo entendeuse que o bem-estar espiritual associou-se ao menor sofrimento e a melhor saúde mental, apesar de alguns aspectos específicos da fé terem sido ambíguos, podendo ser tanto positiva quanto negativamente associados à aflição e saúde mental, evidenciando a complexidade da interação entre saúde psicológica e fé em sobreviventes ao câncer(57). Com o objetivo de determinar se o bem-estar espiritual relacionava-se com a QVRS e se idade, sexo, estado civil, topografia do câncer e estádio da doença estavam relacionados ao bem-estar espiritual, pesquisadores utilizando um delineamento transversal e o FACIT-Sp, entrevistaram 159 pacientes muçulmanos com câncer. Foi encontrado o bem-estar físico correlacionado de forma negativa com o FACIT-Sp em homens, divorciados e com doença em estádio IV, enquanto houve correlação positiva entre o bem-estar social e o FACIT-Sp para indivíduos entre 18-34 e 35-49 anos, em ambos os sexos, casados, solteiros e divorciados que tinham câncer de mama, osso, gastrointestinais e sarcomas em estádios III e IV. O bem-estar emocional foi correlacionado negativamente com o FACIT-Sp somente em homens, entre 35 a 49 anos, solteiros e com doença em estádios III e IV. Houve então uma relação positiva entre idade e topografia da doença e bem-estar espiritual. Concluiu-se que o FACIT-Sp é capaz de fazer distinção entre os domínios de QV e as características dos diversos pacientes portadores de câncer(111). 43 O instrumento FACIT-Sp-12 teve suas propriedades psicométricas validadas para o português brasileiro em 2013, apresentando medidas satisfatórias para o uso em pacientes psiquiátricos internados(112). 1.4.5 Escala de Atitude Religiosa Desenvolvida no Brasil, em 2002, por um psicólogo professor e acadêmicos de Psicologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Pernambuco é composta por três domínios que avaliam conhecimento, afeto e comportamento religioso, apresentando um total de 15 itens relacionados às atitudes religiosas. As respostas são dadas em escala tipo Likert de um a cinco(113, 114). Buscando entender a religiosidade e a QV de 78 idosos institucionalizados foi desenvolvido um estudo observacional e transversal com abordagem quantitativa, utilizando a Escala de Atitude Religiosa e o The Medical Outcomes Study Short Form – SF36. Encontrou correlações positivas entre a atitude religiosa e os domínios de saúde mental, vitalidade de estado de saúde geral, ressaltando que os aspectos religiosos têm influência no comportamento e consequentemente na saúde e na QV dos idosos institucionalizados pesquisados(115). Foi investigado de forma transversal e correlacional a relação entre o sentido da vida e a atitude religiosa de 300 sujeitos através da Escala de Atitude Religiosa/Espiritual e do Teste Propósito de Vida (PIL-Test). Foram encontradas correlações positivas entre a atitude religiosa e a realização existencial, a atitude religiosa e a idade, o desespero existencial e o vazio existencial e a realização existencial e a idade, existindo também correlações negativas entre a realização existencial e o vazio existencial e a realização existencial. Logo, os autores concluíram que a atitude religiosa trata-se de uma forma de encontro de sentido de vida e um elemento de prevenção do vazio e do desespero existencial(116). Internacionalmente encontramos outros instrumentos capazes de avaliar, cada um à sua maneira, a influência da E/R na vida dos indivíduos. É possível citar Religious Orientation Inventory(117), Religious Coping Activities Scale(118), Arel Spiritual Well-Being Scale(119), Spiritual Meaning Scale(120). Dentre estes, nenhum ainda apresenta tradução e validade para o português e população brasileira. 44 1.4.6 Resultados da aplicação de Escalas de Espiritualidade/Espiritualidade e Qualidade de Vida Grupos focais, em todo o mundo, realizaram um estudo, no qual o grupo WHOQOL identificou que E/R e crenças pessoais eram variáveis importantes a serem considerada na avaliação da QV e na saúde dos participantes(121). Foram encontrados indícios de associação positiva significativa entre QV e bem-estar espiritual durante desenvolvimento e validação do instrumento FACIT-Sp que contou com a participação de 1617 indivíduos(93). O mesmo foi evidenciado em outra pesquisa cuja amostra foi composta por pacientes oncológicos, independentemente do tipo de neoplasia(109). Correlação positiva também houve entre bem-estar espiritual/religioso, existencial e QV em pacientes com variados tipos de neoplasias ginecológicas(122). Participantes de um estudo cujo instrumento utilizado foi o QLI (Quality of Life Index) confirmaram, através de escores positivos e significativos, a direta relação entre QV em indivíduos HIV positivos e fé, afiliação religiosa e estado de saúde(123). A fim de prever hospitalização em pacientes com doença pulmonar obstrutiva, um estudo longitudinal sobre uso de instrumentos de QV apontou a baixa QV como poderoso preditor de hospitalização e de causas de mortalidade, destacando que com instrumentos breves e auto-aplicáveis seria possível identificar pacientes que poderiam ser beneficiados com intervenções preventivas(124). Um estudo transversal controlado, realizado em 2002 utilizando os instrumentos Inventário de Depressão de Beck (BDI), Inventário de Desesperança de Beck (BHS), WHOQOL-100 e WHOQOL-SRPB objetivou verificar a associação entre QV, estado de saúde e níveis de E/R e crenças pessoais, tendo como participantes pacientes hospitalizados e pessoas saudáveis da comunidade(125). Através das análises desta pesquisa, foi identificado maior uso da E/R em situações de enfrentamento de doenças(126) o que poderia ter como justificativa, a maior necessidade de suporte para o enfrentamento das demandas associadas ao adoecimento(31), pela busca de uma explicação para o adoecimento(55) ou, até mesmo pela esperança de cura através da fé(127). Foi demonstrado por meio da aplicação da escala CRE em pesquisa transversal realizada em 2004, a forma como a fé pode ser considerada aliada no enfretamento do estresse. Evidenciou-se associação positiva entre E/R e QV e associação negativa entre CRE 45 negativo e QV, identificando associação entre maior E/R com melhores índices de QV e saúde física e mental(95). Evidências confirmam que os próprios pacientes desejam que os profissionais de saúde abordem e ofereçam cuidados à sua dimensão espiritual. Nos Estados Unidos, 95% das pessoas pesquisadas afirmam acreditar em Deus, 77% acreditam que os médicos devem considerar as suas crenças espirituais, 73% entendem que devem compartilhar suas crenças religiosas com o profissional médico e 66% revelam interesse de que o médico pergunte sobre sua espiritualidade(70). Buscando conhecer o significado da espiritualidade para equipe de um Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar Oncológico e identificou-se que a compreensão desta é tão importante quanto às dimensões física, psíquica e social e que pode ser tida como importante instrumento de trabalho no cuidado a pacientes oncológicos, cuidando também daquilo que não é visível e palpável, tendo a possibilidade de visualizar e considerar o indivíduo em sua integralidade(51). Diante deste contexto, é possível entender que o suporte espiritual e religioso exerce destaque na vida das pessoas, especialmente as doentes, e revela que é de extrema importância conhecer a E/R dos pacientes ao planejar a assistência em saúde (11). 46 2 JUSTIFICATIVA O câncer é um problema de saúde pública e diante de sua elevada morbimortalidade vem sendo reconhecida a importância de avaliações da QV dos portadores desta doença. A literatura tem evidenciado que portadores de doenças crônicas utilizam a E/R como forma de enfrentamento e adaptação à doença e a utilização deste construto tem apresentado associação positiva com a QV. Por isso a E/R tem sido cada vez mais foco de uma maior atenção na assistência à saúde, contudo o interesse científico sobre o tema é recente e há ainda poucas publicações nacionais e internacionais (12, 27, 28, 55, 97, 128) sob a ótica específica dos dois grupos envolvidos no processo saúde-doença: o paciente e o profissional de saúde. Logo, tais argumentos são pertinentes para justificar o desenvolvimento deste estudo. 47 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Avaliar a E/R e a QV de pacientes com câncer e dos profissionais de saúde que prestam cuidados diretos aos pacientes do Hospital de Câncer de Barretos. 3.2 Objetivos Específicos Avaliar e comparar a QVRS de pacientes com câncer nas fases de Tratamento Sistêmico Adjuvante, Sistêmico Paliativo e em Cuidados Paliativos Exclusivos; Avaliar e comparar a QV dos profissionais de saúde dos diferentes setores de atendimento; Comparar a QV dos pacientes com câncer em relação aos profissionais de saúde; Comparar a E/R de pacientes com câncer nas fases de Tratamento Sistêmico Adjuvante, Sistêmico Paliativo e em Cuidados Paliativos Exclusivos; Comparar a E/R dos profissionais de saúde dos diferentes setores de atendimento; Comparar a E/R dos pacientes com câncer em relação aos profissionais de saúde. 48 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Desenho do Estudo Estudo descritivo, exploratório e transversal. 4.2 Local da Pesquisa O estudo foi desenvolvido no Hospital de Câncer de Barretos, interior do Estado de São Paulo. A pesquisa foi iniciada em 11 de setembro de 2012 e os dados dos pacientes foram coletados no Departamento de Oncologia Clínica que atendia pacientes com tumores sólidos, nos setores de Mama e Ginecologia; Cabeça e Pescoço, Tórax e Neurologia; Digestivo, Urologia, Melanoma e Sarcomas (Unidade I); e na Unidade de Cuidados Paliativos em Oncologia (Unidade II). Os profissionais foram abordados nos diversos departamentos assistenciais da Unidade I (Internações (Clínica, Cirúrgica, Hematológica e Pediátrica); Emergência (Centro de Intercorrências Ambulatoriais (CIA)); Ambulatórios (Diversos Ambulatórios Cirúrgico e de Oncologia Clínica, Ambulatório Hematologia/TMO, Centros Cirúrgicos Grande e Pequeno, Endoscopia, Hemonúcleo, Medicina Nuclear, Radiologia, Radioterapia, Centro Infusional); Terapia Intensiva (Unidade de Terapia Intensiva (UTI)) e Unidade II (Cuidados Paliativos em Oncologia) onde encontravam-se os profissionais de saúde que prestavam assistência direta aos pacientes. 4.3 Sujeitos da Pesquisa Pacientes com câncer acompanhados pelo Departamento de Oncologia Clínica em Tratamentos Sistêmico Adjuvante, Sistêmico Paliativo e aqueles em Cuidados Paliativos Exclusivos acompanhados na Unidade de Cuidados Paliativos. Profissionais da saúde que atuavam diretamente nos cuidados aos pacientes (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e nutricionistas) e que trabalhavam nos departamentos de Internação, Emergência, Ambulatórios, Terapia Intensiva e Cuidados Paliativos. 49 4.4 Divisão dos grupos e subgrupos da pesquisa GRUPO 1 Pacientes SUBGRUPOS PACIENTES EM TRATAMENTO SISTÊMICO ADJUVANTE PACIENTES EM TRATAMENTO SISTÊMICO PALIATIVO PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS EXCLUSIVOS Figura 1 - Subgrupos compostos por pacientes com câncer. GRUPO 2 Profissionais de saúde SUBGRUPOS AMBULATÓRIOS INTERNAÇÕES EMERGÊNCIA TERAPIA INTENSIVA Figura 2 - Subgrupos compostos por profissionais de saúde. CUIDADOS PALIATIVOS EXCLUSIVOS 50 4.5 Critérios de Inclusão Grupo 1 - Pacientes Maiores de 18 anos de idade. Ter diagnóstico definido de câncer. Ciente de seu diagnóstico. Em Tratamento Sistêmico Adjuvante, Sistêmico Paliativo ou em Cuidados Paliativos Exclusivos. Grupos 2 – Profissionais de saúde Profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e nutricionistas) que prestavam assistência direta1 aos pacientes oncológicos. Maiores de 18 anos de idade. 4.6 Critérios de Exclusão Grupo 1 (G1) - Pacientes Pacientes que demonstrassem desorientação ou dificuldade de compreensão que os impediriam de responder perguntas simples referentes à orientação de tempo e espaço como: dia da semana, data de nascimento, local de origem, que cidade é esta, e consequentemente aos instrumentos de avaliação. Pacientes que estavam em Tratamento Sistêmico Neoadjuvante, pois suas respostas poderiam permear entre as dos grupos Adjuvante ou Sistêmico Paliativo, não havendo delimitação exata entre as características prognósticas que visam os diferentes tipos de tratamento. 1 Entende-se como assistência direta a prestação de cuidados diretos e individualizados aos pacientes, sendo exercidos por todos os elementos da equipe de saúde, com base em conhecimentos técnico-científicos (Costa & Shimizu, 2005). 51 Grupos 2 (G2) – Profissionais de Saúde Profissionais que demonstrassem desorientação ou dificuldade de compreensão que os impediriam de responder perguntas simples referentes à orientação de tempo e espaço como: dia da semana, data de nascimento, local de origem, que cidade é esta, e consequentemente aos instrumentos de avaliação. Antecedente de câncer nos últimos dez anos, uma vez que por já terem estado na condição de pacientes, suas respostas ainda poderiam conter resquícios do impacto da doença em suas vidas. 4.7 Amostra 4.7.1 Cálculo do Tamanho Amostral O estudo de Panzini et al. (2011)(12) objetivou analisar as propriedades psicométricas do WHOQOL-SRPB, apresentando resultados segundo estado de saúde e separados por domínios, conforme estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Validade discriminativa do WHOQOL-SRPB segundo estado de saúde. Doente (n=197) Saudável (n=207) Facetas ou Domínios µ DP µ DP Conexão Espiritual 66,43 25,06 65,22 25,34 Sentido na vida 73,57 16,98 78,02 15,94 Admiração 72,55 15,57 74,67 14,52 Totalidade e 67,35 17,74 70,65 15,87 Integração Força espiritual 72,46 21,91 71,65 19,02 Paz Interior 66,72 17,46 69,17 17,15 Esperança e 70,65 18,03 73,28 13,09 otimismo Fé 73,70 23,46 70,29 22,09 Geral 70,43 15,43 71,62 14,33 µ=Média; DP=Desvio Padrão Fonte: Panzini et al. Rev. Saúde Pública. 2011; 45(1):153-65. Considerando os resultados da Tabela 1, onde estão expostos a média e o desvio padrão de E/R em indivíduos doentes e saudáveis, foi calculado o tamanho amostral para a comparação destes grupos considerando significância de 0,05 para poder de teste variando ente 0,8 e 0,9 e variando as diferenças clinicamente relevantes (5, 10, 15 e 20 pontos), conforme consta na Tabela 2. 52 Tabela 2 – Tamanho amostral considerando significância de 0,05 e poder de teste 0,8 e 0,9 (Barretos, HCB, 2012). Poder=0,9 Poder=0,8 Domínios dif=5 dif=10 dif=15 dif=20 dif=5 dif=10 dif=15 dif=20 Conexão Espiritual 525 132 59 33 395 99 44 25 Sentido na vida 230 58 26 15 173 44 20 11 Admiração 203 51 23 13 153 39 17 10 Totalidade e 245 62 28 16 184 46 21 12 Integração Força espiritual 357 90 40 23 268 67 30 17 Paz Interior 243 61 27 16 183 46 21 12 Esperança e 209 53 24 14 158 40 18 10 otimismo Fé 426 107 48 27 321 81 36 21 Geral 178 45 20 12 134 34 15 09 Nível de significância: 0,05 Diferenças clinicamente relevantes: 5,10,15, 20 pontos Foi considerado, neste estudo cinco pontos como diferença clinicamente relevante (129) sendo 0,9 o poder de teste, obtendo 525 indivíduos portadores de câncer e 525 profissionais de saúde como tamanho amostral. 4.7.2 Seleção da amostra Na instituição o departamento de Oncologia Clínica trabalha no sistema de estações de trabalho ambulatoriais, denominadas “Workstations”. De acordo com a dinâmica dos Workstations há um local onde ficam os prontuários dos pacientes por período segundo a ordem de atendimento. Os pesquisadores escolhiam um prontuário, verificavam os critérios inclusão e exclusão, caso enquadrassem, o paciente era convidado a participar da pesquisa. A escolha do prontuário era realizada saltando alguns deles, sendo o número a ser saltado dependente da quantidade de atendimentos previstos e de médicos no período, de modo que não houvesse interferência e/ou impacto na ordem das consultas. Os instrumentos de coleta de dados eram aplicados antes da consulta médica a fim de que as respostas não sofressem interferência de qualquer acontecimento ou notícia recebida durante a consulta. Após aceite ou recusa por parte do paciente, o prontuário era devolvido à mesma ordem em que estava anteriormente. Todos os instrumentos foram aplicados em forma de entrevista, com duração média de 30 minutos. 53 A Tabela 3 mostra o número total de profissionais de saúde da instituição que possivelmente enquadravam-se nos critérios de inclusão. Desta forma, eram possíveis candidatos à participação no estudo, destacando-se ainda que, na ocasião constava no cadastro do setor de Recursos Humanos o total de 961 profissionais de saúde, sendo assim distribuídos nos diversos departamentos. Tabela 3 - Número de profissionais de saúde do HCB candidatos à participação no estudo (Barretos, HCB, 2012). DEPARTAMENTO/SETOR N. PROFISSIONAIS DE SAÚDE* Unidade de Cuidados Paliativos 90 Ambulatório Cabeça e Pescoço 15 Ambulatório Digestivo, Urologia, Melanoma e 40 Sarcomas Ambulatório da Mulher 15 Ambulatório Pediatria 14 Centro Cirúrgico Grande 57 Centro Cirúrgico Pequeno 13 Centro de Intercorrências Ambulatoriais 24 Endoscopia 10 Departamento Fisioterapia 17 Departamento Fonoaudiologia 06 Departamento Odontologia 03 Ambulatório Hematologia/TMO 13 Hemonúcleo 30 Internação Cirúrgica 59 Internação Clínica 43 Internação Pediátrica 24 Medicina Nuclear 31 Centro Infusional 24 Departamento Psicologia 06 Radiologia 24 Radioterapia 19 Departamento Nutrição 08 Departamento Serviço Social 12 Departamento Terapia Ocupacional 04 Internação Hematologia/TMO 27 Unidade de Terapia Intensiva 77 Médicos Titulares 164 Residentes Medicina, Enfermagem e 92 Fisioterapia Fonte: Departamento de Recursos Humanos da Fundação Pio XII - Hospital de Câncer de Barretos (2012). Os nomes dos indivíduos do grupo dois (profissionais de saúde) foram obtidos por meio de sorteio aleatório simples, cuja aleatorização foi realizada pelo Núcleo de Apoio o Pesquisador (NAP) a partir do número total e nomes dos profissionais de saúde que atuavam 54 na assistência direta aos pacientes com câncer nos diferentes departamentos da instituição. Neste grupo todos os instrumentos também foram aplicados em forma de entrevista com o intuito de padronização da aplicação em ambos os grupos, diminuindo assim possíveis vieses da pesquisa. A aplicação de instrumentos em profissionais de saúde teve duração média de 15 minutos. 4.8 Coleta de Dados A coleta de dados dos pacientes foi realizada em momento único nos diversos ambulatórios do Departamento de Oncologia Clínica e na Unidade de Cuidados Paliativos onde aguardavam atendimento. Os dados dos profissionais de saúde foram coletados nos diversos departamentos assistenciais (Setores de Internação, Emergência, Ambulatórios, Terapia Intensiva e Cuidados Paliativos) onde os mesmos atuavam. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexos A e B) foi oferecido aos pacientes e profissionais de saúde que preenchessem todos os critérios de inclusão e nenhum de exclusão deste estudo. Os profissionais de saúde que concordaram participar responderam: (1) Questionário de características sócio econômicas, clínicas e demográficas e o instrumento semiestruturado sobre E/R e Crenças Pessoais (Anexo C), (2) O instrumento Genérico de QV da OMS (WHOQOL-Bref) (AnexoD) e (3) o instrumento WHOQOL-SRPB, módulo Espiritualidade, Religiosidade e Crenças Pessoais (Anexo E). Os pacientes que concordaram participar responderam: (1) Questionário de características sócio econômicas, clínicas e demográficas e o instrumento semi-estruturado sobre E/R e Crenças Pessoais (Anexo F), (2) O instrumento Genérico de QV da OMS (WHOQOL-Bref) (Anexo D), (3) o instrumento WHOQOL-SRPB, módulo Espiritualidade, Religiosidade e Crenças Pessoais (Anexo E) e (4) o instrumento de QVRS específico em oncologia (EORTC-QLQ-C30) (Anexo G). Os instrumentos de coletas de dados foram aplicados por três pesquisadores que antes da fase inicial de coleta obtiveram treinamento, com profissional capacitado, de como aplicar instrumentos de avaliação, sendo que todos fazem parte do Grupo de Pesquisa em Cuidados Paliativos e Qualidade de Vida certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 55 Figura 3 - Fluxograma de recrutamento de pacientes. 56 Figura 4 - Fluxograma de recrutamento de profissionais de saúde 4.9 Instrumentos de Coleta de Dados 4.9.1 WHOQOL-Bref Composto por 26 questões que abordam diversos aspectos da vida cotidiana, a versão abreviada do WHOQOL-100, denominada WHOQOL-Bref foi desenvolvida devido à necessidade de um instrumento curto que demande pouco tempo para seu preenchimento, entretanto que possua características psicométricas satisfatórias. Envolve quatro domínios (Físico, Psicológico, Social e Ambiental), tendo duas questões gerais relacionadas à QV e as 24 demais avaliam as respectivas facetas que compõem o instrumento original, ou seja, cada faceta é avaliada por um item conforme o quadro a seguir(130). 57 Tabela 4 - Domínios e Facetas do WHOQOL-Bref. Domínio 1- Domínio Físico 1. Dor e desconforto 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso 9. Mobilidade 10. Atividade da vida cotidiana 11. Dependência de medicação ou de tratamento 12. Capacidade de trabalho Domínio 2 – Domínio Psicológico 4. Sentimentos positivos 5. Pensar, aprender, memória e concentração 6. Auto-estima 7. Imagem corporal e aparência 8. Sentimentos negativos 24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais Domínio 3 – Relações Sociais 13. Relações Pessoais 14. Suporte (Apoio) social 15. Atividade sexual Domínio 4 – Meio Ambiente 16. Segurança física e proteção 17. Ambiente no lar 18. Recursos financeiros 19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 20. Oportunidade de adquirir novas informações e habilidades 21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer 22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) 23. Transporte Fonte: Fleck MPA et al. Rev. Saúde Pública. 2000; 34(2):178-83. 58 Foram envolvidos 20 centros em 18 países para o desenvolvimento das questões que constituem a versão abreviada, sendo utilizados tanto critérios psicométricos quanto conceituais para a seleção dos itens. Ao nível conceitual optou-se por preservar os itens do instrumento original devido seu caráter abrangente. Ao considerar o nível psicométrico, a questão que mais se relacionasse com o escore total, calculado pela média de todas as facetas, foi selecionada para constituir o instrumento. A fim de avaliar a representabilidade conceitual de cada domínio originado das facetas, os itens selecionados foram criteriosamente examinados. A análise fatorial confirmatória foi considerada para o desenvolvimento dos domínios(128). Escores que variam de um a cinco são atribuídos a cada aspecto da QV, sendo codificados a cada resposta, de forma que o um represente pior e o cinco melhor percepção da QV. Apresentando valores entre 0 e 100, o resultados dos domínios mais próximos de 0 são associados a piores e mais próximos de 100 melhores percepções. Durante a abordagem para a aplicação do instrumento, a referência para a resposta dos diferentes itens deve ser relacionada ao padrão de QV apresentado nas duas últimas semanas(130). A versão em português do WHOQOL-Bref apresentou satisfatoriamente características de consistência interna (alpha de Cronbach=0,91), validades discriminante, de critério, concorrente e fidedignidade teste-reteste (coeficientes de correlação acima de 0,69)(128). Não somente a prática clínica individual, mas também a avaliação de efetividade de tratamento e funcionamento de serviços de saúde são avaliados através da aplicação ampla deste instrumento, revelando-se satisfatório na avaliação de indivíduos doentes e saudáveis (131, 132) . As aplicações desse instrumento são amplas e incluem não somente a prática clínica individual, mas também a avaliação de efetividade de tratamentos e de funcionamento de serviços de saúde. Além disso, podem ser importantes guias para políticas de saúde. Os instrumentos WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB podem ser utilizados em pesquisas sem a necessidade de autorização dos autores dos mesmos. No entanto, para se conhecer melhor o SRPB foi feito contato com um dos integrantes do grupo WHOQOL no Brasil, Dr Marcelo Pio de Almeida Fleck, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o qual informou dados sobre o WHOQOL-SRPB e foi comunicado quanto ao desenvolvimento deste estudo utilizando os dois instrumentos. 59 4.9.2 WHOQOL-SRPB O instrumento que optou-se por utilizar neste estudo para avaliação de E/R foi o WHOQOL-SRPB, por ter como princípio que fundamenta o seu desenvolvimento a perspectiva de que ter uma crença profunda (religiosa ou não) poderia dar um significado transcendental à vida e às atividades do dia-a-dia, funcionando como uma estratégia para conseguir lidar com o sofrimento humano e os dilemas existenciais(98). Avaliando a correlação entre espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais com a QV na saúde e na assistência à saúde, o WHOQOL-SRPB compreende um instrumento transcultural e auto-aplicável desenvolvido pela OMS(56, 98). O módulo SRPB do WHOQOL foi desenvolvido após constatação de que somente quatro itens inseridos sobre essa dimensão nos WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref não eram suficientes para mensurar adequadamente tal construto. Dessa forma, 92 grupos focais distribuídos em 18 centros e 15 países (inclusive o Brasil) de quatro regiões (América, Europa, Ásia e Oriente Médio) desenvolveram em um panorama transcultural o instrumento WHOQOL-SRPB, constituído de oito facetas e 32 itens, cujas facetas abordam: 1. Conexão, 2. Sentido na vida, 3. Admiração, 4. Totalidade e Integração, 5. Força Espiritual, 6. Paz interior, 7. Esperança e Otimismo, 8. Fé. Os itens individuais são classificados em uma escala de Likert de cinco pontos, onde um indica percepções negativas e cinco percepções positivas, de forma que escores mais altos denotam melhor QV (12, 98). Em 2011 o WHOQOL-SRPB foi validado para o português brasileiro apresentando qualidades psicométricas satisfatórias tanto para homens quanto para mulheres, tal qual para indivíduos saudáveis e doentes de diferentes idades, crenças e níveis sócio culturais. Obteve validade de construto com validade discriminativa entre crentes e não-crentes (t = 7,40; p=0,0001), validade relacionada ao critério concorrente, discriminando deprimidos de não-deprimidos (t=5,03; p=0,0001), validade convergente com o WHOQOL-Bref (com físico r=0,18, psicológico r=0,46, social r=0,35, ambiental r=0,29, global r=0,23, p= 0,0001) e com o Domínio SRPB do WHOQOL-100 (r=0,78, p=0,0001), e validade convergente/discriminante com a Escala CRE-Breve (com CRE positivo r=0,64; p=0,0001 / CRE negativo r=-0,03; p=0,554). Apresentou excelente fidedignidade teste-reteste (t=0,74; p=0,463) e consistência interna (α=0,96; correlação intrafatorial 0,87 ≥ r ≥ 0,60, p=0,0001)(12). 60 Para aumentar seu grau de validade foi sugerido novos estudos com tal instrumento na versão português brasileiro com populações específicas de variadas religiões, culturas e doenças(12). 4.9.3 EORTC QLQ – C30 Para avaliação da QV dos pacientes em estudo utilizou-se o questionário QLQ-C30 versão 3.0 em português. O EORTC QLQ-C30 foi criado pela Organização Européia de Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC) em 1986 e foi denominado de QLQ-C30, sendo disponível em três versões. A versão a ser utilizada será a 3.0 contendo 30 questões (133). O EORTC-QLQ-C30 analisa a QV em cinco sub-escalas funcionais (física, funcional, cognitiva, emocional e social), uma sub-escala de saúde global, três sub-escalas de sintomas (fadiga, dor e náuseas/vômitos) e seis itens únicos para avaliação de sintomas adicionais comumente reportados por pacientes com câncer (dispnéia, anorexia, distúrbios do sono, constipação, diarréia e dificuldades financeiras)(134, 135). A pontuação é obtida por meio das opções de resposta permitidas pelo questionário que são: “não” (um ponto), “pouco” (dois pontos), “moderadamente” (três pontos) ou “muito” (quatro pontos). Na escala de estado de saúde global, as duas questões pertinentes admitem como reposta uma pontuação de um, que significa “péssima”, a sete que corresponde a “ótima”. Nas escalas funcionais e de estado de saúde maiores pontuações correspondem a melhor QV, enquanto que para escalas de sintomas, quanto maior a pontuação maior a presença dos referidos sintomas e, consequentemente pior QV. Os escores totais do instrumento variam de zero a 100(136). No Brasil a versão do EORTC QLQ-C30 foi validado em 2010, apresentando características satisfatórias de consistência interna, validades discriminante, de critério, concorrente e fidedignidade teste-reteste (coeficientes de correlação acima de 0,64)(8). Validação adicional foi realizada no Brasil com uma grande coorte de pacientes oncológicos em função do estado educacional, concluindo que o instrumento é confiável e válido independentemente do nível de escolaridade do paciente(137). A autorização para utilização do EORTC QLQ-C30 neste estudo foi solicitada e concedida pela Assistente Executiva do EORTC Sra Mélodie Cherton, conforme documento no Anexo H. 61 4.10 Análise Estatística Inicialmente realizou-se uma análise exploratória dos dados coletados, resumindo-os por medidas de tendência central, variabilidade e frequências. Para comparar os grupos quanto aos domínios do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB foi proposto um modelo de Regressão Quantílica, uma vez que ele permite a comparação de K medianas entre os diferentes grupos de interesse, sendo esta Regressão controlada para os fatores confundidores. As análises de correlação entre os domínios do WHOQOL-Bref, EORTC QLQC30 e WHOQOL-SRPB foram realizadas por meio do teste de Pearson, considerando coeficientes fracos (<0, 40), moderados (≥0,40 e ≤0,60) e fortes (˃0,60)(138). Os escores do WHOQOL-bref e do EORTC QLQ-C30 foram comparados em função as diferentes categorias do ECOG-Performance Status e dos tipos de tratamento (Sistêmico Adjuvante versus Sistêmico Paliativo versus Paliativo Exclusivo) por meio do teste de Kruskal-Wallis. Adicionalmente, foram construídos gráficos tipo boxplot para descrição dos resultados comparando os escores dos instrumentos em função dos diferentes ECOG-performance status e tratamentos. Em todas as análises adotou-se um nível de significância de 5%. Os resultados foram obtidos com o auxílio do R Statistical Software. Em todo estudo foi considerado a significância de 0,05 e o software utilizado foi o SPSS 19.0. 4.11 Aspectos Éticos Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexos A e B) conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Em respeito a esta resolução, o projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital do Câncer de Barretos – Fundação Pio XII, tendo sido aprovado sob número 638 em 29 de agosto de 2012 (Anexo I). 62 5 RESULTADOS Primeiramente serão apresentadas as características clínicas e sócio demográficas dos pacientes portadores de câncer e dos profissionais de saúde que atuavam diretamente na assistência destes. Optou-se por apresentar os resultados deste estudo de acordo com cada objetivo apontado inicialmente. Serão apresentadas as características clínicas, sócio demográficas e espirituais dos participantes, posteriormente serão abordados os resultados referentes à QV e, por último, os dados que focam a E/R de ambos os grupos. Ressalta-se que consistência interna do WHOQOL-Bref neste estudo foi de α=0,91 para pacientes e α=0,87 para profissionais, do WHOQOL-SRPB foi de α=0,96 para pacientes e α=0,94 para profissionais e do EORTC QLQ-C30 foi α=0,84 para pacientes. 5. 1 Características Clínicas, Sócio demográficas e Espirituais dos participantes A maioria dos pacientes era do sexo masculino (n=282, 53,7%), com idade entre 30 e 60 anos (n=294, 56,0%), casados (n=344, 65,5%), com filhos (n=458, 87,2%), com menos de 8 anos de estudo (n=333, 63,4%), renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos (n=349, 66,5%) e inativos profissionalmente (n=472, 89,9%). Do total, 40,6% (n=213) consideravam a sua saúde como boa e 53,7% (n=282) foram classificados funcionalmente como ECOG 1 (Tabela 5). A maior parte dos profissionais era mulheres (n=398, 75,8%), entre 30 e 60 anos (n=361, 68,8%), brancas (n=364, 69,3%), casadas (n=281, 53,5%), com filhos (n=282, 53,7%), com mais de 12 anos de estudo (n=275, 52,4%), com renda familiar entre 3 e 5 salários mínimos (n=204, 38,9%), todos ativos profissionalmente (n=525, 100%), consideravam a saúde como boa (n=298, 56,8%) e atuavam nos diversos ambulatórios da instituição (n=321, 61,1%) (Tabela 5). 63 Tabela 5 - Características Clínicas e Demográficas de Pacientes com Câncer (n=525) e de Profissionais de Saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013). Características Pacientes Profissionais de Saúde n % n % Sexo Masculino 282 53,7 127 24,2 Feminino 243 46,3 398 75,8 Idade (anos) <30 13 2,5 158 30,1 30-60 294 56,0 361 68,8 >60 218 41,5 06 1,1 Raça Branca 287 54,7 364 69,3 Negra 55 10,5 37 7,0 Parda 176 33,5 114 21,7 Amarela 07 1,3 10 1,9 Estado Civil Casado 344 65,5 281 53,5 Solteiro 64 12,2 206 39,2 Divorciado 63 12,0 36 6,9 Viúvo 54 10,3 02 0,4 Tem filhos Sim 458 87,2 282 53,7 Não 67 12,8 243 46,3 Escolaridade <8 anos 333 63,4 ≥8 a ≤11 anos 44 8,4 250 47,6 ≥12 anos 148 28,2 275 52,4 Renda Familiar ˂1 sálario 08 1,5 1 a 2 sálarios 349 66,5 128 24,4 3 a 5 sálarios 116 22,1 204 38,9 ˃5 sálarios 52 9,9 193 36,8 Atividade Profissional Inativo 472 89,9 Ativo 53 10,1 525 100 Auto-percepção da saúde Muito ruim 38 7,2 03 0,6 Fraca 59 11,2 06 1,1 Nem ruim nem boa 162 30,9 35 6,7 Boa 213 40,6 298 56,8 Muito boa 53 10,1 183 34,9 ECOG 0 115 21,9 1 282 53,7 ≥2 128 24,4 Continua na próxima página 64 Tabela 5 (Continuação) - Características Clínicas e Demográficas de Pacientes com Câncer (n=525) e de Profissionais de Saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013). Características Pacientes Profissionais N % n % Tratamento Atual Sistêmico Adjuvante 173 33,0 Sistêmico Paliativo 263 50,1 Paliativo Exclusivo 89 17,0 Departamento Amb. Digestivo 126 24,0% Amb. Urologia/Sarcomas 122 23,2% Amb. Mulher 104 19,8% Amb. CxP/Tórax/Neuro 87 16,6% Amb. Cuidados Paliativos 86 16,4% Ambulatório Internação CIA/UTI Cuidados Paliativos - - 321 96 62 46 61,1 18,3 11,9 8,8 Por meio de um instrumento semiestruturado, foram avaliadas características espirituais, religiosas e de crenças pessoais dos participantes. A maioria dos indivíduos era católica (pacientes: 66,9%, n=339; profissionais: 60,2%, n=316), afirmava crer em Deus (pacientes: 100%, n= 525; profissionais: 96,8%, n=508), relatou acreditar que a E/R os auxiliava durante situações estressantes (pacientes: 99,0%, n=520; profissionais: 97,3%, n=510). Dos pacientes, 494 (94,1%) consideraram importante que os profissionais de saúde lhes perguntassem sobre suas crenças espirituais, 520 (99,2%) referiram que durante o tratamento utilizavam a E/R para enfrentar melhor a doença e 523 (99,6%) reportaram que pessoas com câncer precisam de um suporte espiritual/religioso durante o tratamento oncológico. Neste mesmo aspecto, 515 (98,3%) dos profissionais de saúde concordavam que era necessário suporte espiritual e religioso para os pacientes oncológicos (Tabela 6). 65 Tabela 6 - Características Espirituais, Religiosas e Crenças Pessoais de Pacientes com Câncer (n=525) e de Profissionais de Saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013). Características Pacientes Profissionais N % n % Crença em Deus Sim 525 100 508 96,8 Não 00 00 17 3,2 Considera importante ter uma religião Sim 511 97,5 494 94,1 Não 14 2,5 31 5,9 Religião atual Católico 339 66,9 316 60,2 Evangélico 131 25,8 110 21,0 Espírita 29 5,7 56 10,7 Outra 08 1,6 13 2,5 Sem religião 29 5,5 Participação em atividades religiosas em igrejas Nunca 50 9,5 79 15,0 Às vezes 268 51,0 293 55,8 Sempre 207 39,4 153 29,1 Hábito de rezar/orar sozinho Nunca 13 2,5 26 5,0 Às vezes 90 17,1 125 23,8 Sempre 422 80,4 374 71,2 Hábito de rezar/orar em grupo Nunca 136 25,9 231 44,0 Às vezes 242 46,1 207 39,4 Sempre 147 28,0 87 16,6 Hábito de ler e/ou meditar a Bíblia ou outro livro sagrado sozinho Nunca 206 39,2 174 33,1 Às vezes 169 32,2 227 43,2 Sempre 150 28,6 124 23,6 Hábito de ler e/ou meditar a Bíblia ou outro livro sagrado em grupo Nunca 233 44,4 292 55,6 Às vezes 204 38,9 168 32,0 Sempre 88 16,8 65 12,4 A E/R auxilia durante situações estressantes Sim 520 99,0 510 97,3 Não 05 1,0 14 1,7 Continua na próxima página 66 Tabela 6 (Continuação) - Características Espirituais, Religiosas e Crenças Pessoais de Pacientes com Câncer (n=525) e de Profissionais de Saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013). Características Pacientes Profissionais N % n % Considera importante que os profissionais de saúde perguntem sobre crenças espirituais Sim 494 94,1 Não 31 5,9 A E/R ajuda no tratamento contra o câncer Sim 02 0,4 Não 523 99,6 Durante o tratamento, utiliza meios de E/R para enfrentar melhor a doença Sim 520 99,2 Não 04 0,8 A E/R lhe ajuda cuidar de pacientes com câncer Sim 502 95,6 Não 23 4,4 Na prática assistencial utiliza meios de E/R para prestar atendimento ao paciente com câncer Sim 447 85,1 Não 78 14,9 A sua espiritualidade/ religiosidade lhe ajuda a cuidar de si, da sua família, da sua vida pessoal? Sim 506 96,4 Não 19 3,6 Pessoas com câncer precisam de um suporte espiritual/religioso durante o tratamento Sim 523 99,6 515 98,3 Não 02 0,4 09 1,7 5.2 Resultados referentes à Qualidade de Vida O primeiro objetivo foi avaliar e comparar a QVRS de pacientes com câncer nas diversas fases de tratamento. Dos pacientes, 50,1% (n=263) estavam em Tratamento Sistêmico Paliativo, 33,0% (n=173) em Tratamento Sistêmico Adjuvante e 17,0% (n=89) estavam em Cuidados Paliativos Exclusivos. Conforme revela a Tabela 7, pacientes em 67 Tratamento Sistêmico Adjuvante apresentaram medianas maiores no domínio Global do WHOQOL-Bref. Tabela 7 – Escores do domínio Global do WHOQOL-Bref entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013). Tipo de Tratamento n (%) Mínimo Mediana Máximo Sistêmico Adjuvante 173 (33,0) 41,35 77,88 100,00 Sistêmico Paliativo 263 (50,1) 21,15 75,00 100,00 Paliativo Exclusivo 89 (17) 25,96 67,31 100,00 Porém, quando realizada a Regressão Quantílica, que estima o valor das diferenças dos escores medianos deste domínio comparados entre os diversos tipos de tratamento, não foi encontrada nenhuma diferença entre os escores de QV global do WHOQOL-Bref entre os tratamentos, conforme revela a Tabela 8. Tabela 8 – Comparação do domínio Global do WHOQOL-Bref entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013). Intervalo de confiança Tipos de Tratamento Diferença P-valor (95%) Sistêmico Paliativo - Sistêmico Adjuvante 0,67 0,84 -5,94 7,28 Paliativo Exclusivo - Sistêmico Adjuvante -18,98 0,08 -40,21 2,26 Sistêmico Paliativo - Paliativo Exclusivo 19,65 0,06 -0,97 40,26 Avaliou-se também as medianas dos domínios de QV abordados pelo WHOQOL-Bref e pelo EORTC QLQ-C30 segundo os tipos de tratamento. Observou-se que, de acordo com este instrumento, os grupos apresentaram medianas de QV diferentes entre si. Aqueles em Tratamento Sistêmico Adjuvante apresentaram maiores escores nos domínios de QV independentemente do instrumento utilizado, contudo o EORTC QLQ-C30 conseguiu avaliar de forma mais sensível a diminuição das medianas dos escores dos diversos domínios de QV dos pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos (Tabela 9). 68 Tabela 9 - Medianas dos domínios do EORTC QlQ-C30 e do WHOQOL-Bref segundo os diversos tipos de tratamento (Barretos, HCB, 2013). Instrumentos Tipos de Tratamento p(Domínios) (p25-p75) valor Adjuvante Sistêmico Paliativo Paliativo (n=173) (n=263) Exclusivo (n=89) EORTC QLQ-C30 Saúde Global 83,3 (66,7 -100) 75,0 (58,3 -91,7) 66,7 (50,0 – 83,3) <0, 01 Funcionamento Global 80,0 (67,8 – 88,9) 71,1 (55,6 – 84,4) 51,1 (32,6 – 71,1) <0, 01 Funcional físico 80,0 (67,8 – 93, 3) 66,7 (60,0 – 86,7) 46,7 (26,7 – 60,0) <0, 01 Desempenho de papéis 83, 3 (58,3 -100) 83, 3 (50,0 -100) 33,3 (0,0 – 66,7) <0, 01 Funcional emocional 75,0 (58,3 -100) 66,7 (33,3 – 91,7) 50,0 (25,0 – 75,0) <0, 01 Funcional Cognitivo 83, 3 (66,7 -100) 83, 3 (50,0 -100) 66,7 (50,0 – 100) 0, 07 Funcional Social 100 (83,3 – 100) 100 (58,3 – 100) 66,7 (33,3 – 100) <0, 01 Sintomas globais 12,8 (5,1 – 28,2) 20, 5 (7,7 – 38,5) 46,2 (25, 6 – 61,5) <0, 01 Fadiga 22,2 (0,0 – 44,4) 33,3 (11,1 – 55,6) 66,7 (33,3 – 77,8) <0, 01 Náuseas e Vômitos 0,0 (0,0 – 16,7) 0,0 (0,0 – 33,3) 16, 7 (0,0 – 50,0) <0, 01 Dor 16,7 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 66,7) 66,7 (33,3 – 100) <0, 01 Dispnéia 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 66,7) <0, 01 Insônia 0,0 (0,0 – 66,7) 0,0 (0,0 – 66,7) 33,3 (0,0 – 100) <0, 01 Perda de Apetite 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 33,3) 66,7 (0,0 – 100) <0, 01 Constipação 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 66,7) <0, 01 Diarréia 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 0,0) 0, 034 Dificuldades Financeiras 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 66,7) 0,0 (0,0 – 66,7) 0, 038 WHOQOL- Bref Físico Psicológico Social Ambiental Global 78,5 (67,8 – 89,2) 83,3 (75,0 – 91,6) 83,3 (66,6 – 91,6) 78,1 (67,1 – 90,6) 80,0 (80,0 – 100) 75,0 (64,2 – 85,7) 75,0 (66,6 – 87,5) 75,0 (66,6 – 91,6) 75,0 (65,6 – 90,6) 80,0 (70,0 – 90,0) 50,0 (39,2 – 71,4) 70,8 (54,1 – 83,3) 75,0 (58,3 – 87,5) 71,8 (56,2 – 84,3) 70,0 (60,0 – 80,0) <0, 01 <0, 01 0,035 0,013 <0, 01 Da mesma maneira, após a comparação dos escores medianos dos domínios de QV de acordo com a classificação dos grupos segundo o ECOG, foi evidenciado que pacientes com diferentes níveis de ECOG apresentaram diferentes escores de QV, sendo isso mais evidente no subgrupo de pacientes com ECOG 3/4 e revelado mais claramente com a utilização do EORTC QLQ-C30, como mostra a Tabela 10. 69 Tabela 10 - Medianas dos domínios do EORTC QLQ-C30 e do WHOQOL-Bref de acordo com a classificação do ECOG (Barretos, HCB, 2013). Instrumentos Classificação do p(Domínios) ECOG (p25-p75) valor ECOG 0 ECOG 1 ECOG 2 ECOG 3/4 (n=44) (n=115) (n=282) (n=84) EORTC QLQ-C30 Saúde Global 83,3 (66,7 – 100) 75,0 (58,3 – 91,7) 66,7 (50,0 – 83,3) 62,5 (25,0 – 83,3) <0, 01 Funcionamento Global 84,4 (71,1 – 93,3) 73,3 (57,8 – 85,1) 61,1 (42,2 – 72,7) 35,6 (24,4 – 50,0) <0, 01 Funcional físico 86,7 (73,3 – 100) 73,3 (60,0 – 86,7) 53,3 (40,0 – 73,3) 26,7 (10,0 – 40,0) <0, 01 Desempenho de papéis 100 (66,7 – 100) 83,3 (50,0 – 100) 66,7 (33,3 – 83,3) 16,7 (0,0 – 33,3) <0, 01 Funcional emocional 83,3 (58,3 – 91,7) 75,0 (41,7 – 91,7) 66,7 (25,0 – 89,6) 37,5 (8,3 – 66,7) <0, 01 Funcional Cognitivo 83,3 (66,7 – 100) 83,3 (66,7 – 100) 66,7 (33,3 – 100) 66,7 (33,3 – 87,4) <0, 01 Funcional Social 100 (83,3 – 100) 100 (66,7 – 100) 100 (45,8 – 100) 50,0 (16,7 – 66,7) <0, 01 Sintomas globais 7,7 (0,0 – 17,9) 20,5 (9,6 – 35,9) 38,5 (18,5 – 56,4) 50,0 (32,6 – 69,8) <0, 01 Fadiga 0,0 (0,0 – 22,2) 22,2 (11,1 – 44,4) 55,6 (24,9 – 77,8) 77,8 (44,4 – 100) <0, 01 Náuseas e Vômitos 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 33,3) 16,7 (0,0 – 50,0) 16,7 (0,0 – 66,7) <0, 01 Dor 0,0 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 50,0) 50,0 (33,3 – 83,3) 66,7 (45,8 – 100) <0, 01 Dispnéia 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 66,7) <0, 01 Insônia 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 66,7) 33,3 (0,0 – 100) 50,0 (0,0 – 100) <0, 01 Perda de Apetite 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 100) 66,7 (0,0 – 100) <0, 01 Constipação 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 33,3) 33,3 (0,0 – 66,7) 50,0 (0,0 – 100) <0, 01 Diarréia 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 0,0) 0,0 (0,0 – 8,3) 0,001 Dificuldades 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 33,3) 0,0 (0,0 – 66,7) 33,3 (0,0 – 66,7) 0,012 Financeiras WHOQOL-Bref Físico Psicológico Social Ambiental Global 85,7 (75,0 - 92,9) 75,0 (60,7 – 85,7) 83,3 (75,0 - 91,7) 79,1 (66,6 - 91,6) 83,3 (75,0 - 91,6) 75,0 (66,6 - 91,6) 78,1 (68,7 – 90,6) 78,1 (65,6 – 90,6) 80,0 (70,0 – 90,0) 80,0 (70,0 – 90,0) 64,2 (43,7 – 77,6) 75,0 (62,5 – 83,3) 75,0 (66,6 – 83,3) 75,0 (62,5 – 87,5) 80,0 (70,0 – 90,0) 42,8 (28,5 – 62,5) 62,5 (50,0 – 79,1) 66,6 (58,3 – 83,3) 65,6 (56,2 – 79,6) 65,0 (57,5 – 80,0) As Figuras 5 e 6 revelam as medianas e os percentis 25 e 75 de acordo com os WHOQOL-Bref e o EORTC QLQ-C30 quando segregados os pacientes segundo os tipos de tratamento e ECOG. Embora não haja uma evidência tão óbvia, é possível que o EORTC QLQC30 consiga discriminar de forma mais fidedigna a diminuição da QV de pacientes oncológicos em Cuidados Paliativos Exclusivos e com ECOG 3/4. <0, 01 <0, 01 <0, 01 <0, 01 <0, 01 70 Figura 5 - Medianas e percentis do WHOQOL-Bref e EORTC QLQ-C30 de pacientes segundo classificação do ECOG. 71 Figura 6 - Medianas e percentis do WHOQOL-Bref e EORTC QLQ-C30 de pacientes segundo tipo de tratamento. 72 Diante das diferenças encontradas nos resultados da avaliação da QV dos pacientes quando aplicados o WHOQOL-Bref e o EORTC QLQ-C30 foram analisadas as correlações entre os domínios de ambos os instrumentos a fim de esclarecer as discrepâncias entre eles. Os dois instrumentos buscam medir aspectos similares, visto que algumas das correlações entre os vários domínios apresentaram coeficientes de correlação maiores que r=0,4, o que pode ser visto na Tabela 11. Contudo, cada instrumento, diante da sua peculiaridade genérica ou específica, mede aspectos distintos da QV dos pacientes, apresentando diferenças em seus conteúdos, o que pode ser percebido na comparação entre ambos na Tabela 12. Tabela 11 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e os domínios do WHOQOL-Bref (Barretos, HCB, 2013). EORTC QLQ-C30 WHOQOL-bref Físico Psicológico Social Ambiental Global Saúde Global 0, 50 0, 37 0, 28 0, 34 0, 57 Funcionamento Global 0, 59 0, 53 0, 39 0, 40 0, 42 Funcional físico 0, 53 0, 38 0, 24 0, 28 0, 33 Desempenho de papéis 0, 49 0, 42 0, 26 0, 34 0, 37 Funcional emocional 0, 42 0, 45 0, 34 0, 33 0, 33 Funcional Cognitivo 0, 35 0, 36 0, 29 0, 26 0, 23 Funcional Social 0, 31 0, 29 0, 28 0, 25 0, 27 Sintomas globais -0, 64 -0, 41 -0, 31 -0, 33 -0, 38 Fadiga -0, 63 -0, 40 -0, 30 -0, 30 -0, 40 Náuseas e Vômitos -0, 34 -0, 21 -0, 13 -0, 13 -0, 21 Dor -0, 59 -0, 33 -0, 25 -0, 29 -0, 36 Dispnéia -0, 32 -0, 31 -0, 15 -0, 29 -0, 18 Insônia -0, 49 -0, 27 -0, 26 -0, 21 -0, 23 Perda de Apetite -0, 42 -0, 25 -0, 22 -0, 19 -0, 25 Constipação -0, 25 -0, 14 -0, 13 -0, 11 -0, 09 Diarréia 0, 16 -0, 10 -0, 10 -0, 07 -0, 01 Dificuldades Financeiras -0, 26 -0, 23 -0, 23 -0, 34 -0, 21 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. 73 Tabela 12 – Comparação entre os conteúdos dos domínios do WHOQOL-Bref e do EORTC QLQ-C30 (Barretos, HCB, 2013). Domínios WHOQOL-Bref QLQ C-30 Físico Dor X (Físico) X (Subescala Dor: 2 itens) Energia e fadiga X (Físico) X (Subescala Fadiga: 3 itens) Sono e repouso X (Físico) X (Subescala Insônia: 1 item) Mobilidade X (Físico) X (Funcional Físico: 4 itens) Atividade da vida cotidiana X (Físico) X (Desempenho de Papéis: 2 itens e Escala Física: 1 item) Dependência de medicação ou de X (Físico) Não tratamento Capacidade de trabalho X (Físico) Não Relações Sociais Relações Pessoais Suporte (Apoio) social Atividade Sexual Domínio Psicológico Sentimentos positivos Pensar, aprender, memória e concentração X (Relações Sociais) X (Relações Sociais) X (Relações Sociais) X (Psicológico) X (Psicológico) Auto-estima Imagem corporal e aparência Sentimentos negativos X (Psicológico) X (Psicológico) X (Psicológico) Espiritualidade/religião/crenças pessoais X (Psicológico) Meio Ambiente Segurança física e proteção Ambiente no lar Recursos financeiros X (Meio Ambiente) X (Meio Ambiente) X (Meio Ambiente) Não X (Funcional Social – sobre interferência da doença : 2 itens) Não Não X (Funcional Cognitivo: 2 itens) Não Não X (Funcional Emocional: 4 itens) Não Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade X (Meio Ambiente) Não Não X (Dificuldades Financeiras: 1 item) Não Oportunidade de adquirir novas informações e habilidades Participação em, e oportunidades de recreação/lazer Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) Transporte X (Meio Ambiente) Não X (Meio Ambiente) X (Meio Ambiente) X (Desempenho de Papéis: 1 item) Não X (Meio Ambiente) Não 74 Outro objetivo foi avaliar e comparar a QV dos profissionais de saúde dos diferentes setores de atendimento da instituição. 61,1% (n=321) atuavam nos diversos ambulatórios, 18,3% (n=96) nos departamentos de internações, 9,0% (n=47) na UTI, 8,8% (n=46) na Unidade de Cuidados Paliativos e 2,9% (n=15) no CIA. Ao analisar o domínio Global do WHOQOL-Bref foi identificado que profissionais que atuavam nos ambulatórios tiveram medianas mais elevadas (Tabela 13), entretanto a Regressão Quantílica revelou que não foi encontrada nenhuma diferença entre os valores dos escores de QV global nos diferentes departamentos, conforme mostra a Tabela 14. Tabela 13 – Escores do Global do WHOQOL-Bref entre os profissionais que atuavam nos diversos departamentos da instituição (Barretos, HCB, 2013). Departamento n (%) Mínimo Mediana Máximo Ambulatórios 321 (61,1) 38,46 73,08 97,12 Internações 96(18,3) 45,19 70,19 97,12 UTI 47 (9,0) 48,08 72,12 100,00 Cuidados paliativos 46 (8,8) 41,35 72,12 97,12 CIA 15 (2,9) 50,00 72,12 84,62 Tabela 14 – Comparação do domínio Global do WHOQOL-Bref entre os departamentos de atuação dos profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013). Intervalo de confiança Departamentos Diferença P-valor (95%) Internações - Ambulatórios -0,40 0,78 -3,28 2,47 CIA - Ambulatórios -0,42 0,90 -7,09 6,25 UTI - Ambulatórios 1,56 0,41 -2,16 5,27 Cuidados paliativos - Ambulatórios 2,04 0,30 -1,84 5,91 Cumprindo um outro objetivo inicial, buscou-se comparar a QV dos pacientes com câncer em relação aos profissionais de saúde. A Tabela 15 apresenta as medianas dos domínios do WHOQOL-Bref em ambos os grupos, revelando que os pacientes apresentaram medianas mais elevadas nos domínios Ambiental (75,00 versus 65,63; p<0,01) e Global (74,04 versus 72,12; p<0,01) enquanto os profissionais apresentaram maiores medianas no domínio Físico (75,00 versus 67,86). 75 Tabela 15 - Mediana dos escores de QV de pacientes e profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013). Pacientes Profissionais p-value n Mediana (p25-p75) n Mediana (p25-p75) Físico 523 67,86 (53,57-82,14) 525 75,00 (64,29-82,14) <0,01 Psicológico 523 79,17 (66,67-87,50) 525 75,00 (66,67-83,33) 0,08 523 75,00 (66,67-91,67) 525 75,00 (66,67-83,33) 0,99 WHOQOL- Social Ambiental 523 75,00 (65,63-87,50) 525 65,63 (59,38-75,00) <0,01 Bref Global 523 74,04 (64,42-83,65) 525 72,12 (65,38-77,88) <0,01 Considerando que os grupos de pacientes e profissionais de saúde tinham características sócio demográficas distintas, foi realizado um modelo de Regressão Quantílica a fim de comparar os domínios do WHOQOL-Bref, após ajuste para idade, gênero, nível de escolaridade e renda familiar. Foi considerado como clinicamente importantes as diferenças nos escores acima de 5 pontos(129). Após os ajustes, os profissionais de saúde permaneceram com escores mais elevados no domínio Físico por outro lado, os pacientes apresentaram maiores escores no domínio Ambiental. Não houve diferença entre os dois grupos em relação aos domínios Psicológico, Social e Global de QV (Tabela 16). Tabela 16 - Análise de comparação entre a diferença dos escores do WHOQOL-Bref entre pacientes e profissionais de saúde após ajustes a partir do modelo de Regressão Quantílica (Barretos, HCB, 2013). WHOQOL-Bref Diferença entre os escores 95% CI p-valor (pacientes menos profissionais) Físico -7.14 -12.10 -2.18 <0.01 Psicológico 4.17 -0.56 8.90 0.08 Social 8.33 5.04 11.62 0.99 Ambiental 10.47 6.14 14.81 <0.01 Global 3.78 1.64 5.92 <0.01 5.3 Resultados referentes à Espiritualidade/Religiosidade O quarto objetivo foi comparar a E/R de pacientes com câncer nas diversas fases de tratamento. A Tabela 17 revela que pacientes em Tratamento Sistêmico Adjuvante apresentaram medianas maiores no domínio Global do WHOQOL-SRPB. 76 Tabela 17 – Escores do domínio Global do WHOQOL-SRPB entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013). Tipo de Tratamento n (%) Mínimo Mediana Máximo Sistêmico Adjuvante 173 (33,0) 63,13 94,38 100,00 Sistêmico Paliativo 263 (50,1) 20,00 91,88 100,00 Paliativo Exclusivo 89 (17,0) 55,00 90,63 100,00 Contudo, não foi encontrada diferença entre os escores do domínio Global do WHOQOL-SRPB quando realizada a Regressão Quantílica, que estima o valor das diferenças entre os escores deste domínio comparados aos diversos tipos de tratamento oncológico, como mostra a Tabela 18. Tabela 18 – Comparação do domínio Global do WHOQOL-SRPB entre os tipos de tratamento realizados pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013). Intervalo de confiança Tipos de Tratamento Diferença P-valor (95%) Sistêmico Paliativo - Sistêmico Adjuvante 1,11 0,38 -1,37 3,60 Paliativo Exclusivo - Sistêmico Adjuvante 3,72 0,35 -4, 16 11,61 Sistêmico Paliativo - Paliativo Exclusivo -2,61 0,50 10,26 5,04 Na avaliação entre os domínios de QV do WHOQOL-Bref e as facetas do WHOQOLSRPB houve correlações moderadas entre as facetas Sentido de Vida (r=0,47), Admiração (r=0,53), Totalidade de Integração (r=0,59), Força Espiritual (r=0,47), Paz Interior (r=0,58), Esperança e Otimismo (r=0,58), Fé (r=0,43), Global (r=0,60) e o domínio Psicológico; entre as facetas Sentido de Vida (r=0,41), Admiração (r=0,44), Totalidade de Integração (r=0,51), Força Espiritual (r=0,40), Paz Interior (r=0,49), Esperança e Otimismo (r=0,48), Global (r=0,43) e o domínio Ambiental; entre Sentido de Vida (r=0,40), Admiração (r=0,49), Totalidade de Integração (r=0,55), Força Espiritual (r=0,44), Paz Interior (r=0,53), Esperança e Otimismo (r=0,54), e Global (r=0,54) com o domínio Global do WHOQOL-Bref (Tabela 19). 77 Tabela 19 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB em pacientes com câncer (n=525) (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Global Conexão 0,17 0,36 0,24 0,34 0,33 Sentido na Vida 0,19 0,47 0,31 0,41 0,40 Admiração 0,32 0,53 0,34 0,44 0,49 Totalidade e Integração 0,36 0,59 0,36 0,51 0,55 Força Espiritual 0,28 0,47 0,32 0,40 0,44 Paz interior 0,33 0,58 0,36 0,49 0,53 Esperança e Otimismo 0,36 0,58 0,36 0,48 0,54 Fé 0,24 0,43 0,30 0,37 0,39 Global 0,33 0,60 0,37 0,50 0,54 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Notou-se que, ao avaliar as correlações entre os domínios do WHOQOL-Bref e as facetas do WHOQOL-SRPB, quando separados os grupos de pacientes de acordo com os tipos de tratamento, houve um predomínio de coeficientes moderados entre a maioria das facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios Psicológico e Ambiental do WHOQOL-Bref independentemente do tipo de tratamento, tendo a faceta Global do WHOQOL-SRPB alta correlação com o domínio Psicológico (r=0,61) para o grupo de Cuidados Paliativos Exclusivos. Embora não tenha sido encontrada correlação entre o WHOQOL-SRPB e o domínio Social quando agrupados todos os pacientes, ao segregar os grupos, aqueles que estavam em Cuidados Paliativos Exclusivos apresentaram neste domínio coeficientes moderados com as facetas Admiração (r=0,48), Totalidade de Integração (r=0,42), Força Espiritual (r=0,42), Esperança e Otimismo (r=0,49), Fé (0,44) e Global (r=0,51) do WHOQOLBref, características não identificadas nos outros grupos (Tabela 20). Tabela 20 – Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB de acordo com tipos de tratamento (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Adj Sist Pal Pal Excl Adj Sist Pal Pal Excl Adj Sist Pal Pal Excl Adj Sist Pal Pal Excl Adj n=173 n=263 n=89 n=173 n=263 n=89 n=173 n=263 n=89 n=17 n=263 n=89 n=173 3 Conexão 0,08 0,16 0,21 0,36 0,32 0,45 0,23 0,20 0,33 0,30 0,33 0,39 0,20 Sentido na Vida -0,01 0,15 0,22 0,46 0,46 0,43 0,24 0,29 0,38 0,45 0,38 0,31 0,23 Admiração 0,26 0,22 0,26 0,55 0,51 0,36 0,31 0,28 0,48 0,49 0,42 0,33 0,35 Totalidade e 0,07 0,24 0,23 0,19 0,54 0,58 0,14 0,30 0,42 0,21 0,45 0,51 0,14 Integração Força Espiritual 0,19 0,21 0,32 0,49 0,43 0,54 0,38 0,24 0,42 0,39 0,35 0,49 0,37 Paz interior 0,20 0,31 0,24 0,61 0,57 0,57 0,31 0,36 0,39 0,49 0,47 0,48 0,35 Esperança e 0,15 0,31 0,32 0,53 0,55 0,56 0,27 0,30 0,49 0,45 0,43 0,55 0,35 Otimismo Fé 0,12 0,19 0,25 0,38 0,41 0,52 0,22 0,28 0,44 0,30 0,36 0,42 0,22 Global 0,16 0,27 0,31 0,52 0,56 0,61 0,32 0,34 0,51 0,47 0,47 0,53 0,33 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Global Sist Pal n=263 Pal Excl n=89 0,22 0,28 0,33 0,34 0,21 0,20 0,29 0,32 0,30 0,33 0,38 0,22 0,37 0,36 0,25 0,36 0,13 0,33 Quando comparados os coeficientes de correlação entre o WHOQOL-Bref e o WHOQOL-SRPB segundo a classificação do ECOG dos pacientes, houve correlações moderadas entre a maioria das facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios Psicológico, Social, Ambiental e Global do WHOQOL-Bref (Tabelas 21, 22 e 23) sendo os maiores coeficientes de correlação entre os pacientes com ECOG 3/4 conforme a Tabela 24. Tabela 21 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB em pacientes classificados como ECOG 0 (n=115) (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Global Conexão 0,21 0,45 0,33 0,39 0,21 Sentido na Vida 0,22 0,43 0,38 0,31 0,20 Admiração 0,26 0,36 0,48 0,33 0,29 Totalidade e Integração 0,23 0,58 0,42 0,51 0,32 Força Espiritual 0,32 0,54 0,42 0,49 0,22 Paz interior 0,24 0,57 0,39 0,48 0,37 Esperança e Otimismo 0,32 0,56 0,49 0,55 0,36 Fé 0,25 0,52 0,44 0,42 0,13 Global 0,31 0,61 0,51 0,53 0,33 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 22 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB em pacientes classificados como ECOG 1 (n=282) (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Global Conexão -0,08 0,40 0,19 0,31 0,33 Sentido na Vida -0,02 0,45 0,23 0,37 0,38 Admiração 0,11 0,38 0,20 0,33 0,36 Totalidade e Integração 0,12 0,51 0,24 0,41 0,32 Força Espiritual 0,04 0,43 0,27 0,32 0,37 Paz interior 0,07 0,51 0,23 0,31 0,33 Esperança e Otimismo 0,07 0,46 0,16 0,35 0,36 Fé 0,03 0,32 0,15 0,21 0,33 Global 0,05 0,51 0,24 0,38 0,40 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. 80 Tabela 23 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB em pacientes classificados como ECOG 2 (n=84) (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Global Conexão -0,02 0,27 0,09 0,26 -0,05 Sentido na Vida 0,06 0,31 0,22 0,28 0,01 Admiração 0,24 0,45 0,41 0,32 0,24 Totalidade e Integração 0,31 0,62 0,51 0,45 0,32 Força Espiritual 0,24 0,48 0,41 0,34 0,09 Paz interior 0,35 0,66 0,38 0,48 0,39 Esperança e Otimismo 0,38 0,59 0,49 0,50 0,30 Fé 0,23 0,49 0,34 0,32 -0,00 Global 0,30 0,63 0,47 0,48 0,22 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 24 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB em pacientes classificados como ECOG 3/ 4 (n=44) (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Global Conexão 0,31 0,49 0,46 0,51 0,41 Sentido na Vida 0,17 0,49 0,42 0,39 0,30 Admiração 0,21 0,40 0,46 0,42 0,45 Totalidade e Integração 0,19 0,69 0,39 0,59 0,36 Força Espiritual 0,25 0,57 0,41 0,60 0,37 Paz interior 0,30 0,57 0,54 0,55 0,35 Esperança e Otimismo 0,32 0,61 0,55 0,58 0,47 Fé 0,19 0,50 0,51 0,61 0,34 Global 0,28 0,61 0,54 0,60 0,44 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Com o intuito de avaliar as correlações entre os instrumentos (WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB) foram analisados os coeficientes de acordo com a religião auto-referida pelos participantes e entendeu-se que houve correlações moderadas e altas entre a grande maioria das facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios Psicológico e Ambiental do WHOQOLBref independentemente da religião, todavia foram notados coeficientes de correlação mais altos no domínio Psicológico por parte dos pacientes espíritas, bem como mais altos no 81 domínio Social por parte dos evangélicos e Global por parte dos católicos, como revela a Tabela 25. Tabela 25 – Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB de acordo com a religião auto-referida pelos pacientes (Barretos, HCB, 2013). Facetas do Domínios do WHOQOL-Bref WHOQOL-SRPB Físico Psicológico Social Ambiental Global Cat Evang Esp Cat Evang Esp Cat Evang Esp Cat Evang Esp Cat Evang Esp n=339 n=131 n=29 n=339 n=131 n=29 n=339 n=131 n=29 n=339 n=131 n=29 n=339 n=131 n=29 Conexão Sentido na Vida Admiração Totalidade e Integração Força Espiritual Paz interior Esperança e Otimismo Fé Global 0,19 0,20 0,31 0,32 0,17 0,15 0,24 0,28 0,32 0,29 0,45 0,33 0,49 0,50 0,61 0,51 0,38 0,46 0,55 0,60 0,42 0,46 0,69 0,63 0,26 0,33 0,36 0,39 0,29 0,32 0,41 0,43 0,02 0,16 0,32 0,11 0,37 0,41 0,46 0,51 0,32 0,40 0,47 0,55 0,37 0,50 0,45 0,58 0,23 0,27 0,38 0,42 0,19 0,27 0,29 0,32 0,19 0,30 0,29 0,24 0,29 0,32 0,39 0,28 0,25 0,24 0,42 0,41 0,39 0,61 0,59 0,45 0,45 0,55 0,55 0,66 0,64 0,66 0,33 0,39 0,41 0,42 0,41 0,36 0,25 0,22 0,23 0,40 0,48 0,49 0,46 0,52 0,52 0,59 0,58 0,41 0,33 0,38 0,41 0,28 0,32 0,36 0,29 0,23 0,30 0,23 0,35 0,22 0,27 0,38 0,44 0,64 0,38 0,48 0,60 0,61 0,70 0,29 0,43 0,41 0,45 0,26 0,23 0,37 0,53 0,44 0,55 0,43 0,57 0,25 0,41 0,20 0,33 0,26 0,30 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Extrapolando o objetivo de comparar a E/R de pacientes nas diversas fases de tratamento, foi investigada a correlação entre os domínios do EORTC QLQ-C30 e os do WHOQOL-SRPB e concluiu-se que nenhum dos grupos apresentou coeficientes de correlação clinicamente importantes (Tabela 26), no entanto, houve uma tendência de maiores coeficientes no grupo de pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos, sendo isso mais evidente em relação ao domínio Funcional Emocional, conforme as Tabelas 27, 28 e 29. Frente às diferenças encontradas nas correlações entre os domínios do EORTC QLQC30 e o WHOQOL-SRPB diante dos diversos tipos de tratamento, buscou-se avaliar também as correlações entre estes instrumentos de acordo com a classificação do ECOG. Foi possível perceber que à medida que o paciente oncológico apresenta um pior Performance Status há uma tendência a obter melhores escores no domínio Funcional Emocional (Tabelas 30, 31, 32 e 33). Tabela 26 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB em pacientes com câncer (n=525) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,11 0,14 0,17 0,13 0,14 0,16 0,19 0,12 0,19 Funcionamento Global 0,08 0,16 0,21 0,13 0,19 0,26 0,27 0,19 0,23 Funcional físico 0,01 0,08 0,17 0,01 0,13 0,11 0,18 0,12 0,12 Desempenho de papéis 0,10 0,11 0,18 0,14 0,16 0,16 0,18 0,14 0,19 Funcional emocional 0,10 0,16 0,16 0,13 0,16 0,28 0,25 0,15 0,23 Funcional Cognitivo 0,04 0,10 0,11 0,12 0,13 0,17 0,19 0,12 0,17 Funcional Social 0,04 0,12 0,14 0,10 0,14 0,20 0,18 0,15 0,17 Sintomas globais -0,02 -0,05 -0,08 -0,11 -0,12 -0,12 -0,15 -0,12 -0,13 Fadiga -0,01 -0,06 -0,08 -0,08 -0,12 -0,13 -0,16 -0,10 -0,12 Náuseas e Vômitos -0,00 0,00 0,01 -0,05 -0,30 -0,00 -0,03 -0,03 -0,03 Dor 0,02 -0,03 -0,13 -0,11 -0,14 -0,16 -0,17 -0,12 -0,15 Dispnéia 0,01 -0,04 -0,08 -0,08 -0,10 -0,07 -0,12 -0,10 -0,10 Insônia -0,04 -0,04 -0,06 -0,08 -0,08 -0,08 -0,11 -0,10 -0,10 Perda de Apetite 0,07 -0,10 -0,07 -0,08 -0,09 -0,07 -0,09 -0,06 -0,11 Constipação 0,04 0,02 0,01 -0,05 -0,03 -0,04 -0,06 -0,02 -0,02 Diarréia 0,00 0,14 0,00 -0,01 -0,04 0,01 -0,03 -0,06 -0,02 Dificuldades Financeiras -0,00 -0,02 -0,03 -0,06 -0,04 -0,07 -0,04 -0,06 -0,06 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 27 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes em Tratamento Sistêmico Adjuvante (n=173) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,12 0,19 0,22 0,14 0,24 0,21 0,23 0,11 0,24 Funcionamento Global -0,05 0,04 0,18 0,05 0,14 0,28 0,17 0,12 0,13 Funcional físico -0,13 -0,05 0,12 -0,14 0,14 0,09 0,09 0,07 -0,05 Desempenho de papéis -0,00 0,05 0,11 0,10 0,15 0,13 0,00 0,12 0,13 Funcional emocional 0,02 0,07 0,14 0,09 0,13 0,35 0,18 0,08 0,18 Funcional Cognitivo -0,08 0,18 0,12 0,11 0,13 0,15 0,09 0,04 0,12 Funcional Social 0,02 0,06 0,06 0,06 0,05 0,10 0,05 0,11 0,08 Sintomas globais -0,05 0,02 -0,06 -0,09 -0,12 -0,18 -0,08 -0,12 -0,11 Fadiga 0,07 0,03 -0,03 -0,03 -0,10 -0,11 -0,07 -0,05 -0,05 Náuseas e Vômitos 0,05 -0,02 -0,04 -0,06 -0,06 -0,12 -0,06 -0,13 -0,07 Dor 0,03 0,03 -0,07 -0,09 -0,14 -0,14 -0,07 -0,09 -0,10 Dispnéia 0,06 0,00 -0,05 -0,06 -0,07 -0,11 -0,08 -0,06 -0,07 Insônia -0,04 0,03 -0,04 -0,07 -0,09 -0,13 -0,08 -0,06 -0,10 Perda de Apetite -0,02 -0,10 -0,08 -0,06 -0,09 -0,18 -0,07 -0,10 -0,11 Constipação 0,08 0,05 0,07 -0,04 0,05 -0,05 0,02 -0,03 -0,04 Diarréia 0,03 0,07 -0,03 -0,00 0,04 -0,00 -0,03 -0,01 0,06 Dificuldades Financeiras -0,03 -0,12 -0,07 -0,07 -0,09 -0,10 -0,01 -0,10 -0,10 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 28 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes em Sistêmico Paliativo (n=263) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,12 0,13 0,15 0,17 0,11 0,13 0,15 0,15 Funcionamento Global 0,08 0,13 0,16 0,26 0,15 0,25 0,22 0,14 Funcional físico 0,00 0,05 0,10 0,14 0,11 0,13 0,14 0,10 Desempenho de papéis 0,15 0,14 0,16 0,23 0,14 0,21 0,18 0,13 Funcional emocional 0,08 0,10 0,11 0,22 0,09 0,21 0,19 0,10 Funcional Cognitivo 0,05 0,09 0,09 0,17 0,07 0,14 0,13 0,08 Funcional Social 0,05 0,11 0,16 0,19 0,14 0,20 0,14 0,13 Sintomas globais -0,01 -0,00 -0,02 -0,11 -0,06 -0,07 -0,07 -0,06 Fadiga -0,00 -0,02 -0,04 -0,12 -0,07 -0,12 -0,09 -0,06 Náuseas e Vômitos 0,01 0,02 0,05 -0,01 0,01 -0,05 0,05 0,01 Dor -0,04 -0,02 -0,09 -0,13 -0,10 -0,15 -0,12 -0,09 Dispnéia -0,08 -0,06 -0,04 -0,08 -0,11 -0,04 -0,08 -0,11 Insônia -0,05 -0,04 -0,00 -0,11 -0,04 -0,06 -0,06 -0,07 Perda de Apetite -0,05 -0,03 -0,01 -0,04 -0,03 0,00 0,01 0,02 Constipação 0,03 0,05 0,01 -0,03 0,00 0,00 -0,25 -0,00 Diarréia 0,03 0,05 0,07 0,03 -0,00 0,06 0,05 -0,00 Dificuldades Financeiras 0,02 0,04 -0,03 -0,04 0,00 -0,03 0,00 -0,00 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tratamento Global 0,17 0,21 0,12 0,20 0,17 0,12 0,17 -0,06 -0,08 0,02 -0,11 -0,08 -0,07 -0,02 0,00 0,04 -0,00 87 Tabela 29 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos (n=89) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,01 -0,02 0,05 0,00 -0,01 0,13 0,09 -0,04 0,03 Funcionamento Global 0,18 0,28 0,22 0,20 0,35 0,20 0,32 0,30 0,31 Funcional físico 0,15 0,16 0,20 0,09 0,24 -0,01 0,10 0,12 0,15 Desempenho de papéis 0,13 0,05 0,20 0,20 0,20 0,04 0,13 0,19 0,17 Funcional emocional 0,25 0,38 0,23 0,22 0,39 0,31 0,38 0,36 0,39 Funcional Cognitivo 0,17 0,19 0,07 0,23 0,23 0,20 0,34 0,30 0,27 Funcional Social -0,03 0,12 0,03 0,08 0,20 0,25 0,25 0,16 0,16 Sintomas globais -0,02 -0,02 -0,04 -0,13 -0,18 -0,06 -0,18 -0,18 -0,12 Fadiga -0,06 -0,12 -0,07 -0,09 -0,21 -0,09 -0,18 -0,15 -0,14 Náuseas e Vômitos -0,02 0,12 0,14 -0,06 -0,03 0,08 0,04 0,03 0,04 Dor 0,01 0,04 -0,11 -0,10 -0,17 0,10 -0,17 -0,19 -0,12 Dispnéia 0,04 0,04 -0,09 -0,14 -0,05 -0,00 -0,13 -0,07 -0,06 Insônia 0,02 -0,02 -0,14 -0,06 0,08 -0,02 -0,14 -0,20 -0,10 Perda de Apetite -0,10 -0,13 -0,05 -0,14 -0,16 -0,01 -0,15 -0,17 -0,14 Constipação 0,09 0,01 0,06 -0,03 -0,03 -0,04 -0,07 0,02 -0,00 Diarréia -0,06 -0,11 -0,05 -0,12 -0,23 -0,05 -0,16 -0,27 -0,15 Dificuldades Financeiras -0,03 -0,25 0,01 -0,04 -0,08 -0,10 -0,08 -0,01 -0,07 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 30 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 0 (n=115) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,10 0,19 0,08 0,14 0,16 0,15 0,10 0,13 0,15 Funcionamento Global -0,05 0,06 0,11 0,16 0,11 0,16 0,12 0,12 0,11 Funcional físico -0,14 -0,06 0,07 -0,02 -0,05 -0,05 -0,06 0,00 -0,04 Desempenho de papéis -0,20 0,09 0,05 0,12 0,09 0,15 0,10 0,09 0,10 Funcional emocional 0,05 0,11 0,09 0,21 0,13 0,21 0,12 0,12 0,15 Funcional Cognitivo -0,11 -0,01 0,10 0,13 0,08 0,11 0,14 0,03 0,06 Funcional Social 0,05 0,11 0,04 0,11 0,17 0,19 0,10 0,22 0,14 Sintomas globais -0,14 0,00 0,00 -0,04 -0,03 -0,08 -0,00 -0,07 -0,01 Fadiga 0,15 0,01 0,04 -0,06 -0,04 -0,11 -0,01 -0,06 -0,01 Náuseas e Vômitos 0,02 -0,02 -0,04 0,00 -0,03 -0,10 -0,02 -0,07 -0,04 Dor 0,19 0,10 0,02 0,02 0,05 0,00 0,06 0,07 0,07 Dispnéia 0,10 0,04 0,00 -0,04 -0,01 -0,00 -0,07 0,01 0,00 Insônia 0,07 -0,05 -0,04 -0,10 -0,08 -0,04 -0,04 -0,10 -0,05 Perda de Apetite 0,06 -0,03 0,05 -0,01 0,00 -0,05 0,07 0,00 0,01 Constipação 0,04 -0,05 -0,05 -0,04 0,00 -0,07 -0,02 -0,01 -0,03 Diarréia 0,04 0,08 0,06 0,02 -0,00 0,00 -0,05 -0,14 0,00 Dificuldades Financeiras -0,00 -0,07 -0,01 0,02 -0,09 -0,04 0,00 -0,05 -0,04 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 31 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 1 (n=282) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,15 0,12 0,15 0,14 0,14 0,18 0,22 0,13 0,21 Funcionamento Global 0,07 0,09 0,17 0,08 0,15 0,28 0,22 0,15 0,19 Funcional físico -0,01 0,01 0,11 -0,06 0,13 0,19 0,16 0,13 0,06 Desempenho de papéis 0,16 0,09 0,14 0,11 0,15 0,15 0,14 0,15 0,18 Funcional emocional 0,09 0,07 0,12 -0,10 0,09 0,25 0,20 0,10 0,17 Funcional Cognitivo 0,02 0,07 0,09 0,09 0,08 0,14 0,09 0,04 0,11 Funcional Social 0,01 0,08 0,15 0,07 0,07 0,16 0,12 0,09 0,13 Sintomas globais -0,03 0,00 -0,03 -0,09 -0,09 -0,12 -0,10 -0,08 -0,10 Fadiga -0,04 0,00 -0,04 -0,05 -0,09 -0,13 -0,12 -0,05 -0,09 Náuseas e Vômitos 0,01 -0,00 0,02 -0,06 -0,01 -0,01 -0,02 -0,06 -0,03 Dor -0,09 -0,03 -0,09 -0,10 -0,16 -0,18 -0,16 -0,12 -0,16 Dispnéia 0,00 -0,05 -0,04 -0,05 -0,13 -0,06 -0,08 -0,10 -0,08 Insônia -0,03 0,05 0,01 -0,06 -0,01 -0,07 -0,06 -0,01 -0,50 Perda de Apetite -0,05 -0,03 -0,02 -0,05 -0,01 -0,02 0,01 0,02 -0,03 Constipação 0,07 0,11 0,09 -0,02 0,02 -0,03 0,00 -0,02 0,01 Diarréia 0,04 0,03 0,02 0,00 0,03 0,07 0,05 0,02 0,04 Dificuldades Financeiras -0,00 0,01 0,03 -0,06 -0,01 -0,06 -0,03 -0,02 -0,05 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Tabela 32 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 2 (n=84) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global -0,13 -0,03 0,07 -0,08 -0,12 -0,06 -0,03 -0,00 -0,06 Funcionamento Global 0,03 0,18 0,12 0,32 0,13 0,24 0,32 0,27 0,27 Funcional físico 0,02 0,13 0,11 0,09 0,08 0,08 0,23 0,18 0,15 Desempenho de papéis 0,03 0,10 0,16 0,26 0,14 -0,12 0,19 0,19 0,20 Funcional emocional -0,02 0,12 0,07 0,25 0,05 0,20 0,21 0,16 0,18 Funcional Cognitivo 0,12 0,11 0,05 0,31 0,09 0,22 0,28 0,23 0,25 Funcional Social 0,08 0,20 0,07 0,33 0,21 0,26 0,24 0,25 0,27 Sintomas globais 0,00 -0,05 -0,03 -0,19 -0,16 -0,04 -0,18 -0,25 -0,15 Fadiga 0,11 -0,06 -0,04 -0,13 -0,09 0,00 -0,11 -0,21 -0,09 Náuseas e Vômitos -0,09 0,00 0,07 0,01 -0,06 0,04 -0,01 -0,02 -0,01 Dor 0,08 0,02 -0,07 -0,19 -0,15 -0,08 -0,20 -0,19 -0,14 Dispnéia 0,08 0,03 -0,04 -0,07 -0,01 -0,00 -0,14 -0,22 -0,06 Insônia -0,14 -0,09 -0,08 -0,18 -0,15 -0,04 -0,14 -0,24 -0,17 Perda de Apetite -0,10 -0,13 -0,03 -0,19 -0,17 -0,01 -0,16 -0,25 -0,17 Constipação 0,09 0,07 -0,05 -0,15 -0,04 -0,05 -0,19 0,00 -0,06 Diarréia -0,13 -0,07 -0,00 -0,09 -0,16 0,00 -0,07 -0,22 -0,12 Dificuldades Financeiras -0,02 -0,12 0,04 -0,14 -0,07 -0,17 -0,07 -0,20 -0,13 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. 91 Tabela 33 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB dos pacientes classificados como ECOG 3 e 4 (n=44) (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé Global na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,12 0,01 0,18 0,15 0,09 0,20 0,18 0,10 0,14 Funcionamento Global 0,08 0,07 0,01 0,12 0,24 0,12 0,17 0,22 0,14 Funcional físico -0,07 -0,23 -0,17 -0,11 -0,13 -0,42 -0,29 -0,12 -0,24 Desempenho de papéis -0,20 -0,51 -0,20 -0,04 -0,25 -0,18 -0,26 -0,16 -0,26 Funcional emocional 0,33 0,43 0,29 0,28 0,52 0,54 0,51 0,43 0,49 Funcional Cognitivo 0,12 0,15 0,06 0,22 0,20 0,12 0,20 0,26 0,18 Funcional Social -0,24 -0,11 -0,20 -0,18 -0,08 0,05 0,00 -0,04 -0,11 Sintomas globais 0,16 0,21 0,11 0,04 0,14 0,02 0,01 0,16 0,12 Fadiga 0,08 0,10 0,11 0,11 0,05 -0,03 -0,03 0,17 0,08 Náuseas e Vômitos 0,27 0,33 0,32 0,04 0,29 0,27 0,22 0,39 0,31 Dor 0,02 0,21 -0,07 -0,04 0,03 -0,14 -0,10 -0,06 -0,02 Dispnéia 0,00 0,05 -0,10 -0,25 0,03 -0,05 -0,04 0,01 -0,05 Insônia -0,04 -0,07 -0,18 -0,05 -0,01 -0,13 -0,13 -0,11 -0,10 Perda de Apetite -0,04 -0,08 -0,06 0,02 -0,07 -0,10 -0,15 -0,01 -0,07 Constipação 0,19 0,15 0,29 0,17 0,31 0,21 0,21 0,25 0,26 Diarréia 0,16 0,11 0,09 0,26 -0,05 -0,11 -0,08 0,56 0,01 Dificuldades Financeiras 0,14 0,15 0,07 0,13 0,07 0,07 0,11 -0,02 0,12 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Novamente foi segregado o grupo de pacientes de acordo com a religião auto-referida a fim de analisar as correlações entre as facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios do EORTC QLQ-C30. Os pacientes espíritas apresentaram correlações moderadas entre algumas facetas do WHOQOL-SRPB e o domínio Funcional Emocional do EORTC QLQ-C30. O mesmo não é evidenciado nas outras categorias religiosas, como revela as Tabelas 34, 35 e 36. Tabela 34 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes católicos (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,17 0,15 0,19 0,23 0,17 0,14 0,19 0,14 Funcionamento Global 0,12 0,21 0,23 0,34 0,26 0,30 0,32 0,24 Funcional físico 0,07 0,13 0,21 0,22 0,21 0,15 0,25 0,20 Desempenho de papéis 0,10 0,12 0,16 0,24 0,16 0,12 0,16 0,14 Funcional emocional 0,14 0,19 0,17 0,29 0,21 0,34 0,29 0,16 Funcional Cognitivo 0,11 0,16 0,10 0,29 0,21 0,22 0,24 0,19 Funcional Social 0,03 0,15 0,16 0,22 0,18 0,22 0,20 0,21 Sintomas globais -0,02 -0,07 -0,05 -0,19 -0,15 -0,09 -0,16 0,11 Fadiga -0,04 -0,10 -0,07 -0,18 -0,17 -0,13 -0,19 -0,11 Náuseas e Vômitos -0,01 -0,00 0,05 -0,09 -0,03 -0,02 -0,01 -0,01 Dor -0,02 -0,04 -0,12 -0,18 -0,16 -0,12 -0,20 -0,13 Dispnéia -0,02 -0,07 -0,07 -0,14 -0,13 -0,03 -0,13 -0,11 Insônia -0,05 -0,04 -0,03 -0,10 -0,09 -0,05 -0,10 -0,10 Perda de Apetite -0,07 -0,12 -0,07 -0,14 -0,11 -0,04 -0,06 -0,03 Constipação 0,07 -0,00 0,04 -0,09 -0,00 -0,04 -0,05 0,00 Diarréia 0,01 0,01 0,00 -0,02 -0,07 -0,00 -0,08 -0,07 Dificuldades Financeiras 0,02 -0,01 0,02 -0,05 -0,02 -0,02 -0,01 -0,02 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Global 0,21 0,31 0,22 0,18 0,28 0,23 0,21 0,13 -0,15 -0,01 -0,15 -0,11 -0,08 -0,10 -0,01 -0,03 -0,01 94 Tabela 35 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes evangélicos (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global 0,08 0,21 0,21 0,21 0,15 0,30 0,28 0,12 Funcionamento Global 0,05 -0,11 0,27 0,27 0,14 0,25 0,26 0,16 Funcional físico 0,00 0,08 0,14 0,19 0,10 0,11 0,12 0,06 Desempenho de papéis 0,11 0,10 0,28 0,31 0,23 0,26 0,25 0,19 Funcional emocional 0,09 0,13 0,21 0,22 0,11 0,23 0,23 0,20 Funcional Cognitivo -0,09 -0,04 0,11 0,05 -0,03 0,06 0,08 0,00 Funcional Social -0,05 0,04 0,22 0,15 -0,07 0,21 0,24 0,09 Sintomas globais -0,08 -0,03 -0,20 -0,23 -0,14 -0,20 -0,20 -0,17 Fadiga -0,03 -0,03 -0,18 -0,19 -0,09 -0,16 -0,15 -0,11 Náuseas e Vômitos -0,06 -0,04 -0,09 -0,12 -0,08 -0,05 -0,11 -0,09 Dor 0,13 -0,04 -0,19 -0,24 -0,19 -0,27 -0,22 -0,18 Dispnéia 0,08 0,00 -0,12 -0,13 -0,03 -0,14 -0,09 -0,12 Insônia -0,06 -0,04 -0,19 -0,22 -0,09 -0,16 -0,18 -0,11 Perda de Apetite -0,15 -0,10 -0,13 -0,17 -0,15 -0,19 -0,25 -0,15 Constipação -0,00 0,10 -0,07 -0,04 0,00 -0,03 0,28 0,12 Diarréia -0,60 -0,04 -0,00 0,02 -0,05 0,05 0,26 0,16 Dificuldades Financeiras -0,05 0,01 -0,14 -0,12 -0,09 -0,14 0,12 0,06 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Global 0,24 0,23 0,12 0,26 0,21 0,03 0,17 -0,19 -0,14 -0,10 -0,22 -0,09 -0,16 -0,20 0,24 0,23 0,12 95 Tabela 36 – Correlação entre domínios do EORTC QLQ-C30 e as facetas do WHOQOL-SRPB de pacientes espíritas (Barretos, HCB, 2013). Domínios EORTC Facetas WHOQOL-SRPB QLQ C-30 Conexão Sentido Admiração Totalidade e Força Paz Esperança e Fé na Vida Integração Espiritual interior Otimismo Saúde Global -0,26 0,06 0,21 -0,05 -0,06 -0,00 0,17 0,08 Funcionamento Global 0,25 0,36 0,46 0,25 0,35 0,28 0,37 0,46 Funcional físico 0,04 0,08 0,39 0,02 0,16 0,19 0,25 0,33 Desempenho de papéis 0,35 0,35 0,33 0,26 0,36 0,22 0,33 0,37 Funcional emocional 0,27 0,37 0,52 0,46 0,35 0,36 0,55 0,48 Funcional Cognitivo 0,12 0,32 0,28 0,11 0,32 0,12 0,08 0,30 Funcional Social 0,23 0,37 -0,12 0,08 0,16 0,04 -0,05 0,11 Sintomas globais -0,07 -0,17 -0,30 -0,01 -0,20 -0,20 -0,18 -0,28 Fadiga -0,10 -0,22 -0,31 -0,03 -0,21 -0,18 -0,15 -0,26 Náuseas e Vômitos 0,23 0,09 0,02 0,12 0,03 -0,06 0,06 0,00 Dor -0,09 -0,18 -0,26 0,01 -0,21 -0,20 -0,10 -0,20 Dispnéia -0,06 -0,15 -0,30 -0,14 -0,17 -0,07 -0,26 -0,22 Insônia -0,39 -0,44 -0,45 -0,22 -0,28 -0,31 -0,26 -0,53 Perda de Apetite 0,14 0,03 -0,14 0,11 -0,10 -0,03 0,05 -0,20 Constipação 0,05 0,10 -0,06 0,24 0,11 0,06 -0,06 0,01 Diarréia 0,03 0,23 0,04 0,06 -0,00 -0,03 -0,17 0,05 Dificuldades Financeiras -0,19 -0,20 -0,24 -0,26 -0,23 -0,29 -0,35 -0,34 Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Global 0,05 0,40 0,21 0,37 0,49 0,23 0,12 -0,20 -0,20 0,07 -0,17 -0,20 -0,41 -0,01 0,07 0,02 -0,31 Outro objetivo foi comparar a E/R dos profissionais de saúde dos diferentes setores de atendimento da instituição. A Tabela 37 evidencia que os profissionais de saúde que atuavam na Unidade de Cuidados Paliativos apresentaram medianas mais elevadas no domínio Global do WHOQOL-SRPB. Todavia, ao se estimar a diferença entre os escores em relação aos diferentes departamentos, a Regressão Quantílica revelou que não houve diferença (Tabela 38). Tabela 37 – Escores do Global do WHOQOL-SRPB entre os profissionais que atuavam departamentos da instituição (Barretos, HCB, 2013). Departamento n (%) Mínimo Mediana Ambulatórios 321 (61,1) 52,50 81,56 Internações 96(18,3) 56,88 86,88 UTI 47 (9,0) 65,63 84,69 Cuidados paliativos 46 (8,8) 55,63 87,50 CIA 15 (2,9) 71,25 81,88 nos diversos Máximo 98,13 100,00 99,38 98,75 100,00 Tabela 38 – Comparação do domínio Global do WHOQOL-SRPB entre os departamentos de atuação dos profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013). Intervalo de confiança Departamentos Diferença P-valor (95%) Internações – Ambulatórios 3,48 0,39 -4,38 11,33 CIA – Ambulatórios 3,71 0,67 -13,30 20,73 UTI – Ambulatórios 2,51 0,64 -7,91 12,93 Cuidados paliativos – Ambulatórios 4,48 0,37 -5,42 14,38 Foi comparada a E/R dos pacientes com câncer em relação aos profissionais de saúde. Houve diferença clinicamente importante entre os grupos mesmo quando comparadas as facetas do WHOQOL-SRPB, de forma que os pacientes apresentaram, mesmo após os ajustes, escores mais elevados de E/R em todas as facetas do instrumento, como mostra a Tabela 39. 97 Tabela 39 - Mediana dos escores de E/R de pacientes e profissionais de saúde (Barretos, HCB, 2013). Pacientes Profissionais WHOQOL-SRPB n Mediana (p25-p75) n Mediana (p25-p75) p-valor Conexão Sentido na vida Admiração Totalidade e integração Força espiritual Paz interior Esperança e otimismo Fé Global 519 519 486 95,00 (80,00-100,0) 95,00 (85,00-100,0) 95,00 (85,00-100,0) 523 514 478 85,00 (80,00-95,00) 90,00 (80,00-95,00) 85,00 (75,00-90,00) 505 90,00 (80,00-100,0) 520 80,00 (75,00-85,00) 519 516 95,00 (85,00-100,0) 90,00 (80,00-100,0) 522 520 85,00 (80,00-95,00) 80,00 (70,00-85,00) 520 95,00 (85,00-100,0) 521 85,00 (75,00-90,00) 520 475 100,00 (90,00-100,0) 93,13 (84,38-98,13) 524 464 85,00 (80,00-95,00) 83,75 (77,50-89,38) <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,03 <0,01 <0,01 <0,01 Esta diferença entre a E/R em ambos os grupos pode ser melhor entendida e visualizado na Figura 7. Figura 7 - Gráfico Boxplot de comparação da E/R de pacientes e profissionais de saúde. 98 Foram evidenciadas correlações moderadas entre a maioria das facetas do WHOQOLSRPB e os domínios Psicológico (Admiração r=0,53, Totalidade e integração r=0,59, Paz Interior r=0,58, Esperança e Otimismo r=0,58), Ambiental (Totalidade e integração r=0,51, Global r=0,50) e Global (Totalidade e integração r=0,55, Paz Interior r=0,53, Esperança e Otimismo r=0,54, Global r=0,54) do WHOQOL-Bref de acordo com os escores de pacientes, sendo que a faceta Global do WHOQOL-SRPB apresentou também moderada correlação com o domínio Psicológico (r=0,60) do WHOQOL-Bref. Quanto aos profissionais de saúde as correlações não foram tão evidentes, contudo foi possível perceber correlações moderadas entre as facetas Totalidade e Integração (r=0,51), Paz Interior (r=0,52), Esperança e Otimismo (r=0,51) do WHOQOL-SRPB e o domínio Psicológico do WHOQOL-Bref; e Totalidade e Integração (r=0,45), Paz Interior (r=0,48) e Esperança e Otimismo (r=0,45) do WHOQOL-SRPB e o domínio Global do WHOQOL-Bref (Tabela 40). Tabela 40 - Análise de correlação entre os escores do WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB em pacientes com câncer (n=525) e profissionais de saúde (n=525) (Barretos, HCB, 2013). WHOQOL SRPB Conexão Sentido na Vida Admiração Totalidade e Integração Força Espiritual Paz interior Esperança e Otimismo Fé Global Físico Paciente Profissional 0,17 (0,09-0,25) -0,04 (-0,13-0,04) 0,19 (0,11-0,27) 0,14 (0,05-0,22) Psicológico Paciente Profissional 0,36 (0,28-0,43) 0,12 (0,04-0,21) 0,47 (0,40-0,53) 0,31 (0,23-0,39) Correlation coefficient (95% CI) WHOQOL BREF Social Paciente Profissional 0,24 (0,16-0,32) 0,08 (0,00-0,17) 0,31 (0,23-0,39) 0,19 (0,11-0,27) 0,32 (0,24-0,40) 0,36 (0,28-0,44) 0,20 (0,11-0,29) 0,23 (0,15-0,31) 0,53 (0,46-0,59) 0,59 (0,52-0,64) 0,39 (0,31-0,46) 0,51 (0,45-0,57) 0,34 (0,25-0,41) 0,36 (0,28-0,43) 0,31 (0,22-0,39) 0,32 (0,25-0,40) 0,44 (0,37-0,51) 0,51 (0,44-0,57) 0,30 (0,22-0,38) 0,35 (0,27-0,42) 0,49 (0,42-0,55) 0,55 (0,48-0,61) 0,36 (0,28-0,43) 0,45 (0,38-0,51) 0,28 (0,20-0,36) 0,00 (-0,09-0,08) 0,47 (0,40-0,53) 0,23 (0,15-0,31) 0,32 (0,24-0,40) 0,17 (0,09-0,25) 0,40 (0,32-0,47) 0,04 (-0,04-0,13) 0,44 (0,37-0,50) 0,12 (0,03-0,20) 0,33 (0,25-0,41) 0,36 (0,28-0,43) 0,26 (0,18-0,34) 0,27 (0,19-0,35) 0,58 (0,52-0,64) 0,58 (0,52-0,64) 0,52 (0,45-0,58) 0,51 (0,44-0,57) 0,36 (0,29-0,44) 0,36 (0,29-0,44) 0,38 (0,30-0,45) 0,33 (0,26-0,41) 0,49 (0,42-0,55) 0,48 (0,42-0,55) 0,36 (0,29-0,44) 0,32 (0,24-0,40) 0,53 (0,46-0,59) 0,54 (0,48-0,60) 0,48 (0,41-0,54) 0,45 (0,38-0,51) 0,24 (0,16-0,32) 0,33 (0,24-0,41) 0,00 (-0,09-0,08) 0,19 (0,10-0,28) 0,43 (0,36-0,50) 0,60 (0,54-0,66) 0,17 (0,09-0,25) 0,44 (0,36-0,51) 0,30 (0,22-0,38) 0,37 (0,29-0,45) 0,11 (0,03-0,20) 0,31 (0,23-0,39) 0,37 (0,29-0,44) 0,50 (0,43-0,57) -0,01 (-0,10-0,07) 0,25 (0,16-0,33) 0,39 (0,32-0,46) 0,54 (0,47-0,60) 0,06 (-0,02-0,15) 0,35 (0,27-0,43) Correlação de Pearson: Coeficientes Fracos: <0, 40; Coeficientes Moderados: ≥0,40 e ≤0,60; Coeficientes Fortes: ˃0,60. Ambiental Paciente Profissional 0,34 (0,26-0,41) -0,02 (-0,10-0,07) 0,41 (0,34-0,48) 0,18 (0,09-0,26) Global Paciente Profissional 0,33 (0,25-0,40) 0,02 (-0,06-0,11) 0,40 (0,33-0,47) 0,25 (0,16-0,33) 6 DISCUSSÃO Neste estudo foi avaliada a QV de pacientes portadores de câncer e de profissionais de saúde e identificadas correlações positivas entre E/R e QV. De uma maneira geral e diferente do esperado, ambos os grupos apresentaram QV similares, a não ser pelos maiores escores de E/R reportados pelos pacientes. Diante disso, foi visualizada a interessante necessidade de caracterizar a população que compõe os pacientes do Hospital de Câncer de Barretos, cuja importante parcela contribuiu para os resultados deste estudo. Os pacientes em sua maioria têm mais de 60 anos (54,9%), são analfabetos ou apresentam o ensino fundamental incompleto (67,0%) e percorrem longas distâncias que possibilitam o tratamento oncológico, vindo principalmente das diversas cidades das regiões Sudeste (77,5%), Centro-Oeste (15,5%) e Norte (5,1%) do Brasil. Ao adentrarem ao hospital, a própria filosofia de humanização da instituição os acolhe e abriga literalmente. Diversos pacientes e acompanhantes que não têm onde ficar recebem abrigos nas diversas “casas de apoio” para que possam permanecer na cidade ao longo do tratamento. Nestas casas recebem desde uma cama para dormir até medicações e refeições especiais de acordo com que o tratamento exige o que, às vezes não encontram em seus municípios. O hospital disponibiliza uma equipe multiprofissional que atende com qualidade às várias necessidades do paciente neste momento de doença, oferecendo atendimento médico, de enfermagem, farmacêutico, psicológico, nutricional, social e espiritual, sendo estes ambulatoriais, de internação e/ou urgência, de acordo as demandas apresentadas. Em cada um destes atendimentos eles são vistos de maneira holística e são avaliados como seres únicos, sendo oferecido ainda carinho, atenção e amor. Tanto é que o hospital é conhecido como “O Hospital do Amor”. A atenção dispensada ao paciente vai além da queixa física ou do local da doença, ele é visto realmente como ser humano e isto implica na busca do atendimento às necessidades multidimensionais do indivíduo (139). No presente estudo, todos os pacientes e 96,8% dos profissionais de saúde, acreditavam em Deus. Todas as perguntas que investigaram a importância da E/R na prática oncológica tiveram mais de 90% de respostas positivas, tanto para os pacientes quanto em relação aos profissionais de saúde. Ambos os grupos reportaram que a E/R os auxiliavam na 101 vida pessoal e profissional; consideravam importante ter afiliações religiosas, participar de atividades religiosas e orar individualmente ou em grupo. Mais de 98,0% de pacientes e profissionais concordaram que pacientes com câncer precisavam de um suporte espiritual/religioso durante o tratamento oncológico. O domínio espiritual/religioso teve considerada importância para os indivíduos independentemente do grupo em que estavam inseridos, revelando o valor que ambos dedicam e acreditam ter este domínio tanto no aspecto pessoal quanto profissional de suas vidas. A grande maioria dos pacientes referiu utilizar meios de E/R a fim de enfrentar melhor a doença e a maior parte dos profissionais de saúde relataram que a E/R lhe ajudava a cuidar dos pacientes com câncer e que na prática assistencial utilizavam meios diretos e indiretos de E/R para prestar atendimento aos pacientes e ambos concordaram que faz-se necessário um suporte espiritual/religioso durante o tratamento. Diante destas afirmações, entende-se que a relação paciente-profissional pode ser aprimorada no sentido de tais profissionais realizarem abordagens espirituais/religiosas de maneira adequada a partir da necessidade apresentada pelos pacientes, uma vez que é essencial visualizá-lo como ser humano de forma integral, visando até mesmo o cumprimento da humanização que cerca a filosofia da instituição. Para tal, seria necessária a capacitação dos profissionais a respeito deste construto, visto que no decorrer das entrevistas, muitos destes relatavam a angústia de compreenderem a necessidade de abordar tal assunto durante os atendimentos, porém não receberam tais orientações no decorrer da formação profissional, que dificultava o desenvolvimento da prática de assistência espiritual/religiosa por parte dos profissionais de saúde. O estudo multicêntrico The Religion and Spirituality in Cancer Care Study avaliou 75 pacientes com câncer avançado e 339 profissionais de saúde (médicos e enfermeiros). A maioria dos pacientes (77,9%), médicos (71,6%) e enfermeiros (85,1%) acreditavam que o cuidado espiritual poderia ser benéfico aos pacientes, no entanto, apenas 25% deles havia recebido este tipo de cuidado previamente(140). Em outro estudo, 91% dos pacientes internados reportaram alguma necessidade espiritual(43). Em geral, os cuidados espirituais podem ser oferecidos por profissionais de saúde capacitados, pela comunidade religiosa ao qual o paciente pertence e também por capelães hospitalares. Entre pacientes com câncer avançado, receber cuidados espirituais de organizações religiosas esteve associado com mais cuidados agressivos em fase final de vida, como menos utilização de Hospices e mais 102 internações em UTIs. Por outro lado, nos pacientes com bom suporte espiritual oferecido pelas comunidades religiosas, receber cuidados espirituais adicionais da equipe médica se associou com menos cuidados invasivos e desnecessários durante o final de vida (141). Em concordância com os achados do presente estudo, os pacientes têm considerado importante que as dimensões espiritual e religiosa sejam abordadas pelos profissionais de saúde (58, 59, 63, 71) . No entanto, a melhor estratégia para abordar e produzir benefícios para os pacientes ainda precisa ser definida. Estudos prévios evidenciaram que pacientes e profissionais têm buscado recursos espirituais e religiosos a fim de melhorarem suas QV(13, 27, 28, 66) . Estudo dinamarquês investigou 1043 pacientes oncológicos com o propósito de verificar até que ponto os aspectos da fé e o bem-estar espiritual estavam associados com o sofrimento psicológico (distress). Bem-estar espiritual mais elevado foi associado com menor distress e com maior adaptação à doença(57). Pesquisa multicêntrica norte-americana avaliou a E/R e o enfrentamento religioso de 69 pessoas acometidas por câncer avançado, encontrando que 84% dos indivíduos utilizavam crenças espirituais e religiosas para lidar com a doença; na análise multivariada, o enfrentamento religioso foi associado com melhor QV(66). A E/R tem sido encarada como fonte de apoio, adaptação, enfrentamento, conforto, força e bem-estar no período da doença e do tratamento(27, 67, 69). Em conformidade com a literatura, os participantes deste estudo, durante as entrevistas, também discutiram os benefícios que o domínio espiritual/religioso proporciona aos indivíduos de uma maneira geral, ressaltando a relevância deste construto quando o indivíduo é portador de uma doença crônica como o câncer. Diante disso, concordaram que a abordagem espiritual/religiosa por parte dos profissionais de saúde seria bem recebida pelos pacientes, uma vez que a partir da E/R encontram formas de enfrentamento e apoio para este difícil momento de doença, aguçando, dentre outros, o bem-estar emocional e a esperança, tendo como consequência a melhoria da QV. Estudos identificaram impacto positivo da E/R na saúde de indivíduos, especialmente nos domínios físico e mental(44, 85). A E/R já foi associada negativamente com ocorrência de doenças cardíacas, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, depressão, ideação suicida, abuso de drogas, comportamentos sexuais de risco e mortalidade(44, 82) . Além do mais, pacientes com câncer avançado que reportavam rezar mais frequentemente apresentaram maior sobrevida global e menores níveis de marcadores inflamatórios séricos (83). Dentre as 103 possíveis explicações, acredita-se que a participação em atividades religiosas possa impelir o indivíduo a práticas comportamentais mais saudáveis(44), além de promover um melhor suporte social(56). A E/R também parece influenciar processos fisiológicos, relacionados aos sistemas cardiovascular, neuroendócrino e imununológico, promovendo benefícios na saúde dos indivíduos(44, 82). Paiva et al.(142) mostraram uma associação negativa entre religiosidade e QV ao estudarem mulheres com câncer de mama que iniciavam quimioterapia adjuvante, sugerindo que pacientes com pior QV utilizem mais a religiosidade como uma forma de enfrentamento do câncer. Por outro lado, a hipótese mais aceita é a de que a E/R esteja associada com uma melhor QV, sendo que um dos mecanismos mediadores prováveis é o estímulo a uma sensação de maior autonomia perante a vida(85). Desta forma, pode-se ainda enfatizar que os pacientes encontravam na oração, na meditação ou na reflexão, meios de obterem maior conforto físico, psicológico e social, o que, segundo eles, proporcionava maior bem-estar, diversas vezes resultando até mesmo no impacto de alguns sintomas físicos, dentre eles a dor. A partir do momento que reconheciam suas necessidades espirituais/religiosas buscavam pensamentos positivos, leituras bíblicas ou de livros com demandas referentes ao apoio espiritual, diálogos enriquecedores com familiares e/ou líderes religiosos, companhias otimistas, atitudes saudáveis. Havia relatos de mudanças comportamentais a partir do diagnóstico, reforçando a relação entre o enfrentamento espiritual/religioso, mudanças de valores e a melhoria da QV. De uma forma geral, houve correlações moderadas entre a maioria das facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios Psicológico, Ambiental e Global do WHOQOL-Bref, revelando que a E/R parece influenciar de forma positiva em alguns domínios da QV de pacientes oncológicos, o que corrobora com a literatura(27, 44, 67, 69, 85). Esta característica permaneceu mesmo após segregar os pacientes segundo o tipo de tratamento, contudo entre aqueles em Cuidados Paliativos Exclusivos houve aumento dos coeficientes de correlação entre algumas facetas do WHOQOL-SRPB e o domínio Social do WHOQOL-Bref. Pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos entendem as relações sociais como prioritárias devido ao contexto de finitude em que estão vivendo, diversas vezes apegando-se a indivíduos que os ajudam a fortalecer aspectos espirituais e religiosos antes considerados não tão importantes. Dentre outras possíveis explicações, a participação em atividades religiosas possibilita melhores condições sociais. Aliando isto ao suporte social oferecido pela Unidade de Cuidados 104 Paliativos onde os pacientes deste estudo se encontravam, entende-se as razões de tais resultados(56, 139). Da mesma maneira, ao segregar os pacientes segundo o ECOG, houve correlações moderadas entre a maioria das facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios Psicológico, Social, Ambiental e Global do WHOQOL-Bref, principalmente analisando os coeficientes referentes ao pacientes com ECOG 3/4 e Cuidados Paliativos Exclusivos. Tais pacientes tendem a encarar este período como um momento reflexão, de dedicação espiritual e religiosa que pode influenciar de forma positiva em sua QV(143). Pacientes oncológicos com capacidade limitada de autocuidado, confinados à cama ou à cadeira, ou potencialmente incapazes, e em Cuidados Paliativos Exclusivos apresentavam, durante os diálogos, tendência a valorizar aspectos abstratos da vida, a convivência familiar e social. Buscavam a resolução de conflitos do passado, preocupavam-se com as condições de seus familiares após sua morte, procuravam força espiritual/religiosa para enfrentarem as dificuldades daquele período. As mudanças ou acréscimos de valores eram muitas, principalmente no que tange às relações humanas, que era o que realmente tinha importância para eles naquele momento. Tudo isso, aliado a outros fatores, de alguma forma, implicava na melhoria de alguns aspectos da QV dos pacientes com este perfil, culminando em maiores correlações entre os construtos E/R e QV. Quando avaliadas as correlações entre o WHOQOL-Bref e WHOQOL-SRPB de acordo com a religião auto referida pelos pacientes encontrou-se, independentemente da religião, coeficientes moderados e altos entre a grande maioria das facetas do WHOQOL-SRPB e os domínios Psicológico e Ambiental do WHOQOL-Bref, ressaltando mais uma vez correlações positivas entre E/R e QV(44, 56, 57, 66) . Contudo, os espíritas apresentaram correlações mais fortes no domínio Psicológico, evangélicos no domínio Social e católicos no domínio Global. Tais resultados remetem às características inerentes a cada religião, visto que os espíritas apresentam mais recursos espirituais e, consequentemente psicológicos para o enfrentamento de situações difíceis e de doença, os evangélicos utilizam as relações sociais entre seus membros como forma de disseminação de suas crenças e os católicos diante de seus dogmas tendem a crer em milagres e atos heróicos até o fim(144). Todos os pacientes avaliados acreditavam em Deus, sendo que todos eram cristãos, no entanto, uma parcela pequena considerada espírita apresentou coeficientes de correlação (WHOQOL-SRPB e EORTC QLQ-C30) claramente diferentes em relação às demais religiões. 105 De forma distinta o espiritismo Kardecista acredita que as pessoas, após a morte, simplesmente “passam” para o plano espiritual. Acreditam que a vida espiritual é apenas uma continuação da vida na terra. Além do mais, acreditam na redenção dos erros do passado ao enfrentarem provas e expiações, como pode ser o caso do câncer e também na possibilidade futura de retorno à vida, por meio de reencarnações sucessivas(145, 146). Assim, este grupo de pacientes ao se verem diante da necessidade do tratamento oncológico, provavelmente conseguem entender e enfrentar melhor a doença utilizando recursos espirituais. No que diz respeito à E/R de pacientes com câncer e de profissionais de saúde, ambos apresentaram medianas elevadas, todavia as dos pacientes foram maiores em todas as facetas do WHOQOL-SRPB. Neste estudo ambos os grupos referiram que E/R os auxiliavam tanto na vida pessoal e profissional e utilizavam-na como importante fonte de apoio e enfretamento em diversas situações. Corroborando com a literatura (27, 31, 55-57), grande parte das pessoas acometida pelo câncer utiliza a E/R como estratégia de adaptação frente a esta condição, a fim de minimizar o medo e auxiliar nas tomadas de decisões(27, 63, 64) , o que contribui, entre outros, no aumento da esperança e na melhoria da QV destes indivíduos (6567, 69) . Pacientes em Tratamento Sistêmico Adjuvante apresentaram medianas um pouco maiores no domínio Global do WHOQOL-Bref em relação àqueles em Tratamentos Sistêmico Paliativo e Paliativo Exclusivo. O objetivo do Tratamento Adjuvante é diminuir a possibilidade de recidiva através da erradicação de micro metástases e assim aumentar a sobrevida(6). Pacientes submetidos a esta modalidade, apesar de sentirem o impacto de sinais e sintomas decorrentes do tratamento(147-149), de um modo geral, ainda apresentam relativamente bons escores de QV global(133, 150) , mesmo sendo reconhecida que a possibilidade de resultados positivos e a chance de cura mediante ao tratamento podem ser fatores motivadores e de enfrentamento a todas as dificuldades, inclusive as que podem implicar em interferência na QV(151). Pacientes em Tratamento Sistêmico Adjuvante e com ECOG 0, independentemente do instrumento utilizado, demonstraram maiores escores nos domínios de QV. Aqueles em Cuidados Paliativos Exclusivos e com ECOG 3/4, ao contrário, apresentaram diminuição dos escores de QV nos diversos domínios tanto do WHOQOL-Bref quanto do EORTC QLQ-C30, porém este último conseguiu avaliar de forma mais sensível este declínio nos domínios 106 Saúde Global e Funcionamento Global e um aumento nas medianas dos Sintomas Globais. Pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos e com ECOG 3/4, em geral apresentam mais sintomas físicos em decorrência de progressão da doença, culminando em implicações em sua QV(152, 153). De maneira geral, aqueles em Cuidados Paliativos Exclusivos e classificados com ECOG 3/4, acometidos por restrições físicas e de mobilidade, dificuldades de autocuidado e aumento de sintomas, reportavam diminuição em sua QV, o que foi detectado pelos instrumentos de avaliação. O EORTC QLQ-C30 mostrou, quando estratificada a amostra por tipos de tratamento, apesar de correlações fracas, uma tendência de coeficientes maiores no grupo em Cuidados Paliativos Exclusivos, sendo isso mais evidente em relação ao domínio Funcional Emocional. Classificando segundo o ECOG, quando se observa um pior Performance Status há uma tendência a obter melhores escores também no domínio Funcional Emocional. É possível entender que à medida que o paciente oncológico se aproxima do final da vida, ao melhorar seu aspecto espiritual/existencial, há também uma tendência a melhores escores de QV emocional, ressaltando que o fato de estar inserido em um programa estruturado de Cuidados Paliativos também possibilita a melhoria da QV de pacientes oncológicos(152, 154). Compreende-se que as discrepâncias encontradas entre os resultados de QV quando utilizados o WHOQOL-Bref e o EORTC QLQ-C30 são decorrentes do objetivo e da forma de avaliar os diversos domínios deste construto. Houve algumas correlações moderadas e fortes entre alguns domínios dos dois instrumentos, inclusive nos domínios Global, entretanto a maioria das correlações foi fraca. Inclusive, o WHOQOL-Bref possui um domínio Ambiental e aborda itens (Dependência à medicação ou de tratamento, Capacidade de trabalho, Relações pessoais, Atividade Sexual, Sentimentos positivos, Auto-estima, Imagem corporal e aparência, Espiritualidade/Religião/Crenças pessoais) não contemplados pelo EORTC QLQ-C30. Este, por sua vez tem como foco investigação de domínios e itens já citados como relevantes para pacientes oncológicos. São instrumentos diferentes cujos conteúdos têm enfoques variados. O WHOQOL-Bref é um instrumento genérico e apresenta uma avaliação mais global da QV do indivíduo, seja ele doente ou saudável (128, 130) , enquanto o EORTC QLQ-C30, que é específico, avalia a QV com conteúdos que proporcionam enfoque na doença, tratamento e sintomas oncológicos (8, 134, 136, 137). Ambos são instrumentos válidos e úteis na avaliação de pacientes oncológicos, todavia medem aspectos distintos da QV dos 107 pacientes. O próprio WHOQOL-Bref apresenta um item que avalia questões existenciais (sentido de vida), o que pode ocasionar um viés nas análises, reforçando mais uma vez a explicação sobre o porquê da diferença entre os instrumentos quando reveladas discrepâncias entre os coeficientes de correlação entre o WHOQOL-Bref, o EORTC QLQ-C30 e o WHOQOL-SRPB. Ao longo das discussões e avaliações pelos assessores, durante as bancas de acompanhamentos, surgiu a seguinte questão – o instrumento WHOQOL-Bref não avaliaria a QV de pacientes com câncer, pois trata-se de um instrumento genérico. Assim, buscando responder esta questão realizou-se uma revisão bibliográfica na base científica Pubmed utilizando na busca os descritores (WHOQOL-bref OR WHOQOL-100 OR SF-36 OR "ShortForm Health Survey") AND (cancer OR neoplasms OR malignancy OR "neoplasms" [MESH]), com o objetivo de identificar se estes instrumentos genéricos estão sendo utilizados para avaliar QV de pacientes com câncer. Foram encontrados 1290 artigos cuja QV de pacientes com câncer foi avaliada por meio de instrumentos genéricos como o WHOQOL-Bref, WHOQOL-100 e SF-36, evidenciando a utilidade destes tipos de instrumentos na avaliação da QV de pacientes oncológicos. Vale enfatizar ainda que instrumentos genéricos são factíveis de avaliar QV de pessoas saudáveis ou não, e evidências científicas tem mostrado este poder de utilização, conforme o que identificou-se nesta revisão sistemática e o que também aponta os resultados desse estudo. Talvez o EORTC QLQ-C30 tenha uma capacidade um pouco maior de discriminar a diferença entre as medianas de QV diante dos tipos de tratamentos realizados pelos pacientes e o avançar da doença, como a mudança do ECOG. Esta capacidade pode ser explicada pelo fato do instrumento focar sua avaliação em função do tratamento oncológico, podendo ser dito que o EORTC QLQ-C30 parece ser mais adequado quando pretende-se distinguir a QV de acordo com o momento do tratamento pelo qual o indivíduo está passando. Ressalta-se que instrumentos genéricos e específicos complementam-se a fim refinar a avaliação da QV dos indivíduos. Considerando a análise do grupo total de pacientes (n=525), sem discriminar tipos de tratamentos, ECOG ou religião, não se observa correlação clinicamente importante entre os domínios do EORTC QLQ-C30 e do WHOQOL-SRPB. Acredita-se, neste sentido, que o WHOQOL-Bref seja mais adequado para avaliar aspectos holísticos do paciente oncológico e 108 desta forma, capaz de detectar associações com construtos abstratos, como é o caso da espiritualidade e da religiosidade. Comparando a QV de pacientes e profissionais de saúde utilizando o WHOQOL-Bref não foram identificadas diferenças nos domínios Psicológico e Social, sendo que pacientes apresentaram medianas maiores nos domínios Ambiental e Global e os profissionais no domínio Físico. Após ajustes devido ao entendimento de que tratava-se de grupos com características distintas os profissionais permaneceram com escores mais elevados no domínio Físico e os pacientes no domínio Ambiental, contudo não foi encontrada diferenças entre os domínios Psicológico, Social e Global de QV. Estes resultados podem ser atribuídos ao suporte oferecido ao paciente desde que este chega à instituição, tendo suas necessidades atendidas de forma singular e apropriada, além disso há o fato da utilização da E/R como fonte de enfrentamento ao período de doença e tratamento, o que traz implicações positivas para a QV de pacientes oncológicos(57, 66, 139). Tais resultados foram diferentes da nossa hipótese inicial, pois acreditávamos que os pacientes tivessem escores significativamente mais baixos de QV em relação aos profissionais (considerados como controles da população saudável). Porém, os achados nos direcionaram para as seguintes situações: (a) pacientes estavam com QV acima do esperado; (b) os profissionais de saúde tinham QV abaixo do esperado; (c) ambas as situações. A fim de entender melhor os escores encontrados, foram comparadas as médias dos instrumentos utilizados com as de uma pesquisa realizada em um hospital público de Porto Alegre-RS (Brasil)(12) e foi encontrado que os profissionais de saúde deste estudo tiveram médias dos escores do WHOQOL-Bref muito parecidas com as dos profissionais do estudo prévio no sul do Brasil. Desta forma, é provável que os pacientes deste estudo tenham apresentado QV acima do esperado. A percepção de QV é individual e subjetiva; a satisfação com o cuidado recebido pode influenciar positivamente nas avaliações que os pacientes fazem de sua QV. Assim, o suporte multidisciplinar e a filosofia de humanização do cuidado que são características marcantes da instituição em que foi desenvolvido este estudo podem ter contribuído para os elevados níveis de QV reportados pelos pacientes. Todavia, é possível que os altos níveis de E/R possam ter impactado positivamente na QV dos pacientes. Correlações positivas foram encontradas entre os índices de E/R e as dimensões da QV de mulheres latinas portadoras de câncer de mama. Foram identificados níveis elevados de E/R, sendo que estes foram 109 preditores independentes de melhor bem-estar funcional e satisfação com o relacionamento médico-paciente(67). No Brasil, um país onde somente 8,0% dos indivíduos não têm uma religião(41), a importância da E/R e das crenças pessoais foi positivamente associada com a QV na maioria de seus domínios em estudo realizado com 122 pacientes com doenças crônicas(56). As práticas espirituais e religiosas parecem aliviar o sofrimento psicológico, manter a esperança e o senso de significado e propósito de vida em indivíduos doentes, o que contribui para sua melhor QV (14, 31, 57, 66). Este estudo apresenta algumas limitações. A primeira delas é a de que não foi possível entrevistar os profissionais de saúde que cuidavam especificamente dos pacientes incluídos. Desta forma, poder-se-ia identificar se as necessidades espirituais dos pacientes foram ou não adequadamente abordadas e, também, se foram incluídas efetivamente nos cuidados oferecidos. Da mesma forma, seria possível avaliar se a abordagem da E/R foi eficaz na visão do paciente e do profissional de saúde e como interferiu na QV de ambos os participantes. No entanto, este desenho de estudo não seria factível, considerando o tamanho amostral e as dificuldades técnicas em entrevistar os participantes de forma pareada. O instrumento utilizado para avaliação da E/R e crenças pessoais (WHOQOL-SRPB) já foi alvo de críticas sobre seu conteúdo, sendo um ponto importante a ser discutido frente aos resultados encontrados. Apesar de ter tido uma grande amostra, uma outra limitação da pesquisa é a de que a grande maioria era praticante e afiliada a alguma religião, havendo raros casos de participantes ateus; desta forma, torna-se difícil generalizar nossos resultados para populações com diferentes características e culturas. 110 6 CONCLUSÃO A E/R foi um construto considerado importante tanto na visão dos pacientes quanto na dos profissionais de saúde que participavam dos cuidados destes, sendo que os pacientes afirmaram que gostariam que suas crenças espirituais fossem abordadas pelos profissionais durante o atendimento. Ambos os grupos opinaram que a E/R deva ser incluída em uma abordagem holística ao paciente oncológico e, além do mais, consideraram que a E/R os ajudavam no enfrentamento de diversas questões de âmbito pessoal e profissional, o que contribuiria para a obtenção de uma melhor QV. Identificou-se diferença nos escores de QV dos pacientes no decorrer das diversas fases de tratamento, sendo que aqueles em Tratamento Sistêmico Adjuvante e classificados como ECOG 0 apresentaram maiores escores de QV e os que estavam em Cuidados Paliativos Exclusivos e com ECOG 3/4 apresentaram menores escores de QV e maiores índices de sintomas. Não foi evidenciada diferença entre a QV e a E/R de profissionais de saúde quando considerados os diversos departamentos de atendimento em que atuavam. Comparando a QV dos dois grupos, profissionais de saúde apresentaram escores mais elevados no domínio Físico do WHOQOL-Bref, enquanto os pacientes apresentaram maiores escores no domínio Ambiental. Notou-se discrepâncias entre os resultados de QV quando utilizados o WHOQOL-Bref e o EORTC QLQ-C30 na avaliação de pacientes. Ambos buscam medir aspectos similares, pois foram encontradas moderadas correlações entre seus domínios, contudo são instrumentos com enfoques variados, sendo um genérico e o outro é específico. Não foi encontrada diferença entre os escores de E/R quando comparados os diversos tipos de tratamento oncológico. As facetas de E/R correlacionaram-se de formas moderada com alguns domínios de QV (Psicológico, Ambiental e Global), sendo que no grupo em Cuidados Paliativos Exclusivos a faceta Global do WHOQOL-SRPB apresentou alta correlação com o domínio Psicológico do WHOQOL-Bref. Especificamente também no grupo de pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos foram encontradas correlações moderadas entre a E/R e o domínio Social. Pacientes espíritas apresentaram coeficientes de correlação mais altos no domínio Psicológico, os evangélicos no domínio Social e os católicos no domínio Global de QV. Houve uma tendência de maiores coeficientes de correlação entre 111 E/R e QV no grupo de pacientes em Cuidados Paliativos Exclusivos, principalmente em relação ao domínio Funcional Emocional do EORTC QLQ-C30. O mesmo pode ser visto de maneira clinicamente importante entre aqueles classificados como ECOG 3/4 e declarados como espíritas. Comparando a E/R dos grupos, foi evidenciada diferença clinicamente importante, de forma que os pacientes apresentaram, escores mais elevados de E/R em relação aos profissionais de saúde, sendo que as correlações entre E/R e QV foram mais altas e evidentes também entre os pacientes. Considerando a importância da E/R e suas implicações na QV, e ainda entendendo a complexidade do binômio paciente-profissional, novos estudos são necessários para determinar qual a maneira mais efetiva de profissionais de saúde realizarem abordagem espiritual/religiosa na prática oncológica a fim de contribuírem de modo ativo para melhoria da QV dos pacientes. É interessante ressaltar que ainda permanece a necessidade de investigações com a finalidade de identificar quais as opções mais adequadas de instrumentos para realizar avaliação da QV durante o tratamento oncológico. 112 7 PRODUÇÃO CIENTÍFICA GERADA A PARTIR DESTE ESTUDO 1. Apresentação oral intitulada “Avaliação da Espiritualidade/Religiosidade e associação com a Qualidade de Vida de pacientes com câncer de um hospital oncológico” no IV Encontro Científico do Hospital de Câncer de Barretos em Barretos – SP. 2012. 2. Apresentação de pôster intitulado “Fatores preditores de Espiritualidade e Religiosidade em pacientes com câncer” no III Congresso Latino-Americano de Enfermagem Oncológica em São Paulo – SP. 2013. 3. Apresentação de pôster intitulado “Espiritualidade e Qualidade de Vida de profissionais de um hospital de cuidados paliativos oncológicos” no V Congresso Internacional de Cuidados Paliativos em Porto de Galinhas – PE. 2013. 4. Apresentação de pôster intitulado “Espiritualidade/Religiosidade e Qualidade de Vida de pacientes oncológicos em cuidados paliativos exclusivos” no V Congresso Internacional de Cuidados Paliativos em Porto de Galinhas – PE. 2013. 5. Apresentação oral intitulada “Implicações da Espiritualidade/Religiosidade na Qualidade de Vida de pacientes oncológicos” no V Encontro Científico do Hospital de Câncer de Barretos em Barretos – SP. 2013. 6. Menção honrosa pela apresentação oral intitulada “Implicações da Espiritualidade/Religiosidade na Qualidade de Vida de pacientes oncológicos” no V Encontro Científico do Hospital de Câncer de Barretos em Barretos – SP. 2013. 7. Apresentação oral intitulada “Implicações da Espiritualidade/Religiosidade na Qualidade de Vida de Profissionais de Saúde que atuam na assistência aos pacientes oncológicos” no V Encontro Científico do Hospital de Câncer de Barretos em Barretos – SP. 2013. 8. Palestra intitulada “Espiritualidade/Religiosidade no contexto da Qualidade de Vida Relacionada à Saúde” ministrada aos alunos do curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr Paulo Prata em Barretos – SP. 2013. 9. Palestra intitulada “Importância da Espiritualidade e da Religiosidade na Qualidade de Vida de pacientes oncológicos” ministrada aos alunos do curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr Paulo Prata em Barretos – SP. 2013. 113 10. Apresentação de pôster intitulado “A influência positiva da Espiritualidade/Religiosidade na Qualidade de Vida de pacientes oncológicos” no I Simpósio de Qualidade de Vida Relacionada à Saúde do Hospital de Câncer de Barretos em BarretosSP. 2014. 11. Moderação da palestra “A relação da Espiritualidade e da Religiosidade na melhoria da Qualidade de Vida” no I Simpósio de Qualidade de Vida Relacionada à Saúde do Hospital de Câncer de Barretos em Barretos-SP. 2014. 12. Apresentação de pôster intitulado “Profissionais de Saúde de um hospital oncológico acreditam que a Espiritualidade/Religiosidade influencia na melhoria da Qualidade de Vida” no I Simpósio de Qualidade de Vida Relacionada à Saúde do Hospital de Câncer de Barretos em Barretos-SP. 2014. 13. Submissão do artigo “The Impact of Spirituality/Religiosity on the Quality of Life of Oncology Patients and Oncology Health Professionals” à revista Psyco-Oncology, Fator de Impacto 3.506, Qualis A2, Medicina I. 14. Confecção do artigo “Questionários genéricos são factíveis de avaliação da qualidade de vida de pacientes com câncer? Comparação entre EORTC QLQ-C30 e WHOQOLBref” que será submetido à revista Health and Quality of Life Outcomes, Fator de Impacto 2.27, Qualis B1, Medicina I. 114 8 REFERÊNCIAS 1. Chang S, Bond M, Gurney J. Epidemiologia do Câncer. In: Verlag S, editor. Manual de Oncologia da União Internacional Contra o Câncer. 8 ed. São Paulo2006. 2. Brasil. 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Se concordar em participar, você deve estar ciente de que: 1. Sua participação é voluntária e uma recusa não implicará em prejuízos para você e seu tratamento; 2. As informações que você fornecer poderão ser utilizadas em trabalhos científicos, mas sua identidade será sempre preservada; 3. Será solicitado que você responda a 04 diferentes questionários: (1) Questionário de características socioeconômicas, clínicas e demográficas e o instrumento semi-estruturado sobre E/R e Crenças Pessoais; (2) Instrumento Genérico de Qualidade de Vida da OMS (WHOQOL-Bref); (3) Instrumento genérico de Qualidade de Vida específico da Oncologia (EORTC-QLQ-C30) e (4) Instrumento WHOQOL-SRPB módulo Espiritualidade, Religiosidade e Crenças Pessoais. 4. A sua participação não implicará em visitas adicionais, os questionários serão aplicados durante as visitas programadas pelo seu tratamento. Por esse motivo, não haverá qualquer tipo de reembolso e/ou indenização referente à sua participação neste estudo; 5. 6. momento. Não existe nenhum risco em participar deste estudo; Você é livre para desistir da participação deste trabalho em qualquer Após ter tomado conhecimento destes fatos e aceitar participar da pesquisa, assumindo não ter sofrido nenhuma pressão para tanto: 127 Eu __________________________________________________________________ RG: _________________________ aceito participar deste estudo, ciente de que minha participação é voluntária e estou livre para em qualquer momento desistir de colaborar com a pesquisa, sem nenhuma espécie de prejuízo. Assim também, poderei tirar minhas dúvidas sobre o projeto e minha participação, agora ou em qualquer momento. Telefone da pesquisadora responsável: Mayara Goulart de Camargos (17) 8163-1669 ou com o Comitê de Ética da Fundação Pio XII - Hospital de Câncer de Barretos (Dr. Sérgio Vicente Serrano (17) 3321 6600 – ramal: 6894). Eu recebi uma cópia deste termo e a possibilidade de poder lê–lo. _____________________________________________ Assinatura da paciente _____________________________________________ Assinatura Testemunha ou Representante Legal (se aplicável) Data: _____/_____/_______ __________________________________________ Mayara Goulart de Camargos COREN nº 253928 Pesquisadora Responsável 128 Anexo B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Profissional de Saúde) Este trabalho cujo título é: “Avaliação da E/R e associação com a Qualidade de Vida de pacientes com câncer e profissionais de saúde de um Hospital Oncológico” tem como objetivo avaliar a E/R de pacientes com câncer e profissionais de saúde que prestam cuidados diretos aos pacientes do Hospital de Câncer de Barretos. A pesquisadora Mayara Goulart de Camargos (Enfermeira) está realizando esta pesquisa com os pacientes que estão realizando diversas modalidades de tratamento no Hospital de Câncer de Barretos e com os profissionais de saúde prestam assistência a estes pacientes, assim como você. Para isto, precisamos da sua colaboração na participação deste estudo. Se concordar em participar, você deve estar ciente de que: 1. Sua participação é voluntária e uma recusa não implicará em prejuízos institucionais para você; 2. As informações que você fornecer poderão ser utilizadas em trabalhos científicos, mas sua identidade será sempre preservada; 3. Será solicitado que você responda a 03 diferentes questionários: (1) Questionário de características socioeconômicas, clínicas e demográficas e o instrumento semi-estruturado sobre E/R e Crenças Pessoais (2) Instrumento Genérico de Qualidade de Vida da OMS (WHOQOL-Bref) e (3) Instrumento WHOQOL-SRPB módulo Espiritualidade, Religiosidade e Crenças Pessoais; 4. A sua participação não implicará em períodos adicionais de trabalho, os questionários serão aplicados durante seu expediente de trabalho. Por esse motivo, não haverá qualquer tipo de reembolso e/ou indenização referente à sua participação neste estudo; 5. 6. momento. Não existe nenhum risco em participar deste estudo; Você é livre para desistir da participação deste trabalho em qualquer Após ter tomado conhecimento destes fatos e aceitar participar da pesquisa, assumindo não ter sofrido nenhuma pressão para tanto: Eu __________________________________________________________________ RG: _________________________ aceito participar deste estudo, ciente de que minha participação é voluntária e estou livre para em qualquer momento desistir de colaborar com a pesquisa, sem nenhuma espécie de prejuízo. 129 Assim também, poderei tirar minhas dúvidas sobre o projeto e minha participação, agora ou em qualquer momento. Telefone da pesquisadora responsável: Mayara Goulart de Camargos (17) 8163-1669 ou com o Comitê de Ética da Fundação Pio XII - Hospital de Câncer de Barretos (Dr. Sérgio Vicente Serrano (17) 3321 6600 – ramal: 6894). Eu recebi uma cópia deste termo e a possibilidade de poder lê–lo. _____________________________________________ Assinatura do Profissional de Saúde _____________________________________________ Assinatura Testemunha ou Representante Legal (se aplicável) Data: _____/_____/_______ __________________________________________ Mayara Goulart de Camargos COREN nº 253928 Pesquisadora Responsável 130 Anexo C - Instrumento de Caracterização Sócio econcômica, Clínica, Demográfica e Semi-Estruturado de E/R de Profissionais de Saúde 131 132 Anexo D - WHOQOL-Bref 133 134 135 136 Anexo E - WHOQOL-SRPB 137 138 139 Anexo F - Instrumento de Caracterização Sócio econômica, Clínica, Demográfica e Semi-Estruturado de E/R de Pacientes 140 141 Anexo G - EORTC-QLQ-C30 142 143 Anexo H - Autorização do Grupo EORTC para utilização do EORTC QLQ-30 ---------- Forwarded message ---------From: caredupai paiva <[email protected]> Date: 2013/4/2 Subject: Fwd: Form submission from: contact To: bianca Paiva <[email protected]> Resposta da EORTC. ---------- Forwarded message ---------From: Melodie Cherton <[email protected]> Date: 2013/4/2 Subject: RE: Form submission from: contact To: "[email protected]" <[email protected]> Dear Carlos Thank you for your email and interest in our measures. We do grant permission to use our measures for academic studies. If a organization, a company or sponsors are being provided with a grant or funds for their research then a fee is chargeable and a User Agreement is required. If any organization stands to gain financially from the study, a fee is chargeable. So in this case contact [email protected] . If the study is purely for academic use and no organization stands to gain financially, please proceed with downloading the questionnaire and additional modules you might be interested in on our website http://groups.eortc.be/qol/. If you have any further questions, please do not hesitate to contact me. Regards, _____________________________________________________ Mélodie CHERTON EORTC, Executive Assistant - Quality of Life Department Tel: +32 (0)2 774 16 78 Fax:+32 (0)2 779 45 68 Avenue E. Mounier 83/11 • 1200 Brussels • Belgium 144 [email protected] - http://groups.eortc.be/qol 50 years of Progress Against Cancer [1962–2012] _____________________________________________________ Please take care of the environment, print only if necessary... From: Reception Sent: Tuesday, 02 April 2013 3:41 AM To: EORTC Communications Subject: Form submission from: contact Submitted on 02 April 2013 Submitted by user: Submitted values are: First name: Carlos Last name: Paiva E-mail: [email protected] City: Barretos Country: BRAZIL Are you ...: Clinical investigator/doctor Subject: Authorization to use EORTC QLQ-C30 Related to: Message: I would like to have permission from EORTC to use the EORTC QLQ-C30 for scientific purposes only (Master Thesis) in order to evaluate quality of life of cancer patients and also their health care providers. In this study we will correlate the quality of life scores with spirituality. In addition, we aim to investigate possible predictors of spirituality. Title of the study: Assessment of Spirituality / Religiosity and its association with quality of life of cancer patients and healthcare providers from a Cancer Hospital. With kindly regards, Carlos Eduardo Paiva Barretos Cancer Hospital Barretos, SP, Brazil The results of this submission may be viewed at: http://www.eortc.org/node/326/submission/525 EORTC STATEMENT OF CONFIDENTIALITY This e-mail message and any attachment are confidential and are intended exclusively for the recipient(s). Others than the named recipient(s) may not use it for any purpose, may not disclose the contents to another person, nor spread or copy the information in any medium. If you are not the named recipient, please notify the sender immediately by return e-mail and delete the e-mail. This message can not lead to any contractual or legal obligation. 145 Anexo I - Carta de aprovação do CEP 146 147 Anexo J - Situação do artigo científico 148 Em decorrência dos resultados obtidos neste estudo foram gerados, a princípio, dois artigos científicos. O primeiro intitulado “The Impact of Spirituality/Religiosity on the Quality of Life of Oncology Patients and Oncology Health Professionals” investigou se o construto E/R exerce um papel importante na vida dos pacientes com câncer e no trabalho de profissionais de saúde que cuidam destes pacientes. Avaliou também se a E/R se correlaciona com os escores de QV de pacientes e de profissionais de saúde. Em adição, os escores de E/R e QV foram comparados entre os pacientes e os profissionais de saúde (considerados como controles saudáveis). Tal artigo foi submetido à revista Psyco-Oncology (Fator de Impacto 3.506, Qualis A2, Medicina I) em 27/12/2013, foi analisado, solicitadas alterações e após reavaliação dos revisores foi negado. O mesmo será encaminhado para uma segunda revista para parecer e possível publicação. O segundo artigo intitulado “Questionários genéricos são factíveis de avaliação da qualidade de vida de pacientes com câncer? Comparação entre EORTC QLQ-C30 e WHOQOLBref” teve como objetivo comparar a avaliação de ambos os instrumentos (WHOQOL-Bref e EORTC QLQ-C30) diante das medidas de QV reportadas por pacientes oncológicos, verificando se questionários genéricos são factíveis de avaliação da QV de pacientes com câncer. Este está em fase de finalização e será submetido à revista Health and Quality of Life Outcomes (Fator de Impacto: 2.27, Qualis B1, Medicina I). 149