Bronzeamento artificial causa câncer, diz estudo

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25 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 30 de julho de 2009
Avanços na compreensão da
Pesquisa de neurocientista
chinesa dá mais um passo
para decifrar estágio inicial
do mal de Alzheimer
demência
Arquivo Pessoal
» RODRIGO CRAVEIRO
inda que o cérebro continue um
mistério, a medicina aos poucos
tem decifrado os seus segredos.
A mais recente pesquisa, coordenada pela prestigiosa Faculdade de
Medicina da Universidade de Harvard e
publicada hoje na revista científica Nature, lança luz sobre os mecanismos que
deflagram o mal de Alzheimer — uma
doença progressiva que destrói os neurônios — e outras desordens neurodegenerativas. A geneticista molecular e
neurocientista chinesa Jie Shen descobriu que, além de desempenhar papel
importante no surgimento da demência (estágio precoce do Alzheimer),
uma mutação no gene presenilina também altera a regulação da liberação de
neurotransmissores no cérebro.
Em 2007, Shen desenvolveu quatro
gerações de camundongos “mutantes”.
“Os animais eram desprovidos de presenilina. O que fizemos foi restringir a inativação de presenilina a um subtipo de
neurônios do hipocampo”, explicou a
autora do estudo, referindo-se à região
cerebral danificada pelo Alzheimer, levando à perda de memória e à desorientação. Ao analisar pedaços de hipocampos dos roedores, ela e sua equipe identificaram mudanças patogênicas precoces, anteriores mesmo à neurodegeneração. “Isso fornece novos alvos para terapias em desenvolvimento, a fim de
atrasarem defeitos funcionais do cérebro e a neurodegeneração comum a algumas desordens”, afirmou Shen, por email, em entrevista ao Correio. As alterações foram detectadas na forma com
que os neurônios pré-sinápticos liberam os neurotransmissores.
Segundo Shen, as presenilinas abrigam 90% de todas as mutações relacionadas ao Alzheimer. “Para compreender como as presenilinas causam a
doença, nós realizamos uma série de
análises genéticas, a fim de descobrir as
funções desses genes no cérebro”, disse
a estudiosa. Os cientistas acreditam que
o conhecimento sobre as funções das
presenilinas pode ajudar a decifrar as
disfunções causadas pelas mutações.
Em um trabalho anterior, eles haviam
demonstrado que esses genes específicos — de subtipos 1 e 2 — são essenciais
para a sobrevivência da memória e dos
neurônios de camundongos adultos.
A
Consequências
Os especialistas inferiram que a inativação da presenilina provoca perda progressiva da memória e neurodegeneração dependente da idade, dois fatores
substanciais para a deflagração do mal
de Alzheimer. “Baseado nessa pesquisa
A neurocientista Jie Shen, da Faculdade de Medicina de Harvard, aposta que conclusões ajudarão a desenvolver novos alvos para as terapias em desenvolvimento
anterior, propusemos que as mutações
nas presinilinas levam a doenças neurodegenerativas, por meio de uma perda parcial do mecanismo funcional dos
neurônios”, observou Shen. Ela e seus
colegas esmiuçaram as funções sinápticas desempenhadas por esses genes,
incluindo a transmissão de sinapses e a
plasticidade, que definem a aprendizagem e a memória.
Ao produzir camundongos sem presenilina, a Faculdade de Medicina de
Harvard percebeu uma mudança significativa nos dos neurônios. “Não existem relatos de liberação de neurotransmissores em camundongos com presenilina alterada”, explicou Shen. Sem a
ativação de neurotransmissores, ocorre
uma espécie de disfunção pré-sináptica, comprometendo a aprendizagem e
a memória e potencializando o risco de
desordens neurodegenerativas.
“Nosso estudo destacou a importân-
Essenciais para o cérebro
Serotonina, dopamina e noradrenalina são algumas das
principais substâncias químicas produzidas nos neurônios e
excretadas no cérebro. Permitem a transmissão de sinais
elétricos de um neurônio a outro por meio das sinapses.
Dividem-se em dois principais tipos: aminoácidos e
monoaminas. Em resumo, são essenciais para que as células
do cérebro “conversem entre si”.
Transmissores de sinais elétricos
Os neurônios estão separados entre si por um pequeno espaço
conhecido como fenda sináptica. As células do tipo présináptica são aquelas que enviam mensagens químicas com os
neurotransmissores em uma única direção pela sinapse, em
direção à célula pós-sináptica. Cada neurônio se conecta a
outros por cerca de 10 mil sinapses (junções especializadas
através das quais os sinais elétricos são enviados).
cia da disfunção pré-sináptica nas desordens neurológicas, uma área de pesquisa antes ignorada. Também forneceu dados sobre como a atividade cerebral normal é modulada”, comemorou
Shen. “Em resumo, a pesquisa comprovou que os principais genes ligados à
forma hereditária do mal de Alzheimer
são importantes na regulação da liberação de neurotransmissores.”
Com as descobertas, acredita-se
que a ciência se aproxima do deciframento das causas iniciais de uma
doença que atinge entre 800 mil e 1,2
milhão de brasileiros.
www.correiobraziliense.com.br
Leia na internet a íntegra da entrevista
com a neurocientista chinesa Jie Shen
ALERTA
associado ao uso dos dispositivos de
bronzeamento artificial. Estudos experimentais em animais apoiam essas conclusões e demonstram que a radiação
ultravioleta é carcinogênica para os seres humanos”, afirma um comunicado
divulgado no site da IARC. “As descobertas reforçam as atuais recomendações
da Organização Mundial de Saúde para
se evitar a exposição a lâmpadas ultravioletas e câmaras de bronzeamento e
se proteger do excesso de exposição ao
sol”, acrescenta a nota. Os resultados da
pesquisa foram publicados na revista
científica The Lancet.
Antes, a IARC classificava as câmaras
de bronzeamento e as lâmpadas ultravioleta como “provavelmente carcinogênicas”. Agora, no entanto, a entidade
considera que o uso é “definitivamente
carcinogênico”. A advertência coloca o
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Sair de casa, ir até uma clínica de estética, ficar ali por apenas 15 minutos e voltar com o corpo moreno. Uma das benesses da tecnologia cosmética pode ter
um efeito devastador à saúde. Segundo a
Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC, pela sigla em inglês),
com sede em Lyon (França), o risco de
melanoma cutâneo aumenta em 75%
nos adeptos de bronzeamento artificial
com menos de 30 anos. Um grupo de trabalho do IARC realizou uma análise
combinada de 20 estudos epidemiológicos e reclassificou as máquinas como
“carcinogênicas para humanos”, inserindo-a na lista de 108 agentes, misturas e
circunstâncias de exposições sujeitas a
provocar uma proliferação anormal das
células humanas, levando ao câncer.
“Há evidências suficientes de um
aumento no risco de melanoma ocular
David Moir/Reuters - 9/8/07
Distrito Federal
Em Brasília, várias clínicas oferecem
o serviço. O Correio entrou em contato
com alguns desses estabelecimentos.
Os custos das sessões de bronzeamento
artificial variam de R$ 20 a R$ 38. As clínicas também disponibilizam pacotes
de até 10 sessões para os clientes, a preços promocionais. Enquanto uma cobra
R$ 90 por seis sessões, outra vende 10
aplicações por R$ 338. Em uma dessas
clínicas, a funcionária alegou ter lido sobre o estudo da IARC. “Eu vi a reportagem, mas não sei te dizer nada”, comentou. Em pelo menos dois dos estabelecimentos, os atendentes garantiram ter o
respaldo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A gente trabalha com o que a Anvisa nos garante que
é seguro”, disse a funcionária de uma
das clínicas. Questionada se a técnica
provoca câncer, ela desconversou: “Não
posso te falar que sim ou que não. Se isso for verdade, a Anvisa vai mexer”. (RC)
Riscos: pesquisa mostra que chance de melanomas cutâneos sobe 75% com as sessões
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Bronzeamento artificial
causa câncer, diz estudo
bronzeamento artificial no mesmo nível de risco do tabagismo e da exposição ao amianto.
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