CMYK Saúde A-25 Editora: Ana Paula Macedo // [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 25 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 30 de julho de 2009 Avanços na compreensão da Pesquisa de neurocientista chinesa dá mais um passo para decifrar estágio inicial do mal de Alzheimer demência Arquivo Pessoal » RODRIGO CRAVEIRO inda que o cérebro continue um mistério, a medicina aos poucos tem decifrado os seus segredos. A mais recente pesquisa, coordenada pela prestigiosa Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard e publicada hoje na revista científica Nature, lança luz sobre os mecanismos que deflagram o mal de Alzheimer — uma doença progressiva que destrói os neurônios — e outras desordens neurodegenerativas. A geneticista molecular e neurocientista chinesa Jie Shen descobriu que, além de desempenhar papel importante no surgimento da demência (estágio precoce do Alzheimer), uma mutação no gene presenilina também altera a regulação da liberação de neurotransmissores no cérebro. Em 2007, Shen desenvolveu quatro gerações de camundongos “mutantes”. “Os animais eram desprovidos de presenilina. O que fizemos foi restringir a inativação de presenilina a um subtipo de neurônios do hipocampo”, explicou a autora do estudo, referindo-se à região cerebral danificada pelo Alzheimer, levando à perda de memória e à desorientação. Ao analisar pedaços de hipocampos dos roedores, ela e sua equipe identificaram mudanças patogênicas precoces, anteriores mesmo à neurodegeneração. “Isso fornece novos alvos para terapias em desenvolvimento, a fim de atrasarem defeitos funcionais do cérebro e a neurodegeneração comum a algumas desordens”, afirmou Shen, por email, em entrevista ao Correio. As alterações foram detectadas na forma com que os neurônios pré-sinápticos liberam os neurotransmissores. Segundo Shen, as presenilinas abrigam 90% de todas as mutações relacionadas ao Alzheimer. “Para compreender como as presenilinas causam a doença, nós realizamos uma série de análises genéticas, a fim de descobrir as funções desses genes no cérebro”, disse a estudiosa. Os cientistas acreditam que o conhecimento sobre as funções das presenilinas pode ajudar a decifrar as disfunções causadas pelas mutações. Em um trabalho anterior, eles haviam demonstrado que esses genes específicos — de subtipos 1 e 2 — são essenciais para a sobrevivência da memória e dos neurônios de camundongos adultos. A Consequências Os especialistas inferiram que a inativação da presenilina provoca perda progressiva da memória e neurodegeneração dependente da idade, dois fatores substanciais para a deflagração do mal de Alzheimer. “Baseado nessa pesquisa A neurocientista Jie Shen, da Faculdade de Medicina de Harvard, aposta que conclusões ajudarão a desenvolver novos alvos para as terapias em desenvolvimento anterior, propusemos que as mutações nas presinilinas levam a doenças neurodegenerativas, por meio de uma perda parcial do mecanismo funcional dos neurônios”, observou Shen. Ela e seus colegas esmiuçaram as funções sinápticas desempenhadas por esses genes, incluindo a transmissão de sinapses e a plasticidade, que definem a aprendizagem e a memória. Ao produzir camundongos sem presenilina, a Faculdade de Medicina de Harvard percebeu uma mudança significativa nos dos neurônios. “Não existem relatos de liberação de neurotransmissores em camundongos com presenilina alterada”, explicou Shen. Sem a ativação de neurotransmissores, ocorre uma espécie de disfunção pré-sináptica, comprometendo a aprendizagem e a memória e potencializando o risco de desordens neurodegenerativas. “Nosso estudo destacou a importân- Essenciais para o cérebro Serotonina, dopamina e noradrenalina são algumas das principais substâncias químicas produzidas nos neurônios e excretadas no cérebro. Permitem a transmissão de sinais elétricos de um neurônio a outro por meio das sinapses. Dividem-se em dois principais tipos: aminoácidos e monoaminas. Em resumo, são essenciais para que as células do cérebro “conversem entre si”. Transmissores de sinais elétricos Os neurônios estão separados entre si por um pequeno espaço conhecido como fenda sináptica. As células do tipo présináptica são aquelas que enviam mensagens químicas com os neurotransmissores em uma única direção pela sinapse, em direção à célula pós-sináptica. Cada neurônio se conecta a outros por cerca de 10 mil sinapses (junções especializadas através das quais os sinais elétricos são enviados). cia da disfunção pré-sináptica nas desordens neurológicas, uma área de pesquisa antes ignorada. Também forneceu dados sobre como a atividade cerebral normal é modulada”, comemorou Shen. “Em resumo, a pesquisa comprovou que os principais genes ligados à forma hereditária do mal de Alzheimer são importantes na regulação da liberação de neurotransmissores.” Com as descobertas, acredita-se que a ciência se aproxima do deciframento das causas iniciais de uma doença que atinge entre 800 mil e 1,2 milhão de brasileiros. www.correiobraziliense.com.br Leia na internet a íntegra da entrevista com a neurocientista chinesa Jie Shen ALERTA associado ao uso dos dispositivos de bronzeamento artificial. Estudos experimentais em animais apoiam essas conclusões e demonstram que a radiação ultravioleta é carcinogênica para os seres humanos”, afirma um comunicado divulgado no site da IARC. “As descobertas reforçam as atuais recomendações da Organização Mundial de Saúde para se evitar a exposição a lâmpadas ultravioletas e câmaras de bronzeamento e se proteger do excesso de exposição ao sol”, acrescenta a nota. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica The Lancet. Antes, a IARC classificava as câmaras de bronzeamento e as lâmpadas ultravioleta como “provavelmente carcinogênicas”. Agora, no entanto, a entidade considera que o uso é “definitivamente carcinogênico”. A advertência coloca o CMYK Sair de casa, ir até uma clínica de estética, ficar ali por apenas 15 minutos e voltar com o corpo moreno. Uma das benesses da tecnologia cosmética pode ter um efeito devastador à saúde. Segundo a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC, pela sigla em inglês), com sede em Lyon (França), o risco de melanoma cutâneo aumenta em 75% nos adeptos de bronzeamento artificial com menos de 30 anos. Um grupo de trabalho do IARC realizou uma análise combinada de 20 estudos epidemiológicos e reclassificou as máquinas como “carcinogênicas para humanos”, inserindo-a na lista de 108 agentes, misturas e circunstâncias de exposições sujeitas a provocar uma proliferação anormal das células humanas, levando ao câncer. “Há evidências suficientes de um aumento no risco de melanoma ocular David Moir/Reuters - 9/8/07 Distrito Federal Em Brasília, várias clínicas oferecem o serviço. O Correio entrou em contato com alguns desses estabelecimentos. Os custos das sessões de bronzeamento artificial variam de R$ 20 a R$ 38. As clínicas também disponibilizam pacotes de até 10 sessões para os clientes, a preços promocionais. Enquanto uma cobra R$ 90 por seis sessões, outra vende 10 aplicações por R$ 338. Em uma dessas clínicas, a funcionária alegou ter lido sobre o estudo da IARC. “Eu vi a reportagem, mas não sei te dizer nada”, comentou. Em pelo menos dois dos estabelecimentos, os atendentes garantiram ter o respaldo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A gente trabalha com o que a Anvisa nos garante que é seguro”, disse a funcionária de uma das clínicas. Questionada se a técnica provoca câncer, ela desconversou: “Não posso te falar que sim ou que não. Se isso for verdade, a Anvisa vai mexer”. (RC) Riscos: pesquisa mostra que chance de melanomas cutâneos sobe 75% com as sessões A-25 Bronzeamento artificial causa câncer, diz estudo bronzeamento artificial no mesmo nível de risco do tabagismo e da exposição ao amianto.