Texto complementar Um pouco mais sobre o norte magnético Raul Friedmann GEOGRAFIA 1 Geografia Assunto: Magnetismo terrestre Um pouco mais sobre o norte magnético Entender e descrever o magnetismo terrestre não é tarefa simples, mas algumas simplificações são de grande auxílio didático para entendermos melhor o conceito de declinação magnética e podermos utilizá-lo adequadamente. Se a Terra se comportasse como um ímã de forma perfeitamente esférica e se os polos magnéticos deste ímã coincidissem com os polos geográficos, a agulha da bússola apontaria sempre para o Norte Verdadeiro. Mas isto não acontece. Suponhamos agora que a Terra se comportasse como um ímã de forma perfeitamente esférica, mas que seus polos magnéticos estivessem em posição dos polos geográficos. É óbvio que o Norte magnético não vai coincidir com o Norte Geográfico, mas talvez até fosse possível calcular o ângulo entre estas direções através de algoritmos e fórmulas matemáticas – provavelmente bastante complexos – que envolvessem a posição do ponto considerado. Porém, isto também não acontece. Em outras palavras, a coisa simplesmente não é desse jeito. A realidade prática demonstrou claramente que estas simplificações não são aplicáveis, nem mesmo de forma aproximada. O magnetismo terrestre possui uma geometria extremamente complexa e, além disto, é variável ao longo do tempo. A história das conquistas dos polos geográficos e magnéticos é composta de uma série de feitos heroicos e ousados encenados por diversos atores em um ambiente que misturava idealismo, patriotismo, obsessão, coragem e, não raro, bastante egolatria. [...] O explorador inglês James Clark Ross conseguiu chegar, em 1º de junho de 1831, a um local em que a inclinação do campo magnético terrestre era de 89°59’ – para efeitos práticos, o Polo Norte Magnético. O explorador norueguês Roald Amundsen fez nova expedição com este propósito em 1903. Após a Segunda Guerra Mundial, o governo do Canadá enviou os cientistas Paul Serson e Jack Clark com esta mesma missão e, após meados do século XX, passou a enviar expedições científicas com essa finalidade de tempos em tempos – as mais recentes em 1962, 1973, 1984 e 1994, esta última conduzida pelos cientistas Larry Newitt, do Geological Survey of Canada, e Charles Barton, do Australian Geological Survey Organization. Newitt e Barton localizaram o Polo Norte Magnético na Península de Noice, a sudoeste da Ilha Ellef Ringnes, tendo obtido a posição média de 78,3° N e 104,0° W, sendo o movimento anual médio de 15 km por ano. A distância do Polo Norte Magnético (PNM) ao Polo Norte Geográfico (PNG) era então de aproximadamente 1.300 km. [...] A título de comparação, em maio de 2001 o Geological Survey of Canada completou uma nova série de levantamentos magnéticos que redeterminaram a posição atualizada do Polo Norte Magnético como 81,3° N e 110,8° W com movimento anual médio de aproximadamente 40 km/ano na direção noroeste. A distância do PNM ao PNG era então de aproximadamente 970 km. O movimento dos polos magnéticos tem como consequência prática a variação da declinação magnética local em toda a Terra. A declinação magnética também é afetada pelos movimentos diários dos polos magnéticos – resultantes de maior ou menor atividade solar – mas, em termos práticos, estas variações são praticamente desprezíveis na determinação da declinação magnética na maior parte da superfície terrestre. FRIEDMANN, Raul. Fundamentos de orientação, cartografia e navegação terrestre: um livro sobre GPS, bússolas e mapas para aventureiros radicais e moderados, civis e militares. Curitiba: UFPR, 2008. p. 88 e 90. 1